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ANÁLISE DAS ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO NO BIOMA CERRADO a

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(1)

ANÁLISE DAS ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO

NO BIOMA CERRADO

a

Roseli Senna Ganem

1

, José Augusto Drummond

2

, José Luiz Andrade Franco

2

(

1

Câmara dos

Deputados, Consultoria Legislativa, Área XI - Meio Ambiente, Câmara dos Deputados, Anexo

III, sala T38A - CEP: 70160-900,

roseli.ganem@camara.gov.br;

2

Universidade de Brasília,

Centro de Desenvolvimento Sustentável, Setor de Autarquias Sul - Quadra 5 - Bloco H, 2

o

andar -

sala 200 CEP: 70070-914 - Brasília/DF,

jaldrummond@uol.com.br;

jldafranco@terra.com.br)

.

Termos para Indexação: biodiversidade, importância biológica, Portaria do MMA nº 126/2007

Introdução

O levantamento das Áreas Prioritárias para a Conservação (APCs) visa identificar as

regiões onde o Poder Público deve, preferencialmente, concentrar as suas ações com vistas à

conservação, bem como orientar as políticas públicas de desenvolvimento. Permite visualizar as

áreas mais conservadas e também as tendências de ocupação, onde as ações devem ser

emergenciais.

O projeto teve início em 1998, quando foi feita a Avaliação e Identificação das Áreas e

Ações Prioritárias para a Conservação dos Biomas Brasileiros. Foi concluído em 2000 e

identificou 900 áreas, estabelecidas pela Portaria do Ministério do Meio Ambiente nº 126/2004.

Foram realizados diagnósticos sobre o conhecimento existente sobre os biomas e avaliação das

áreas e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade brasileira (MMA/SBF, 2007).

O trabalho aqui apresentado tem por fim analisar a distribuição das APCs identificadas no

Cerrado, na segunda etapa do projeto, bem como sua aplicabilidade nas políticas de conservação

da biodiversidade do bioma. A análise foi feita a partir da reorganização dos dados publicados

pelo Ministério do Meio Ambiente em 2007 (MMA/SBF, 2007).

a Este trabalho faz parte da tese de doutorado defendida por Roseli Senna Ganem no Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, em dezembro de 2007, sob a orientação do Prof. José Augusto Drummond e co-orientação do Prof. José Luiz Andrade Franco (Ganem, 2007).

(2)

Material e Métodos

A atualização desse levantamento teve início em 2005. A metodologia, estabelecida na

Deliberação da Comissão Nacional de Biodiversidade nº 39/2005, abrange a definição de alvos a

conservar (espécies, ambientes, ecossistemas) e de metas relativas ao quanto é necessário para

garantir a persistência dos alvos em longo prazo. A escolha do conjunto de áreas selecionadas

considera a representatividade das amostras, em relação à biodiversidade da região; a

complementaridade, que permita maximizar o número de alvos e as metas; a insubstitubilidade,

isto é, a contribuição potencial de uma amostra para a conservação de um ou mais alvos e o efeito

de sua indisponibilidade, considerando-se as demais áreas; a eficiência, referente à máxima

proteção da biodiversidade na menor área possível, considerando-se os custos da conservação, e a

vulnerabilidade, concernente ao grau de ameaça de erradicação dos alvos (MMA/SBF, 2007).

Para cada polígono foi definido o grau de importância biológica (criação de unidades de

conservação, recuperação de área degradada e realização de inventário biológico, por exemplo).

As APCs incluem áreas novas e áreas já protegidas (unidades de conservação federais e

estaduais, de proteção integral e de uso sustentável, exceto Áreas de Proteção Ambientais e terras

indígenas) (MMA/SBF, 2007). Os resultados da atualização desse levantamento foram

oficializados por meio da Portaria do MMA nº 126/2007.

Resultados e Discussão

Para o Cerrado, foram identificadas 431 áreas prioritárias, 250 das quais sendo áreas novas

(37,58% da área do bioma) e 181 áreas já protegidas (8,21% da área do bioma, correspondendo

ao total de áreas protegidas menos Áreas de Proteção Ambientais). Foram excluídos os enclaves

em outros biomas e foi incluída a região de ecótono entre Cerrado, Caatinga e Amazônia, até o

litoral.

Com relação à importância biológica, 25,33% das áreas foram consideradas de importância

extremamente alta, 11,72% de importância muito alta, 9,81% de importância alta e 0,65%

insuficientemente conhecidas. O conjunto das APCs abrange 47,51% do bioma. Esse número não

(3)

corresponde exatamente à área do bioma em bom estado de conservação, pois inclui áreas a

serem submetidas à recuperação ambiental.

No Cerrado, as APCs formam grandes manchas com importância biológica extremamente

alta, parcialmente conectadas por áreas de importância muito alta ou alta. As principais manchas

de importância biológica extremamente alta são: sul do Piauí (Serra Vermelha) e do Maranhão

(rio das Balsas) e o leste de Tocantins (incluindo o Jalapão); nordeste goiano (Chapada dos

Veadeiros) e Distrito Federal, que está unida ao leste de Tocantins e desce até Cristalina (GO);

oeste baiano e noroeste de Minas Gerais (Chapada Gaúcha); Serra do Espinhaço

1

; oeste de

Tocantins, incluindo a Ilha do Bananal e o Cantão, e o leste e o centro do Mato Grosso; sudoeste

goiano (Chapadão do Céu) e o sudeste mato-grossense, e sudoeste do Mato Grosso do Sul,

incluindo a Serra da Bodoquena. Destacam-se, ainda, uma mancha no oeste do Mato Grosso,

sobreposta a diversas terras indígenas, bem como o norte do Maranhão, na região de ecótono

entre Amazônia, Caatinga e ecossistemas costeiros. Diversas manchas pequenas e disjuntas, de

importância biológica variada, distribuem-se no restante do bioma, principalmente nos Estados de

Goiás e Minas Gerais. No extremo sul, um agrupamento de pequenas manchas estende-se da

Serra da Canastra (MG) até o norte do Estado do Paraná.

As grandes manchas de APCs de maior importância biológica correspondem, em grande

medida, aos remanescentes de Cerrado identificados por Machado et al. (2004). A criação de

unidades de conservação (UCs) – de proteção integral, de uso sustentável ou de grupo não

definido – foi a principal indicação para 120 áreas, abrangendo 20,3% da área do bioma (Tabela

1). O estímulo ao uso sustentável (por meio de UCs ou não) foi indicado para 41 áreas (6,51% da

área do bioma). Destacam-se, também, a recuperação de áreas degradadas e a criação de

mosaicos ou corredores (Tabela1).

Tabela 1. Distribuição da principal ação indicada para as Áreas Prioritárias para Conservação do

Cerrado.

Ação indicada

Número de áreas

Áreas (km

2

) Área sobre o bioma (%)

1 A Chapada Diamantina, continuação da Serra do Espinhaço no Estado da Bahia e região de ecótono entre Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, não fez parte do levantamento de Áreas Prioritárias para a Conservação do Bioma Cerrado.

(4)

Criação de UC, categoria

indefinida

39 171.095

8,34

Criação de UC, proteção integral 51

139.497

6,8

Recuperação de áreas

degradadas

42 134.472

6,55

Criação de mosaico/corredor

44

124.833

6,08

Criação de UC – uso sustentável 30

105.911

5,16

Fomento ao uso sustentável

11

27.757

1.35

Inventário biológico

13

24.621

1,20

Sem informação

11

16.660

0,81

Outras

2

15.521

0,76

Ordenamento territorial

2

9.015

0,44

Educação ambiental

4

1.827

0,09

Áreas já protegidas

181

168.544

8,21

Total 431

939.752

45,80

Fonte: MMA/SBF, 2007.

(5)

Tabela 2. Distribuição da principal ação indicada para as áreas prioritárias do Cerrado por unidade da Federação*.

Unidade de Conservação

Proteção

Integral

Uso Sustentável

Indefinida

Mosaico ou

Corredor

Recuperação

Fomento ao

Uso

Sustentável

Total

Unidade da

Federação

Nº Km

2

Nº Km

2

Nº Km

2

Nº Km

2

Nº Km

2

Nº Km

2

Nº Km

2

Bahia 5

36.963

1

13.324

3

19.504

2

13.686

0

0

0

0

11

83.477

Distrito

Federal

0

0

0

0

2

493

3

2.152

1

30

0

0

6

2.675

Goiás 4

12.501

3

19.707

7

36.386

3

14.402

11

24.963

9 26.141

37 134.100

Maranhão

4 16.710

9

42.623

2

8.097

2

12.871

2

457

0

0

19

80.758

Mato Grosso

4 14.273

6

16.484

5

18.427

9

41.618

1

6.313

0

1.141

25

98.256

MT do Sul

4 16.939

1

1.019

6

33.693

1

1.322

6

32.031

1

0

19

85.004

Minas Gerais

2 4.043

3

6.092

6

27.437

10

28.812

18

65.435

1

475

40 132.294

Paraná

3 244

0

0

1

862

1

134

0

0

0

0

5

1.240

Piauí 3

14.714

3

3.022

2

18.045

1

2.980

1

391

0

0

10

39.152

São Paulo

16 2.391

3

1.252

4

101

12

5.684

2

915

0

0

37

10.343

Tocantins 5

20.529

1

2.391

2

8.197

0 0

1

4.100

0

0

9

35.217

Pará

1

187

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

187

Total 51

139.494

30 105.914

40 171.242

44

123.661

43 134.635

11 27.757

219 702.703

Fonte: MMA/SBF, 2007, Tabela 11.9.3 – Lista de Áreas Prioritárias para o Bioma Cerrado. Reorganizado pela autora.

* Os polígonos CE108 (Cristalina/Luziânia), CE147 (Padre Bernardo/Planaltina), CE165 (Serras de Planaltina a Alto Paraíso) constam

da Tabela 11.9.3 do levantamento de Áreas Prioritárias para a Conservação (MMA/SBF, 2007), como situados no Distrito Federal.

(6)

Entretanto, toda, ou praticamente toda a extensão desses polígonos situa-se no estado de Goiás. Por essa razão, foram computados,

neste trabalho, como situados em Goiás, e não no Distrito Federal.

(7)

Os Estados de Minas Gerais e Goiás abrangem a maior extensão de APCs (Tabela 2).

Para quase 50% da superfície das áreas mineiras, a ação principal sugerida foi a recuperação

de áreas degradadas. Em Goiás, há muitas áreas para recuperação, mas esse percentual é de

21,6% da superfície das APCs.

Excluindo-se as áreas a recuperar, Goiás é o Estado com maior potencial para a

conservação, em termos de superfície (Tabela 3). Nesse Estado, a região com maior potencial

para conservação, em termos de importância biológica, extensão e continuidade, abrange o

nordeste Goiano (Chapada dos Veadeiros). No outro extremo está São Paulo, que tem um

grande número de APCs onde a ação principal é a criação de UC, a implantação de mosaico

ou corredor e o fomento ao uso sustentável (Tabela 3). Entretanto, a soma total da superfície

das áreas de São Paulo representa menos de 2% da superfície total das APCs destináveis às

mesmas ações, o que se explica pela grande fragmentação do bioma nesse Estado.

O levantamento permite comparar a proporção de áreas já protegidas por bioma (Tabela

4). Fica evidente que houve um grande esforço do Poder Público (federal e estadual) em

proteger a Amazônia (por meio de UCs e terras indígenas, exclusive as APAs). Os demais

biomas somam pouco mais que 26% de sua cobertura total protegidos em UCs e terras

indígenas.

Tabela 3. Soma, por Estado, de Áreas Prioritárias para a Conservação, para as quais a ação

principal é a criação de unidade de conservação, mosaico ou corredor e o fomento ao uso

sustentável.

Áreas Prioritárias para Conservação

(unidade de conservação + mosaico/corredor +

fomento ao uso sustentável)

Unidade da Federação

nº km

2

Bahia 11

83.477

Distrito Federal

6

2.645

Goiás 25

109.137

Maranhão 17

80.301

Mato Grosso

24

91.943

MT do Sul

13

52.973

Minas Gerais

22

66.859

Paraná 5

1.240

Piauí 9

38.761

São Paulo

35

9.428

(8)

Tocantins 8

31.117

Pará 1

187

Total 176

568.068

Fonte: MMA/SBF, 2007. Reorganizado pela autora.

Tabela 4. Proporção de áreas protegidas por bioma* em 2007.

BIOMA

ÁREA PROTEGIDA (% da área total)

Amazônia 44,30

Cerrado 8,21

Mata Atlântica

7,3

Caatinga 4,03

Pampa 3,6

Pantanal 2,92

Zona Costeira e Marinha

0,2

Fonte: MMA/SBF, 2007.

* Unidade de conservação de proteção integral e de uso sustentável (exceto APA), federais e

estaduais, e terras indígenas.

Conclusões

As Áreas Prioritárias para a Conservação devem ser reconhecidas pelas diversas

instâncias do Poder Público como uma das diretrizes de zoneamento das atividades

econômicas e de implantação das políticas federais, estaduais e municipais de conservação.

Em grande medida, as APCs sobrepõem-se aos remanescentes do bioma, que estão seriamente

ameaçados pela expansão agrícola. No sul do Piauí e no nordeste goiano, por exemplo, as

grandes manchas de Cerrado ainda existentes estão sendo convertidas em plantações de soja.

Em vista dessas ameaças, e considerando-se que o Cerrado ainda não conta com 10% de sua

área total protegidas por UCs, urge a implantação de novas unidades de proteção integral e de

uso sustentável. As novas UCs poderiam ser selecionadas, pelo menos em parte, entre as áreas

sugeridas para essa ação no levantamento das APCs, nos polígonos de maior importância

biológica. Além disso, as APCs deverim ser avaliadas como áreas propícias à implantação de

corredores de biodiversidade, por meio do fomento ao uso sustentável dos recursos naturais e

da recuperação de áreas degradadas.

(9)

MACHADO, R. B.; RAMOS NETO, M. B.; PEREIRA, P. G. P.; CALDAS, E. F.;

GONÇALVES, D.; SANTOS, N. S.; TABOR, K. e STEININGER, M. Estimativas da perda

do Cerrado brasileiro.

www.conservacao.org

. Extraído em 09/11/2005.

GANEM, R. S. Políticas de conservação da biodiversidade e conectividade entre

remanescentes de Cerrado. Brasília: UnB/CDS. Tese de Doutorado. 2007.

MMA/SBF (Ministério do Meio Ambiente/Secretaria de Biodiversidade e Florestas). Áreas

Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da

Biodiversidade Brasileira: atualização – Portaria nº 9, de 23 de janeiro de 2007. Brasília:

MMA, 2007.

Referências

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