THESE
DEJONATHAS
DE
FREITAS
PEDROZA
THESE
QUE
DEVE SUSTENTAR
PEB.WTE
A
FACULDADE
DE
MEDICINA
DA
BAHIA
EM
NOVEMBRO
DE
1873
PARA OBTER O GRAU DE
2
CTT
TC?.
SH
MEDIGIIT,
NATURAL DA MESMA PROVÍNCIA
Filho legitimo de Manuel José Pedroza, e de D. Mana José de FreitasPedroza,
A
medicina éum
culto, cujo temploé a humanidade inteira e sacerdote o medico.
(do author.)
BAHIA
TYPOGRAPHIA
DO-CORREIO
DA BAHIA—
FACULDADE
DE MEDICINA
DA
BAHIA
DIRECTOR
VICE-DIRECTOR
O
EXM
SR. CONSELHEIRO DR. VIGENTEFERREIRA
DE
MAGALHÃES
LENTES PROPRIETÁRIOS
OS SRS. DOUTORES 1.°
«JlUO
MATÉRIAS QUE LECCIONAM„ tr , • 1 ht u- íPJiysica
em
geral,e particularmenteemsuasCom. Vicente Ferreira de Magalhães
} Aplicações áMedicina.
Francisco Rodrigues da Silva Chimica cMineralogia.
BarãodeItapoan Anatomiadescriptiva.
anuo
Ar:loniode Cerqueira Pinto Chimicaorgânica.
Jeionymo Sodré Pereira Physiologia.
AntonioMariano do Bomfim Botânicae Zoologia.
liarãodeItapoan .* Repetição deAnatomiadescriptiva.
Í3.°
aimo
Cons. Elias José Pedroza Anatomiageral epathologica.
José de Góes Siqueira Pathologia geral.
JeionymoSodréPereira Continuação dePhysiologia.
4.
° aiixioCons. Manoel LadisláoAranha Dantas Pathologia externa.
Demétrio CyriacoTourinho Pathologia interna.
m„*l^ ih „• o
™
)Partos, moléstias de mulheres pejadas ede-Cens. Mathias Moreira Sampaio
} meninos recemnascidos.
5.
°anno
DemétrioCyriacoTourinho Continuação de Pathologiainterna.
Luiz Alvares dos Sanctos Matéria medica e therapeutica.
JoseAntoniodcFrcitas \
f^AppaVelu^*^^^*
0'
reri, °,ia
O.
0anuo
RosendoAprígio Pereira Guimarães Pharmacia.
Salustiano FerreiraSouto Medicinalegal.
DomingosRodrigues Seixas Hygiene,e Historia da Medicina.
José AfFonso Paraizo dc Moura Clinica externa,do3.° e 4.°anno.
Antonio Januário de Faria Clinica interna,do5.° e6.° anno*
OPPOSITORES Ignacio José da Cunha
Pidro Ribeiro d'Araujo
José Ignaciode Barros Pimentel } SecçãoAccessoria, VirgilioClímaco Damazio
AugustoGoncalves Martins
DomingosCarlos daSilva
AntonioPacificoPereira., > Secção Cirúrgica,
Alexandre Alfonso de Carvalho ,
José Pedrodc Souza Braga ,
ClaudemiroAugusto deMoraes Caldas
RamiroAlfonso Monteiro ,
Egas MonizSodré d'Aragão £ Secção Medica.
Manoel Joaquim Saraiva
SECRETARIO
O SR. DR. CINCINNATO PINTO
DA
SILVA«SUCIAI,
liA
SECRETARIA
O SR. DR.
THOMAZ D AQUINO GASPAR
SECÇÃO CIRÚRGICA
kl
1V5
15 ,«1
DISSERTAÇÃO
DEFINIÇÃO
E
DIVISÃO
/|-^p\^J 'ENTRE
os accidentes,que
complicâo as feridas, escolhemostíí^J^^{
para a nossa dissertação aHemorrhagia
traumática—
accidenleesse, que,
alem
de diííicultar a reuniãoimmediata
das solli-ções de continuidade, e de impedir a sua cicatrização,
zomba
algumas
vezes demuitos
meios
e processos osmais
bem
com-Ji^f
binados,empregados
pelopratico,compromettendo,
d'esta sorte,bas-tantemente a vida
do
ferido.Â
palavra hemorrhagia, eíymologicamente considerada, significa aeffu-são de
uma
quantidade
notável de sangue, (de aima, sanguis e regnumi,arorumpo)
Em
cirurgia diz-seque
ha hemorrhagia,quando
uma
solução de continuidade forneceuma
quantidade desangue
não
proporcional ásnovas superfícies, e
que não
estanca por si,nem
pelamais
levecom-pressão. (Conselheiro
Aranha
Dantas).Quanto
aomomento,
em
que
se manifesta a hemorrhagia, ella é:primitiva, se se
mostra
immediatamente
depoisdo
ferimentodo
vaso; rc-ewrrente, se faz-seum
pouco mais
tarde, depoisque
relaxão-se aspare-des contracteis dos vasos; consecutiva
ou
secundaria, aque
tem
logarainda
nuús
tarde,quando
pelo factoda
eliminação deuma
escharaou
de
um
coalho, desapparece a obliteração incompletado
vaso, oque
ob-serva-se
mais
particularmente nas feridas porarmas
de fogo.venosa e capíllar,
segundo
éuma
artéria,uma
veiaou
capillares,que
a fornecem; ainda ó arterio-venosa se
uma
artéria euma
veia afornecem
ao
mesmo
tempo:
em
relação a sédedo
vaso ferido, ella é internaou
externa,segundo
osangue
corre,ou não
para fóra: se oliquidosanguineo
derrama-seem
alguma
cavidade natural,ou
iníiltra-se por entre asmalhas do
tecido ceilular,chamão-n'a
entãohemorrhagia
por derramamento ehemorrhagia
por
infiltração.O
Sr.Billroth—
o illustre professor de Pathologia Cirúrgicada
Uni-versidade de Vienna,
dá
o ?iome de parenchymalosa áhemorrhagia
resul-tanteda
soluçãode
continuidade de vasos,que
entrãono
trama
intimodos
parenchymas,
bem
como
aque
se manifesta nas feridasdo
corpocavernoso
do
penis, das partes genitaesda
mulher,
da
lingoa,do
peri-neo, d'ao redordo
anus, e nos ossos esponjosos; vasos,que
senão
con-tra
hem,
que
não
se retirãopara
o interiordo
tecido, eque
não
sãomais
comprimidos
por elle;mas
não
vemos
allimais
do
que
uma
dasespécies de hemorrhagias,
que temos
jaenumerado.
Em
relação ás causas,que
aspodem
produzir, ashemorrhagias
podem
resultarda
acção dos instrumentos cortantes, perforantes,con-tundentes, dos projectis arremessados pela conflagração
da
pólvora, e doscáusticos.
Para a
melhor
discriminação dos pontos, deque
devemos
tratar,divi-dimos
a nossa dissertaçãoem
quatro partes;na
primeira trataremosda
etio-logia das hemorrhagias;
na segunda
mencionaremos
osmais
salientespheno-menos,
que
caracterisão amanifestação desse accidente,ou da
suasymptoma-tologia;
na
terceirado
seu diagnostico e prognostico;na
quarta parte,PRIMEIRA
PARTE
ETIOLOGIA
As causas determinantes
da
hemorrhagia
são a aceito dos ájgeiifesexternos,
que
jámencionamos,
causas essas,que
obran lo dilTerentemení'' sobre os tecidosda
economia,produzem
por issomesmo
neniofrtíagiás decaracteres peculiares,
que
necessitão de ser descriptas separadamente.Os
instrumentoscortantes—
sendo capazes de produzirmais
1facilmente
grandes soluções de continuidade
—
detorminãomais
fretfuehtémenreuma
bemorrhagia
abundante; nesse caso a passagem,que
a ferida oíferece aosan-gue, é francae livre.
Os
instrumentos perforantesmuito mais
diííicilmenleproduzem
ftè-morrliagiuS;
não
só por ser a ponta, pela qiiàl obrão,uma
superfíciemui
pequena
—
conseguintemente tendouma
acçãopouco
considerável sobre eisvasos,
mas
ainda por fugiremda
acção desses instrumentosem
virtude à*amobilidade, de
que
gozão osmesmos
vasos, osquaes
feridosdão
por issomesmo
perda sanguiueapouco
considerável paramereceronome
debemor-rhagia.
Se,
porém,
o instrumento é aomesmo
tempo
agudo
e cortante, e otra-jecto da ferida
tem
uma
certa profundidade,podem
sobrevir osphenomenos
do aneurisma
falso consecutivo, e até osdo aneurisma
falso primitivo.Os
instrumentos contundentes raras vezes determinão tal accidente;por-quanto
antes de dividir os tecidos, oscomprimem,
e destacompressão
resulta que, se jiâo estão sobre
um
planoósseo, os troncos vasculares evitão aquella acção escondendo-se nos interstícios dos órgãos visinbos, paraque
deixando
de obrar a causa, voltem eííes á sua direcção primitiva: éassim
que
vemos
muitas vezesem
um
membro
não
somente
as partesmolles
como
até os próprios ossos esmagados, ao passoque
iilesos os vasos eos nervos. Se,
comtudo,
os vasos degrosso calibre participão dessadesorgani-zação
das partes circumvisinlias, o fluxo sanguineo-succede então aoferi-mento;
felizmente,porém,
é suspenso pela opposição,que fazem
as partesmolles naquelle estado,
que
acabão por determinar a coagulaçãodo
As feridas por
armas
de fogo, diz-se geralmenteque
náo
fornecem
hemorrhagia,
mas
é essauma
ideia errónea e a causa desse erro éque
a
maior
parte dos indivíduos,em
que
uma
a rteria de grosso calibrefoi dividida por
uma
bala,morrem
sobre ocampo
da
batalha, antesque
se tenha podido soccorrel-os.É
verdadeque
os vasos escapãofa-cilmente á acçào das balas esphericas
não
sóporque
estas se desvião'(.tu facilidade de sua direcção pelo
menor
obstáculoque
encontrão,como
pela elasticidade dessesmesmos
vasos.Não
é,porém,
assim
com
asbalas cylindro-conicas,
que
não
apresentãoem
seu trajecto aquellasingu-laridade.
Os
estilhaços dos obuzestem
os bordos cortantes e são impellidos poruma
força extraordinária.Os
projectisda
guerra causãomuitas
vezeshemorrhagias
primitivas abundantes,quando
atravessão vasos de considerável calibre,como
as ar-térias crural, carótida, axillar, a veia jugular, etc.E
parajustificar oque
lenho dito sobre este accidente nas feridas por
armas
de fogo,Sanson
em
sua
these de concurso sobre a
hemorrhagia
traumática cita o seguinte facto:Un
demes
camarades tomba frappé à Vaine d'un coup de feu qui lui ouvrit 1'artcrciliaque à son passagc sous 1'arcade crurale; allcr à lui,
k
dcshabiller,pour
découvrir la blessurc, quil indiquait, fut laffaire rfnn instant, et cependant
$
espira avanl que ton pàt placcr
un
doigt sur la plaiepour
suspendre l'êcoulementí/w sanq.
Quando
os projectisde
guerra lesão vasos depequeno
calibre,raramenle
manifesta-se aquelle accidente,
não
sóporque
retrahem-se,como
porque
essas feridas apresentão aberturas contusascom
os bordos e superfícies desiguaes,([iie
concorrem
para aformação
de coalhos,que
os obliterão.Segundo
Sanson, Guthrie faz notarcom
muita
razãoque
de
todosos géneros de feridas, as
que
são resultado dearmas
de fôgo são asmais
Mijeitas a
hemorrhagias
secundarias.A
acção dos cáusticos edo
fogopôde
em
algumas
circumstancias pro-duzir hemorrhagias.Quando
se applica o cautério actual sobreuma
ferida sangrenta, vê-se
algumas
vezes apparecerum
jorrosanguineo
resul-tanteda
destruição das paredes deum
ramo
vascular,que
seacha
ao ladodo
cautério: outras vezes osangue
sederrama
em
consequênciada
acçãoirritante
do
calórico,que determina
uma
íluxão para a parte.A
acção dessas causas eílicientespodem
favorecerou
desfavorecer ascondições
de
idade, sexo,temperamento,
idiosyncrasia, o estadomoral
do
SEGUNDA
PARTE
SYMPTOMATOLOGIA
Os
symptomas,
que
caracterisãouma
hemorrhagia
traumática, sãoloeaes e geraes.
Symptomas loeaes
Eslés differem
segundo
que
osangue
é fornecido poruma
artéria, poruma
veia, por vasos capillares e poruma
artéria euma
veia simultanea-mente: assim desenvolveremos ossymptomas,
que
semani
festãoem
cada
nina dessas espéciesde hemorrhagia.
Hemorrhagia arterial
Quando
uma
artéria de calibremédio
é aberta, pôde o sangue ser forne-cido aomesmo
tempo
pelas suasduas
extremidades.A
extremidade centraldo
vaso ferido fornece osangue
em
esguichos, contínuos, vermelhos, rutilantes sofreados, isochronos aos batimentosdo
orgclo central
da
circulação; esguichos,que
cessão, se fizermosuma
com-pressão sobre o trajecto
da
artéria entre a solução de continuidade e o coração, desappa recendo as pulsações arteriacs abaixoda
ferida.A
extremidade peripherica forneceum
sangue
menos
espadanado, enão
tem
(fio rutilante a côr, por issoque
tendo de percorreruma
in-finidade de vias, perdealgumas
de suas propriedades e mostra-secom
apparencias de
sangue
venoso.Ha
casos,porém,
em
que
osangue
for-necido pela extremidade peripherica apresenta caracteres idênticos ao
que
fornece a extremidade central,
em
que
até as próprias pulsações arteriaescontinuão a dar-se abaixo
do
ferimento,não
obstante acompressão
feitano ponto supra
mencionado.
Sirva deexemplo
a lesão deuma
das ar-leriasduphs
do
antibraço,onde
asnumerosas
anastoraoses arteriaes explicão o facto.—
8
—
Quando
é dividido o Ironco arterial principal denm
membro,
-oescoamento
sanguíneo
fornecido pelaextremidade
peripherica épouco
considerável e
algumas
vezes quasi nullo.Facilmente deprehende-se, pelo
que
liemos dito, que,quando
tivermos de lançarmão
da
ligadura, seja ella applicadana
extremidade
car-díaca
on
central,quando
se tratar dos grossos troncos arteriaes, ao passoque
nos vasos de calibremedio
como
as artérias radial, temporal,etc., seja ella praticada
em
ambas
as extremidades.Uma
artériapode
ser completaou incompletamente
dividida, oferi-mento
pode
ser feitoem
sentido transversalou
longitudinal. Seum
vasoarterial de grosso calibre é
completamente
divididono
sentidotransver-sal, manifesta-se então
um
escoamento
sanguíneoabundante,
que
muitas
vezes põe
termo
á vidado
infeliz; outras vezes,porém,
a natureza pro-cura substar essa heraorrhagia por diversos meios: éassim
que
appa-rece
em
alguns indivíduosuma
syneope, á qualsomente
devem
a
con-servaçãoda
vida; ainda, o enfraquecimentoda
circulação, aformação
de
coalhosno
fundo
da
ferida, a infiltraçãono
tecido cellular visinhoe
na
bainha
ccllulosada
artéria, a retracção e a coarctação dasextre-midades
do
vaso dividido, a secreçãoda
lympha
plástica,que
produz-se
em
todas as feridas, taes são osmeios
deque
lançamão
anatu-reza para fazer substar a hemorrhagia.
Quando
acontece ser aberto o vaso arterialem uma
partesomente
de sua circurnferencia,
ou
quando
a artéria éincompletamente
dividida,a
columna
sanguínea divide-seem
duas
partes:uma
Lançasse parafóra
do
vaso e constitue a hemorrhagia, e a outra segue a sua direcçãoprimitiva, indo até as ultimas subdivisões arteriaes.
O
sangue,que
sahe dessa ferida, ainda
que
com
pouca
violência, úem
esguichoscon-tínuos, vermelhos, rutilantes e sofreados. Sente-se aind;: abaixo
da
ferida os batimentos arteriaes,mas
enfraquecidos.Comprimindo-se
a artériaem
seo trajecto entre o coração e afe-rida, cessa o
escoamento
sanguíneo, o qual recrudece, se acompres-são é feita entre a ferida e os capillares; e a razão é obvia.
Se a artéria ferida
não
derrama sangue
para o exteriorou
pornão
haver solução de continuidade nos
tegumentos
externos, (oque
pode
dar-se, por exemplo,
quando
a artéria é lesada pelofragmento
deuma
fracturaou
despedaçada paios exforçosempregados
para areducção
de
uma
lu-xação),ou
por ser esta solução de continuidademui
pequena,
distantesangue
se infiltra ou derrama-se nos tecidos visinhos,produzindo
desta sorteaneurismas
falsos primítiyos e consecutivos.Essa diftusão sanguinea torna a parte tensa, pesada,
volumosa
em
pouco
tempo, deuma
cormarmórea
e lívida.Ahi
aprecião-sebati-mentos
mais
oumenos
profundos, regulares, isochronos aosdo
cora-rão, batimentos tanto
mais
dislinctos,quanto
menos
tensa é a parte eque
manifestão-se principalmenteno
ponto correspondente á feridaarte-rial. Se se applica as faces palmares das
mãos
sobre esse derradeiroponto, sente-se
uma
sorte de estremecimento, devido á colisãoda
colum-na
de
sangue
contra os bordosda
aberturado
vaso e contra ascama-das sanguineas ja
derramadas.
A
auscultação nesse pontopode
também
fazer sentirum
ruidomais
ou
menos
forte e de natureza variável.Quando
a ferida é estreita, enão
é parallela ádo
vaso ferido,<»ste
profundamente
situado e deum
certo calibre, osangue
ordina-riamente escapa-se por intervallos, pelo effeito da contracção deum
musculo
ou
deuma
pressão exterior,ou
em
consequênciada
reacçãodas paredes
do
fóco,quando
estãomuito
distendidas- e então osan-gue
saheem
lavagem
ou
em
jorro, vermelho, preto, liquidoou
semi-líoagulado,
segundo
o tempo,que
setem
demorado
no
meio
dos tecidos.Quando,
porém,
a ferida émuito
estreita, o vasode pequeno
calibree
profundamente
situado, enão
sahe senão gotta a gotta o sangue, estederrama-se, forma-se
uma
bolsa á custado
tecido cellular ambiente, enão
é, geralmente, senãomais
tarde,que
se percebe a existência de-um
tumor
circumseripto arredondado,que
desapareceem
parte pela pressão,agitado por
movimentos
alternativos de expansão e contracção isochronosao
pulso,movimentos,
que
tornào-se vehementes,quando
comprime-se
ovaso entre o
tumor
e as partes,onde
distribue elle seos ramos, e que, ao contrario, cessão pelo eííeitoda compressão
da
artéria entre otumor
e o órgão central
da
circulação. Eis o casodo
aneurisma
falsocir-cumseripto.
A
infiltração sanguinea éalgumas
vezes tão considerável,quando
lesada
uma
artériade
grosso calibre, e a tensão tão grande,que
as partes, para assim dizer, suífocadas pela compressão,que
experimentãu,não
tardão a gangrenar-se.•Hemoirhagia venosa
—
10—
par isso
que
sãomais
numerosas
cmais
superíiciaes, as veias, entretanto,mais
raramente
fornecem
hemorrhagias.De
facto, osangue
que
circula nesses vasos tãopequeno
esforçoexenv
contra suas paredes, se
não
existe obstáculoalgum
ao
seo curso,que
sépode
pical-os, incisal-os longitudinalmenteou
mesmo
um
pouco
obliqua-mente
em
uma
pequena
extensão,sem
que
se manifestehemorrhagia
alguma.
Esta asserção écabalmente
provada, se seimagina
nasprecau-ções
tomadas na
operaçãoda
phlebotomia,onde
oescoamento
sanguineo
só
tem
logarem
virtudedo
esforço lateral,que
se faz exercer osan-gue
contra as paredesdo
vaso.Quando
se divide porum
instrumento cortanteuma
veiade
grossocalibre,
sua
extremidade centralnão dá
geralmenteescoamento
algum
san-guíneo,porque
a isso seoppõem
as válvulas, deque
são ellas providas;algumas
vezes,comtudo,
ou
devido auma
anaslomose
pertoda
feridado
vaso,
ou
por insuínVicncia d'aquellas válvulas, essaextremidade
forneceuma
hemorrhagia,que
reclama
uma
prompta
e efficaz intervençãoda
arte;
a
extremidade periphericadá
sahidaao
sangue
que
vem
dos ca-pillares, o qual apresentauma
cor negra,que
correem
jorrocontinuo
não
sofreado,mas
em
lavagem.No
ferimento das veiasde
calibre médio, aindaque
se manifestecom
alguma
intensidade, o fluxosanguineo
tende a pararem
conse-ncia
do achatamento
das paredes delgadas desses vasos, sobretudo seo doente
não
exerce contracções musculares.Se a veia
não
tem
sidocompletamente
dividida, se só o foiem
parte de
sua
circumferencia, o sangue,que
vem
pelaextremidade
que
está
em
relaçãocom
os capillares,chegado
ao pontoda
lesão, divide-seem
duas
columnas,
uma
dasquaes
se dirige para o coração, e a outrase
derrama
na
superfícieda
ferida; n'este ultimo caso, se secomprime
a
veia entre a ferida e o órgão central
da
circulação, ahemorrhagia
aug-menta,
por issoque
acolumna
de sangue,que
para
elle se dirigia,concorre p:ira esse
augmento.
A
hemorrhagia
venosa pára, se secomprime
o vaso entre a soluçãode
continuidade e os capillares.Hemorrhagia capillar
A
efíusão sanguinea,que
resultado
ferimento dos capillares,geral-mente
épouco
considerável para manifestar os caracteresde
uma
suaba-—
II-mba,
e seos oriíicios contrahem-se não só pela irritação produzida peloinstrumento cortante,
mas
ainda pelo contacto do ar, oq
ie os faz eia geral feehar-se completamente.Quando
osangue
gozada
plasticidade,que
lhe é própria, é rarae
muito
rara ahemorrhagia
capilar;mas
quando
estetem
perdido,qualquer que
seja a causa, essa propriedade, e os vasos a sua contracWlilidade, manifesta-se então
mais
facilmente a perda sanguínea.Toda
a causa,que
tende adepauperar
o sangue, e a íazel-oper-der as suas qualidades
normaes,
tendetamlem
a facilitar esta espé-ciede
hemorrhagia; assimfazem
o escorbuto, as sangrias reiteradas, assuppurações abundantes, o enfraquecimento resultante
de
moléstiasan-teriores, a insufficiente
ou
má
alimentação, etc.Não podemos
deixar deassignalar certa disposição
mórbida do
organismo,que muitas
vezes expõe o individuosem
causa apreciável,ou
poruma
completamente
insignifi-cante, a perigos imminentes, contra osquaes
são muitas vezes baldadosos esforços
do
pratico.Esta disposição geral, a
que chamão
—
hemcphilia,—
determina nosindividuos,
que
estão debaixo de sua influencia,uma
tendênciaextraor-dinária á
hemorrhagias
pertinazes e muitas vezes fat s Às causas desta diathese, são ellas conhecidas? IJa caracteres especiaes,que
revelem a suaexistência
em
um
individuo? Consistirá a sua essênciaem
um
adelgaça-mento
anormal
das paredes arteriaes, congénita?ou
uma
degenerescênciadas
membranas
vasculares seguida de atrophia de suas paredes, e entãoadquirida?
Não ousamos
aífirmar istoou
aquillo; entretanto inclinamos-nos a crerque
ella é quasisempre
congénita, hereditária, eque
não
está subordinada a condições debilitantes,
nem
ámá
hygiene: e oque
nos leva a isso crer é
que muitas
vezes se manifestaem
individuos,que
gozãoapparentemente
deuma
completa saúde.O
Sr. F< llinem
um
caso de sua experiência e sobre este
assumpto
exprime-se desta maneira:Un
màlade de ce genre,
gw
fai
observe, pouvait être citécomme un
type d'une sanfé "uxurianteH
da
tempérament sanguin.Entretanto outros
dizem
que
os individuos,que
tem
em
si esta dia-these, atraduzem
por caracteres physicos particulares,como
sejão:sys-tema
muscular
pouco
desenvolvido e flaccído, scleroticas translúcidas,deixando
ver a corda
choroide, pelle fina e baça, sujeitos a epistaxise
hemorrhoidas
frequentes, áhemorrhagias
abundantes
depoisda
mais
diminuta
ferida,bem como
a simples picada deuma
sanguesuga, aavul-são de
um
dente,uma
leve contusão, e outras causas,como
essas, tão insignificantes,lnnumeros
factospoderiamos
apresentarpara
comprovar
d
perigo,que
corre o individuo sob esta disposição geralda
economia,
que
não exprime mais
do
que
asua
degradação;mas
cremos
que
seriamuito
prolongar-nos sobre este ponto e exceder das raias,que
temos
traçado ao nosso
resumido
trabalho.A
hcmorrliagia n'esta diathesepode
dar-se traumáticaou
esponta-neamente.
O
sangue
fornecido pela divisão dos capillares é soroso, ligeiramentevermelho, incoagulavel
ou
antesformando
coalhos molles, e appareceem
forma
de
pequenas
gottasna
extremidade de cada vaso; gottas,que
seirão
reunindo
paraformar
um
derramamento
uniforme
sobre a ferida.A
compressão
exercida sobre os troncos arteriaes e venososna
circumvi-sinhança
da
soluçãode
continuidadenão
modifica o fluxosanguíneo
fornecido pelos capillares.
Hemorrhagia arterio-venosa
Quando
uma
artéria euma
veiade
certo calibre são lesadasao
mesmo
tempo,ou
as feridas dos vasos secorrespondem,
ou
não;no
pri-meiro
caso, se a ferida émuito
estreita enão dá passagem
para oexte-rior, o
sangue
passaimmediatamente
deum
para outro vaso;ou
oda
artéria se
derrama
antes de entrarna
veia,formando
desta sorteum
aneurisma
arterio-venoso,como
tivemos,ha dous
ou
tres annos, occasiãode ver
no
Hospitalda
SantaCaza da
Misericórdia,na
Clinicado
Sr. Dr.Moura,
em
um
individuo,que
apresentavaum
tumor
desta espéciena
dobra
do
braçoem
consequência deuma
sangria,em
que
oinstrumen-to tinha
simultaneamente
ferido a veiamediana
basilica e a artérianu-meral
subjacente;cumprindo-nos
dizer,porem,
que
o individuo eramo-rador
de
fórada
capital, e lá se tinha feito sangrar porum
arvorado
cirurgião.
Se os vasos lesados
não
se correspondem, e sea
solução cieconti-nuidade
dá
aosangue passagem
livre para o exterior, manifesía-seum
escoament.0 sanguineo,
que
participa necessariamente dos caracteres dasduas
sortes de hemorrhagias.Quando
a ferida exteriornão
émui
larga, os vasos são divididoscompletamente
e situadosprofundamente,
o
san-gue
de
ambos
elles sahe misturado,conseguintemente apresentando
uma
côr
não
avermelhada do
arterial,nem
pretado
venoso,mas
intermédia
a
essas côres.O
jorrosanguineo
é continuo e agitadode
movimentos
—
13
—
augmenta
de volume, e a côrdo
sangue
arterial se faz sobresaliirum
pouco.
Os
phenomenos
são,porém,
mais
evidentes,quando
a ferida émais
larga e os vasos
mais
superficiaes; o jorro sahe entãocom
força:mas
vè-seque
elle é striado deum
vermelho
vivo e preto, oraformado
porduas
culumnas
unidas e parallelas, orauma
voltando-seem
redorda
outra
em
spiraes.Quando
o jorro sanguineo émais
forteem
consequên-cia
da
contracçãodo
coração, acolumna
desangue
arterial torna-semais
saliente.A
compressão exercida sobre o trajecto dos vasos tira toda a duvida,e baseia o diagnostico; porquanto, se é praticada entre a ferida e as
ex-tremidades capillares dos vasos, o jorro arterial,
como
otemos
já de-seriptoem
outra parte, é manifesto: o contrariotem
logar, se secom-prime
fortemente o trajecto dos vasos entre a solução de continuidade eo coração,
porque
cessa o jorro, e torna-se evidente aonda do
sangue
venoso,
que
se reconhece por seus caracteres já mencionados.Sobre os diversos apparelhos e sobre o systema nervoso repercutem
os effeitos
immediatos
resultantes deuma
perda sanguínea.Os
symptomas
geraes sãomuitas
vezes os únicosque
nosdemons-trão a existência de
uma
hemorrhagia
interna.Começando
aexaminar
o doente pelo habito externo,notamos que
a foce, as mucosas, as extremidades dos dedos, os lábios, finalmente toda
a pelle é pallida, séde de
um
resfriamento geral, a temperaturaabai-xa-se,
um
suor frio e viscosonão
tarda a manifestar-se naspalmas
das mãos,na
fronte,na
região anteriordo
peito,no
epigastrio e nas plan(as dos pés; o pulso accelera-se ao passo
que
perde a sua força e suaresistência, e acaba por tornar-se irregular e intermittente; se
conti-nua
a hemorrhagia, apparece a polydipsia, as náuseas, os vómitos, lipo-thimias, tinidos nos ouvidos, os objectos,que
rodeião o doenteparecem
estar
em
movimento,
o infeliz perde os sentidos e cahe, se porventurase
acha
em
péou
sentado. Se o accidente continua ainda, ossymptomas
tornão-se assustadores e
mais
graves, a victimatem
a cor pallidada
cera, os olhos
téem
o aspecto vítreo,uma
dyspnéa
considerável oameaçai
a sêde é inextinguível, os vómitos
mais
frequentes,tumultuão
os—
li—
íica abatido, ancioso, cabe
em
syncope, as convulsõesinvadem
os mem-bros, reproduzindo-se pelamenor
excitação, eno
coma
ou no
delirio,em
que
chega a cahir o infeliz doente, amorte
não
se fazmuito
tempo
esperar para dar o desfecho deste lúgubre
quadro,
que
sedesenha
aosolhos
do
cirurgião,que
desanimado
e fatigado porempregar
de
baldetodos os meios,
que
estavão ao seo alcance, cruza os braços, deixa cor-reruma
lagrimado
coração, e procura lenitivona
santidadede
suasu-blime
missão!..
Não
se observa essa successão desymptomas,
quando
sãolarga-mente
abertos os órgãos centraesda
circulação;porque
então amorte
éinstantânea, c se ella
sobrevem no
fim depoucos
momentos,
ossympto-mas
apparecem
quasi todos aomesmo
tempo.Em
geral,quanto
mais
a perda de
sangue
é rápida e abundante, tantomais
a syncope e a—
15
—
TERCEIRA PARTE
DIAGNOSTICO
E
PROGNOSTICO
Majáostitt)
Reconhecer a origem de
uma
hemorrhagia, geralmente,não
éim-possível, e
nem
mesmo
tão difficil,como
setem
supposto: 6 raro ocaso,em
que
se apresenta essa difficuldade.Vejamos
os caracteres,que
distinguem entre sicada
espécie dehe-morrhagia: o
sangue
fornecido poruma
artéria é vermelho, deum
jorro sofreado, quasisempre mais abundante que
o fornecido poruma
veia.O
sangue venoso tem,como hemos
dito, caracteres oppostos a aquelle.Ha, porem,
casos,em
que
o arterial sepode
confundircom
o venosoe vice-versa: este
pode
apresentar os caracteres d'aquelle,como
em
cer-tas febres intensas;uma
veia collocada junto deuma
artéria,que
lhecommunique
os seosmovimentos,
pode,uma
vezque
seja ferida,ma-nifestar
um
jorromais
ou
menos
sofreado, aindamais
pelo factoda
energia
augmentada
das contracçõesdo
coração,que
parece estendersua
influencia até sobre o curso
do
sangue
venoso:também
osangue
arte-rialpode
semelhar-se ao venoso,como
na
imminencia
da
asphyxia,na
syneope, etc.
Qual, pois, o
meio
para distinguil-os?A
compressão é omais
segurowa
firmar o diagnostico.Quando
ella é praticada entre a ferida e o órgão centralda
circu-lação, ediminue
oescoamento
sanguíneo, ahemorrhagia
é de corrente entrifugaou
arterial; seaugmenta,
é de corrente centripetaou
venosa;a
compressão
praticada entre os capillares e a solução de continuidadeaugmenta
ashemorrhagias
de corrente eentrifuga, ediminue
as decor-rente centripeta.
A. diííiculdade
do
diagnostico apresenta-sequando
ahemorrhagia
dà-se
em
uma
região,onde
os vasos sãonumerosos,
e cruzâo-seem
diversos sentidos,
quando
sloprofundamente
situados, a ferida épequena
e as partes lesadas achão-se infiltradas de sangue.Ainda
nesses casosa
—
16
-compressão
exercidaem
diversos pontos porum
pratico,que
possuaexactos conhecimentos anatómicos, traz geralmente a luz ao diagnostico.
Muitas vezes manifesta-se nas feridas resultantes de
amputações ou
de extirpação
de
tumores, depois deconvenientemente
tratadas eappli-cados os apparelhos, a
hemorrhagia
consecutiva, osangue
passa atravézdas peças d'aquelles e embebe-os.
Que
devemos
fazer,uma
vezque
nosé desconhecida a
origem
dessahemorrhagia?
A
compressão, nesse caso,não
fariamais
do
que
desviar o liquido sanguineo para outro pontoda
ferida.Convém,
então, ao cirurgião levantar o apparelho, tirar os coalhosformados
e procurar aorigem
realda
hemorrhagia.
para oppor-lhe os'neios capazes de subslal-a, meios,
que vão
ser tratadosna
ultima parteda
nossa dissertação.O
diagnostico dashemorrhagias
arterio-venosasnão
é difíicil, peloque
dissemosem
sua exposição; e alli ficarão assignalados caracteres,que
as distinguem perfeitamente.As
hemorrhagias
traumáticas differemdas
espontâneas,
porque não
têm,como
as ultimas, geralmente,phenomenos
precursores.
A
hemorrhagia
espontânea é precedida porum
mal
estar geral, horripilação, acceleração e plenitudedo
pulso,uma
sensaçãode
calor e de prurido
na
parte,em
que
ella se vae manifestar,emfim
éprecedida de tudo aquillo,
que
constitue omolimen
hemorrhagico,
phe-numenos,
que
faltãona hemorrhagia
traumática.Prognostico
São
sempre
accidentes graves as hemorrhagias:não
sóporque
enfra-quecem
os doentes,mas
também
porque
impedem
a reuniãoimmediata
das soluções
de
continuidade.E' difíicil avaliar exactamente a
quantidade
de sangue,que
pode
perder
um
individuo, antes de entrarem
perigo; tantomais
difíicil,quanto
égrande
a divergência entre os physiologistas sobre amassa
total
do
sangue
em
relação ao corpo. E' assimque
paraWagner,
Allen-Moulins e Herbst ella seria a vigésima até a vigésima
quinta
partedo
peso total
do
corpo: para Percivalde
*/„: para Haller, F.Quesnay,
Fred.Hofmann,
Valentin, de'/,-O
prognostico dashemorrhagias
depende,além
da
quantidade
de
sangue
perdido, demuitas
circumstancias:quaes
sejão otemperamento
e—
17—
Um
homem
plethorico supportará, ealgumas
vezes atécem
vanta-gem,
uma
perda
sanguínea,que
seria capaz de esgotarum
individuonervoso, fraco e cachetico.
0
professorRicherand
faz notar,segundo
diz Sansoii,que
certosnlividuos
tèn
podida
perder7õ
libras desangue
em
10 dias,ou
ainda mais,30
librasem
2í
horas!Em
geral os adultos supportão melhor,que
os meninos,uma
perdaáti sangue, ainda
que
nestes aquantidade
desse liquid> pareça prop>r-cionalmente maior.
O
estado physico emoral
do
doente influem sobre as consequenei 6sdesse accidente; é assim
que
no
individuomedroso,
aliás fácilde
cahir einuma
syneope, ashemorrhagias
tendem
a estancar: n'aquelles,que
sotírem de certas moléstias,
como
o escorbuto,anemia,
chlorose,em
que
j)arece haveruma
espéciede
degradaçãoem
toda aeconomia,
eem
que
a plasticidadedo
tecido sanguíneo é anormal, o prognostico émais
grave.A
hemorrhagia
arterial é geralmentemais
perigosado
que
a venossa; excepto
quando
a veia dividida é a principal deum
membro,
que
então é
mais
gravedo que
a lesãoda
artéria correspondente: por issoque
6mais
difíicil restabelecer-se, n'estacircumstancia, acirculação venosa,que
a arterial: de facto, se se deixa, n'esse caso, osangue
correr, <põe-se o doente a
morrer
de hemorrhagia, e a ser omembro
invadidode
gangrena, se secomprime
a veia:porquanto
ella ó, senão a única,ao
menos
a principal via, pela qual se faz a voltado
sangue.A
hemorrhagia
fornecida pelas veias superíiciacs, pelas collateraesdas veias dos
membros
e pelos capillafes, é accidente de quasinenhuma
gravidade, salvo
havendo
uma
disposição particulardo
organismo.Este accidente é tanto
mais
grave,quanto mais
perto estádo
troncoo vaso lesado.
E' quasi
sempre
mortal a heniorrhagia,que tem
logarnas cavidadessplanehnieas;
porque
geralmentetem
sua sedeem
grossos troncos,como
ainda pela difficuldude
do
emprego
dosmeios
hemosta
ticos: n'esse casoo infeliz
suecumbe
no
meio
dossymptomas,
que
já descrevemos.As
divisões incompletas das artérias sãomais
gravesdo
que
ascompletas:
porquanto
a porção,que
não
foi ferida, oppõe-se á retraceãje contracção
do
vaso.A
cura dos ferimentos longitudina.es,quando
não
sãomuito
exten-sas,
pode
dar-se espontaneamente, d'ondemaior
gravidade para ostram-versaes.
—
18—
Nào podemos
deixar demencionar
um
phenomeno
importante e lantumais,
quanto
mais
grave torna o prognostico dashemorrhagias
que
dão-se nas veias situadas perto
do
coração; referimos-nos á entradado
ar nesses vasos,
phenomeno
observado porBeauchône, Dupuytren,
Grsefe,Mott e Clemot,
que
é caracterisado porum
ruido de gargarejoou
as-sobio, eque
tem
logardurante
uma
forte inspiração,que
favorece a voltado
sangue
venoso ao coração; amorte
émuitas
vezesimmediata
a esse facto,
que
não
é ainda perfeitamente conhecidoem
seos effeilos physiologicos.A
morte
n'este caso, provavelmente,segundo
a opiniãodo
professor Billroth, é devida a interrupção súbita,
que
produzem
asbo-lhas de ar á
chegada
do
sangue
nos vasosdo pulmão.
O
prognostico dashemorrhagias
resultantes deuma
diathese ficabem
claro e deduz-se facilmentedo
que
temos
dito sobre essadisposi-ção geral
da
economia.Nos
casos iataes devidos á diathese hemorrhagica, a vida se esvaecom
o sangue, e amorte
é precedida deuma
syncopemais
ou
menos
QUARTA
FARTE
TRATAMENTO
Le sang est Le trésor de la vie.
Mauriccau.
A
hemorrhagia,que
tem
sua sede ncs vasos capillares,ordinaria-mente
pára por siou
pela exposição ao ar da solução de continuidade,ou
pela loçãocom
agoa fria.O mesmo
dá-sealgumas
vezescom
ashemorrhagias
arleriaes. Ge-ralmente as feridas porarmas
de fogo,quando
nào
são lesados vasosde grosso calibre, as por
arrancamenlo
e as picadas das artérias,nãu
dão sangue; e
quando
o dem,
eslancão por simesmo.
Diversas explicações procurão dar a essa suspensão espontânea da hemorrhagia.
Para
Pouteau
a obliteraçãodo
vaso lesadodependia
da
furgidez e intumescência
do
tecido cellular circumvisinho.Para
Petitcon-sistia ella
na
formação
deum
coalho solido adherente,que
depoistor-na va-se
em uma
espécie de rolha,que
confundia-secom
as paredesdo
vaso, e era
mantido
porum
outro,que
seformava
exteriormente.Cu-ltos explicavão pelo aperto e retracção dos vasos divididos. Jones explica 0 facto dizendo
que
o sangue,que
fornece a solução de continuidade,1 oagula-se e
forma
um
coalho,que
provisoriamente fecha a ferida,sus-pendendo
desta sorte ahemorrhagia
eque
inílammão-se
depois os bordosda solução de continuidade,
dando
logar aoapparecimento
da
lympha
plástica, agglutinão-se e
adherem
um
ao outro, desapparece então ocoalho, e eonserva-se o calibre
do
vaso.As
hemorrhagias
arteriaes e venosas amaior
parte das vezesrecla-ma
> us recursos d'arte.Muitos são os meios,
que
seempregão
para a suspensão dashemor-rhagias:
mas
o seo resultadodepende
não
sóda
perfeição d'elles,mas
ainda
da
calma, pratica, e intelligencia dequem
os applica.—
20
—
Ligadura
A
ligadura consistena
applicação deum
fio enceradoem
de-redór deum
vaso sanguineo, afim de pormeio
da
constricção circular exer-cida sobre suas paredes, determinar-se a sua occlusào, econseguinte-mente
substar-se aevacuação
sanguínea.Os
Snrs. Sédillot e Legouest assimexprimem-se
sobre a applicaçãodesse meio, de
que
dispõe a hemostasia; Uapplication de la ligature à Hiémostasie csth
plus beau titre d'A.Paré
à la reconnâissance de lacirur-(jie française, et après de langues discussions et deu épreuves muUiphécs, eette
methode jouit de la plus grande faveur, et est appliquée avec autant de
har-diesse qu'on a mis dhésitation à hnbider.
Os
fios,com
que
se pratição as ligaduras, variãosegundo
o seovolume,
a sua forma, e a sua natureza.Emquanto
aovolume
do
fio constrictor, elle deve estarna
rasãodirecta
do
calibredo
vaso;com
tudo osmédicos
inglezes preferem os finos,qualquer
que
seja ovolume
do
vaso a ligar.Quanto
á forma, ellespodem
ser redondos, e assimdeterminão
aruptura das
duas
túnicas internasda
artéria,ou
chatos, e entãopro-duzem
apenas o contacto das paredes vascularessem immediatamente
rompel-as.
Õuanto
á sua natureza, o fiopode
ser de linho, de metal,de
seda,de corda, de tripa, etc.
Os
cirurgiões allemães preferem geralmente os lios de seda.Alguns
práticos
entendem
que
os de matériaanimal
devem
ser preferidos, porcrerem
que
são absorvidos, eque
mais
facilmentepermitlem
a reuniãoimmediata;
outros usãomais
dos metallicos, porjulgarem
que produzem
menos
irritação nas feridas.Entre nós geralmente applicão os fios de linho; temos por diversas
vezes visto
também
applicar os metallicos.A
naturezado
fiopouco
inílue, e o eíTeitode
qualquer,que
sejao posto
em
pratica, parece-nossempre
omesmo.
A
ligadura éimmediata,
quando
abrange
somente
a artéria,me-diata,
quando
não
sóabrange
aquella,mas
também
uma
parte dosteci-dos circumvisinhos.
A
ligadurapode
ser praticadaou
no
logarda
lesãodo
vaso,ou
na
sua continuidade.As
veias raras vezesreclamão
o seoemprego.
Ligadura immediata
A
maneira, pela qual se applica a ligaduraimmediata
differe,se-cundo
a artéria é,ou
não,completamente
dividida. Se o é completamente,0 cirurgião
prende
com
uma
pinça
de
dissecção a extremidadedo
vaso,obrando
sobre pontos oppostos de sua eircumferencia,puxa-a
branda-mente
para fóra dos tecidos, isolando-a das partes circurnvisinhas: éen-tiio
que
o ajundante passa por detrazda
mão
do
operador o íioence-rado, co!loca-o
em
deredorda
pinça, edá
o primeironó
frouxo,para
gozar
de
mobilidade, sendo as extremidadesdo
fio sustentadas pelosqua-tro derradeiros dedos; os pollegares levão-no para diante, até attingir o
vaso
além da
extremidadedo
instrumento; é entãoque
esses derradeirosdedos, por
um
ligeiromovimento
de flexão, apertão onó
tantoquanto
necessário para cortar as suas
membranas
internas; se a ferida é pro-funda, os indicadores substituem nesse trabalho aos pollegares: retirado
o instrumento, dá-se
um
segundo
nó, paraque
sob a influenciado
im-pulso
do
sangue,que
nessa occasião éum
pouco
considerável,não
seafrouxe o primeiro.
O
íio nesta operaçãonão
deve ser torcido; e deve obrarperpendi-cularmente
ao eixodo
vaso.No
caso,em
que
o vaso não soíTreo completa interrupçãoem
sua
continuidade, istoé,
quando
não
foicompletamente
dividido, o íio é con-duzido transversalmente por baixo d'elle pormeio
deuma
agulha
curva,qu
um
stylete-agulha, e complcta-se a ligaduracomo
no
caso precedente, depoisde
tel-o isolado das partes circumvisinhas.Quando
ahemorrhagia
venosa éabundante
e a 'compressão éim-potente para fazel-a parar, 'os cirurgiões lanção
mão
da
ligadura,como
nnico
meio
capaz para obter aquelle resultado: amaior
parte das vezesé suííiciente a
da
extremidade peripherica das veias; outras, postoque
raras, applicão-se
duas
ligaduras,uma
nesta extremidade, outrana
centra!.Ha
casos tão gravesde
hemorrhagias
venosas,que
os práticostem
se visto obrigados a applicar
não
só a ligadura da veia ferida,como
mesmo
ada
artéria: e é digno eíTectivamente de mencionar-seque
agan-grena e as perturbações na circulação capillar
não
são tãopronunciadas
íusse caso,
como quando
faz-sesomente
a ligadurada
veia.—
22
—
interceptarão
do
curso sanguíneo e a determinaçãoda
coagulaçãodo
sangue nesse ponto.
O
vaso ligado representaum
duplo
cone,que
tem
por base a ligadura: divididas as
membranas
internas, estas soffremuma
compressão exercida pela externa, eenchem
até. certoponto
o interiordo
vaso; éentãoque
o sangue,depondo
filamentos fibrinosos,determi-na
aformação de
um
coalho,que
se elevaalgumas
vezes até aorigem
da
primeira collateral, coalho,que
espessa-se e obsta o curso sanguineo.Às
partes,que
estãoimmediatamente
aquém
ealém da
ligadura,in-ílammão-se
ederramão, não
só para dentrodo
vaso,como
para
fora d'elle,lympha
plástica, fazendo-se assim o trabalho adhesivo nas paredes dasextre-midades do
vaso ligado;algum
tempo
depois faz-seuma
inflammação
suppu-rativa
no
ponto,em
que
seacha
o fio constrictor, oqual
cahemais
ou
me
-nos
do decimo
ao vigésimo dia.Ligadura mediata
Emprega-se
a ligaduramediata
ou quando
a artéria émuito profunda
para ser descoberta,
ou
quando
senão pôde
prendel-a isoladamente.Assim
pratica-se estemeio
hemostatico: traz-se para diantea
partesan-grenta
ou
pormeio
deuma
pinçade dissecção,ou
de
um
tenaculum; ao
ladodo
vaso,que
é sédeda
hemorrhagia, introduz-seuma
agulha
curva,semi-circular, fixa
em
um
porta-agulha,de
maneira
a recebel-ado
outro lado; faz-se então sahir aagulha
em
um
ponto opposto a aquelle poronde
foi in-troduzida, e retirando-se finalmente o instrumento, aperta-se o fio,deter-minando-se
uma
constricção proporcional aovolume
do
vaso e tecidos,que
orodeião.
O
Snr.Middeldorph emprega
o processoda
ligadura percutanea,que
éuma
espécie de ligadura mediata.A. grandes perigos são expostos os individuos, aos
quaes
se applica estemeio
hemostatico; o qual praticado sobre as veias, acirculaçãoé difficultada, e é de receiar a phlebite. Sobre fibrasmusculares
ou
ligamentosas, aquellasrompem-se
facilmente, ficando o doente sujeito ao accidentehemorrhagico:
estas resistem
mais
que
as artérias, eretêm na
ferida pormuito
tempo
o fio.As
dôres,que
são atrozes,quando
filetes nervosos sãocomprehendidos
na
ligadura, éum
outro inconveniente denão
pequena
monta.
Segundo
oque
temos
exposto, deixa-se ver a superioridadeda
ligaduraCompressão
A
compressão
consistecm
executar sobreum
vaso abertouma
pressãosufficiente para
impedir
a evacuação sanguinea, e dartempo
á naturesapara" trabalharna
obliteraçãodo
vaso.A
compressão
éum
meio
hemostaticode
grande
valor therapeutico; ella éempregada
como
meio
definitivo, accessorioou provisório.
A compressão
é directaou
lateral,conforme
a direcção porque
obrabre o vaso. Directa,
quando
feitana
extremidadedo
vaso dividido, e dirigidasegundo
seu próprio eixo; lateral,quando
obra sobreum
dos ladosdo
vaso,e
perpendicularmente
ao seu eixo.Esta ultima
forma
decompressão
émediata
ou immediata,
segundo
é .'\ercidana
superfícieda
ferida,ou mais ou
menos
afastada d'ella.Compressão directa
i
impressão
directa é aque
se pratica, sobre o orifício deum
vasodivi-dido, por
meio
de belasde fiosmantidas
por compressas euma
atadura suf-Jicientemente apertada.A
compressão
directa éempregada
como
meio
hemostatico provisóriodu-rante
uma
operação, eem
alguns casos,em
que
ella é o únicomeio
capazde
fazer subslar a hemorrhagia.
Para
executar a compressão, odedo
é omelhor
instrumento, de qu<pode
lançarmão
o pratico. Sobre esteassumpto
assim seexprime
o Sr. Vidal: Le doigt cst le meiUeur instrument de compression, cest aussi le plus nalurcl, car il esl insíinctivemcnt portédam
le fond d'une plaie sur la Iwwièredu
vaisseau.Compressão lateral
Compressão
lateral é aquella,como
temos
dito,que
obra sobreum
dos-lados
do
vaso eperpendicularmente
ao seu eixo.—
M
—
A immediata
consistena
applicação deuma
mecha
de fios sobre aferi-da
do
vaso, e sobre aqual
collocão-se compressas, cujas larguras se vãoaugmentando,
atéformar
uma
espécie depyramide,
que
semantém
pormeio
deuma
atadura
circular.Este
meio
hemostaticotem
o inconvenientede
obstar a reuniãoda
feri-da
por primeira intenção e de determinar accidentes inílammatorios,qu3
terminão-se
algumas
vezes pelagangrena da
parte; é, entretanto,em
algunscasos
um
meio, deque
sepode
usar provisoriamente.A
compressão
lateralmediata
é aquella,que
pode
ser praticadaou
sobre toda a extensão
ou
sobreum
pontosomente do
trajectodo
vaso.Nas hemorrhagias
arteriaes estemeio
é insufíiciente, exceptoquando
o vaso é superficial,
tem
por apoioum
plano ósseo, enão
éde
mui
grosso calibre: é ainda,de
alguma
utilidade nashemorrhagias
capillarespersistentes devidas
a
ferimentos porarmas
de
fogo.Pratica-se a compressão lateral
mediata
pormeio
de
uma
atadura
circular, e a sua posição
depende
da
espécie de vaso,que
fornece oescoamento
sanguíneo: assim, se pratica-a entre a ferida e os capillares,se a
hemorrhagia
é venosa; entre a feridae
o coração, se arterial.Para
substar ahemorrhagia
venosa, acompressão
éum
meio
dealgum
alcance:mas
para a arterial, excepto nos casos ja estabelecidos,(': insufíiciente e apresenta inconvenientes, sobretudo
quando
sequer
fazerd
ellaum
meio
definitivo.Para executal-a tem-se inventado diversos instrumentos,
como
apelota, o compressor de Dupu)^tren, o de Petit, e por
meio
dos dedos.Cremos
não
caber á nossa dissertação a descripção dessesinstru-mentos.
Simpson,
aquelle,que
introduzio o usodo
chloroformiona
cirurgia,prestando desta sorte
um
grande
serviço áhumanidade,
quiz fazersub-stituir a ligadura por
uma
nova
espécie de compressão, aquellaque
é a pormeio
de unia agulha,dando
a esse processoo
nome
de
acu-pressura. Para praticai a, lança-se
mão
de
uma
grande
agulha,ou
alfi-nete de aço polido, de ponta triangular e introduz-se, por
exemplo
atra-véz
do
côtode
uma
amputação,
de sorteque
esseinstrumento
penetreduas
vezes a pelle perpendicularmente ao eixodo
membro;
tendo,porem,
a precaução
que
as carnes e a artériafiquem
recalcadas entre elle e ostegumentos,
ou
então fazendo-se-o descreverum
trajecto curvo; esendo
recto aquelle instrumento, claro está
que
ha
de ellecomprimir
contraa pelle os tecidos
comprehendidos
e tanto mais,quanto
osdous
par-tes
comprehendidas
foremmais
espessas; ainda, ao envez detomar
um
ponto de apoio sobre a pelle,
igualmente
pode-se apoiar a pontado
in-strumento
contraum
osso. Essaagulha
deve ser retiradano
fim daum
ou
dous
dias.Com
a invenção desse processo o author teveem
vista facilitar areunião
im
mediata
das feridas;mas
elle expõe o doente a perdassan-guíneas consideráveis por occasião de retira r-se o instrumento, e a sup-puraçôes
profundas
provocadas pela sua presença.Este
methodo
pode
só ter Jogarquando
o vaso lesado é situadomui
profundamente,
e por conseguinte diffieilimaou
impossível aliga-dura.
Billroth
tem
lambem
preconisado essemethodo,
como
a acutorsão e a acufilopressura, variedade d'aquelle processo.Depois
de
terenumerado
os diversosmeios
de praticar acompres-são,
façamos
deliauma
resumida
apreciação,A
compressão,em
geral,não pode
nunca
ser limitada á artéria.As
veias partecipão delia, a circulação centrípeta é diííicil, senão
impossí-vel, o
membro,
sobre o qual se a pratica, torna- se doloroso a tal ponto, (jue os doentespedem
e gritãoque
lhes tirem o apparelho,qualquer
que
elle seja.
Mas
não
são só esses os inconvenientes:porquanto
o accidentecon-secutivo é
mais
grave.A
compressão, tendo feito parar ahemorrhagia,
conduz
directamente á expectação.Quando
a cicatrisação está a ponto•de se fazer,
pode
apparecer ahemorrhagia
secundaria, e as dificulda-des são então maiores: se a cicatrisação exterior está quasi terminada,e a
do
vasonão
tem
muita
solidez, poruma
causaqualquer
pode
aextremidade
deste ceder e eis-noscom
um
aneurisma,que
é precisoim~
med
ia tamente
combater.Emíim,
diremos
que
a compressão,como
methodo
de tratamentodi-finitivo, é
muitas
vezes infiel;mas
como meio
hemostatico provisório e accessorio oííerecc recursos preciosos.Toísão
Do
estudo dos piíenomenos,que
produzem-se
nas artérias nasferi-das por arráncamento, nasceo o