ENTREVISTA:
UM OLHAR
VOYEUR
QUEM
TEM
VERGONHA
DO
MÉDICO?
·ua·t)
CÂMERAS
FLAGRAM
CRIMES
E
SACANAGEM
IU'f·
HENRIQUESILVEIRAr
CURSODE JORNALISMODA UFSC
FLORIANÓPOLIS,
OUTUBRO DE 2006 ANOXXIINÚMERO
02 ESPECIAL PRIVACIDADE.sem
paredes
Desabrigados
de
Florianópolis expõem
suas
rotinas
atoda
umacidade.
Têm
seushábitos
escancarados,
fazendo de
árvores
banheiros,
tomando
banho
sepuderem,
improvisando
refeições
edormindo
até
emviga
de
ponte.
Conheça
histórias
de
quem
mora
na rua embusca de
.liberdade,
oupor
pura necessidade.
CENTRAIS
02·
Opinião
Prívacídade«Florianópolis,
Outubrode 2006ZERO
Carta
ao
Leitor
"Noprincípio,
Deus criouoscéuse aterra." Já ouvifalar que esseéomelhor lead
já
feito.Nãocustanadatentar.
Mas,
fazendo um avançocronológico
rápido:
houveadescoberta dofogo,
Cé sar foiapunhalado
pelas
costase a IGuerra Mundial abalou na
ções.
As "Diretas Já" correrambem e os "caras
pintadas" (há
quemacredite)
fizeramoprimei
ro
impeachment
do Brasil. Asduas torres
caíram,
umoperá
rionaPresidênciadenossopaís
concorre ao
segundo
mandatoe oJornal LaboratórioZero passa a serdisciplina
obrigatória
doCursode Jornalismo daUniversi
dade Federal deSanta Catarina.
A
partir
daqui,
é sónovidade.Junto com a
inserção
nagrade
curricular,
oZero,
antesARTIGO
disciplina optativa,
vem com novaapresentação
e traz assunto temático dividido entre
10 editarias
possíveis:
Opinião,
Cidadania,
Saúde,
Tecnologia,
Cultura,
Esporte,
Comportamen
to,
Entrevista,
EnsaioFotográfico
e Crônica. Ostextos estão maiscurtos e os
infográficos
escla recerãopontualmente algumas
informações,
facilitandoaleitura ecompreensão
dasreportagens.
Projeto gráfico
edirecionamento maisabrangente.
A cada
edição,
um novotemaserá abordado e no site
(www.
zero.ufsc.br)
vocêpoderá
acompanhar
umaclipagem
de notícias queanteciparão
otemado Zeroseguinte.
Ambienteexperimen
tal,
trazendooalunomaispróxi
moda vida realdeumaredação.
CHARGE
Assim
apresento
o novojornal
laboratório,
que,inaugurando
sua roupagem, traz um tema
eternamente
Pop,
aPrivacidade.Desde
quando
mais de um homemhabitaa terrae afecha dura começou a ser usada(da
dosapontam
oAntigo
Egito,
há 4 milanos),
aintimidade alheia éparadoxalmente
interessepúbli
co, por issootemafoiescolhido. Não paratratardefofoca,
masde como nossasvidas estão sendo invadidasdeumamaneiraoudeoutra, paranosso bemou cons
trangimento,
pornossavontade ouporcorruptela
social. Sinta-seconvidado a conhecer o novo
Zero,
porque maiseunãoconto.FREDERICO CARVALHO
Professor Coordenador
CARMEN RIAL
ProfessoradoDepartamentodeAntropologiada Universidade Federal deSanta Catarina
O que há em comum no fato de Luís XV- Ie roi
Soleil para os franceses - acordar
pela
manhã comvários cortesãos no seu
quarto,
realizar diante de les asabluções
matinais,
defecar e comer nas suas presenças,semdemonstrarnenhumconstrangimen
to por
isso,
e o fato de osesquimós
filmados por RobertFlaerthy
em Nanook ofthe Northrepartirem
nus umamesmacama? Tantoem um como nooutro caso, estamos diante deexpressões
deprivacidade
muito diferentes das quecompartilhamos hoje,
nas sociedades modernas ocidentais. Entre nós(brasi
leiros,
de camadasmédias),
aprivacidade
éumvalorimportante,
de modo que acharíamosessescomportamentos
inadequados,
senão imorais.Respeitamos
umespaçoindividual,
que étidocomo umdireito decada um:
aqui
se usam banheiros emisolamento,
e só se aceitarepartir
a cama comparceiros
sexuais- com
amigos
e comfamiliares,
em casodeemergên
cia;
mas nunca comestranhos. No entanto, essa era umaprática
comum naIdade Médiaenãoestava, de modoalgum,
relacionadacom apobreza,
comohoje.
Lemos,
emNorbertElias,
umhistoriadoralemão,
queviajantes
hospedados
em umapousada repartiam
a mesmacama,
apesar decompletamente
estranhos.E os manuais de boas-maneiras que circulavam na
Europa
noSéculoXVI ensinavamatercuidadoscom essescompanheiros
decama:evitardormirsemroupa, evitar fazer
gestos
amplos
que tocassem o seu corpo, procurar ficar restrito ao seu lado dacama. Issoerarespeitar
aprivacidade,
então.»
PRIVACIDADE:
Uma
questão
cultural
«
Nem todas asformações
culturaiscompartilham
dosmesmos
códigos
deprivacidade.
Temosquartos
separados
epratos
que separamoquecomemosda comida dos outroscomensais,
usamos roupas que não são usadas por outros-enfim,
há como queuma mônada
garantindo
nossaprivacidade
eque se estende cada vez mais para incluir outros espaçose
objetos:
há anos, ascrianças repartiam
a mesmacama;
depois,
passaram a dormir em camas separadas,
masrepartiam
o mesmoquarto.
Hoje,
ideal-mente, cadauma
já
temo seuquarto,
eaqueles
com mais possesjá
têm também o seubanheiro,
a suatelevisão,
o seumini-refrigerador,
o seucomputador,
enfim.O
antropólogo
norte-americano Edward Hall conta o casode um
advogado
alemão que mandou apa rafusar aspoltronas
aochão,
pois,
cadavezque um americanovinhaconsultá-lo,
aproximava
apoltrona
dasua,oqueoincomodavaenormemente.Alemães,
diz
Hall,
têm uma idéia deprivacidade
queimplica
umaseparação física,
visual e sonora; necessitamde
portas
de madeirapesadas
para separaraspeças da casa,pois
só assimgarantem
o seu isolamento. Jáosingleses,
acostumadosacompartilhar
quartos
nasescolas-internatos,
têm outras formas de criar suaesferaprivada:
se uminglês
ficaremsilêncio,
vaiconsíderar-se
plenamente
isolado mesmo estandonapresença deoutrapessoa.
Evidentemente,
esse crescimento da esfera doprivado
queverificamos nas sociedadesocidentais,
de modo
geral,
ocorreemdetrimento do quesecompartilha,
do que se realiza empúblico.
Ocorre emfavCf
do individual e contrário ao coletivo. Não há aíumavalorização
positiva
ounegativa,
sãoapenasdois modelos que, como vários
antropólogos
têmmostrado,
instituem diferentes sociedades. Talvez no extremo daprivacidade,
doindividual,
podería
mos colocar os Estados
Unidos;
no outro,podería
mos colocar aÍndia.
O Brasil oscilaentre esses mo delos.EDIÇÃO
ILUSTRAÇÃO
PROFESSORCOORDENADOR ******ZERO
Caroline MazzonettoFelipe
Seffrin• Paola Bello• Edlena Barros João Jair Romão· João PedroLucasdeAbreu· RobertaÁvila Frederico Carvalho MelhorPeçaGráficaINFORMAÇÕES
I,II, III,IVeXI
SaraUhelski SetUniversitário
/
PUC-RSEDITORAÇÃO
IMPRESSÃO: DiárioCatarinense 1988,89,90,91,92e98ESPECIALPRIVACIDADE DirceuGetúlio Cunha·
Felipe
Seffrin CIRCULAÇÃO:NacionalCursode JornalismodaUFSC REPORTAGEM Tatiana Leme· Ticiani
Aguiar
DISTRIBUIÇÃO: Gratuita *Florianópolis,
Outubrode2006 AugustoKoéch • DaianeFagundes
Rafael Paulo TIRAGEM:5.000exemplares
3° melhor Ano XXII· Número 2 Daniele Martins • ÉricaGeorgina
FOTOGRAFIA TELEFONES Jornal-laboratóriodo BrasilEuclides Garcia·
Jacy
DielloDaniele Martins·
Henrique
Silveira +55(48)
3331.6599·3331.9490 EXPOCOM 1994REDAÇÃO
DOJORNAL Jésica Maia· LuanaRech JésicaMaia· RosalvoStreit Jr3331.9215·FAX:331.9490 CursodeJornalismo Marina Gazzoni•
Raquel
dos Santos VitorHugoBrandalise *
U FSC-CCE-JOR Roberta Ávila • Rosalvo Streit Jr. NAINTERNET
Melhor Jornal-laboratório
Trindade
-Florianópolis,
SC SteniaAndrade·Tiago Agostini
MONITORIA SITE:www.zero.ufsc.br I Premia Foca-j
CEP 88040-900 VitorHugo
Brandalise LucasAmorin EMAIL:zero.@cce.ufsc.br
Sind. dosJornalistas deSe,2000.. .
ZERO
Privacidade·Florianópolis,
Outubro de 2006Entrevista
•03
VOUYERISMO
Por trás
das
lentes de
um
olhar
voyeur
Em
umajanela
noalto,
aluneta do
estudante
G.N.
acompanha
silenciosamente
arotina de
desconhecidos
DANIELE MARTINS
...
ZERO· Quando você começou a
gostar
de observar a rotina daspessoas?
G.N. • De certa maneira
eu acho que meu
pai
deu a deixa pragente
gostar
dessetipo
decoisa
quando
comproualuneta. Entãoeuvimmorar emFlorianópolis
ecomeceiaterohábitode usá-la para reconhecer os pontos da cidade. Onde eu moro é um
lugar
maisalto,
de onde eu posso ver váriosprédios.
E automaticamente,
porhábito,
vocêcomeça a observar as pessoas e reconhecer
alguns padrões
decomportamento.
É
aí que eu acho que você começa a setransformar num voyeur, obter um prazer não necessariamen te
sexual,
emespreitar
avidae a intimidadealheia,
ouseja,
ver umaatividade queapessoa não sabeque você está vendo.Pode ser umapessoa dentro de casa, lendoumlivro,
pode
ser umabrigade
casal.ZERO· Comovocêsesenteao
observar
alguém?
G.N. • Olegal
é ver,particí
par de
alguma
coisacomo umaespécie
de seronipresente.
Dáuma
sensação
depoder.
Dasuajanela,
você está vendoalguma
coisa,
alguma
coisa está acontecendo,
a pessoa estásozinha,
uma outra pessoa está discutindo,
fazendoqualquer
tipo
de atividade. Dá umasensação
depoder,
decontrole,
deestarmonitorando
alguma
coisa.ZERO· Como éa
relação
como observado? Vocêsefamiliarizacoma pessoaa
ponto
dereconhecê-Iana rua?
G.N.•Em seismesesqueeu olhava
direto,
eureconheci uma ouduas pessoas.É possível
que eutenha encontradocomoutraspessoas na rua
depois
enãotenha reconhecido. Eu não teria
uma
relação
direta assim ainda quetivesse vistoumacoisachocante. Se eu passasse por uma pessoa da
qual
euseimuita coi sa-queeutenha visto
pela jane
la-eu não
passaria
por elacom umasensação
de "eu sei quemvocê é". Não é assim.
Simples
mente, eu
vejo
comopassatem
po. Duranteopassatempo,
vocêtem
aquela
sensação
de queestá olhando.É
como se você estivesse falando baixinho: eu
vejo
você. Não considero também
que
seja
uma coisapervertida.
Nãomuito.
!
J
";'l
ZERO • Vocêtem curiosidade
de ouvirosom das cenas?
DANIELEMARTINS
perfil
Ele
ganhou
umaluneta do
pai quando
eracriança.
O que
erapara
observar
apraia,
asilhas
eaLua
logo
virou instrumento de
umadiversão maior:
verde
perto
avida
privada
da
vizinhança.
E
quão
longe
dava
para enxergar,
percebeu.
O menino
cresceu,e comele
aperspicácia
de
suasobservações.
De
seuapartamento,
assiste às
cenasde
umcinema mudo
entreas
cortinas de outras
tantasjanelas
abertas. Detalhes da rotina de
umdesconhecido.
De
vários
deles.
A
intimidade de
quem não
sabe
que está
sendo visto.
O
universitário
G.N.,
25
anos, contacomo
adquiriu
ohábito de
observar
ocomportamento
das
pessoas.
G.N. • Como
eu nunca tive
imagem
com som, eupercebo
só aimagem.
Isso na verdadeestimula
mais,
porquevocênãoouve, você
imagina,
constrói umahistória.ZERO • Se você visse uma
agressão
qual
seria o seucomportamento?
G.N.•Olhar.
Depende
dotipo
de
agressão.
Seforemdoisrapa zes quemoramjuntos
brigando
entre eles não tem o que fazer. Eu confes so que eu não sei o queeufariase eupre senciasseumassassí
natoou
algurfa
cenaque
pudesse
parecer um assassinato. Euvejo
numajanela
duas pessoasbrigando,
derepente
alguém
puxaalguma
coisa que pareçaser uma arma e euouçoumestalo,
daíabriga pára.
Eu sinceramente não seioqueeufaria.Seeuchamaria apolícia
- edaícomo euexplica
ria queestava vendo
-ou se eu nãofarianada.
pio
nemnada,
eupossoatégritar
com apessoa,interferir. Comalunetaeu mecoloconuma
posição
apenas deobservador,
que não querservisto,
nemparticipar
ou influenciarna cena.Até por que, todo voyeurprefere
esconder oequipamento.
Não deixaaluneta outelescópio
à vista porque não querserreconhecido.Não énem por medo depreconceito.
Oque ele não quer é queaspessoastenham
precaução.
diversão éver em
tempo
real.É
estaremum
lugar acompanhan
do
alguma
coisa que aconteceemoutro
lugar
semequipamen
to
eletrônico,
sem nada. Since ramente, se eu gravasse não seise eu assistiria em casa.Porexemplo,
meninas saindo do ba nho. Paravermulherpelada
eu comproumarevistamasculinaevejo.
Ointeressante éestarven doaquilo
nomomento.Senãoé maisomomento,
pra mimperde
agraça.
, ,
Você
tem
aquela
sensação
de
que está
olhando.
É
como se
você
estivesse
falando
baixinho:
eu
vejo
você. Não
considero
que
seja
uma
coisa
pervertida.
Não
muito."
ZERO • E sevocê assistisse a um homem
agredindo
a mulher?G.N. •
Eu acredito que não faria nada. Nomomentoemque você está olhando
pela
luneta você estánaposição
deobservador.Seeuestouna
janela
domeuquarto
evejo
umacoisa aconte ceraqui
embaixo,
semtelescó-ZERO • Como você
reagiria se soubesse que
alguém
está tevendo?
G.N. • Eu ficaria
surpreso.
Nãoacho que aminhavida
pri
vadaseja
tãointeressante,
mas como euvejo
avidaprivada
dosoutros... Eu ficaria
curioso,
masnão ofendido. Curioso pra sa ber quem
é,
oquea pessoa viu emais,
oque elainterpretou
de tudo que viu.Lógico
queeunãogostaria.
Nãosouexibicionista.ZERO· Você
já
teve vontade de tercâmeradevídeoprafilmar?G.N. •
Não,
porque a minhaZERO • Você acha
que o quefaz é invasão de
privacidade?
G.N. •
É
uma invasão de
privacidade,
mas uma invasão deprivacidade
queeunãoconsigo
ver comocrime porqueeuestoudentro do meuapartamento,
da minhajanela
evejo
alguém
através dajanela
aberta da outra pessoa.Eu não criei a
situação
de ver essapessoa. Elatemaopção
de fechar ajanela
ou acortina. Eu não montei e nem alterei o ce nário. Eu tenho a minha luneta equando
euvejo
essa pessoaestou
agindo
dentro da minhaliberdadee nãoacho que
esteja
interferindonaliberdade da
ou-trapessoa.
ZERO • E
o que seria invasão
de
privacidade?
G.N.•Eu estaria ferindoessa
liberdadese euestivessevendo através de uma
parede,
que brasse ajanela
parapoder
ver, colocasseumaescutaoualguma
coisa assim. Mesmo colocar o ouvidonaparede
nãoé invasão.Seeuestoudentro domeuapar tamento,a
parede
éminhaese o som passa, eu nãotenhoculpa.
Qual
seria adiferença
entre eu colocaroouvidonaparede
e ou viro que apessoa estáfalando,
e apessoafalar umpouco mais altoe euouvirnormalmente?Ela quemedácondições
de ouviro que está sendodito,
da mesma formaquea pessoa que está ali embaixotrocando de roupacom ajanela
aberta está me dandocondições
de vê-la.ZERO· Filmar
já
seria uma invasão?G.N. • Ai
já
é maiscompli
cado.Imagine
que ao invés deestar vendo com o
telescópio
eu estou filmando uma pessoa, exatamente nas mesmas condições.
Eu também não criei essasituação,
elaexiste,
edepois
eu assistoaimagem
naminhacasa. Atéaíeunãovejo
diferença
algu
ma. Euestavavendo emtempo
realedepois
assistodenovo.Nomomentoemquea
gravação
saida minhacasaé mais
complica
do.Agora
vamos pensar que eu filmo umasituação
constrange
dora noapartamento
e mostrepra todos os meus
amigos,
ou queeufilmeumasituação
constrangedora
na rua emostre pratodos os meus
amigos.
Qual
é adiferença?
A pessoa estavadentro da sua casa, mas estava
dando
condições
damesma ma neira que umapessoa andandotranqüilamente
na rua. Eu po deria estar invadindo aprivaci
dadedapessoa que estánarua,masai não seriaexatamenteum
voyeurismo.
ZERO • O
voyeur não tem
intenção
de interferir na cena enem se
aproveitar
da cena,a não serqueseja pelo
próprio
prazer?
G.N. •
É
o que eu acho. Se
você tentar se
aproveitar
de alguma coisa que você
viu,
estáfazendo
algo
além dovoyeurís
mo,mas aí
já
é umaquestão
decaráter,
nãodo hobbieemsi.Sa tisfazeracuriosidade,
terosenti mentodeestarpresente,
ser um observador nesse sentido é ser voyeur.Oclichê éumtarado que ficanajanela
vendoumcasal fa zendo sexo,mas eu acho que é maisamplo
que isso. A pessoapode
terumtipo
degratificação
pessoal,
seminterferirnacena,e sem sernotado.04
..Cidadania
Prfvacidade-
Florianópolis,
Outubrode 2006ZERO
NATURISMO
Galheta
para
todos
os
gostos
Adeptos
do
naturismo,
pescadores
e
poder púbLico
discutem
reguLamentação
da
prática
LUANA RECH
... ...
"Só volto à Galheta se for
acompanhada
de umamigo".
Enquanto
desciaurnadastrilhasque dãoacesso à
praia,
AAM.,
de 17anos,foipuxada pelo
braço
porurn homemque vestia ape nas camiseta. Ficou com medo de voltarao
local,
mesmo acompanhada
poramigas.
JáL.P.,
de 21anos, estavanaareiaquando
percebeu
queurn homem fazialhe
gestos
obscenos.Foi embora dapraia
imediatamente.O
desrespeito
demonstradopor
alguns
visitantes-presente
nos
episódios
acima descritos- associado às
brigas
entre na turistas epescadores
da Praiada Galheta levaram overeador João Batista
Nunes,
doPDT,
a encaminharàCâmaraMunicipal
de
F1orianópolis
oProjeto
de Lei n?10.459/2003.
Otextodetermi na asuspensão
donaturismonaregião.
Freqüentada
poradeptos
hácercade30anos,aGalhetaé aúnica
praia
de Santa Catarinaonde a
prática
épermitida
por leimunicipal
(CMF 195/97)
-a maioriados locais
próprios
para o naturismo sãoresguardados
apenas pordecreto.Sendo anudez não
obriga
tória,
a área écompartilhada
entre
praticantes
epescadores,
e o atritoproveniente
dessa mistura cultural causa desen tendimentos. Para o vereador JoãoBatista,
oprojeto
de lei quesuspende
o naturismo na Galheta é umamanifestação
de solidariedade aospescado
res artesanais. "Oprojeto
nãotem nenhuma
posição
radical emrelação
aonaturismo,
mas revêaformacomoestá sendopraticado,
semresponsabili
dadee semsegurançaparaosfreqüentadores",
explica.
De acordo com o
presí
dente daAssociação
dosPescadores da
Galheta,
AmaroRomão
Floriano,
a não povoação
daregião,
quepertence
a uma área depreservação
ambiental(veja infográfico),
pode
ser um facilitadorpara aprática
de atos sexuais na Galheta. "A comunidade daFortaleza da Barra da
Lagoa
se sente inibida defreqüen
tar a
praia",
diz. Durante a audiênciapública
realizada em dezembro do ano passado,
paradiscutiroprojeto
delei,
Florianosugeriu
que fos seimplantada
uma área limi tada para osnaturistas,
compoliciamento,
evigiada pelos
órgãos
competentes.
Existe um
Código
deÉtica
(veja
box)
que deve serapli
cado e fiscalizadopelas
associações
naturistas. Naregião,
aAssociação Amigos
daGalheta
(AGAL)
éresponsável pelo
cumprimento
dasnormas.Para asecretáriadaAGAL,
Mara Rejane
Freire,
devido à extensão dapraia,
éimpossível
fazerum monitoramentode tudooqueacontece.
A
associação
defende queseja
feita umanormatização
emparceria
com opoder pú
blico,
e não umaproibição
daprática.
Emrelação
aos pescadores,
Mara diz que não há hostilidade porparte
dosnaturistas,
e sabe que ochoque
entre as diferentesculturas
pode
causar constrangimentos.
"Buscamos,
então,um entendimentopa
cífico",
ressalta.Policiamento
AAGAL reconhece que há
problemas, principalmente
na área da segurança. Mara garantequeaPolícia Militar
(PM)
nãoatuanolocal.Segundo
ela,
nem mesmo na altatempo
rada há salva-vidas na
praia.
"Em caso deacidente,
são os voluntários dapraia
Mole que nossocorrem",
conta. Ocapi
tãoCarlos
Araújo
Gomes,
da3ºCompanhia
daPM,
que atende oleste e osul da Ilha deSantaCatarina,
afirma que,noverão,
uma baseoperacional
é ativa da na PraiaMole,
e o efetivofaz rondas a
pé
na Galheta e nastrilhas deacesso.Também,
segundo
ele,
não háregistros
significativos
de ocorrênciasde atentado ao
pudor
ou perturbação
naGalheta.O
próximo capítulo
docaso está marcado parao dia 7 de dezembro.Oprojeto
de lei queproíbe
onaturismonaGalhetaaguarda
novaaudiênciapúbli
ca, a ser realizadanesta
data,
mas que
talvez
nãoaconteça.
Está confirmada uma reunião
entreos
pescadores
e aAGAL para resolveraquestão.
Se as duaspartes
chegarem
a umacordo,
oprojeto
de leipode
serarquivado.
HENRIQUESILVEIRA
/
/
O
Parque
Municipal
da Praia daGalhetaéumdospoucosredutos de
Florianópolis
queaindamantém aMataAtlântica100%preservada.
Porisso,
apraia
nãopossui
infra estruturade
bareserestaurantes eéprotegida
porummorroquea mantémisolada daestrada,
sendoacessível apenas
portrilhas.
O parquefoi criadoem1990etem149,3 hectares.
o
que é naturismo?
Deacordocom a
Federação
Internacional deNaturismo,
é"ummodo de vidaem harmoniacom a natureza, caracterizado
pela
prática
donudismoemgrupo, quetemporintenção
favorecer oauto-respeito,
orespeito
pelo
outroe ocuidadocom omeioambiente".Onaturismoé
regido
porumCódigo
deÉtica,
quedeve seraplicado pelas associações.
Práticassexuais,
atosobscenos,
propostas
de carátersexualeatitudes inconvenientespodem
levar aexpulsão
eproibição
deretornaraolocal daprática.
Não sãopermitidas filmagens
efotografias
dos naturistassemautorização.
O naturismomodernosurgiu
noinício do século20,
naFrança
e naAlemanha. NoBrasil,
osprimeiros
passosforam dadospela
atriz Dora
Vivacqua,
que,em1949criouo"PartidoNaturalistaBrasileiro",
eem1954,o"Clube Naturista Brasileiro".Oreconhecimentonacionalda
prática
começouquando,
em1984,a capadaRevistaManchetetrouxeumamatéria sobreosnaturistasdaPraiado
Pinho,
em Camboriú.AtualmenteexistemnoBrasil cercade300 mil naturistasespalhados
portodoopaís,
novepraias
oficiaisealguns
clubes.DIREITOS
Privacidade é
garantida
por Lei
de Direito Autoral
TIAGO AGOSTINI
...
Imagine-se
escrevendo umaautobiografia.
Lápela
metade dahistória,
você re solve contar seussegredos
maisíntimos,
sejam
quais
forem as características de les
(a
história é sua, não seesqueça).
Finalizado o documento, você o
guarda
demaneira segura, com uma
indicação
para queaquilo
só
seja
revelado oupubli
cado 50 anosapós
sua morte.A
intenção
é preservar a intimidade dos envolvidos nos casos relatados. Sóque, por obra do acaso
(ou
por sacanagem,
mesmo),
oarquivo
é descoberto e asinformações
vazam. Desesperador,
não?Para o diretor do
Depar
tamento de
Propriedade
In telectual da UniversidadeFederal de Santa
Catarina,
Luiz Otávio
Pimentel,
esta é a única maneira de se ferir aprivacidade
dealguém
aodesrespeitar
a Lei de Direitos Autorais
-que define os direitos que o autor de uma obra
possui
sobreela,
tantomorais como
patrimoniais,
além de prever os mecanis mos para fazê-los valerem.Pela Lei de Direitos Auto
rais,
o autor tem aopção
demanter a obra inédita e não é
obrigado
aregistrá-la.
Oregistro
éfeito,
no casodepes soafísica,
com umacópia
daobra,
da identidadee doCPF do autor,opreenchimento
de um formulário de duaspági
nase,claro,
opagamento
de uma taxa. Os valores ficamentre
R$
20,00
eR$
80,00.
EmFlorianópolis,
basta ir ao Es critório de Direitos Autorais noprédio
da Reitoria da Universidadedo Estado deSanta
Catarina,
no bairro Itacorubi.Qualquer
dúvidaé sóentrarno sitewww.udesc.br/udesc/eda.
E no caso da
autobíogra
fia
proibida
que foipublica
da? O que acontece com os
culpados
pela
divulgação
imprópria? Indenização
para o autor e o recolhimentode todos os
exemplares
daobra que
estejam
emcirculação. "Quando
é muito difícil estabelecer aindenização,
costumo
multiplicar
o valordo
exemplar
que está sendo vendido por trêsmil",
expli
caPimentel.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZERO
Privacidade•Florianópolis,
Outubrode 2006Cidadania
•05
ÁLCOOL
EDROGASAnonimato
protege
integrantes
de M
e
NA
Sem revelar
aidentidade,
dependentes químicos
falam
de
seus
problemas
durante
as
reuniões
dos
grupos
"Sou uma alcoólatra em
recuperação
e só porhoje
não bebi". Foi assim queNeusa iniciou seu
depoi
mento, em uma reunião do
grupo
Agronômica
de Alcoólicos
Anônimos,
em quecompartilhou
com trintacompanheiros
asconseqü
ências desuaúltima recaída no álcool. Elaperdeu
o emprego de cozinheira quan
do a dona do restaurante
reconheceu os sintomas da
dependência.
Apesar
dostremores nas
mãos,
negou que tivesseproblemas
com álcool."Fiquei
commedode minha chefe pensar que eupoderia
mexer nas bebidas dorestaurante ouque falta riaoserviço
por ressaca".Histórias como ade Neu safazem
parte
do cotidiano dos27 grupos de AlcoólicosAnônimos
(AA)
ecatorzedeATRÁS
DASGRADESHENRIQUE SILVEIRA
O GRUPO DE AA
Tranquilidade,
criadoem1970,
fazreuniões diáriasNarcóticos Anônimos
(NA)
existentes na Grande Florianópolis.
Durante as reuníões,
osparticipantes
dei xam de lado aprivacidade
e falam sobre todos ospro-blemas causados
pelo
con sumo de álcool edrogas.
Felipe
participa
de reu niões diárias no AA desde 2004 e acredita que conhe ce avidapessoal
dealguns
companheiros
do grupomais do queos
próprios
fa miliares. "Diferente dobar,
onde se conta muita men
tira,
aqui
no AA falamos a verdadeabsoluta,
por mais cruel que elaseja",
compara.O anonimato
garante
que asexperiências
relata das e a identidade dos participantes
não seespalhem
fora dasreuniões,
e estáprevisto
nosprincípios
básicos,
tanto dos Alcoó licos como dos Narcóticos Anônimos. A medida evita aexaltação
de pessoas ligadas
àsorganizações
e aidentificação
dosintegran
tes
pela
sociedade.Para não voltar a con sumir
cocaína,
maconha eanfetaminas,
Caroline segue o programa derecuperação
do Narcóticos Anônimos desdejulho.
Mesmo com oapoio familiar,
apenas trêsFiscalização
evita
contrabando para presos
Medidas de
segurança
impedem
que
familiares
levem
drogas
e armas
para
dentro de
penitenciária
ÉRICA
GEORGINOSimone Pereirade Uma via
java
com omaridoemmaiodo anopassado quando percebeu
que o carro eraseguido
por umaviaturapolicial.
Grávida de doismeses,desconhecia queo maridoseaventuravapela
pri
meiravez notráfico de
drogas.
Os
policiais
encontraramnarcó ticosescondidosnoveículo,
e o casal foi presoemflagrante.
Si moneficou reclusanopresídio
feminino deFlorianópolis
atéos seismesesdegestação.
Desdeque foi
solta,
em se tembro do anopassado,
elafreqüenta
aPenitenciária Esta dual deFlorianópolis,
onde o marido cumpre pena dequatro
anos. Todos os 933 reclusos têm direito à
visita,
em dia eturno
fixos,
estabelecidospela
Casada
Revista, seção
da Pe nitenciáriaresponsável
pela
fiscalização.
Conforme informações
dadireção,
fornecidas emmeados desetembro,
cadapreso
pode
receber até trêsfa miliarespor data marcada.I I J J
Simone cumpre sempre o
mesmo ritual:
chega,
pega a senha de atendimento ejá
co meça a tiraranéis,
correntes,pulseiras
e brincos. O proce dimento evita que osobjetos
virem moeda de troca entreos presos. Ainda segue a nor made
calçar
chinelos dotipo
haoaianaieaguarda
cercadequinze
minutos.Quando
échamada,
osfuncionários daCasada Revista abrem todas as em
balagens
dosalimentos queelatraz para o esposo. Amedida
previne
quedrogas
ou armassejam
inseridas nospacotes
e dentro dos alimentos.Revista
íntima
Antes de visitaro
parente
preso, o familiar fica nu em uma salareservada,
se aga cha de pernas abertas sobreum
espelho
posto
no chão e fica de costas para um outroespelho,
encostado àparede.
Nestaposição,
um funcioná rio dapenitenciária,
do mes mo sexo dorevistado,
obser va seháobjetos
introduzidos noânuse/ou
vagina.
Simone conta que, em uma das vezes em que espe rava
pela
revista,
conversou com uma mulher quejá
foranormas
da
penitenciária
de
Florianópolis
amigas,
colegas
do cursi nhopré-vestibular,
sabem queparticipa
das reuniõesdo NA. "Não vou ficar espa lhando que tenho
problema
com
drogas",
ressalta a es tudante.- Para
poder
visitaro preso, o familiartem que fazerum cadastro para obter
a
carteira de
visitante,
i
��wI
mostrandocomprovante
��-� deresidência,
documento.�1
de identidade
efoto3x4.
Também
é necessário comprovarparentesco
deprimeiro
grau;
-Os presos são
proibidos
de receber livroscom enredo
policial
oupornográfico;
-
Todas
as
embalagens
de
alimentossão
abertas
eacomida
édespejada
em sacos
plásticos
transparentes.
Osfamiliares
podem
levar,
nodiada
visita,
atédezitens de
umalista que contémquantos
equais
produtos podem
serdeixados paraopreso;- O visitante não
pode
entrarcompiercings,
anéis,
brincos;
- Para
a revista
íntima,
asmulheres
nãopodem
estar emperíodo
menstrual;
-Ascartas
endereçadas
aospresos sãoanalisadas
e,se aCasa daRevista
julgar
necessário,
sãoabertas,
I�I
lidas
epossivelmente
retidas.histórico
O Alcoólicos Anônimos foi criadoem 1935 e
hoje possui
mais de doismilhões
de membros
em150
países,
comseis milgruposno Brasil. Em Santa
Catarina,
há 230gruposregistrados,
27deles naGrande
Florianópolis.
Apartir
de
umaadaptação
dos
princípios
doAA,
em 1953foi fundadoo Narcóticos Anônimos.
Atualmente,
conta com
mais de
50gruposemSanta Catarinae
14 naGrande
Florianópolis.
ARTE.TICIANI AGUIAR
barrada com
drogas
dentro davagina.
Funcionários dapenitenciária
relatam que,recentemente, um homem
foi
flagrado
com umisqueiro
introduzido no ânus. Líderesreligiosos
que fazem visitas rotineirasàpenitenciária
nãosão revistados.
Advogados
também não, mas passam
pelo
detector de metais. A cabeleireira TâniaRegi
naMachadoaindanãoconseguiu
visitar ofilho,
preso hácincomeses.A carteirinha de visitanteela
já
temfaztempo,
mas sedizdespreparada
para arevista."Todoanovocêtemque passar
pelo
médicogine
cologista,
serexaminada,
ejá
fica morrendo devergonha".
Simoneexplica
que,noinício,
passarpela
revistaíntimaeraconstrangedor.
No dia oito de dezembro do ano passado,
ela visitou o marido na tarde dequinta-feira,
passoupela
revista com obarrigão
de nove meses e, ànoite,
foi para amaternidade dar à luz ummenino.06· Saúde
Privacidade-Florianópolis,
Outubrode2006ZERO
Invasores,
constrangedores,
necessários
Entenda
por que
certos
examesdeixam homens
e
muLheres suando frio
nas
saLas de
espera
dos
hospitais
MEDICINA
ÍNTIMA
VITOR... .. HUGO BRANDALISE... ...
A
paciente
já
tirou saiaecalci nha. Já subiuna cama ejá apoiou
cada um dospés
nasalças
de metal que ficam nas laterais do leito.Quase
tudo pronto, falta um último detalhe: para melhorvisualização,
a enfermeiraliga
umalâmpada
de 60 watts,posi
cionadaatrês
palmos
dagenitá
lia da mulher.Agora
sim,vagina
exposta
ebemiluminada,
o exa mePapanicolaou
pode
começar."É
desconfortável,
frio,
alguém
abrindo você emlugares
que você não quer quesejam
abertosnaquele
momento". Camila,
21 anos, estudantede História da Universidade Federal de
Santa
Catarina,
édotime das que nãoaprecia
otalexame.Elasabe,
porém,
daimportância
doPapa
nicolaouna
prevenção
docâncer de colo do útero(veja
box).
Aen fermeiraespecializada
emgine
cologia
doHospital
UniversitárioSilvanaPereirasalientaanecessi dade doexame
pelo
menosuma vez por ano desde o início da vidasexual da mulher. "90% dos casosde câncer de colo de útero estão associadosaoHPV(papilo
maVírusHumano),
transmitidosexualmente",
explica.
Comboa visãoda
vulva,
a en fermeiraafastagrandes
epeque nos lábios e introduz no canalvaginal
oespéculo
- instrumentometálico quelembraobicode um
pato
emede 15centímetros decomprimento
por5delargu
ra.Umapequena manivelanala teral do instrumento
possibilita
à enfermeira a abertura do ca nal.Quatro giros
sãoosuficiente.
"Sim,
vocêsentetudo sendoaberto",
dizCamila, balançando
acabeça.
"E é claro que não háprazer",
ela franze atesta, uma leveirritação
nosolhos.O
próximo
passo é araspa-VITORHUGO BRANDALISE
UROLOGISTA OsvaldoVieira ensina
comofazero
Toque
Retalgem do colocom uma
espátula
semelhante a umpalito
de sor vete, mas com 20 centímetros decomprimento
(o
instrumentoatinge,
porém,
cercade10centímetros).
Umgiro
de360ºdaespá
tulano colo doútero etodas as células que necessitam ser exa minadascaem nocanalcervical.A
paciente
sente um leve desconfortoquando
outros 10centímetros,
desta vez de umaescovinha,
são introduzidos no canalvaginal.
Assim,
a enfermeira retiraascélulas que serão analisadas
pelo patologista.
Cer cade10minutosapós
oinício do processo, retirados aescovinha e oespéculo
-depois
degirar
a manivelacomcuidado,
para não beliscarasparedes
davagina
-,oexameacaba.Aenfermeira apa gaa
lâmpada,
apaciente
fechaas pernas. "Não machuca.Depois
HENRIQUESILVEIRA
NA
POSiÇÃO
e com ailuminação
correta,
apaciente
estápronta
para começaroexamePapanicolaou
você nãosente
nada,
opior
éo desconforto nahora",
relembraCamila,
quefezseuúltimoPapa
nicolaounocomeço doano.
Avezdoshomens
Se o
Papanicolaou
faz as mulheresperderem
o sono na noite que antecede a consulta, o exame que assombra os homens acimados 45 anos se
equipara
noquesito
constrangimento. É
o temidoTR,
oTo que Reta!.Primeiro,
o doutor conver sa com opaciente,
quegeral
mente está nervoso. "Conver so antes para
explicar
o que fareie anecessidadedotoque,números
gerais
o câncer
de colo
do útero éosegundo
maiscomum entremuLheres no
mundo,
com cercade
470mil
casosdiagnosticados
todososanos. NoBrasiL,
aestimativa para2006 éde
que20mil
mulheres
contraiamadoença.
Quase
80% das incidênciaspodem
serevitadasse o câncerfor
diagnosticado
precocemente
através doexamede
Papanicolaou.
FONTE:INsmUTO NACIONAL DOCÂNCER
�
-..�,.,��---
.�.-�""""'",_-"".Coleta de
seleção
uretral:--::::::::---�
detrançar
aspernasUm instrumento de metal de
15centímetros de
comprimento
com umalgodão
naponta,
chamado Swab(foto],
é introduzido nauretra dopaciente
-o
buraquinho
dopênis
-paradetectar casos
de
infecção
bacteriana.Semanestesia.Segundo
otécnicode laboratório do
Hospital
Universitário FranciscoFermiano,
oexame só dói nomomento dapenetração
doswab e
quando
ele dáuma"rcçadinha" (movimento
circular do instrumento dentro da uretradopaciente)
com oalgo-dão,
para coletaras bactérias. a melhor maneira dedetectaranomaliasna
próstata",
dizOs valdoVieira,
urologista
há 41anos, cabelos
grisalhos,
den te de ouro e 9 centímetros dededo indicador direito.
Resignado,
opaciente
segue asugestão
dodoutor,
queprefe
re aposição
ginecológica.
Tira acalça,
sobena cama.Deita-se,
afastaas pernas edobra osjo
elhos,
deixando ospés
suspen sos para fora do leito. Sente o ânuscompletamente
exposto.
O doutor besunta o dedo indi cadordireitocom
gellubrifican
tee
força
aentrada. O treinado indicadordo médico procuraapróstata,
queficapoucoabaixo dabexiga.
Aglândula, quando
saudável,
tem o tamanho de uma azeitona e a consistência daponta
donariz humano. Em menos de um minuto no retodo
paciente,
odoutor
já
sentiu a consistência elapróstata.'
A,.
consultaduracercade15
minu-tos. "Muitos levam numa boa. Se
alguém
senegaafazer,
geral-Ultra-som
transvaginal:
parece,masnãoé.••
O exame consiste em introduzir um
aparelho
leitor de ondas ultra-som(foto)
para observar o in terior davagina.
Oaparelho
é revestido com umacamisinha,
besuntadocomgellubrificante
eintroduzido atéa entradado útero- de 8a 10centí
metros dentroda
vagina.
Oexame éindicado como rotina para mulheres queestejam
entreoprimeiro
e oterceiro mêsdegravidez
ou na menopausa e também para adetecção
de cistos emiomas.Espermograma:
masturbação
semprazerO
objetivo
do exame é analisaro esperma dopaciente
para avaliar a fertilidademasculina. Para queo ma terialesteja
comprovadamente
fresco,
o
paciente
devesemasturbareejacu
lar ali mesmo, no laboratório. Vídeos ourevistaseróticas são oferecidosaospacientes.
NoHospital
Universitário,
sem melhores
opções,
o indivíduo deve se contentar com anúncios delingerie
derevistascomuns.HENRIQUE SILVEIRA
ESPÉCULO,
espátula
e escovinhaprontos
para o examementesãoos mais
velhos,
mas isso também temdiminuído",
dizo
urologista.
Seestiver tudo
bem,
nenhum nódulo maisrígido
será encon trado. Casocontrário,
opacien
te
provavelmente
fará parte de umaestatísticaaltanaregião
Sul. Umestudo do Instituto Nacionaldo Câncer
(Inca)
mostra queo risco estimado de câncer de
próstata
em2006,
nos estadosdo
Sul,
é de 68em cada 100 milhomens,
a maior média do Bra sil. Amortalidade,
noentanto, érelativamente baixa.
Segundo
oInca,
issosedeveaosucessodos examespreventivos.
, .
"
ZERO
Privacidade-Florianópolis.
Outubro de2006Saúde
..07
ASILO
Solidão
não
é
companheira
da
velhice
Ambientes coletivos
espantam
a
depressão
noAsilo
Irmão
Joaquim,
onde
a
individualidade não
faz falta
JÉSICAMAIA
A divisão é
simples:
alamas culinaeala feminina. Pelos corredores,
exala-se um misto de colônia de bebês e fraldasusa das.É
umgrande
quadrado
que contém de 8 a 10 quartos para cada ala. Há quem durma commaisduas pessoas, outroscom umae,os menosfelizardos, so zinhos.
Aqui,
os quartospriva
dos são só para os enfermos. Para cadaala,
um lavabo coletivo paracinco pessoas nunca está lotado. Os banhosnão são
diários. Para
alegria
dos internos, a "tortura" só é feita três vezesporsemana.Reunidosem umasaladeestar,os idosos do Asilo de Mendicidade Irmão Jo
aquim
passamo dia vendoTV,
descansando e conversando, na maioria das vezes,
consigo
mesmo.Naparede
aoredor dascamas, um adesivo marca os nomes de cada um e relembra aosqueamemóriavemtraindo com maior
freqüência,
os seuslugares.
Dona Terezinha
(*)
mostra com
orgulho
as bonecas com vestido de crochê que ela mesma fez. "Boaera essaépoca
que minhas mãos da vam conta deaprontar essescaprichos",
recorda.Enquan-HOSPITAIS
to Dona Terezinha está apo sentada do
crochê,
Sebas tiana encontrou nele o seupassatempo e uma fonte de
renda alternativa. Mas para
NAS
MÃOS
de Dona Sebastiana[acima],
o crochê. Meio desatisfazer pequenos
vícios,
como comprar balasde banana.o
CONvívIO
é omelhormomento
para espantar
asolidão
que essa senhora de 65anos quer dinheiro em um asilo? "Ah... compro sacos de bala
de banana ali no 'Um e no
venta e nove'. De banana,
bem
molinha,
porquenin-guém
aqui
tem denteainda,
né",
explica
asimpática
se nhora. Ela conta que divideo quarto com mais três "co
leguinhas",
e não vai para acamaduranteo
dia,
paraevi tar a solidão.Devido a sua artrite, ela passa o dia com sua cadei ra de rodas estacionada,
sempre no mesmo
lugar,
na sala de estar. Alternando o crochê nos panos de pratos com aspalavras
cruzadas, ela mantém a mente funcio nando. No sofá ao seulado,
umpequeno desentendimen
to:
"Eí,
tu não sabe que aí é meulugar,
não?",
indaga
uma senhora comfeição
de enfezamento. Sem
contrariá-Ia,
aoutra idosa se levanta e tro
ca de sofá. "Essa daí é amais ranzinza
daqui.
Se perguntarpra ela o
porquê
de estar maquiada aqui
no asilo então...",
previne
Da. Sebastiana. Atrás de sua cadeira derodas,
Seu Orlando fuma umPrivacidade
zero
em
quartos
compartilhados
Pacientes internados
comdoenças
físicas
emhospital público
têm mais chance
de
ter
depressão
AUGUSTO KOECH
Com a
ajuda
da irmã 14 anos maisvelha,
L.A(*)
, de51 anos, faz tudo: vai ao ba
nheiro,
levanta-se da cama,alimenta-se,
toma seus re médios.Longe
dela,
"não sirvo para
nada;
estoumorta",
como ela mesma define. In ternada no
Hospital
Universitário,
do bairro daTrindade,
desde setembro, L.A. se
quei
xa de falta deforça
nos mús culos e dificuldade parafalar,
sintomas da esclerose lateral miotrófica
-doença
degene
rativa do sistema nervoso. ParaL.A.,
entretanto, omaior desconforto não é com ador,
mas sim a
incapacidade
de fazer o queprecisa
sozinha eestar sempre
dependendo
dacompanhia
dealguém.
Noseu últimodiagnóstico
médico,uma nova
doença: depressão.
O que acontece com apaciente não � um caso isola do. Dados de uma
pesquisa
realizada
pelo
Laboratório de Estudos dos Transtornosdo Humor
(LET H)
doDepar
tamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC)
reve laram que, desde o ano 2000 até2003,
cerca de 30% dos 900pacientes
internados comdoenças
físicas no Hospital
Universitário sofriam dedepressão.
Dependendo
da escala
metodológica
apli
cada,
esse númerochegava
a até 50%. Napesquisa,
a per da daprivacidade
é uma das causasapresentadas
pelos
pacientes
internados que de senvolveramdepressão.
"Nãoé sótera
doença
que é um fator estressante. Ela élimitante, faz o
paciente
per der a autonomia e a auto-estima",
explicou
Letícia MariaFurlanetto,
coordenadora doDepartamento
de Clínica Mé dica da Universidade Federal de Santa Catarinaem uma recente entrevista para o site
Unaberta,(www.unaberta.
ufsc.br)
da UFSC. "Normalmente,osdoentessentem
dor,
medo e vêem sua
integridade
física ser abalada.Quando
sãodefora de
Florianópolis
enãotêmrecursos
financeiros,
ao serem internados
perdem
ocontatocomafamília,
oque limitaarededeapoio social",
completou
acoordenadora. Como acontece comJ.F,
de 22 anos, natural do Piauí.Ele, junto
aoutros cinco ami gos, troca oestado natal porFlorianópolis
todo verão, em busca de emprego. Umagrave
doença,
contudo, o impediu
de dar continuidade aeste
projeto
e ohospitalizou
antes mesmo de começar a
trabalhar,
com endocarditeinfecciosa,
doença
causada por bactéria oufungo
e que afeta ocoração.
Por dividir o quartocom maistrêspacien
tese irsempreacompanhado
com uma auxiliar de enfer
meira ao
banheiro,
não de morou muito paraJ.F.,
assim comoL.A,
começar a ter sintomas de
depressão
causa dospela
faltadeprivacidade.
"Não estou acostumado com
conforto,
e a falta disso nãome
incomoda,
mas não terprivacidade
me incomoda etem feito eu ficar para
baixo,
deprimido.
Longe
da família e em umhospital público
é difícil se sentir bem".C")Nomes abreviados
cigarro
sentado sozinho em um dos seis sofás da sala. Há doze anos(ou mais)
vivendo noasilo,
ele diz que aindanão seacostumou."Prefiro ficarso zinho. Nãopreciso
de amizadeaqui
dentro. Nãogosto
de ninguém,
são todos unsvelhos!",
exclama o senhor de 72 anos que observa de soslaio os ou
tros 20
colegas
que passam o dia na sala de estar.Segundo
ele,
oisolamento foi amaneiraque eleencontrouparamanter umpouco desua
privacidade.
Mas Seu Orlando é exce
ção
noIrmãoJoaquim.
Aqui
aprivacidade
não faz falta. Paraeles,
omedo da solidão supe raqualquer
falta que a vidaprivada
possa fazer. O confortoqueoasilo lhes oferece éa melhor alternativa para eles. A maioria não
possui
outraescolha. "A
Constituição
regulamenta
que os asilos sãodestinados aos idosos que
não possuemnenhum familiar
vivo.
Aqui,
essanão éa reali dade. A maioriatem parentesvivos, mas eles nem sequer
os visitam,nem no
Natal,
nem em aniversários."É
umdepó
sitodeseres
humanos",
relata aenfermeiraresponsável,
San dra Flores.(*)
Nomes fictícioscausas
•A
depressão
écausada por umdesequilíbrio químico
no cérebrocomorigem
emvários fatorescomobiológicos,
sociais epsicológicos.
•
Algumas
pessoaspodem
ter umapredisposição
genética.
Por isso éimportante
sabersealguém
na suafamíliatem outevea
doença.
• Pessoascom
padrão negativo
depensamentotêm mais chance de desenvolver
depressão.
•
Algumas
doenças,
como cânceres,malde Parkinson e Alzheimerpodem
desencadearadepressão.
•
Situações
extremas,comoamortede
alguém querido pode
contribuir para umacrise dadoença.
• Nenhum desses fatores
é conclusivo. No entanto,