Serviço e Disciplina de Clínica Médica Sessão Clínica – 05/11/2018
Auditório Honor de Lemos Sobral - Hospital Escola Álvaro Alvim Auditório Honor de Lemos Sobral - Hospital Escola Álvaro Alvim
Orientador: Prof. Luis Clóvis Bittencourt Prof. Edilbert Pellegrini
Relatora: Drª. Maria Fernanda Duarte Costa (R2)
Caso clínico
Caso clínico
Identificação: Feminina, 24 anos, branca, sexo feminino, estudante,
solteira, natural e procedente de Campos dos Goytacazes-RJ.
Queixa Principal: Manchas vermelhas e inchaço nas pernas.
HDA: Paciente relata que em Março de 2017, 5 dias após receber dose
ANAMNESE
HDA: Paciente relata que em Março de 2017, 5 dias após receber dose
de vacina contra febre amarela, notou aparecimento de lesões maculopapulares eritematosas não-pruriginosas e indolores em abdome e dorso (Foto 1). Referia também poliartralgia difusa e mialgia, negava febre. Em Abril de 2017, procurou dermatologista e foi orientada a iniciar tratamento com corticoide tópico e oral. Em Junho de 2017, evoluiu com piora do quadro dermatológico e surgimento de edema de membros inferiores, sendo encaminhada ao serviço de nefrologia. Pela dúvida diagnóstica, procedeu-se investigação.
HPP: Nega comorbidades, cirurgias prévias, hemotransfusões e
alergias.
História familiar: Avó materna falecida por IAM, desconhece outros
antecedentes mórbidos na família.
História social: Nega promiscuidade sexual, relata uso de condom.
ANAMNESE
História social: Nega promiscuidade sexual, relata uso de condom.
EXAME FÍSICO
Ao exame físico: Bom estado geral, orientada, normocorada, hidratada,
anictérica, acianótica e eupneica. Presença de lesões maculopapulares eritematosas difusas em abdome e dorso.
ACV: RCR 2T, BNF, sem sopros; FC: 64 bpm; PA: 100x60 mmHg AR: MV presente bilateralmente, sem RA.
Abdome: Atípico, peristalse presente, flácido, depressível, indolor à Abdome: Atípico, peristalse presente, flácido, depressível, indolor à
palpação, sem massas ou visceromegalias.
MMII: sem edemas no momento (tendo apresentado edema ++/4+) e
panturrilhas livres.
Exame neurológico: força e reflexos preservados.
Exame das articulações periféricas: Dor à mobilização das articulações
EXAMES COMPLEMENTARES
• Abril de 2017:
Hemograma, provas de função hepática e renal sem alterações. VHS 45 mm
Anti-HBs + / CMV-IgM + [2,01] – baixos titulos / CMV-IgG + [130,2] Anti HIV não reagente / Sorologia para rubéola não-reagente
• Junho de 2017: • Junho de 2017:
EAS com proteinúria ++ e alguns cilindros hialinos.
Urina de 24 horas com proteinuria de 5.525mg / 24 horas. FAN + padrão pontilhado fino 1/640
• Condução do caso:
Após resultado de urina de 24 horas, Nefrologia solicita biópsia renal e
CASO CLÍNICO
Discutir...
Hipóteses diagnósticas
CONDUÇÃO DO CASO
• Pela Nefrologia em Junho de 2017 - FAN + padrão pontilhado fino 1/640 - C-ANCA e p-ANCA negativos ,
- Anti-DNA, Anti-Sm, Anti-La negativos - Anti-Ro positivo (>240)
- Urina de 24 horas: proteinúria de 5.525 mg / 24h - Urina de 24 horas: proteinúria de 5.525 mg / 24h - Pesquisa de dismorfismo eritrocitário negativa
• Início de tratamento para LES: prednisona 60 mg, enalapril 10 mg e sinvastatina 20mg
MULHER JOVEM + RASH CUTÂNEO + FAN POSITIVO + PROTEINÚRIA NEFRÓTICA
CONDUÇÃO DO CASO
• Pela Nefrologia em Agosto de 2017 - Anticoagulante lúpico –
- Anticardiolipina IgM + em altos títulos (230 – VR > 40 MPL U/mL) - Anticardiolipina IgG –
- C3 levemente diminuído (80 / VR: > 90 mg/dL) - FAN + padrão pontilhado (1/80)
- FAN + padrão pontilhado (1/80)
• Hidroxicloroquina 400 mg e AAS 100 mg • Solicitada biópsia renal
CONDUÇÃO DO CASO
• Biópsia renal
CONDUÇÃO DO CASO
• Pela Dermatologia em Setembro de 2017
CONDUÇÃO DO CASO
• Pela Reumatologia em Setembro de 2017 - VHS 55 mm
- Anti-DNA negativo
- Anti-cardiolipina IgM + em altos títulos (380 – VR > 40 MPL U/mL) - Anti-beta2-glicoproteína 1 negativo
- Urina de 24 horas: proteinúria 3500 mg / 24h - Urina de 24 horas: proteinúria 3500 mg / 24h • Dúvida diagnóstica
- LES x Outras causas de síndrome nefrótica - Encaminhada a Dermatologia
CONDUÇÃO DO CASO
• Retorno pela Reumatologia e Dermatologia em Setembro de 2017
Junho de 2017
Setembro de 2017
• Diagnóstico de nefropatia membranosa por sífilis secundária
VDRL
Não reagente
1/256
CONDUTA
• Solicitada sorologia do parceiro, que nega lesões sugestivas de sífilis, mas informa relações anteriores com outras parceiras
• Solicitada biópsia de pele e sorologia no líquor da paciente • Prescrição de Penicilina Benzatina 2.400.000u IM 3 doses
• Resultado da sorologia do parceiro VDRL 1/32, prescrito Penicilina Benzatina 7.200.000u IM
• Paciente refere involução das lesões a partir da primeira dose, permanecem manchas eritematosas em MMSS e tronco
NEFROPATIA MEMBRANOSA SECUNDÁRIA A SÍFLIS
• IST re-emergente causada pelo Treponema pallidum
• Lesão primária surge de 9 a 90 dias após exposição, geralmente úlcera genital indolor, com resolução em 2 a 4 semanas
• Sífilis secundária ocorre por disseminação hematogênica, surge de 2 a 12 semanas após a primária, podendo afetar diversos órgãos
• Síflis terciária pode surgir de 2 a 40 anos depois do início da infecção, principalmente com complicações neurológicas e cardiovasculares
NEFROPATIA MEMBRANOSA SECUNDÁRIA A SÍFLIS
• Sífilis pode levar a uma grande variedade de lesões renais • Diagnóstico definitivo pela biópsia renal
NEFROPATIA MEMBRANOSA SECUNDÁRIA A SÍFLIS
• Síndrome nefrótica, sobretudo em pacientes jovens
• Vastos sintomas que podem ser causadas pela sífilis dificultam ou postergam sua suspeita e diagnóstico.
• Necessário lembrar da sífilis e de outras doenças infecciosas • Necessário lembrar da sífilis e de outras doenças infecciosas
como causa de síndrome nefrótica.
• Destaca-se a importância da anamnese e exame físico para o diagnóstico diferencial entre as diversas causas de síndromes lupus-like
Discussão clínica
COLAGENOSES NEFROPATIA NEOPLASICAS IDIOPATICAS INFECCIOSASHipótese Diagnóstica
Lupus eritematoso sistêmico (LES) associado a
nefropatia.
Acomete principalmente mulheres em idade fértil. Pode se
apresentar de forma insidiosa. A maioria dos pacientes apresentam sintomas constitucionais.
sintomas constitucionais.
O quadro clínico pode ser composto por rash maculopapular não pruriginoso, associado a poliartralgia e mialgia, nefropatia, VHS e FAN elevados.
Paciente pode preencher os critérios diagnósticos do LES em relação a SLICC (2012).
Hipótese Diagnóstica
Lupus
eritematoso
sistêmico
(LES)
associado
a
nefropatia.
Favorável: Mulher, idade fértil, nefropatia, poliartralgia + mialgia, rash maculopapular eritematoso não-pruriginoso, VHS e FAN elevados.
maculopapular eritematoso não-pruriginoso, VHS e FAN elevados.
Desfavorável: Padrão do FAN, padrão da lesão dermatológica, a não melhora da lesão dermatológica com o uso de corticoide, paciente não preenche os critérios para LES pela classificação do Colégio Americano de Reumatologia (1997).
Hipótese Diagnóstica
Sífilis secundária associada a nefropatia.
Doença infecciosa, sexualmente transmissível, causada pela bactéria espiroqueta Treponema Pallidum. É classificada clinicamente em forma primária, secundária e terciária.
A forma secundária, pode se apresentar com lesões dermatológicas, A forma secundária, pode se apresentar com lesões dermatológicas,
linfadenopatia generalizada,artralgia, adinamia.
Glomerulopatia membranosa induzida por imunocomplexo é uma alteração descrita na fase secundária.
Favorável: Comportamento sexual ativo, quadro clínico.
Desfavorável: Relato do uso de condom, ausência de linfadenopatia generalizada.
Hipótese Diagnóstica
Crioglobulinemia tipo II (mista) secundária a hepatite
C.
A hepatite C é a principal causa de crioglobulinemia mista. Também pode ser causada por LES, hepatite B.
O achado clínico mais comum é a púrpura palpável em nádegas e membros inferiores. Metade dos pacientes aproximadamente desenvolvem glomerulonefrite membranoproliferativa.
Outros achados comuns são poliartralgia e neuropatia periférica.
Favorável: Comportamento sexual ativo, presença de nefropatia e poliartralgia. Desfavorável: Ausência de púrpura palpável e neuropatia periférica, relato do uso de condom.
Condução do caso
Caso clínico (anamnese e exame físico) + exames complementares.Solicitar complemento sérico, Anti-DNA, VDRL, FTA-Abs, anti-HCV.
Condução do caso
LES- Prednisona 1-2 mg/kg/dia. Caso maior gravidade do quadro ou ausência de melhora com prednisona, avaliar necessidade de pulsoterapia e/ou associação de
imunossupressores citotóxicos ( ciclosfosfamida, micofenolato mofetil e azatioprina).
Sífilis- Penicilina G Benzatina 2,4 milhões de UI em dose única + acompanhamento do VDRL a cada 3 meses no primeiro ano.
Crioglobulinemia mista + Hepatite C – Avaliar a
gravidade do curso da doença para definir tratamento e tratar hepatite C.
REFERÊNCIAS
W Hunte, F al-Ghraoui, R J Cohen. Secondary syphilis and the nephrotic
syndrome .JASN Jan 1993, 3 (7) 1351-1355;