• Nenhum resultado encontrado

A cena musical alternativa tubaronense: o rock underground e os grupos punk, hardcore e banger entre 1990 e 2010

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A cena musical alternativa tubaronense: o rock underground e os grupos punk, hardcore e banger entre 1990 e 2010"

Copied!
71
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA WILLIAN MEDEIROS MENDES

A CENA MUSICAL ALTERNATIVA TUBARONENSE: O ROCK UNDERGROUND E OS GRUPOS PUNK, HARDCORE E BANGER ENTRE 1990 E 2010.

Tubarão 2019

(2)

WILLIAN MEDEIROS MENDES

A CENA MUSICAL ALTERNATIVA TUBARONENSE: O ROCK UNDERGROUND E OS GRUPOS PUNK, HARDCORE E BANGER ENTRE 1990 E 2010.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de História da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de licenciado.

Orientador: Prof. Ricardo Neumann, Dr.

Tubarão 2019

(3)

WILLIAN MEDEIROS MENDES

A CENA MUSICAL ALTERNATIVA TUBARONENSE: O ROCK UNDERGROUND E OS GRUPOS PUNK, HARDCORE E BANGER ENTRE 1990 E 2010.

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de licenciado e aprovado em sua forma final pelo Curso de História da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, 05 de dezembro de 2019.

______________________________________________________ Prof. Ricardo Neumann, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Elvis Dieni Bardini, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Micaella Schmitz Pinheiro, Ms.

(4)

Dedico essa monografia ao meu pai, que além de sempre me apoiar em minhas decisões, é um dos personagens desse trabalho e me inseriu ao meio musical alternativo desde quando eu era criança.

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu professor e orientador, Ricardo Neumann, que além de ser um ótimo professor, sempre foi atencioso no processo de escrita dessa monografia.

A todos os professores do Curso de História, em especial aos professores Elvis Bardini, Claudio Damaceno Paz e Alexandre de Medeiros Motta, que sempre me serviram de inspiração.

Agradeço a todos os entrevistados e a todos que me cederam os seus acervos pessoais para a escrita desse trabalho.

Agradeço a minha família, a minha namorada e a todos os meus amigos, que sempre me apoiaram em minhas decisões e são a base de tudo.

(6)
(7)

RESUMO

Nessa monografia, observou-se a história da cena musical alternativa tubaronense entre 1990 e 2010. No começo da década de 1990, alguns jovens da cidade de Tubarão criaram as suas próprias bandas com músicas autorais gravadas em casa, independentes de gravadoras e com forte influência de movimentos alternativos, tais como, o movimento punk e o movimento heavy metal. Esses jovens movimentaram a cidade ocupando diversos espaços, organizando shows e eventos, montando bandas, criando fanzines e desse modo, criaram uma cena musical alternativa na cidade. Essa cena musical alternativa rompeu com os padrões conservadores da sociedade tubaronense e também com os padrões musicais da época, sendo alvo de preconceito e repressão. Por meio das letras das músicas e das atitudes dos participantes da cena, nota-se que os mesmos não aceitavam a hipocrisia religiosa da sociedade, a repressão policial, o conservadorismo e as más condições econômicas da população. Essa cena que iniciou-se em meados da década de 1990 sofreu diversas modificações no decorrer do tempo. Nos anos 2000 percebe-se que as influências e os modos de organização eram diferentes que os do início da cena alternativa tubaronense. Dentre as condições que contribuíram para essa mudança, pode-se destacar a popularização dos estúdios de gravação e o uso da internet como os principais fatores dessa mudança.

(8)

ABSTRACT

This monography, observed the history of the alternative music scene of the city of Tubarão. In the early 1990s, some young people from the city of Tubarão created their own bands with home-recorded songs, independent from record labels and with strong influences from alternative movements such as punk and heavy metal. These young people moved the city occupying several spaces, organizing shows and events, setting up bands, creating fanzines and in this way they created an alternative music scene in the city. This alternative music scene broke with the conservative standards of the society of Tubarão and also with the musical standards of the time, being the target of prejudice and repression. Through the lyrics of the songs and the attitudes of the participants of the scene, it is noted that they did not accept the religious hypocrisy of society, police repression, conservatism and poor economic conditions of the population. This scene that began in the mid-1990s underwent several changes over time. In the 2000s, it is clear that the influences and ways of organization were different from those of the beginning of the alternative scene. Among the conditions that contributed to this change, we can highlight the popularization of recording studios and the use of the internet as the main factors of this change.

(9)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CD – Compact Disc

D.H.C – Devotos da Humanidade em Caos

EP – Extended Play

EUA – Estados Unidos da América K7 – Fita Cassete

LP – Long Play

MC5 – Motor City Five MTV – Music Television TV – Televisão

(10)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Capa do vinil Velvet Underground and Nico ... 19

Figura 2 - Faixada do CBGB ... 20

Figura 3 - McLaren e Sex Pistols ... 21

Figura 4 - Integrantes da banda AI-5 ... 23

Figura 5 - Capa do último vinil da banda Tubarão ... 27

Figura 6 - Capa do vinil da banda Ave de Rapina ... 27

Figura 7 - Imagem do fanzine Atomic Garden ... 31

Figura 8 - Cartão de Divulgação do Programa Comando Metal ... 33

Figura 9 - Foto dos integrantes da D.H.C ... 36

Figura 10 - Foto da Demo Tape da D.H.C ... 37

Figura 11 - Letras de duas músicas autorais da D.H.C ... 38

Figura 12 - Capa da Demo Tape do Los Bestas ... 40

Figura 13 - Cartaz de um festival em Palhoça com a banda Chá de Boldo ... 41

Figura 14 - Show da banda Chá de Boldo com participação do Jean ... 42

Figura 15 - Público do Festival em São José ... 43

Figura 16 - Cartaz da segunda edição do festival Apokalipse ... 44

Figura 17 - Cartaz de divulgação do aniversário de Tubarão ... 46

Figura 18 - Show da banda Artigo 288 no final dos anos 90 ... 47

Figura 19 – Trecho da letra da música Skate Não é Crime ... 48

Figura 20 - Flyer do Shark Rock Revival ... 51

Figura 21 - Primeiro EP da Blue Draks ... 53

Figura 22 - Cartaz do festival em Tubarão com a Banda A-OK ... 54

Figura 23 - Capa do CD Café e Paciência ... 55

Figura 24 - Flyer do I Punk Rock in Festival ... 57

Figura 25 - Festival organizado no Mano's Bar ... 58

Figura 26 - Show da GGH no Bar do Buda ... 59

Figura 27 - Evento da cena alternativa no Bar do Buda em 2006 ... 60

Figura 28 - Capa do CD da banda Vegas ... 61

Figura 29 - Flyer do evento junto com o Rancore em Curitiba ... 62

Figura 30 - Capa do primeiro EP da Vetor Unitário ... 63

Figura 31 - Capa do fanzine Papelão ... 64

(11)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 11 1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ... 11 1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 11 1.3 JUSTIFICATIVA ... 11 1.4 OBJETIVOS ... 12 1.4.1 Geral ... 12 1.4.2 Específicos ... 12 1.5 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 13

1.6 ORGANIZAÇÃO DO PLANO CAPITULAR ... 13

2 O CONCEITO DE CENA E OS MOVIMENTOS ALTERNATIVOS ... 15

1.2 PUNK ... 18

1.3 ROCK ALTERNATIVO ... 24

3 A CENA MUSICAL ALTERNATIVA DE TUBARÃO ... 26

3.1 A CENA POP ROCK DE TUBARÃO ... 26

3.2 O PRINCÍPIO DA CENA ALTERNATIVA TUBARONENSE ... 28

4 A CENA ALTERNATIVA NOS ANOS 2000 ... 50

5 CONCLUSÃO ... 67

REFERÊNCIAS ... 68

APÊNDICE ... 69

(12)

1 INTRODUÇÃO

Esse capítulo consiste em abordar a parte inicial desta monografia, são discutidos temas que perpassam desde a delimitação do tema, a justificativa, os objetivos do trabalho, até o delineamento da pesquisa.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Os movimentos musicais alternativos marcaram a história da música para sempre, o punk, o grunge e o heavy metal foram três dos movimentos alternativos que tiveram maior repercussão em todo o mundo. Nota-se que os movimentos alternativos foram manifestados ao redor do mundo todo, sendo em grandes metrópoles ou em pequenas cidades, jovens se organizaram de maneira independente de gravadoras e montaram as suas próprias bandas, gravaram as suas músicas de forma caseira, organizaram eventos e movimentaram suas respectivas cidades, formando assim, uma cena local. No entanto, mesmo esses movimentos possuindo uma mesma origem e características em comum, são manifestados de maneiras diferentes em cada região. Diante desses fatos, apresenta-se como delimitação do tema de pesquisa: a cena musical alternativa tubaronense: o rock underground e os grupos punk, hardcore e banger entre 1990 e 2010.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Compreendendo que os movimentos alternativos, como o movimento punk, o movimento grunge e o movimento heavy metal, marcaram para sempre a história da música no século XX e revolucionaram a indústria do rock, aponta-se a pergunta desta monografia: de qual maneira se deu o processo de formação e organização da cena alternativa tubaronense?

1.3 JUSTIFICATIVA

O autor da monografia manteve laços com a cena musical alternativa tubaronense desde a infância, membros de sua família como o pai e o padrinho

(13)

foram os percussores da cena. Ele lembra das fitas demos, dos discos de vinil e dos fanzines que seu pai conservava em casa, ainda quando criança teve a oportunidade de frequentar alguns eventos e ensaios de bandas da cena.

A música e os estilos alternativos sempre foram presentes na vida do autor, sempre frequentou e ainda frequenta os espaços da cena alternativa tubaronense, pôde ver shows de diversas bandas alternativas da cidade, assim como, de inúmeras outras bandas alternativas de diferentes regiões e nacionalidades. Além disso, possui diversos amigos que movimentaram e ainda movimentam a cena do município com bandas e eventos.

A partir disso, o autor decidiu realizar a pesquisa de conclusão do curso de História em cima da cena musical alternativa tubaronense, pois além de ter uma forte relação afetiva com a cena, acredita que a cena tubaronense transformou a vida de diversos jovens do município, tendo em vista, que muitos deles ainda movimentam a cena com eventos, com shows e conseguem obter uma fonte de renda da própria cena.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Geral

Analisar a cena musical alternativa tubaronense de 1990 a 2010 e seus desdobramentos sociopolíticos, bem como, sua forma de organização, suas influências, seus participantes, suas produções e seus locais.

1.4.2 Específicos

a) Analisar o conceito de cena e as especificidades dos estilos punk e alternativo.

b) Diferenciar a cena pop rock tubaronense da cena musical alternativa do município.

c) Descrever o processo de formação da cena alternativa e seu prosseguimento até 2010.

(14)

1.5 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Para o estudo da cena musical alternativa tubaronense, o autor observou a origem do movimento punk e das cenas alternativas por meio do livro Mate-me Por Favor de Legs McNeil e Gillian McCain, que retrata a origem do movimento punk nos EUA e na Europa. A origem do movimento punk no Brasil foi retratada por meio do documentário Botinada dirigido por Gastão Moreira. O autor também baseou-se no conceito de cena musical de Will Straw e de outros autores como Andy Bennett, Richard Peterson, Jeder Janotti e João Freire Filho.

Para a análise da cena musical alternativa tubaronense propriamente dita, consistiu em uma pesquisa exploratória, pois de acordo com Gil (2002) proporciona uma maior afinidade com o problema com o objetivo de deixa-lo mais explícito ou de construir hipóteses. Em relação ao procedimento de coleta de dados, realizou-se através de uma pesquisa qualitativa de campo, com auxílio da pesquisa bibliográfica e da história oral.

A pesquisa bibliográfica transcorreu da necessidade de fazer análises e interpretações de fontes secundárias (livros, documentários, revistas, jornais, artigos, teses, etc). O objetivo da pesquisa bibliográfica é familiarizar o pesquisador com tudo o que já foi escrito e dito a respeito do tema pesquisado.

A história oral e as fontes orais, se deu através de entrevistas com os participantes que movimentaram a cena musical alternativa tubaronense. Essas fontes, não foram utilizadas como narrativas fechadas e inequívocas da cena, mas sim, com o objetivo de interpretar nas entrelinhas de como surgiu e decorreu a cena musical alternativa tubaronense entre 1990 e 2010.

1.6 ORGANIZAÇÃO DO PLANO CAPITULAR

O desenvolvimento da presente monografia está organizado em três capítulos. No primeiro capítulo, descreve-se o conceito de cena musical e traz uma síntese da história do movimento punk e do rock alternativo. No segundo capítulo, apresenta-se a história da cena musical alternativa tubaronense e suas características entre 1990 e 2010. Enquanto o terceiro capítulo, aborda-se a cena musical alternativa tubaronense e seus desdobramentos entre 2000 e 2010. Além dos três capítulos, o presente trabalho possui uma introdução, onde encontra-se a

(15)

delimitação do tema, a formulação do problema, a justificativa e o delineamento da pesquisa. Por fim, apresenta-se a conclusão, onde são debatidas as considerações finais do trabalho.

(16)

2 O CONCEITO DE CENA E OS MOVIMENTOS ALTERNATIVOS

A análise da história da cena musical alternativa tubaronense, será feita a partir do conceito de cena proposto por Will Straw1, que depois foi aproveitado por diversos teóricos como Barry Shank, Andy Bennett, Richard Peterson, Holly Kruse, Jeder Janotti, João Freire Filho, Fernanda Fernandes, Carlos Cunha, dentre outros.

O termo cena surgiu na tentativa de abranger todos os elementos musicais presentes em situados espaços urbanos, bem como, suas relações sociais, econômicas, afetivas e culturais. De acordo com Janotti e Pires (2011, p. 11) o primeiro uso do termo:

remete à década de 40, quando o termo foi criado por jornalistas norte-americanos, para caracterizar o meio cultural do Jazz, de modo a abranger a movimentação em torno do gênero musical. Bandas, público, locais de

shows, produtores culturais, críticos, gravadoras, entre outros atores sociais,

todos estavam sendo englobados dentro do universo denominado cena musical.

Posteriormente, o termo se populariza no decorrer das décadas de 1980 e 1990 e foi vastamente utilizado por críticos musicais, jornalistas e também bastante utilizado no meio acadêmico para analisar os movimentos musicais de determinados espaços urbanos, todo o desdobramento social e cultural, bem como, o consumo e a distribuição musical detrás desses movimentos.

Para o desenvolvimento de uma cena musical, é preciso submeter a um processo que engloba alguns fatores determinantes. O mais importante deles segundo Janotti e Pires (2011, p. 12):

é o desenvolvimento social e econômico do espaço urbano, através da formação de um grupo que se “identifica” com a cena e atua na disseminação da informação e conhecimento dentro da cena, forjando redes sociais, afetivas e mercadológicas ao redor de certas práticas musicais.

O primeiro teórico e pesquisador que faz uma definição do que é a cena musical foi Will Straw. Ele fez uma análise do conceito de cena que ajudava em uma compreensão mais ampla das práticas musicais da atualidade. A princípio, Straw (1997 apud JANOTTI; PIRES, 2011, p. 12) afirma que cena é “um espaço cultural em que várias práticas musicais coexistem interagindo entre si com uma variedade de processos de diferenciação”.

1 Will Straw é professor do Departamento de História da Arte e Comunicações da McGill University,

(17)

Segundo esse conceito, as práticas musicais dentro de uma cena não estariam apenas ligadas através do processo musical propriamente dito (composição, gravação, consumo e gosto musical), e sim, teria uma série de outros fatores correlacionados como, as relações sociais, econômicas e afetivas pelo meio da produção e consumo musical nos espaços urbanos (JANOTTI;PIRES 2011). Essas práticas musicais permitem ainda a possibilidade de múltiplas influências dentro de um mesmo contexto cultural. Ou seja, Janotti e Pires (2011 p. 13) sugerem que:

é através dessas práticas que bandas se influenciam mutuamente, produtores culturais trocam informações entre si, são forjados acordos e distensões em torno da ocupação dos espaços de consumo de música ao vivo, fãs discutem as novidades musicais, afirmam culturas de escuta e descobrem novos músicos. Toda cena musical é um conjunto de práticas ao redor de gêneros, rótulos e arquiteturas musicais que permitem uma inter-relação dinâmica entre o modo como são negociados o consumo dos produtos culturais nas diversas tessituras urbanas em que circulamos e o cosmopolitismo ligados a essas mesmas práticas.

Nota-se que dentro de uma cena musical não prevalece somente a prática musical e a participação dos personagens de um espaço urbano determinado, mas sim, possui influências de agentes exteriores para a formação de uma cena local. Todas as cenas de um mesmo gênero musical (Indie Rock, Heavy Metal, Punk), mesmo de espaços geográficos diferentes estão interligadas de algum modo, possuindo os princípios estético-ideológicos parecidos.

Entretanto, no primeiro momento, Straw (1997 apud JANOTTI; PIRES, 2011) limita o conceito de cena a pequenos espaços geográficos, ele analisa as cenas locais. No entanto, surgiram cenas tão consolidadas que ultrapassaram os seus próprios limites geográficos e influenciaram diretamente outras cenas como por exemplo, a cena Grunge de Seattle ou então, a cena Heavy Metal de Belo Horizonte. Essas cenas tomaram um âmbito mundial, já não estavam mais limitadas as suas respectivas cidades. Desse modo, o conceito de cena voltado somente ao âmbito local já não era mais aplicado nesses contextos.

Somente com a virada do século, os estudos sobre o conceito de cena tomaram uma nova proporção, principalmente por causa da popularização da internet e a globalização. Pesquisadores e teóricos como os professores Andy Bennet e Richard Peterson passam a classificar “as cenas de acordo com seu tipo, alcance e formação, levando em consideração o desenvolvimento das tecnologias

(18)

de comunicação, das redes sociais e o aumento da complexidade das relações entre elas.” (JANOTTI; PIRES, 2011, p. 14). Então, de acordo com essa perspectiva surgiram três classificações de cenas: local, translocal e virtual.

A cena local supõe levar em conta “a relação orgânica entre a música e a história cultural local e as maneiras nas quais a cena emergente usa a música apropriada via os fluxos globais e redes para construir narrativas particulares locais” (BENNET; PETERSON, 2004, apud JANOTTI; PIRES, 2011, p. 14). Partindo da ideia de Bennet e Peterson, nota-se que as cenas locais se prenderiam em práticas musicais voltadas somente para um local em particular e as práticas estariam ligadas à tradição sociocultural local. Já as cenas translocais seriam uma espécie de continuação das cenas locais, pelo motivo de ultrapassar o limite geográfico local e ter influências em outra cena, nessa ocasião, as relações culturais, sociais e econômicas se mostram mais complexas por causa da troca de informações de diferentes cenas.

Já as cenas que Bennet e Peterson chamaram de cenas virtuais surgiram no momento em que a:

comunicação eletrônica, fã-clubes de determinado artista, banda e subgênero se proliferaram usando a Internet para se comunicarem entre si. Como os participantes das cenas translocais, os participantes da cenas virtuais estão separados geograficamente, mas ao contrário da cenas translocais, os participantes da cena virtual formam uma única cena através da Internet. (BENNET; PETERSON, 2004 apud JANOTTI; PIRES, 2011, p. 5).

Diante de uma cena de rock alternativo de uma determinada cidade, nota-se a sua conexão com elementos de outras cenas nacionais ou até mesmo internacionais, dessa maneira, pode-se afirmar que toda cena local possui características em comuns com uma cena macro, como por exemplo, a cena de rock alternativo brasileiro ou de rock alternativo inglês estão interligadas, pela influência mutua que uma exerce em cima da outra pelos meios de comunicação de massa ampliando ainda mais as fronteiras do conceito de cena. De acordo com a ideia de Freire e Fernandes (2005, p. 7) nota-se o hibridismo das fronteiros acerca do conceito de cena:

a delimitação dos contornos das cenas, todavia, não se correlaciona, necessariamente, às fronteiras de seu referente geográfico (...). Ainda assim, a reorganização da cultura do rock alternativo teve como uma de suas consequências o status paradoxal do “localismo”. Os valores estéticos locais, entretanto, são os mesmos de um cosmopolitismo que mantém

(19)

pontos de referência relativamente estáveis, de uma comunidade para outra, possibilitando a reprodução do localismo do rock alternativo em níveis internacionais e até mesmo globais.

Um exemplo disso seria perceptível se juntassem um grupo de integrantes de cenas locais diferentes, como participantes da cena punk carioca e participantes da cena punk de São Paulo. Mesmo sendo um grupo composto por pessoas de duas cenas locais diferentes, as ideias estética-ideológicas não se alterariam muito, porém, poderiam conter marcas especificas criadas em suas cidades de origem.

Com base no que foi exposto nesse trabalho, percebe-se que o conceito de cena musical engloba os mais diversos elementos do universo musical, tais como, os locais de shows, os festivais, as revistas, as bandas, os públicos e as influências, bem como, os fatores sociais e todo o processo de criação musical, consumo e distribuição das músicas. A partir desse conceito de cena musical, será realizada uma análise sobre a cena musical alternativa tubaronense.

1.2 PUNK

Para a análise da cena musical alternativa tubaronense faz-se necessário entender um pouco de um dos principais movimentos que foi responsável pela formação das cenas alternativas, o Punk. Não é possível dar uma data precisa para o surgimento do movimento Punk, no entanto, sabe-se que o movimento começou no final da década de 1960, época em que hoje é conhecida pelo nome de Protopunk2.

Dentre as bandas que marcaram o protopunk, umas das mais conhecidas é o Velvet Underground, que foi produzida em Nova York por Andy Wahrol3. A sonoridade e os temas abordados nas letras da banda possuíam características bem diferentes dos sons que se faziam na época. As músicas do Velvet Underground possuíam ruídos, poucos acordes e as letras abordavam temas como vícios em drogas, prostituição, sadomasoquismo e outros assuntos considerados tabus. (MCNEIL; MCGAIN, 1997)

2 Protopunk foi como ficou conhecido as bandas percussoras do movimento punk e que mais tarde

influenciaram as bandas punks de fato.

3 Foi um pintor e diretor cinematográfico estadunidense, bastante conhecido no movimento pop art e

(20)

Figura 1 - capa do vinil Velvet Underground and Nico

Fonte: Site Público (2017)

A imagem acima (figura 1), é do primeiro LP lançado da banda Velvet underground and Nico. Pela capa feita por Andy Warhol, já é possível notar a ideia simplista que o LP traz, a sua arte minimalista com apenas uma banana no meio da capa e a assinatura do autor, representa a essência simples das músicas. Esse LP ficou popularmente conhecido como “o álbum da banana” e na época de seu lançamento foi considerado um fracasso comercial, entretanto, com o passar dos anos o álbum ganhou uma grande importância e atualmente é considerado um dos álbuns percussores do movimento punk.

Em paralelo ao Velvet Underground, na cidade de Lincoln Park, surge a banda MC5 – Motor City Five. Eles começaram a tocar músicas com duas guitarras distorcidas deixando a sonoridade das músicas mais acelerada e agressiva. A banda lançou o seu primeiro álbum em 1969, no entanto, o álbum foi censurado devido ao conteúdo das letras, que abordavam temas obscenos (MCNEIL; MCGAIN, 1997). Outra banda importantíssima para o desenvolvimento do punk foi a Iggy and the Stooges, eles eram amigos próximos dos integrantes do MC5 e possuíam uma sonoridade ainda mais suja e agressiva que os próprios MC5. O vocalista da banda

(21)

que posteriormente ficou conhecido como Iggy Pop, era totalmente asqueroso, cuspia nas pessoas e cortava o próprio corpo durante as apresentações (MCNEIL; MCGAIN, 1997).

Nesse contexto onde as bandas passaram a ter atitudes radicais e mais agressivas que eram voltadas somente para um público menor e mais restrito, começaram a surgir espaços direcionados para esse público. Um desses espaços que era localizado em Nova York, ficou bastante conhecido e é considerado o berço da cena punk, o CBGB. Foi nos palcos do CBGB que bandas como os Ramones, Talking Heads e Television se apresentaram pela primeira vez. No início as bandas possuíam um público pequeno, que não se identificavam com os padrões da sociedade da época, eram bandas independentes que se baseavam no do it yourself (faça você mesmo)4, entretanto, foram responsáveis pela a criação de um movimento que ficou marcado na história do século XX.

Figura 2 - Faixada do CBGB

Fonte: Tenho Mais Discos que Amigos (2016).

A imagem acima (figura 2), mostra a simples faixada da casa mais simbólica do movimento punk novaiorquino. As paredes de frente do CBGB viviam constantemente pinchadas, as decorações dentro do bar eram marcadas por grafites e adesivos que cobriam as paredes e os móveis da casa. Essas características

4 O do it yourself ou faça você mesmo, é a maneira de organização de forma independente que as

bandas encontraram para realizar os seus shows, eventos e festivais, bem como, gravar as suas próprias músicas e divulgar seus trabalhos sem ajuda de gravadoras.

(22)

davam um ar sujo para o local e o deixavam com uma estética poluída, combinando com o público alternativo que frequentava o bar.

Em Londres, Malcon Mclaren tinha uma loja chamada Sex, que possuía uma identidade Rock n’ Roll, algo que era inovador para época. Mclaren ao conhecer o movimento que estava surgindo em Nova York, teve a ideia de produzir o Sex Pistols com o intuito de divulgar a sua loja de roupas (MCNEIL; MCGAIN, 1997), no entanto, a banda com suas características sonoras simplistas misturadas com acordes sujos e agressivos e com as suas performances onde os integrantes da banda se cortavam no palco, chocou a sociedade conservadora inglesa da época e passou a influenciar a juventude que não se encaixava nos padrões da sociedade. Desse modo, a banda toma uma grande proporção e dá início ao punk inglês. Logo após a explosão do Sex Pistols, surge outras bandas de punk em solos inglês, como o The Clash, Exploited e Buzzcocks.

Figura 3 - McLaren e Sex Pistols

Fonte: The Telegraph [2012].

A imagem a cima (figura 3), tem a presença do produtor Malcolm McLaren e os integrantes da banda Sex Pistols. Da esquerda para direita: Malcolm McLaren, o guitarrista Steve Jones, o vocalista Johnny Rotten, o baixista Sid Vicious e o baterista Paul Cook.

(23)

No final da década de 1970, o movimento punk já tinha atingido um âmbito mundial e assim começaram a surgir outras cenas locais com a influência do punk. As novas bandas como Black Flag, Dead Kennedys e Bad Brains deram início ao um novo estilo, o hardcore. Essas bandas possuíam uma sonoridade ainda mais agressiva e acelerada que o punk, com poucos acordes e cunho político. Na Califórnia no início da década de 1980 também com a influência do punk, surge bandas como o NOFX, Bad Religion, Rancid e Offspring. Entretanto, possuíam um estilo diferente que ficou conhecido como hardcore melódico. O hardcore melódico possui uma característica sonora mais acelerada que o próprio punk, porém, ficou conhecido por esse nome em virtude de possuir arranjos musicais mais melódicos e claros, possuir solos e riffs mais complexos do que o punk. Essa linha mais melódica de se fazer hardcore, abriu espaço para o surgimento do emocore, que musicalmente falando é o hardcore melódico, só que ao invés de possuir letras com temas políticos, as letras são voltadas para as emoções pessoais do compositor e possui um caráter confessional.

No Brasil, também é difícil marcar uma data e um local preciso para o surgimento do punk. Sabe-se que no final da década de 1970 jovens que pertenciam a elite social de Brasília ouviam bandas punks como Ramones, Sex Pistols e começaram a formar as primeiras bandas punks do país. No entanto, simultaneamente nas periferias de São Paulo, jovens de baixa renda começaram a ter contato com o punk por meio de revistas, principalmente após o lançamento do primeiro registro punk no Brasil em 1977, o LP chamado “A revista pop apresenta o punk rock”. Esse LP era uma coletânea de bandas punks, possuía bandas como Ramones, Sex Pistols, The Jam e outras bandas.

O punk começa a ser mais divulgado em São Paulo a partir de 1979, quando Kid Vinil passou a transmitir músicas punks em seu programa na rádio paulista, Excelsior. Na Bahia, Marcelo Nova possuía um programa de rádio que começou a ser transmitido em 1978 chamado Rock Special, ele tocava músicas do The Clash, The Vibrators, Sex Pistols e outras bandas de punk rock inglês. (MOREIRA, 2006).

Foi nesse contexto que começaram a surgir as primeiras bandas de punk de São Paulo, nomes importantes para o punk rock brasileiro como Cólera, Condutores de Cadáver, Restos de Nada, Lixomania, Olho Seco e AI-5 são algumas dessas bandas que foram as percussoras do movimento punk nacional. Essas

(24)

bandas surgiram porque achavam necessário falar sobre o que estava acontecendo no Brasil naquele momento, falar da sua própria realidade como as bandas inglesas e estadunidenses falavam. (MOREIRA, 2006). No mesmo momento bandas como Aborto Elétrico e Relespública começaram as suas atividades em Brasília e em Porto Alegre alguns jovens iniciavam a cena punk no sul com o surgimento da banda Os Replicantes.

Figura 4 - Integrantes da banda AI-5

Fonte: R7 Música (2017).

Nessa imagem (figura 4), fica notório a influência estética que os punks brasileiros recebiam dos punks ingleses e novaiorquinos. Percebe-se o uso de roupas pretas, jaquetas de couro, o comportamento largado com cigarros na boca e a camisa social com gravata, que era utilizada como uma maneira de ridicularizar os padrões formais da sociedade.

O punk, no Brasil, surgiu em um contexto em que o país passava por uma ditadura militar (1964 – 1985) os valores conservadores eram os que predominavam na sociedade brasileira da época. A atitude do punk com suas letras de músicas, o som e as roupas que expressavam insatisfação, rebeldia e agressividade foi a maneira que os jovens acharam para se expressar ao contrário daquilo que eles não achavam ser o correto. Foi a simplicidade e a forma de se organizar sem o apoio de

(25)

gravadoras do punk, que os jovens de periferias acharam para expressar a sua insatisfação com a sociedade conservadora e o governo autoritário da época. (MOREIRA, 2006). De acordo com Zorro5, no documentário Botinada, “em plena ditadura militar nós rompemos com tudo, rompemos com uma estética visual, rompemos com uma estética musical e rompemos com uma estética comportamental”. (MOREIRA, 2006).

Mesmo que a cena punk brasileira tenha recebido uma grande influência direta de bandas punks de outros países, as bandas nacionais possuíam características próprias e cantavam em português. A simplicidade e agressividade era o que as bandas tinham em comum, no entanto, é notório que a sonoridade das bandas nacionais é diferente das bandas inglesas e estadunidenses, bem como, a diferença sonora das próprias bandas nacionais que apesar das mesmas influências, possuíam características peculiares entre si mesmas.

1.3 ROCK ALTERNATIVO

O Rock Alternativo surge no final da década de 1980 com uma grande influência do punk, as bandas de rock alternativo possuem uma sonoridade bastante distintas entre si mesmas, tendo bandas participantes de uma mesma cena dos mais variados estilos musicais. Entretanto, mesmo as bandas alternativas sendo de estilo diferente, há algumas características que são comuns entre elas, como por exemplo, a maneira de organização independente baseada no do it yourself ou a grande influência que esses novos estilos de rock alternativo recebem do movimento punk, normalmente as bandas alternativas também são bandas oriundas do underground6.

O movimento punk foi uma cena que possuía uma sonoridade, uma estética, uma moda como características bem marcantes. As bandas de rock alternativo, em contrapartida do movimento punk, possuíam uma liberdade tanto sonora quanto estética maior, não possuíam um visual e um estilo tão característico quanto o punk, essas bandas tinham além dos elementos herdados das cenas

5 Era um dos integrantes da banda M-19, que foi uma das bandas percussoras do movimento punk

em São Paulo. O Zorro é reconhecido por muitos como um dos personagens mais esclarecidos e que mais atribuiu para o movimento punk paulista.

6 Underground é a produção cultural que foge dos padrões comercias, dos modismos e está fora das

(26)

punks, seus próprios elementos e características que variavam de local para local. (NEUMANN, 2017).

Segundo Neumann (2017, p. 49), com o rock alternativo:

o estilo punk “ganha” outras roupagens e se transforma em Hardcore (mais acelerado que o punk), em Hardcore Melódico(mais acelerado, porém com uma melodia mais harmônica), Metalcore (um som acelerado e pesado),

Guitar (mais harmônico, porém mais distorcido), Skacore (hardcore com

influência do ska Jamaicano), Grindcore, Grunge e o Indie (chamado de

Guitar no Brasil) e uma estética muito menos estilizada, muito mais simples,

que a dos punks, com seus alfinetes em lugar de brincos e cortes de cabelo moicanos.

No Brasil, nota-se o surgimento de cenas alternativas no final da década de 1980 e início da década de 1990 nas mais diversas regiões do país. No nordeste brasileiro surge bandas como Devotos, Chico Science e Nação Zumbi, no Sudeste, bandas como Dead Fish, Mukeka di Rato, Garage Fuzz e Hateen, no Sul surge bandas como The Power of the Bira e Flash Grinders, no centro-oeste brasileiro bandas como Capim Seco e, no Norte, bandas como Morfeus. Apesar de serem cenas de diferentes regiões do Brasil, é possível perceber que essas bandas mantém a raiz no punk, com músicas que possuem arranjos simples e agressivo, o seu modo de organização baseados no do it yourself sem apoios de grandes gravadoras. No entanto, é perceptível a diferença sonora que ocorre de uma cena para outra, devido as influências locais que cada uma dessas bandas recebe, mesmo mantendo a base em um estilo internacional.

(27)

3 A CENA MUSICAL ALTERNATIVA DE TUBARÃO

3.1 A CENA POP ROCK DE TUBARÃO

Antes do surgimento da cena musical alternativa tubaronense, já existiam bandas que faziam rock no município e na região. Porém, essas bandas possuíam características totalmente opostas as bandas da cena alternativa. Por exemplo, enquanto essas bandas de pop rock possuíam contratos com gravadoras, eram exibidas nos meios de comunicação em geral e possuíam uma sonoridade mais lenta e melódica. As bandas da cena alternativa eram independentes, gravavam as suas próprias músicas em casa e tinham um som sujo, agressivo e rápido.

Dentre o pop tubaronense surge no final de década de 1970 uma banda de Pop Rock no município de Tubarão, a princípio intitulada como Ratones e posteriormente com algumas mudanças na formação dos integrantes da banda, passou-se a chamar Tubarão. Com influencias de bandas como AC/DC, Lynyrd Skynyrd, Status Quo, TNT, Barão Vermelho, a banda Tubarão lançou o seu primeiro álbum de estúdio de maneira independente, contendo algumas faixas com letras em inglês e outras em português. Logo após o lançamento de seu álbum de estreia, a banda Tubarão assina um contrato com a gravadora RCA e lançam faixas que recebem um certo reconhecimento nacional, como a canção Vício de Amor, chegou a ser a segunda música mais tocada do estado de São Paulo, ficando atrás apenas para a música Óculos do Paralamas do Sucesso. A banda Tubarão lançou também um álbum de estúdio em conjunto com a banda Expresso no final da década de 1980, depois lançou mais um álbum 1991 e 1993 a banda encerra suas atividades.

Outra banda de pop rock autoral da região de Tubarão, que pertencia ao município de Laguna, é a banda Ave de Rapina. Apesar dessa banda não pertencer a Tubarão, fez grande sucesso entre os jovens tubaronenses da época, tocando frequentemente nos clubes e bailes da Cidade Azul.

A banda Ave de Rapina surgiu em Laguna durante a década de 1980 e com forte influência de Kid de abelha, Barão vermelho, Titãs, lançaram um disco de vinil e chegaram a ter um certo reconhecimento em outros estados brasileiros. A banda mantém as suas atividades ainda ativas, entretanto, com menor intensidade.

(28)

Figura 5 - capa do último vinil da banda Tubarão

Fonte: Blog Clube do Vinil Blublenau (2013).

Figura 6 - capa do vinil da banda Ave de Rapina

(29)

3.2 O PRINCÍPIO DA CENA ALTERNATIVA TUBARONENSE

Adentrando na cena musical alternativa do município de Tubarão, que surgiu no final da década de 1980 e meados da década de 1990. Quando alguns jovens inspirados no movimento punk7, bem como no Heavy Metal8, se juntaram e montaram bandas independentes. Algumas dessas bandas possuíam as suas próprias músicas, outras bandas faziam covers das músicas que seus integrantes gostavam. Esses jovens se uniram e passaram a organizar shows e eventos em diversos espaços da cidade.

No contexto do início da década de 1990, a população brasileira era altamente conservadora e preconceituosa, possuía forte resistência contra tatuagens, piercings, homens de cabelo comprido e a sonoridade da música punk e alternativa, que como característica própria tem um som rápido e agressivo. Vale ressaltar, que o país tinha acabado de sair de uma ditadura militar (1964-1985), onde os valores da Igreja Católica tinham fortes influências sobre a população, desse modo, valores homofóbicos, machistas, preconceituosos e conservadores eram bastante comuns entre a sociedade da época.

No entanto, era um período de transição para a democracia. Junto com a democracia veio para o Brasil em 1990 a MTV, que é um canal de cunho musical. O canal transmitiu e popularizou para vários jovens brasileiros a explosão da música grunge, junto com a banda Nirvana, que é a banda mais conhecida desse movimento. Dentro do país, temos o surgimento de bandas como o Planet Hemp e o Raimundos, a primeira que fazia uma mistura de hardcore e rap, trazia nas letras das músicas temas sobre a legalização da maconha, e a segunda com um hardcore misturado com música regional nordestina, abordava em suas letras temas polêmicos, falando sobre sexo, festas e consumo de drogas. Foi nesse contexto, entre a sociedade conservadora e jovens alternativos que se iniciou a cena musical alternativa do município de Tubarão.

7 Segundo Neumann o movimento punk surgiu nos EUA no final da década de 1960 e para além de

um estilo musical se tornou uma moda, um estilo estético e uma forma de identificação que se pretendia alternativa, marginal, frente à cultura da parcela da sociedade mais tradicional e conservadora.

8 O Heavy Metal ou então simplesmente Metal, é um gênero musical que surgiu no Reino Unido no

final da década de 1960. As bandas de Metal possuem uma sonoridade agressiva e rápida, é conhecido por ser um dos gêneros musicais sonoramente mais pesados.

(30)

Dentro da cena musical alternativa tubaronense pode-se perceber, que os jovens percussores participantes da cena possuíam um estilo de vida divergente do padrão da sociedade da época, tinham grande influência do movimento punk e de bandas de metal, assim como, de toda aquela série de eventos que aconteceram no início dos anos 90 e ajudaram a divulgar os movimentos alternativos para os jovens da época, como o Rock in Rio de 1991, a explosão do grunge e a vinda da MTV para o Brasil. Então, os jovens tubaronenses daquela época, inspirados nesses movimentos alternativos, começaram a se organizar e iniciaram uma cena independente baseada no do it yourself, que é uma grande influência do movimento punk.

Nos primórdios, a cena musical alternativa tubaronense não possuía muitos participantes e também não tinha um número de bandas muito grande. Mas algumas das bandas que integravam a cena na época, tinham influências distintas uma das outras, algumas dessas bandas faziam punk rock, outras tocavam metal. Mesmo com toda essa diversidade de estilos, as bandas formavam uma mesma cena, pois de acordo com Straw (1997, p. 494 apud JANOTTI 2011, p. 4) uma cena:

é um espaço cultural em que uma diversidade de práticas musicais coexistem, interagem umas com as outras em meio a uma variedade de processos de diferenciação, de acordo com uma ampla variedade de

trajetórias, de mudanças e hibridismos.

Algumas dessas bandas possuíam as músicas e as letras de autoria própria, todas elas gravadas e lançadas de maneira independente sem vínculo algum com gravadoras. Essas bandas tinham forte identificação com o underground que era uma das principais características das bandas de rock alternativo, dessa forma, ia ao contrário do dito mainstream, segundo Janotti (2006 apud Neumann, 2017, p. 28), seria:

o denominado mainstream (que pode ser traduzido como “fluxo principal”)

abriga escolhas de confecção do produto reconhecidamente eficientes, dialogando com elementos de obras consagradas e com sucesso relativamente garantido. Ele também implica uma circulação associada a outros meios de comunicação de massa, como a TV (através de videoclipes), o cinema (as trilhas sonoras) ou mesmo a Internet (recursos de imagem, plug-ins e wallpapers). Consequentemente, o repertório necessário para o consumo de produtos mainstream está disponível de maneira ampla aos ouvintes e a dimensão plástica da canção apresenta uma variedade definida, em boa medida, pelas indústrias do entretenimento e desse repertório. As condições de produção e reconhecimento desses produtos são bem diferenciadas, fator que explica o processo de circulação em dimensão ampla e não segmentada.

(31)

A cena alternativa preza pela união e organização de seus participantes em prol do movimento em que eles fazem parte. Foi assim, que a cena alternativa tubaronense se apropriou de certos espaços da cidade fazendo de bares, associações privadas e públicas lugares para organizarem seus próprios festivais, shows e eventos. Gravaram suas músicas de forma caseira, distribuíam fitas k7, divulgavam suas bandas e suas ideias através dos fanzines e cartas, que eram enviados para todo o Brasil, organizavam excursões para shows e mantinham contato com cenas de outras cidades. Tudo isso era feito de forma independente, sem apoio algum de gravadoras ou da grande mídia.

Para adentrar nas características e desdobramentos da cena alternativa tubaronense propriamente dita, foi retirado essa imagem abaixo (figura 7) de um fanzine9 chamado Atormic Garden.

9 Fanzine é um tipo de revista independente feita principalmente por pessoas que participavam de

algum movimento alternativo, os fanzines eram feitos a mão, depois de prontos eram impressos e vendidos ou distribuídos. Nos fanzines continuam resenhas musicais, socializações de ideias e experiências vividas no meio alternativo.

(32)

Figura 7 - Imagem do fanzine Atomic Garden

Fonte: acervo de Herbert (2019).

Na imagem acima, nota-se a dificuldade de consolidar a cena alternativa no munícipio, que além de ser uma cidade do interior de Santa Catarina e possuir na época apenas 90 mil habitantes, tinha poucas bandas e as que existiam eram recentes, a imprensa alternativa (fanzine) tinha acabado de ser criada no município e o pouco contato com pessoas de cenas de outras cidades, dificultava a consolidação da cena alternativa tubaronense. No entanto, com o trabalho dos participantes da cena baseado no do it yourself, conseguiram tornar um programa musical de uma

(33)

rádio pirata em um programa com exibição semanal em uma rádio oficial, que se chamava Comando Metal, nesse programa rolava sons de grandes bandas já com reconhecimento, e divulgavam as demo tapes10 das bandas locais e undergrounds. Nesse trecho do fanzine, também é notório que nos primórdios a cena alternativa tubaronense girava em torno de poucas pessoas, mas essas pessoas estavam envolvidas em todas atividades da cena, por exemplo, os integrantes das bandas, eram os mesmos que editavam os fanzines ou que participavam do programa da rádio e eram eles mesmos que organizavam os seus próprios shows e festivais.

A imagem abaixo (figura 8), é um cartão do programa já citado acima, chamado Comando Metal, era um programa de rádio que os participantes da cena alternativa tubaronense criaram por volta de 1994. De acordo com um dos criadores do programa Fabrício de Borba Wronski11 e também vocalista das bandas da cena, Los Bestas e Chá de Boldo, o programa começou em uma rádio pirata, mas nessa época se chamava Carnificina Sonora.

O programa era dividido por blocos, cada qual com uma temática diferente, em um deles era transmitido entrevistas feitas com as bandas locais, em outro bloco tocavam as demo tapes de bandas underground em geral e também de bandas já reconhecidas nacionalmente ou internacionalmente. No entanto, a rádio pirata tem uma abrangência muito limitada, então por esse motivo, eles tiveram a ideia de fazer um programa com a mesma proposta na Rádio Atlântida e assim foi criado o Comando Metal. De acordo com o Fabrício:

eu e o Ricardo Macari fomos na Rádio Atlântida, levamos um projeto, fizemos um piloto na própria Atlântida e compramos um horário. Então nós buscamos patrocinadores para manter o horário, a gente não ganhava nada só tinha patrocinador pra pagar o horário. Nessa época a gente ganhou

bastante discos da Rock Brigade Records12 e da Hellion Records13 pra

divulgar na rádio, a gente botou bastante coisas diferentes, as demo tapes que mandavam pra nós e as entrevistas que a gente fazia com as bandas.

10 A demo tape também é conhecida por fita demo, normalmente é uma gravação musical armadora,

gravadas sem vínculos algum com gravados, tendo como objetivo divulgar os primeiros trabalhos de uma banda ou para fins de estudos musicais.

11 Entrevista realizada no dia 18 de outubro no município de Tubarão;

12 De acordo com o site oficial da Rock Brigade Records, a editora foi fundada em 1981 com o

objetivo de ser um informativo de um fã-clube de metal, no entanto, o informativo passou a ter uma grande demanda e se tornou em um fanzine, mais tarde se tornou em uma revista distribuída em todo território nacional e assim virou um selo que lançou grandes bandas no Brasil, como Motorhead, Black Sabbath e entre outras brandas.

13 De acordo com o site oficial da Hellion Records, a gravadora foi fundada em 1990 e tinha como

objetivo promover a cultura heavy metal no Brasil, LP’s de bandas internacionais como o Iron Maiden, Metallica e Pink Floyd, chegaram ao mercado brasileiro através da Hellion Records, que também foi a responsável pela primeira prensagem nacional do disco Images and Words, do Dream Theater.

(34)

O programa Comando Metal ficou no ar por mais ou menos um ano, e durante a sua trajetória foi um dos responsáveis por abrir espaço e divulgar as bandas alternativas locais, transmitindo as entrevistas e as demo tapes.

Figura 8 - Cartão de Divulgação do Programa Comando Metal

Fonte: Rodrigo Tonon (2019)

Na entrevista feita com o Fabrício de Borba Wronski, um dos participantes da cena alternativa tubaronense, foi vocalista das bandas Los Bestas e Chá de Boldo, também foi um dos criadores do programa de rádio Comando Metal, ele cita algumas outras dificuldades que a cena do município encontrou nos seus primeiros anos, segundo Fabrício:

as bandas não duravam muito, tinha essa tendência. Os fatores que impediam de ir pra frente: não tinha dinheiro de ter equipamento bom, não tinha dinheiro para gravar em estúdio, até porque Tubarão no início dos anos 90 não tinha estúdio e o principal fator, não tinha local para ensaiar. Bandas acabavam porque a gente não tinha onde ensaiar (...) então as bandas duravam pouco, dois ou três anos, justamente por causa desses entraves.

(35)

Apesar de todas essas barreiras que os percursores da cena alternativa tubaronense encontraram, eles conseguiram fazer uma cena independente na cidade. Montaram as suas bandas, algumas delas fizeram o seu próprio som gravado de maneira totalmente caseira, fizeram circular as suas demo tapes através de cartas enviadas para todo o Brasil, montaram uma imprensa alternativa para divulgar suas bandas e ideias por meio dos fanzines e do programa de rádio, organizaram os seus próprios shows/festivais e influenciaram outros jovens da cidade a montar a suas próprias bandas.

Em uma entrevista feita com o Sérgio Mendes14, que foi um dos percussores da cena e baixista da banda Devotos da Humanidade em Caos – D.H.C, ele conta que um dos primeiros contatos que ele e alguns outros jovens percussores da cena alternativa tubaronense tiveram com o punk nacional e que serviu de uma grande influência para a cena do município, foi por meio de uma fita de um conhecido, de acordo com Sérgio:

um amigo de um amigo tinha uma fita mal gravada, que provavelmente foi gravada várias vezes de fita para fita até chegar na gente, e nessa fita tinha umas bandas punks que eram muito massa, essa fita chegou pra gente sem nome, só sabíamos que eram bandas punks e deu. Bem depois que eu acabei adquirindo o SUB, aí que eu soube que as bandas que estavam naquela fita era Ratos, Cólera, Fogo Cruzado e Psicose.

É difícil ter a precisão exata de quando começou a cena musical alternativa tubaronense, mas por meio das entrevistas feitas com os participantes da cena, pode-se perceber que no fim da década de 1980 já tinha alguns jovens na cidade articulando e montando as primeiras bandas de rock alternativo. No entanto, é no começo dos anos 90 e ao decorrer da década que marca de fato o início da cena alternativa. Nesse período surgiram alguns jovens na cidade que montaram bandas com músicas autorais independentes e movimentaram a cidade com eventos alternativos. Depois já nos anos 2000 nota-se a continuação da cena alternativa tubaronense e a formação de outras bandas com o som alternativo, também inspiradas em punk rock, hardcore (principalmente o melódico) e no metal.

No final da década de 1980 surge bandas como a banda F.D.P. Já no início dos anos 90 começa a surgir outras bandas como a Devotos da Humanidade em Caos – D.H.C (primeiro nome da banda era Centopeia Barriguda), a banda Fetto,

(36)

a Monkey Stone, a G.G.H (fazia somente cover das músicas dos Ramones), a banda Los Bestas (depois se tornou na banda Chá de Boldo) e no final dos anos 90, surge a banda Artigo 288. Já nos anos 2000, surge bandas como, a Toelho Killer, a banda Amotinados, a Bluedraks, a Vetor Unitário e a banda Vegas.

A banda F.D.P, criada no final da década de 1980, foi uma das percussoras do rock alternativo da cidade, que de fato saiu dos padrões de bandas que tinham na cidade naquele momento e seguia mais o caminho de bandas oriundas do punk no sentido do it yourself. Eles tocavam com instrumentos improvisados, a bateria que eles usavam possuía apenas uma caixa e um bumbo, ensaiavam no quarto de um dos integrantes da banda e era formada por André (guitarra), Sarrafo (guitarra), Sandro (vocal), Édio (bateria) e Rodrigo (baixo). A banda não chegou a fazer música própria, tocavam somente por diversão e faziam cover de músicas das bandas que os integrantes gostavam, bandas como, The Beatles, Ramones, Ultraje a Rigor e Cascaveletes, integravam o repertório da banda.

A banda D.H.C – Devoto da Humanidade em Caos, foi outra das bandas percussoras da cena alternativa tubaronense. Eles chegaram a gravar duas demo tapes com músicas próprias e fizeram diversos shows por Tubarão e região, destacando o show de abertura para a banda italiana Double You, quando tocaram na Produsul, nessa ocasião, o público que assistiu a banda tocar era cera de 20 mil pessoas. A D.H.C era formada por Jefferson Pereira (vocal e guitarra), Sérgio Mendes (contrabaixo), Milton Fileti (guitarra) e Marcelo Fileti (bateria). A banda iniciou as suas atividades em meados dos anos 1990 com o nome de Centopeia Barriguda e, antes de se chamar D.H.C ainda teve o nome provisório de Crematório, segundo o baixista Sérgio Mendes:

a gente começou a tocar improvisado, coisas improvisadas. O baixo era feito de uma guitarra antiga, a bateria era feita de latão, era o que tinha condições de comprar ou de adquirir alguma coisa era assim (...) era mais por diversão e brincadeira mesmo, não tinha nada de político ou social nesse momento, era mais para diversão mesmo.

Ainda de acordo com Sérgio Mendes, o Centopeia Barriguda tinha somente covers de músicas em seu repertório, faziam covers de bandas de metal e bandas de rock no geral, não chegaram a fazer letras de músicas próprias. No entanto, chegou um momento em que eles acharam que deveriam tornar a banda mais séria, que ia além de tocar por diversão, foi nesse momento que mudaram o

(37)

nome da banda para D.H.C e começaram a escrever letras de cunho social e político, Sérgio conta:

depois a gente conversando e ouvindo o punk, já com o contato com o

punk. A gente quis fazer um trabalho mais político e social, aí a gente

começou a ser mais sério, começamos a fazer letra de música e mudamos o nome da banda, porque Centopeia Barriguda não teria tanto respeito, vamos dizer assim. Mudamos para D.H.C que é Devotos da Humanidade

em Caos.

Figura 9 - Foto dos integrantes da D.H.C

Fonte: Acervo de Milton (2019).

Na imagem acima (figura 9), dos integrantes da banda D.H.C, nota-se que a estética dos primeiros participantes da cena alternativa tubaronense, não tinha um visual tão radical, alguns deles herdavam o cabelo comprido e as roupas pretas dos punks de Nova York. Mas aquela estética suja, com moicanos coloridos, piercings e tatuagem era um tanto incomum para os participantes da cena alternativa tubaronense e apesar da estética ser bem menos radical que o visual punk tradicional, eram alvos de preconceitos pela sociedade da época, de acordo com Sérgio:

(38)

as pessoas tinham preconceito contra a cena no geral, não em questão de

punk ou metal. Acho que as pessoas tinham o olhar meio atravessado pela

maneira da gente se vestir, pelo som que a gente escutava (...) não chegou a ter moicano na turma, mas tinha cabelo comprido, todo raspado, uns usavam coturnos e tinha uns com piercing também.

A banda D.H.C gravou duas demo tapes, uma delas em “estúdio” e a outra foi em um show ao vivo que a banda fez na cidade de Laguna. A demo de estúdio foi gravada de forma caseira, com todos os integrantes da banda tocando as músicas ao vivo, apenas com um tape deck15 exposto na frente da banda para captar o som e posteriormente não era feito mixagem ou masterização, somente a gravação crua.

Figura 10 - Foto da Demo Tape da D.H.C

Fonte: Mercado Livre (2019).

A imagem acima (figura 10) mostra a capa da primeira demo tape da banda D.H.C, que foi gravada em 1994 na marcenaria do pai do guitarrista e do

15 O tape deck é formalmente conhecido pelo nome de Magnetofone, é um aparelho de som usado

(39)

baterista da banda, o Milton e o Marcelo. A banda possuía uma sonoridade suja e agressiva, com bastante influência do punk e do hardcore, tinha como grande influência nesse estilo musical as bandas nacionais, Ação Direta e Ratos de Porão. A capa dessa demo tape foi feita a mão pelo próprio baixista da banda, Sérgio, que depois foi xerocada e colocada em cada uma das fitas. Na capa percebe-se elementos como, poluição e a ameaça de catástrofe nuclear que o próprio nome da demo sugere, esses temas também são retratados pelas letras das músicas, que além desses assuntos abordam temas como, a luta de classes, a fome, o abuso de autoridade e a Ditadura Militar brasileira.

Figura 11 - Letras de duas músicas autorais da D.H.C

Fonte: Acervo de Milton (2019).

Na letra da primeira música (à esquerda), pode-se perceber que são denunciados a repressão policial e os assassinatos em massa que ocorrem nas favelas brasileiras. Apesar de Tubarão, principalmente na época, não haver massacres em favelas, é tema que serve de debate diariamente em todos os meios

(40)

de comunicação, bem como, era conteúdo das letras das bandas que influenciaram a D.H.C e a repressão policial é vivada diariamente em qualquer lugar do Brasil, sobretudo no contexto da época, que era poucos anos após a Ditadura Militar. Na segunda música (à direita), são abordados temas sobre a luta de classes e a reforma agrária, analisando a letra é nítido que os integrantes das bandas apoiavam essas bandeiras de esquerda, e pregavam a união dos proletários.

De acordo com o Sérgio Mendes, as fitas demo da banda não eram vendidas, eram distribuídas durante os shows e enviadas por cartas para pessoas de outras cenas Brasil a fora, segundo Sérgio:

aqui em Tubarão tinha algumas bandas que eram de amigos, então a gente divulgava mais aqui entre os amigos mesmo. E pra fora em cartas, em

shows que levava e distribuía, a gente nem vendia, distribuía mesmo (...) a

gente divulgava a banda praticamente por carta e fanzine, mais por carta mesmo. A gente se correspondia com bastante gente, que ia de Pelotas a Maranhão, nas cartas ia demo, ia release, tudo que a gente tinha de divulgação ia nas cartas.

Nesse trecho acima, retirado da entrevista de Sérgio, é perceptível como a cena local alternativa de Tubarão trocava informações com cenas locais de outras cidades e criavam relações sociais que ultrapassavam o limite geográfico local e regional, mantendo a troca de informações com participantes de cenas de outros estados. Além de trocar materiais de divulgação de suas bandas, os participantes da cena alternativa tubaronense organizavam shows e festivais que reuniam bandas de outras cenas alternativas. Assim como, as bandas que faziam parte da cena alternativa tubaronense eram chamadas para fazer shows e tocar em festivais de outras cenas.

A Los Bestas foi outra banda que fazia parte da cena alternativa tubaronense, a banda começou as suas atividades por volta de 1994 com o nome de Los Bestas e depois mudou para Chá de Boldo. De acordo com o vocalista da banda Fabrício de Borba Wronski, a Los Bestas começou as suas atividades com integrantes misturados de outras bandas da cena tubaronense. Como os participantes da cena frequentavam os mesmos locais, um frequentava os ensaios da banda do outro, então em paralelo a D.H.C e a banda Fetto, montaram a banda Los Bestas.

A Los Bestas era formada por Fabrício Wronski (vocal), Marcelo Fileti (bateria), Milton Fileti (contrabaixo) e Rodrigo Tonon (guitarra), a banda chegou a

(41)

gravar uma demo tape. As músicas eram rápidas e agressivas, possuía guitarra distorcida, vocal agressivo e uma grande influência do heavy metal, do punk e do hardcore, se auto titulavam de “Funny n’ Metal”, tinha a pretensão de tocar para se divertir e não abordavam em suas letras temas sociais ou políticos, segundo Fabrício:

a gente gravou uma demo tape que misturava um monte de música bobinha, música de criança, só que com uma pegada mais pro punk e

hardcore. Digamos que a gente foi o percussor aqui na cidade do estilo for fun, de tocar por diversão, letras engraçadinhas, era essa a ideia.

Figura 12 - Capa da Demo Tape do Los Bestas

Fonte: Blog Demo Tapes Brasil (2013).

A imagem acima (figura 12) é a capa da demo tape Sulampa da Los Bestas, foi lançada em 1994, gravada de maneira totalmente independente e caseira. A demo tape tem dez faixas, sendo oito delas músicas autorais da própria banda e as outras duas são covers da banda The Power of the Bira e da banda Os Cabeluduro. A primeira banda fazia parte da cena alternativa de Joinville, já a segunda fazia parte da cena alternativa do Distrito Federal e os integrantes da Los Bestas mantinham contato com essas bandas por correspondência. Além das duas

(42)

faixas covers, percebe-se uma referência à música “Troops of Doom” da banda de heavy metal Sepultura na música intitulada “Troops of Bestas”.

A Los Bestas realizou alguns shows em Tubarão e na região, chegou a tocar até em São José. Ao mudar o nome para Chá de Boldo, a formação da banda se manteve por um curto período onde realizaram alguns shows na região de Tubarão e um em Palhoça, após a saída de Marcelo e Milton, integraram na formação da banda Jadson Falchetti e Jefferson Pereira, que durou apenas três ensaios e um show.

Figura 13 - Cartaz de um festival em Palhoça com a banda Chá de Boldo

Fonte: Acervo de Milton (2019).

O cartaz acima (figura 13) é de um festival que aconteceu em São José por volta de 1995, segundo o baixista Milton Fileti da banda Chá de Boldo, a banda foi convidada a participar do festival pelo baixista e vocalista Marcelo Mancha da

(43)

Euthanasia, que organizava shows e festivais em um centro comunitário em São José. Pelo cartaz fica ainda mais notório que as bandas da cena alternativa tubaronense mantinham relação com cenas de diferentes locais, não somente por meio de correspondência trocando demo tapes, fanzines e ideias. Mas também participavam das cenas de outros locais fazendo shows e tocando em festival. De acordo com a ideia Bennett e Petterson (2004), seria nessa ocasião que as cenas locais se entrelaçam e criam uma relação social ainda maior, se tornando uma cena translocal.

Figura 14 - Show da banda Chá de Boldo com participação do Jean

Fonte: Acervo de Milton (2019).

A imagem acima (figura 14) é do show da Chá de Boldo no Festival que aconteceu no centro comunitário em São José, na imagem tem a presença de Jean, conhecido na cena alternativa pelo apelido de Dedinho, Jean era o vocalista e guitarrista da banda Euthanasia de Florianópolis, que foi outra banda que se apresentou no festival. De acordo com o baixista da banda Chá de Boldo, Milton Fileti, na ocasião da foto o Jean estava fazendo uma participação especial na faixa Gato Viado.

(44)

Figura 15 - Público do Festival em São José

Fonte: Acervo de Milton (2019).

A imagem acima (figura 15) foi tirada durante o show da banda Los Bestas no festival em São José, a imagem mostra o público fazendo um Mosh Pit, popularmente conhecido como Roda Punk. O Mosh Pit é uma dança bastante comum em shows de bandas que tem uma sonoridade mais rápida e agressiva, como o punk, o hardcore e o heavy metal. A dança se consiste em basicamente do público abrir uma roda e andar em círculo fazendo movimentos com os braços e pernas, a velocidade da dança é determinada pelo ritmo da música. Em músicas mais agressivas o mosh pit pode ser um tanto violento, ainda mais se o público não possui uma boa orientação, desse modo, cotoveladas, joelhadas e empurrões são comuns no meio de um público pouco orientado.

A ideia de Bennett e Petterson (2004), de que as cenas locais se entrelaçam umas com as outras e formam uma cena translocal, também serve para os festivais organizados pela cena alternativa tubaronense. O cartaz abaixo (figura 16) é do festival Apokalipse, era um dos festivais organizados pelos participantes da cena alternativa tubaronense, esse festival teve duas edições. Pelo cartaz é possível notar que além das bandas que faziam parte da cena alternativa de Tubarão, havia

(45)

bandas de outras cenas locais que faziam shows nos festivais organizados pelas bandas da cena do munícipio.

Figura 16 - Cartaz da segunda edição do festival Apokalipse

Fonte: Acervo de Milton (2019)

A partir de leitura das imagens e por meio das entrevistas, percebe-se que a cena tubaronense se apropriou de certos locais da cidade, seja local público ou privado, para fazer os seus shows e festivais. No caso do festival Apokalipse da figura acima, o evento foi organizado no clube 1º de Maio, essas apropriações de lugares eram bastante comuns na época, pois no início da cena alternativa, não

Referências

Documentos relacionados

09:15 - 10:00 Aula híbrida sobre: Para os alunos presenciais: atividade prática – E-Class Não é necessário enviar atividade Dodgeball e Rouba-bandeira. Para os alunos

O pressuposto teórico à desconstrução da paisagem, no caso da cidade de Altinópolis, define que os exemplares para essa análise, quer sejam eles materiais e/ou imateriais,

O objetivo deste experimento foi avaliar o efeito de doses de extrato hidroalcoólico de mudas de tomate cultivar Perinha, Lycopersicon esculentum M., sobre

Através da análise de fontes primárias, como relatórios de pesquisas acerca da rede socioassistencial do município, atas de reuniões do Conselho Municipal de Assistência Social, e

O modelo A.10 estabelece a relação de impacto entre os percentuais de concluintes nas universidades públicas ( CMPBR t ) e privadas brasileiras ( CMPIBR t ), respectivamente,

unidade, convocando os candidatos com as notas subsequentes para se matricularem, no horário das 9h até às 17h. 9.2 Será de responsabilidade do candidato acompanhar a

Ao fazer pesquisas referentes a história da Química, é comum encontrar como nomes de destaque quase exclusivamente nomes masculinos, ou de casais neste caso o nome de destaque

A pesquisa pode ser caracterizada como exploratória e experimental em uma primeira etapa (estudo piloto), na qual foram geradas hipóteses e um conjunto de observáveis, variáveis