São Paulo, 30 de novembro de 2011. OF nº 011/2011 - Presidência
Ao Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS At. Sr. Carlos Ferrari - Presidente
Ref.: Estudo de Competências Básicas da Formação de profissionais que atuam na execução e implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)”
Prezado Senhores (as),
Em Agosto de 2010, o Ministério do Desenvolvimento Social/Conselho Nacional de Assistência Social iniciou um processo de debate para definição dos trabalhadores da Assistência Social, foram realizados cinco encontros regionais e um encontro nacional.
Participaram deste encontro a representação de 12 entidades de classe de trabalhadores identificadas no CENSO/2009 e trabalhadores das diversas categorias profissionais1 presentes na implementação do SUAS.
Na ocasião foi anunciado a realização do estudo da grade curricular e das competências das categorias profissionais em questão, visando uma formação curricular para cada área do conhecimento mais adequada as necessidades do SUAS.
Posteriormente, o CNAS publicou a Resolução nº 17 de junho de 2011 na qual referenda as equipes de referência do SUAS – psicólogos, assistente sociais, advogados, e reconhece outras categorias que poderão atender as especificidades dos serviços socioassistenciais e da gestão do SUAS, dentre elas o Sociólogo/a.
Para nossa surpresa e indignação, nos deparamos com a publicação do “Estudo de Competências Básicas da Formação de profissionais que atuam na execução e implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)” que apenas analisa quatro categorias profissionais – serviço social, psicologia, pedagogia e direito, reconhece a
fragilidade da formação destas para atuarem no SUAS não reconhece a competência, saberes e técnicas de outras categorias profissionais.
A necessidade do MDS em realizar o acompanhamento da formação dos profissionais e aproximar os conteúdos de formação ao conteúdo necessário à Política de Assistência acaba por exigir que profissionais da pedagogia, psicologia, serviço social e direito dominem saberes e compreensões que ultrapassam as respectivas áreas. Essa necessidade fica expressa no “Estudo das Competências Básicas” ao afirmarem que:
“As universidades devem preocupar-se em constituir, em todos os tipos de formação, o entendimento e a crítica ao modo como a sociedade está organizada” (p.4).
Concordamos com isso, porém construir a compreensão da realidade, a nosso ver, é para pautar uma ação mais 'social' do profissional, mais comprometida com uma realidade social vulnerável à riscos e situações de violência e não para realizar atividades sociológicas, antropológicas e políticas.
O “Estudo de Competências Básicas da Formação de profissionais que atuam na execução e implementação do SUAS” aponta para fragilidades dos currículos, que ao nosso entender ultrapassam o saber das áreas pesquisadas.
Em relação à psicologia:
“Elas [as políticas públicas] aparecem em disciplinas isoladas e fazem parte dos objetivos individuais de determinados docentes e não estão presentes de forma ampliada na instituição e de forma sustentável” (p.5).
Em relação à pedagogia:
“O conceito de educação social está indissociavelmente vinculado ao conceito de exclusão (…). Essa modalidade de educação exige um educador com uma formação em nível superior, porém mais ampla e diferenciada da que é oferecida pelo
Em relação ao serviço social:
“O manuseio de banco de dados, a elaboração de protocolos de
acompanhamento e monitoramento, a elaboração de diagnósticos sócio-econômicos, bem como métodos de avaliação e monitoramento do trabalho
dentro do SUAS são as dimensões que apresentam maior fragilidade, sendo também delicadas no que diz respeito à avaliação, intervenção e monitoramento
do trabalho social com famílias, indivíduos e comunidades” (p. 8).
“A ausência aparente de espaços de debate e reflexão a respeito da dimensão
dos direitos humanos e sociais no apoio direto” (p. 8).
Acreditamos que estes saberes devem ser realizados por aqueles formados na competência própria de uma área do conhecimento, as Ciências Sociais – antropologia, política e sociologia.
No que tange a formação em Ciências Sociais, a Lei 6.088/80 que cria a profissão do sociólogo/a, em seu artigo 2º define as competências deste profissional:
I. Elaborar, supervisionar, orientar, coordenar, planejar, programar, implantar, controlar, dirigir, executar, analisar ou avaliar estudos, trabalhos, pesquisas, planos, programas e projetos atinentes à realidade social;
II. Ensinar Sociologia Geral ou Especial, nos estabelecimentos de ensino, desde que cumpridas as exigências legais;
III. Assessorar e prestar consultoria a empresas, órgãos da administração pública direta ou indireta, entidades e associações, relativamente à realidade social;
IV. Participar da elaboração, supervisão, orientação, coordenação, planejamento, programação, implantação, direção, controle, execução, análise ou avaliação de qualquer estudo, trabalho, pesquisa, plano, programa ou projeto global, regional ou setorial, atinente à realidade social.
Outros documentos embasam a atuação do profissional formado em Ciências Sociais, a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) apresenta a descrição sumária das
Realizar estudos e pesquisas sobre as realidades sociais, econômicas e políticas; Participar da gestão territorial e socioambiental;
Estudar e gerir o patrimônio histórico e cultural;
Participar da elaboração, implementação, avaliação de políticas e programas públicos;
Organizar informações sociais, culturais e políticas e; Elaborar documentos técnico-científicos.
O documento de orientação da atuação do profissional das Ciências Sociais no SUAS demonstra que a colaboração deste profissional na gestão e execução do SUAS, integrando as equipes multidisciplinares envolvem diversas frentes do trabalho social:
Produção de conhecimento para o desenho e aprimoramento da política de assistência social;
Produção e gestão da informação, para subsidiar a tomada de decisão de gestores (públicos e privados);
Construção de instrumentais e técnicas de pesquisas para conhecimento e registro da realidade do território: vigilância socioassistencial, diagnóstico socioeconômico e estudo social;
Diagnóstico, planejamento, monitoramento e avaliação da ação pública;
Organização do sistema de informação - banco de dados de usuários, das entidades sociais, cadastramento socioeconômico, acompanhamento familiar; Elaboração de relatórios e notificação da ocorrência de situações de violações de
direitos;
Produção de orientação técnica de materiais informativos;
Construção do fluxo da rede de atendimento socioassistencial e articulação com outras políticas setoriais (intersetoriedade);
Execução de atividades e campanhas socioeducativas que visem a mobilização social e individual para o exercício da cidadania e defesa dos direitos;
Desenvolvimento e estímulo do convívio familiar, comunitário e da organização da vida cotidiana, mobilizado e fortalecendo as redes sociais de apoio comunitário;
Desenvolvimento de projetos para enfrentamento à pobreza por meio do acompanhamento familiar;
Dessa forma, o objeto da sociologia e as atribuições dos sociólogos apresentam especificidades que vão ao encontro das necessidades da política de Assistência Social.
A atuação do profissional sociólogo/a esta em conformidade com a NOB-RH/SUAS 20062 e compõem o conjunto de “categorias profissionais de nível superior que, preferencialmente, poderão atender as especificidades dos serviços socioassistenciais” e da gestão do SUAS (artigo 3º, Resolução nº 17/2011) .
O aprimoramento dos profissionais que atuam na implementação do SUAS inclui reconhecer outras categorias profissionais e suas contribuições específicas com saberes, competências e técnicas de cada área do conhecimento.
Entendemos que a avaliação dos conteúdos curriculares é importante por proporcionar o conhecimento de cada área e assim, entendendo a contribuição específica e geral, traçar as formas de complementaridade que cada uma proporciona a outra.
Diante do exposto, a Federação Nacional dos Sociólogos FNS, pleiteia que o mesmo estudo seja extensivo as demais categorias profissionais reconhecidas pela Resolução nº 17/2011, compreendendo a amplitude da ação do SUAS e da contribuição das diversas categorias profissionais que compõem o sistema. Nesse sentido, para orientar/balizar os trabalhos do Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, anexamos nossa Nota Técnica, os Parâmetros/Diretrizes Curriculares CNE para o curso de Ciências Sociais e a Lei 6.888/80 e Decreto 89.531/84 que criaram e regulamentaram a profissão do sociólogo/a.
Sem mais, registrando aqui nossa expressão de melhor apreço, Cordialmente,
Soco Ricardo Antunes de Abreu – DRT 1560 – SP.