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Os impactos jurídicos na união europeia decorrentes da decisão chinesa de não importar mais o lixo do mundo: necessidade frente ao aumento da poluição marinha

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

INGRID FORTE MOURA ROCHA

OS IMPACTOS JURÍDICOS NA UNIÃO EUROPEIA DECORRENTES DA DECISÃO CHINESA DE NÃO IMPORTAR MAIS O LIXO DO MUNDO: NECESSIDADE

FRENTE AO AUMENTO DA POLUIÇÃO MARINHA

FORTALEZA 2018

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INGRID FORTE MOURA ROCHA

OS IMPACTOS JURÍDICOS NA UNIÃO EUROPEIA DECORRENTES DA DECISÃO CHINESA DE NÃO IMPORTAR MAIS O LIXO DO MUNDO: NECESSIDADE FRENTE

AO AUMENTO DA POLUIÇÃO MARINHA

Dissertação apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Público.

Orientadora: Prof. Dra. Tarin Cristino Frota Mont’Alverne.

FORTALEZA 2018

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Universitária

Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

R573i Rocha, Ingrid Forte Moura.

Os impactos jurídicos na união europeia decorrentes da decisão chinesa de não importar mais o lixo do mundo : necessidade frente ao aumento da poluição marinha / Ingrid Forte Moura Rocha. – 2018. 73 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2018.

Orientação: Profa. Dra. Tarin Cristino Frota Mont’Alverne.

1. Plástico. 2. Poluição marinha. 3. Exportação. 4. China. 5. União Europeia. I. Título.

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INGRID FORTE MOURA ROCHA

OS IMPACTOS JURÍDICOS NA UNIÃO EUROPEIA DECORRENTES DA DECISÃO CHINESA DE NÃO IMPORTAR MAIS O LIXO DO MUNDO: NECESSIDADE FRENTE

AO AUMENTO DA POLUIÇÃO MARINHA

Dissertação apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Público.

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Dra. Tarin Cristino Frota Mont’Alverne (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Dra. Raquel Cavalcanti Ramos Machado

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Doutoranda Adriana Reis de Albuquerque

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À Jesus.

Aos meus pais, Júlio e Mônica. Aos meus avós, Nelson e Aldenir.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu melhor amigo e maior suporte, Jesus. Só eu e Ele sabemos da relação maravilhosa que temos e de tudo que passamos, sempre juntos, para chegarmos até aqui.

Ao meu pai, Júlio, que, por ser a pessoa mais inteligente, estudiosa e trabalhadora que conheço, tornou-se primordial para que eu pudesse continuar na minha caminhada rumo ao sucesso profissional mesmo quando a vida me apresentava obstáculos que pareciam insuperáveis.

À minha mãe, Mônica, que com seu amor, carinho e sabedoria, sempre me deu os melhores conselhos e sempre foi o melhor ombro amigo que pude ter o privilégio de possuir.

Aos meus avós, Nelson e Aldenir, por serem as melhores pessoas que já conheci. Aos meus avós Nozinha e Neném Bento, que, por criarem 9 filhos bem sucedidos, são o meu maior exemplo de superação, de força e de determinação.

Ao meu irmão, Julinho, que, mesmo sem falar muito, exala bondade e pureza. À Ollie, por ser carinho, amor, consolo, paz e amizade em forma de animalzinho e por me acalmar nos meus dias mais difíceis.

Ao meu namorado, Thales, por tornar a minha vida leve e prazerosa e por viver essa jornada comigo.

À minha orientadora, Profa. Dra. Tarin Mont’Alverne, que, além de ter sido uma excelente mentora, abriu portas para mim quando eu estava completamente perdida sem saber qual rumo profissional seguiria, tornando-se meu maior modelo na área em que pretendo atuar.

Às participantes da banca examinadora Profa Dra. Raquel Machado e Procuradora e doutoranda Adriana Albuquerque por terem aceitado contribuir intelectualmente com a minha pesquisa e por fazerem parte do grupo restrito de pessoas que cooperam para proteger o meio ambiente em que vivemos.

Às minhas amigas irmãs Camila, Beatriz, Mariana e Amanda, que me acompanharam em todas as minhas fases e que sempre viveram as minhas conquistas como se fossem delas.

A todos os amigos que fiz durante o curso de direito, principalmente Rodolfo, Beatriz, Caio, Gabriel e Hannah, por compartilharem medos, anseios e preocupações, mas também por sempre estarem presentes nos momentos de felicidade e de conquistas.

E, por fim, à Faculdade de Direito e a todo o seu corpo docente, por terem me transformado e me feito crescer de uma maneira que eu nunca pude imaginar que aconteceria.

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“Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas, sem ele, o oceano seria menor.”

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RESUMO

Desde o desenvolvimento das primeiras cidades, os resíduos produzidos pelos seres humanos são depositados no meio ambiente e o principal ecossistema afetado é o ambiente marinho. A poluição marinha foi crescendo gradativamente na medida em que os países não investiam nos seus sistemas de gestão de resíduos sólidos ou na criação de legislações que dificultassem a sua produção. Em detrimento de tais ações, preferiu-se incentivar o mercado de importação e exportação de resíduos plásticos, ocasionando ainda mais danos ambientais, uma vez que os países que recebiam os resíduos não tinham infra-estrutura para lidar com seu descarte. Acontece que, em 2018, a China, principal país importador de resíduos plásticos, decidiu banir este tipo de importação no seu território, gerando diversos impactos econômicos e jurídicos no planeta. Este trabalho objetiva analisar e relacionar esta decisão chinesa com a mudança abrupta e imediata da estratégia da Uniao Europeia para lidar com os resíduos plásticos produzidos em seu território, comparando os documentos regionais elaborados ao longo dos anos e expondo as possíveis conseqüências desta mudança.

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ABSTRACT

Since the development of the first cities, the waste produced by humans is deposited in the environment and the main ecosystem affected is the marine environment. Marine pollution has been growing steadily as countries have not invested in their solid waste management systems or in the creation of legislation that would hinder their production. To the detriment of such actions, it was preferred to encourage the market of import and export of plastic waste, causing even more environmental damage, because the countries that received the waste had no infrastructure to deal with their disposal. In 2018, China, the main importing country of plastic waste, decided to ban this type of imports in its territory, generating several economic and legal impacts on the planet. This paper aims to analyze and relate this chinese decision with the abrupt and immediate change of the strategy of the European Union to deal with the plastic waste produced in its territory, comparing the regional documents elaborated over the years and exposing the possible consequences of this change.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1  Quantidade, em bilhões de euros, de plástico manufaturado exportado e importado na União Européia de 2012 a 2016 ... 34 Gráfico 2  Quantidade de plástico importado pela China em 2012... 37 Gráfico 3  Quantidade de plástico importado para no mundo de 1990 a 2018... 44 Gráfico 4  Quantidade de plástico manufaturado exportado da União Europeia para a

China em 2016... 45 Gráfico 5  Hierarquia da gestão de resíduos... 53

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UE União Europeia

EUA Estados Unidos da América

ANUMA Assembléia do Meio Ambiente das Nações Unidas

GESAMP Grupo de Peritos sobre Aspectos Científicos da Poluição Marinha FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura

IUCN União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais OMI Organização Marítima Internacional

CDB Convenção sobre Diversidade Biológica ONU Organização das Nações Unidas

POP Poluentes Orgânicos Persistentes EC Economia Circular

LPA Lei de Proteção Ambiental

LPCPARS Lei de Prevenção e Controle da Poluição Ambiental por Resíduos Sólidos OMC Organização Mundial do Comércio

BIR Escritório de Reciclagem Internacional AEA Agência Europeia do Ambiente

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 14

2 O AUMENTO DA POLUIÇÃO MARINHA CAUSADO PELA PRODUÇÃO DE RESÍDUOS PLÁSTICOS... 17

2.1 Os detritos marinhos e seus impactos negativos no planeta Terra...18

2.2 A precariedade dos sistemas de gestão de resíduos plásticos... 29

2.3 O problema de adotar a exportação como uma solução alternativa...32

3 A DECISÃO DA CHINA DE NÃO IMPORTAR MAIS RESÍDUOS PLÁSTICOS NÃO-INDUSTRIAIS E OS SEUS IMPACTOS NA INDÚSTRIA DO PLÁSTICO E NO MEIO AMBIENTE ... 36

3.1 O histórico da gestão e da importação de resíduos plásticos na China...36

3.2 O Green fence e a proibição permanente...40

3.3 As conseqüências mundiais das restrições implementadas... 42

4 A PREMÊNCIA DA RESTRUTURAÇÃO JURÍDICA NA UNIÃO EUROPEIA FRENTE À DECISÃO CHINESA... 50

4.1 O Histórico da regulamentação da gestão de resíduos plásticos na UE...50

4.2 A nova abordagem do problema e a sua provável efetividade...56

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...66

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14 1 INTRODUÇÃO

Diante do progresso da tecnologia, da domesticação de animais, da intensificação das práticas agrícolas e da invenção das máquinas movidas a carvão, verificou-se o aumento da produção de resíduos sólidos e líquidos e, consequentemente, do seu despejo no meio ambiente. Posteriormente, com a implantação da sociedade de consumo, o consumo excessivo culminou em graves impactos ambientais, colocando em vulnerabilidade a proposta da sustentabilidade, gerando resíduos em excesso e dificultando o gerenciamento ambientalmente adequado destes, tendo a questão da poluição marinha se tornado um problema a níveis regional, nacional e internacional.

Dessa forma, a presença de itens plásticos em praias e em oceanos de todo o mundo se tornou uma preocupação típica do pós II Guerra Mundial e passou a ser estudada desde a década de 1970, quando surgiram os primeiros relatos sobre manchas de lixo de plástico nos oceanos Atlântico e Pacífico.

Independente da sua fonte, os detritos marinhos causam enormes danos, uma vez que são extremamente prejudiciais para a vida marinha. As suas formas maiores, como sacolas plásticas e redes, podem engasgar e prender animais, já as suas formas menores podem ser ingeridas por seres vivos, afetando a saúde dos que as ingerem, assim como dos outros animais nos níveis acima da cadeia alimentar.

Segundo geólogos, arqueólogos, geoquímicos, oceanógrafos e paleontólogos, desde 1950 as atividades humanas causam alterações nos processos geológicos da Terra, modificando o ritmo de desgaste de rochas e formando um sedimento artificial de lama e areia com grãos de materiais sintéticos, em especial o plástico, decorrentes do lixo produzido pelo ser humano. Ademais, esta poluição também interfere, através de uma longa cadeia de causa e efeito, diretamente na vida e na saúde humana, já que os microplásticos, ao serem ingeridos por peixes e crustáceos, liberam toxinas nos organismos marinhos, que são colhidos e consumidos pelos seres humanos.

Além de atingir a terra e o seu ecossistema, o plástico também tem uma enorme influencia negativa na economia. Detritos plásticos degradam as praias do mundo tanto ambiental quanto economicamente, contaminando ecossistemas costeiros, deprimindo valores de propriedade, impondo custos de limpeza, desestimulando o turismo e prejudicando a pesca comercial a as indústrias de transportes.

Dessa forma, paralelamente ao desenvolvimento tecnológico, social e ao aumento do consumo da sociedade, houve um crescimento desenfreado na produção e no uso de produtos

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15 compostos por materiais que não se degradam no meio ambiente, o que ocasionou uma expansão exponencial na poluição marinha, gerando desastres ambientais, matando e ameaçando de extinção diversos animais e prejudicando a saúde do ser humano, a economia dos países e até a composição geológica do planeta.

No entanto, os governos dos países, ao invés de aperfeiçoarem seus sistemas de resíduos sólidos e de incentivarem a diminuição da produção e do uso do plástico, recorreram a alternativas mais econômicas e menos dificultosas para lidar com esses resíduos, como retirá-los, por meio da exportação, dos seus territórios. Nações mais desenvolvidas, que possuíam um melhor sistema de gestão de resíduos sólidos, continuaram mandando os seus detritos plásticos para países que ainda estavam desenvolvendo a sua infra-estrutura de gestão de resíduos, resultando, assim, em um enorme número de materiais não reciclados e depositados no meio ambiente. A UE, por exemplo, se tornou a maior exportadora de resíduos plásticos do planeta, totalizando 31% das exportações globais destes resíduos em 2016. Já a China, devido ao seu tamanho e rápido desenvolvimento financeiro, se tornou um ator dominante no mercado global de reciclagem, principalmente de plásticos, papel e metais, ocupando a posição de maior importadora do mundo.

Sobrevém que, com o passar do tempo, foram-se produzindo cada vez mais resíduos plásticos internamente no território chinês, de forma que a oferta de materiais plásticos primários (oriundos do processo de reciclagem) se tornou maior que demanda das indústrias para a produção de produtos finais. Além disso, a qualidade dos resíduos importados diminuiu drasticamente, e, como a fiscalização do descarte destes materiais que eram classificados como inutilizáveis pelas indústrias era precária, o seu depósito no meio ambiente aumentou significativamente, prejudicando, principalmente, os mares e oceanos e obrigando do governo chinês a tomar medidas drásticas para impedir a entrada de mais resíduos plásticos no país, tendo esta sido proibida a partir de 2018.

Este trabalho objetiva, portanto, analisar os efeitos, tanto econômicos como jurídicos, causados por esta decisão no mundo, principalmente na União Europeia, e as suas possíveis soluções, já que, por ser uma deliberação extremamente atual, não se sabe ao certo quais as suas consequências para o mundo, uma vez que tal tema ainda não é objeto de muitas pesquisas.

São apresentados os impactos significantes no mercado de exportação e importação de resíduos plásticos e os riscos à proteção dos mares e oceanos que serviram de alerta para os governos e organismos internacionais para a necessidade de mudanças nas legislações internas dos países exportadores, na medida em que, agora que a China havia se cansado de

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16 ser a lixeira do mundo, a possibilidade do depósito dos resíduos plásticos no meio ambiente se tornava ainda mais latente.

Através da pesquisa explicativa tanto bibliográfica, principalmente de artigos de revistas internacionais renomadas, à exemplo da Science Advances e da Science of the Total Environment, como documental, coletada de decisões internacionais, como convenções e acordos e, sobretudo, de documentos produzidos pelo Parlamento e pelo Conselho da União Europeia, relaciona-se os impactos ambientais e econômicos já sentidos na UE, apontando, posteriormente, as possíveis hipóteses de soluções consideradas pelos governos dos países, sendo delimitada duas como principais: a) a mudança do principal destino de importação da China para outros países em desenvolvimento, como Vietnã, Taiwan e Tailândia e b) a adoção de medidas legais sustentáveis que possibilitem o desenvolvimento da capacidade doméstica de recuperação, de triagem, de reciclagem e de tratamento de resíduos e que dificultem a produção e o uso de produtos plásticos.

Destaca-se, ademais, que a hipótese da solução de transferir o destino do lixo acarretará em diversas conseqüências negativas, como no aumento da poluição marinha mundial, defendendo-se, dessa forma, a adoção da hipótese de solução sustentável e econômica para que sejam adaptados, através da elaboração de medidas legais, os sistema de gestão de resíduos sólidos nos países, assim como para que haja a redução da produção e do uso indiscriminados de materiais que se tornem, ao final da sua vida útil, resíduos plásticos. Verifica-se que este tipo de proibição de importação poderá ocorrer a qualquer momento em qualquer país que se torne o principal importador e que a adoção de um comportamento sustentável trará diversas conseqüências positivas para o mundo, como a diminuição da poluição marinha, a restauração dos ecossistemas danificados, a melhoria da saúde humana e a diminuição dos prejuízos econômicos causados pelo descarte inadequado de detritos.

Por fim, traça-se uma comparação dos documentos jurídicos produzidos pelo Conselho e pelo Parlamento Europeus relacionados com resíduos sólidos antes da decisão chinesa com os elaborados depois de tal decisão, chegando-se a conclusão de que houve uma grande mudança na forma como se enfrentava o problema da poluição marinha, já que agora a estratégia é adotar medidas que não se tratem apenas de conselhos a níveis locais, mas que uniformizem, implantem e fiscalizem métodos mais rígidos e mais eficazes, tanto com a alteração das legislações nacionais, como com a implementação de restrições e proibições sobre a produção e o uso do plástico, adotando metas mais ambiciosas e interferindo na política interna e, principalmente, externa da UE, ao influenciar o resto do mundo a tornar tais medidas suas metas primordiais.

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18 2 O AUMENTO DA POLUIÇÃO MARINHA CAUSADO PELA PRODUÇÃO DE RESÍDUOS PLÁSTICOS

Quase três quartos do planeta Terra são cobertos por água e quase metade destas águas se trata de região oceânica, ou seja, cerca de 70% do planeta terra é coberto por oceanos e mares, que, desde a sua origem , há cerca de quatro bilhões de anos, mantiveram a sua salinidade e composição química em um nível ideal para o aparecimento e a prosperidade das mais diversas formas de vida.1

Os elementos químicos e a composição física dos oceanos atuam de maneira significativa nos organismos e na própria estrutura dos seus ecossistemas, influenciando, dessa forma, nas mudanças globais, dentre elas nas variações climáticas de médio e longo prazo e na disponibilidade de recursos vivos e não vivos. No entanto, ao longo dos anos, alterações nesta composição química e física, resultantes de ações antropofágicas, afetaram a biosfera e a evolução da vida nos ambientes marinhos. A poluição dos mares e dos oceanos tem aumentado gradativamente, de forma que se tornou uma preocupação cada vez maior dos cidadãos e dos governos, já que, além de interferir de forma significativa nos ecossistemas terrestres e marinhos, prejudica a saúde dos seres humanos.2

Os problemas associados às ações desenvolvidas pelo homem, incluindo a contaminação das águas, surgiram quando as pessoas se estabeleceram permanentemente em uma dada área e formaram as primeiras sociedades. Com o progresso da tecnologia, a domesticação de animais e a intensificação das práticas agrícolas, a quantidade de resíduos produzidos se expandiu, resultando na contaminação do ambiente. A extensão do problema ampliou-se proporcionalmente ao crescimento das cidades, já que nos últimos 300 anos a população mundial aumentou dez vezes, atingindo mais de sete bilhões de habitantes3, o que

provocou o crescimento per capita do uso de energia, da exploração dos recursos naturais e da produção de resíduos sólidos e efluentes líquidos.

A Revolução Industrial, entre 1840 e 1870, por sua vez, contribuiu para o incremento do uso de recursos naturais e para a deterioração da qualidade do ambiente devido à invenção das máquinas movidas a carvão e ao aumento na produção de resíduos sólidos e líquidos despejados no meio ambiente. Posteriormente, na segunda metade do século XX, a sociedade

1HATJE, Vanessa; COSTA, Mônica Ferreira da; CUNHA, Letícia Cotrim da. Oceanografia e química: unindo conhecimentos em prol dos oceanos e da sociedade. Química Nova, Vol. 36, No. 10, p. 1497-1508. 2013.

2 Ibid.

3 UNITED STATES CENSUS BUREAU. US and world population clock. 2018. Disponível em: <http://www.census.gov/popclock/>. Acesso em 17 de Julho de 2018.

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19 foi estimulada, pela demanda do mercado, a satisfazer seus desejos de consumo para atingir a felicidade, sedimentando a mercantilização das necessidades.

Com a implantação da sociedade de consumo, a partir dos anos 1920, o mercado desenvolveu uma espécie de consumidor que, diante da vastidão de opções que lhes eram oferecidas, demonstrou-se instável, inflexível e imprevisível em seus gostos e em suas compras. Esta cultura do excesso e do luxo desnecessário desequilibrou ainda mais os recursos naturais, na medida em que o incentivo ao prático e ao descartável proporcionou o desperdício, e, a partir dessa sociedade tecnológica e globalizada, a destruição de florestas, a poluição das águas, a redução significativa de espécies de animais, dentre outros. Assim, o consumo excessivo culminou em graves impactos ambientais, colocando em vulnerabilidade a proposta da sustentabilidade, gerando resíduos em excesso e dificultando o gerenciamento ambientalmente adequado.4

Em razão desse aumento desenfreado do nível de produção de resíduos e, consequentemente, da alteração na composição química e física da água do mar, a questão da poluição marinha se tornou um problema a níveis regional, nacional e internacional, e mobilizou organizações internacionais, governos, ONG’s, entre outras entidades, que começaram a se unir para combater este revés e para criar medidas que visassem frear a expansão do nível de contaminação, uma vez que tal aumento tem efeito direto na biodiversidade, na provisão de alimentos, no turismo e no ciclo do carbono nos oceanos.

Assim, analisa-se, neste capítulo, as consequências ambientais decorrentes do uso e da produção inconscientes e desmedidos de produtos plásticos pela sociedade moderna, examinando, ainda, as formas encontradas para lidar com os resíduos produzidos e as possíveis soluções consideradas e utilizadas.

2.1 Os detritos marinhos e seus impactos negativos no planeta Terra

As alterações nas composições química e física dos oceanos que afetaram a biosfera e a evolução da vida nos ambientes marinhos são decorrentes da produção, do uso e do descarte inadequado no mar de diferentes materiais sólidos e semi-sólidos. Os detritos marinhos consistem, portanto, em materiais sólidos manufaturados ou processados, como

4EDUARDO, Thales José Pitombeira. A consciência, o incentivo e o método como instrumentos de promoção da sustentabilidade a partir da ruptura do modelo de desenvolvimento econômico clássico: viabilizando a gestão energética dos resíduos decorrentes do consumismo. 2015. 152 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2015.

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20 plástico, vidro, metal e madeira, que terminam no ambiente marinho de uma forma ou de outra.5

Tais detritos possuem diferentes formas e fontes. As formas variam em tamanho, desde grandes containeres despejados juntamente com seu conteúdo no mar por navios mercantes, até partículas microscópicas de plásticos e de fibras de vidro. Já as fontes podem ser marítima, como cargas de embarcações perdidas por causa de alterações climáticas ou resíduos descartados no mar por passageiros e tripulantes de cruzeiros, e terrestre, a exemplo de consumidores que descartam lixo não biodegradável, como sacolas plásticas.6

Cerca de 80% dos detritos encontrados no ambiente marinho provêm de atividades terrestres. A fonte de lixo marinho, no entanto, não se limita necessariamente às atividades humanas ao longo da costa, nas quais os resíduos são depositados diretamente no mar, pois, mesmo quando estes são descartados em terra, rios, inundações e até mesmo o vento os transportam para o mar. Já os outros 20% dos detritos são provenientes de atividades de pesca, transportes, instalações off-shore, como plataformas de petróleo, sistemas de esgoto etc. Aproximadamente 10 milhões de toneladas de lixo acabam nos mares e nos oceanos do mundo anualmente.7 Só na União Europeia (UE), entre 150 mil e 500 mil toneladas de

plástico e 75 mil a 300 mil toneladas de microplástico são depositados nos mares a cada ano.8

Em 2012, a Ocean Conservancy's International Coastal Cleanup, através de mais de 561.000 voluntários em 97 países, coletou mais de 4 milhões de quilogramas de poluição ao longo de 17.700 milhas de costa. O relatório aponta os dez principais poluentes encontrados, como cigarros e seus filtros, invólucros e recipientes para alimentos, garrafas de plástico, sacos de plástico, tampas, talheres de plástico, canudos, garrafas de vidro, latas de bebidas e sacolas de papel. Já nas praias de ilhas remotas, notou-se uma preponderância de detritos relacionados com a indústria pesqueira, como redes, bóias, cordas e linha, além de bens de consumo duráveis, a exemplo de sapatos, escovas de dentes, baldes, caixas, garrafas, tampas e outros objetos de plástico duro, de brinquedos a alças de guarda-chuva.9

Apesar de haver preocupações legítimas com a presença de todos os diferentes tipos de detritos nos ecossistemas marinhos, a classe de poluentes que mais recebe atenção,

5HATJE, Vanessa; COSTA, Mônica Ferreira da; CUNHA, Letícia Cotrim da. Oceanografia e química: unindo conhecimentos em prol dos oceanos e da sociedade. Química Nova, Vol. 36, No. 10, p. 1497-1508. 2013

6DYE, Ciera. The Pelagic Plastic Problem. Ocean & Coastal LJ, v. 19, p. 117, 2013.

7EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY. Litter in our seas. Disponível em

<https://www.eea.europa.eu/signals/signals-2014/close-up/litter-in-our-seas#tab-related-briefings> .Acesso em 20 de agosto de 2018.

8 EUROPEAN COMMISSION. A European Strategy for Plastics in a Circular Economy. Documento da

Comissão Européia número SWD(2018) 16 final. Bruxelas, 16.01.2018

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21 por compor três quartos de todos os detritos marinhos, é o plástico, um poluente persistente e potencialmente perigoso.10 Estima-se que 80 a 85% dos materiais antropogênicos encontrados

nos mares e oceanos sejam produtos plásticos.Os plásticos de uso único representam cerca de 50% de todos os itens de lixo marinho encontrados nas praias da Europa, enquanto materiais de pescas que contém plástico representam 27%.11

Incluem-se nesse grupo genérico dos plásticos todas as substancias sintéticas derivadas do petróleo, que são transformadas em objetos de inúmeras formas, utilidades e tamanhos através de moldagem e de outros processos industriais, como os plásticos propriamente ditos, isopor, fibras sintéticas, borrachas, espumas, entre outros.12

Ao longo dos anos, o plástico, por ser um material de baixo valor e versátil, tornou-se presente em todos os aspectos da vida humana, aumentando o número de resíduos plásticos produzidos e, consequentemente, a poluição nos oceanos ocasionada pelo descarte inadequado destes.13

No ano de 1950 foram produzidas 2 milhões de toneladas deste material, enquanto, em 2015, 322 milhões. Um total cumulativo de 8,3 bilhões de toneladas de plástico foi produzido pelo mundo até o ano de 2017. Em razão dos produtos fabricados por esta substância, normalmente, serem utilizados somente uma vez, a maior parte do lixo global das praias é composto por eles.14

A globalização das indústrias de plásticos, em 1950, tornou mais difícil para os estados impedirem a poluição dos oceanos. A fita adesiva foi um dos primeiros itens de consumo feitos de plástico, posta à venda em 1930 nos Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial, meias de nylon e pára-quedas foram outros materiais produzidos, o que demonstrou a versatilidade do plástico. No final da década de 1940 fabricantes estavam moldando plástico em escovas de dentes, registros e Tupperware, e nos anos 50 e 60 em sacolas, roupas e brinquedos, como bonecas. Em 1970, a produção de plástico havia subido para 35 milhões de toneladas. Já em 1970, sacolas de plástico começaram a ser utilizadas nos

10 UNITED NATIONS NEWS. New UN report finds marine debris harming more than 800 species, costing

countries millions. Disponível em < https://news.un.org/en/story/2016/12/547032-new-un-report-finds-marine-debris-harming-more-800-species-costing-countries > Acesso em 20 de agosto de 2018.

11 EUROPEAN COMMISSION. Proposal for a Directive of the European Parliament and of the Council on

the reduction of the impact of certain plastic products on the environment. Documento da Comissão Européia número SWD(2018) 254 final. Bruxelas, 25.05.2018.

12 Coe, J. M.; Rogers, D. B. Marine Debris: sources, impacts and solutions. Springer-Verlag: New York,

2000.

13DYE, Ciera. The Pelagic Plastic Problem. Ocean & Coastal LJ, v. 19, p. 117, 2013.

14 BROOKS, Amy L.; WANG, Shunli; JAMBECK, Jenna R. The Chinese import ban and its impact on global plastic waste trade. Science Advances, v. 4, n. 6, p. eaat0131, 2018.

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22 caixas de supermercado dos Estados Unidos da América (EUA).15

A presença de itens plásticos em praias e em oceanos de todo o mundo é, portanto, uma preocupação típica do pós II Guerra Mundial e é estudada desde a década de 1970, quando surgiram os primeiros relatos sobre manchas de lixo de plástico nos oceanos Atlântico e Pacífico.1617

No oceano, uma combinação de forças atmosféricas, hidrológicas e solares torna os termoplásticos quebradiços, causando a sua separação em pedaços cada vez menores. O plástico requer mais tempo para se degradar neste tipo de ambiente, pois a água fria, a baixa concentração de oxigênio e a ausência de luz solar inibem o processo. Não se chegou, ainda, a um consenso sobre quanto tempo é necessário para a completa degradação deste material, mas acredita-se que esta nunca ocorrerá, pois todo plástico convencional que já foi introduzido no ambiente permanece não degradado, ou como itens inteiros ou como fragmentos.

Independente da sua fonte, os detritos marinhos causam enormes danos, uma vez que são extremamente prejudiciais para a vida marinha. As suas formas maiores, como sacolas plásticas e redes, podem engasgar e prender animais, já as suas formas menores podem ser ingeridas por seres vivos, afetando a saúde dos que as ingerem, assim como dos outros animais nos níveis acima da cadeia alimentar, incluindo seres humanos.18

Muitas espécies, incluindo focas, golfinhos e tartarugas marinhas se emaranharam em detritos de plástico, redes de pesca e linhas perdidas no mar. A maioria dos animais emaranhados não sobrevive, pois não consegue chegar até a superfície da água para respirar, escapar de predadores ou se alimentar.19 O entrelaçamento reduz, ainda, a aptidão do animal,

aumentando a quantidade de energia necessária para ele se locomover, podendo causar morte por afogamento ou por estrangulamento.

Já os microplásticos, pedaços de plásticos, normalmente com menos de 5mm, que podem ser involuntariamente formados através do desgaste de peças maiores de plástico,

15DAUVERGNE, Peter. Why is the global governance of plastic failing the oceans?. Global Environmental Change, v. 51, p. 22-31, 2018.

16 HATJE, Vanessa; COSTA, Mônica Ferreira da; CUNHA, Letícia Cotrim da. Oceanografia e química: unindo conhecimentos em prol dos oceanos e da sociedade. Química Nova, Vol. 36, No. 10, p. 1497-1508.

17 HOHENBLUM, P.; LIEBMANN, B.; LIEDERMANN, M. Plastic and Microplastic in the Environment.

Environment Agency Austria, Vienna. 2015.Disponível em

<http://www.umweltbundesamt.at/fileadmin/site/publikationen/REP0551.pdf> . Acesso em 16 de Agosto de 2018.

18 GUTOFF, Jonathan M. Attaching Domestic Assets to Remedy High Seas Pollution: Rule B and Marine

Debris. Roger Williams UL Rev., v. 22, p. 432, 2017.

19EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY. Litter in our seas. Disponível em

<https://www.eea.europa.eu/signals/signals-2014/close-up/litter-in-our-seas#tab-related-briefings> .Acesso em 20 de agosto de 2018.

(23)

23 incluindo tecidos sintéticos, ou deliberadamente fabricados e adicionados a produtos para uma finalidade específica, como esferas em esfoliantes faciais ou corporais, podem ser ingeridos por animais, incluindo peixes e crustáceos e, consequentemente, consumidos por seres de níveis acima na cadeia alimentar.20

Na década de 1990, foi encontrada próximo ao New Orleans Audubon Zoo uma tartaruga com um anel de plástico de gargalo de jarra de leite preso na cintura. A constrição do anel de plástico impediu a concha e as vértebras de se desenvolverem, resultando em uma forma de ampulheta da carapaça. Essa deformidade demonstrou, além da gravidade dos danos causados pelo plástico ao meio ambiente, a durabilidade deste material, despertando nas pessoas a preocupação com o perigo dos detritos marinhos. Além deste caso, existem inúmeros outros relatórios de necropsia e observações de emaranhamento de tartarugas marinhas.21

Resíduos marinhos de plástico também causam danos ambientais mais visíveis. A exposição ao material em si pode direta ou indiretamente acelerar a morte de um animal através da infecção de feridas externas causadas pelo emaranhamento ou de feridas internas após a ingestão acidental. 22

A ingestão de plásticos prejudica a saúde digestiva dos animais, interferindo nos processos fisiológicos normais através do bloqueio do trato digestivo e do deslocamento de alimentos. A acumulação de detritos plásticos no sistema digestivo de um animal também pode induzir nele sentimentos de saciedade, reduzindo o seu desejo de se alimentar, e causando a sua morte por inanição. A ingestão de plástico também prejudica a capacidade reprodutiva das espécies, diminuindo os níveis de hormônios esteróides e retardando a ovulação.23

A primeira incidência registrada de ingestão plástica foi por uma ave marinha na década de 1960. Desde então o aumento da fabricação e do consumo de plástico resultou em um crescimento na taxa de ingestão de plástico pelas aves. Como acontece com a maioria dos outros animais, as consequências da ingestão de plástico para as aves podem ser tanto letais quanto subletais. As aves marinhas que carregam grandes quantidades de plástico no seu aparelho digestivo são incapazes de acumular depósitos de gordura porque comem menos devido a uma falsa sensação de saciedade. A ingestão de plástico começa tragicamente no

20EUROPEAN CHEMICALS AGENCY. Microplastics. 2018. Disponível em

<echa.europa.eu/hot-topics/microplastics>. Acesso em 21 de Agosto de 2018.

21ERIKSEN, Marcus. The plastisphere-the making of a plasticized world. Tul. Envtl. LJ, v. 27, p. 153, 2013. 22DYE, Ciera. The Pelagic Plastic Problem. Ocean & Coastal LJ, v. 19, p. 117, 2013.

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24 início do ciclo de vida das aves, pois os indivíduos adultos que ingerem o plástico retornam aos seus ninhos e regurgitam as partículas para os seus filhotes.Hoje mais de 100 espécies de aves marinhas são conhecidas por sofrerem os danos associados a detritos marinhos. Esse fenômeno não ocorre somente em razão das aves se alimentarem indiscriminadamente, ingerindo qualquer coisa que pode se assemelhar a sua comida natural, mas é, também, resultado da larga escala de produção global de plástico e da má administração de seus resíduos.24

Grande parte da alimentação que ocorre no oceano é indiscriminada, significando que os animais comem todos os objetos de tamanho ingerível.

A semelhança do plástico com alimentos, em cor, forma ou presença de biofilmes, é o mecanismo que conduz a vida selvagem a ingeri-lo. Esta alimentação indiscriminada associada ao acúmulo crescente de detritos marinhos de plástico resultou em um fenômeno preocupante em que os corpos de quase todas as espécies marinhas contêm plástico.25

Em 1994 foi realizado um estudo com 50 tartarugas marinhas capturadas na costa da Flórida que revelou que 32% delas haviam ingerido plástico. Acredita-se que as tartarugas marinhas confundem sacolas plásticas flutuantes com águas-vivas e as ingerem inteiras, causando a sua morte ou prejudicando a sua flutuação e a sua mobilidade. Baleias, peixes-boi e botos também confundem sacolas plásticas e suas partes degradadas com presas. Outros mamíferos, como focas e leões-marinhos, demonstram uma perigosa curiosidade por detritos de plástico flutuantes. Um estudo realizado no Giro Central do Pacífico Norte em 2010 confirmou que mesmo peixes pequenos ingerem plástico e que aproximadamente 35% dos 670 peixes examinados tinham peças de plástico no seu organismo. 26

Em 2005, a Assembléia Geral da ONU chamou atenção especificamente para os detritos marinhos, apontando a falta de informações e dados sobre a questão,27 fazendo-o

novamente em 2012, através do documento final intitulado "O futuro que queremos",28 que

reconheceu o efeito negativo da poluição do plástico na saúde dos oceanos e mares e na biodiversidade marinha.

Resoluções sobre o assunto também foram aprovadas nas três primeiras reuniões da Assembléia do Meio Ambiente das Nações Unidas (ANUMA) em 2014, 2016 e 2017. A

24DYE, Ciera. The Pelagic Plastic Problem. Ocean & Coastal LJ, v. 19, p. 117, 2013.

25ERIKSEN, Marcus. The plastisphere-the making of a plasticized world. Tul. Envtl. LJ, v. 27, p. 153, 2013. 26DYE, Ciera. The Pelagic Plastic Problem. Ocean & Coastal LJ, v. 19, p. 117, 2013.

27ASSEMBLY, UN General. Fifty-fourth Session Agenda, Results of the Review by the Commission on

Sustainable Development of the Sectoral Theme of ‘Oceans and Seas', Report of the Secretary-General, A/54/429, 30 September, p. 252. 1999.

28ASSEMBLY, UN General. The Future we want (Resolution adopted by the General Assembly on 27 July 2012). The United Nations, p. 53, 2012.

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25 poluição marinha sob a forma de plásticos e microplásticos também foi incluída na primeira Conferência dos Oceanos das Nações Unidas em junho de 2017.29

Desde 2015, a liberação de microplásticos tem sido o foco dos relatórios publicados pelo Grupo de Peritos sobre Aspectos Científicos da Poluição Marinha (GESAMP),30 pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO)31

e pela União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN)32.

Em 2016, as partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica adotaram maneiras de prevenir o lixo marinho (COP XIII / 10) e publicaram um relatório sobre seus impactos na biodiversidade marinha e costeira33, enquanto a Organização Marítima

Internacional (OMI) está investigando possíveis liberações de micro e macroplásticos no ambiente marinho através de atividades que são permitidas pela Convenção de Londres e seus Protocolos.34

Também em 2016, a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) estabelecido durante a ECO-92, em 1992, sobre três bases principais – a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável da biodiversidade e a repartição justa e equitativa dos benefícios provenientes da utilização dos recursos genéticos –35 resumiu, com base no relatório Lixo Marinho: Compreendendo, Prevenindo e

Mitigando os Significativos Impactos Adversos na Biodiversidade Marinha e Costeira, que o número de espécies afetadas por resíduos marinhos aumentou de 663 para 817 desde 2012. No relatório constou, ainda, que estes tipos de resíduos, que são principalmente compostos por plástico, são uma ameaça crescente para a saúde e o bem-estar humano e que 40% dos cetáceos e 44% das espécies de aves marinhas são afetadas pela ingestão de detritos marinhos.36

29 UNITED, Nations. The Ocean Conference. New York. 2017.

30 GESAMP, Sources. Fate and effects of microplastics in the marine environment: a global assessment.

2015.

31 ORGANIZATION, Food and Agriculture. Microplastics in Fisheries and Aquaculture. 2017.

32 BOUCHER, Julien; FRIOT, Damien. Primary Microplastics in the Oceans: a Global Evaluation of

Sources, International Union for Conservation of Nature (IUCN), 2017.

33 DIVERSITY, Secretariat of the Convention on Biological Diversity. Marine Debris: Understanding,

Preventing and Mitigating the Significant Adverse Impacts on Marine and Coastal Biodiversity. Technical Series No 83. 2016.

34 ORGANIZATION, International Maritime. Review of the Current State of Knowledge Regarding Marine

Litter in Wastes Dumped at Sea under the London Convention and Protocol - Final Report. LC 38/16. 2016.

35 DIVERSITY, Secretariat of the Convention on Biological Diversity. Marine Debris: Understanding,

Preventing and Mitigating the Significant Adverse Impacts on Marine and Coastal Biodiversity. Technical Series No.83, 2016.

36 UNITED NATIONS NEWS. New UN report finds marine debris harming more than 800 species, costing

countries millions. Disponível em < https://news.un.org/en/story/2016/12/547032-new-un-report-finds-marine-debris-harming-more-800-species-costing-countries > Acesso em 20 de agosto de 2018.

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26 Além disso, foram desenvolvidas diretrizes pela Convenção de Basiléia para a gestão ambientalmente racional de todas as formas de resíduos de plástico,37 bem como

resíduos perigosos, muitos do quais contém plástico.38

Esses esforços ilustram o nível de preocupação com os impactos causados por resíduos de plástico e sinalizam uma clara intenção de encontrar oportunidades para soluções dentro do atual quadro de políticas.

A proteção da saúde humana e do meio ambiente, por exemplo, são os objetivos mais amplos da Convenção de Estocolmo e da Convenção de Basiléia. A primeira visa conseguir isso através da eliminação de poluentes orgânicos persistentes (POPs) e a última através da gestão ambientalmente saudável de todos os resíduos. Juntos, esses instrumentos fornecem uma grande oportunidade de abordar os impactos dos plásticos em todo o seu ciclo de vida, regulando os POPs que podem ser utilizados na fabricação de plásticos e o comércio internacional de resíduos.39

Os POPs são substancias químicas não facilmente degradadas que são liberadas de modo não intencional em atividades antropogênicas e que são capazes de serem transportadas por longas distancias pelo ar, água e solo e de se acumularem em tecidos gordurosos de organismos vivos, sendo, dessa forma, toxicamente preocupantes para o meio ambiente e para a saúde humana.40

Os resíduos plásticos que contém POPs são classificados como resíduos perigosos, de acordo com a Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes,41 e, caso não possuam tais substancias, são considerados perigosos somente se

satisfizerem os critérios determinados pela Convenção de Basiléia.

O movimento de detritos plásticos nos oceanos também facilita o transporte de poluentes orgânicos persistentes (POP), atuando, portanto, como um vetor na dispersão de organismos e de substâncias que colocam potencialmente em perigo a biota endêmica; acelerando a extinção de espécies em vias de extinção; e facilitando o transporte e a

37SECRETARIAT, Basel Convention. Technical guidelines for the identification and environmentally sound

management of plastic wastes and for their disposal. UNEP/ CHW.6/21. United Nations Environment Programme. 2002.

38 SECRETARIAT, Basel Convention. Technical guidelines on transboundary movements of electrical and

electronic waste and used electrical and electronic equipment, in particular regarding the distinction between waste and non-waste under the Basel Convention. UNEP/CHW.12/5/Add.1/Rev.1. 2015.

39SECRETARIAT, Basel Convention. Parties to the Basel Convention on the Control of Transboundary

Movements of Hazardous Wastes and their Disposal. 2017.

40LALLAS, Peter L. The Stockholm Convention on persistent organic pollutants. American Journal of International Law, v. 95, n. 3, p. 692-708, 2001.

41ANNEX, C. of the Stockholm Convention on Persistent Organic Pollutants. United Nations Environmental Programme, Geneva, v. 29, 2002.

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27 introdução de espécies invasivas, já que podem transportar comunidades microbianas, invertebrados e organismos maiores para regiões não nativas.

A poluição causada pelo plástico não é benigna para o meio ambiente e tem o potencial de causar danos através dos produtos químicos que o compõem. Vários poluentes orgânicos persistentes (POPs) são absolvidos pelo plástico à medida que este flutua no oceano ou que é transportado através de bacias hidrográficas e enterrado em sedimentos. Quanto menores as partículas de plástico, mais contaminantes utilizados na sua fabricação são liberados na água e maior é, também, a sua capacidade de absorção dos contaminantes do meio, como pesticidas, dioxinas, metais pesados etc. 42 Uma vez no estômago, os POPs podem ser dissolvidos e absolvidos pelo animal, devido às mudanças no seu pH e na sua temperatura corporal, podendo, portanto, agir como veneno e, dependendo da dose, enfraquecer ou matar permanentemente o animal que os ingerir.

Segundo geólogos, arqueólogos, geoquímicos, oceanógrafos e paleontólogos, desde 1950 as atividades humanas causam alterações nos processos geológicos da Terra, modificando o ritmo de desgaste de rochas e formando um sedimento artificial de lama e areia com grãos de materiais sintéticos, em especial o plástico, decorrentes do lixo produzido pelo ser humano.43

Tais alterações atingiram um nível tão elevado que os microplásticos estão sendo considerados marcadores do início de uma nova época geológica, o Antropoceno, a era dos seres humanos. Com isto, supera-se o então Holoceno, época que começou há 11.700 anos, no fim da última era glacial do planeta, a Era do Gelo.

Os microplásticos, por serem fragmentos com menos de 5 mm, são, em geral, invisíveis a olho nu quando flutuam nos oceanos ou quando se misturam com a lama ou com a areia, tendo, portanto, elevado potencial de ser preservado nos sedimentos marinhos.44

Embora flutuem no início, os pedaços de plástico que permanecem por muito tempo na água salgada podem ser colonizados por microrganismos e afundarem, além de poderem ser engolidos por organismos maiores e submergirem com suas fezes ou carcaças. O plástico já foi encontrado em diferentes profundidades no relevo submarino.45 Um estudo

coordenado pelo biólogo Alexander Turra, do IO-USP, indicou que, em 2014, havia 10 vezes

42ERIKSEN, Marcus. The plastisphere-the making of a plasticized world. Tul. Envtl. LJ, v. 27, p. 153, 2013. 43 ZALASIEWICZ, J. et al. The geological cycle of plastics and their use as a stratigraphic indicator of the

Anthropocene. Anthropocene. 18 jan. 2016.

44 IVAR DO SUL, J. A. e COSTA, M. F. The present and future of microplastic pollution in the marine

environment. Environmental Pollution. fev. 2014.

45 ZALASIEWICZ, J. et al. The geological cycle of plastics and their use as a stratigraphic indicator of the

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28 mais partículas de microplásticos enterradas na areia de uma praia do que na sua superfície. Dessa forma, percebeu-se que a crescente produção do plástico não só estava alterando o ecossistema terrestre, como também a composição física e química do planeta.46

Observa-se, portanto, que poluição marinha causa danos aos seres humanos indiretamente na medida em que destrói o ecossistema marinho, influenciando em mudanças climáticas e em desastres naturais e desequilibrando a cadeia alimentar através da extinção e da superpopulação de espécies.

Entretanto, esta poluição também interfere, através de uma longa cadeia de causa e efeito, diretamente na vida e na saúde humana. Esta cadeia começa com o acúmulo de resíduos plásticos nas bacias hidrográficas, posteriormente, estes componentes fluem para o oceano e se degradam ao longo do tempo em fragmentos do tamanho de alimentos de algumas espécies marinhas, os microplásticos, que, ao serem ingeridos por peixes e crustáceos, liberam toxinas nos organismos marinhos, que são colhidos e consumidos pelos seres humanos.

Advém que, além desta contaminação através da alimentação, há, também, a possibilidade da liberação de compostos sintéticos no corpo humano através do tato de certos produtos feitos de plástico ou da ingestão de componentes que tiveram contato com algum objeto plástico, como recipientes. Muitos elementos químicos que constituem o plástico e que lhe dão propriedade têm efeitos adversos em humanos e em outros mamíferos.47

Devido à tendência do plástico de absorver poluentes, a sua ingestão pela base da cadeia alimentar aumenta o espectro de maior toxicidade em diferentes espécies. Os animais são capazes de absorver alguns dos elementos que se acumulam nos plásticos, armazenando-os em seus tecidarmazenando-os corporais. Por conseqüência deste processo de bioacumulação, armazenando-os efeitarmazenando-os nocivos da ingestão de detritos plásticos são, portanto, mais prováveis de se concentrarem no topo da cadeia alimentar.

Em 2018, pesquisadores da Universidade de Medicina de Viena e da Agência Ambiental da Áustria monitoraram um grupo de participantes de países de todo o mundo, incluindo Finlândia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, Reino Unido e Áustria. Os resultados mostraram que cada amostra de fezes testada possuía, além de microplásticos, até nove tipos diferentes de plástico. O estudo foi realizado em oito pessoas de nacionalidades diferentes. Os participantes mantiveram um diário alimentar na semana que antecedeu a amostragem das fezes, por meio do qual observou-se que todos haviam sido expostos a

46 TURRA, A. et al. Three-dimensional distribution of plastic pellets in sandy beaches: Shifting

paradigms. Scientific Reports. 27 mar. 2014

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29 plásticos, ou ao consumir alimentos embrulhados em plástico ou ao ingerir produtos de garrafas plásticas ou ao consumir peixe do mar.48

As fezes foram testadas na Environment Agency Austria para 10 tipos de plásticos. Até nove plásticos diferentes, com tamanho entre 50 e 500 micrômetros foram encontrados, sendo o polipropileno (PP) e o polietileno tereftalato (PET) os mais comuns. Em média, os pesquisadores descobriram 20 partículas de microplástico por 10g de fezes. De acordo com o Dr. Philipp Schwabl, este é o primeiro estudo que confirma que os plásticos chegam ao intestino humano, o que é preocupante para a saúde dos indivíduos, principalmente daqueles com doenças gastrointestinais. Embora as maiores concentrações de plástico tenham sido encontradas no intestino, as menores partículas de microplástico são capazes de entrar na corrente sangüínea, no sistema linfático, podendo chegar ao fígado.49

Além de atingir a terra e o seu ecossistema, o plástico também tem uma enorme influencia negativa na economia. Detritos plásticos degradam as praias do mundo tanto ambientalmente quanto economicamente, contaminando ecossistemas costeiros, deprimindo valores de propriedade, impondo custos de limpeza, desestimulando o turismo e prejudicando a pesca comercial a as indústrias de transportes.50

Ademais dos seus custos ambientais, o lixo marinho também tem custos socioeconômicos, afetando principalmente as comunidades costeiras que dependem economicamente do turismo. Mais de 40% da população da UE que vive em regiões costeiras, por exemplo, é prejudicada economicamente pela produção de resíduos plásticos, enquanto em média, 712 itens de lixo são encontrados em uma praia de 100 metros na costa do Atlântico.51

O relatório da CDB observou que pesquisas anteriores estipularam o custo da poluição causada pelo lixo marinho em 13 milhões de dólares até 2016.Alguns dos custos incluem a reparação de danos nas embarcações, a limpeza de praias e a diminuição da arrecadação com o turismo.52Já no Reino Unido, os municípios gastam aproximadamente 18

48 Schwabl, P. et al. Assessment of microplastic concentrations in human stool – Preliminary results of a

prospective study. Presented at UEG Week 2018 Vienna, October 24, 2018.

49 Ibid.

50DYE, Ciera. The Pelagic Plastic Problem. Ocean & Coastal LJ, v. 19, p. 117, 2013. 51 EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY. Litter in our seas. Disponível em

<https://www.eea.europa.eu/signals/signals-2014/close-up/litter-in-our-seas#tab-related-briefings> .Acesso em 20 de agosto de 2018.

52 UNITED NATIONS NEWS. New UN report finds marine debris harming more than 800 species, costing

countries millions. Disponível em < https://news.un.org/en/story/2016/12/547032-new-un-report-finds-marine-debris-harming-more-800-species-costing-countries > Acesso em 20 de agosto de 2018.

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30 milhões de euros por ano em limpezas de praia.53

Dessa forma, paralelamente ao desenvolvimento tecnológico, social e ao aumento do consumo da sociedade, houve um crescimento na produção e no uso desenfreados de produtos compostos por materiais que não se degradam no meio ambiente, o que ocasionou uma expansão exponencial na poluição marinha, gerando desastres ambientais, matando e ameaçando de extinção diversos animais, prejudicando a saúde do ser humano, a economia dos países e até a composição geológica do planeta, ou seja, o ser humano, com a sua ambição e as suas ações imediatistas, gerou um problema que, agora, não consegue solucionar.

2.2 A precariedade dos sistemas de gestão de resíduos plásticos

O aumento de resíduos plásticos e a sua dispersão no ambiente marinho estão ligados tanto com o seu valor no mercado, como com as tendências sociais que influenciam o comportamento dos indivíduos. Diversos fatores contribuíram para esse crescimento, como a ampla disponibilidade deste material, a tendência do seu consumo por conveniência, a falta de incentivos para garantir uma coleta e um tratamento adequados e, consequentemente, uma má gestão dos seus resíduos.54

À nível internacional, o acordo com a maior aplicação para a gestão de plásticos é a Convenção de Basiléia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito, concluída em Basiléia, Suiça, em 22 de março de 1989.

Um dos objetivos da convenção é promover internamente nos países parte o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos perigosos e de outros resíduos, para que com isto possa ser reduzida a sua movimentação. Nesse sentido, diretrizes sobre o gerenciamento ambientalmente adequado de alguns tipos de resíduos são elaboradas e publicadas, servindo de guia para os países.55

De acordo com a Convenção da Basileia, as opções de descarte aceitáveis para resíduos plásticos incluem aterro e incineração. Foram desenvolvidas diretrizes para resíduos plásticos que versam sobre sua reciclagem, seu aterro e sua incineração, bem como para o

53 EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY. Litter in our seas. Disponível em

<https://www.eea.europa.eu/signals/signals-2014/close-up/litter-in-our-seas#tab-related-briefings> .Acesso em 20 de agosto de 2018.

54 EUROPEAN COMMISSION. Proposal for a Directive of the European Parliament and of the Council on

the reduction of the impact of certain plastic products on the environment. Documento da Comissão Européia número SWD(2018) 254 final. Bruxelas, 25.05.2018.

55 SECRETARIAT, Basel Convention. Parties to the Basel Convention on the Control of Transboundary

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31 gerenciamento de lixo eletrônico, de resíduos coletados de residências e daqueles que podem conter produtos químicos internacionalmente restritos. Este conjunto visa reduzir o volume e o potencial de danos dos plásticos que estão no final de sua vida útil.

Outro acordo internacional que aborda de maneira efetiva a gestão de resíduos é a Agenda 21, programa de ação organizado em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), que constitui a mais abrangente tentativa já realizada de promover um novo padrão de desenvolvimento, o chamado “desenvolvimento sustentável”. A Agenda, em seu capítulo 21, estabeleceu que o manejo ambientalmente saudável dos resíduos se encontrava entre as questões mais importantes para a manutenção da qualidade do meio ambiente da Terra e, principalmente, para alcançar um desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todos os países.

Além disso, apontou-se, na Agenda, que o manejo ambientalmente saudável desses resíduos precisa ir além do simples depósito ou aproveitamento por métodos seguros dos resíduos gerados, buscando resolver a causa fundamental do problema e procurando mudar os padrões não sustentáveis de produção e de consumo.

Estabeleceu-se, portanto, como objetivos de todos os países, a redução ao mínimo dos resíduos, o aumento ao máximo da reutilização e da reciclagem ambientalmente saudáveis dos resíduos, a promoção do depósito e do tratamento ambientalmente saudáveis dos resíduos e a ampliação do alcance dos serviços que se ocupam destes.56

Posteriormente, iniciaram-se as primeiras estratégias de economia circular (EC), projetadas para focar na gestão de resíduos e para incluir mais abordagens sistemáticas para toda a economia. Nos sistemas atuais de EC, os produtos são projetados para serem restaurativos e regenerativos. Os princípios da EC incluem os 3Rs (reduzir, reutilizar, reciclar), mas foram estendidos para incluir os 6Rs (reutilização, reciclagem, redesenho, remanufatura, reduzir, recuperar). A EC tem sido amplamente reconhecida e defendida pela comunidade internacional, uma vez que se acredita que ela transforme o desenvolvimento econômico tradicional de forma mais sustentável, por exemplo, os Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Reino Unido e Canadá implementaram a EC, assim como a Dinamarca, Suíça e Portugal.

No entanto, acontece que mesmo depois de estabelecidos tais diretrizes e objetivos, com a expansão da produção e do uso do plástico, pouca importância foi dada ao impacto destes nos sistemas de gestão de resíduos sólidos, que têm reagido negativamente à

56 BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudanças da Agenda 21.

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32 influência dos novos e variados materiais que entram nos seus fluxos. Pacotes plásticos e itens de uso único, por exemplo, entram no fluxo de resíduos sólidos imediatamente após o uso, contribuindo com o acumulo de 6.3 bilhões de toneladas de resíduos plásticos ao redor do mundo.57

A contenção adequada de plásticos leves, como sacolas, requer que estes sejam cobertos pelo solo ou por materiais sintéticos para impedir que sejam levados pelo vento. Tais produtos são provavelmente os maiores contribuintes para a acumulação de detritos plásticos, devido à facilidade com que escapam de aterros e entram no meio ambiente. 58 Sobrevém que, mesmo que seja realizada a contenção adequada nos aterros, este tipo de descarte é problemático, pois os plásticos demoram a se degradar e ocupam quantidades significativas de espaço, atingindo, rapidamente, a capacidade máxima do local.

Gerenciar este aumento e a quantidade de resíduos plásticos tem sido um desafio para os países, principalmente em áreas de rápido crescimento econômico e populacional. Só 9% dos resíduos plásticos são reciclados globalmente, com a maioria sendo aterrada ou contaminando o meio ambiente (80%), o que resulta em um estimado de 4 a 12 milhões de toneladas de resíduos plásticos descartadas nos oceanos anualmente.59

Indústrias de reciclagem demonstram que, se não forem feitos ajustes na gestão de resíduos sólidos, plásticos em particular, muitos destes detritos, originalmente desviados dos aterros por consumidores que pagavam por um serviço de reciclagem, vão voltar a ser aterrados.

Na União Européia, por exemplo, o potencial de reciclagem de resíduos de plástico permanece em grande parte inexplorado. A Reutilização e a reciclagem são muito baixas quando comparadas com as de outros materiais, como papel, vidro e metais.60

Cerca de 25,8 milhões de toneladas de resíduos plásticos são geradas na Europa todos os anos, no entanto, menos de 30% desses resíduos são coletados para reciclagem. Deste montante, uma parte significativa é exportada da UE para ser tratada em outros países. Ao mesmo tempo, as taxas de aterro e de incineração de resíduos de plástico são de 31% e 39%, respectivamente, ou seja, bastante elevadas. Estima-se que a produção de plásticos e a incineração dos seus resíduos dão origem a aproximadamente 400 milhões de toneladas de CO2 por ano no mundo. Se mais plásticos recicláveis fossem utilizados, poder-se-ia reduzir a

57 BROOKS, Amy L.; WANG, Shunli; JAMBECK, Jenna R. The Chinese import ban and its impact on global plastic waste trade. Science Advances, v. 4, n. 6, p. eaat0131, 2018.

58DYE, Ciera. The Pelagic Plastic Problem. Ocean & Coastal LJ, v. 19, p. 117, 2013.

59 EUROPEAN COMMISSION. A European Strategy for Plastics in a Circular Economy. Documento da

Comissão Européia número SWD(2018) 16 final. Bruxelas, 16.01.2018

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33 dependência da extração de combustíveis fósseis para produção de plásticos e, consequentemente, as emissões de CO2. 3,5 bilhões de barris de petróleo por ano poderiam ser economizados na produção de energia se houvesse a reciclagem de todos os resíduos plásticos globais.61

Um dos fatores para o não crescimento da taxa de reciclagem de resíduos plásticos é o pouco ou nenhum incentivo que os produtores de artigos de plástico e embalagens recebem para levar em conta as necessidades de reciclagem ou de reutilização quando projetam seus produtos. Os governos dificilmente aproveitam a consciência corporativa para oferecer incentivos financeiros, abatimentos fiscais, fundos de pesquisa e desenvolvimento, incubação de tecnologia, parcerias público-privadas, para empresas que exploram alternativas ao plástico.

Os plásticos são feitos de polímeros e são bastante personalizáveis, havendo aditivos específicos para atender aos requisitos funcionais e estéticos de cada fabricante. Essa diversidade pode complicar o processo de reciclagem, tornando-o mais caro e afetando a qualidade e o valor do plástico reciclado. Escolhas específicas de design, algumas levando em consideração o marketing, como o uso de cores muito escuras, também afetam negativamente o valor do material reciclado.

Pode-se observar, portanto, que os governos ao invés de aperfeiçoarem seus sistemas de resíduos sólidos e de incentivarem a diminuição da produção e do uso do plástico, recorreram a alternativas mais econômicas e menos dificultosas para lidar com esses resíduos, como retirá-los, por meio da exportação, dos seus territórios.

2.3 O problema de adotar a exportação como uma solução alternativa

O plástico é difícil de ser reciclado devido a sua grande variedade de utilidades e ao fato de que há propriedades materiais que podem limitar o numero de vezes que um produto pode ser reciclado.

Ocorre que, os mercados emergentes da China, nos final dos anos 80, descobriram que esse material poderia ser usado lucrativamente, especialmente porque navios podiam entregá-lo com facilidade, sendo ele, posteriormente, utilizado como matéria prima barata para fabricar mais mercadorias para vender ou exportar. Dessa forma, surgiu um comércio de resíduos plásticos ao redor do mundo, ou seja, estes produtos passaram a fazer parte do

61 EUROPEAN COMMISSION. A European Strategy for Plastics in a Circular Economy. Documento da

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34 mercado global de commodities, sendo vendidos e comercializados globalmente.

Com isto, os países, ao elaborarem a Convenção de Basiléia em 1989, preocuparam-se em estabelecer mecanismos internacionais de controle do movimento de resíduos, baseando-se, precipuamente, no princípio do consentimento prévio e explícito para a importação, exportação e trânsito destes. Tal medida visava coibir o tráfico ilegal e prever a intensificação da cooperação internacional para a gestão ambientalmente adequada dos detritos.62

A Convenção estabelece uma ampla obrigação para os países reduzirem ao máximo sua geração de resíduos plásticos, fornecendo medidas que objetivam diminuir a quantidade e o risco deste material na sua fase final de vida útil e classificando-os como “outros resíduos” ou como perigosos quando possuírem certas características pré definidas. O transporte transfronteiriço de resíduos plásticos, sejam eles “perigosos” ou não deve ser regulamentado pelas Partes que assinaram o acordo, pretendo-se, com isto, que os participantes gerenciem esses resíduos no país em que são gerados ou, caso os importem, que o façam de uma maneira ambientalmente correta.

O comércio para outros países de resíduos de plástico listados pela convenção como perigosos dentro da legislação doméstica de determinado país, por exemplo, não é permitido, assim como a movimentação de resíduos, cuja gestão pela Parte importadora não seja considerada ambientalmente correta. Da mesma forma, se a autoridade do país receptor acreditar que os resíduos importados não serão geridos de forma adequada, esta deve proibir a sua entrada. Não é permitido, ainda, o comércio de resíduos plásticos entre países que não são Partes da Convenção, a menos que um acordo prévio seja negociado entre eles.

Por fim, importante observar que a Convenção permite sim o comércio de resíduos plásticos entre as Partes se o país exportador tiver capacidade técnica e infra-estrutura para garantir um descarte ambientalmente saudável e eficiente, assim como se tal exportação for destinada à reciclagem ou à recuperação destes resíduos.

No entanto, tais determinações não impediram que implicações nos sistemas de gestão de resíduos plásticos sólidos globais ocorressem, pois nações mais desenvolvidas, que possuíam um melhor sistema de gestão de resíduos sólidos, continuaram mandando os seus detritos plásticos para países que ainda estavam desenvolvendo a sua infra-estrutura de gestão de resíduos, resultando, assim, em um enorme número de materiais não reciclados e depositados no meio ambiente.

62

SECRETARIAT, Basel Convention. Parties to the Basel Convention on the Control of Transboundary Movements of Hazardous Wastes and their Disposal. 2017.

(35)

35 As importações e exportações globais anuais de resíduos plásticos começaram a aumentar rapidamente em 1993, tendo crescido 723 e 817% em 2016, respectivamente. Em 2016, cerca de metade de todos os resíduos plásticos que eram para ser reciclados (14.1 milhões) foram exportados por 123 países, tendo a China recebido a maioria deles (7.35 milhões), de 43 países diferentes. No ano de 2016, aproximadamente 25 bilhões de euros de plástico primário foram exportados pelos países da União Européia, conforme o Gráfico 1.

Gráfico 1 – Quantidade, em bilhões de euros, de plástico manufaturado exportado e importado na União Européia de 2012 a 2016.

Fonte: UN Comtrade Data (2017).

O aumento do numero de exportações de resíduos plásticos se deu em decorrência do elevado valor da gestão de resíduos sólidos doméstica, nos países exportadores, quando comparada às insignificantes taxas cobradas na China. Por exemplo, é bem mais barato para um país transportar material reciclado de navio para a China do que utilizar dentro do seu território caminhão ou trem.63

Para países exportadores, o transporte marítimo de resíduos plásticos para a China e para outros países providenciou uma alternativa para os resíduos plásticos, impedindo que eles fossem aterrados ou incinerados. Isto, no entanto, gerou uma confiança e uma acomodação excessivas nos países importadores, de forma que os sistemas de gestão de

63BROOKS, Amy L.; WANG, Shunli; JAMBECK, Jenna R. The Chinese import ban and its impact on global plastic waste trade. Science Advances, v. 4, n. 6, p. eaat0131, 2018.

Referências

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