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Cuidados com base em Valor
está redefinindo a Assistência de
Saúde na América Latina?
Próximas Fronteiras no Acesso ao Mercado
Henrique Neves
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein Diretor Geral 1
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Value Based HealthCare – Brasil
O sistema público de saúde brasileiro atende 75% da população, porém recebe apenas 46% do valor total de recursos, resultando em uma alocação mais baixa de recursos públicos per
capita e uma correspondente qualidade mais baixa da assistência aos usuários do SUS.
Para aumentar a eficiência, o governo criou o CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS), que faz a avaliação de novas tecnologias em saúde e apoia a elaboração de
diretrizes clínicas, porém a assistência com base em valor não é o foco principal.
1 Não há políticas nacionais para organização da prestação de serviços de saúde em unidades integradas
2 Os sistemas são organizados por níveis da assistência e os registros não são vinculados
3 Alto nível de fragmentação no sistema de saúde
4 Apenas 10% das instituições de saúde locais utilizam prontuários de saúde eletrônicos
Principais desafios:
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Value Based HealthCare – Chile
A cobertura de saúde universal do país é fornecida tanto por fundos privados de seguro de saúde, como pelo Fondo Nacional de Salud – FONASA, sendo que este cobre cerca de 80%
da população.
Apesar desta alta cobertura, o setor público tem um baixo investimento, o que gera uma grande desigualdade assistencial e, por esta razão, o governo chileno constituiu o GES (Garantías Explícitas en Salud) que estabeleceu pagamentos por pacote de doenças
priorizadas.
1 O país possui múltiplos registros de doenças, porém o acesso à informação para fins de pesquisa é limitado
2 O Egresos Hospitalarios, um registro obrigatório para todas as internações hospitalares, fornece estatísticas
sobre o sistema de saúde chileno, porém as informações de desfechos dos pacientes não são coletadas por nenhum sistema
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Principais desafios:
O setor privado, através do ISAPRE (Instituições de Saúde Previsional) adotou práticas de gerenciamento
baseadas em valores, como a organização da entrega de saúde em unidades integradas, mas que ainda não fazem
parte da estratégia nacional de saúde.
O governo coleta dados de custo do tratamento do paciente para fins de financiamento, porém os dados não abrangem todas as doenças e condições ou todos os prognósticos.
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Value Based HealthCare – Colômbia
Mais de 95% da população colombiana têm acesso ao seguro saúde – privado ou público – no entanto, há desigualdades assistenciais, constituindo uma barreira para o uso efetivo dos serviços.
Em 2012 foi criado o IETS (Instituto de Evaluación Tecnológica em Salud) que provê suporte na decisão de alocação de recursos, produz avaliações de tecnologia da saúde
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O setor privado possui pouco incentivo para melhorar a qualidade dos cuidados sem aumentar os custos
2 Os registros de saúde eletrônicos são usados em um ambiente limitado e não são interoperáveis entre os
hospitais
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Principais desafios:
Em 2016, o governo implementou um novo modelo de pagamento por desempenho (Politica de Atencion Integral en Salud) estabelecendo padrões de qualidade e medição de desfechos, porém a infraestrutura de dados de saúde do país ainda requer melhorias
Fonte: The Economist, 2016, http://vbhcglobalassessment.eiu.com
e revisão de diretrizes clínicas baseadas em evidências com o objetivo de melhorar a eficiência e a qualidade
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Value Based HealthCare – México
Com a finalidade de prover saúde universal de qualidade, o México criou o CENETEC – Centro Nacional de Excelencia Tecnologica en Salud, uma organização de avaliação de
tecnologia da saúde (HTA) que desenvolve diretrizes clínicas baseadas em evidências
e avalia investimentos em tecnologias médicas.
O México fez progressos notáveis na coleta de dados epidemiológicos, mas não possui uma ampla coleta de dados padronizados sobre desfechos e registros de saúde interoperáveis para facilitar o monitoramento e a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde.
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FUNSALUD (Fundacion Mexicana para ala Salud A.C), um think tank que promove medições de qualidade e padronização em hospitais públicos e privados
CASALUD (Fundacion Carlos Slim Salud), uma organização de saúde sem fins lucrativos, promove um melhor uso da tecnologia e dos registros de saúde para melhorar os cuidados a custos reduzidos
SINAVE (National System for Epidemiological Vigilance) coleta e reporta informações nacionais, mas pouco se sabe sobre a qualidade da saúde e não há infraestrutura de dados para medir resultados ou métricas de atendimento ao paciente
Principais fatos e desafios:
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Value Based HealthCare
Análise Comparativa
Alinhamento geral
Domínios
Capacitação de contexto, políticas e instituições para gerar valor no setor de saúde Mensuração de resultados e custos
Assistência integrada e centrada no paciente
Abordagem de pagamentos com base em resultados
Baixo
Moderado
Baixo
Moderado
Alto
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
Moderado
Moderado
Moderado
Baixo
Baixo
Moderado
Moderado
Baixo
Baixo
2010 2011 2012 2013 2014
7,2 7,1 7,0 7,2 7,3
2012 2013 2014 2015 2016
8,3 8,5 8,3 9,0 9,0
Em geral, os sistemas de saúde estão diante de demanda e custos crescentes, consumindo
uma parcela importante do PIB e com potencial de inibir o crescimento econômico
O percentual do PIB destinado à saúde no Brasil é maior do que a média dos países latinos,
porém está abaixo do restante do mundo que está com média próxima dos 10,0%².
Fonte: ¹: Banco Mundial; ²: Estado de São Paulo –“Orçamento para saúde no Brasil fica abaixo da média mundial” (17.05.2017)
América Latina
¹ (% do PIB gasto em saúde)Brasil
¹ (% do PIB gasto em saúde)A principal razão para o crescimento de gastos em saúde no Brasil é o aumento da
frequência de uso, que é resultado de vários fatores, entre eles:
Modelo de remuneração baseado no fee for service
Falta de informações que permitam continuidade do cuidado
e a gestão sistêmica
Esforços de prevenção limitados
Mecanismos limitados de compartilhamento de custos com os
pacientes
O número de beneficiários cresceu 3,4% a.a. de 2009 a 2014, porém desde 2015 vem apresentando uma queda 42,6 44,9 46 47,8 49,4 50,4 49,3 47,9 47,4 47,5 48,7 50,2 51,7 53,2 -0,1 7,5 3,9 1,9 3,0 0,5 -3,8 -3,6 0,3 2,5 3,0 3,0 3,0 3,0 8,6 8,3 7,6 7,3 7,0 6,7 8,4 11,5 12,9 12,8 12,3 11,8 11,3 10,8 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Beneficiários de planos privados de saúde (milhões) PIB (%) Taxa de Desemprego (%)
CAGR= 3,4% CAGR= -1,2%
O principal motivo da queda do número de beneficiários foi o aumento do
desemprego provocado pela recessão econômica do país
¹Folha de São Paulo – 28/04/17; relatório Itaú Brasil Macro – 31/05/2017. Fonte Gráfico: Bradesco/ ANS/ Estimativas SD&W, IESS Jun/17 Planejamento Estratégico Einstein
Devido aos altos gastos com saúde, as empresas optaram pela co-participação e o downgrade dos planos, restringindo o acesso dos beneficiários
Ao perder o acesso à saúde privada, a
população migra para o Sistema
Único de Saúde, sobrecarregando o sistema
Pelo menos no Brasil, a sustentabilidade do atual modelo parece estar em xeque, pois ao
aumento de gastos somou-se uma redução do número de beneficiários
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O modelo baseado no Value Based C
are vem sendo apresentado como a solução
Valor para o paciente = Desfechos
Custos
Um modelo baseado em gerar valor para o
paciente, com foco no resultado e na qualidade
dos serviços prestados e na consequente
diminuição dos custos atrelados a eles.
Embora a equação pareça óbvia, definir de
forma unívoca desfechos e custos não é um
exercício trivial, particularmente levando em
consideração que esta definição é importante
para exercícios de benchmark.
“Better Health is the goal, not more treatment” “Quality improvement is the most powerful driver
of cost containment and value improvement”
O aumento da sinistralidade em 50% nos últimos 15 anos pressiona também o sistema para a adoção do VBC
Histórico de sinistralidade dos planos (%)
79,1 81,4 81,5 81,4 79,7 80,5 80,3 83,0 81,2 82,4 85,0 84,3 85,0 84,6 84,8
Fonte: IESS, ANS, IBGE. *1º semestre, Relatório Compass
Novos modelos estão se expandindo, não por força de intervenção regulatória ou de ações iniciadas
pelos prestadores de serviços, mas por imperativo econômico, que é a redução dos recursos disponíveis
Com o aumento dos custos de saúde superior à inflação – que em 2016 fechou em 20,4%, – decorrente do descontrole do aumento da frequência de uso, a adoção de novos modelos torna-se inevitável e é uma saída para lidar com o aumento dos custos de saúde.
Determinantes da variação do sinistro (R$ MM) – 2002 a 2016
20,4 135,5 11,3 73,4 30,3 Sinistro 2002 Aumento de volume Aumento de uso Aumento de preço e variação Sinistro 2016 11 11
A boa notícia é que o potencial de melhorar os resultados e reduzir custos é praticamente
ilimitado
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01. Educação em Saúde
A Educação em Saúde da população em geral é resultado da tendência de busca de Saúde e Bem-Estar.
02. Prevenção
Prevenção, Promoção e Vigilância devem ser os principais norteadores do sistema.
03. Adequação dos recursos e gestão da capacidade
Fim de um modelo Hospitalocêntrico: o hospital apenas para casos de alta
complexidade. Incentivo à atenção primária e ambulatórios de média complexidade.
04. Melhoria da Qualidade da Informação Uso de bases informacionais para processar dados de maneira inteligente em toda a cadeia melhorando a qualidade, eficiência e reduzindo o custo. Exemplo: Big Data, Prontuário Eletrônico
05. Micro-gestão de processos
Identificar possíveis ganhos de eficiência operacional.
06. Melhor formação dos médicos Uma formação técnico-científica voltada para a promoção da saúde e prevenção de doenças, mais proativo e menos reativo. Uma visão sistêmica e de controle de custos.
Value Based
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Serviços com base em valor ainda estão no início na América Latina, mas seu potencial para
melhorar os resultados de cuidados e reduzir os custos é evidente
É importante investir fortemente na coleta e sistematização de informações que ajudem a tomada de decisões a fim de oferecer a assistência mais efetiva nas diversas condições e reconhecer que a mudança do modelo de remuneração será realizado ao longo do tempo
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Clínica Cuidar Clínicas Ambulatoriais Programa de Ortopedia
Foco em promoção de
saúde através do acompanhamento
contínuo da saúde (Médico
de Família) para todos os colaboradores e dependentes Contribuindo para a desospitalização, as novas clínicas ambulatoriais oferecem consulta multiprofissional, imunização, coleta de exames, nebulização e educação em saúde
Padronização de
protocolos e práticas, cujo objetivo é evitar o
excesso de indicação de cirurgias desnecessárias
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Telemedicina
Uma evolução na interação
médico-paciente de forma a
possibilitar modelos de atendimento não centrado
exclusivamente na atenção hospitalar presencial
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Uma das respostas no Brasil foi a criação do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), formado por representantes da cadeia produtiva do setor de saúde que pretende contribuir, de forma propositiva e pluralista, para o debate e a busca de novos avanços na área, em resposta às demandas da população e às necessidades do país.
O ICOS defende:
Estimular a mudança cultural para o foco em promoção da saúde através de maior educação da população e
atuação do empregador
Fortalecer a atenção primária, principalmente no setor privado, valorizando a medicina da família e uso de
multiprofissionais
Ampliar acesso a medicamentos e garantir maior adesão a tratamentos Estimular e pilotar modelos inovadores de atenção
Construir uma agenda nacional para inovação, respaldada por uma maior agilidade regulatória e maior
integração da pesquisa acadêmica com a cadeia
Estimular modelos assistenciais com foco no idoso e no doente crônico
Estabelecer processo e governança para protocolos clínicos de referência nacional
Iniciar discussão sobre os diferentes modelos de pagamento buscando maior alinhamento de incentivos Criar capacidade para consolidação, análise e divulgação de dados nos sistemas público e privado Integrar dados do paciente de forma centralizada por meio de prontuário eletrônico