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GUERRAS FRIAS DENTRO DE CADA PAÍS. Guerra fria.

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C o l e ç ã o L&PM

P O C K E T ,

vol.

1 0 5 2

Robert J. M c M a h o n é p r o f e s s o r de história n a University of Florida e autor d e diversos livros, c o m o The Cold War on the Periphery: the United States,

índia, and Pakistan (1994) e The Limits ofEmpire: the US and Southeast As ia since World War II (1999).

Texto d e acordo c o m a n o v a ortografia. Título original: The Cold War

Primeira e d i ç ã o n a C o l e ç ã o L & P M POCKET: j u l h o d e 2 0 1 2

Tradução: R o s a u r a E i c h e n b e r g

Capa-. Ivan Pinheiro M a c h a d o . Foto: © Shutterstock.com Preparação: Elisângela R o s a dos Santos

Revisão: S i m o n e B o r g e s

CIP-Brasil. C a t a l o g a ç ã o n a Fonte Sindicato N a c i o n a l d o s Editores de Livros, R J M l 18g

M a c M a h o n , R o b e r t

Guerra fria / R o b e r t J. M a c M a h o n ; t r a d u ç ã o d e Rosaura E i c h e n b e r g — Porto Alegre, R S : L & P M , 2012.

208p. : il. ; 18 c m (Coleção L & P M P O C K E T ; "v. 1052) T r a d u ç ã o de: The Cold War

A p ê n d i c e

Inclui bibliografia

I S B N 9 7 8 - 8 5 - 2 5 4 - 2 6 8 9 - 5

1. Guerra Fria. 2. Política internacional - 1945-1989. 3 . Capitalismo. 4. C o m u n i s m o . I. Título.

12-3556. C D D : 9 0 9 . 8 2 5

C D U : 9 4 ( 1 0 0 ) " ! 9 4 5 / 1 9 8 9 " © Robert J. M c M a h o n , 2 0 0 3

Guerra fria foi o r i g i n a l m e n t e p u b l i c a d o e m inglês e m 2 0 0 3 .

Esta t r a d u ç ã o é p u b l i c a d a c o n f o r m e a c o r d o c o m a O x f o r d University Press.

Todos os direitos desta edição reservados a L & P M Editores R u a C o m e n d a d o r Coruja, 326 - Floresta - 9 0 2 2 0 - 1 8 0

Porto Alegre - R S - Brasil / Fone: 51.3225-5777 - Fax: 51.3221-5380 P E D I D O S & D E P T O . C O M E R C I A L : v e n d a s @ I p m . c o m . b r

F A L E C O N O S C O : i n f o @ l p m . c o m . b r w w w . l p m . c o m . b r

I m p r e s s o n a Gráfica e Editora Pallotti, Santa M a r i a , R S , Brasil I n v e r n o d e 2 0 1 2

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S U M Á R I O PREFÁCIO 7 CAPÍTULO 1: A S e g u n d a G u e r r a M u n d i a l e a d e s t r u i ç ã o d a a n t i g a o r d e m 9 CAPÍTULO 2: A s o r i g e n s da G u e r r a Fria n a E u r o p a : 1 9 4 5 - 1 9 5 0 2 5 CAPÍTULO 3: R u m o à " G u e r r a Q u e n t e " n a Á s i a : 1 9 4 5 - 1 9 5 0 4 6 CAPÍTULO 4: U m a G u e r r a F r i a global: 1 9 5 0 - 1 9 5 8 6 9 CAPÍTULO 5: D o c o n f r o n t o à détente: 1 9 5 8 - 1 9 6 8 9 3 CAPÍTULO 6: G u e r r a s F r i a s d e n t r o de c a d a p a í s 122 CAPÍTULO 7: A s c e n s ã o e q u e d a d a d é t e n t e d a s s u p e r p o t ê n c i a s : 1 9 6 8 - 1 9 7 9 140 CAPÍTULO 8: A e t a p a final: 1 9 8 0 - 1 9 9 0 163 LEITURAS COMPLEMENTARES 1 9 1 ÍNDICE REMISSIVO , . 1 9 6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES 2 0 5 LISTA D E MAPAS 2 0 7

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CAPÍTULO 6

G U E R R A S F R I A S D E N T R O D E C A D A PAÍS

A Guerra Fria exerceu u m impacto tão p r o f u n d o e tão multifacetado na estrutura da política internacional e nas relações Estado a E s t a d o que se tornou costumeiro chamar o período de 1945 a 1990 de " a era da Guerra Fria". Essa designação torna-se ainda m a i s a d e q u a d a q u a n d o se consi-dera a p o d e r o s a m a r c a que a luta soviético-americana pelo d o m í n i o mundial e pela supremacia ideológica deixou

den-tro de m u i t o s dos estados-nações do m u n d o , que é o tema

deste capítulo^ Todo o desenvolvimento de grande importân-cia que ocorreu entre 1945 e 1990 não p o d e ser ligado, é claro, à Guerra Fria. D a m e s m a f o r m a , n ã o se pode escrever u m a história da segunda m e t a d e do século X X sem u m a ava-liação sistemática da repercussão p o d e r o s a e muitas vezes deturpadora d o conflito das superpotências n o s Estados e nas sociedades do m u n d o .

A s suas repercussões e m cada país t ê m recebido muito m e n o s atenção sistemática d o s estudiosos q u e a dinâmica internacional da G u e r r a Fria. Este capítulo oferece simples-m e n t e u simples-m a p a n h a d o geral de pinceladas sobre esse isimples-menso tópico. Sugere a l g u m a s das maneiras pelas quais a Guerra Fria a f e t o u a constelação interna de forças no Terceiro M u n d o , na E u r o p a e nos Estados U n i d o s .

O Terceiro M u n d o : descolonização, f o r m a ç ã o dos

E s t a d o s e geopolítica da G u e r r a Fria

O surgimento de dúzias de estados-nações recém-inde-pendentes p o r toda a extensão do Terceiro M u n d o , j u n t o com o processo de descolonização por vezes sangrento, invaria-v e l m e n t e a p i n h a d o de conflitos, que lhes d e u origem, n ã o só coincidiu n o t e m p o c o m a Guerra Fria, c o m o foi inextrica-v e l m e n t e m o d e l a d o por ela.- N a inextrica-verdade, a luta abrangente

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p e l o p o d e r e p e l a i n f l u ê n c i a global entre o s E s t a d o s U n i d o s , a U n i ã o Soviética e seus respectivos aliados é q u e produziu^ o p r ó p r i o t e r m o "Terceiro M u n d o " . Clichê político c o n v e -niente q u e a g l o m e r a v a d e m o d o u m tanto f r o u x o as áreas p r e d o m i n a n t e m e n t e p o b r e s , n ã o b r a n c a s e n ã o c o m p r o m e -tidas d o planeta, o Terceiro M u n d o c o n o t a v a n o início u m a arena de contestação entre o Oeste e o Leste, os assim c h a -j n a d o s P r i m e i r o e S e g u n d o M u n d o s í Á s p r e s s õ e s da G u e r r a

Fria às v e z e s e x a c e r b a r a m , e m outras o c a s i õ e s facilitaram, a t r a n s i ç ã o d o c o l o n i a l i s m o para a i n d e p e n d ê n c i a . E m b o r a o i m p a c t o particular da G u e r r a Fria tenha v a r i a d o muito d e u m a luta f i m d e i m p é r i o p a r a outra, a disputa d a s s u p e r p o -tências a v u l t a v a s e m p r e c o m o u m a variável externa de capi-tal i m p o r t â n c i a / q u a l q u e r história de d e s c o l o n i z a ç ã o seria i n c o m p l e t a se deixasse de e x a m i n a r as m ú l t i p l a s f o r m a s pelas quais o conflito das superpotências i m p a c t o u o p r o -cesso — dos m o v i m e n t o s p e l a liberdade n o sul e sudeste d a Á s i a e m m e a d o s e n o final da d é c a d a de 4 0 , q u e i n a u g u r a r a m a era d a descolonização, até a resistência dos a f r i c a n o s a o d o m í n i o colonial p o r t u g u ê s n o início e e m m e a d o s da d é c a d a de 70, q u e a finalizou. A f o r m a ç ã o d e n o v o s E s t a d o s pós-coloniais e m g r a n d e parte d a Á s i a , da Á f r i c a , d o . Oriente M é d i o e t a m b é m e m regiões d o C a r i b e d e s e n r o l o u - s e i g u a l m e n t e contra o p a n o de f u n d o s e m p r e p r e s e n t e da G u e r r a Fria A f o r m a , a c o e -são e a vitalidade desses Estados; a c o n f i g u r a ç ã o interna de poder d e n t r o deles; a sua c a p a c i d a d e de conquistar a t e n ç ã o e prestígio internacionais; os planos de seus líderes para a s s e -gurar r e c u r s o s , capital e assistência técnica externos a f i m d e satisfazer as p r i o r i d a d e s d o d e s e n v o l v i m e n t o e c o n ô m i c o o u para o b t e r assistência militar a f i m de suprir as n e c e s s i d a d e s de d e f e s a — t u d o foi s i g n i f i c a t i v a m e n t e a f e t a d o p e l a G u e r r a F r i a . / E m m u i t o s aspectos, a história da f o r m a ç ã o dos E s t a -dos n o p e r í o d o p ó s - S e g u n d a Guerra M u n d i a l — a s s i m c o m o a história da d e s c o l o n i z a ç ã o — s i m p l e s m e n t e n ã o p o d e ser escrita s e m q u e se preste u m a atenção cuidadosa e sistemá-tica a essa importante variável externa.

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A G u e r r a Fria a p r e s e n t o u aos potenciais líderes d o Ter-ceiro M u n d o u m a série c o m p l e x a de p r o b l e m a s , d e s a f i o s e oportunidades. Isso se t o r n o u a princípio evidente durante as lutas anticoloniais n o início d o p e r í o d o p ó s - g u e r r a n o -Sudeste A s i á t i c o ^ H o C h i M i n h e S u k a r n o p e d i r a m

assistên-cia a o s E s t a d o s U n i d o s logo depois d a r e n d i ç ã o d o J a p ã o ^ f o r m u l a n d o suas solicitações e m t e r m o s d o apoio histórico dos E s t a d o s U n i d o s à a u t o d e t e r m i n a ç ã o . Todavia, os dois ,ficaram r a p i d a m e n t e d e s a n i m a d o s a o descobrir q u e o c o m -p r o m i s s o d a a d m i n i s t r a ç ã o T r u m a n c o m seus aliados euro-p e u s d á G u e r r a Fria t i n h a euro-prioridade, i m euro-p e d i n d o , a o m e n o s inicialmente, q u a l q u e r c o m p r o m i s s o d i p l o m á t i c o o u mate-rial c o m seus respectivos m o v i m e n t o s d e independência/Ho., agente v e t e r a n o d o C o m i n t e r n e m e m b r o f u n d a d o r d o Partido C o m u n i s t a d a I n d o c h i n a , voltou-se p a r a a U n i ã o Soviética e r.f>ara a R e p ú b l i c a P o p u l a r da C h i n a e m b u s c a de apoio, q u e

ele c o m e ç o u a receber n o início d e 1950. S u k a r n o , p o r outro lado, p r o v o u a sua bona fides a n t i c o m u n i s t a r e p r i m i n d o u m a c a m p a n h a c o m u n i s t a interna q u e p r o c u r a v a g a n h a r o c o n -trole d o m a i s a m p l o m o v i m e n t o d e i n d e p e n d ê n c i a indoné-s i o . R e p r i m i n d o a rebelião M a d i u n d e 1948, oindoné-s nacionaliindoné-staindoné-s

indonésios d e m o n s t r a r a m o caráter m o d e r a d o d e seu m o v i -m e n t o ; esse a c o n t e c i -m e n t o c o n v i n c e n t e fazia parte de u -m a estratégia t o t a l m e n t e consciente p a r a obter o apoio ociden-tal, s o b r e t u d o o a m e r i c a n o . A estratégia a c a b o u s e n d o u m sucesso n a m e d i d a e m q u e a a d m i n i s t r a ç ã o T r u m a n pressio-' n o u a H o l a n d a n o a n o seguinte p a r a q u e c o n c e d e s s e a

inde-p e n d ê n c i a a o que os a m e r i c a n o s j u l g a v a m ser u m a liderança^ "indonésia r e l a t i v a m e n t e c o n f i á v e l e inteiramente

anticomu-nista.

A s trajetórias r a d i c a l m e n t e divergentes d e c a m p a n h a s s e m e l h a n t e s e m prol d o a u t o g o v e r n o nacional, m o n t a d a s p e l o s nacionalistas v i e t n a m i t a s e indonésios, ilustram clara-m e n t e a i clara-m p o r t â n c i a d a d i n â clara-m i c a d a G u e r r a Fria dentro das s o c i e d a d e s d o Terceiro M u n d o . E s s e s casos t a m b é m ilumi-n a m as o p ç õ e s difereilumi-ntes à d i s p o s i ç ã o dos estadistas ilumi-nativos q u a n d o estes t e n t a m n a v e g a r e m m e i o a o s b a n c o s de areia

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traiçoeiros da política das g r a n d e s potências. / N o s extre-m o s , esses líderes p o d i a extre-m p r o c u r a r obter o apoio a extre-m e r i c a n o d e m o n s t r a n d o ou a f i a n ç a n d o as suas c o n v i c ç õ e s anticomunistas, o seu caráter m o d e r a d o e as suas tendências p r ó --ocidentais; ou, alternativamente, p o d i a m tentar c o n q u i s t a r o a p o i o soviético ou chinês a c e n t u a n d o as suas c r e d e n c i a i s revolucionárias e antiocidentais.

N o m u n d o e s s e n c i a l m e n t e bipolar q u e todos o s m o v i -m e n t o s d e i n d e p e n d ê n c i a n o Terceiro M u n d o e n f r e n t a r a -m desde m e a d o s da década de 4 0 até m e a d o s da d é c a d a d e 70, era difícil evitar a p r e s s ã o p a r a se alinhar a u m ou o u t r o c a m p o ideológico e seu sistema de aliança militar — e s p e -cialmente p o r q u e os b e n e f í c i o s concretos p o d i a m fluir o u ser b l o q u e a d o s c o m o resultado da o p ç ã o escolhida. Q u a n t o mais contestada a c a m p a n h a pela independência, mais os que b u s c a v a m essa i n d e p e n d ê n c i a sentiam n e c e s s i d a d e d o apoio d e u m ou outro dos dois blocos. A l é m disso, q u a n d o as coalizões anticoloniais r o m p i a m - s e , c o m o aconteceu n o C o n g o e m 1960 e e m A n g o l a e m 1974-1975, a t e n t a ç ã o d e obter a p o i o de p a t r o n o s diferentes entre as superpotências se m o s t r a v a irresistível p a r a as f a c ç õ e s e m disputa. A s v i s õ e s particulares d o s líderes nacionalistas para o f u t u r o , q u e c o s -t u m a v a m abarcar -t r a n s f o r m a ç õ e s s o c i o e c o n ô m i c a s d e l o n g o alcance e m suas terras nativas, c o m p l i c a v a m ainda m a i s as escolhas q u e lhes e r a m impostas p e l a s p r e s s õ e s d o conflito entre as superpotências. Retirar-se d o b l o c o de p o d e r oci-dental, c o m suas suspeitas arraigadas e m relação àqueles inclinados a m a r c h a r a o s o m dos t a m b o r e s socialistas, p o d e -ria restringir certos c a m i n h o s políticos de d e s e n v o l v i m e n t o no país, c o m p r o m e t e n d o a liberdade de escolha p e l a q u a l as elites n a c i o n a i s f u n d a d o r a s invariavelmente a n s i a v a m . Retirar-se d o b l o c o socialista, p o r outro lado, c e r t a m e n t e minimizaria, e talvez até eliminasse, a o p ç ã o de f a z e r uso d e lisonjas p a r a obter dólares e apoio da n a ç ã o m a i s p o d e r o s a e mais rica do m u n d o .

C o m a independência, os r e c é m - f u n d a d o s E s t a d o s d o Terceiro M u n d o e n f r e n t a v a m u m a série i g u a l m e n t e a g u d a

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de dilemas. Alguns procuravam ativamente o alinhamento c o m os Estados Unidos, porque u m compromisso formal com o Ocidente parecia adequar-se melhor às principais necessidades internas. N o caso do Paquistão, por exemplo, as suas elites governantes buscaram com vigor uma cone-xão americana desde os primeiros tempos de seu frágil país, tornando-se u m aliado formal e m meados da década de 50 por meio da negociação de u m acordo de segurança bilateral com Washington e da participação em dois pactos multilate-rais. A conexão americana forneceu ao Paquistão u m a prote-ção menos contra a União Soviética que contra a índia, sua principal rival regional, ou assim acreditavam as principais autoridades do Paquistão. Ela oferecia um meio de assegu-rar a sobrevivência de u m experimento muito precário em matéria de construção de nação, dada a forma de governo étnica, lingüística e geograficamente dividida do Paquistão, enquanto reforçava naquele Estado a posição dominante do grupo étnico Punjabi, que havia pressionado de maneira muito agressiva pela ajuda americana e pelo alinhamento ocidental. Durante toda a década e meia que se seguiu, os compromissos do Paquistão na Guerra Fria, somados_à ajuda militar e econômica deles resultante, modelaram poderosa-mente a constelação interna de forças no país. A aliança com os Estados Unidos sustentava, em particular, a elite P u n j a b F e os militares paquistaneses e m detrimento de outros concor-_ "rentes internos que também disputavam o poder, distorcendo

o equilíbrio político da nação quase desde a sua concepção.7y'

// N o caso da Tailândia, para citar outro exemplo mar-cante, seus líderes procuravam u m a conexão americana por

u m à causa de mistura semelhante de razões. Cobiçavam um protetor externo como parte de u m a estratégia nacional de_ Tonga data, inspirada pelo temor tradicional e m relação à _ China, seu yizinho gigantesco e potencialmente ameaçador^ — fosse comunista ou não. A Guerra Fria forneceu às elites Thai u m meio de assegurar esse protetor externo, u m a vez que suas necessidades por acaso se ajustavam à busca ame-ricana de aliados no Terceiro Mundo. C o m o seus congêneres

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no Paquistão, os líderes militares Thai também procuravam, u m a conexão americana e os dólares que assim haveriam de jorrar, com o objetivo de aumentar seu controle interno do "poder e calar as vozes dissidentes. Dessa maneira, o.curso da "história moderna Thai foi profundamente alterado.

Embora cada circunstância particular revele natural-mente características singulares, jpxiste sem dúvida u m padrão mais amplo e m que se pode ver que aquelas nações "do Terceiro M u n d o que optaram pelo alinhamento

ociden-tal assim agiram mais por razões internas que por medo do comunismo_e que os desenvolvimentos internos subsequen-tes dentro daqueles Estados foram profundamente influen-ciados como conseqüência de sua o p ç ã o ^ a í s e s diversos, como o Iraque, o Irã, a Arábia Saudita, a Turquia, o Paquis-tão, as Filipinas, o Ceilão, a Coréia do Sul e a Tailândia — para mencionar apenas alguns dos mais proeminentes —, descobriram que suas prioridades internas, os recursos dis-poníveis e o equilíbrio interno de forças foram gravemente afetados pelas decisões tomadas pelos seus líderes e m prol de u m alinhamento formal ou informal com o Ocidente, Alguns eram certamente Estados recém-emergentes, produto das lutas pela independência; outros eram Estados muito mais antigos, cujo status de entidades autogovernáveis havia sido comprometido, mas nunca completamente extinto, pelo império ocidental. Entretanto, apesar dessas histórias ampla-mente divergentes, a forte marca deixada pela Guerra Fria em cada u m deles continua inequívoca.

jfK estratégia de u m estudado não alinhamento atraiu outro grupo de líderes do Terceiro Mundo, aqueles para quem as metas nacionais importantes poderiam ser mais eficazmente alcançadas se fosse evitado u m compromisso formal com o Oeste ou com o Leste/Sukarno, da Indonésia, "Tramai Àbdel Nasser, do Egito, K w a m e Nkrumah, de Gana e^ Jawaharlal Nehru, da índia, entre outros, lutaram cons-cientemente para que suas nações adotassem uma posição

de independência em relação a qualquer u m dos blocos de poder da Guerra Fria. Os fatores complexos que estavam

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por trás de seus cálculos ao optarem por u m a trajetória não alinhada são amplamente ilustrativos. "Quando as relações exteriores escapam de. nosso controle para ficarem a cargo de alguma outra pessoa", alertou Nehru, "nessa condição e" nessa medida deixamos de ser independentes." O primeiro entre os primeiros-ministros da índia estava convencido de

que sua j o v e m nação seria capaz de maximizar sua

estatura

internacional e influência nos conselhos mundiais, assu-mindo o papel de u m a terceira força nas relações internacio-nais. Agindo desse modo, o Partido do Congresso então no poder, que tinha Nehru entre seus membros, poderia evitar a alienação de algumas forças políticas poderosas na forma de governo notavelmente diversa da índia, alienação que teria sido o resultado inevitável de um compromisso formal com fo Oeste ou com o Leste/^Mantendo-se a distância das esferas de influência americana ou soviética, os planejadores india-nos calculavam que seria possível atrair de ambos os campos 'a necessária assistência para o desenvolvimento. "Mesmo

aceitando ajuda econômica", u m Nehru realista confidenciou a um assessor, "não é u m a política prudente colocar todos os nossos ovos num único cesto." Sukarno, Nasser, Nkrumah e outros teriam concordado entusiasticamente com esse senti-mento/Para grande consternação dos combatentes da Guerra Fria americanos, que comumente exibiam u m a mentalidade de ou-você-está-conosco-ou-contra-nós, Washington foi for-çado a competir pelas nações não alinhadas ou neutras do Terceiro Mundo.

E m suma, deve-se reconhecer a ação dos atores do Terceiro Mundo, que tentavam utilizar a realidade interna-cional dominante de sua era, a Guerra Fria, para maximizar potenciais benefícios — ou ao menos minimizar potenciais danos. Deve-se também reconhecer, porém, que muitas das conseqüências da Guerra Fria para os povos e sociedades do Terceiro M u n d o revelaram-se tão inesperadas quanto fora do controle dos atores locais. A esse respeito, vale tornar a enfa-tizar que o Terceiro M u n d o surgiu j á em 1950 como o princi-pal campo de batalha da Guerra Fria. Os conflitos com raízes

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locais - desde Coréia, Congo e Vietnã até Angola, Afeganis-tão e Nicarágua - tornaram-se exponencialmente mais cus-tosos, porque o conflito das superpotências também lhes foi sobreposto ./Vale lembrar aqui que o grosso dos estimados 20 milhões que morreram nas guerras que se alastraram pelo globo entre 1945 e 1990 era formado por vítimas dos confli-tos no Terceiro Mundo, a maioria dos quais estava ligada ao menos indiretamente à Guerra Fria.

O impacto da Guerra Fria na Europa

O impacto da Guerra Fria na Europa oferece o mais .forte dos contrastes. Se pode ser responsabilizada p o r grande parte da guerra, devastação e instabilidade que arruinou as -áreas emergentes entre 1945 e 1990, a disputa

soviético-ame-ricana merece, por outro lado, grande parte do crédito pelo período inédito de paz, prosperidade e estabilidade experi-mentado pelos europeus. Jronicamente, u m a luta ideológica e geopolítica que começou como u m conflito a respeito do destino da Europa acabou não só poupando a Europa, m a s "estabelecendo os fundamentos essenciais para o

desenvolvi-mento econômico mais.sustentado da história europeia.'Esse progresso foi acompanhado e t o m a d o possível por u m a paz duradoura em todo o continente e por u m rápido movimento em direção à integração política e econômica na Europa Ocidental, sendo cada um desses desenvolvimentos incitado pela Guerra Fria. A "Era de O u r o " da expansão e da produti-vidade capitalista, que abrange desde o final dos anos 40 até o início dos anos 70, coincidiu basicamente com as primei-ras duas décadas e meia da Guerra Fria - e foi fomentada, de forma significativa, por essa m e s m a guerra. Aqueles anos testemunharam "a revolução mais dramática, rápida e pro-funda nas relações humanas de que a história tem registro", na avaliação perspicaz do historiador Eric Hobsbawn. "Para muitos daqueles que tinham vivido durante a Depressão e a guerra", acrescenta o historiador John Young, "a Europa Ocidental parecia a terra prometida."

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A s tendências na segurança, na economia e na política /ieram a se reforçar mutuamente na Europa da Guerra Fria. 3 s cerca de U S $ 13 bilhões injetados na Europa Ociden-tal pelo auxílio americano do Plano Marshall, entre 1948 e 1952, certamente ajudaram a estimular o grande desenvolvi-mento do pós-guerra, ainda que os historiadores continuem a debater sobre o peso exato que se deve atribuir à contribui-ção americana. O "guarda-chuva de segurança" americano, o apoio e o estímulo americano à integração da Alemanha Ocidental na Europa Ocidental, bem como o movimento paralelo para u m a integração regional mais ampla, também desempenharam u m papel instrumental.,y'Òs estadistas da Europa Ocidental às vezes seguiam a liderança americana, mas com igual freqüência tomavam eles próprios a inicia-tiva, agarrando as oportunidades oferecidas pela Guerra Fria, pela ocupação da Alemanha e pelo novo interesse americano nos assuntos europeus para foijar o tipo de mudanças regio-nais e reformas econômicas e sociais internas que julgavam necessárias/Eles e seus financiadores americanos reconhe-ceram desde o início, como observa o historiador Herman--Josef Rupieper, "que, para a prosperidade e a democracia florescerem na "metade ocidental de uma Europa dividida, os europeus ocidentais, com ajuda e proteção americanas, teriam de rumar para um sistema político, militar e eco-nômico integrado". Os líderes dos principais Estados da_ Europa Ocidental estavam t a m b é m muito conscientes de que^ o problema da Alemanha, u m a praga para a segurança do^ continente por gerações, precisava ser resolvido a f i m de_que 1T produtividade alemã pudesse ser utilizada na recuperação

econômica da Europa sem que a Àíemanha apareçess_e„de_ novo como u m a ameaça militar

^Eles agiram com criatividade e determinação na busca de soluções para esses problemas. E m julho de 1952, França, Itália, República Federal da Alemanha, Bélgica, H o l a n d a ^ Luxemburgo formaram a "Comunidade Européia do Carvão êjdo Aço7/Em março de 1957, num passo ainda mais ousado e mais significativo e m direção à unidade, as mesmas seis

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nações assinaram os tratados de R o m a estabelecendo u m a Comunidade Econômica Européia (EEC) e u m a Comunidade Européia da Energia Atômica (EURATOM). U m a aproxima-' ção histórica entre França e Alemanha facilitou o desenvol-vimento dessas instituições supranacionais bem-sucedidas. "Alemanha e França são vizinhos que travaram guerra entre si inúmeras vezes ao longo dos séculos", exclampu o chan-celer da Alemanha Ocidental Konrad A d e n a u e r p ' U m a lou-cura europeia que deve terminar de uma vez pára sempre." As taxas de crescimento impressionantes dos países da E E C , que estavam na vanguarda do desenvolvimento econômico da Europa Ocidental, demonstravam as vantagens tangíveis de trocar a competição militar pela cooperação econômica, fem 1960,. "os Seis" eram responsáveis em conjunto por u m quarto da produção industrial do mundo e por dois quintos dó comércio internacional global.,,

O s cidadãos comuns da Europa Ocidental foram os prin-cipais beneficiários desses desenvolvimentos. O crescimento econômico sustentado propiciou-lhes salários mais elevados, semanas de trabalho mais curtas, benefícios sociais gene-rosos e melhores serviços de saúde e educação. O sucesso da fórmula produtivista - e m síntese, asse u m bolo maior e todos se beneficiarão - também contribuiu para a estabilidade política, diminuiu a tensão tradicional entre a mão de obra e o capital e boicotou o charme dos partidos comunistas da Europa Ocidental. O desemprego praticamente desapareceu, _sendo em média apenas 2,9% em toda a Eúropa Ocidental na "Hécada de 50 e mero 1,5% na de 6Q^Em comparação com o

j^ssaclo, verdadeiros paraísos do.consumidor foram criados,, na Europa da Guejrra Fria; as pessoas da classe operária e da [classe média ganhavam u m a renda cada vez mais

compatí-vel com a aquisição de mercadorias que antes haviam sido prerrogativa dos r i c o s ^ N a Itália, por exemplo, a posse de um carro próprio pulou de 469.000 unidades em 1938 para 15 milhões em 1975. A posse de refrigeradores cresceu de apenas 8% dos lares britânicos em 1956 para 69% em 1971. Em 1973, 6 2 % das famílias francesas tiravam férias anuais,

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mais que o dobro do número de famílias que podiam se dar a esse luxo em 1958. Reveladoramente, o primeiro-ministro britânico Harold Macmillan pediu votos na eleição geral de 1959 com o extraordinário slogan: "Vocês nunca tiveram uma vida tão b o a "

Durante as primeiras décadas do pós-guerra, os consu-midores da Europa Ocidental preencheram a lacuna que os separara por muito tempo de seus congêneres americanos. Na década de 60, todos possuíam o que David Reynolds identi-fica como os atributos essenciais das sociedades orientadas para o consumo: "mercadorias domésticas de produção em massa, u m a população crescente com rendas em elevação, expansão do crédito e propaganda agressiva". N a medida em que a Guerra Fria consistiu também na batalha pelos cora-ções, pelas mentes e pelos estômagos dos cidadãos comuns, o sucesso espetacular das economias capitalistas durante o terceiro quartel do século X X sustentou substancialmente as reivindicações políticas e ideológicas dos Estados Unidos e seus aliados ocidentais.

Às deficiências concomitantes das economias planifica-^ das de estilo soviético na Europa Oriental, que lutavam para satisfazer as necessidades básicas das populações locais, for-taleciam ainda mais as pretensões de superioridade ociden-tais a década de 60 em diante, abriu-se u m a lacuna cada

vez maior entre as condições materiais nas metades oriental e ocidental da Europa. Depois da Segunda Guerra Mundial, as sociedades predominantemente agrárias a leste do rio Elba passaram por u m a transição abrupta do capitalismo para o

socialismo — sob o olhar vigilante de Stalin. Imitando de perto o modelo soviético, os partidos comunistas no poder na Europa Oriental deram início a políticas de industrialização rápida e forçada, enquanto subordinavam os impulsos nacio-nalistas aos imperativos do "internacionalismo proletário",

definido por Moscou. Sem dúvida, resultaram benefícios para os cidadãos comuns: melhorias no serviço de saúde, aperfeiçoamento na alimentação, queda das taxas de morta-l i d a d e , expansão do acesso à educação, consecução do pmorta-leno

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1 emprego. Porém, esses ganhos cobraram um preço bastante

elevado e m países nos quais a repressão"política, a perse-guição religiosa, a supressão das liberdades individuais_e a conformidade ideológica imposta com energia tornaram-se a norma, como haviam sido por muito tempo na própria União Jgoviética./As economias planificadas da Europa Oriental

e da União Soviética registraram um progresso impressio-nante no final da década de 50, suplantando as economias da Europa Ocidental em termos de taxas de crescimento anuais. Nos anos 60, entretanto, esse crescimento desacelerou con-sideravelmente, quando se tornaram cada vez mais evidentes os problemas inerentes aos modelos de planejamento des-cendente (top-down), somados à incapacidade dos Estados do bloco oriental para satisfazer as crescentes demandas dos consumidores..

A Doutrina Brezhnev

O Politburo soviético decidiu usar a força para W eliminar a agitação do pluralismo político na

Tcheços-lováquia por receio de que o contágio do liberalismo |:se espalhasse por toda a Europa Oriental, solapando a -autoridade do Kremlin. Em 26 de setembro de 1968, o I j o r n a l oficial Prayda_viib\içou o que veio a ser chamado y d e Doutrina Brezhnev para justificar a invasão. Dizia" frque ós líderes nacionais podiam seguir caminhos sepa-fcrados de desenvolvimento, mas apenas se esses

cafm-IOS não causassem da.no ao socialjsjnp no país, nem ao.

^movimento socialista mais amplo. E m outras palavras^ jg>/Jüremlin: traçaria Ós limites da diversidade na Europa

gOriental.

As campanhas periódicas para liberalizar os sistemas econômico e político em cada um dos Estados do Pacto de Varsóvia cambalearam durante as décadas de 50 e 60 A •União Soviética, quer sob o rígido Stalin, quer sob o mais

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simples-mente não estava disposta a tolerar uma reforma estrutural genuína ou u m a verdadeira diversidade política em sua esfera de influência. /O florescimento e a rápida morte da "Prima-vera de Praga" de 1968 deixaram os limites da liberalização dolorosamente claros. E m janeiro daquele ano, Alexander Dubcek, u m líder comunista reformista, assumiu o poder na Tcheçoslováquia. Ele deu o máximo de si para satisfazer o clamor popular tcheco em prol de maior liberdade política e reformas econômicas significativas, mantendo ao mesmo tempo o apoio da União Soviética e a unidade de seu Partido Comunista então no p o d e r / i s s o se revelou u m ato de equilí-brio impossível. Durante a noite de 20 de agosto de 1968, os tanques soviéticos entraram na Tchecoslováquia e, tal como na Hungria doze anos antes* esmagaram u m ensaio

esperan-çoso de pluralismo político/sabiamente, os tchecos optaram por não resistir, poupando milhares de vidas. Desse ponto em diante, não havia mais dúvida de que o controle soviético na Europa Oriental baseava-se, em última análise, na força bruta e na vontade de usá-la

O ano de 1968 marcou também u m a conjuntura impor-tante na história interna da Europa Oriental na Guerra Fria. E m maio, estudantes e trabalhadores em Paris promoveram u m a série de passeatas que quase derrubaram o governo de Gaulle. Os protestos franceses foram apenas o mais drás-tico de u m a série de desafios às estruturas predominantes de poder que varreram a Europa Ocidental e os Estados Uni-dos em 1968,./Embora cada movimento tivesse as suas p a r ^ ticularidades locais, o florescimento de uma cultura jovem^ a " N o v a Esquerda", e um espírito iconoclasta e antiautori-tário na maioria das, democracias ocidentais sugerem laços comuns entre e l e s . - O p r ó p r i o sucesso da ordem da Guerra Frià na Europa Ocidental parecia ter criado u m a nova gera^ ção que aceitava como naturais os principais frutos dessa_ ordem - paz, estabilidade, abundância material, benefícios sociais reforçados e oportunidades educacionais/Na França, na Itália, na Alemanha Ocidental e em outras partes, essa nova geração, eletrizada em parte pela intervenção

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ameri-cana impopular no Vietnã, começou a questionar algumas das verdades centrais da Guerra Fria^A contenção do comu-nismo precisava de intervenções sangrentas no Terceiro M u n d o ? A União Soviética ainda era uma ameaça? Ainda

se justificava a presença de tropas americanas e armas nu-cleares em solo europeu? As políticas ocidentais alternati-vas_podiam reduzir a chance de u m Armagedon nuclear? O s fatos vieram a demonstrar que o consenso da política externa e_ militar da Guerra Fria começou a desmoronar na Europa Ocidental, então próspera, junto com a ordem política que ela.fo.mentara.

O l m p a c t o da Guerra Fria nos Estados Unidos

A Guerra Fria também deixou u m a marca indelével n o Estado e na sociedade americanos. N a verdade, não deixou nenhum aspecto da vida americana intocado^ Como resultado direto dos temores de segurança provocados pela ameaça comunista/soviética, o governo, federal assumiu u m poder e u m a responsabilidade imensamente exacerbados, a "pre-sidência j m p e r i a r j D ç u p o u o centro do palco, u m aumento substancial nos gastos de defesa tornou-se u m a característica permanente do orçamento federal e um complexo militar--industrial deitou raízes na sociedade americana. /As amplas mudanças pós-1945 nos padrões residenciais e nas estrutu-ras ocupacionais do país também são, em grande medida, um subproduto da Guerra Fria, assim como a cooptação de inovações científicas e tecnológicas .para fins relacionados à esfera militar e a concomitante transformação de muitas universidades de prestígio e m locais proeminentes de pes-quisa patrocinada pelo governo ./Muitas prioridades nacio-nais específicas foram modeladas de modo semelhante e, e m alguns casos, explicitamente justificadas pela Guerra Fria: desde a proposta de u m sistema de rodovias interestaduais, apresentada por Eisenhower, ao aumento de gastos federais em educação e à exploração espacial. Até m e s m o a trajetó-ria do m o v i m e n t o dos direitos civis foi influenciada pelo

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conflito soviético-americano, embora de maneira contradi-tória. Os segregacionistas tentaram inicialmente desvirtuar a luta dos negros pela liberdade pichando os adeptos dessa" causa com as tintas do comunismo, mas sua campanha aca~ bou contrabalançada pelo fato de as administrações Eisenho-" wer e Kennedy reconhecerem que a continuação do sistema de subordinação racial nos Estados sulistas e a recusa dos" direitos essenciais aos afro-americanos manchavam a ima-gem global dos Estados Unidos, formando assim u m passivo" inaceitável da Guerra Fria.

Política, cultural e psicologicamente, a Guerra Fria alte-rou o perfil da vida americana de múltiplas formas. A confor-midade ideológica exigida por muitas das elites políticas da nação provocou u m estreitamento dos limites admissíveis do discurso político, colocando vários movimentos reformistas na defensiva e deixando alguns liberais vulneráveis a acusações de radicalismo e deslealdade: A "caça aos vermelhos" e a culpa por associação com pessoas suspeitas tornaram-se u m a tática comum, ainda que deplorável, nas eleições locais e nacionais, na política sindical e nas investigações de funcionários do governo, professores e membros da indústria cinematográfica, entre outros. O historiador Stephen J. Whitfield responsabiliza a_Guerra Fria "pela sufocação da liberdade e pelo aviltamento da própria cultura" nos Estados Unidos, especialmente durante^

década de 50. Ela fomentou uma repressão, ele argumenta, que "enfraquecia o legado "dé liberdades civis, contestava os padrões de tolerância e equidade e manchava a própria ima-gem da democrac i a ' ^ O s estudiosos Peter J. Kuznick e James" Gilbert localizam o maior impacto da Guerra Fria no âmbito difuso da psicologia social: "Ela persuadiu milhões de ameri-canos", eles escrevem, "a interpretar seu mundo em termos de_ "Inimigos insidiosos no país e no exterior que os ameaçavam ' c o m a aniquilação nuclear ou outras formas de extermínio". "Em suma, o medo difundido de inimigos internos e externos

constitui u m legado-chave da Guerra Fria,//"

Sem dúvida, o temor de toda a sociedade diante da ameaça potencial que o comunismo representava dentro

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dos Estados Unidos é uma das manifestações mais

imedia-tas e impressionantes da Guerra Fria no p a í s / É s s e temor era incubado por u m determinado conjunto de elites para seus próprios fins. Havia comunistas nos Estados Unidos, certa-mente, ainda que não fossem muitos. O Partido Comunista americano vangloriava-se de ter cerca de 32.000 membros em 1950, o m e s m o ano e m que o mais notório anticomu-nista, o senador por Wisconsin Joseph McCarthy, lançou sua primeira cruzada sensacionalista contra as supostas hordas de comunistas que, ele acusava, residiam nas salas do pró-prio governo americano . / p ara considerar esse número e m perspectiva, o total de membros da Igreja Luterana Evan-gélica finlandesa era igual ao dos associados do Partido Comunista^ Havia também comunistas ou simpatizantes do comunismo no ramo executivo do governo, apesar de nunca serem mais que um punhado. O caso mais importante foi o de Alger Hiss, u m ex-funcionário de nível médio n o Depar-tamento de Estado que espionou para a União Soviética e foi condenado por perjúrio n u m julgamento acompanhado de perto em 1948.

Entretanto, McCarthy e outros políticos sectários exa-geravam deliberadamente o problema, manipulando os temores públicos para fazer avançar sua própria carreira. O fato de que o bombástico McCarthy tivesse escolhido ninguém m e n o s que George Marshall para vilipendiar e m determinado m o m e n t o aponta a tática inescrupulosa e a desonestidade fundamental do senador.^O altamente respei-tado ex-general e ex-secretário de Esrespei-tado e Defesa, decla-rou McCarthy, fazia parte de " u m a conspiração tão imensa e de u m a infâmia tão negra a ponto de eclipsar qualquer ini-ciativa anterior desse tipo na história humana". Tampouco estava sozinho e m fazer acusações absurdas para manter os adversários políticos na defensiva^/O congressista da Cali-, fórnia, senador Richard M. N i x o n / p o r exemplo, o p r i n c i p a l acusador de Hiss, devia sua escalada até atingir proeminên-* cia nacional à reputação que desenvolveu por perseguir os subversivos comunistas com incomum obstinação. C o m o

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companheiro da chapa de Eisenhower em 1952, N i x o n ata-cou certa vez o candidato democrata à presidência Adiai Stevenson por ser u m "conciliador" com título de "Ph.D. obtido na escola covarde de contenção comunista de Dean Acheson".

Apesar da merecida atenção que o macarthismo, ver-são extrema da caça às bruxas comunistas, tem recebido dos estudiosos, outros efeitos internos da Guerra Fria revelaram--se realmente de maior alcance^íO crescimento maciço dos gastos da defesa, com seus efeitos explosivos sobre a econo-mia nacional global, as oportunidades ocupacionais e os des-locamentos da população, merece ser reconhecido como o agente mais poderoso de mudança nos Estados Unidos nesse período. Durante as duas primeiras décadas da Guerra Fria, o governo federal investiu ÜS$ 776 bilhões na defesa nacio-nal, aproximadamente 60% do orçamento federal total /fessa porcentagem torna-se ainda mais elevada, caso se incluam" os gastos indiretos relacionados com a d e f e s a / A s necessi-dades da defesa logo passaram a dominar as priorinecessi-dades de pesquisa e desenvolvimento da nação, quando cientistas e engenheiros na iniciativa privada e nas universidades luta-vam para satisfazer as necessidades do governo — e colher contratos lucrativos ao longo desse processo. Indústrias inteiramente novas ou recém-revigoradas, inclusive na área de comunicação, eletrônica, aviação, computação e explora-ção do espaço, expandiram-se junto com a Guerra Fria e, em grande medida, por causa do conflito ..Algumas dessas indús-trias, nas palavras perspicazes da economista A n n Markusen, "alterariam irrevogavelmente o cenário regional, ocupacio-nal e econômico americano". Entre as maiores ramificações dos gastos de defesa provocados pela Guerra Fria, estava o florescimento de parques industriais de defesa no sul e no oeste do país e m detrimento da base industrial mais antiga no nordeste e no meio-oeste. Somente a Califórnia recebeu mais de U S $ 67 milhões em contratos de defesa entre 1951 e 1965, cerca de 2 0 % do total, quando a Guerra Fria ajudou_ a fomentar o crescimento do chamado cinturão__do_sol. Ela

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estimulou, por motivos associados a esse desenvolvimento, u m a grande migração demográfica da população americana "para o oeste e para o sul, b e m como u m a reavaliação

com-plementar das escalas do poder político no Congresso e n o sistema partidário: os dois processos foram marcos da era pos-Segunda Guerra Mundial,

A s imensas necessidades orçamentárias e as múltiplas obrigações militares que a Guerra Fria impôs ao povo ameri-cano requeriam cidadãos mobilizados e engajados. O s líderes dos Estados Unidos, de Truman em diante, trabalharam assi-duamente para forjar u m consenso interno que sustentasse o novo papel da nação como o guardião sempre vigilante do mundo contra qualquer sinal de instabilidade ou agressão inspiradas pelo comunismo. Eles conseguiram cumprir essa tarefa com talento e sucesso absolutos até meados da década de 60, ajudados pelo que pareciam evidências inequívocas de temeridade soviética e chinesa na Europa Oriental e e m Perlim, bem como na Coréia, em Taiwan e em C u b a . # o r é m , quando a Guerra Fria entrou em sua terceira década, o

con-senso começou a rachar. A Guerra do Vietnã deixou b e m claro para os americanos os custos altos - e, para u m número crescente de cidadãos, inaceitáveis — da hegemonia global de sua nação. A guerra, que provocou o maior movimento pela paz na história dos Estados Unidos, desencadeou u m debate interno dilacerante sobre o preço do globalismo americano^ Esse debate se alastrou ferozmente pelo final da década de 60, tornando necessária u m a reavaliação, nos mais altos níveis do governo americano, da estratégia global da Guerra Fria, que havia deixado o país por demais comprometido e profundamente dividido.

Referências

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