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Academic year: 2021

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René Descartes (1596 – 1650) O Discurso do Método

Para bem dirigir a razão e buscar a verdade nas ciências

Educado na filosofia escolástica de seu tempo, que já encontrava em decadência, tem na origem de seu pensamento a questão do método. Dedicou-se ao estudo da física, da matemática, da medicina e da filosofia. Atraído pelos métodos exatos e seguros dessas ciências, sobretudo a matemática, buscará nelas o seu ponto de apoio arquimediniano.

Busca encontrar um método igualmente seguro para a filosofia, pois estava convencido de que a verdade existe e pode ser atingida pelo homem. Mas como? Se a filosofia quiser ser científica, ou seja, universal, necessária e imutável deverá procurar uma base mais sólida, a exemplo da lógica das conclusões matemáticas.

Na primeira parte do Discurso do Método, encontrar-se-á considerações no que concerne às ciências. No entanto, notar-se-á a preocupação de Descartes em desconstruir de forma perspicaz e politicamente segura tudo que estava assentado pela tradição. A atitude de Descartes pode ser compreendida em virtude do poder da igreja no que diz respeito a toda produção intelectual. Começa afirmando sobre a universalidade do bom senso. No entanto, faz algumas ressalvas:

- mesmo sendo comum a todos os homens, o bom senso ou a razão, que permite discernir o falso do verdadeiro, de nada é suficiente, pois não basta ter o espírito bom se não se sabe bem aplicá-lo. Com efeito, as maiores almas são capazes das maiores virtude e dos maiores vícios.

O ponto de partida de Descartes: a dúvida metódica universal

- sentiu que deveria começar tudo a partir de um ponto absolutamente zero; - primeiro questiona as opiniões tradicionais – Idade Antiga e Média -, para com a mente limpa pensar de maneira inteiramente nova;

- reconheceu os abalos do alicerce da filosofia tradicional e, julgou necessário construir novos fundamentos sólidos.

Continua suas considerações

- os juízos de nossos amigos quando são ao nosso favor são suspeitos;

- pensamento, imaginação e memória são qualidades que servem para o aprimoramento do espírito;

- tive a sorte de encontrar determinados caminhos e acredito que é fruto do esforço e, no entanto, creio que não deva ser necessariamente o caminho que os outros devem percorrer, pois aqueles que julgam ter boas regras são censurados quando são falhas as regras que prescrevem;

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Começa por examinar todo o repertório do conhecimento humano:

- mesmo tendo nutrido das letras desde a minha infância, acreditando por meio delas obter um conhecimento claro e distinto, terminado meus estudos e pronto para ser aceito entre os doutos, mudei inteiramente de opinião: porque me encontrava tão embaraçado com tantas dúvidas e erros, que me parecia não ter tirado outro proveito ao procurar instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais minha ignorância”.

Mais adiante continua no exame das ciências que aprendera na escola: - que as línguas que nela se aprende são necessárias para a compreensão dos livros antigos;

- que as gentilezas das fábulas estimulam o espírito; - que as ações memoráveis da história exaltam;

- que a leitura de bons livros é uma conversa com as pessoas mais qualificados do passado;

- que a eloqüência tem a força e beleza incomparáveis;

- que a poesia tem delicadezas e ternuras deveras encantadoras;

- que a matemática tem invenções muito sutis, satisfaz os curiosos, facilita todas as artes e diminui o trabalho dos homens;

- que os escritos que tratam dos costumes, tem ensinamentos e exortações à virtude que são úteis;

- que a jurisprudência, a medicina e as outras ciências trazem honras e riquezas a quem as cultiva.

Continua Descartes suas considerações com a devida atenção à autoridade:

- que a teologia ensina a ganhar o céu e não está menos franqueada aos ignorantes e que não deveria submetê-la à debilidade de meus raciocínios; - que a filosofia ensina a maneira de falar com coerência de todas as coisas e de se fazer admirar pelos que tem menos erudição e que fora cultivada pelos mais excelsos espíritos e ainda gerava discussões, dúvidas e tudo que era apenas provável julgava como falso;

- graças a Deus não me sentia obrigado a converter a ciência como um ofício para o alívio de minha fortuna (sorte);

- em relação às más doutrinas julgava já conhecer o suficiente para não ser mais enganado por elas: alquimia, a astrologia e a magia;

- somente a idade me possibilitou sair da submissão dos meus preceptores e abandonar o estudo das letras e procurar a ciência que poderia encontrar em mim mesmo e no grande livro do mundo;

- procurei refletir sobre todas as coisas para tirar algum proveito delas;

- encontrei mais verdades nos raciocínios no que se refere aos negócios do que num homem de letras em seu gabinete;

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- movia em mim o desejo de distinguir o falso do verdadeiro e ver de modo claro e distinto;

- ao observar a diversidade dos costumes dos homens percebi que nada os diferenciavam dos filósofos;

- aprendi a não confiar no que fora inculcado em mim pelo hábito e livrei-me de muitos enganos que ofuscam a razão;

- a viagem a outros lugares nos permitem conhecer diferentes hábitos e costumes e, com efeito, julgar melhor os nossos;

- as fábulas extravagantes e os heróis que nelas se apresentam pode degenerar o nosso espírito;

- a poesia e a eloqüência são mais dons do espírito do que fruto do próprio estudo;

- deleitava-me com a matemática devido à certeza e a evidência de suas razões. Porquanto, não compreendia ainda sua aplicação restrita às artes mecânicas e que nada mais elevado tivesse sido construído sobre elas.

Após estudar a mim próprio e empregar toda a força do meu espírito na escolha dos caminhos que iria seguir.

E finalmente, depois de ter examinado todas as ciências, mesmo as mais supersticiosas e as mais falsas, a fim de conhecer o seu exato valor, e de evitar o ser se enganado por elas.

Segunda parte

Relata sua estada na Alemanha, seu isolamento e entretenimento com os seus pensamentos.

Faz algumas considerações, entre elas:

- a obra perfeita é aquela que é feita apenas por um artista;

- os povos que antes de reunirem tem a leis elaboradas por um único homem vivem em harmonia (Esparta, Licurgo);

- após passarmos pela infância e livrarmo-nos dos nossos apetites e preceptores, passamos a utilizar totalmente nossa razão;

- quanto à ciência, examinar todos os alicerces para saber se eram realmente sólidos e resolvi retirar-lhes a confiança para substituir por outras ou pelas mesmas, após havê-las ajustado ao nível da razão.

Jamais o meu objetivo foi além de procurar reformar os meus próprios pensamentos e construir minha obra, de modo que tendo minha obra muito me agradado, eu vos mostro o seu modelo nem por isso aconselho alguém a imitá-lo.

Para essa nova construção seria necessário proceder com toda a prudência e segurança, “como um homem que anda só e nas trevas, resolvi, ir tão lentamente, e usar de tanta circunspecção em tudo que, embora não avançasse senão muito pouco, evitaria pelo menos cair”.

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Estabelece as quatro regras para chegar a uma certeza indubitável:

As regras do Método 1ª Regra – Evidência

Não tomar jamais coisa alguma por verdadeira a não ser que a conhecesse evidentemente como tal: quer dizer, evitar cautelosamente a precipitação e a prevenção; e só incluir em meus juízos o que se me apresentasse ao espírito de modo tão claro e nítido que não tivesse como colocá-lo em dúvida.

Clareza e distinção. Essas são as duas exigências indispensáveis para se aceitar algo como verdadeiro. Argumentos como o da tradição e da autoridade caem por terra. Quem decide sobre o falso e o verdadeiro é a própria consciência na qual se formam as idéias. Este é o grande “perigo” do método cartesiano, ao mesmo tempo em que é a expressão de um novo modo de se produzir conhecimento.

Só o que é evidente é verdadeiro; só é evidente o que é claro e distinto. Só é claro e distinto aquilo que se obtém através de uma intuição racional. E a intuição racional é um ato do pensamento puro, infalível, já que simples, aplicando-se a juízos (se penso, logo existo; o quadrado tem quatro lados), quanto às relações entre juízos (2 + 4 = 6, 3 + 3 = 6).

Esta primeira regra do método é simultânea às outras três regras. Em qualquer momento da investigação devem ser averiguadas a clareza e a distinção das idéias.

Para Descartes a noção de clareza e distinção pode ser revelada como: “Denomino claro o conhecimento presente e manifesto a um espírito atento, da mesma forma que dizemos ver com clareza objetos em nossa presença, vigorosamente destacados, quando nossos olhos se dispõem a enxergar. E distinto é o conhecimento a tal ponto preciso e diferente de todos os outros, que não compreende em si exceto o que se patenteia manifestamente a quem o considera como é devido”.

2ª Regra – Divisão ou análise

Dividir cada dificuldade que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e necessárias para melhor resolvê-las.

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Se a dúvida aparece, é preciso investigar suas causa para resolvê-la. A segunda regra, que se fundamenta na primeira e está intimamente ligada com a terceira, tem por objetivo facilitar a intuição clara. Trata-se aqui de dividir as questões mais complexas, surgidas da dúvida, em questões mais simples para facilitar tal objetivo. Esta divisão, por sua vez, permite a observação da terceira regra.

3ª Regra Ordem ou síntese

Conduzir meus pensamentos de forma ordenada, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais complexos; e supondo mesmo uma ordem entre aqueles que de modo algum precedem naturalmente uns aos outros.

Esta regra é nitidamente inspirada na análise geométrica. Tal como o geômetra procede das figuras mais simples até as mais complexas, assim se deve proceder em todas as coisas. Ao falar de objetos mais simples, Descartes não pensa propriamente nas matérias ou nos objetos sensíveis, mas sim nas relações entre as coisas em geral. O mais simples é anterior na ordem das deduções. Com isso, ele liberta o pensamento das amaras das substâncias ou da natureza das coisas, matematiza a realidade e permite a desocultação dos seus mistérios

4ª Regra – Enumeração ou verificação

Fazer levantamentos tão completos e inspeções tão gerais que tivesse a certeza de nada omitir

A enumeração percorre o caminho contrário da segunda regra. Parte de questões parcialmente resolvidas para a questão total. Este é o momento em que se deve verificar se a cadeia de deduções está correta, sem o esquecimento de nada. Enumerar significa, também, reunificar o que foi fragmentado nas várias etapas. Para que a intuição da verdade seja possível, é preciso que se faça um movimento contínuo de integração entre as partes.

Em suma, as quatro regras seguem os seguintes passos: primeiro estabelecer adequadamente qual é o problema a ser resolvido; segundo, visualizar o problema em suas várias partes; terceiro, resolver o problema começando pelas partes mais simples e, por fim, rever criteriosamente o que não foi concluído, ligando todas as partes. Eis a unidade do saber Precipitação – consiste em julgar antes de ter chegado à evidência

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Clara e distintamente – claro é aquilo que é manifesto ao espírito atento e distinto o que de tal modo preciso e diferente de todos os outros, que compreende em si apenas o que parece manifestamente a quem o considere como se deve.

Na terceira parte do método afirma Descartes:

Antes de começar a reconstruir a casa onde se mora, deve-se arranjar outra casa para morar. Cria Descartes a moral provisória que possibilitará a sua conduta diante da incerteza.

As regras provisórias 1ª máxima:

- obedecer às leis e os costumes do meu país;

- obedecer à religião na qual Deus me deu a graça de ser educado; - ter por guia as opiniões mais moderadas e afastadas dos excessos;

- seguir as opiniões dos mais sensatos, pois as moderadas são mais cômodas e permitem aperfeiçoar meus juízos.

2ª máxima

- ser o mais firme e o mais decidido possível em minhas ações e de seguir as opiniões as mais duvidosas, uma vez que tivesse resolvido por elas (não se deve ficar dando voltas)

- se não podemos discernir as opiniões mais verdadeiras devemos seguir as mais prováveis;

- livrar-me de todos os remorsos e arrependimentos que costumam agitar as consciências desses espíritos fracos, que são levados pela inconstância; (Melhor o covarde vivo do que o corajoso morto? - grifo meu)

3ª máxima

- tratar sempre de vencer a mim mesmo e não destino;

- mudar antes meus desejos que a ordem do mundo, crer naquilo que está em nosso poder;

- não desejar para o futuro aquilo que não pudesse conseguir evitando o descontentamento;

- desejar o possível evita os lamentos; - abstrair-se do império da fortuna;

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A conclusão

- fazer uma revisão das diversas ocupações que os homens têm nesta vida e escolher a melhor;

- empregar toda a minha vida a cultivar a razão e avançar o máximo que pudesse no conhecimento da verdade, seguindo o método que havia prescrito.

Na quarta parte - O cogito cartesiano “Cogito ergo sum” São verdadeiros os fundamentos que escolhi?

Vejo-me de algum modo obrigado a falar sobre eles. Para tanto, devo tomar a regra primeira do meu método, ou seja, rejeitar como falso tudo o que suscita a dúvida e considerar que os sentidos nos enganam.

Descartes ocupa-se de provar a existência de Deus e da alma. Para tanto, começa afirmando que:

- devo dedicar-me apenas à pesquisa da verdade;

- considerando que quaisquer pensamentos nos ocorrem quando estamos acordados também podem ocorrer enquanto dormimos, sem que exista nenhum, nesse caso, que seja correto, decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais corretas do que as ilusões do meu sonho.

Mas logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo que era falso, eu, que assim pensava, necessariamente era alguma coisa. “E notando esta verdade – eu penso, logo existo – era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos céticos seriam impotentes para abalar, julguei que podia aceitar, sem escrúpulo, para o primeiro princípio da filosofia que procurava”.

Após constatar sua existência pergunta Descartes: Que sou eu?

“Eu sou uma substância cuja natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser não necessita de lugar algum nem depende de qualquer coisa material.”

- identifica o eu com a alma e alma com o pensamento;

- Eu sou uma coisa que, duvida, que concebe, afirma nega, que quer e não quer, que imagina, sente etc.;

- eu sou uma substância pensante que independe do corpo

“A alma, pela qual sou, é inteiramente distinta do corpo e, mesmo, que é mais simples de conhecer do que ele, e ainda que ele nada fosse ela não deixaria de ser tudo o que é”.

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Após a primeira verdade, surge a segunda verdade: A existência de Deus Reconhecendo minha condição pensante, compreendi que era imperfeito e via claramente que conhecer é perfeição maior do que duvidar.

De onde aprendi a idéia de perfeição?

- de uma natureza realmente mais perfeita que a minha.

Ora, a idéia de algo mais perfeito foi colocada em mim e difere das idéias que existem em mim e tem sua origem externa. Portanto, a idéia mais perfeita não poderia vir de mim próprio, fora colocada em mim por uma natureza de fato perfeita.

Deus, a perfeição que pós em mim a idéia de perfeição Estou só?

- eu penso, mas não sou só. O exame das minhas idéias levam-me a afirmar a existência de Deus;

- a imperfeição, a dúvida, a inconstância, a tristeza não provém de Deus, tampouco a imperfeição de minhas idéias;

Deus é o ser perfeito, assim como o triangulo o é. É possível conhecê-lo?

Descartes expõe as suas considerações

Algumas pessoas acreditam ser difícil conhecê-lo, pois seu espírito só alcançam as coisas sensíveis. Afirmam eles que nada existe no entendimento que não tenha estado nos sentidos. Porquanto, é certo que a idéia de Deus e da Alma nunca estiveram lá.

O mesmo ocorre com aqueles que querem usar a imaginação, pois os sentidos e a imaginação nada podem garantir sua existência se o juízo não interviesse.

Se não se aceita a existência de Deus, as coisa que percebemos com os sentidos são ainda menos certas.

Somente Deus garante todas as outras verdades, pois ele é o princípio metafísico que tudo corrobora.

A clareza e a evidência só há porque Deus existe. Tudo que há de perfeito e real só o é pela realidade e perfeição de Deus.

Mesmo desperto ou dormindo, jamais devemos deixar se convencer exceto pela evidência de nossa razão.

A razão nos sugere que todas as idéias que existem em nós devem conter algum fundamento de verdade, pois não seria possível que Deus nos

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O que garante a perfeição?

Com a certeza da existência do Ser Perfeito, a existência do mundo exterior não sofre nenhuma dificuldade. O Deus cuja existência foi demonstrada é perfeito, logo verídico, e ele nos enganaria se nossas idéias claras e distintas fossem falsas. Portanto, cabe a nós nos precaver sobre as sensações confusas e obscuras ou ilusões.

Procurando o que se apresenta de forma distinta e clara nas coisas exteriores, pensando na extensão geométrica e nos teoremas que dela demonstramos, toda certeza destas demonstrações dependem de serem concebidas evidentemente e, por mais que não se reconheça a existência do triangulo, quando penso nele é necessário que seus três ângulos somados sejam iguais à soma de dois ângulos retos. Por conseguinte, é certo que Deus existe como as demonstrações geométricas. Um ser perfeito necessariamente deve existir. Perfeição implica em existência.

Podemos concluir que:

- a forma de evidenciar o eu (pensamento) é a dúvida e a dúvida é uma imperfeição.

- reconheço-me imperfeito;

-para saber-se imperfeito é preciso ter a idéia de perfeição. Qual a origem desta idéia de perfeição?

- deve haver na causa tanta realidade quanto no efeito;

- portanto a causa de uma idéia de perfeição não pode ser senão um ser perfeito;

- logo, o Ser Perfeito existe.

Na quinta parte do método Descartes mostra sua preocupação com o impacto de suas idéias entre os eruditos.

Diz ele:

- não devo atrair a inimizade dos eruditos, no entanto, devo continuar firme na minha primeira regra.

- Deus imprimiu na natureza todas as leis. Tentei explicá-las (Tratado do Mundo 1634), onde pretendia explicar tudo que julgava a respeito da natureza e das coisas materiais (corroboração das idéias de Galileu);

- desde o início Deus tornou o mundo tal como deveria ser e o conserva.

Após escrever sobre os corpos inanimados passei a escrever sobre o homem. Encontramos nos outros corpos as mesmas funções que há nos nossos. Entretanto, a faculdade de pensar pertence somente ao homem. Deus criou a alma racional para o homem.

Sobre o movimento do coração dos animais (pag. 74) peço aos que não são peritos em anatomia que tenham primeiro a experiência e ver o coração de um animal antes de ler meus escritos. Porquanto, o corpo é uma máquina e o que nos torna homens é a nossa ama racional só o homem possui a linguagem.

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Os animais não têm alma, prova disto é que eles são desprovidos de razão, se eles tivessem razão, por mais pouca que fosse eles falariam. O que difere o ser humano dos animais é a capacidade do homem de responder ao meio criativamente, racionalmente, principalmente por meio da linguagem.

Os animais são máquinas orgânicas complexas, como o corpo humano e o mundo (mecanicismo).

Descartes desenvolve a cadeia das verdades físicas que ele deduz de sua metafísica. Portanto, tudo se explica na natureza pelos princípios da extensão geométrica e das leis do movimento deduzida da perfeição de Deus. Na sexta parte do método Descartes fala sobre a importância da experiência na pesquisa da natureza

As experiências são tanto mais necessárias quanto mais estiverem avançados os conhecimentos. Pois, no início, mais vale servir-se apenas das que se apresentam por si mesmas aos nossos sentidos, as que não podemos ignorar desde que nos dediquemos a elas refletidamente, em vez de procurar as mais raras e complicadas. A razão disso é que as mais raras muitas vezes nos enganam, quando não conhecemos ainda as causas das mais comuns, e que as circunstancias das quais dependem são quase sempre tão específicas e tão pequenas que é muito penoso notá-las.

CONCLUSÃO

Descartes tenta desenvolver um pensar claro e distinto a partir do pensar matemático, pois a matemática é o centro das ciências modernas. Na filosofia, toma como modelo a matemática, pois a matemática é o centro das ciências modernas. Na filosofia, toma como modelo a matemática que parte de princípios e depois progride dedutivamente. A matemática por sua vez remonta ao problema do sujeito penosamente que não é mais um problema matemático.

A originalidade de Descartes, na questão da dúvida metódica, está em querer fundar nessa certeza primordial todo o edifício da filosofia e de todo o saber humano. A partir dela usa dedução, método redutível a uma seqüência de intuições ligadas sucessivamente com clareza e distinção.

O eu penso, logo existo é a fórmula com que Descartes inaugurou a filosofia moderna. Como critério de verdade Descartes tomou a idéia clara e distinta que é indubitável, intuitiva e inata.

Descartes distingue ainda três tipos de idéias:

- idéias adventícias – que vêm de fora, sem nenhuma garantia de verdade objetiva. Ex. vejo o sol e sinto calor, têm sua origem na experiência

- idéias fictícias – elaboradas por nós mesmos, pelo juízo sobre as precedentes - idéias inatas – que são conaturais ao intelecto, trazemos conosco ao nascer

Para Descartes a idéia de Deus é inata. Deus a imprimiu em nossa consciência de criaturas. Basta ter a idéia do ser infinito e perfeitissimo para

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admiti-lo como existente e fundar a verdade objetiva do mundo sobre a existência de Deus. Deus é a garantia última do critério de evidência.

Pode-se discutir se o Deus cartesiano é mais que um puro ente da razão, o grande geômetra, autor das verdades matemáticas e da ordem do mundo. Mas, além da idéia de Deus, são inatas todas as outras noções originárias (princípios lógico-matemáticos, morais, etc.)

Com efeito, Descartes, diz que uma idéia das idéias claras e distintas, que facilmente formamos é a idéia de uma substância infinita, ou seja, a idéia de Deus. Logo, Deus existe. E se existe, deve ser bom e veraz, ou seja, não pode querer enganar-nos.

Descartes prova a existência de Deus pressupondo a veracidade de nosso intelecto e, por outro lado, prova a veracidade do nosso intelecto pela veracidade e bondade de Deus. Em outras palavras prova-se Deus pela razão e, de outra parte, só Deus garante absolutamente o valor da razão.

Descartes tem sem dúvida grande mérito de ter conquistado para si a descoberta da subjetividade no sentido moderno do termo, dando nova primazia à dimensão da interioridade em oposição à exterioridade, à subjetividade em oposição à objetividade.

A subjetividade cartesiana dá um caráter antropológico à reflexão filosófica moderna. De cosmocêntrica, que era a filosofia grega, e teocêntrica que era a medieval, com Descartes passa a ser antropocêntrica.

Postulou a autonomia da razão, questionando o princípio da autoridade e da tradição em todos os campos, inclusive no religioso. Devido à tendência dualista acentuada em conceber a união corpo-alma, Descartes encontrou dificuldades muito sérias para o conhecimento como operação global. O conhecimento torna-se, na perspectiva cartesiana, atividade exclusiva da mente. A essência da alma é o pensamento e a do corpo a extensão.

É discutível que o problema do conhecimento humano consiste em descobrir uma primeira verdade como princípio do qual se deduza, todas as demais verdades, tornando-se, por isso, também discutível a idéia de uma matemática universal como critério de certeza na busca da filosofia da verdade Bibliografia:

DESCARTES, René. O discurso do Método. São Paulo: Abril cultural, 1996. DURANT, Will. A história da Filosofia. São Paulo: Abril cultural, 1996.

Referências

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