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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCAÇÃO

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Academic year: 2019

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NITERÓI

RJ

2012

REVISTA QUERUBIM

Letras

Ciências Humanas

Ciências Sociais

Ano 08 Nº 16 volume 2

(2)

Revista Querubim 2012 – Ano 08 nº 16 vol. 2– 198p. (fevereiro – 2012)

Rio de Janeiro: Querubim, 2012 1. Linguagem 2. Ciências Humanas 3. Ciências Sociais – Periódicos. I - Titulo: Revista Querubim Digital

Conselho Científico

Alessio Surian (Universidade de Padova - Italia) Carlos Walter Porto-Goncalves (UFF - Brasil) Darcilia Simoes (UERJ – Brasil)

Evarina Deulofeu (Universidade de Havana – Cuba) Madalena Mendes (Universidade de Lisboa - Portugal) Vicente Manzano (Universidade de Sevilla – Espanha) Virginia Fontes (UFF – Brasil)

Conselho Editorial Presidente e Editor

Aroldo Magno de Oliveira

Consultores

Alice Akemi Yamasaki Andre Silva Martins Elanir França Carvalho Enéas Farias Tavares Guilherme Wyllie Janete Silva dos Santos João Carlos de Carvalho José Carlos de Freitas Jussara Bittencourt de Sá Luiza Helena Oliveira da Silva Marcos Pinheiro Barreto Paolo Vittoria

(3)

Sumário

01 Povoado Totoró: uma análise da infraestrutura turística da localidade– Angélica de Araújo Paulo, Luciene de Araújo da Silva, Raianne Kelly Lopes de Araújo e Kettrin Farias Bem Maracajá

03

02 A Lei 10.639/03, o ensino de História da África, da cultura afro-brasileira e africana e a contribuição

do livro infantil “Vovó Nanã vai à escola”. –Antonio Carlos Lopes Petean

12

03 Percepções de longevos acerca da educação ao longo da vida: um estudo sobre a aprendizagem da informática –Cátia Deniana Firmino Perfeito, Cristiane de Oliveira Vieira Souza, Francisca Oleniva Bezerra da Silva, Iolanda Maria César, Lanzilina Netto Duque e Monica Monteiro

17

04 Atitudes responsáveis para um planeta sustentável: os 3 r's do consumo consciente - Daniele Araújo de Macêdo, Roberto Vitório Nunes de Oliveira e Kettrin Farias Bem Maracajá

30

05 Revistas institucionais são embalagens pedagógicas– Denise Preussler dos Santos 40 06 A educação ambiental e o turismo em comunidades mineradoras – o caso da mina Brejuí –Denisy

Silva de Azevedo, Renata Laís Ferreira de Santana e Kettrin Farias Bem Maracajá

50

07 Turismo na terceira idade: uma análise do forró dos idosos na cidade de Currais Novos – RN – Ednaja Faustino Silva de Moura, Elianete Maria Medeiros de Souza, José Rosivan de Medeiros e Kettrin Farias Bem Maracajá

59

08 Educação ambiental como ferramenta para o desenvolvimento sustentável do turismo na Mina Brejuí - Gilmara Barros da Silva, Rodrigo Cardoso da Silva e Kettrin Farias Bem Maracajá

68

09 Sobre o assumir do real em O discurso: estrutura ou acontecimento, de M. Pêcheux,e implicações disso para uma disciplina de interpretação (A AD) –Hélder Sousa Santos

76

10 Educação e saúde: a leishmaniose visceral canina e suas implicações na saúde pública - análise de um levantamento do conhecimento dos moradores de um bairro de Araguaína – TO– Jorcélia Oliveira Costa e Silva Neres, Vanubia Silva Rodrigues e Wilma Gomes Galvão

81

11 A produção escrita de crônicas a partir de uma webquest– Márcia Zakrzevski e Cristiane Malinoski Pianaro Angelo

89

12 Produção de conhecimento sobre a formação de professores indígenas: inventário de teses de 2000 a 2010– Maria Lúcia Martins Pedrosa Marra

98

13 Consumo, sustentabilidade e responsabilidade social: o papel dos professores na tentativa de sensibilizar os alunos através da educação ambiental – Mayara Ferreira de Farias, Janaina Luciana de Medeiros, Denisy Silva de Azevedo e Kettrin Farias Bem Maracajá

106

14 Otratamento do texto no livro didático de língua portuguesa– Palmira Heine 113 15 A formação do sujeito-leitor coadjuvada pelas reflexões acerca de fundamentos da educação

popular– Priscila Monteiro Chaves

119

16 Alfabetização de crianças cegas– Regina Corrêa Caixeta 125 17 O olhar, os bichos e outras transgressões no conto Amor, de Clarice Lispector– Rodrigo da Costa

Araujo

136

18 Mulheres Apinayé: gênero, memória e identidade - Rosimar Locatelli 146 19 Educação e direitos humanos: o direito à cidadania é possível? - Rubenilson Pereira de Araújo e

Flávio Pereira Camargo

161

20 Interculturalidade e bilinguismo no contexto escolar apinayé: por uma educação para a convivência além da fronteira étnica– Severina Alves de Almeida, Francisco Edviges Albuquerque, Maria José de Pinho e Jeane Alves de Almeida

167

21 A representação social dos acadêmicos da área da saúde sobre “bom professor”– Talita Cristiane Sutter Freitas e Neide de Melo Silva Aguiar

175

22 A vitimização de professores na educação básica: alternativas de superação nas vozes de docentes – Tania Scuro Mendes

182

23 MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo, Contexto, 2009. 222 p.

Denise Maria Soares Lima

190

24 OLIVEIRA, João Batista Araújo e Simon Schwartzman. 2002. A escola vista por dentro. Belo Horizonte: Alfa Educativa Editora–Francisca Oleniva B. da Silva

193

25 ROBERT, M. Romance das origens, origens do romance: Por que o romance?. São Paulo: Cosac Naify, 2007. p.11-31.– Marinalva Dias de Lima

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POVOADO TOTORÓ: UMA ANÁLISE DA INFRAESTRUTURA TURÍSTICA DA LOCALIDADE

Angélica de Araújo Paulo1

Luciene de Araújo da Silva2

Raianne Kelly Lopes de Araújo3

Kettrin Farias Bem Maracajá4

Resumo: Com o crescimento da atividade turística as destinações em sua maioria não estão aptas para receber visitantes, visto que, a infraestrutura é elemento básico para as visitações aos destinos assim como aos atrativos. Neste sentido, o presente trabalho aborda uma análise da infraestrutura turística na região do Povoado Totoró, situado no município de Currais Novos – RN. Foi analisada a infraestrutura básica que esta dará suporte para a infraestrutura turística nesse destino. Acredita-se que a região tem um potencial turístico pouco explorado, porém vem sendo visitada e explorada de maneira tímida e inadequada faltando iniciativas por parte dos órgãos públicos para desenvolver um planejamento na região, para que a mesma se desenvolva de forma adequada.

Palavras-chaves: Planejamento. Turismo. Infraestrutura. Povoado Totoró.

Abstract: With the growth of the tourism destinations for the most part are unable to receive visitors, since the infrastructure is a basic element for the tours to destinations as well as the attractions. This paper discusses an analysis of the tourism infrastructure in the region of Totoró Village, located in the city of Currais Novos - RN. Initially the story was presented the town with their attractive and subsequently analyzed the basic infrastructure as this will give support to the tourism infrastructure in the destination. It is believed that the region has an unexplored tourist potential, so that it develops properly.

Keywords: Planning. Tourism. Infrastructure. Totoró Village.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas o turismo no Rio Grande do Norte vem crescendo e expandindo-se para o interior do estado, aumentando a circulação de turistas no mesmo, devido aos programas de desenvolvimento do turismo, com isso as cidades interioranas do estado estão procurando desenvolver o turismo explorando seus recursos naturais e artificiais, para atrair os mais diversos tipos de turistas assim, apresentando expressividade no mercado e movimentando os setores econômicos dos destinos turísticos.

No entanto, observa-se que os municípios de pequeno porte apresentam uma deficiência na infraestrutura turística como na básica, para que os municípios possam

1 Estudante do Curso de Turismo da UFRN angelicaaraujoturismo@gmail.com 2 Estudante do Curso de Turismo da UFRN luciene_minininha025@hotmail.com 3 Estudante do Curso de Turismo da UFRN raiannekely@yahoo.com.br

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atender os visitantes e turistas eles devem necessariamente ter o mínimo de infra estrutura básica como também infra estrutura turística, e que seja um bom local para os moradores. As cidades no contexto atual estão procurando desenvolver-se para que possa atender os turistas da melhor forma possível, com isso observa-se que as cidades que tem forte potencial turístico no interior do estado como Acarí, Currais Novos, Caicó, Carnaúba dos Dantas e outras cidades estão procurando qualificarem-se para receber melhor o turista e proporcionar momentos marcantes durante a estadia dos mesmos. Porém o que se encontra nas cidades é uma deficiência no setor do turismo, atribuindo essas aos gestores municipais por não desenvolverem políticas públicas voltadas para o turismo.

A cidade de Currais Novos- RN está inserida no Polo Seridó e tem grande potencial turístico para ser explorado, acredita-se que a região do Povoado Totoró conhecido como berço da história de Currais Novos possa vir a ser um dos atrativos mais visitados, porém para que isso se torne realidade falta o poder público olhar para a região com mais atenção.

A referida pesquisa foi desenvolvida para verificar as potencialidades da localidade, porém com enfoque na infra estrutura para avaliar as condições que a localidade apresenta com relação a receptividade dos visitantes, o estudo vai trabalhar com base na análise do Strenghs, Weaknesses, Opportunities e Threats - S.W.O.T, onde esta visa analisar o ambiente, identificando as forças, fraquezas, oportunidades e as ameaças da localidade em estudo, assim partindo da análise S.W.O.T é possível trabalhar para minimizar as ameaças e potencializar as oportunidades de desenvolvimento da região (Petrocchi, 2009).

A pesquisa foi estruturada em pesquisa bibliográfica, eletrônica, por meio de coleta de informações da localidade. A mesma tem como objetivo geral analisar se Povoado Totoró município de Currais Novos localizado no interior do estado do Rio Grande do Norte possui planejamento turístico e se a infraestrutura do mesmo é propícia para a receptividade de turistas e visitantes. Nesse sentido o presente trabalho tem caráter qualitativo, visando avaliar as condições em que a região do Totoró oferece para o desenvolvimento do turismo no local, mostrando como a região trabalhada encontra-se para receber turistas e atender a comunidade.

Planejamento turístico

Ao falar em planejamento turístico é necessário pensar tanto no turista como também na destinação, ou seja, pensar na importância do planejamento da localidade para o desenvolvimento das atividades turísticas seja em lugares que tal prática já esteja consolidada, como também, em locais que têm forte potencial ainda não explorado ou explorado de forma inadequada, porém o planejamento turístico é complexo, visto que existe o trabalho conjunto com os órgãos públicos, privados e a interação da comunidade, o que não é uma tarefa fácil.

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Diante do que a autora coloca é necessário que as localidades receptoras estejam preparadas para receber os visitantes, oferecendo o mínimo de conforto, tendo em vista que o turista ao sair de sua casa espera não correr risco de vida, por isso é necessário que a localidade tenha o conhecimento da prática da atividade turística na região e que contenha pessoas capacitadas para atender os visitantes. Compete aos preocupados em promover o turismo na região, no caso o setor público a função de planejar estrategicamente pelos avanços necessários na infra estrutura básica e na turística que dificultam o crescimento da atividade turística na região. A iniciativa deve partir do setor público, mais o que acontece na realidade é que os órgãos privados dão início a esta tarefa, após a iniciativa privada é que o setor público demonstra interesse em desenvolver a atividade turística na destinação contribuindo inicialmente com Infraestrutura básica e posteriormente com a Infraestrutura turística.

O planejamento em consonância com o desenvolvimento sustentável associa trabalho técnico e negociação política, pressupondo a elaboração de planos como uma etapa na qual a participação da sociedade é importante para a identificação dos problemas e potencialidades e para a proposição de soluções. (Morais e Dantas 2006, p.3 apud Paulo et al 2011, p.60)

Caso haja interesse é possível a localidade desenvolver o turismo e a preservação dos locais turísticos com a prática do uso sustentável, contudo é necessário que o poder público tenha interesse em criar diretrizes para o desenvolvimento do local, inserindo a comunidade, logo a mesma sabe mais do que ninguém os problemas existentes. Assim, juntos a iniciativa pública e a sociedade podem identificar significativamente os entraves para o desenvolvimento da atividade turística, contribuindo para o desenvolvimento da região, com elaboração de planos, projetos e programas que viabilize o desenvolvimento sustentável da região.

Nesse sentido, Braga (2007, p. 6) ressalta que “existe a concorrência, ou seja, outros

destinos turísticos que têm condição de atrair a demanda turística [...]”. A importância de um planejamento turístico em uma região a qual exista potencial para a prática da atividade turística é de grande valia, diante disso se o local tem forte potencial mais não dispõem para os visitantes o mínimo de conforto, isso implicará na evasão dos turistas para outros destinos que disponha de uma infraestrutura que proporcione uma melhor comodidade, então se faz necessário que as destinações turísticas tenham planejamento para o desenvolvimento do lugar.

Com base nisso, se espera é que o planejamento consiga sensibilizar as localidades receptoras para uma melhor forma de preservar o meio ambiente e a cultura no intuito de atingir a sustentabilidade econômica da localidade.

Contexto histórico da localidade

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Segundo Alves (1985) e Souza (2008), o processo de povoamento da cidade de Currais Novos não foi diferente dos demais, conhecida por sua história de origem, que teve início no Povoado Totoró, local onde foi erguida a primeira casa do município no ano de 1755 para abrigar o Coronel Cipriano Lopes Galvão natural de Igarassu – PE e povoador do então município de Currais Novos. Na Fazenda Totoró funcionava a sede da fazenda do Coronel, onde havia um curtume e um dos maiores cativeiros de escravos da região. Em virtude da falta de água na localidade ocasionada pela ausência de chuva, ele transferiu sua fazenda para imediações do Rio São Bento, onde no local tinha um poço no qual não faltava água, facilitando assim, a criação do gado. Ainda devido a essa falta de água o

coronel fez uma promessa aos céus e pedindo a intercessão de Sant’Ana para que voltasse a

chover novamente no local e que se sua promessa fosse alcançada, o mesmo construiria

uma capela a qual a padroeira seria Sant’Ana. Suas graças foram alcançadas e a capela foi erguida, não pelo coronel, mas pelo o seu filho o Capitão-mor Galvão, essa foi iniciada segundo os autores em 24 de fevereiro de 1808 e inaugurada em 26 de julho do mesmo ano, com uma missa celebrada na casa do coronel na Fazenda Totoró, onde na ocasião foi fixada uma cruz de madeira na frente da casa e em seguida saíram em procissão coma a

imagem de Sant’Ana até a capela, hoje Matriz de Sant’Ana de Currais Novos.

Com a transferência do gado da Fazenda Totoró para as proximidades do Rio São Bento, foi construído uma casa para o capitão-mor e três novos currais para venda e troca de gado, o que originou o nome Currais Novos.

Além desse fator histórico, o Povoado Totoró é rico em belezas naturais, como a fauna, flora e suas formações rochosas bem pertinentes, que é o caso da Pedra do Caju, Pedra do Navio e o pico do Totoró e todos esses se encontram circunscritos no Açude Totoró, um lugar de encontro e lazer tantos para os visitantes como moradores da localidade, além de suas águas servirem para o consumo e agricultura de subsistência.

Ainda próximo ao Totoró existe uma comunidade chamada Lagoa do Santo, seu nome teve origem quando foi achada uma imagem de madeira de São Sebastião na ocasião de uma escavação para perfurar uma “cacimba”. Esse local também é conhecido como sítio arqueológico, pois foram encontrados vários fosseis de animais pré-históricos como tartaruga gigante, tigre dentes-de-sabre, tatu gigante, entre outros (Souza, 2008).

Nas proximidades da Lagoa do Santo encontra-se a Pedra da Lagoa onde é possível encontrar pinturas rupestres e uma espécie de caverna que poderia ser um tipo de moradia para o homem pré-histórico que habitou a localidade, lá inda é possível encontrar a Pedra do Sino, que recebe este nome por ter um som semelhante ao sino de bronze. De acordo com (Vidal, 2002), na localidade existe ainda a Pedra do Letreiro, lugar que detém o maior número de inscrições rupestres visíveis, essas estão datadas de 9.400 anos antes do presente as quais são de cultura agreste.

Além desses aspectos históricos a comunidade ainda conta com suas lendas, histórias que são passadas de geração em geração com intuito de continuarem no imaginário da população e como uma forma de cultura e identidade de um povo.

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espécie de turismo ainda pouco explorado e de forma inadequada em virtude da falta de planejamento turístico para o local.

Petrocchi (2009, p. 72), destaca que como sendo a finalidade do planejamento as decisões básicas que articulam as políticas turísticas de um estado, região ou organização, ou seja, estabelecer as diretrizes que orientarão as decisões para o desenvolvimento do turismo.

Dessa forma a comunidade ainda não se encontra inserida dentro dos parâmetros exposto pelo autor, visto que, a comunidade em questão não conta com diretrizes que irão orientar nas decições para o desenvolvimento do turismo na região e ainda sim não oferece infra estrutura básica suficiente para atender a demanda turística para receber de forma confortável o visitante.

Infraestrutura turística

Sinalização e Acessibilidade

Ao visitar a região é possível identificar que a mesma apresenta dificuldades tanto na sinalização como na acessibilidade, dificultando o acesso a localidade. É visível a ausência de placas que indiquem os atrativos assim como, a falta de manutenção nas estradas que levam até a região, haja vista que, são necessárias o mínimo de estrutura para o turista que visita a localidade, como forma de promover satisfação, bem estar e segurança ao mesmo.

A sinalização tem como finalidade direcionar e auxiliar as pessoas até o destino almejado, portanto é necessário que a mesma tenha boa visualização, legibilidade assim como também oferecer a segurança do local em visitação (Moraes, 2010).

Sendo assim é percebido que a região do Totoró encontra-se com uma deficiência no que se refere à sinalização, tendo em vista que a mesma não dispõe de placas indicativas da região dentro da cidade de Currais Novos, assim como também nas vias de acesso até a região. Ao chegar ao Totoró é perceptível que o mesmo não apresenta nenhuma sinalização o que dificulta o deslocamento de pessoas na área, é visível que em apenas dois locais existem placas de indicação de atrativos, porém ambas as placas estão apontando uma direção contraria aos mesmos, sem contar que as mesmas são feitas de forma amadoras. Em relação a acessibilidade Lima (1998, p. 11) afirma que um local com alta acessibilidade será mais atrativo do que um local com baixa acessibilidade e portanto será mais valorizado. Não se pode dizer que a acessibilidade seja o único determinante do valor de uma localidade, mas certamente é um dos mais importantes. Dessa forma, qualquer mudança na acessibilidade de um local poderá influenciar a valorização desse local.

(9)

Legislação

No que se refere legislação, a localidade estudada não apresenta nenhum tipo de lei que proteja os atrativos turísticos, arqueológicos, naturais e culturais da comunidade. Haja vista, que o local tem potencial turístico e é explorado de forma inadequada, o que acarreta a depredação do patrimônio histórico-cultural da região, uma vez que, os mesmos não são tombados pelos órgãos competentes.

A respeito de patrimônio Assunção (2003, p.93) diz que devem ser preservados para que as gerações contemplem o patrimônio legado pelos seus ancestrais. Os bens tombados não podem ser destruídos modificados ou descaracterizados, sem a aprovação prévia do órgão federal, estadual ou municipal responsável.

Portanto, para que a região mantenha-se com a caracterização do lugar preservada para as gerações futuras, seria necessária a criação de leis de proteção ao patrimônio natural, arqueológico, histórico e cultural da localidade, dessa forma a região terá uma proteção maior em relação aos seus bens. Com o tombamento dos patrimônios do Totoró os mesmo não podem sofrer alterações sem que haja a fiscalização dos órgãos responsáveis, tendo em vista que a proteção dos mesmos contribuirá para que futuras gerações possa desfrutar desses bens.

Hospedagem, alimentação e entretenimento

No que se refere à hospedagem é possível observar que a região não dispõe dessa estrutura, fazendo com que o turista não passe mais que um dia na localidade, dificultando assim, o desenvolvimento da atividade, haja vista que, o mesmo necessita de conforto e segurança para permanência em um determinado local, sendo assim Aldrigui (2007, p. 13)

afirma que “Os equipamentos de hospedagem são [...] componentes fundamentais da atividade turística, pois, sem um local para hospedagem o turista não pode ficar na localidade [...]”. Portanto, a região do Totoró no que se refere a hospedagem deixa a desejar, visto que, a mesma não dispõe de meios de hospedagens que possibilitem ao turista a estadia do mesmo durante um tempo maior.

Com relação à alimentação os moradores locais necessitam se deslocar até a cidade para a compra dos gêneros alimentícios, tendo em vista que o local não dispõe de supermercados que atenda a demanda, o que existe são pequenas mercearias as quais disponibilizam apenas a venda de produtos básicos. Dessa forma Barreto (2003, p.39) diz

que “A rede gastronômica (conjunto de restaurantes, lanchonetes e similares com oferta

alimentar) pode ser um equipamento turístico [...]”. Nesse sentido a localidade não apresenta nenhum estabelecimento adequado para alimentar os turistas que visitam a região.

(10)

Dessa forma Trigo (2003, p.11) relata que o entretenimento se constituiu em parte importante da sociedade contemporânea, perpassando tribos, classes sociais, gerações, faixas etárias, às vezes congregando todas, às vezes trazendo à tona marcas de suas culturas, mas sempre presente no cotidiano das pessoas.

Verificou-se que a região é limitada em relação ao entretenimento, visto que não existem na localidade atividades neste segmento que possibilite aos visitantes a praticarem, o que existe além dos banhos de açudes são festas realizadas na comunidade nos períodos do mês de maio e dezembro, não havendo outro tipo de atividade que seja classificada como lazer, visto que o lazer é uma atividade que as pessoas realizam em seu cotidiano.

Outros Serviços de Apoio ao Turismo

Com relação aos serviços de apoio ao turista é perceptível que a comunidade ainda é carente em relação a estes, haja vista que a localidade não dispõe de serviço de correios, o Posto de Saúde só funciona uma vez por semana e não faz atendimentos de primeiros socorros. A região conta apenas com um telefone público e dois prédios onde funciona a

Creche “Girassol” e a Escola Municipal Cipriano Lopes Galvão com ensino do 1º ao 9º

ano.

O comércio da região é composto por pequenas mercearias, onde é feita a comercialização básica de alimentos e bebidas, o que deixa um pouco a desejar os visitantes que buscam conhecer o local.

De acordo com Beni (2007, p. 150) o padrão desejável é que todo núcleo receptor de Turismo reúna um conjunto de equipamentos e serviços de infra-estrutura capaz de dar sustentação a todas as iniciativas do setor com percentual nunca inferior a 60%.

Com base nisso é necessário que as pessoas que tem interesse em desenvolver o turismo local busquem melhorias para mesma como forma de promover sustentavelmente o turismo na região e consequentemente atrair os visitantes e promover o destino para além do município.

Considerações finais

(11)

Acredita-se que para que ocorra o desenvolvimento do turismo sustentável na região é necessário que os gestores trabalhem com base no sistema de turismo o Sistur, onde este direciona como a localidade deve trabalhar para que aconteça a atividade turística, diminuindo os entraves e os impactos causados pelo turismo. Impactos estes que vão atingir diretamente a comunidade receptora do turismo, ocasionando problemas ambientais, econômicos, culturais e sociais.

Todavia, com o trabalho assistido por profissionais qualificados, os impactos podem ser reduzidos, mais para que isso ocorra é necessário que os gestores públicos procurem empenhar-se no desenvolvimento da localidade, oferecendo subsídios para que a região se desenvolva de maneira sustentável.

Tendo conhecimento de que o turismo na região do Povoado Totoró está sendo explorado ainda de maneira tímida, o mesmo apresenta algumas peculiaridades que despertam interesse nos visitantes, mesmo sabendo que a localidade não dispõe de infraestrutura adequada. Acredita-se que os mesmos são motivados pela busca de informações, pela interação com o meio ambiente, a cultura, e outros fatores que a região possui. Constata-se que, para desenvolver a atividade turística na região do Totoró é essencial que se tenha um planejamento para a localidade.

Após a análise dos pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades que a região possui, verificou-se que a mesma tende a crescer no desenvolvimento da atividade turística, porém, é necessário trabalhar com planejamento voltado para a sustentabilidade da região, uma vez que, a mesma apresenta recursos naturais, histórico-culturais e sociais que podem sofrer alterações com a prática de atividades turísticas de forma inadequada.

Embora os diversos problemas identificados na análise realizada no destino do Povoado Totoró, o mesmo recebe visitações durante todo ano, de pessoas interessadas em conhecer melhor a região, sendo utilizadas as práticas de turismo pedagógico e de aventura, mas observa-se que a região apesar de todo potencial existente não consegue atender de forma apropriada os seus visitantes, visto que, a localidade não dispõem de infraestrutura básica que dê suporte aos turistas.

Nesse sentido, o que se observa é que a região do Totoró possui um potencial

riquíssimo, visto que a mesma representa o “berço da cidade”, de onde surgiu Currais

Novos - RN, além de apresentar uma vasta heterogeneidade cultural, natural e arqueológica.

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Referências

ALDRIGUI, Mariana. Meios de hospedagem. São Paulo: Aleph, 2007.

ALVES, Celestino. Retoques da História de Currais Novos. Natal: Fundação José Augusto, 1985.

ASSUNÇÃO, Paulo de. Patrimônio. Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 2003.

BARRETO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo.13°ed.rev.e atual. Campinas: SP-Papirus, 2003.

BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. São Paulo. Editora Senac São Paulo,2007.

BRAGA, Debora Cordeiro. Planejamento turístico: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

LIMA, Renato da Silva. Expansão urbana e acessibilidade- o caso das cidades médias

brasileiras. São Carlos. 1998. Disponível

em:<rslima.unifei,edu.br/download1/lima1998.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2011

MORAIS, Ione Rodrigues Diniz; DANTAS, Eugênia Maria. Desenvolvimento Sustentável e Planejamento Regional. In: PAULO, Angélica de Araújo. et al. Pelas trilhas do Totoró: Resgatando a história de Currais Novos-RN através do Turismo Pedagógico. Currais Novos, 2011.

PETROCCHI, Mario. Turismo: Planejamento e gestão. 2°ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

SOUZA, Joabel Rodrigues de. Totoró, berço de Currais Novos – Natal: EDUFRN, 2008. TRIGO, Luiz Gonsaga Godoi. Entretenimento: uma crítica aberta. Coordenação Benjamin Abdala Junior, Esabel Maria M. Alexandre. –São Paulo: Editora Senac. São Paulo, 2003. VIDAL, Irma Asón. Arqueologia em Currais Novos. Carnaúba dos Dantas, RN: Fundação Seridó, 2002.

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A LEI 10.639/03, O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA, DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA E A CONTRIBUIÇÃO DO LIVRO

INFANTIL “VOVÓ NANÃ VAI À ESCOLA”.

Antonio Carlos Lopes Petean

Licenciado em História pela UFOP Doutor em Sociologia pela UNESP/Araraquara acpetean@yahoo.com.br

Resumo: O presente artigo pretende realizar uma reflexão sobre a literatura infantil como suporte para a aplicação da lei 10.639/03 que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História da África e das Culturas Afro-Brasileira e Africana no sistema educacional brasileiro. Para este objetivo analisaremos a obra Vovó Nanâ Vai à Escola de autoria do Prof. Drº Dagoberto José Fonseca, docente da UNESP/ Araraquara.

Palavras-chave: História da África; Cultura Afro-Brasileira; Literatura Infantil.

Summary: This article intends to hold a discussion about children's literature as support for law enforcement 10.639/03 establishing the requirement for teaching history of África and the Afro-Brazilian and African cultures in Brazil’s educational system. For this purpose

we will analyze the book “Nanã Grandma Goes to School” by Prof. Dr º Dagoberto José

Fonseca, professor of UNESP/Araraquara.

Key-words: History of Africa; Afro-Brazilian Culture; Children's Literature

Falar sobre África não é tarefa fácil. Falar sobre África, cultura afro-brasileira e manifestações religiosas de matriz africana no universo escolar é, no mínimo, um grande desafio. Um desafio que nossa sociedade deve enfrentar para combater o preconceito que cerca a religiosidade de matriz africana e o imenso legado cultural africano. Durante a vigência da escravidão as práticas religiosas africanas foram cerceadas pelo catolicismo o que dificultou suas práticas, a difusão do seu imaginário e até sua produção artística, segundo Conduru (2007). O resgate desta cultura, sua valorização e respeito faz parte dos objetivos democráticos da sociedade brasileira e, o sistema educacional deve contribuir para este resgate e valorização cultural.

O ensino de História da África e da cultura Afro-Brasileira e Africana esta presente nos parâmetros curriculares nacionais a partir da lei 10.639/03. Embora esta temática seja obrigatória em todos os níveis de ensino são poucos os trabalhos publicados para as séries iniciais que abordam de forma lúdica a cultura afro-brasileira. Abordar as religiões de matriz africana, a Capoeira, o Samba, o tambor de crioula e outras manifestações culturais de raízes africanas de uma forma lúdica e livre de preconceitos, não é tarefa fácil, principalmente em virtude da formação educacional de que somos herdeiros.

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resgatar e valorizar o patrimônio cultural afro-brasileiro.

Portanto, a coleção mãe África aborda a delicada temática cultural de matriz africana e favorece a reflexão e a formação da cidadania. Cidadania que ainda é uma utopia para boa parcela da população brasileira, principalmente para os afrodescendentes. Essa coleção traz para o público brasileiro temas importantes relacionados a tradição cultural afro-brasileira e está comprometida com a Lei 10.639/03 que trata da cultura africana e afro-brasileira em todos os níveis de ensino.

Vovó Nanã é uma obra que permite aos professores dos anos iniciais trabalharem a temática do racismo e a diversidade cultural e religiosa.

No início do livro nos defrontamos com a gravura de um baobá ou embondeiro. O baobá é uma árvore típica da África e esta cercada de mitos. Mas ela é vital para a sobrevivência de determinados povos africanos, principalmente, por ser um reservatório natural da água e, também, servir de moradia e abrigo para caçadores distantes de casa. Suas folhas e frutos servem de remédios para a tradicional medicina africana. Nas palavras de Fonseca (2009), o baobá é um símbolo da africanidade.

Esta obra é um conto infantil direcionado aos primeiros anos do ensino fundamental e tem como personagens principais as primas Aisha e Yetundê. Nomes de origens Suahili e Mouro respectivamente e que nos remetem a grupos étnicos de origem africana.

A língua suahili espalhou-se por toda a Ásia, a partir do mundo Árabe. Mas não predominou nas terras islamizadas. A islamização sempre esteve de mãos dadas com a arabinização dos povos conquistados, pois a leitura do Alcorão era efetuada em Árabe. Atualmente o islamismo é a maior religião presente no continente africano e permanece em expansão. Grupos étnicos escravizados que foram enviados para o Brasil. Destaque para os Malê que realizaram um grande levante na Bahia no século XIX. Os Malê introduziram o abádá, o Axé e vários termos que hoje fazem parte do nosso vocabulário.

Vale destacar que vários foram os grupos étnicos escravizados nos séculos XV e XVI para atender a demanda de mão-de-obra das lavouras de açúcar dos impérios coloniais de Portugal, Inglaterra, França e Holanda. Podemos perceber que esta obra infantil abre espaço para o educador discutir com seus alunos a colonização europeia, a escravidão e o imperialismo europeu.

Está História infantil se passa dentro da escola municipal de ensino fundamental Jornalista Hamilton Cardoso localizada na periferia da cidade de São Paulo.

É significativo que a História esteja ambientada no universo escolar, afinal ele deve ser o local formativo da cidadania. E a discussão sobre cidadania, no Brasil, deve passar pela temática cultural de matriz africana e por uma reflexão sobre o preconceito cultural e racial que vitimou a cultura Afro-Brasileira.

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Sempre as vejo chegando juntas a escola. Foi isso que me chamou a atenção, além do nome diferente de vocês, Aisha Vida Moura e Yetundê Lunda Moura dos Santos. (Fonseca, 2009, p.12)

O comentário das alunas em relação à observação da professora permite uma reflexão sobre a diversidade cultural presente na sociedade brasileira. E responde Yetundê a observação da professora: Nossos nomes são africanos, professora. São lindos, não é? Adoramos ser negras e saber que nossos nomes são africanos. Foi nossa avó que escolheu. (Fonseca, 2009, p.12)

Este trecho permite aos educadores refletirem, junto aos alunos, a questão da diversidade cultural que entra na formação da História do Brasil, assim como permite trabalhar a estima da população afro-descendente brasileira.

Como foi dito o nome Aisha é de origem Suahili, grupo étnico árabe que está ligado a tradição maometana, enquanto o sobrenome das meninas, Moura, está ligado aos mouros.

Os nomes e sobrenome das meninas permitem aos professores abordarem na sala de aula a expansão do islamismo pelo norte do continente africano e a contribuição dos mouros na construção da cultura ibérica.

Os mouros dominaram por quase 800 anos a península Ibéria e marcaram profundamente a região, tanto no aspecto lingüístico quanto na dança e no canto. O Fado português e o Flamenco são de origem mourisca. Assim como a arte da azulejaria e a guitarra portuguesa.

A História desta obra dá destaque a semana cultural que ocorrerá na escola e o tema da sala de Aisha e Yetundê é o continente africano. As duas meninas iniciam sua pesquisa sobre a África a partir da avó. Evidenciando a importância da oralidade para os afro-descendentes.

A oralidade é um conceito ligado as práticas culturais de vários povos africanos e tem sua origem na palavra fala (oral). Nas sociedades da oralidade, a fala, é um meio de comunicação presente no cotidiano e nos remete a ancestralidade.

Diz Aisha que sua avó nascera na Nigéria, e seu avô em Moçambique e se chamava Samora (Fonseca, 2009). Nestas palavras da menina, o autor nos permite estabelecer uma relação entre o nome Moçambique e Samora.

Os nomes não aparecem de forma aleatória, mas permitem ao professor traçar um paralelo entre as regiões colonizadas por Portugal. Pois grupos étnicos escravizados foram trazidos de Moçambique para o Brasil. Estes nomes permitem, também, trabalhar a luta dos povos africanos pela sua independência, afinal o nome Samora é o mesmo do líder africano Samora Machel, símbolo da luta pela independência de Moçambique.

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A pesquisa desenvolvida pelas primas Aisha e Yetundê permite as meninas entrarem em contato com seus antepassados e suas respectivas histórias. A referência das primas para iniciarem a pesquisa sobre a África é a avó Nanã. Num dos diálogos entre as meninas e a avó, a História do continente africano é abordada pelo olhar do conquistador e, também, pelo olhar do afro-descendente, pois a avó fala dos antepassados escravizados e submetidos as mais cruéis formas de tratamento.

Este é um dos exemplos que o autor apresenta aos leitores de sua obra, e que pode servir de base para os professores trabalharem a escravidão com seus alunos.

Mas a obra não fica centrada na escravidão e no tratamento que os grupos étnicos africanos sofreram, ela aborda também a contribuição cultural de matriz africana e a ciência desenvolvida no continente africano. Um conhecimento desprezado pela cultura científica ocidental de tradição cartesiana e empirista.

Portanto, no decorrer da obra, Fonseca (2009) nos apresenta os grupos étnicos situados abaixo do Saara: os Akan, responsável pela criação de um importante e interessante código escrito e os Banyoro que segundo o autor, já possuía um significativo conhecimento na área de medicina. Sendo assim, segundo Fonseca (2009), na região central do continente, onde se situa hoje Uganda, os Banyoro já faziam a cirurgia de cesariana antes de 1879.

Os leitores terão contato, também, com um mapa político da África e com outro, demarcando os países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), para que os professores possam identificar junto aos seus alunos os países que fazem parte do projeto de unificação da língua portuguesa.

Além destes temas levantados por Fonseca (2009) a obra nos apresenta uma nova periodização sobre o continente africano, da antiguidade ao período contemporâneo. Uma periodização que não nos remete ao eurocentrismo.

No final da obra Fonseca (2009) nos apresenta um breve glossário no qual estão presentes palavras que identificam grupos étnicos africanos, tais como: Akan (grupo étnico da África Ocidental), Banyoro (grupo étnico de Uganda), Chaka (Rei do grupo étnico Zulu, natural do sul da África), Hamadi (associado ao indivíduo masculino que louva a Deus no Islâ) e Mali (país africano que possuía a primeira universidade do Saara).

O livro termina com a identificação dos diversos grupos étnicos que fizeram parte da História do Brasil, mas estes grupos são representados na obra por gravuras de mulheres escravizadas dos seguintes povos: Cabinda, Benguele, Calava, Mina, Monjola, Cassange e Angola.

Para concluir esta breve análise cabe um comentário sobre o título da obra “Vovó Nanã Vai à Escola”. Nanã é considerada a mais velha dos orixás, a guardiã da sabedoria mais antiga e oculta. Na tradição africana existem indivíduos que são os guardiões do saber ancestral.

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a cultura cristã portuguesa e com a cultura indígena geraram a religiosidade de matriz africana. Geraram o Candomblé, a Umbanda, o Tambor de Mina, o Batuque de Umbigada e o Tambor de Crioula. Manifestações culturas consideradas marginais pelo código penal brasileiro que enquadrava estas manifestações na categoria de vadiagem.

Portanto, o nome da obra remete-nos, a temática da religiosidade de matriz africana. Tema que, embora deva estar presente nos currículos escolares, ainda é um tabu nas instituições de ensino devido ao enorme preconceito alimentado pela religiosidade dominante em nossa História. Preconceito que os bancos escolares sempre reproduziram.

Desde 2003, a lei de Diretrizes e Bases estabelece que as escolas brasileiras ter por dever abordar a cultura africana e afro-brasileira, com o objetivo de debater o preconceito, o racismo e a visibilidade deste universo cultural que muito contribuiu para a formação da identidade nacional.

Sendo assim, esta obra literária vai de encontro a esta temática e a lei de Diretrizes e Bases da educação nacional. Afinal, o racismo e a discriminação são sempre negados por boa parcela da população brasileira, mas isto não quer dizer que eles não existam.

Abordar esta temática nos anos iniciais contribuirá para uma sociedade mais democrática, pluralista e tolerante.

Referência bibliográfica

CONDURU, Roberto. Arte Afro-Brasileira. Belo Horizonte: editora Arte, 2009. FONSECA, Dagoberto José. Vovó Nanã Vai à Escola. São Paulo: FTD, 2009. HUGON, Philippe. Geopolítica da África. Rio de Janeiro: FGV editora, 2009.

JUNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. São Paulo: editora Brasiliense, 1979. ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e Identidade Nacional. São Paulo: editora Brasiliense, 2006.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Racismo no Brasil. São Paulo: Publifolha, 2001.

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PERCEPÇÕES DE LONGEVOS ACERCA DA EDUCAÇÃO AO LONGO DA VIDA: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DA INFORMÁTICA

Cátia Deniana Firmino Perfeito5, Cristiane de Oliveira Vieira Souza6 Francisca Oleniva Bezerra da Silva7,

Iolanda Maria César8 Lanzilina Netto Duque9,

Monica Monteiro10

Programa de Mestrado em Educação Universidade Católica de Brasília 2011.

Resumo: Esta pesquisa, de caráter qualitativo exploratório, focalizou a percepção de longevos acerca da educação ao longo da vida, na perspectiva da aprendizagem da informática. Teve como objetivos investigar os fatores motivacionais que levaram os idosos a buscar a aprendizagem da informática, as facilidades e dificuldades apontadas por eles na aprendizagem digital e as consequências do aprendizado dessa tecnologia na vida social, cognitiva e emocional desses indivíduos. O instrumento metodológico usado foi entrevista semiestruturada. Foram entrevistados quatro longevos que participam do programa

“Informática para melhor idade”, com idades variando entre 60 e 75 anos. Os dados foram organizados em torno das categorias: aprendizagem ao longo da vida, aspectos motivacionais e fatores sociais, cognitivos e emocionais. Os resultados demonstraram que os longevos buscam cursos de informática motivados pelo desejo de continuar aprendendo, para não serem excluídos, tanto da sociedade quanto da família; que apresentam mais dificuldades que facilidades em lidar com o computador, e que os conhecimentos adquiridos são importantes para continuarem se desenvolvendo e, para as atividades do dia a dia, isto é, para acompanharem as mudanças da sociedade.

Palavras-chave: longevos, aprendizagem, informática.

5 Mestranda do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Católica de Brasília. Professora do

Ensino Fundamental da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, e-mail: catiaperfeito@yahoo.com.br.

6 Aluna especial do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Católica de Brasília. Coordenadora

e Professora do Instituto Superior Fátima. Coordenadora Pedagógica do Colégio Objetivo, e-mail: cristiane.prof@hotmail.com.

7 Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Graduada - Licenciatura Plena em Letras, experiência na área de educação, nas disciplinas: Língua Inglesa; Língua Portuguesa (Gramática, Literaturas e Redação); Português para Estrangeiros, Experiência em pós-graduação, graduação, ensino médio e fundamental, cursos preparatórios, curso de idiomas. Mestranda em Educação pela Universidade Católica de Brasília, pesquisadora voluntária da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da mesma Universidade

8 Aluna especial do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Católica de Brasília. Professora do Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, Conselho de Educação do DF, e-mail: iolandc@uol.com.br.

9 Aluna especial do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Católica de Brasília. Professora do Colégio Militar de Brasília, e-mail: lanzilina@yahoo.com.br.

10 Mestranda do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Católica de Brasília. Consultora do

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Abstract: This research is of exploratory qualitative character, it focused the elderly’s

perception concerning the education along the life, in the perspective of the learning of the computer science. It had as objectives to investigate the factors motivational that lead the elders to look for the learning of the computer science, the eases and difficulties pointed for them in the digital learning and the consequences of the learning of that technology in the social life, cognitive and emotional of those individuals. The used methodological instrument was the interview semi-structured. It was interviewed four elderly that participate in the program "Computer science for better age", they are in the age group that varies from 60 to 75 years of age. The data were organized around the categories: learning along the life, motivational aspect and social factors, cognitive and emotional. The results demonstrated that the elderly look for computer science courses motivated by the desire of continuing learning by not be not excluded, as much of the society as of the family; the elderly present more difficulties than eases to lead by the computer, and that the acquired knowledge are more important for them to continue growing and developing activities of the day by day; in other words, the acquired knowledge are important so that they can accompany the changes of the society.

Keywords: elderly, learning, computer science.

Introdução

O advento da globalização demandou da população em geral o desenvolvimento de estratégias de sobrevivência, não apenas no mercado de trabalho, mas também no contexto social. Apesar de trazer grandes desafios e exigências, a globalização resultou em muitas contribuições, como, por exemplo, o aumento da expectativa de vida, devido às descobertas da biogenética e de outras ciências que estudam o complexo funcionamento do corpo humano.

Frente aos dados apresentados na PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (2008), a população idosa somava cerca de 21 milhões no Brasil, aumentando de 8,8% (1998) para 11,1% (2008). Diante da Síntese dos Indicadores Sociais (2009, p. 168), reconhece-se que “o envelhecimento da população brasileira se constitui numa evidência demográfica, e que este novo paradigma está em curso merecendo estudos e

políticas públicas específicas adequadas ao novo perfil etário”.

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Apesar do esforço e desejo das pessoas idosas pela sua inclusão ou reinserção social, Bez, Pasqualotti e Passerino (2006) comentam que este público ainda possui certa resistência à inovação, bem como, sentem-se menosprezados pelas pessoas mais jovens por não possuírem conhecimento, habilidade e cuidado no uso de computadores. Sobre este assunto, comentam que o idoso não quer dominar tecnicamente as máquinas e tecnologias, mas sim fazer parte do processo evolutivo da sociedade.

Observando que apesar de haver uma resistência, mais entendida como medo do novo e da expectativa quanto ao seu próprio desempenho, as pessoas idosas desejam sua inclusão social. Kachar (2003) explica que, na sociedade contemporânea, a socialização compreende as relações produzidas pela rede de interconexões de pessoas entre si, mediadas pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC). Logo, todas as iniciativas que tenham este objetivo são válidas e passíveis de sucesso, visto que, a ação não envolve apenas a inclusão de pessoas, mas acima de tudo o combate ao preconceito.

O que é ser idoso

O conceito de envelhecimento passou por várias modificações ao longo dos anos. A velhice, anteriormente, era vista como a etapa final da vida do indivíduo, caracterizada apenas como um período de declínios físicos, mentais, fisiológicos, etc. Atualmente, há diferentes visões sobre o processo de envelhecer, destacando a preocupação de estender a velhice com mais qualidade e tranquilidade (GOULART, 2007).

Uma das formas de entender o envelhecimento é como um processo evolutivo, contínuo, que acontece do nascimento até a morte do indivíduo. Trata-se de um processo natural, inerente a existência de todo ser humano (STANO, 2005). De maneira geral, o envelhecimento está relacionado à passagem do tempo na vida das pessoas. No entanto, cada indivíduo envelhece de forma única, pessoal (GOULART, 2007). A esse respeito Neri e Cachioni (1999) mencionam:

O modo de envelhecer depende de como o curso de vida de cada pessoa, grupo etário e geração é estruturado pela influência constante e interativa de suas circunstâncias histórico-culturais, da incidência de diferentes patologias durante o processo de desenvolvimento e envelhecimento, de fatores genéticos e do ambiente ecológico. (p. 121)

Entende-se, dessa forma, que não é o avanço da idade que marca as etapas mais significativas da vida, pois a velhice é, antes de tudo, um processo contínuo de reconstrução, apresentando-se na sua heterogeneidade, decorrente da diversidade de situações e contextos que permeiam a vida do sujeito (STANO, 2005; GOULART, 2007).

Apesar de ser um fator socialmente determinado, que varia entre gerações e culturas, o fator idade tem sido um condicionante para caracterizar essa fase da vida, assim

como desempenho em atividades econômicas. No entendimento de Saad (1990, p. 4), “a

pessoa é considerada idosa perante a sociedade a partir do momento em que encerra as

suas atividades econômicas” e acrescenta também,que “o indivíduo passa a ser visto como

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Abordar o tema envelhecimento supõe compreender os significados construídos pela sociedade sobre o processo de envelhecimento, pois são os valores intrínsecos à representação que uma sociedade constrói da velhice que nortearão as ações, que possibilitarão ou não o amparo e a inclusão social dos idosos, como também a qualidade das relações estabelecidas com os longevos (DEBERT, 1999). Nesse sentido, a condição do idoso depende, costumeiramente, em alto grau, de seu meio social e natural, não existindo um nível absoluto de envelhecimento que seja independente desses meios (VARGAS, 1983).

O idoso na sociedade

Segundo Touraine (1995 apud STANO, 2005, p. 21), o sujeito da modernidade e sua crise é um sujeito-ator que altera o meio ambiente material e social em que está colocado e transforma, assim, a divisão do trabalho, as formas de decisão, as relações de denominação ou as orientações culturais. Isto é, o sujeito que deve ser recuperado pela modernidade é um sujeito-ação (ou um sujeito-autor) que gera esforços para alterar e construir novos movimentos e ambientes sociais, mas que não perde de vista seus desejos, satisfações e suas próprias necessidades. O sujeito da modernidade é, portanto, um ser que adere a uma tradição comunitária e constrói suas experiências pessoais.

Nesse sentido, Castoriadis (1999 apud STANO, 2005, p. 22) destaca que compreender o envelhecimento supõe entender os significados construídos por uma determinada sociedade acerca do processo de envelhecimento, pois cada sociedade tem suas próprias significações sociais que as sustentam, criando mundos singulares e específicos, os quais precisam ser interpretados. Assim, se cada sociedade é um mundo próprio, cada humano, integrante de um mundo com seus sistemas de significações sociais, também vai se fazendo e se constituindo inserido na organização desse mundo.

Socialmente, a construção da velhice está carregada de ambiguidade, pois ao mesmo tempo em que se despreza o processo de envelhecimento por meio de diferentes mecanismos como asilamentos, preconceitos e infantilização; se a reverencia nos discursos e noticiários da mídia (STANO, 2005).

Tratar as questões sociais assumi-las no sentido de esgueirar-se por suas entranhas, estudá-las como possibilidades de trabalho são aspectos fundamentais. Desvelar como os longevos conservam a identidade social-profissional construída ao longo de uma vida e como se veem renovados das relações afetivas do mundo que habitam pode constituir um instrumento útil para aqueles que se preocupam com a qualidade de vida de grupos oprimidos pela estrutura social que os sustenta (STANO, 2005).

Aprendizagem ao longo da vida

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colocam desafios potenciais aos cidadãos, os quais podem se beneficiar de um conjunto de oportunidades de comunicação e de emprego. Todavia, a aquisição de conhecimento é fundamental para usufruir dessas oportunidades e participar ativamente da sociedade (SITOE, 2006).

Nesse sentido, a aprendizagem ao longo da vida ganhou significado e tornou-se objeto de discussões. Foi proposta no sentido de atender uma variedade de objetivos e abarcar uma gama de causas. As suas razões vão desde a correção da política educativa e social a inspirações inovadoras. Os seus modelos estruturais compreendem desde uma rede de programas liberais de educação de adultos a sistemas de formação profissional ligados ao mundo do trabalho; isto é, abarcam toda a educação e formação. Desse modo, a educação ao longo da vida atende tanto jovens quanto idosos (KALLEN, 1996).

A proposta de uma educação ao longo da vida não é uma ideia nova (KALLEN, 1996; SITOE, 2006; ELIASSON, 2006). O grande impulso para política e atividades de organização de propostas de uma educação que percorresse a vida do sujeito teve início

com o relatório “Aprender a ser”, da Comissão Internacional para o Desenvolvimento da Educação, presidida por Edgar Faure (FAURE, 1972). No relatório Faure, vê-se a indicação da necessidade do conhecimento espiritual e vivencial que confere significação à vida e à construção da felicidade do sujeito; isto é, o Aprender a Ser (CARNEIRO, 2001).

Posteriormente, a Comissão Internacional de Educação para o Século XXI da UNESCO, sob a presidência de Jacques Delors, definiu os quatro pilares da educação, os quais deveriam ser a meta para o desenvolvimento educacional em todos os países: Aprender a Ser, Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer e Aprender a Conviver (DELORS, 2001). Percebe-se que são metas que vão além do conhecimento intelectual, pois compreendem toda a formação humana e social do indivíduo.

Delors (2001) indica que a educação ao longo da vida é uma construção contínua do ser humano, de suas aptidões e de seus saberes, de sua capacidade de discernir e de agir. Deve levar o indivíduo a tomar consciência de si mesmo e do meio que o envolve e, a desempenhar o papel social que lhe cabe na comunidade em que está inserido e no mundo do trabalho. A amplitude dessa definição leva a crer que a aprendizagem ao longo da vida envolve tanto a aprendizagem formal quanto a informal, incluindo todas as fases da vida, desde a infância à terceira idade.

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É na singularidade de cada longevo, decorrente da diversidade de situações, de contextos históricos e socioeconômicos nos quais o sujeito se construiu como ser em vida, que se observa o desejo de superação, de ir além. A velhice é uma etapa da vida que resguarda o desejo de realizar sonhos, alcançar objetivos e realizar projetos que ficaram para trás ao longo do percurso, sendo que um deles é o de continuar aprendendo.

Aspectos motivacionais

Falar sobre motivação é algo complexo e, sempre remete a certos desafios e, um deles, é quanto à definição, quanto ao conceito da palavra. De acordo com entendimento de uso corrente, motivação é simplesmente aquilo que motiva pessoas para uma ação, ou ainda, motivação é um conjunto de processos que dão ao comportamento uma intensidade, uma direção determinada e uma forma de desenvolvimento própria da atividade individual. Segundo Alencar e Fleith (2003, p. 24), os fatores motivacionais referem-se “a um impulso para a realização, que está intrinsecamente ligado a um desejo de descoberta e de dar ordem ao caos, sendo a mola mestra que leva o indivíduo a se dedicar e a se envolver

profundamente no trabalho com prazer e satisfação”.

De acordo com Deci, Vallerand, Pelletier e Ryan (1991), a motivação pode ser dividida em formas extrínsecas e formas intrínsecas. As formas extrínsecas estão ligadas às compensações externas, como por exemplo, conseguir um prêmio ou receber apoio e incentivo por parte de familiares, para dedicar-se a uma área específica, tendo em vista um desempenho de excelência (GALVÃO, 2003). Os fatores intrínsecos são internos à pessoa. Os comportamentos intrinsecamente motivados ocorrem por vontade e interesse da pessoa (DECI; VALLERAND; PELLETIER; RYAN, 1991); como por exemplo, o movimento que leva uma pessoa, um longevo, a continuar estudando; sendo que, no caso desta pesquisa, aprender informática.

Quanto à motivação gerada por fatores extrínsecos, embora esse tema ainda permaneça como objeto de muitos estudos, algumas observações são relevantes, pois evidenciam que tais fatores não produzem mudanças permanentes, reduzem a motivação intrínseca e podem minar um processo criativo (AMABÍLE, 1996; ALENCAR; FLEITH, 2003). No entanto, as observações citadas não reduzem a importância dos fatores extrínsecos, como argumenta Assmann (1998):

Só a aprendizagem em aumento permite o crescimento e a expansão evolutiva. Isso coloca a exigência de combinações complexas entre motivação intrínseca individualizada e motivações extrínsecas, consensuais ou não. Os graus e variedades dessas combinações sempre influenciaram de maneira evolutiva ou regressiva as aprendizagens possíveis (p. 87).

(24)

A terceira idade e a aprendizagem digital

A tecnologia invadiu as casas, as empresas e as instituições. Os recursos da imprensa, rádio, TV, telefone, fax, vídeo, computador e Internet tornaram-se disseminadores de cultura, de valores e de padrões sociais de comportamento. Todos esses artefatos fazem com que a comunicação e a disseminação da informação sejam mediadas por diferentes equipamentos tecnológicos. As informações podem ser acessadas rápida e facilmente, o que está relativizando a questão do tempo e do espaço (KACHAR, 2003).

Na sociedade contemporânea, as interações sociais incorporam as relações produzidas pela rede de interconexões, mediadas pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação. A geração nascida neste universo de ícones, de imagens, de botões e de teclas transita com desenvoltura na operacionalização dos diferentes equipamentos tecnológicos, mas a outra, nascida em tempos de relativa estabilidade, convive de forma conflituosa com as rápidas e complexas mudanças, cuja progressão é geométrica (KACHAR, 2003). Nesse sentido, Pretto (1996) indica que o analfabeto do futuro será aquele que não souber fazer uma leitura das imagens geradas pelos meios eletrônicos de comunicação.

Os idosos têm revelado suas dificuldades em entender a nova linguagem e em lidar com os avanços tecnológicos até mesmo nas questões mais básicas como os eletrodomésticos, celulares, os caixas eletrônicos instalados nos bancos. Esse novo universo de relações, comunicações e trânsito de informações pode se tornar mais um elemento de exclusão para o idoso, tirando-lhe a oportunidade de participar do presente, marginalizando-o e exilando-o no tempo da geração anterior, relegando sua função social à memória, ao passado. Para inseri-lo na sociedade tecnologizada, há de se disponibilizar o acesso à linguagem da informática, dispondo dela para liberá-lo do fardo de ser visto como alguém que está descontextualizado do mundo atual (KACHAR, 2003).

Pesquisa realizada por Garcia (2001) investigou as necessidades de aprendizagem de pessoas entre 55 e 70 anos e mais, no sentido de contribuir com conhecimentos e reflexões que pudessem ajudar os idosos na aprendizagem da informática e, especialmente, no uso da internet. Seu estudo indicou que as pesquisas sobre idosos e computadores ainda são iniciais no Brasil; que, após o contato inicial, os idosos vão, gradativamente, rompendo os receios e os medos pelo computador; que eles apresentam muitas razões para aprender as novas tecnologias e que apresentam dificuldades específicas nesse aprendizado.

Apesar do receio evidenciado, para Garcia (2001), o advento da tecnologia oferece oportunidades ao longevo de se tornar um aprendiz virtual e, aos poucos, o computador torna-se um aliado, contribuindo para a estimulação mental, para o desenvolvimento da capacidade de memória e para estimulação da concentração. Sua pesquisa indicou, também, que idosos que tem contato com as novas tecnologias sentem-se integrados em uma comunidade mais ampla, que inclui família, amigos e outras pessoas; sentem-se motivados a aprender e pesquisar novos assuntos e, especialmente, sentem-se mais confiantes.

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focalizou-se os fatores motivacionais que levaram os longevos a buscar a aprendizagem da informática, as facilidades e dificuldades por eles apontadas na aprendizagem digital e as consequências do aprendizado da informática na vida social, cognitiva e emocional dos idosos.

Metodologia

Este trabalho caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório. Considerando que o problema básico da investigação foi fazer emergir as percepções de longevos acerca da educação ao longo da vida, a pesquisa de caráter exploratório proporciona o entendimento, para examinar com mais profundidade aspectos específicos, em busca de padrões ou idéias (COHEN; MANION, 1994).

A fim de atingir os objetivos específicos propostos neste projeto, foi utilizada, como instrumento de coleta de dados, a entrevista semiestruturada, a qual contou com seis questões vinculadas aos já mencionados objetivos específicos do estudo. Nas ciências sociais, a entrevista é uma estratégia de levantamento de dados amplamente empregada. A utilização da entrevista semiestruturada é o ponto de entrada para o pesquisador compreender e mapear as trajetórias da vida dos respondentes, o qual introduz esquemas interpretativos para compreender os discursos dos sujeitos em termos conceituais e abstratos. O objetivo da entrevista reside na compreensão detalhada de crenças, atitudes, valores e motivações, em relação a comportamentos dos indivíduos em contextos sociais específicos (GASKELL, 2002).

Com base nas seis questões previamente estabelecidas, foram entrevistados quatro longevos, sendo dois do sexo masculino e dois do sexo feminino, participantes do

programa “Informática para melhor idade”, com idades variando entre 60 e 75 anos. O

critério de escolha foi baseado na condição de voluntário para a pesquisa. As entrevistas ocorreram na sala de informática e foram filmadas.

Em seguida, os dados foram transcritos na íntegra e alocados a grandes categorias definidas a priori a partir dos objetivos específicos. Para análise dos dados, utilizou-se a estratégia da análise de discurso (BRANDÃO, 2002). Essa estratégia permitiu entender como o participante articulou suas experiências e vivências com a linguagem, uma vez que o seu discurso deve ser entendido como a construção de sentidos num dado momento da sua história e num contexto sócio-cultural específico.

Resultados e discussão

Aprendizagem ao longo da vida

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considerando a tendência de prolongamento da educação dos jovens (DELORS, 2001). A ideia da necessidade de continuar estudando circulou com bastante força no contexto dos discursos dos entrevistados. O trecho de fala a seguir serve como evidência desse pensamento:

Eu acho que é fundamental. É fundamental para você acompanhar a vida, a evolução da vida. E para você, também, se inserir na sociedade, né? Você não ficar à margem da sociedade, né? Você tem de continuar colaborando pra mudança da sociedade, pra sua própria mudança. O ser humano deve sempre evoluir, crescer, mudar, se transformar, né? (E., 68 anos, odontologista aposentado)

De acordo com Delors (2001), os conhecimentos adquiridos devem levar o indivíduo a tomar consciência de si e do meio que o envolve, assim como levá-lo a desempenhar o papel social que lhe cabe no mundo do trabalho e na comunidade. O entendimento do uso do conhecimento adquirido ao longo da vida em favor de seu meio social emergiu no contexto da pesquisa:

[...] Porque como eu disse: conhecimento, sempre é conhecimento. Embora a gente não aplique diretamente, na maioria das vezes, mas o mais certo é que a gente é solicitado para apresentarmos alguns desses conhecimentos, para solucionar problemas, às vezes da empresa, às vezes dos filhos, às vezes dos netos. Então, é muito necessário. (J., 75 anos, militar da reserva)

Percebe-se, no contexto dos discursos, que o entendimento de aprendizagem ao longo da vida ultrapassa a noção de reciclagem e atualização, uma vez que a proposta é compreendida como diversas possibilidades de educação e com vários objetivos, os quais vão desde o oferecimento de uma segunda oportunidade ao oferecimento de respostas à sede de conhecimento e à superação de si mesmo (DELORS, 2001).

Facilidades e dificuldades na aprendizagem digital

Para os longevos, o uso de novas tecnologias ainda é uma possibilidade considerada com certa relutância. De acordo com os entrevistados, as facilidades são poucas e a maior dificuldade é o medo. Medo que eles não sabem de onde vem. Segundo Garcia (2001), os jovens aprendem a lidar com as tecnologias porque são curiosos e o mundo ainda está para ser conhecido. O mesmo não ocorre com os idosos. Muitos sentem receio, têm medo e criam uma resistência em aprender a usar a informática. Esta insegurança mostrou-se forte na fala dos entrevistados, como no seguinte trecho:

[...] É o medo. É pura e simplesmente o medo, que a gente não sabe de onde vem. A gente acha que é antigo, tá vivendo do passado. E que o passado é bastante pra gente (J., 75 anos, Militar da reserva).

Diante desse quadro, todos os participantes relataram não encontrar facilidade alguma quanto ao uso do computador e, apenas um dos entrevistados pontuou, especificamente, que o mouse era sua maior dificuldade.

Imagem

Figura 1. Fonte: Livro didático de Língua Portuguesa. 8ª. serie. Projeto Araribá (2006, p.297)
Figura 3. Fonte: Livro didático de Língua Portuguesa8ª. serie . Projeto Araribá (2006, p

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