AGRAVANTE: RUY DE SOUZA GONCALVES
AGRAVADO: BANCO DO BRASIL S. A.
Número do Protocolo: 32412/2011 Data de Julgamento: 21-06-2011
EMENTA
RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - CÁLCULO DA CONDENAÇÃO - DECISÃO QUE DETERMINA O CUMPRIMENTO DA SENTENÇA - ATO MERAMENTE ORDENATÓRIO - POSTERIOR DETERMINAÇÃO DE REMESSA DO FEITO PARA O CONTADOR JUDICIAL - POSSIBILIDADE - INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 475-B, § 3º, DO CPC - RECURSO DESPROVIDO.
O despacho que recebe pedido de cumprimento de sentença e determina a intimação para pagamento, apresenta natureza meramente ordinatória, sem força para causar prejuízo jurídico às partes ou imutabilidade
O Juiz pode valer-se do contador judicial para acertamento do cálculo do valor da condenação apresentado pelo credor com o comando da sentença, nos termos do disposto no art. 475-B, § 3º, do CPC.
AGRAVANTE: RUY DE SOUZA GONCALVES
AGRAVADO: BANCO DO BRASIL S. A.
RELATÓRIO
EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES Egrégia Câmara:
Cuida-se de Recurso de Agravo interposto por Ruy de Souza Gonçalves de decisão que no Cumprimento de Sentença, entendeu pela necessidade de remessa do feito à contadoria do Juízo, a fim de que se apure o real valor devido, para posterior apreciação da exceção de pré-executividade oposta pelo Banco do Brasil S.A.
Sustenta a nulidade da decisão, porque marcada por nítida inversão processual traduzida na revogação de outra proferida pela juíza Olinda de Quadro Altomare Castrillon, que havia determinado o prosseguimento da execução contra o Banco do Brasil S/A, com o pagamento do valor indicado, no prazo de dez dias.
Noticia que propôs o cumprimento de sentença em 16-11-2009, o que foi deferido em 03-2-2010 (fl. 142/TJ) e em 23-4-2010 o executado, ora agravado, teve ciência inequívoca do pedido com a petição de juntada de substabelecimento.
Salienta o desacerto da decisão impugnada, porque desconsiderou aquela proferida em 03-2-2010, que havia determinado a intimação do banco para pagar a quantia líquida oriunda da sentença prolatada nos autos nº 8.822/98.
Acentua que a questão no que diz respeito aos valores está preclusa para o agravado que embora tenha apresentado exceção de pré-executividade intempestiva, evidencia, por outro lado, a ciência inequívoca acerca da quantia executada.
Anota ainda, que não consta pedido, seja do agravante ou agravado, para que o feito seja remetido à Contadoria do Juízo para acertos de valores, o que demonstra a nulidade da decisão, porque ultra petita.
Postula seja revogada a decisão agravada para que seja julgada extinta a Exceção de Pré Executividade aviada pelo banco (fl.600/619) e procedente a impugnação aviada pelo agravante ao referido incidente (fl. 625/640).
A liminar foi indeferida (fl. 227/228). Interpostos Embargos de Declaração, foram rejeitados (fl. 242/245).
Em contraminuta, o agravado sustenta que o envio dos autos ao contador judicial para verificar a existência de eventual crédito em favor do agravante encontra arrimo no artigo 130 do Código de Processo Civil.
Aduz que o julgamento da exceção de pré-executividade e de seus pressupostos de admissibilidade, deve ser feito, por primeiro, pelo juiz da causa, sob pena de supressão de instância. Postula o desprovimento do recurso.
VOTO
EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (RELATOR) Egrégia Câmara:
A controvérsia está em saber se é ultra petita decisão que no Cumprimento de Sentença movido por Ruy de Souza Gonçalves, entendeu pela necessidade de remessa do feito à Contadoria do Juízo, a fim de apurar o real valor devido, para posterior apreciação da exceção de pré-executividade aviada pelo agravado Banco do Brasil S.A.
Uma breve explanação dos fatos.
O agravante propôs o cumprimento de sentença oriunda do processo nº 8.822/98 em 16-11-2009. Em 03-02-2010, consta o despacho inicial que determinou a intimação do banco executado para pagar o débito, nos termos do artigo 475-J (fl. 142-TJ).
O executado, ora agravado, interpôs Exceção de Pré-Executividade em 01-02-2011 e por meio do incidente alega, em síntese, a inexistência de título executivo, porque, na verdade é credor do exeqüente e não devedor do agravante (fl. 57-70).
O Magistrado Singular, por conta da controvérsia sobre o valor devido e por entender que a sentença que se postula o cumprimento não é líquida, determinou a remessa dos autos à Contadoria do Juízo, para constatar o real valor devido, nos seguintes termos:
“...
Deste modo, levando em consideração que os cálculos trazidos à baila pelo credor em seu pedido de cumprimento de sentença (fls. 489/493) não estão suficientemente claros a corroborar com o dispositivo da sentença proferida e mantida parcialmente pelas instâncias superiores - e isso poderá gerar divergências em sede de impugnação ao cumprimento de sentença - entendo de suma importância a remessa dos autos à contadoria deste Juízo, para efetuar os acertos necessários no que tange a decisão de fls. 249/272, concatenada com a reforma parcial de fls. 436/43, constatando-se o real valor devido.”
Por primeiro, no que diz respeito ao despacho que recebeu o cumprimento de sentença e determinou a intimação do banco para o pagamento da quantia executada, cumpre ressaltar que corresponde tão somente ao impulso oficial para início da prática dos atos executivos na ação de execução proposta, despido, portanto, de conteúdo relevantemente decisório e suficiente a representar imutabilidade pretendida pelo agravante.
Nesse sentido:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. BRASIL TELECOM S/A. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INTIMAÇÃO DO DEVEDOR PARA CUMPRIMENTO DO JULGADO, EM 15 DIAS, SOB PENA DE MULTA DE 10%, A TEOR DO QUE DISPÕE O ART. 457-J DO CPC. DESPACHO DE MERO EXPEDIENTE. ART. 504 DO CPC. IRRECORRIBILIDADE. AGRAVO NÃO CONHECIDO. (TJ/RS
-Agravo de Instrumento Nº 70023231079, Segunda Câmara Especial Cível - Relatora Lúcia de Fátima Cerveira, 24/06/2009)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL - DECISÃO QUE DETERMINA O CUMPRIMENTO DA SENTENÇA QUE HOMOLOGOU ACORDO - ATO MERAMENTE ORDENATÓRIO - QUESTÃO DE ORDEM - AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL - RECURSO NÃO CONHECIDO.
O provimento judicial que determina o cumprimento de sentença, em resposta ao pedido executivo da parte demandante, profere ato de impulso oficial, que dá seguimento ao procedimento executivo prescrito no art. 475-J do CPC.
Inexistente, no ato judicial, conteúdo decisório mínimo, do qual possa resultar prejuízo à parte, não se configura decisão agravável. “(TJ/MT - Recurso
de Agravo de Instrumento nº 99857/2008 - Quarta Câmara Cível - Relator Marcio Vidal - Data de Julgamento: 02-3-2009) (grifei)
No que tange a remessa do feito à Contadoria do Juízo, a decisão não é marcada como ultra petita.
valer-se do Contador do Juízo para verificação da correção ou incorreção das contas. A respeito do tema, lecionam NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY:
"§ 3º. 9. Cálculo do contador. A norma autoriza o juiz a tomar, de
ofício, medidas que seriam próprias da parte interessada, já que na execução por quantia certa, por meio do cumprimento da sentença, o direito patrimonial é normalmente disponível. Quando tratar-se de processo em que haja assistência judiciária, bem como naqueles em que o juiz perceber que a memória de cálculo apresentada pelo credor é flagrantemente superior ao que determina o título executivo (judicial ou extrajudicial), pode o magistrado solicitar o auxílio do contador do juízo para que confira os referidos cálculos” (Código de Processo
Civil Comentado e Legislação Extravagante", 9ª edição, editora Revista dos Tribunais, p. 632).
Dessa maneira, diante da controvérsia sobre o valor devido, não há óbice à remessa do feito à Contadoria do Juízo, especialmente porque o ato não enseja qualquer prejuízo para as partes, porque o cálculo do contador não pode destoar do título judicial.
A jurisprudência sobre a questão ponto:
“O Juiz, sendo a sentença ilíquida, pode valer-se do contador judicial para acertamento do cálculo do valor da condenação apresentado pelo credor com o comando da sentença, visando depurar do título executivo judicial o excesso do 'quantum debeatur.” (TJ/MG - AI 1.0024.01.562014-9/002 - Rel. Des.
Duarte de Paula, 11.ª Câmara Cível - julgado em 10/12/2009 - DJe 16/1/2009). (grifei)
“CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - CÁLCULO DO CREDOR - ACERTO PELO CONTADOR JUDICIAL - HOMOLOGAÇÃO - FASE PRELIMINAR AO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA - RECURSO SEM PREVISÃO LEGAL.
O Juiz pode valer-se do Contador Judicial para acertamento do cálculo da condenação com o comando da sentença, visando depurar do título
executivo judicial o excesso do “quantum debeatur”, procedimento este que é de natureza provisória, não prevendo o Código desta manifestação do juiz, nesta fase preliminar, qualquer recurso, sendo de se observar que após acerto do valor do débito, aplicam-se as disposições do art. 475-J e seguintes, CPC, no cumprimento da sentença, quando pode ensejar a impugnação, que, uma vez resolvida, aí sim, possibilitará o aviamento do recurso de agravo ou de apelação, este quando a decisão extinguir a execução. (TJ-MG - Agravo nº
1.0024.02.750549-4/001(1), 11ª Câmara Cível do TJMG, Rel. Duarte de Paula. j. 13.06.2008, Publ. 26.07.2008) (grifei)
Por último, saber se há ou não título executivo, ou questões outras ventiladas, constitui matéria cujo exame não passou, ainda, pelo crivo do i. prolator da decisão recorrida.
Com essas considerações, nega-se provimento ao recurso. É como voto.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. GUIOMAR TEODORO BORGES, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (Relator), DESA. MARIA EROTIDES KNEIP BARANJAK (1ª Vogal convocada) e DES. MARCOS MACHADO (2º Vogal convocado), proferiu a seguinte decisão: À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.
Cuiabá, 21 de junho de 2011.
---DESEMBARGADOR GUIOMAR TEODORO BORGES - PRESIDENTE DA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL EM SUBSTITUIÇÃO LEGAL E RELATOR
