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Campanha de Desarmamento Voluntário
Os primeiros resultados
12 de Maio, 2011
Julio Purcena - economista Rubem César Fernandes - antropólogo1
Introdução
A Campanha Nacional de Entrega Voluntária de Armas foi lançada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no Palácio da Cidade do Rio de Janeiro no dia 6 de maio, com a presença do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes. Logo em seguida, ao meio dia, foi aberto no Viva Rio o primeiro posto civil para o
recolhimento de armas. Apresentamos aqui os resultados da primeira semana de funcionamento deste posto.
Seguindo as normas da campanha, o posto civil de recolhimento é apoiado pela Polícia Federal, que o legitima e opera as providências legais. O atendimento, por sua vez, é feito por funcionários e voluntários da organização. Cada arma recebida é cadastrada pela PF e danificada por um funcionário devidamente qualificado.
A entrega é anônima, mas um questionário é proposto pelos atendentes às pessoas que chegam para entregar suas armas. Desta forma, as informações sobre as armas são fornecidas pela PF e o perfil do público é retirado do questionário voluntariamente preenchido.
Que armas são entregues?
Em cinco dias, 240 armas foram entregues para destruição, perfazendo a média de 48 armas por dia. São elas que compõem o universo deste primeiro balanço.
• São revólveres (70%) na maioria, mas há também um número significativo de pistolas (14%) e de armas longas de caça (10%).
• Predomina o calibre .38 (42%), seguido de .32 (23%), .22 (14%) e .380 (7%)
1 Agradecemos aos profissionais da Polícia Federal, ao policial civil, Luiz Carlos Silveira, e às
• Taurus é a marca mais frequente (40%), seguida de Rossi (22%), Smith Wesson (9%), CBC (3%) e Beretta (3%)
• Quanto à origem, 73% são de fabricação nacional, 23% são estrangeiras e 5% sem informação.
Comparamos estes dados com os obtidos de um estudo feito pelo Viva Rio sobre as armas apreendidas na ilegalidade pela polícia do Rio de Janeiro no período de 1998 a 2008.
• O perfil geral é semelhante. As características das armas em circulação entre cidadãos de bem, por assim dizer, e os criminosos não são muito diferentes. • O circuito criminal, no entanto, mostra alguns desvios importantes – a presença
de armas de fogo de uso militar (3%), que não apareceram ainda no Posto de Recolhimento Voluntário; maior presença de pistolas e de armas longas de caça; e maior variação de calibres.
Participação de armas de fogo segundo tipo nas apreensões e entrega no Rio de Janeiro. Tipo de arma de fogo Entregues na Campanha Apreendidas no RJ 1998 ‐ 2008 Revólveres 69,6 56,1 Pistolas 14,2 19,2 Armas longas para caça 10,4 16,9 Armas de fogo militares ‐ 3,4 Outras armas/ sem informação 5,8 4,4 Total 100,0 100,0 Nota: Dados de Secretaria de Segurança Pública/ RJ analisados na pesquisa Estoques e Distribuição de Armas de Fogo no Brasil (2010). Fonte: Viva Comunidade/ Viva Rio (2010) e DPF/ SR/ RJ ‐ Posto de Coleta Viva Rio Participação de armas de fogo segundo calibre nas apreensões e entrega no Rio de Janeiro. Calibre Entregues na Campanha Apreendidas no RJ 1998 ‐ 2008 .38 42,1 35,6 .32 22,5 16,8 .22 14,2 6,3 .380 6,7 7,2 6,35 mm 4,2 1,7 12 G 3,3 3,8 Outros calibres 6,7 23,3 Sem informação 0,4 5,2
Total 100,0 100,0 Nota: Dados de Secretaria de Segurança Pública/ RJ analisados na pesquisa Estoques e Distribuição de Armas de Fogo no Brasil (2010). Fonte: Viva Comunidade/ Viva Rio (2010) e DPF/ SR/ RJ ‐ Posto de Coleta Viva Rio Participação de armas de fogo segundo marca nas apreensões e entrega no Rio de Janeiro. Marca Entregues na Campanha Apreendidas no RJ 1998 ‐ 2008 Taurus 40,0 37,6 Rossi 22,1 20,5 Smith & Wesson 8,8 3,1 CBC 2,9 1,4 Beretta 2,5 1,8 Outras marcas 19,2 19,1 Sem informação 4,6 16,4 Total 100,0 100,0 Nota: Dados de Secretaria de Segurança Pública/ RJ analisados na pesquisa Estoques e Distribuição de Armas de Fogo no Brasil (2010). Fonte: Viva Comunidade/ Viva Rio (2010) e DPF/ SR/ RJ ‐ Posto de Coleta Viva Rio Participação de armas de fogo segundo origem nas apreensões e entrega no Rio de Janeiro. Origem Entregues na Campanha Apreendidas no RJ 1998 ‐ 2008 Nacional 72,5 69,0 Estrangeira 22,9 15,8 Sem informação 4,6 15,2 Total 100,0 100,0 Nota: Dados de Secretaria de Segurança Pública/ RJ analisados na pesquisa Estoques e Distribuição de Armas de Fogo no Brasil (2010). Fonte: Viva Comunidade/ Viva Rio (2010) e DPF/ SR/ RJ ‐ Posto de Coleta Viva Rio
TIPO Pistola 14% Revólver 71% Espingarda5% Garrucha 5% Carabina 4% Rifle 1% CALIBRE .32 23% .38 42% .22 14% .380 7% 6,35 mm 4% 12 G 3% Outros calibres 7% Sem informação 0,4%
MARCA Rossi 22% Taurus 39% Smith & Wesson 9% CBC 3% Beretta 3% Outras marcas 19% Sem informação 5% ORIGEM Estrangeira 23% Nacional 72% Sem informação 5%
QUEM ENTREGA AS ARMAS?
São homens, na maioria (68%), mas há uma presença expressiva de mulheres (32%), sobretudo quando se considera que a arma de fogo costuma ser uma propriedade masculina. É comum o caso da viúva que se desfaz de uma arma que pertencia ao marido.
87% têm acima de 40 anos. É uma população já madura. O maior grupo é composto de idosos - acima de 60 anos (44%).
É um grupo instruído – apenas 2% sem o ensino fundamental completo. 45% têm algum nível de formação secundária e 53% possuem 14 anos de estudo ou mais.
Predomina a classe média – 71% têm renda familiar acima de seis salários mínimos e 36% estão na faixa abaixo de cinco salários, mas 35% contam com 11 salários ou mais. Sexo Masculino 68% Feminino 32% Total 100% Idade Até 24 anos 3% 25 a 29 anos 2% 30 a 39 anos 7% 40 a 49 anos 16% 50 a 59 anos 27% 60 anos ou mais 44% Total 100% Escolaridade até 7 anos de estudo 2% de 8 a 13 anos de estudo 45% de 14 anos de estudo ou mais 53% Total 100% Renda mensal da família até 3 salários mínimos 14% de 4 até 5 salários mínimos 16% de 6 até 10 salários mínimos 30% de 11 salários mínimos ou mais 29% Não sei/ não quero responder 12% Total 100%
GÊNERO Masculino 68% Feminino 32% IDADE 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% Até 24 anos 25 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 anos ou mais %
ESCOLARIDADE até 7 anos de estudo 2% de 8 a 13 anos de estudo 45% de 14 anos de estudo ou mais 53%
Por que decidem entregar as suas armas?
A palavra mais usada é “medo” – medo de um acidente (28%), medo de uma tragédia em caso de assalto (10%) e também o medo de que caia em mãos erradas (32%). Apenas 6% mencionam a indenização e são poucos (3%) os que declaram fazê-lo “para não ser punido pela nova lei.” 20% alegam “outros motivos”.
Um número significativo (65%) declara ter sido convencido pela Campanha de Desarmamento. Cerca de 14% revelam discussão doméstica.
Metade das pessoas afirma ter recebido a arma em herança. Pelos modelos e os calibres, percebe-se um arsenal antigo que circula pela sociedade. 23% argumentam que haviam comprado para sua defesa pessoal ou de sua casa. Um número
surpreendente (9%) possuía a arma por razões profissionais. Foi entregue uma arma de uso restrito.
Apenas 31% se identificam como donos da arma. Os demais atribuem a propriedade à outra pessoa – parente, amigo, vizinho.
Apenas 19% afirmam ter comprado a arma numa loja: 7% afirmam ter comprado a arma no quartel ou diretamente na fábrica (privilégio típico de militares) – sinal de que profissionais de funções armadas, provavelmente já na reserva, também podem se identificar com a campanha. A maioria - mais de 70% - afirma ter adquirido a arma no mercado informal, de conhecidos, de um particular, de um policial.
Apenas um terço das pessoas declara que a arma era registrada. Dessas, 33% tinham registro militar. 67% das pessoas que vieram entregar suas armas voluntariamente não as tinham registrado.
Esta primeira análise mostra que o principal impacto direto da campanha está na redução do estoque informal de armas em circulação na sociedade. É uma hipótese importante, que justifica com sobras o investimento que é feito na campanha. Não é um mercado propriamente criminal, mas tem com ele uma zona de intercessão, como é comum na informalidade, pelas compras e vendas que são feitas à margem dos controles legais. Como foi noticiado, as duas armas usadas por Wellington, o
assassino das crianças da escola Tasso da Silveira, em Realengo, foram compradas de particulares. Por que você está entregando essa arma Para evitar que ela caia em mãos erradas 32% Por medo de um acidente 28% Outros motivos 20% Por medo de uma tragédia em caso de assalto 10% Por causa da indenização 6% Para não ser punido pela nova lei 3% Total 100% Como chegou à decisão de entregar essa arma Fui convencido pela Campanha do Desarmamento 62% Outras motivos 21% Fui convencido pela minha mulher ou meu esposo 7% Por causa da nova lei 4% Fui convencido por outros parentes ou amigos 2% Fui convencido pelos meu(s) filho(s) 2% Fui convencido pelos meus pais 2% Total 100% Por que você (ou o dono) tinha essa arma Herança 47% Outra razão 14%
Para defesa pessoal 12% Para defesa de minha casa 9% Uso profissional 9% Não sei 4% Para coleção 2% Para caça 2% Total A quem pertencia essa arma Você 31% Algum parente 53% Um(a) amigo(a) 7% Outro 7% Não sei 2% Total 100% Onde foi comprada essa arma Loja 19% Policial 2% Conhecido(a) 2% De um particular 2% Quartel/ fábrica 7% Outro 4% Não sei 63% Total 100% Essa arma possui registro Sim 33% Não 17% Não sei 50% Total 100% Que tipo de registro civil 21% militar 11% Não sei 64% Sem informação 4%
Total 100%
ONDE FOI COMPRADA?
Loja 19% Policial 2% Conhecido(a) 2% De um particular 2% Quartel/ fábrica 7% Outro 4% Não sei 64% POSSUI REGISTRO? Sim 33% Não 17% Não sei 50%