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Academic year: 2021

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CURSO TÉCNICO EM AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE

SEGUNDA ETAPA FORMATIVA

CAMPO I – SAÚDE DAS POPULAÇÕES

CADERNO DE TEXTO-FASCÍCULO I

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 1

APRESENTAÇÃO DO CAMPO

Olá caro estudante, seja bem vindo ao campo I – saúde das populações. A partir daqui, finalizamos a Primeira Unidade, iniciando agora a segunda e ultima Unidade da Etapa II. Esta unidade será composta pelo Campo I e as oficinas instrumentalizadoras, além de aulas extras, atividades práticas e discussões em equipe, perfazendo 400 h.

Já vimos desde a retomada do Curso que o ACS é um sujeito fundamental para a garantia de direitos da sociedade, conquistados por meio de lutas dos grupos organizados. Pelo trabalho do ACS perpassam diversas políticas que visam garantir a saúde e a assistência social dos sujeitos das comunidades assistidas pelas equipes de atenção básica. Vimos também que o ACS possui uma história de protaganismo na mobilização e organização política, sendo ator fundamental na formação da consciência sanitária e na construção da cidadania das comunidades. Amadurecemos estas questões no Eixo III.

Já no Eixo II, discutimos o cuidado a saúde, reafirmando nosso compromisso com SUS em seus princípios de universalidade, equidade e integralidade. Problematizamos o papel do ACS na reivindicação de modelos alternativos aos modelos “hospitalocêntrico”, restritos a figura do médico e nas práticas alopáticas e especializadas. O ACS aqui vem no sentido de re-estruturar as demandas de cuidado, abrindo a possibilidade de escuta e resolução para as reais necessidades de cuidado da população. A defesa que se faz é a da integralidade, na qual o ACS tem papel fundamental para não restringir o cuidado apenas a agravos a nível biológico, dando margem a clínica ampliada e a um olhar amplo sobre as pessoas e grupos.

Vimos também que o ACS possui sua clínica própria e que se expressa nas singularidades de seu trabalho. Desta forma, no cotidiano do serviço, junto as

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 2 equipes de atenção básica do Recife, faz-se necessário que o ACS organize da melhor forma seu processo de trabalho, com o objetivo de melhorar o acolhimento a população e dar resolutividade ao cuidado. Esta temática foi trabalhada no EIXO III.

Agora, com o olhar instrumentalizado, é hora de problematizar os campos de atuação do ACS junto às comunidades do Recife, discutindo instrumentos, conceitos e práticas relativas ao cuidado a coletivos e grupos específicos, utilizando como diretrizes para o olhar sobre cada um deles três perspectiva:

1. A garantia do direito a saúde e o dever o do Estado em sua promoção.

2. A luta por modelos que promovam um cuidado integral a saúde dos sujeitos e coletivos.

3. E a necessidade de organizar o processo de trabalho das equipes multiprofissionais de atenção básica, qualificando o acolhimento e garantindo resolutividade para as demandas da população.

O desafio é grande, num cenário de ainda poucos investimentos no setor saúde, condições trabalho ainda precárias e investidas do capital privado sobre o Sistema. Neste sentido, esperamos que esta unidade seja útil para você problematizar o seu trabalho no cuidado a saúde da população, ajudando na crítica e na transformação das práticas visando um SUS público, universal, integral e de qualidade.

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EMENTA DO CAMPO TÉCNICO 1 – Saúde das populações

CAMPO TÉCNICO I Saúde da populações

PERFIL DOCENTES/PRECEPTOR/MONITOR Profissionais de saúde de nível superior inseridos na rede de saúde do Recife

CARGA HORÁRIA 235 horas teóricas 108 horas práticas

EMENTA

. Promover o aprendizado acerca de saberes e práticas relacionados as ações de acolhimento, cuidado, prevenção e Monitoramento a grupos específicos (mulher, criança, adolescente, idosos e trabalhador) e a doenças prevalentes (mentais, transmissíveis, crônicas)

OBJETIVO GERAL

Discutir conteúdos e práticas a cerca do desenvolvimento de ações de acolhimento, cuidado, prevenção e monitoramento dirigidas a grupos específicos e a doenças prevalentes

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. O ACS na promoção da saúde de coletivos humanos (Vigilância a saúde, medida da saúde coletiva, fundamentos de epidemiologia)

2. O ACS na prevenção e promoção da saúde da criança e do adolescente.

3. O ACS na prevenção e promoção da saúde da mulher. 4. O ACS na prevenção e promoção da saúde do homem. 5. O ACS na prevenção e promoção da saúde do idoso. 6. O ACS na promoção da saúde mental na comunidade.

O ACS na promoção da saúde junto a pessoas com deficiência física.

COMPETÊNCIAS

Orientar a família e/ou pessoa com deficiência e portador de sofrimento mental quanto às medidas facilitadoras para a sua máxima inclusão social.

Identificar indivíduos ou grupos que demandam cuidados especiais de saúde.

Sensibilizar familiares e seu grupo social para a convivência com os indivíduos que necessitam de cuidados especiais.

Comunicar à unidade básica de saúde da respectiva micro-área os casos existentes de indivíduos que necessitam de cuidados.

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reprodutiva.

Apoiar o acompanhamento da gravidez e puerpério, conforme orientações da equipe de saúde.

Orientar as gestantes e seus familiares nos cuidados relativos à gestação, parto, puerpério, quanto ao aleitamento materno e cuidados com o recém nascido. Acompanhar o crescimento e o desenvolvimento infantil e a situação vacinal das crianças, conforme planejamento da equipe de saúde.

Orientar sobre as medidas de prevenção e controle das doenças transmissíveis e não transmissíveis.

METODOLOGIA DE ENSINO

O processo metodológico estará ligado a aspectos significativos da realidade do educando, imprimindo discussões e instrumentalizações de cunho dialógico e problematizador. O ensino será desenvolvido em forma de aulas teóricas e prática onde serão abordados os assuntos atuais no contexto ensino-serviço.

RECURSOS DIDÁTICOS

Caderno do Aluno;

Quadro branco e pincel piloto;

Cartolina, tesoura, cola, papel madeira, revistas, jornais; Material educativo institucional.

SISTEMA DE AVALIAÇÃO

A avaliação será contínua e processual através de: debates, estudo dirigido, estudo de caso, relatórios e os fatores globais e as competências específicas previstas no Diário de Classe

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AULA 1: Epidemiologia básica

Textos baseados no:

Curso Básico de Vigilância Epidemiológica, 2005 &

Brasil. Monitoramento na atenção básica de saúde: roteiros para reflexão e ação / Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

Obs: Os casos apresentados nos exercícios do “Para Pensar” são hipotéticos, não correspondendo a realidade.

Texto I

CONCEITOS E PRÁTICAS DA EPIDEMIOLOGIA

Epidemiologia: Ciência que estuda o processo saúde-doença em

coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de ações e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações de saúde.

É o eixo da saúde pública. Proporciona as bases para a avaliação das medidas de profilaxia, fornece pistas para diagnose de doenças transmissíveis e não-transmissíveis, estuda a distribuição da morbidade e da mortalidade a fim de traçar o perfil de saúde-doença nas coletividades humanas. Além disso, realiza testes de eficácia e inocuidade de vacinas, desenvolve a vigilância epidemiológica,

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 6 analisa os fatores ambientais e sócio-econômicos que possam ter alguma influência na eclosão de doenças e nas condições de saúde. Constitui um dos elos de ligação comunidade/governo, estimulando a prática da cidadania através do controle pela sociedade dos serviços de saúde.

Muitas doenças, cujas origens até bem recentemente não encontravam explicação, têm tido suas causas esclarecidas pela metodologia epidemiológica, que tem por base o método científico aplicado da maneira mais abrangente possível a problemas de doença ocorrentes em nível coletivo. Alguns exemplos destes são: leucemia na infância, provocada pela exposição aos raios X durante a gestação; trombose venosa relacionada ao uso de contraceptivos orais; ingestão de talidomida e o aparecimento de numerosos casos de focomelia; hábito de fumar e câncer de pulmão; cegueira em crianças nordestinas subnutridas e sua relação com a avitaminose A; mortalidade infantil e classes sociais.

A epidemiologia não se limita a avaliar a situação sanitária e sócio-econômica existente ou passada e sim também visa uma prospecção do problema: “o que nos dizem as tendências atuais sobre a provável situação futura para a qual teremos de fazer planos e tomar ou não medidas corretivas? Qual será o resultado amanhã?”.

A epidemiologia constitui também instrumento para o desenvolvimento de políticas no setor da saúde. Sua aplicação neste caso deve levar em conta o conhecimento disponível, adequando-o às realidades locais.

Se quisermos delimitar conceitualmente a epidemiologia, encontraremos várias definições; uma delas, bem ampla e que nos dá uma boa idéia de sua abrangência e aplicação em saúde pública, é a seguinte:

“Epidemiologia é o estudo da freqüência, da distribuição e dos determinantes dos estados ou eventos relacionados à saúde em específicas populações e a aplicação desses estudos no controle dos problemas de saúde.” (J. Last, 1995)

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 7 Essa definição de epidemiologia inclui uma série de termos que refletem alguns princípios da disciplina que merecem ser destacados (CDC, Principles, 1992):

• Estudo: a epidemiologia como disciplina básica da saúde pública tem seus fundamentos no método científico.

• Freqüência e distribuição: a epidemiologia preocupa-se com a freqüência e o padrão dos eventos relacionados com o processo saúde doença na população. A freqüência inclui não só eventos, mas também as taxas ou riscos de doença nessa população. O conhecimento das taxas constitui ponto de fundamental importância para o epidemiologista, uma vez que permite comparações válidas entre diferentes populações. O padrão de ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença diz respeito à distribuição desses eventos segundo características: do tempo (tendência num período, variação sazonal, etc.), do lugar (distribuição geográfica, distribuição urbano-rural, etc.) e da pessoa (sexo, idade, profissão, etnia, etc.).

• Determinantes: uma das questões centrais da epidemiologia é a busca da causa e dos fatores que influenciam a ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença. Com esse objetivo, a epidemiologia descreve a freqüência e distribuição desses eventos e compara sua ocorrência em diferentes grupos populacionais com distintas características demográficas, genéticas, imunológicas, comportamentais, de exposição ao ambiente e outros fatores, assim chamados fatores de risco. Em condições ideais, os achados epidemiológicos oferecem evidências suficientes para a implementação de medidas de prevenção e controle.

• Estados ou eventos relacionados à saúde: originalmente, a epidemiologia preocupava-se com epidemias de doenças infecciosas. No entanto, sua

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 8 abrangência ampliou-se e, atualmente, sua área de atuação estende- se a todos os agravos à saúde.

• Específicas populações: como já foi salientado, a epidemiologia preocupa- se com a saúde coletiva de grupos de indivíduos que vivem numa comunidade ou área.

• Aplicação: a epidemiologia, como disciplina da saúde pública, é mais que o estudo a respeito de um assunto, uma vez que ela oferece subsídios para a implementação de ações dirigidas à prevenção e ao controle.

Portanto, ela não é somente uma ciência, mas também um instrumento. Boa parte do desenvolvimento da epidemiologia como ciência teve por objetivo final a melhoria das condições de saúde da população humana, o que demonstra o vínculo indissociável da pesquisa epidemiológica com o aprimoramento da assistência integral à saúde.

Um dos pioneiros da epidemiologia foi o anestesiologista inglês John Snow. Sua contribuição está sintetizada no ensaio Sobre a Maneira de Transmissão da Cólera, publicado em 1855, em que apresenta memorável estudo a respeito de duas epidemias de cólera ocorridas em Londres em 1849 e 1854.

Ele descreve o comportamento da cólera por meio de dados de mortalidade, estudando, numa seqüência lógica, a freqüência e distribuição dos óbitos segundo a cronologia dos fatos (aspectos relativos ao tempo) e os locais de ocorrência (aspectos relativos ao espaço), além de efetuar levantamento de outros fatores relacionados aos casos (aspectos relativos às pessoas), com o objetivo de elaborar hipóteses causais.

Sua descrição do desenvolvimento da epidemia e das características de sua

propagação é tão rica em detalhes e seu raciocínio, tão genial, que consegue demonstrar o caráter transmissível da cólera (teoria do contágio), décadas antes do início das descobertas no campo da microbiologia e, portanto, do isolamento e identificação do Vibrio cholerae como agente etiológico da cólera, contrariando, portanto, a teoria dos miasmas, então vigente.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 9

USOS E OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA

O método epidemiológico é, em linhas gerais, o próprio método científico aplicado aos problemas de saúde das populações humanas. Para isso, serve-se de modelos próprios aos quais são aplicados conhecimentos já desenvolvidos pela própria epidemiologia, mas também de outros campos do conhecimento (clínica, biologia, matemática, história, sociologia, economia, antropologia, etc.), num contínuo movimento pendular, ora valendo-se mais das ciências biológicas, ora das ciências humanas, mas sempre situando-as como pilares fundamentais da epidemiologia.

Sendo uma disciplina multidisciplinar por excelência, a epidemiologia alcança um amplo espectro de aplicações.

As aplicações mais freqüentes da epidemiologia em saúde pública são*:

• descrever o espectro clínico das doenças e sua história natural;

• identificar fatores de risco de uma doença e grupos de indivíduos que apresentam maior risco de serem atingidos por determinado agravo;

• prever tendências;

• avaliar o quanto os serviços de saúde respondem aos problemas e necessidades das populações;

• testar a eficácia, a efetividade e o impacto de estratégias de intervenção, assim como a qualidade, acesso e disponibilidade dos serviços de saúde para controlar, prevenir e tratar os agravos de saúde na comunidade.

A saúde pública tem na epidemiologia o mais útil instrumento para o cumprimento de sua missão de proteger a saúde das populações. A compreensão

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 10 dos usos da epidemiologia nos permite identificar os seus objetivos, entre os quais podemos destacar os seguintes:

Objetivos da epidemiologia*:

• identificar o agente causal ou fatores relacionados à causa dos agravos à saúde; • entender a causação dos agravos à saúde;

• definir os modos de transmissão;

• definir e determinar os fatores contribuintes aos agravos à saúde;

• identificar e explicar os padrões de distribuição geográfica das doenças; • estabelecer os métodos e estratégias de controle dos agravos à saúde; • estabelecer medidas preventivas;

• auxiliar o planejamento e desenvolvimento de serviços de saúde; • prover dados para a administração e avaliação de serviços de saúde.

História Natural da Doença e Níveis de Prevenção

Os fatores sócio-econômicos são parte integrante do sistema associado a outros fatores causais para a eclosão em massa de doenças e agravos á saúde. A partir daí surge o conceito de História natural da doença proposto por Leavell e Clark: “é o conjunto de processos interativos que compreendem as inter-relações do agente, do suscetível e meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento desde as forças que criam o primeiro estímulo patológico,

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 11 passando pela resposta ao estímulo até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte.” Está dividida em dois períodos:

1 - Pré-patogênese: Envolve as inter-relações entre os agentes etiológicos da

doença, o suscetível e outros fatores ambientais que estimulam o desenvolvimento da enfermidade e as condições sócio-culturais que permitem a existência desses fatores. Estão envolvidos os fatores sociais (sócio-econômicos, sócio-políticos, socioculturais, psicossociais), os fatores ambientais e os fatores genéticos.

2 - Patogênese: Ações patogênicas sobre os indivíduos afetados

desenvolvendo-se em três estágios:

 Interação estímulo-suscetível: a doença ainda não se desenvolveu, porém todos os fatores necessários estão presentes.

 Alterações bioquímicas, histológicas e fisiológicas – a doença já está implantada, porém não se percebem manifestações clínicas. Ainda assim, pode ser perceptível por exames clínicos ou laboratoriais. O “horizonte clínico” é o que separa este estágio do próximo. Abaixo dele se processam as manifestações bioquímicas, fisiológicas e histológicas que antecedem a doença (período de incubação).

 Sinais e sintomas: é o desenlace da doença. Pode evoluir para cura, cronicidade, invalidez ou morte.

 Cronicidade: A evolução clínica da doença pode progredir para cronicidade, incapacidade ou lesões que abrem porta para novas doenças. A doença pode progredir desse estágio para cura, invalidez permanente ou morte.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 12

Prevenção: Em saúde pública é a ação antecipada, tendo por objetivo interceptar

ou anular a evolução de uma doença. No coletivo a prevenção deve começar ao nível das estruturas sócio-econômicas.

Níveis de prevenção:

1- Primária: Interrupção dos fatores pré-patogênicos:

a. Promoção da saúde - medidas de ordem geral como moradia adequada, escolas, lazer, alimentação, educação

b. Proteção específica: imunização, saúde ocupacional, higiene pessoal e do lar, proteção contra acidentes, aconselhamento genético e controle de vetores.

2- Secundária: Realizada sob a ação do agente patogênico:

- Diagnóstico precoce: inquérito para descoberta de casos na comunidade, exames periódicos individuais para detectar casos precocemente, isolamento para evitar propagação de doenças, tratamento.

- Limitação da incapacidade: evitar futuras complicações, evitar seqüelas.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 13 3- Terciária: reabilitação (impedir a incapacidade total), fisioterapia, terapia

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 14

DEFINIÇÃO DE CASO

Quando estabelecemos um sistema de vigilância, ou durante uma investigação de um surto, é indispensável garantir que os dados gerados sejam comparáveis, independentemente de quando e onde esses dados foram obtidos. Essa padronização é feita através da definição de caso. Definição de caso pode ser entendida como um conjunto de critérios que se utilizam para decidir se uma pessoa tem ou não uma particular doença ou apresenta um determinado evento adverso à saúde.

Estabelecida a definição de caso, pode-se comparar a ocorrência de número de casos de doença ou evento adverso à saúde, em determinado período e lugar, com o número de casos no mesmo lugar num momento anterior ou em momentos e lugares diferentes.

Na definição de caso tomamos como referência não só as características clínicas da doença, mas também aspectos epidemiológicos e laboratoriais. Como veremos nos capítulos referentes à vigilância e à investigação de surtos, a definição de caso pode variar bastante de acordo com os objetivos do sistema de vigilância ou das características e objetivos de uma investigação de um surto.

A definição de caso é um instrumento de confirmação de caso para posterior mensuração desse evento. Portanto, como instrumento, ele pode ser comparado com uma técnica de diagnóstico laboratorial, apresentando, como conseqüência, alguns atributos semelhantes.

Variáveis epidemiológicas

Os métodos e técnicas da epidemiologia são utilizados para detectar uma associação entre uma doença ou agravo e características de pessoa, tempo e lugar. Portanto, o primeiro passo para o entendimento de um problema de saúde ou de uma doença consiste em descrevê-lo por meio de variáveis de pessoa, tempo e lugar.

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Pessoa: Quem?

Pessoas podem ser descritas em termos de: suas características herdadas ou adquiridas (idade, sexo, cor, escolaridade, renda, estado nutricional e imunitário, etc.); suas atividades (trabalho, esportes, práticas religiosas, costumes, etc.); e circunstâncias de vida (condição social, econômica e do meio ambiente).

De acordo com a idade, elas se expõem, mais ou menos, aos fatores de risco. Por exemplo, geralmente os adultos expõem-se mais a eventos como hanseníase, tuberculose, acidentes de trânsito, homicídios, aids. As condições patológicas relacionadas ao baixo nível de imunidade são mais freqüentes em idades extremas, ou seja, crianças e idosos. Para conhecer uma possível relação entre determinada doença ou agravo e a idade, é preciso estratificar a população em faixas etárias.

Tempo: Quando?

A cronologia de uma doença é fundamental para a sua análise epidemiológica. A distribuição dos casos de determinada doença por períodos de tempo (semanal, mensal, anual) permite verificar como a doença evolui, isto é, se apresenta variação cíclica, se está estacionária, decrescendo ou

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 16 aumentando. Pode-se observar qual a semana ou mês em que, geralmente, ocorre o maior número de casos.

A distribuição dos casos por períodos de tempo serve para orientar as intervenções cabíveis, fornecendo, por exemplo, informação sobre os melhores momentos para intensificar a imunização e para prevenir um possível surto. No aspecto administrativo, serve para orientar quando se deve concentrar recursos materiais e humanos, facilitando as ações de controle necessárias.

Variação cíclica: Variações cíclicas são variações com ciclos periódicos e

regulares. O comportamento cíclico das doenças resulta de recorrências nas suas incidências, que podem ser anuais ou de periodicidade mensal ou semanal. Na variação cíclica, portanto, um dado padrão é repetido de intervalo em intervalo.

Variação sazonal: Ocorre quando a incidência das doenças aumenta sempre,

periodicamente, em algumas épocas ou estações do ano, meses do ano, dias da semana, ou em horas do dia. Por exemplo, dengue (nas épocas quentes do ano), acidentes de trânsito (horas de muita movimentação urbana – deslocamento para o trabalho ou escola). Em relação às doenças com variação estacional, deve-se conhecer o nível endêmico: se há aumento normal em certa época do ano, ele não pode ser confundido com uma epidemia.

As variações sazonais são muito comuns em doenças infecciosas e transmissíveis, como gripe, malária, meningite, dengue, broncopneumonias, gastroenterites e outras.

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Lugar: Onde?

Em epidemiologia, o

conhecimento do lugar onde ocorre determinada doença é muito importante, principalmente para se conhecer o seu agente etiológico e as fontes de contaminação. Distribuindo-se os casos sobre um mapa detalhado da área, identifica-se sua concentração ou dispersão. Isso vai orientar as ações de investigação de casos e contatos,

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 18 como também a aplicação das medidas de controle – por exemplo, a distribuição da cobertura da vacinação permite verificar onde devem se concentrar as ações de imunização.

Utiliza-se a distribuição geográfica para identificar de que forma as doenças se distribuem no espaço (urbano/rural, distrito sanitário, bairro, Município, etc.), associando a sua alta ocorrência, por exemplo, à baixas coberturas vacinais, precariedade no saneamento básico, mananciais contaminados por microorganismos, existência ou não de uma rede básica de atenção à saúde, etc.

Vários elementos geográficos espaciais podem influenciar a distribuição das doenças, como, por exemplo, clima, fauna, relevo, poluentes urbanos e rurais, contaminação de alimentos, tipo de habitação, espaço urbano, ambiente de trabalho e inúmeros outros. Pode-se dizer que a expressão “onde ocorre” uma determinada doença significa o mesmo que dizer em que “tipo de ambiente”. A distribuição geográfica de uma doença pode variar entre países, Estados, Municípios e localidades.

PARA PENSAR

1. Com relação às aplicações mais freqüentes da epidemiologia, descreva em sua prática como ACS onde ela se faz presente?

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 19 2. Com relação aos objetivos da epidemiologia, descreva quais destes

objetivos podem ser utilizados e como podem ser utilizados pelo ACS no cuidado a pessoas portadoras de hipertensão arterial.

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 3. Descreva quais as formas de atuação do ACS em cada nível de prevenção

(primário, secundário e terciário).

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 4. Correlacione as doenças e agravos à saúde da segunda coluna, de acordo

com as respectivas características relativos à pessoa:

5. Com relação a sua vivência no território, classifique os agravos abaixo com relação à variável tempo, justificando sua resposta para cada agravo.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 20 a) Diabetes ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ b) Gripe ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ c) Leptospirose ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ d) Dengue ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ e) Tuberculose ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 21

Texto II

ANALISANDO O COMPORTAMENTO DOS AGRAVOS À

SAÚDE

Neste texto, vamos conhecer conceitos que dizem respeito ao comportamento dos agravos à saúde. O objetivo aqui é entender que os diversos agravos possuem comportamentos diversos, que podem ser analisados de forma a produzir informações que possam ajudar na busca por medidas eficazes de controle e prevenção desses agravos. Desse modo, qualquer problema de saúde, sob a perspectiva epidemiológica, deve ser descrito a partir de determinadas características ou variáveis, construindo um perfil de como cada agravo se comporta. Comecemos analisando os agravos quanto à origem do caso.

Casos autóctones: são casos de doença que tiveram origem dentro dos limites

do lugar em referência ou sob investigação.

Casos Alóctones: São os casos importados; o doente, atualmente presente na

área sob consideração, adquiriu o seu mal em outra região, de onde emigrou.

Caso esporádico

Quando, em uma comunidade, verifica-se o aparecimento de casos raros e isolados de uma certa doença, a qual não estava prevista, esses casos são chamados de casos esporádicos. Exemplo: peste.

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Conglomerado temporal de casos

Um grupo de casos para os quais se suspeita de um fator comum e que ocorre dentro dos limites de intervalos de tempo, significativamente, iguais, medidos a partir do evento que, supostamente, foi a sua origem. Exemplo: leptospirose.

Endemia

Quando a ocorrência de determinada doença apresenta variações na sua incidência de caráter regular, constante, sistemático. Assim, endemia é a ocorrência de uma determinada doença que, durante um longo período de tempo, acomete, sistematicamente, populações em espaços delimitados e caracterizados, mantendo incidência constante ou permitindo variações cíclicas ou sazonais ou atípicas, conforme descrito anteriormente. Exemplo: tuberculose e malária.

Epidemia

As epidemias caracterizam-se pelo aumento do número de casos acima do que se espera, comparado à incidência de períodos anteriores. O mais importante, contudo, é o caráter desse aumento – descontrolado, brusco, significante, temporário. Se, em uma dada região, inexiste determinada doença e surgem dois ou poucos casos, pode-se falar em epidemia, dado o seu caráter de surpresa – por exemplo, o aparecimento de dois casos de sarampo em uma região que, há muitos anos, não apresentava um único caso. Exemplo: epidemia de dengue.

Tal qual as situações endêmicas, as ocorrências epidêmicas são limitadas a um espaço definido, desde os limites de um surto epidêmico até a abrangência de uma pandemia.

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Diagrama de controle

Para afirmar que existe uma epidemia, e não apenas um aumento normal (esperado) no número de casos, pode-se utilizar diferentes técnicas estatísticas. Essas técnicas mostram a faixa de oscilação no número de casos esperados e, dessa maneira, indicam os valores acima dos quais já não se trata de uma ocorrência normal, mas, com grande probabilidade, de uma epidemia ou surto. Para se avaliar a ocorrência de um processo epidêmico, utiliza-se o diagrama de controle. Na sua construção, aplica-se a incidência mensal da doença ou agravo durante um período (geralmente, dez anos), no qual não tenha havido grandes flutuações no número de casos (excluem-se os anos epidêmicos).

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Surto epidêmico

Costuma-se designar surto quando dois ou mais casos de uma determinada doença ocorrem em locais circunscritos, como instituições, escolas, domicílios, edifícios, cozinhas coletivas, bairros ou comunidades, aliados à hipótese de que tiveram, como relação entre eles, a mesma fonte de infecção ou de contaminação ou o mesmo fator de risco, o mesmo quadro clínico e ocorrência simultânea.

Pandemia

Dá-se o nome de pandemia à ocorrência epidêmica caracterizada por uma larga distribuição espacial que atinge várias nações. São exemplos clássicos de pandemias: a epidemia de influenza de 1918; e a epidemia de cólera, iniciada em 1961, que alcançou o continente americano em 1991, no Peru.

As epidemias ou surtos, geralmente, são ocasionados por dois fatores:

a) Aumento do número de suscetíveis: quando o número de suscetíveis em um local é suficientemente grande, a introdução de um caso (alóctone) de uma doença transmissível gera diversos outros, configurando um grande aumento na incidência. O aumento do número de suscetíveis pode apresentar diversas causas, como:

- Nascimentos - Migrações

- Baixas coberturas vacinais

b) Alterações no meio ambiente que favorecem a transmissão de doenças infecciosas e não infecciosas:

- Contaminação da água potável por dejetos favorece a transmissão de febre tifóide, hepatite A, hepatite E, cólera, entre outras.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 25 - Aglomeração de pessoas em abrigos provisórios, em situações de calamidade, facilita a eclosão de surtos de gripes, sarampo e outras doenças respiratórias agudas.

- Aumento no número de vetores infectados, responsáveis pela transmissão de algumas doenças em razão de condições ambientais favoráveis e inexistência ou ineficácia das medidas de controle, facilita o crescimento do número de agravos, como no caso de malária, dengue.

- Contaminação de alimentos, por microorganismos patogênicos, ocasiona surtos de intoxicação, toxiinfecção e infecção alimentar, freqüentes em locais de refeições coletivas.

- Extravasamento de produtos químicos poluindo o ar, solo e mananciais leva a intoxicações agudas na comunidade local.

- Emissão descontrolada de gás carbônico por veículos motorizados leva a problemas respiratórios agudos na população. Uma epidemia ou surto pode surgir a partir das seguintes situações:

- Quando inexiste uma doença em determinado lugar e aí se introduz uma fonte de infecção ou contaminação (por exemplo, um caso de cólera ou um alimento contaminado), dando início ao aparecimento de casos ou epidemia.

- Quando ocorrem casos esporádicos de uma determinada doença e começa a haver aumento na incidência além do esperado.

- A partir de uma doença que ocorre endemicamente e alguns fatores desequilibram a sua estabilidade, iniciando uma epidemia.

Quanto ao tipo de epidemias ou surtos

As epidemias podem ser: de fonte comum ou propagada, lentas ou explosivas.

Epidemia de fonte comum

Quando não há um mecanismo de transmissão de hospedeiro para hospedeiro. Na epidemia por fonte ou veículo comum, o fator extrínseco (agente

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 26 infeccioso, fatores físico-químicos ou produtos do metabolismo biológico) pode ser veiculado pela água, por alimentos, pelo ar ou introduzido por inoculação. Todos os suscetíveis devem ter acesso direto a uma única fonte de contaminação, podendo ser por curto espaço de tempo (fonte pontual) ou por um espaço de tempo mais longo (fonte persistente). Trata-se, geralmente, de uma epidemia explosiva e bastante localizada, em relação ao tempo e lugar. Exemplo: intoxicação alimentar.

São variantes da epidemia de fonte comum:

Epidemia de fonte pontual

Na epidemia gerada por uma fonte pontual (no tempo), a exposição se dá durante um curto intervalo de tempo e cessa, não se tornando a repetir. Exemplo: exposição à alimento contaminado em evento.

Epidemia de fonte persistente

Na epidemia gerada por uma fonte persistente (no tempo), a fonte tem existência dilatada e a exposição da população prolonga-se por um largo lapso de tempo. Exemplo: exposição à Salmonella Typhi através de uma mina de água.

Epidemia de fonte progressiva ou propagada, de contato ou contágio

Quando o mecanismo de transmissão é de hospedeiro a hospedeiro, ocorrendo a propagação em cadeia, difundida de pessoa a pessoa por via respiratória, anal, oral, genital ou por vetores – por exemplo, a gripe, a meningite meningocócica, doenças sexualmente transmissíveis, a raiva canina. Geralmente, sua progressão é lenta.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 27

Epidemia lenta

Na epidemia lenta, o critério diferenciador é a velocidade com que ela ocorre na etapa inicial do processo, que é lenta, gradual e progride durante um longo tempo. Acontece, em geral, nas doenças de curso clínico longo, principalmente doenças não transmissíveis, podendo ocorrer, também, com doenças cujos agentes apresentam baixa resistência ao meio exterior ou para os quais a população seja altamente resistente ou imune. Será lenta, ainda, se as formas de transmissão e meios de prevenção forem bem conhecidos pela população. Exemplo: aids, exposição à metais pesados ou agrotóxicos.

Epidemia explosiva ou maciça

Quando várias pessoas são expostas, simultaneamente, à mesma fonte – por exemplo, os surtos de infecção ou intoxicação alimentar, cujo tempo de incubação é muito curto.

TRAÇADORES E EVENTOS SENTINELA

No monitoramento das ações desenvolvidas na atenção básica de saúde, a alguns indicadores pode ser atribuído significado especial, pois, além de fáceis de serem calculados, disponíveis no SIAB, têm a necessária sensibilidade para servir como: a) traçadores da qualidade de operacionalização das medidas preventivas e de promoção em saúde, do diagnóstico precoce, do tratamento adequado e da reabilitação, para eventos de saúde passíveis de controle devido à disponibilidade de tecnologia de eficácia reconhecida e acessível à população das áreas de abrangência; e b) eventos-sentinela da ocorrência de situações

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 28

PARA PENSAR

1. No Recife, no ano de 1994, foram registrados 4528 casos de rubéola, enquanto no ano anterior tivemos 3568 casos. Podemos dizer que no ano de 1994 tivemos uma epidemia de rubéola? Justifique.

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 2. Caso seja identificado um caso de poliomielite no Recife, este cenário

sugere uma epidemia? Justifique.

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 3. Utilizando o quadro abaixo e analisando os dados disponíveis em sua

microárea, descreva que traçadores e eventos sentinela você identifica em seu território neste ultimo mês. Analise o que faltou para cada caso e discuta com seu professor.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 29

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 30

AULA 2

:

Medida da saúde coletiva

Textos baseados no:

Curso Básico de Vigilância Epidemiológica, 2005

Obs: Os casos apresentados nos exercícios do “Para Pensar” são hipotéticos, não correspondendo a realidade.

Texto I

Trabalhando com indicadores

Esta aula apresenta formas de “medir a saúde” de maneira simplificada. Para isso, pretende mostrar como calcular e interpretar os indicadores mais utilizados em epidemiologia.

Indicadores são medidas utilizadas para descrever e analisar uma situação existente, avaliar o cumprimento de objetivos, metas e suas mudanças ao longo do tempo, além de confirmar tendências passadas e prever tendências futuras. Apresentam-se como:

- Indicadores demográficos: natalidade, fecundidade, expectativa de vida.

- Indicadores socioeconômicos: renda per capita e familiar, escolaridade, saneamento, renda, etc.

(32)

Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 31 Por ser muito difícil mensurar a saúde, mede-se a “não saúde”, ou seja, as doenças e agravos (morbidade), as mortes (mortalidade), as incapacidades físicas e mentais (seqüelas); mede-se, também, as variáveis relacionadas a processos fisiológicos (como a gravidez), hábitos e estilo de vida (exercícios físicos, dietas saudáveis, etc), entre outros.

Os indicadores são construídos de acordo com aquilo que se quer medir. Sua escolha varia de acordo com os objetivos que se quer alcançar; e podem ser expressos por valores absolutos (números), relativos (percentagens) e outros (coeficientes). Os indicadores de valores absolutos referem-se a dados não tratados em relação a um todo como, por exemplo, número de casos e número de óbitos, impossibilitando, assim, comparações temporais ou geográficas. São úteis no planejamento e na administração da saúde para estimar o número de leitos, medicamentos e insumos em geral.

Para ser possível comparar as freqüências de morbidade e mortalidade, torna-se necessário transformá-los em valores relativos, isto é, em numeradores de frações, tendo denominadores fidedignos. Os dados são relativos quando mostram alguma relação com outros, podendo ser expressos por meio de coeficiente, índice e razão.

Coeficiente ou taxa

É a relação entre o número de eventos reais (quantos casos ocorreram) e os que poderiam acontecer (toda população exposta ao risco), sendo a única medida que informa quanto ao “risco” de ocorrência de um evento. Por exemplo: número de óbitos por leptospirose no Distrito Sanitário VI do Recife, em determinado ano, em relação às pessoas que residem ou residiam nesse Distrito, no ano ou período considerado.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 32

Proporção

É a relação entre freqüências atribuídas de determinado evento; no numerador, registra-se a freqüência absoluta do evento, que constitui subconjunto da freqüência contida no denominador, ou seja, o numerador pertence ao denominador. Por exemplo: número de óbitos por doenças cardiovasculares em relação ao número de óbitos em geral.

Razão

É a medida de freqüência de um grupo de eventos relativa à freqüência de outro grupo de eventos. É um tipo de fração em que o numerador não é um subconjunto do denominador. Por exemplo: razão entre o número de casos de aids no sexo masculino e o número de casos de aids no sexo feminino.

PARA PENSAR

1. No Município de Arcos da Rocha, Estado de Paraíso (PS), no ano de 1990,

foram registrados 70 casos de dengue; e, no ano de 2003, 90 casos. Qual o ano em que a população esteve sob o maior risco de adoecer por dengue?

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 33

Texto II

Indicadores de mortalidade

Mortalidade é uma propriedade natural das comunidades dos seres vivos. Refere-se ao conjunto dos indivíduos que morrem em um dado intervalo de tempo e em um dado espaço. O risco ou probabilidade que qualquer pessoa na população apresenta de vir a morrer, em decorrência de uma doença, é calculado pela taxa ou coeficiente de mortalidade. Ela representa a intensidade com que os óbitos por uma determinada doença ocorrem em uma certa população.

Indicadores como os de mortalidade geral, mortalidade infantil, mortalidade materna e mortalidade por doenças transmissíveis, são muito utilizados para avaliar o nível de saúde de uma população.

Principais indicadores de mortalidade

Taxa de mortalidade geral (TMG): mede o risco de morte por todas as causas

em uma população de um dado local e período.

Taxa de mortalidade infantil (TMI): mede o risco de morte para crianças

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 34

Taxa de mortalidade infantil precoce (TMIP – neonatal): mede o risco de morte

para crianças menores de 28 dias.

Taxa de mortalidade infantil tardia (TMIT): mede o risco de morte para crianças

com idade entre 28 dias e 1 ano.

Razão de mortalidade materna (RMM): mede o risco de morte materna.1

1 Morte materna: é a morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da mesma, independentemente da duração ou da localização da gravidez, devida à qualquer causa relacionada ou agravada com a gravidez, ou por medidas em relação à ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 35

Taxa de mortalidade por causa (TMC): mede o risco de morte por determinada

causa, num dado local e período. No denominador deve constar a população exposta ao risco de morrer por essa mesma causa.

Taxa de letalidade (TL): é uma proporção que mede o poder da doença em

determinar a morte e também pode informar sobre a qualidade da assistência médica prestada ao doente.

Razão de mortalidade proporcional (RMP)2 ou Indicador de Swaroop-Uemura: mede a proporção de óbitos de pessoas com 50 anos ou mais em

relação ao total de óbitos em um dado local e período.

2 Esse indicador é denominado, comumente, de razão de mortalidade proporcional, embora não constitua, verdadeiramente, uma razão. Conforme definição constante neste módulo, trata-se de uma proporção.

Para facilitar e permitir a comparação entre as taxas, tanto as de mortalidade quanto as de morbidade, calculadas para diferentes locais ou para o

(37)

Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 36 mesmo local em diferentes períodos de tempo, utiliza-se, sempre, uma base comum (100, 1.000, 10.000, 100.000, 1.000.000) que representa uma potência de 10 (10n). Essa potência de 10 é escolhida de forma a tornar os números obtidos o mais próximo possível de números inteiros. Por convenção, nos coeficientes de mortalidade geral e infantil, a base é 1.000; e quando se trata de mortalidade por causa, a base mais adequada é 105 = 100.000. A taxa de letalidade se expressa, sempre, em porcentagem.

PARA PENSAR

1. Os dados dispostos na tabela abaixo são de Pernambuco nos anos de 1995 e 2004.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 37 Em vista destes dados calcule

2. Compare os dois anos do exemplo acima e analise os indicadores.

__________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________

3. A letalidade média da doença meningocócica é de 10% ao ano. No Distrito Sanitário III, em 1994, registrou 5 óbitos por doença meningocócica e notificou 20 casos da doença. De quanto se estima que foi a subnotificação de casos?

________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 38

Texto III

Indicadores de morbidade

Morbidade é uma variável característica de comunidades de seres vivos e refere-se ao conjunto dos indivíduos que adquirem doenças em um dado intervalo de tempo e lugar. Designa-se morbidade ao comportamento das doenças e dos agravos à saúde em uma população exposta. A morbidade é, freqüentemente, estudada segundo quatro indicadores básicos: taxa de incidência; taxa de prevalência; taxa de ataque; e distribuição proporcional segundo variáveis diversas.

Taxa de incidência

A incidência [taxa de incidência (TI)] é o número de casos novos de uma doença em um dado local e período, relativo a uma população exposta. Reflete a intensidade com que acontece uma doença em uma população e, dessa maneira, mede a freqüência ou probabilidade de ocorrência de casos novos dessa doença na população. Alta incidência significa alto risco coletivo de adoecer (Figura 1).

Taxa de prevalência

A prevalência indica qualidade daquilo que prevalece. Portanto, prevalência implica acontecer e permanecer existindo em um momento considerado. A taxa

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 39 de prevalência (TP) é mais utilizada para doenças crônicas de longa duração, como hanseníase, tuberculose, aids e diabetes. Casos prevalentes são os que estão sendo tratados (casos antigos) mais aqueles que foram descobertos ou diagnosticados (casos novos). Portanto, a prevalência é o número total de casos de uma doença, novos e antigos, existentes em um determinado local e período. A prevalência, como idéia de acúmulo, de estoque, indica a força com que subsiste a doença na população (Figura 1).

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 40 A prevalência pode ser pontual lápsica. A prevalência pontual, também conhecida como instantânea ou momentânea, é medida pela freqüência da doença ou por sua taxa em um ponto definido no tempo, seja referente a um dia, semana, mês ou ano. Calcula-se a taxa no final do período de tempo que se quer estudar, excluindo-se, assim, os casos que evoluíram para a cura, para o óbito ou que migraram. A prevalência pontual é calculada no fim de um período, para valer por ele.

Ao considerar os casos prevalentes em um período de tempo mais ou menos longo e que não concentra a informação em um dado ponto desse intervalo, tem-se a prevalência lápsica (lapso de tempo) ou por período de tempo – por exemplo, a prevalência da hanseníase. Na prevalência lápsica, estão incluídos todos os casos prevalentes, inclusive os que curaram, morreram ou emigraram, consistindo na soma da prevalência pontual no começo de um período especificado ou ao final do período anterior, com todos os casos novos que ocorreram no período analisado.

Taxas de prevalência são valiosas para o planejamento, em função do conhecimento do número de doentes existentes na comunidade. Para fins epidemiológicos (identificação de fatores de risco, por exemplo), as medidas de incidência são mais efetivas.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 41 Essa taxa, sempre expressa em percentagem, nada mais é do que uma forma especial de incidência. É usada quando se investiga um surto de uma determinada doença em um local onde há uma população bem definida, como residência, creche, escola, quartel, colônia de férias, grupo de pessoas que participou de um determinado evento como um almoço, etc. Essas pessoas formam uma população especial exposta ao risco de adquirir a referida doença em um período de tempo bem definido.

Distribuição proporcional (DP)

A distribuição proporcional indica, do total de casos ocorridos por uma determinada causa, quantos ocorreram, por exemplo, entre homens e quantos entre mulheres, ou quantos ocorreram nos diferentes grupos de idade. O resultado, sempre, é expresso em porcentagem. A distribuição proporcional não mede o risco de adoecer ou morrer, como no caso das taxas; apenas indica como se distribuem os casos entre as pessoas afetadas, por grupos etários, sexo, localidade e outras variáveis.

Cobertura vacinal (CV)

A cobertura vacinal é o percentual da população que foi atingida pela vacinação em um determinado espaço de tempo (anual, semestral, mensal ou durante uma campanha), em uma determinada área geográfica. No numerador, registra-se o número de vacinados que corresponde ao número de pessoas com o esquema básico completo da vacina em questão.

O impacto epidemiológico causado pela vacina dependerá, principalmente, das taxas de cobertura vacinal e de sua homogeneidade. Com dados de cobertura, pode-se concluir, entre outros aspectos, sobre: - o acesso da população ao serviço [cobertura de BCG, primeiras doses da tetravalente (difteria, tétano, coqueluche mais hemófilos), poliomielite, hepatite B]; - o grau de aceitação da comunidade ao programa de vacinação (cobertura de 3ª dose da tetravalente, das

(43)

Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 42 vacinas de poliomielite e de hepatite B, cobertura da vacina de sarampo, cobertura de reforço); e - a eficiência do serviço (taxa de abandono da vacina contra poliomielite, da tetravalente, da vacina da hepatite B).

PARA PENSAR

1. Em uma tarde, um grupo de 17 pessoas foi atendido na emergência da policlínica Amaury Coutinho, em Campina do Barreto, com suspeita de intoxicação estafilocócica. Entrevistas com essas pessoas levaram à identificação de outros 39 suspeitos, com sinais e sintomas compatíveis com a intoxicação estafilocócica, que não procuraram assistência médica. Na seqüência, a investigação epidemiológica identificou que outras 42 que não adoeceram, participaram de um mesmo piquenique. Calcule a taxa de ataque por 100 pessoas?

2. No ano de 2004, foram confirmados 2.490 casos de dengue no Estado de Pernambuco, cuja população, nesse ano, era de 9.003.804 habitantes. Qual foi o coeficiente de incidência de dengue em Pernambuco, em 2004?

3. O quadro abaixo mostra o início e o término de oito casos de uma doença infecciosa de evolução aguda, em uma escola do Bairro da Iputinga, no período de cinco semanas de observação. Admitindo-se que esses casos provêm da vigilância continuada de um grupo composto por 200 crianças, pergunta-se:

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 43 a) Qual a taxa de incidência no período?

b) Qual a taxa de prevalência pontual no início (domingo) da segunda semana? c) Qual a taxa de incidência na segunda semana?

d) Qual a taxa de prevalência pontual no início (domingo) da terceira semana? e) Qual a taxa de prevalência lápsica na terceira semana?

f) Qual a taxa de incidência na quinta semana?

4. Complete a tabela seguir:

Tabela 1 – Número de casos, óbitos, incidência e letalidade por grupo etário, da doença meningocócica no Estado de Pernambuco:

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 44 Qual foi o grupo etário de maior risco de adoecer?

Qual o grupo em que ocorreu a maior letalidade?

5. No relatório de atividades do Distrito Sanitário V, no ano de 1998, registraram-se 6.180 doses de 1ª dose da vacina Sabin, aplicadas em menores de um ano; e 5.456 doses de 3ª dose, também aplicadas em menores de um ano. Qual a cobertura vacinal para o Distrito para cada 100 crianças, sabendo-se que a população menor de um ano corresponde a 6.200 crianças?

6. Utilizando os dados da área coberta pela sua equipe, calcule:

Qual a prevalência de hipertensão arterial em sua microárea, este ano?

Utilizando a seguinte faixa etária (<1 ano, 1-10 anos, 10-20 anos, 20-40 anos, 40-60 anos, >60 anos), calcule a prevalência de diabetes por faixa

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 45 etária em sua microárea, identificando qual grupo é mais prevalente, para este ano.

Calcule a taxa de incidência da tuberculose e da hanseníase na área coberta por sua equipe, para o ano de 2011.

Calcule a taxa de abandono do tratamento da tuberculose, para o ano de 2011, na área coberta pela sua equipe.

Calcule a cobertura vacinal em sua microárea, para o ano de 2011, para a vacina Sabin.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 46

AULA 4

: Analise das condições de vida e saúde na

comunidade

Textos baseados no:

Curso Básico de Vigilância Epidemiológica, 2005 &

Brasil. Monitoramento na atenção básica de saúde: roteiros para reflexão e ação / Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

Obs: Os casos apresentados nos exercícios do “Para Pensar” são hipotéticos, não correspondendo a realidade.

Texto I

TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E DEMOGRÁFICA

TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

Entende-se por transição epidemiológica as mudanças ocorridas no tempo nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas. O processo engloba três mudanças básicas:

1. substituição das doenças transmissíveis por doenças não-transmissíveis e causas externas;

2. deslocamento da carga de morbi-mortalidade dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos;

(48)

Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 47 3. e transformação de uma situação em que predomina a mortalidade

para outra na qual a morbidade é dominante.

A definição da transição epidemiológica deve, assim, ser considerada componente de um conceito mais amplo como transição da saúde, que inclui elementos das concepções e comportamentos sociais, correspondentes aos aspectos básicos da saúde nas populações humanas.

A transição da saúde pode se dividir em dois elementos principais: de um lado, encontra-se a transição das condições de saúde (referindo-se às mudanças na freqüência, magnitude e distribuição das condições de saúde, expressas através das mortes, doenças e incapacidades) e de outro, a resposta social organizada a estas condições que se instrumenta por meio dos sistemas de atenção à saúde (transição da atenção sanitária), determinada em grande medida pelo desenvolvimento social, econômico e tecnológico mais amplo.

Existe uma correlação direta entre os processos de transição epidemiológica e demográfica. A princípio, o declínio da mortalidade concentra-se seletivamente entre as doenças infecciosas e tende a beneficiar os grupos mais jovens da população, que passam a conviver com fatores de risco associados às doenças crônico-degenerativas e, na medida em que cresce o número de idosos e aumenta a expectativa de vida, as doenças nãotransmissíveis tornam-se mais freqüentes.

A modificação no perfil de saúde da população em que as doenças crônicas e suas complicações são prevalentes resulta em mudanças no padrão de utilização dos serviços de saúde e no aumento de gastos, considerando a necessidade de incorporação tecnológica para o tratamento das mesmas. Estes aspectos ocasionam importantes desafios e a necessidade de uma agenda para as políticas de saúde que possam dar conta das várias transições em curso. A escalada tecnológica, o modelo hospitalocêntrico ainda vigente, a pouca valorização na educação médica e de outros profissionais em relação aos aspectos referentes à promoção e prevenção, a necessidade de novas instâncias de cuidados (além do hospitalar e do ambulatorial clássicos), as marcantes deficiências qualitativas e quantitativas da força de trabalho em saúde e o

(49)

Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 48 desenvolvimento de programas e políticas custo-efetivas são elementos a serem considerados no desenvolvimento dos futuros modelos tecno-assistenciais em saúde.

No Brasil, a transição epidemiológica não tem ocorrido de acordo com o modelo experimentado pela maioria dos países industrializados e mesmo por vizinhos latino-americanos como o Chile, Cuba e Costa-Rica. Há uma superposição entre as etapas nas quais predominam as doenças transmissíveis e crônico-degenerativas; a reintrodução de doenças como dengue e cólera ou o recrudescimento de outras como a malária, hanseníase e leishmanioses indicam uma natureza não-unidirecional denominada contra-transição; o processo não se resolve de maneira clara, criando uma situação em que a morbi-mortalidade persiste elevada para ambos os padrões, caracterizando uma transição prolongada; as situações epidemiológicas de diferentes regiões em um mesmo país tornam-se contrastantes (polarização epidemiológica).

Além disso, o envelhecimento rápido da população brasileira a partir da década de 1960 faz com que a sociedade se depare com um tipo de demanda por serviços médicos e sociais outrora restrita aos países industrializados. O Estado, ainda às voltas em estabelecer o controle das doenças transmissíveis e a redução da mortalidade infantil, não foi capaz de desenvolver e aplicar estratégias para a efetiva prevenção e tratamento das doenças crônico-degenerativas e suas complicações levando a uma perda de autonomia e qualidade de vida.

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 49 Mortalidade proporcional por causa, Nordeste – 1930-1985

TRASIÇÃO DEMOGRÁFICA

Entre 1940 e 2000, a população brasileira teve um acréscimo de 129 milhões de habitantes, uma média de 21,5 milhões por década. Na primeira metade do século XXI, estima-se um acréscimo de 90 milhões, em média, 2,5 vezes a população da Argentina em 2005. Ou seja, 18 milhões de habitantes por década. Menos que no século anterior, mas grandezas ainda consideráveis. Esta é a primeira grande questão demográfica a ser analisada neste artigo, do ponto de vista das suas conseqüências para a formulação de políticas públicas. A segunda é a redução da taxa de fecundidade e não só o seu impacto no crescimento da população, mas também na estrutura etária. Do ponto de vista da transição da estrutura etária, três fenômenos devem ser considerados: redução do peso relativo da população jovem; aumento do grau de envelhecimento da população, ou seja, da proporção de pessoas com sessenta e cinco anos de idade ou mais; e o crescimento da população em idade ativa até 2050.

A transição demográfica no Brasil tem sido muito mais acelerada do que nos países desenvolvidos, não se diferenciando, entretanto, do que vem passando

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Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 50 outros países latino-americanos e asiáticos. Um bom indicador tem sido o rápido declínio da fecundidade. Comparando o Brasil com a França e a Itália, observa-se um expressivo diferencial nas respectivas taxas de fecundidade total, já no início do século passado, e que, nos dois países europeus, tiveram um declínio muito mais suave nos cem anos seguintes, sendo que a suas transições demográficas já tinham se iniciado no século anterior (GRAF. 1).

Durante o século passado, a fecundidade na Itália passou de 4,4 filhos, em média, por mulher em idade reprodutiva para 1,2, enquanto na França, de 2.8 para 1,9, uma queda de 2,2 e 0,9, respectivamente. Uma mudança bem menos expressiva do que a brasileira, onde, somente entre 1960 e 2000 a taxa de fecundidade caiu de 6,2 para 2,4, uma redução, em média, de quatro filhos.

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(53)

Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde 52 Pode-se compreender que o conjunto de políticas públicas que são condicionados pela estrutura etária da população, como, por exemplo, as políticas de educação, saúde, mercado de trabalho e previdência, deve levar em conta as mudanças demográficas. Caso contrário, reduzirá sua eficiência e se afastará dos objetivos maiores de um desenvolvimento econômico com redução das desigualdades sociais.

PARA PENSAR

1. Diante do novo perfil etário brasileiro, que impactos sobre o cotidiano das equipes de atenção básica podem ser apontados?

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Referências

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