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Crítica à metodologia dos indicadores para designar a qualidade de vida no espaço urbano

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo

OSMAR DA SILVA LARANJEIRAS

CRÍTICA À METODOLOGIA DOS INDICADORES PARA

DESIGNAR A QUALIDADE DE VIDA NO ESPAÇO URBANO

CAMPINAS 2015

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[]

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E

URBANISMO

CRÍTICA À METODOLOGIA DOS INDICADORES PARA

DESIGNAR A QUALIDADE DE VIDA NO ESPAÇO URBANO

OSMAR DA SILVA LARANJEIRAS

Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Prof. Dr. Lauro Luiz Francisco Filho Presidente e Orientador/UNICAMP

Prof. Dr. Édison Fávero UNICAMP

Prof. Dr. Cézar Henrique Barra Rocha

UFJF

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente ao Prof. Dr. Lauro Luiz Francisco Filho, o meu orientador, pelas suas valiosas contribuições são longo do programa de pós-graduação, destacando as reuniões periódicas, abrindo mão de outras inúmeras tarefas do cotidiano e de seu precioso tempo. Também vale ressaltar que sempre se lembrou de disponibilizar literaturas voltadas ao tema, em formatos impressos e eletrônicos, criteriosamente selecionados para que o trabalho ganhasse credibilidade e cumprisse o seu papel e sua contribuição em orientar as apresentações de seminários, de trabalhos elaborados em encontros, não como orientador da pesquisa, mas pela gentileza e comprometimento com o aprendizado, e, finalmente, pela sua paciência e dedicação de estar sempre à disposição para sanar as dúvidas que me eram comuns. Não poderia me esquecer de agradecer à Prof. Dra. Ana Maria Giroroti Sperandio pelas suas contribuições, sempre trazendo excelentes literaturas voltadas a esta dissertação. Durante as suas aulas, tanto no desenvolvimento da disciplina na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, quanto no grupo de Estudos de Gestão de Saúde e Urbanismo na mesma Faculdade, a qual era responsável e que felizmente se transformou no grupo de pesquisa GPLUS, com o mesmo enfoque. Ao Prof. Dr. Édison Fávero por seus sábios argumentos com relação aos indicadores que tanto aguçaram as mentes dos alunos da pós-graduação, que estudavam o assunto nas aulas. Agradeço também ao Prof. Dr. Ademar Romero, titular do Instituto de Economia da Unicamp, por suas sugestões ao tratar com os indicadores e por sua disposição em indicar literaturas importantes para o desenvolvimento deste trabalho. É com muito orgulho que menciono o professor Cristovam Buarque, pela honra de conhecê-lo assim bem como acompanhar o seu trabalho no Senado, e por suas sábias palavras ao descrever a importância da educação como passo para o desenvolvimento do país e por isso digno de admiração. Não poderia esquecer as colaborações do Dr. João Márcio Jordão, do Superintendente Jose Clovis Moreira e de Francisco de Barros Lemos, executivos da Infraero, cuja visão de educação e pesquisa foi determinante como facilitador deste projeto; do Professor José Gonçales Júnior, um geógrafo pensador do espaço, das suas contradições, cujos argumentos lúcidos me fizeram refletir com mais intensidade o tema abordado nesta

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dissertação. Ao oficial da Polícia Militar de São Paulo, Rubens Sobrinho, pelo incentivo e por suas palavras de motivação para o engajamento e mergulho no universo da pesquisa científica. Não poderia deixar de agradecer aos colegas de curso: aos mestrandos Jussara e Silvio e à pesquisadora e professora da PUC-MG, Marialva Ribeiro, alunos do professor Lauro, pelas valiosas contribuições de trabalho e pesquisas que agregaram valor inestimável ao andamento desta dissertação e por fim à minha esposa, Arlete, pela compreensão da troca de sua companhia pela pesquisa.

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RESUMO

A intenção desta dissertação, na perspectiva da engenharia civil, é desenvolver uma crítica aos indicadores que comumente remetem às tábuas das condições socioeconômicas no espaço urbano, sob a perspectiva do PIB, IDH, IDEB, violência urbana e saúde, para designar a qualidade de vida no espaço urbano. As críticas apontadas neste trabalho não têm o objetivo de descaracterizá-los, sabendo-se que tais indicadores são reconhecidos globalmente e, por isso, sua aceitação como ferramenta de planejamento. No entanto, sua aplicação no Brasil é ineficaz em alguns pontos que serão discutidos nesta dissertação, graças às desigualdades socioeconômicas locais e regionais. Mesmo em pequenas escalas territoriais, como um bairro, a apropriação dos indicadores para nortear as políticas de monitoramento e pesquisa tem se mostrado ineficiente. Outro fator relevante é que o Brasil trata-se de um país de dimensões continentais, abrigando uma sociedade econômica e culturalmente heterogênea e, por sua contradição em vários aspectos, inviabiliza o entendimento do desempenho das cidades sob a óptica dos pilares selecionados. Mesmo diante desse cenário, os indicadores são aplicados para a compreensão do espaço, porém nem sempre o produto corresponde de maneira satisfatória à ideia de que representa o território e sua equivalência. Dessa forma, a estratégia de intervenção das políticas na polis frequentemente produz inconsistências e incompatibilidade qualitativa e quantitativa, colocando em dúvida a compreensão do conceito qualidade de vida urbana de forma sistêmica. Os indicadores podem constituir um caminho eficaz para construção de política justa, mas também criar uma representação distorcida do espaço e, consequentemente, contribuir para o agravamento das contradições em todo o tecido urbano. A questão crucial da compreensão da cidade está associada à utilização dos indicadores como ferramentas de gestão nos quais onde o espaço vivido não é necessariamente o espaço correspondido pelos indicadores. Essa constatação permite seu questionamento como referência do sítio urbano brasileiro, apontando que não há uma equivalência baseada no modelo estruturado.

Palavras-chave: Indicadores, Espaço Urbano, PIB, IDH, IDEB, Violência Urbana, Saúde

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ABSTRACT

The intention of this work from the perspective of civil engineering is developing a critique of the indicators we commonly refer to the tables of socioeconomic conditions in urban areas, from the perspective of GDP, HDI, IDEB, urban violence and health, to designate quality of life in the territory. The criticisms in this work do not aim to uncharacterized them, knowing that such indicators are recognized globally and therefore its acceptance as a planning tool. However, its application in Brazil is ineffective in places that are discussed in this work thanks to local and regional socio-economic inequalities. Even in small spatial scales, such as a neighborhood, the appropriation of indicators to guide the monitoring and research policies have proved ineffective. Another relevant factor is that Brazil it is a country of continental dimensions, housing an economically and culturally heterogeneous society and, in contradiction in many ways prevents the understanding of the performance of cities from the perspective of the selected columns. Even in this scenario, the indicators are applied to the understanding of space, but not always the product is satisfactorily to the idea of representing the territory and their equivalence. Thus, the intervention strategy of policies in the polis often produces inconsistencies and qualitative and quantitative mismatch, putting into question the understanding of the concept quality of urban life in a systemic way. Indicators can be an effective way to build a just political, but also create a distorted representation of space and hence contributing to the aggravation of contradictions across the urban fabric. The crucial question of the understanding of the city is associated with the use of indicators as management tools, in which where space indicators do not necessarily match the living space. This finding allows your inquiry as the Brazilian urban site reference, pointing out that there is an equivalence based on the structured model.

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RELAÇÃO DE TABELAS

TABELAS

Tabela 1 - Indicadores associados ao urbanismo ... 46

Tabela 2 - Quantidade de maços de cigarro vendidos em 2011 ... 65

Tabela 3 – Nota Prova Brasil 2011 por Estado segundo o IDH ... 87

Tabela 4 Razão médico/habitantes por Estado no Brasil ... 90

Tabela 5 – As 10 cidades brasileiras com maior IDH ... 97

Tabela 8 – As áreas mais caras do Rio de Janeiro/m2 ... 102

Tabela 7 – IDEB 2005, 2007, 2009 e projeções para o Brasil ... 106

Tabela 8 – As cidades com áreas mais valiosas do país – preço em R$ por m2 em 2011 ... 108

Tabela 9 – Nota prova Brasil 2011 por Estado, segundo IDH ... 110

Tabela 10 – Número de registros de ocorrências de estupro e taxa do crime por 1000 habitantes As cidades mais valorizadas do país preço por m2 – 2011 ... 119

MAPAS, FOTOS, FIGURAS, GRÁFICOS E DIAGRAMAS MAPAS Mapa 1 - Demonstração das falhas do IDH para designar o espaço urbano ... 77

Mapa 2 - IDH dos estados brasileiros e suas desigualdades ... 83

Mapa 3 - Violência por região geoeconômica brasileira por 1000 habitantes ... 114

FOTOS Foto 1 - Vista da cidade de Salvador: contraste urbano ... 85

Foto 2 - Tent Cities – a globalização da pobreza em país rico ... 109

FIGURAS Figura 1 - Processo de análise dos indicadores, correlações entre indicadores objetivos e subjetivos à crítica baseada nas suas relações ... 45

Figura 2 - Esquema do IDH com as suas dimensões ... 79

Figura 3 - A contradição da aplicação do IDH no Rio de Janeiro e no Bairro Leblon ... 85

GRÁFICOS Gráfico 1 – Human Development Index – Brasil, Chile, Congo, Haiti e Noruega... 38

Gráfico 2 – Evolução da urbanização brasileira entre 1920 e 2010 ... 53

Gráfico 3 – Distribuição da riqueza nacional entre pobre e ricos em 2012 - Brasil ... 57

Gráfico 4 - Receitas e despesas relacionadas ao fumo 2011... 66

Gráfico 5 – Evolução da taxa de desemprego no Brasil entre 2003 e 2012... 80

Gráfico 6 – Taxa de analfabetismo por região brasileira... ... 99

Gráfico 7- Distribuição da população brasileira segundo cor ou raça em 2010 ... 101

Gráfico 8 – Qualidade do ensino por estado de acordo com o IDEB 2011 ... 111

Gráfico 9 - Taxa de homicídio no Estado de São Paulo entre 2003 e 2013 ... 116

Diagrama 1 - Da composição da saúde segundo a Carta de Ottawa ... 89

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SIGLAS/ABREVIATURAS

CFM – Conselho Federal de Medicina FAO – Food Agriculture Organization HDI – Human Development Index

IBGE – Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística IDEB – Índice De Desenvolvimento Da Educação Básica IDH – Índice De Desenvolvimento Humano

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira IPEA – Instituto Econômico De Pesquisa Aplicada

GPLUS – Grupo De Pesquisa Do Espaço Urbano Saudável Da Unicamp MEC – Ministério Da Educação

OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMS – Organização Mundial Da Saúde ONU – Organizações Das Nações Unidas PIB – Produto Interno Bruto

PNUD – Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas PNB – Produto Nacional Bruto

UN – United Nations

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UNICEF – United Nations Children’s Fund

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 15 2 MÉTODO ...18 2.1 A problemática da dissertação ... 20 3. OBJETIVOS. ... 23 3.1 Objetivos gerais ... 23 3.2 Objetivos específicos ... 23 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 24

4.2 - Histórico dos indicadores ... 27

4.3 - Componentes do indicador ... 32

4.4 A estrutura dos indicadores ... 34

4.5 – Indicadores analíticos ... 34

4.6 – Indicadores sintéticos ... 34

4.7 – A importância dos indicadores no espaço urbano ... 35

4.8 – Indicadores de composição do solo urbano ... 36

4.9 – Conceitos de qualidade de vida ... 39

4.9.1 – Propriedades dos indicadores ... 41

4.9.2 – Taxas de urbanização ... 41

4.9.3 – Conceito de espaço urbano ... 43

4.9.4 – Conceito de indicadores ... 43

4.9.5 – A ascensão das cidades ... 44

4.9.6 - A segregação dos territórios ... 48

4.9.7 – Brasil urbano ... 51

4.9.8 – Índice de Desenvolvimento Humano como parâmetro da qualidade de vida54 4.9.9 – Falhas no sistema de indicadores ... 58

5. INDICADORES do PIB, IDH, IDEB, SAÚDE E VIOLÊNCIA ... 62

5.1 – PIB.... ... 62

5.1.1 O tabaco como forte impacto no PIB ... 64

5.1.2 – O PIB e os serviços sociais em São Paulo ... 67

5.2 – IDH 68 5.2.1 Renda per capita versus IDH ... 68

5.2.2 – Níveis do IDH ... 70

5.2.3 O IDH visto pelo PNUD ... 73

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5.2.5 – Índice de desenvolvimento humano ajustado à desigualdade ... 79

5.2.6 – O IDH brasileiro em comparação ao Índice de Desigualdade Interna ... 82

5.2.7 – Situação socioeconômica das cidades segundo o IDH e qualidade de vida84 5.2.8 – A interpretação dos indicadores para a compreensão da qualidade de vida84 5.3 - O IDEB ... 86

5.3.1 - Indicadores de saúde e definição ... 88

5.3.2 – A proporção de médicos por habitantes no Brasil – uma distribuição desigual e injusta ... 89

5.3.3 – Mortalidade infantil ... 90

5.3.4 – Mortalidade materna ... 91

5.3.5 – Contaminação pelo HIV ... 91

5.3.6 – Doença psicossocial ... 93

5.3.7 – O aumento da expectativa de vida da população brasileira ... 94

5.3.8 – Mortes e doenças provocadas pela poluição atmosférica ... 96

5.3.9 – A População centenária brasileira comparada ao IDH ... 97

5.3.10 – Investimentos em saúde no Brasil em relação ao IDH ... 98

5.3.11 – Contradição dos indicadores no mesmo território ... 101

5.3.12 – Modelo de indicadores de Belo Horizonte, MG – modelo de aproximação da realidade brasileira ... 104

5.4 – Indicadores de violência ... 112

5.4.1 Violência urbana comparada ao IDH – contradição ao entendimento de qualidade de vida ... 113

5.4.2 Homicídios por região geoeconômica brasileira ... 114

5.4.3 – Violência no trânsito e ocorrências de estupro ... 116

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 120

7 CONCLUSÃO ... 123

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1. INTRODUÇÃO

Uma das ferramentas mais utilizadas na atualidade para o planejamento e gestão do espaço urbano é o uso dos indicadores. No entanto, a reflexão contemporânea no Brasil merece um olhar metodológico sistêmico na forma de crítica metodológica. A partir da década de 1960 sua utilização tornou-se cada vez mais complexa com vistas à elaboração e à formulação de políticas que visem à medição e ao monitoramento do bem-estar da sociedade. Essa experiência teve um salto quantitativo no Brasil, sobretudo após a industrialização moderna na década de 1960, sob a égide da rápida urbanização, necessitando, portanto, de caminhos metodológicos para a obtenção de resultados ou soluções dos problemas urbanos que se agravaram com a rápida transformação da produção capitalista. Apesar das nítidas mudanças estruturais da cidade, como o êxodo rural, culminando com a morte e vida de espaços urbanos, naquele momento a principal preocupação política não era equacionar os problemas urbanos por meio do planejamento, mas o fortalecimento do capitalismo, que se encontrava em crise, tendo o Brasil assumido uma posição econômica importante, com a introdução do capital internacional em sua base produtiva, substituindo o ciclo da economia de industrialização de base por um modelo industrial moderno e competitivo.

A expansão do capitalismo no Brasil constituiu-se no modelo de acumulação de riquezas das oligarquias, o qual se encontra em franco declínio e, por isso substituindo a economia primária cafeeira pela indústria de base, aliado às exigências de modernização do território, a fim de atender às novas demandas do novo ciclo econômico. Com a introdução do capital internacional por meio de importantes investimentos em infraestrutura, as cidades foram totalmente transformadas para atender a demanda do novo modelo capitalista industrial.

No entanto, o crescimento da economia interna acirrou o descompasso entre o desenvolvimento econômico e as conquistas sociais. Partindo desse entendimento, o acesso aos bens e serviços, a sociedade ficou aquém do crescimento econômico, o que obrigou a intervenção do Estado, sobretudo no modelo Keynisiano, como estratégia de frear o acelerado processo de empobrecimento da maioria dos brasileiros.

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A intervenção do governo foi uma medida para amenizar as desigualdades concebidas pelo fator distributivo do capital de forma inadequada, como os direitos sociais, acesso à educação, moradia, saúde, infraestrutura e aos serviços básicos de promoção de bem-estar do indivíduo.

O importante acervo de dados estatísticos apontava um aumento exponencial das desigualdades socioeconômicas, como o crescimento de favelas, cortiços, desempregados, déficit educacional, segregação urbana e deterioração das cidades, evidenciando a contradição entre crescimento econômico e desigualdade social. A situação do desconforto agravou-se no início da década de 1970, sobretudo a partir de 1973, durante o período do “Milagre Brasileiro”, marcado pelo rápido crescimento econômico na ordem de 13% ao ano, e pelo consequente descontentamento da população por não participar da riqueza produzida no país.

A partir da década de 2000, com o advento da democratização consolidada, a sociedade começou a exigir os direitos garantidos na Constituição de 1988, destacando a política do desenvolvimento urbano preconizado na Lei 10.257, de 10 de Julho de 2001. O Estatuto da Cidade estabelecia o direito de um espaço urbano saudável, com todas as suas potencialidades sociais, econômicas e ambientais, provido de infraestrutura necessária, voltada à sobrevivência humana de forma digna, espaço coletivo de promoção do bem-estar, seguro e ambientalmente confortável.

A intervenção política no território não foi suficiente para equacionaras dimensões da desigualdade pela complexidade da sua correlação com o espaço urbano. Assim, o território é abarcado pela violência, doenças, baixos níveis de escolaridade, habitações inadequadas, num mesmo espaço onde essas constatações não são necessariamente visíveis. Em resumo, os indicadores não são eficazes para apontar uma estreita relação entre os índices e qualidade de vida o que colabora para a subjetividade, nos paradoxos os quais análise concreta dependerá de inúmeros processos e fatores associados no espaço urbano. Nesse sentido, a probabilidade de criação do entendimento de territórios que desqualifiquem essa construção (do desconhecido) depende de um estudo mais aprofundado, demonstrando que os indicadores não traduzem à luz da realidade urbana brasileira as condições de vida pelo olhar superficial do território. Concluindo, o território brasileiro e sua complexidade de definição qualitativa ainda se encontram em aberto e cada vez mais em franco processo de construção. Diante da

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materialidade apontada pela dinâmica dos usos de estatísticas e indicadores, não há como afirmar com segurança que o indicador é o espelho da realidade urbana, que corresponda à situação social do indivíduo na cidade. Esse cenário permite que, por sua inconsistência de aplicativo, indicadores se transformem em objeto de crítica, pela ausência da unicidade territorial, dos sentidos e do desenvolvimento humano.

Dessa forma, a abordagem desta dissertação traz uma contribuição para entender as cidades a partir dos indicadores, os quais não correspondem de forma satisfatória ao lugar ideal para viver. Por outro lado, o espaço urbano saudável não corresponde necessariamente aos padrões dos indicadores. Mesmo adotando o cruzamento da ferramenta de análise do status socioeconômico, as desigualdades estão enraizadas e perenes na sociedade, o que compromete a sua realização utilizando os indicadores de forma exclusiva, de apontamento de soluções para o exercício do direito à cidade.

Assim, a ausência de uma estrutura de indicadores inter-relacionados faz com que a condição de vida urbana não seja compreendida, o que requer que essas estruturas sejam repensadas. As condições de vida na cidade não se definem com elementos de medição isolados por meio de uma estrutura fundamentada no conjunto de leis que pode trazer uma contribuição além dos dados fragmentados. A crítica aos indicadores possibilita uma importante contribuição para repensar o espaço e suas contradições a partir de indicadores integrados.

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2 MÉTODO

Para a realização da pesquisa, foram utilizadas metodologias qualitativa, exploratória e bibliográfica. Os indicadores apontados na bibliografia encontram-se estruturados de forma explícita ou implícita, isto é, aqueles que apontam realidade de forma direta e aqueles que dependem de análises complementares, o que significa que são implícitos. No decorrer das pesquisas, não foi identificada qualquer obra que abordasse o conceito crítica aos indicadores, senão alguns pontos comentados sem muita pretensão de aprofundar o tema ou defini-lo com maior precisão.

A proposta da crítica aos indicadores trata-se de uma reflexão contemporânea, concebida para avaliar a qualidade de vida no (do) espaço urbano, apontadas por pesquisas oriundas de mais diversas fontes e agências, para explicar as condições e o status do objeto de análise. A iniciativa da crítica aos indicadores parte não apenas da afirmação de que não são necessariamente seguros e confiáveis, mas também por sua interpretação, inclusive por instituições de pesquisa que na prática revelam uma não conformidade entre a pesquisa e o real, o que na sua essência dificulta o planejamento da cidade por técnicos de inúmeros segmentos e governos.

Outra questão a considerar diz respeito das soluções urbanas que não se concretizam com os avanços tecnológicos; elas só podem ser tratadas mediante a ação política aliada às características e particularidades do território, cuja sociedade participa da vida política do país e de sua transformação.

Pesquisas envolvendo indicadores urbanos podem fornecer subsídios à engenharia, ao urbanismo, ao planejamento e aos variados objetos de estudos. O produto referenciado na pesquisa cabe analisar os indicadores e demonstrar que, embora sejam elaborados com o intuito de oferecer elementos e suporte de apoio a estudos e tomadas de decisões estratégicas, frequentemente os indicadores sofrem descréditos pelo suporte de arma de manipulação, e, às vezes, pela complexidade do ambiente urbano, por seus conflitos, interesses e decisões políticas não apropriadas para determinada situação.

A pesquisa, quase que na sua totalidade, foi subsidiada por bibliografia recente, incluindo publicações em artigos eletrônicos, impressos, livros e periódicos. Dada a preocupação dos gestores e agentes de instituições públicas e privadas em

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encontrar soluções para as diversas lacunas na apuração das necessidades dos grupos humanos em encontrar um ponto de bem-estar, torna-se ainda mais difícil mensurar esse ponto, o que reforça a ideia de uma posição normativa de crítica aos indicadores.

Nesse sentido, a ideia da crítica à ferramenta é uma abordagem voltada à reflexão de seus novos significados que possibilitem lucidez e sentido às diversas dimensões dos indicadores, na busca de relacioná-los com cada sociedade, território e lugar. De acordo com Santos (2000, p. 88-90), a necessidade de recriação das formas e a necessidade de repensar as novas relações entre sociedade tornam-se cada vez mais urgentes, pelo modelo de cidade sem planejamento, seu crescimento e a materialização do poder e dos conflitos entre os atores que a compõe.

Diante das dificuldades de manejo dos indicadores frente à potencialização dos problemas que se avolumam no espaço urbano, sobretudo a partir da década de 1970, as contradições visíveis no espaço, os indicadores já não apontavam uma saída confortável dos habitantes dos problemas mais graves na cidade.

Esta dissertação focará nas análises dos indicadores e, posteriormente, as suas ponderações à luz das contradições resultantes das relações com as condições urbanas e variáveis de análises, segundo os diferentes pesos nos mais diferentes espaços que dificultam e impossibilitam um produto confiável como auxílio às decisões diversas a serem adotadas.

Assim, o método de abordagem do tema foi conhecer o histórico dos indicadores, suas aplicações de uso e o momento de inserção no Brasil. Foi necessário um estudo dos indicadores individualmente, mas no decorrer da dissertação foi imperioso recorrer aos processos de inter-relacionamento. Foi comprovado que não é possível diagnosticar a realidade urbana apenas com o indicador que o represente, como é o caso daquele indicador que relaciona o indivíduo com maior salário à maior expectativa de vida. Essa afirmação é ponderável, dada à necessidade de uma série de avaliações associadas.

Foi apontado na dissertação que os critérios de planejamento e produção de relatórios oriundos dos indicadores podem ser contraditórios, pela constatação de quadras residenciais totalmente desprovidas de infraestruturas básicas, marcadas pela pobreza, entre as casas de alto padrão e condomínios fechados, em dois mundos separados por cercas ideológicas e sociais, em um mesmo espaço

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geográfico. Nesse sentido, foi necessário abordar o assunto com os critérios que a situação ensejava e desenvolver as críticas específicas, no tempo e no espaço.

Para esta dissertação, foi necessária a construção de várias tabelas, contendo informações e, posteriormente, o estabelecimento de um cruzamento de dados, possibilitando extrair a essência do indicador estudado pelo método comparativo. Analisando os indicadores individualmente, o seu aproveitamento para entender um fenômeno é raso, mas, a partir das relações entre indicador, território e cultura foi possível obter resultados mais confiáveis.

2.1 A problemática da dissertação

Com o advento da acelerada urbanização brasileira, o cenário das cidades mudou radicalmente o estilo de vida urbano. Diante disso, foi necessária a adoção de uma política de monitoramento dos espaços e dos serviços urbanos baseados nos indicadores, como suporte a solução dos problemas que marcam a vida socioeconômica nesses territórios.

Além disso, os indicadores foram incorporados em várias esferas das administrações públicas e privadas, inclusive como gestão de organização do espaço. No entanto, os serviços urbanos necessitavam cada vez mais de modelos sofisticados para compreensão das cidades e suas carências, para finalmente entender e reorganizar o espaço. Gestores de instituições públicas, privadas e financeiras utilizam a ferramenta como parâmetro para direcionar as respectivas ações.

A sociedade moderna, plural e complexa, necessita de parâmetros mais adequados para oferecer direcionamento às suas atividades. Segundo Santos (2002), o homem utiliza as suas técnicas como forma de reprodução e estas, por mais simples que sejam, implicam um trabalho em regime de cooperação mútua. A utilização dos indicadores corrobora com o raciocínio do autor, por se tratar de ferramenta de produção e transformação do lugar. Nesse caso, os indicadores são uma das ferramentas de comparação e mudança de sua natureza.

Atualmente, existem dezenas de indicadores de natureza distinta, da problemática espacial, de suas práticas e das possíveis mudanças, mas isso não significa que o emprego dos indicadores implique mudança que beneficie a sociedade ou o entendimento como ela se comporta.

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No entanto, não traduz de forma racional o pensamento universal, como são empregados no bem coletivo, conforme aborda Santos (2002). Fato que contribuiu com a pesquisa é a constatação da existência de cidades brasileiras que apresentam boas condições de vida, cujos indicadores que, sem uma análise, apontariam uma cidade sem os meios necessários de sobrevivência. Os desiquilíbrios no espaço urbano, levando em conta a qualidade de vida contribuiu para provar que as ferramentas de monitoramento do espaço brasileiro não são uma prova cabal sobre sua eficiência, em virtude de sua ineficácia nos contextos urbanos distintos.

Os indicadores carecem de análise mais rigorosa, contextualizando-os dentro das possibilidades do território, da cultura, do lugar e dos anseios de cada sociedade, sem a pretensão de julgá-la segundo uma sociedade homogênea. Para tornar os indicadores mais confiáveis, é importante reunir elementos além deles mesmos, possibilitando a sua aplicabilidade. Finalmente, contribuir para que a sua subjetividade seja reduzida por conta do manejo dos resultados. Assim, o espaço urbano requer a adoção e entendimento de indicadores muito utilizados nos mais variados setores, incluindo o urbano como subsídio de análise do espaço urbano.

Diante da multiplicidade de indicadores, esta pesquisa analisa, em primeiro plano, o histórico desses indicadores, sua importância e sua utilização como ferramenta de monitoração do espaço urbano. Existe um número de indicadores importante para mensurar o espaço urbano, mas a dissertação prevê a análise do PIB, do IDH, do IDEB, da violência urbana e das condições de saúde do povo brasileiro e, posteriormente, as suas críticas, quando um desses indicadores torna-se contraditório com a realidade no espaço urbano, que abrange consideráveis áreas, como educação, renda e expectativa de vida. Convém ressaltar que o IDH não trata apenas desses três indicadores, mas outros que se desdobram por meio deles.

A crítica aos indicadores tem como base como produto da dissertação demanda várias análises de dados, buscando a divergência e a convergência entre o sujeito e o objeto. Os indicadores propostos na pesquisa como objeto de estudo, foram:

 O IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, baseado no relatório da ONU para estudar não só as dimensões dos seus componentes – educação,

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expectativa de vida e renda – mas também para expressar a qualidade de vida além das três dimensões clássicas muito comentadas e debatidas nas mais variadas formas de “humanização”.

 O PIB – Produto Interno Bruto, que comumente ainda que ultrapassado do ponto de vista metodológico, é utilizado para mensurar a qualidade de vida de um povo.

 O IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, cujo método aponta a qualidade da educação dos Estados brasileiros, por idade e por ciclo.

 A violência – Aponta as causas e as modalidades da violência no país. Convém ressaltar que o indicador não é determinante em regiões pobres e com baixa escolaridade.

 A Saúde – Tradicionalmente, o estado de saúde está vinculado à escolaridade e o acesso aos serviços de auxílio.

Dessa forma, torna-se necessária uma pesquisa mais criteriosa não só das abordagens relacionadas a indicadores, como também aos aspectos culturais, a realidade do território, do ambiente no tempo e no espaço. A compreensão da relação dos indicadores à qualidade de vida do espaço urbano. Limitar a qualidade de vida urbana, baseada apenas nos indicadores, é uma medida incompleta, por ser uma ferramenta mundialmente limitada para quantificar o acesso aos serviços de seu povo, embora no quesito qualitativo não seja necessariamente uma realidade.

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3. OBJETIVOS

3.1 Objetivos gerais

Enfatizar que os indicadores não expressam de forma objetiva a qualidade de vida no espaço urbano brasileiro, justificados pelas contradições socioeconômicas no território. Por outro lado, compreender que as ferramentas oficiais universais são insuficientes diante de um país carregado de desigualdades e subjetividades, influenciado por aspectos culturais e socioeconômicos distintos.

3.2 Objetivos específicos

Discutir a participação PIB, IDH, IDEB, saúde e violência no espaço urbano como indicadores norteadores do desenvolvimento humano. Apesar de constituírem balizamentos legais de apontamentos da realidade urbana no Brasil, são insuficientes para representar o território com fidelidade, graças às distorções socioeconômicas do país. Essa revelação representa um cenário complexo, em que os indicadores não apontam, de forma fidedigna, a situação das funções territoriais à luz dos indicadores.

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4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão bibliográfica da dissertação traz uma discussão importante sobre os indicadores e, pelas diferentes paisagens urbanas e pela complexidade das cidades brasileiras, coloca-os em situação de baixo reconhecimento de apontamento de suas realidades de forma isenta.

Outra abordagem importante está relacionada à condição urbana contemporânea, pois os problemas da cidade começaram a se agravar após a Revolução Industrial e no pós-guerra, período divisor de águas nas economias e nas relações sociais.

Além das análises dos indicadores apresentadas nesta dissertação, resumidas pela dinâmica e regulação de mercado, foram analisados diversos casos de inconsistência no Brasil, justamente pelas justificativas de que sua medição requer e também pelas disparidades de vários componentes e contingências que interferem no produto do indicador.

O pensador Antony Giddens (2006), em seu livro “Mundo em Descontrole – o que a globalização está fazendo de nós”, aborda que os aspectos que interferem nas nossas vidas, nos aspectos religiosos, culturais, da democracia, do autoritarismo e as incertezas, do presente e bem provável do futuro, como ele mesmo enxerga, um colapso dos sistemas que nos regem. No entanto, Giddens (2006) não previu que temas como sexualidade, família, crises econômicas e urbanas criassem uma unicidade, o que se esperava a partir da globalização.

A partir dessas e de outras análises, constatou-se que o mundo mergulhou em uma profunda crise de identidade, na qual elementos de ordem econômica foram determinantes para compreender as novas ideologias das sociedades que surgiam no período pós-guerra. Dessa forma, elementos como educação e saúde convergiam em uma escala determinada pelo dinheiro e pelo lucro. Atualmente, fatores culturais e geográficos encontram-se em crise, o que dificulta entender o modelo de vida ideal em cada território, uma vez que indicadores construídos para entender a qualidade de vida do povo brasileiro são os mesmos para sociedades totalmente distintas. Nesse sentido, os indicadores que norteiam as necessidades indispensáveis para uma vida saudável do povo brasileiro não são

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eficientes, aliados à carência de pesquisas, em especial nas áreas de engenharia e urbanismo, como aponta o Jornal O Estado de São Paulo, do dia 24/03/2013.

A forma como os indicadores foram construídos e como devem ser interpretados não está em harmonia com os elementos que eles representam e, por isso, remete à memória de que o planejamento urbano e outros de ordem política de intervenção no território podem ser contraditórios e subestimados.

O método mais comum na dissertação baseou-se no cruzamento de dados contidos em textos, mapas, planilhas. Na ausência de um trabalho similar, um acervo de material escrito foi selecionado e analisado segundo os interesses do trabalho e, para isso, um dos métodos mais utilizados foi a comparação dos indicadores com o modo de vida da sociedade. A partir disso, uma leitura do uso do solo, de seus valores, de tradições e do espaço geográfico foi contextualizada, ou seja, analisa as condições urbanas a partir de uma única visão, sem valorizar as dicotomias impostas pelas variadas classes sociais e o espaço urbano que as representam, considerando que bem-estar é uma condição subjetiva.

Assim, diante de suas variantes interpretativas, podendo ser entendida sob diferentes aspectos e espaços quanto à sua percepção que cada grupo tem de si e dos outros, do mundo, podendo ser avaliada por critérios como educação, formação, cultural, necessidades pessoais, saúde, competências adquiridas e o otimismo. Cada sujeito valoriza esses critérios de forma diferente, de acordo com as suas condições físicas, psicológicas, sociais, culturais, econômicas e espirituais que encontram em determinado momento de suas vidas. Algo que somente o próprio sujeito pode avaliar e informar ao pesquisador. Nesta perspectiva, um indicador que aponte uma situação favorável não pode ser mensurado pelos números, mas definido como a sensação íntima de conforto, bem-estar ou felicidade no desempenho de funções físicas, intelectuais e psíquicas, dentro da realidade da sua família, do seu trabalho e dos valores da comunidade à qual pertence.

4.1 – Aspectos filosóficos dos indicadores em uma perspectiva do empirismo

Antes de estudar os indicadores sob a perspectiva do espaço urbano é importante recorrer à filosofia. Convém salientar que os indicadores, como ferramentas para tomada de decisão e planejamento nos seus segmentos, são analisados a partir de experiências vividas, das observações e mensurações feitas

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sobre um determinado fenômeno à luz da razão. Um indicador é, acima de tudo, uma métrica, uma forma de quantificar a evolução, tamanho ou expectativa de um determinado fato que envolve ações, sejam elas políticas ou técnicas.

A construção e análise dos indicadores são baseadas no conhecimento empírico e possuem as suas bases no positivismo lógico, desenvolvido por Augusto Comte, cujo raciocínio parte do princípio de que a ciência é obrigatoriamente objetiva, sendo concebida a partir da observação e, em uma fase posterior, alcançando o método indutivo pela acumulação de conhecimentos sobre o objeto (VIEIRA, p. 112). A partir dessa fase do método, segundo o pensador, fatos podem ser concluídos de forma estanque, sem que haja uma variação no decorrer do processo da existência humana e das variações decorrentes dos impactos alterados dos sistemas.

A visão positivista entende que quaisquer problemas podem ser sanados a partir do raciocínio matemático, possibilitando o surgimento do positivismo lógico, outra corrente do pensamento. As conclusões mediante o método indutivo, obtidas a partir dos indicadores urbanos ou de outros de qualquer natureza, podem não fornecer respostas satisfatórias às questões desejadas. Obviamente, isso não evidencia que os conceitos e resultados obtidos por meio do conhecimento empírico e da experiência sejam um fracasso, pois em muitas situações a ciência é construída a partir do método da observação.

Assim, o pensamento positivista faz parte do cotidiano humano para entender os processos que permeiam o saber, atuando como suporte do conhecimento que se constrói no tempo histórico. Além disso, há uma necessidade de avaliação do momento histórico, do contexto, da geografia, da relação entre os diferentes territórios, o que motiva que os indicadores sejam interpretados segundo a realidade vivida, o que pode compreender o cenário do objeto de estudo de forma mais autônoma e mais equilibrada.

O filósofo Rousseau denominou a cidade como um grande teatro, reino das fantasias e também da perda de identidade. Os gregos as denominaram como espaço da democracia e da crítica. Essas observações filosóficas remetem às várias formas de entender o espaço urbano na atualidade, incluindo os indicadores como problematização das cidades e, consequentemente, elementos para reorganização das atividades e relações humanas.

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4.2 - Histórico dos indicadores

Com as consequentes tragédias promovidas pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e agravadas na década de 1920, o mundo não tinha clareza nítida da crise, em função dos gastos com a guerra, culminando com a superprodução de bens de consumo, adotada pelos Estados Unidos. Essa década foi marcada por uma recessão econômica e política, não havendo nenhuma estratégia eficiente que invertesse aquele cenário, nem mesmo perspectivas de retomada do crescimento econômico e medidas de saída da pobreza, que assolava a sociedade global, agravando as crises sociais.

Antes da recessão de 1929, o governo dos Estados Unidos adotou uma política de monitoramento de suas atividades econômicas e sociais como meio de estruturar as mudanças internas de grande escala. Para isso, era necessário entender os pontos mais cruciais da economia e promover um novo modelo eficiente, voltado ao desenvolvimento humano. Essas políticas visavam à criação de políticas de redução dos efeitos da crise e a inversão de forma sistêmica do processo da queda da bolsa de valores em Nova York, como estopim da crise, em escala global.

Com a crise de 1929, as decisões dos governos anglo-saxões foram tomadas a partir de registros, de Tratados, de Acordos e da institucionalização dos indicadores, na tentativa de obtenção de diagnósticos nacionais que começavam de forma muito tímida, mas que gradualmente adquiriram credibilidade ao longo dos anos. Na década de 1920, nos EUA, começou a surgir a ideia de que o governo, identificando as regiões e áreas mais carentes, poderia estruturar uma política interna, de modo que sua população tivesse acesso aos serviços, ou minimizar os impactos negativos relacionados às crises.

Inicialmente, o Comitê de monitoramento, como era conhecido, não impactou os ideais do governo, mas, com o tempo, a ampliação da coleta de dados permitiu que alguns diagnósticos, incluindo os de qualidade de vida, fossem amplamente conhecidos pelos governos e pudessem se tornar parâmetros oficiais e instrumentos legais para a tomada de decisões e canalização de recursos. A década seguinte, de 1930, levou o governo norteamericano a elaborar o Relatório do Comitê, órgão criado pelas Nações Unidas, para o monitoramento de políticas socioeconômicas e a obtenção de dados para fins de planejamento público.

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Inicialmente, os impactos foram negativos, mas com o incremento dos dados monitorados, principalmente na América Latina, a iniciativa do poder público ganhou tal relevância que, em 1953, já havia um amplo acervo de dados estatísticos, incluindo taxas de desemprego, déficit habitacional, índice de violência, de criminalidade, expectativa de vida, infraestrutura urbana, níveis de consumo duráveis e não duráveis e muitos outros, aliada à temerária crise do capitalismo.

Com a necessidade de coleta de dados e a falta de metodologias confiáveis na apuração e interpretação dos dados, os indicadores ganharam novos significados na perspectiva da percepção. Dessa forma, muitas providências foram tomadas a partir de conceitos meramente empíricos, intuitivos e de pouca consistência técnica, que assegurasse a veracidade das informações e seu amplo sentido de planejar e governar.

A busca de indicadores sociais baseava-se em uma concepção que poderia se expressar nos anos seguintes. Na década de 1960, vários países, incluindo o Brasil, já tinham começado a compilar regularmente os dados para compor indicadores sociais e conceber a sua prática de uso, a fim de elaborar um balanço dos impactos da Segunda Guerra e intervir direta e indiretamente na vida social, política e econômica e suas reformas necessárias. No entanto, a morosidade para esse entendimento de percepção, partindo do pressuposto de que as medidas adotadas pelos governos não traziam, por si só, soluções para os problemas e que a identificação da desordem, a análise, o planejamento e o envolvimento com a gestão teriam de ser sistematizados junto com os indicadores.

Na década de 1970, a pesquisa, envolvendo indicadores sociais, disseminou-se por vários países e organismos internacionais. A OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e as Nações Unidas começaram a adotá-los com o intuito de desenvolver novas metodologias para a sua elaboração, devido à necessidade de compreender o mundo no contexto da guerra fria e a recuperação do capitalismo, ameaçado pelas potências do bloco socialista.

Pela primeira vez, começou-se a discutir se o maior objetivo das sociedades ocidentais desenvolvidas era apenas o crescimento econômico ou a qualidade de vida nas cidades. Chefes de Estados e organismos internacionais começaram a questionar com mais intensidade a ideia de que quanto mais recursos, melhor,

surgindo uma demanda pública de qualidade, em oposição à quantidade, momento em que se discute com mais veemência as relações entre capital e trabalho.

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Os indicadores elaborados em meados da década de 1970, não responderam de forma satisfatória a relação entre economia e desenvolvimento urbano, colocando sob suspeita a credibilidade da ferramenta e, consequentemente, o risco de perda de sua eficácia frente às relações de poder na reorganização industrial e econômica dos países.

No Brasil, a atividade industrial moderna, iniciada em 1956, na gestão Juscelino Kubitscheck, forçou os estados e municípios à elaboração de novos indicadores, visto que, pela sua quantidade, só foi possível calcular o seu desenvolvimento econômico, porém incapazes de aferir o padrão de vida justo, comparado ao crescimento econômico.

Naquela conjuntura, os indicadores econômicos objetivos começaram a se diferenciar dos indicadores sociais subjetivos. Os primeiros correspondem a estatísticas que representam fatos sociais, independentemente de avaliações pessoais, a exemplo, renda per capita, taxas de desemprego, taxa de pobreza, extensão média da jornada semanal de trabalho, taxa de mortalidade perinatal etc. No segundo caso, os indicadores subjetivos enfatizam as percepções individuais e avaliações das condições sociais e culturais, entendidos pela satisfação com o modo de vida, com o trabalho, percepção de justiça distributiva, aspirações quanto ao futuro, sem necessariamente considerar salários altos e acesso aos bens de produção duráveis que floresciam naquele momento.

Esse período caracterizou-se pela constituição de grandes e complexos sistemas de informação social, baseados em inúmeras pesquisas sobre o desenvolvimento social. Entretanto, ao final da década de 1970, devido à crise econômica agravada com o choque do petróleo, reduziu-se o interesse pelos indicadores sociais de tal forma que, ao final da década de 1980, a sua utilização declinou drasticamente e o seu desenvolvimento estagnou-se, valorizando apenas os indicadores econômicos.

Com os sinais de recuperação econômica brasileira na década de 1990, os indicadores foram retomados para o planejamento, tanto na esfera das políticas públicas e seus resultados substantivos, quanto na esfera da gestão governamental, passando a ser discutidos e adotados tanto no nível subnacional (estados e municípios), quanto nacional e supranacional, especialmente com o estabelecimento de novas instituições de monitoramento e avaliação de bases de informação, dotadas de sofisticada infraestrutura tecnológica. Ao final da década de 1990,

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sobretudo com o avanço e a disseminação dos sistemas informatizados de gerenciamento de dados e a formação de redes virtuais de participação e controle social, fortaleceu-se a ideia da utilização dessas ferramentas com finalidade de subsidiar os investimentos necessários para o gerenciamento e apoiar o monitoramento socioeconômico e avaliar as ações governamentais de forma mais ampla, com vistas ao equacionamento das distorções apontadas na sociedade urbana marcada pelo seu empobrecimento e, por outro lado, o aumento da riqueza do país, ocasionando um desequilíbrio social, conforme analisa Lefebvre (2001).

Assim, as incertezas e dúvidas quanto à credibilidade do PIB – Produto Interno Bruto – como decisivo para comparação das condições socioeconômicas do país, o IDH expressa uma contradição e divergência no conceito de vida urbana saudável. Esses desequilíbrios são recorrentes na sociedade contemporânea, não obstante serem mundialmente empregados para nortear as políticas de planejamento. Dessa forma, o IDH é sujeito às críticas por não apontar com justeza as condições de vida.

Outro aspecto metodológico negativo do uso do IDH sem a sua respectiva análise mais abrangente diz respeito às suas potencialidades cartesianas, com parâmetro decisório, requerendo um olhar sistêmico, construindo uma complexa teia de relações, como recomenda Milton Santos, na sua obra Metamorfose do Espaço Habitado (2012), demonstrando com propriedade que os acontecimentos não estão isolados: pelo contrário, estão em plena comunhão, cujo produto é o resultado das interações econômicas, ideológicas e políticas, exigindo um olhar sistêmico dos indivíduos que utilizam indicadores como suporte de compreensão da cidade.

A busca da explicação das transformações passa pela compreensão dos grandes grupos ao tipo de trabalho até os mais complexos, reveladores das grandes mudanças ocorridas no período técnico-científico – tipologia das tecnologias, dos capitais, da reprodução, do produto, das firmas, instituições: intensidade, qualidade e natureza dos fluxos; captação dos circuitos espaciais de produção: expansão agroindústrias: novas relações de trabalho no campo; desmaterialização da produção etc. Tais variáveis são interdependentes, uma sendo causa e/ou consequência de outras, não tendo, portanto real valor se não forem analisados em conjunto; peso dos componentes(Santos, 1988).

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A introdução dos indicadores como norteadores de políticas públicas e de suporte da análise do espaço urbano no Brasil ganhou destaque a partir da década de 1950, coincidentemente ou não, com a industrialização brasileira, o que marca o início da urbanização acelerada, (CANO, 1990). O advento da industrialização tardia forçou o êxodo rural em direção aos centros urbanos e, como consequência, o crescimento das cidades de forma acelerada e desordenada, sem o planejamento urbano, o que acentuou as desigualdades socioespaciais do espaço urbano, marcadas, sobretudo, pelas nítidas desigualdades humanas. Como fatores resultantes da falta de política voltada ao desenvolvimento das cidades de forma equitativa, ficaram nítidos os desequilíbrios entre desenvolvimento econômico e desenvolvimento humano.

De acordo com Milton Santos (2000), a visão do atraso brasileiro, resultante da globalização, já se trata de um discurso ultrapassado, pois países como a Noruega, Austrália, Holanda, Bélgica e tantos outros também capitalistas não revelam necessariamente as mesmas consequências negativas à sociedade, em função das práticas doutrinárias do sistema capitalista.

No caso brasileiro, as consequências do modelo da industrialização tardia, acompanhada da urbanização sem planejamento e a estratificação da sociedade, forçaram o nível da pobreza e o agravamento dos problemas urbano. Apesar do crescimento econômico vivido no país, sobretudo a partir da década de 1970 e da prosperidade econômica vivenciada no país, a ascensão social crescia em um ritmo lento, inferior à velocidade econômica e consequente lentidão no processo de acesso aos bens e serviços, formando um descompasso entre distribuição da riqueza, conforme menciona Celso Furtado (2004).

Na visão de Semeghini (2010), a decadência da economia cafeeira e das oligarquias paulistas, após a década de 1930possibilitou a introdução do novo ciclo econômico industrial do país substituindo as importações por produção interna. Essa nova fase econômica também possibilitou o crescimento da economia interna, mas a distribuição de riquezas seguiu os preceitos anteriores à industrialização. O crescimento da economia industrial modificou decisivamente as estruturas das cidades e seu crescimento desordenado e complexo, excluindo a população mais pobre ao acesso dos bens e serviços (SANTOS, 2002).

Diante das ausências de políticas de ordenamento do espaço urbano e de planejamento, de modo que possibilitasse o acesso dos direitos à população urbana,

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foram necessárias medidas urgentes de uso de instrumentos políticos, capazes de reorganizar o espaço no que se refere ao modelo urbano produzido pela expansão urbana sem planejamento e consequentes desequilíbrios entre crescimento econômico e bens e serviços destinados à população. Uma das medidas adotadas em todo o mundo, em particular no Brasil, foi o monitoramento das cidades e dos serviços por meio dos indicadores, como parâmetros metodológicos de gestão dos serviços voltados ao bem-estar do povo, baseado na redução da pobreza, redução das desigualdades econômicas e sociais.

4.3 - Componentes do indicador

Como mencionado nesta dissertação, não há consenso sobre a definição de indicadores, pelas suas variações de acordo com os grupos e seus interesses e sua aplicação, de acordo com Jannuzzi (2004). A ideia desta análise é apontar a importância da possibilidade de reflexão sobre o uso dos indicadores de forma analítica, principalmente quando se relaciona com o espaço urbano.

Como aponta Bellen (2005, p. 46), os indicadores são utilizados segundo a sua importância e encontram-se em escala voltada à necessidade de quem os usa e elabora e, em muitas situações, essas graduações não são apropriadas, contribuindo com os equívocos e distorções da realidade urbana. Uma crítica aos indicadores como forma de entender o espaço está condicionada à falta de sistematização e relação com o tema de forma isolada, sem o conjunto de agregados que interfere direta ou indiretamente no tema estudado.

A crítica fundamental aos indicadores é aquela que segue uma tendência sem relacionar os fatores que podem interferir no resultado no tempo e no espaço, obviamente segundo os interesses que podem moldar as tendências desse resultado. Um exemplo emblemático dessa discussão pode ser resumido em apontar progresso ou retrocesso de determinado investimento ou adoção de políticas que interferem em vários níveis, principalmente nos indicadores vetoriais (BELLEN, 2005).

Na opinião de Reffestin (1993, p. 71), os indicadores também constituem uma poderosa arma de dominação e poder. Afirma que tais ferramentas são instrumentos normativos para os Estados oferecerem soluções políticas em várias ocasiões confusas. Souza (2006) ainda afirma que os indicadores podem oferecer

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soluções ainda inexistentes trazer respostas a um território dominado por sistemas políticos e ideológicos.

Bellen (2005) afirma que a realidade concebida por meio dos indicadores deve seguir a uma estratégia de estreito relacionamento entre os atores, mas faz uma menção bastante peculiar à cultura, uma vez que o autor aborda que a cultura pode dar rumos diferentes aquilo que comumente que se entende de forma simplista.

Na visão de Bellen (2005), um dos obstáculos a ser enfrentado na coerência dos indicadores é o estabelecimento de comparações de dados em nível local, regional, nacional e internacional. Ainda tratando-se do nível local, nos países pobres, incluindo o Brasil, o indicador é de extrema relevância, em virtude das desigualdades marcantes na sociedade. Os indicadores podem apontar profundas distorções, exemplificando em um bairro, por exemplo, onde podem ser observados setores providos de excelente infraestrutura, enquanto em outros a pobreza e a falta de equidade são mais pronunciadas. Nesse sentido, a crítica se estabelece ao apontar como o indicador não pode ser igual nessas duas regiões mencionadas.

De vez em quando, uma “avaliação” mal concebida ou mal executada produz informações que, no melhor dos casos, seriam enganosas e, no pior, absolutamente falsas. Embora essas ocorrências sejam raras, podem causar problemas graves. Como geralmente tem ar de respeitabilidade, essas avaliações não costumam ser questionadas, e o resultado é que decisões importantes sobre programas e serviços essenciais baseiam-se inadvertidamente em informações falaciosas.1

Jannuzzi (2004, p. 44) traz uma reflexão peculiar a respeito do indicador utilizado sem uma sistematização e a compreensão do território em sua dinâmica e sua relação com a qualidade do espaço urbano. No caso brasileiro, a citação é emblemática em virtude da frequência de indicadores inadequados que expõem situações que frequentemente são validadas como inquestionáveis e refutáveis, principalmente por governos (RAFFESTIN, 1993). Um meio eficiente para demonstrar a realidade de qualquer natureza é por meio dos indicadores, como normas internacionais que se encontram contraditoriamente desalinhadas aos desejos e necessidades humanas.

1 JANNUZZI, P.M. Painel monitoramento de programas sociais. Considerações acerca da necessidade e estruturação de sistemas de monitoramento de programas no Brasil. Brasília: Ence/IBGE, 2009

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4.4 A estrutura dos indicadores

JANUZZI (2008 apud Will, Briggs, 1995; BORJA, MORAES, 2002, p. 14) define o seguinte:

...um sistema de indicadores é um meio de prover políticas com informações, de demonstrar seu desempenho ao longo do tempo e de se realizar previsões, podendo ser utilizado para a promoção de políticas específicas e monitorização de variações espaciais e temporais de ações públicas.2

Os indicadores possuem várias classificações, sendo utilizadas de acordo com os compromissos, com a agenda de determinados atores econômicos ou sociais e de interesses pragmáticos:

4.5 – Indicadores analíticos

Como a expressão sugere, os indicadores analíticos são comumente voltados às questões sociais, como taxa de evasão escolar, taxa de mortalidade infantil, taxa de desemprego, como análises de questões sociais, como educação, saúde e trabalho.

4.6 – Indicadores sintéticos

Procuram sintetizar várias dimensões econômicas ou sociais em uma única medida, como é o caso do IDH como avaliação de condições de vida de uma sociedade. Assim, a lista aponta os indicadores sintéticos como forma de entendimento e interpretação de entendimento do espaço e suas relações:

 Indicador simples/composto  Indicador descritivo/normativo  Indicador quantitativo/qualitativo  Indicador qualitativo/quantitativo

2 JANUZZI, P.M. Indicadores sociais no Brasil. Conceitos, fontes e aplicações de dados, 2012, apud Will Brigs, 1995; Borja, Moraes, 2002, p. 14

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 Indicador insumo/fluxo/produto  Indicador fluxo/resultado

 Indicador desempenho/estoque  Indicador eficiência/eficácia/eficiência  Indicador absoluto/relativo

4.7 – A importância dos indicadores no espaço urbano

Os indicadores brasileiros não traduzem uma condição socioeconômica homogênea minimamente do ponto de vista do acesso aos serviços e riquezas nos diferentes territórios. Considerando que os indicadores apontem o nível de bem-estar da população, pode ser encarada como uma contradição do ponto de vista do entendimento, da análise ou aplicabilidade, como um dos fatores desfavoráveis do PIB apontar um baixo crescimento econômico, a classe média brasileira que subiu de 50% para 56%, segundo o IPEA (2012), mas que não representa melhores condições de vida.

Uma vez consideradas as políticas assistenciais promovidas pelos governos federal, estadual e municipal, como os Programas Bolsas Família, Minha Casa, Minha Vida, Brasil Carinhoso, programas de agricultura familiar, nota-se a migração e contingente da situação de miséria para a pobreza e desta classe média.

A complexa urbanização brasileira contribui para o desequilíbrio dos benefícios promovidos pelos indicadores. As concentrações de pobreza favorecem um espaço urbano mais pernicioso, ao passo que, se a mesma população estivesse dispersa, os impactos seriam menos visíveis e, portanto, mais acessível para sua administração (SANTOS, 2010).

Apesar da ineficiência dos indicadores para elaboração de políticas voltadas ao planejamento, ainda são consideradas ferramentas e mecanismos estratégicos para nortear as ações políticas urbanas importantes e mensurar o nível da satisfação da população, com vistas a planejar, analisar e intervir nas cidades e em instituições com intenção de apontar as carências no espaço urbano (também rural), incluindo a infraestrutura necessária, e transformar o espaço menos excludente, entendendo a cidade como espaço social em permanente processo de mudança. Esses critérios estão voltados às crescentes necessidades de viver bem,

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considerando que as cidades são reconhecidamente como o locus de conflito e de interesses de várias ordens (LEFEBVRE, 2001), mas também um espaço democrático.

Dessa forma, há uma ideia recorrente da necessidade de utilização de indicadores para auxiliar nas decisões de empoderamento3 das cidades, em

particular nas décadas de 1970 e 1980, conhecê-las melhor e tentar minimizar as análises confusas, conforme aborda Lefebvre (2001). Além disso, há uma exigência de conhecimentos mais sólidos para possibilitar os múltiplos indicadores de critérios de avaliação e análise sistematicamente utilizadas em âmbito local, regional e estadual, como a gestão de serviços vitais para o seu funcionamento, como é o caso da destinação dos resíduos sólidos, do estudo da violência nas pequenas cidades, das ações pedagógicas quanto à educação formal, distribuição de renda e esperança de vida ao nascer e, finalmente, os diversos indicadores globais, de auxílio à gestão de moradia e transporte.

Assim, os indicadores assumem importância cada vez maior como ferramentas estratégicas por muitas instituições públicas, privadas, organizações e agências internacionais, como tomada de decisões e monitoramento dos serviços urbanos, como a redução da pobreza e erradicação da miséria e ao estímulo do desenvolvimento urbano saudável.

Essa iniciativa adquiriu consistência na década de 1990, com o surgimento dos primeiros métodos de análise comparativa.

4.8 – Indicadores de composição do solo urbano

Segundo o PNUD (2012), os principais indicadores que compõem o IDH são na área da saúde (expectativa de vida), educação (taxa de escolarização combinada) e renda (PIB per capita) e seus subindicadores, como habitação, tratamento de esgoto, disponibilidade de água potável, praças, cidade para todos etc., como indicadores compostos. No entanto, existem vários indicadores a partir

3 O empoderamento das cidades, tratado na dissertação, tem a sua origem na palavra inglesa de empowerment, que significa uma ação coletiva desenvolvida por indivíduos, de suas ações coletivas, em prol de um bem comum. O empoderamento remete ao engajamento humano, em uma complexa relação de poder pelo qual se busca algo que beneficie grupos de pessoas, em uma perspectiva de consciência coletiva. No aspecto urbano, remete a um conjunto de forças de ação, descartando a possibilidade de “poder” como forma de dominação. Assim, é capaz de buscar alternativas no espaço urbano para repensar um lugar mais humanizado.

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desse índice para medir os indicadores do espaço urbano, como Índice de Pobreza Humana, saneamento básico, analfabetismo, acesso à água potável, acesso a bens e serviços de uma cidade.

O PNUD Brasil (2012) aponta que os municípios de Patrocínio (com IDH de 0,799), Três Pontas (0,733), Manhuaçu (0,776), Monte Carmelo (0,768) e Nepomuceno (0,747) não dependem da ajuda financeira do governo do Estado de Minas Gerais nem mesmo do Governo Federal, para auxiliar em suas necessidades mais básicas. Nesse sentido, os exemplos desses municípios mineiros podem servir como parâmetros de análise para estudos urbanos e a qualidade de vida da população, considerando que indicadores elevados não traduzem necessariamente qualidade de vida. Esses exemplos de municípios desenvolvem atividades terciárias sem expressão no âmbito nacional, mas que resultam em benefícios para a sua população, vivendo de modo simples com níveis de vida saudáveis. Isso leva a uma reflexão de que as indústrias não representam maior ganho nem melhores condições de vida no Brasil.

O Estado do Rio Grande do Sul possui um parque industrial que não se pode ignorar, mas é a sua vocação na agropecuária que contribui para a geração de riqueza do Estado, ocupando o 4º lugar do PIB brasileiro. Apesar de ocupar essa posição no ranking, o número de pessoas perambulando pelas ruas, sem teto, é bem menor em relação às metrópoles industrializadas, as quais contribuem de forma decisiva para a potencialização das desigualdades, segundo afirmações do PNUD (2012).

Visando melhor entendimento dos indicadores brasileiros, aliado à qualidade de vida, e, recorrendo a uma realidade externa, o gráfico 1, aponta as variações do IDH da Noruega, Chile, Brasil, Congo e Haiti ao longo de 30 anos, onde a UN aponta um cenário curioso. A Noruega, com o IDH mais alto do planeta, aponta uma tendência uniforme de crescimento com todos os índices de educação, longevidade e renda alinhados, conforme aponta o gráfico 1 Ao longo de 30 anos, o gráfico indica que a renda dos brasileiros não foi significativa, aliada à alta da inflação nas décadas de 1980 e 1990. Apesar disso, os requisitos do IDH foram bastante expressivos, puxados pela educação. A Organização das Nações Unidas classificou o Brasil na 85ª posição no ranking entre os 187 países signatários, o que revela um descompasso da qualidade em relação ao Chile, Uruguai e Argentina e que demonstra relativo atraso por falta de investimentos. O PNUD conclui também que o

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