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Vidas que importam: narrativas de jovens autores (as) de ato infracional em privação de liberdade na cidade de Fortaleza-CE / Lives that matter: narratives of young authors of an infraction in deprivation of liberty in the city of Fortaleza-CE

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 8, p.59971-59976 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Vidas que importam: narrativas de jovens autores (as) de ato infracional em

privação de liberdade na cidade de Fortaleza-CE

Lives that matter: narratives of young authors of an infraction in

deprivation of liberty in the city of Fortaleza-CE

DOI:10.34117/bjdv6n8-420

Recebimento dos originais:08/07/2020 Aceitação para publicação:20/08/2020

Keliane de Oliveira Sinésio Batista

Graduada em Serviço Social Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Pedro Igor Araújo da Silva

Mestrando em Sociologia

Universiadade Estadual do Ceará (UECE)

Mariana Lucas de Lucena

Graduada em Serviço Social Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Lílian Damaris Alves Monteiro

Graduanda em Serviço Social Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Maria Andréa Luz da Silva

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Francisco Horácio da Silva Frota

Doutor em Sociologia Política Univeridade de Salamanca

RESUMO

O presente estudo busca contribuir com o debate acerca da socioeducação no Estado do Ceará à luz do marco legal da socioeducação no Brasil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada entre maio e abril de 2018 com jovens autores (as) de ato infracional em cumprimento de medidas de internação em 10 (dez) Centros Socioeducativos localizados na cidade de Fortaleza. No referencial teórico dialogamos com os conceitos estigma e instituição total Goffman (2008), e vidas precárias Butler (2011). Como principais achados empíricos discutimos sobre a realidade dos (as) jovens nas unidades socioeducativas e nos aproximamos do que eles entendem por “na liberta”, viver fora das unidades.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 8, p.59971-59976 aug. 2020. ISSN 2525-8761

ABSTRACT

The present study seeks to contribute to the debate about socio-education in the State of Ceará in the light of the legal framework of socio-education in Brazil. This is a qualitative research conducted between May and April 2018 with young authors of an infraction in compliance with internment measures in 10 (ten) Socio-Educational Centers located in the city of Fortaleza. In the theoretical framework we dialogue with the concepts of stigma and total institution Goffman (2008), and precarious lives Butler (2011). As main empirical findings, we discussed the reality of young people in socio-educational units and approached what they mean by “na liberta”, living outside the units.

Keywwords: Youths, Youth trajectories, Education Measures.

1 INTRODUÇÃO

“A violência é um "fantasma", sem hora, nem lugar, que está no estranho da rua desconhecida, na noite escura. A violência é o caos, uma porta aberta para o caos; ela é a falta do limite, o imprevisível", afirma Rifiotis (2006). Deparando-se diante de uma situação de violência, seja por sofrê-la, por conhecer alguém que sofreu ou mesmo por praticá-la pode-se conceituá-la de várias formas, mas muitas vezes se esquece que o silêncio também se torna uma violência, pode significar a violação do outro, a incompreensão e a invisibilidade dos que sofrem e dos que praticam a violência.

Nesse sentido, o debate que se insere neste trabalho revela trajetórias juvenis de autores (as) de ato infracional e que cumprem, à época da pesquisa, medidas em meio fechado, privados (as) de liberdade. Como ponto de partida para a discussão interpelamos o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) que inaugura um novo paradigma da “Doutrina de Proteção Integral”, entretanto ainda hoje se impõe uma desafio estrutural que desnuda uma luta “simbólica e concreta” de paradigmas que se entremeiam reeditando práticas punitivistas numa lógica do “deliquente” (RIZINNI, 2008), Desprezando, assim, os contextos multifacetados de desigualdades sociais, vulnerabilidades e riscos sociais que o segmento infanto-juvenil vivencia nos seu cotidiano.

2 METODOLOGIA

A partir de um termo de cooperação técnica firmado entre o Ministério Público do Ceará (MPCE) e o Núcleo de Pesquisas Sociais (NUPES/UECE), conhecemos de perto a realidade de jovens autores (as) de ato infracional nas medidas em meio fechado: semiliberdade, internação provisória e internação como disposto no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

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O estudo tem caráter qualitativo e dialoga com estudo bibliográfico e documental. O campo empírico, os centros socioeducativos situados na cidade de Fortaleza-ce, desvelou-se como desafiador para os (as) jovens pesquisadores (as) que compuseram esta pesquisa, exigindo fomento de grupo de estudos para aprofundar a temática e o ato de (re) fazer pesquisa na área de ciências humanas e sociais enveredando por uma “olhar, ouvir e escrever” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 2000) problematizador.

É importante ressaltar que o planejamento da pesquisa bem com nossa entrada no campo foram por vezes repensadas diante de conflitos internos (tentativas de fuga/rebeliões) e externos (facções).

Entre março e abril de 2018 visitamos 10 centros de aplicação de medida socioeducativa de meio fechado, sendo eles: Centro de Semiliberdade Mártir Francisca, Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa Mota (semiliberdade e internação feminino), Centro Socioeducativo Cardeal Aloísio Lorscheider (internação), Centro Socioeducativo Dom Bosco (internação), Centro Socioeducativo Patativa do Assaré (internação), Centro Socioeducativo São Francisco (internação Provisória), Centro Socioeducativo São Miguel (internação Provisória), Centro Socioeducativo Passaré (internação), Centro Socioeducativo Canindezinho e Unidade de Recepção Luis Barros Montenegro. Associando diários de campo, questionários e grupos focais com os (as) socioeducandos (as) e familiares.

Resguardamos suas identidades e nos grupos focais condicionamos a participação a uma prévia aceitação dos mesmos após esclarecimentos sobre a pesquisa e seus objetivos. Nesse sentido, utilizamos Termos de Consentimentos Livre e Esclarecido (TCLE) de forma oral e gravada.

Nosso objetivo central, foi o de apreender, diante das trajetórias de vida dos (as) internos (as) das unidades socioeducativas, à época os (as) jovens que cumpriam medias de privação de liberdade, a dimensão do que era vivido, experenciado dentro dessas instituições.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De um lado temos a “Doutrina de Proteção Integral” que é peça fundante do ECA, avança e reconhece esse segmento social como cidadãos tendo direitos a serem garantidos pelo Estado na sua condição particular de desenvolvimento biopssicossocial. E de outro a

“Doutrina de Situação Irregular do Menor” que reitera a segregação social e retroalimenta a

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É a luz do marco legal da socioeducação no Brasil que situamos os avanços e desafios a serem enfrentados na Política de Atendimento Socioeducativo que se caracteriza por sua dimensão intersetorial e que abrange: Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Sistema Único de Saúde (SUS), Educação e o Sistema de Justiça, lê-se Justiça Juvenil que atenda os (as) adolescentes autores (as) de ato infracional a partir dos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento (ECA, 1990).

Consoante Goffman (2008), verificamos que os centros educacionais que aplicam medidas de privação de liberdade configuram-se como “instituições totais” por mais que o ECA traga em sua normativa uma “responsabilização” destoando do sistema prisional. Consoante Goffman (2008) , os (as) jovens passam por um processo de “mortificação do eu” nesses espaços. A “mortificaçãodo eu”, segundo o teórico passa por um processo de retirada de elementos de uma ordem do cotidiano desses (as) jovens, Os internos (as), nos centros educacionais passam a seguir regras e rotinas de atividades, sejam de ordem educacional, alimentação, higiene pessoal, lazer entre outras. Utilizam uniformes padronizados que desautorizam a utilização de acessórios em seus corpos. As visitas dos familiares são determinados pela instituição em determinados dias e horários, ou seja, ainda com interpelações de Goffman (2008) passam a compor uma “instituição total” dando-lhes uma outra socialização.

Nessa “nova socialização”, os (as) jovens que cumprem medidas socioeducativas no Ceará representam os seguintes índices: faixa de 16 a 18 anos (70%), seguidos da 12 a 15 anos (25%) e minoritariamente (5%) de 19 a 21 anos. Por sexo (94%) são masculinos e (6%) feminino. A principal infração cometida pelos adolescentes durante o período de coleta dos dados foi roubo, com (60%) dos casos; homicídio com (14%) e (9,2 %), por tráfego de drogas. Os demais (17%) estão distribuídos em porte de armas, latrocínio, furto, estupro e outros.

Encontramos relatos emblemáticos e que expõe fragilidades graves que ferem diretamente a direitos humanos básicos, como pode ser conferida na seguinte fala: “Nós

passamos 1 semana e 4 dias sem dormir no colchão. Só no chão” (Adolescente 12, Centro

Socioeducativo Dom Bosco). E ainda na opinião da família “A gente pega o ‘bacurim’[porco

na expressão cearense], rebola ele dentro de um chiqueiro. Quando é na hora dele comer: ‘tá aqui o cumer, coma; tá aqui a água, toma. Se o chiqueiro tiver precisando limpar, limpa.’ Eu acho que aqui é assim”.(Família 2, Centro Socioeducativo Dom Bosco).

Quando interrogados (as) sobre as motivações que os (as) levaram a cometer o ato infracional os (as) jovens foram enfáticos e relataram a falta/ausência de oportunidades socais

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no que eles chamam “na liberta”, na vida em sociedade, fora dos centros educacionais “[...]é

pouca as oportunidades que o jovem deveria ter, né? Assim, porque na maioria das vezes a gente não tem oportunidade de ter um trabalho ou um curso lá fora. Não tem oportunidade da sociedade enxergar a gente, como outras pessoas, entendeu?” (adolescente 1, Centro

Feminino Aldaci Barbosa Mota). O Brasil tem 10 milhões de jovens que não estudam nem

trabalham. São os chamados jovens da geração “nem nem”. Segundo o IBGE, esse público representa 16% dos brasileiros entre 17 e 22 anos.

A fala anterior perscruta significações entorno das fragilidades sociais que se interpõem nas vidas desses (as) jovens e soma-se ao estigma, ao rótulo, ao descrédito social como explica Goffman (2008). É sabido que não apenas no Brasil, mas também em todas as sociedades sempre houve grupos sociais marginalizados, porém, no Brasil, a situação parece tomar aspectos mais repressivos em relação a esta população.

Os (as) jovens privados de liberdade pertencem a grupos familiares integrantes do Cadastro de Bolsa Família, outro grande número é de trabalhadores terceirizados ou assalariados sem carteira assinada e um número mais reduzido, de trabalhadores com emprego fixo, dados obtidos por meio do grupo focal com as famílias dos (as) socioeducando (as)

Durante a fase de coleta de dados nos centros educacionais fomos forçados a rever o planejamento da pesquisa ora por rebeliões internas, ora pela dinâmica das facções que afetam o cotidiano da unidades, embora a não procure formalizar a existência de grupos e facções, os mesmos existem como podemos constatar nas seguites falas: “(...) meu filho não fala nada...

mas eu sinto que esta com medo do Comando Vermelho.”(Família 1, Centro Patativa do

Assaré). “Aqui tem muita gente ligada às facções, mas o nosso bloco não tem ninguém

batizado.” (Adolescente 2, Centro Dom Bosco).

Em relação aos seus projetos de vida/futuros muitos se demonstraram interessados em trabalhar, estudar e obter uma “vida digna” ou “dar a volta por cima” (adolescente 1, Centro

Socioeducativo Patativa do Assaré).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É um desafio (re) fazer pesquisa na área de direitos humanos, em especial com jovens em privação de liberdade. No percurso encontramos jovens que nos termos de Butler (2016) são invisíveis para sociedade e pouco importam suas trajetórias, suas identidades, suas vidas. São vidas precárias, que não são reconhecidas como vidas e indignas do luto. Procuramos com a pesquisa afetar e aproximar um debate sobre vidas que importam e como preconiza o

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ECA em seu art. 100, devem ser priorizados na “promoção da dignidade, como sujeito de direitos” (art. 100, I ECA) “e respeito à condição peculiar de desenvolvimento “(art. 121, ECA).

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.

BUTLER, Judith. Vida precária. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, Departamento e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar, 2011, n.1, p. 13-33.

CARDOSO, Ruth; SAMPAIO, Helena. Bibliografia sobre Juventude. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.

RIZZINI, Irene. O século perdido: raízes históricas das políticas públicas para a infância no Brasil. São Paulo: Cortez, 2008.

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008

. A representação do eu na vida cotidiana. 14ºed. Petrópolis: Vozes, 1985. . Manicômios, prisões e conventos. 8º Ed. São Paulo: Perspectiva,1992/ 2008. BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Relatório da Infância e Juventude – Resolução nº 67/2011: Um olhar mais atento às unidades de internação e semiliberdade para adolescentes. Brasília: Conselho Nacional do Ministério Público, 2013.

.Conselho Nacional de Justiça. Panorama Nacional: a execução das medidas socioeducativas de internação. Programa Justiça ao Jovem Brasília. CNJ, 2012.

. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase).

. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.

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