• Nenhum resultado encontrado

Implantação de uma indústria cooperativa de processamento de peixes em Mato Grosso: limites e possibilidades / Implementation of a cooperative fish processing industry in Mato Grosso: limits and possibilities

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Implantação de uma indústria cooperativa de processamento de peixes em Mato Grosso: limites e possibilidades / Implementation of a cooperative fish processing industry in Mato Grosso: limits and possibilities"

Copied!
24
0
0

Texto

(1)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761

Implantação de uma indústria cooperativa de processamento de peixes em

Mato Grosso: limites e possibilidades

Implementation of a cooperative fish processing industry in Mato Grosso:

limits and possibilities

DOI:10.34117/bjdv5n8-151

Recebimento dos originais: 14/08/2019 Aceitação para publicação: 02/09/2019

Janderson Salis de Almeida

Formação acadêmica mais alta: graduado - Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)

Instituição de atuação atual: Empresário

Endereço completo: Rodovia Juara/BransnorteKm 02 - Juara-MT CEP 78575-000 E-mail: salis33@hotmail.com

Ana Maria de Lima

Formação Acadêmica: Doutorado em Administração

Instituição de atuação atual: Universidade do Estado de Mato Grosso

Endereço completo: Rodovia Juara/BransnorteKm 02 - Juara-MT CEP 78575-000 Email: ana.lima@unemat.br

Vilma Eliane Machado de Oliveira

Formação Acadêmica: mestre em Administração pela Faculdades Alves Farias - ALFA Instituição de atuação: Universidade do Estado de Mato Grosso

Endereço completo: Rodovia Juara/BransnorteKm 02 - Juara-MT CEP 78575-000 e-mail: vilma.eliane@unemaat.br

Adelice Minetto Sznitowski

Formação Acadêmica: Doutora em Administração

Instituição de atuação atual: Universidade do Estado de Mato Grosso

Endereço: Rod. MT 358 kM 07 - Jd Aeroporto - Tangará da Serra-MT CEP 78.300.000 E-mail: adeliceadm@gmail.com

RESUMO

O mercado de piscicultura cresce no Brasil e nos últimos anos a atividade pesqueira tem gerado trabalho, renda e lazer em diversas regiões. No Vale do Arinos-MT há potencial territorial e hidrográfico para o desenvolvimento dessa atividade. Nesse cenário o objetivo foi identificar os limites e possibilidades na implantação e funcionamento de uma cooperativa de processamento de peixes. A pesquisa na forma de estudo de caso envolveu a Cooperativa Agropecuária Mista e Aquícola do Rio Arinos (COOPERARINOS) na cidade de Juara-MT. A coleta de dados qualitativos abrangeu agentes ligados à cooperativa e consumo. Constatou que o mercado e as condições hídricas são possibilidades favoráveis a piscicultura local e as limitações foram a dificuldade de organização coletiva, acesso a recursos financeiros e políticas públicas. Ainda observou-se que o frigorífico, embora contribuísse para o processamento do peixe, não resultou no aumento da venda pela falta do Sistema de Inspeção Federal (SIF).

(2)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Palavras-chave: Piscicultura. Cooperativa. Produção. Desenvolvimento.

ABSTRACT

The fish farming market has grown in Brazil and in the last years the fishing activity has generated work, income and leisure in several regions. In Vale do Arinos-MT there is territorial and hydrographic potential for the development of this activity. In this scenario the objective was to identify the limits and possibilities in the implantation and operation of a fish processing cooperative. The research in the form of a case study involved the Cooperativa Agropecuária Mista e Aquícola of Rio Arinos (COOPERARINOS) in the city of Juara-MT. The collection of qualitative data included agents linked to the cooperative and consumption. He observed that the market and water conditions are favorable possibilities for local fish farming and the limitations were the difficulty of collective organization, access to financial resources and public policies. It was also observed that the refrigerator, although it contributed to the processing of the fish, did not result in the increase in sales due to the lack of the Federal Inspection System (SIF).

Keywords: Pisciculture. Cooperativa. Production. Development. 1. INTRODUÇÃO

O mercado de piscicultura é vasto e com potencial de desenvolvimento. Entre os anos de 2005 a 2010 a produção nacional de pescados em cativeiro teve um aumento 86,3%, totalizando 479 mil toneladas. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil tem condições de produzir, de maneira sustentável, 20 milhões de toneladas por ano de pescado.

De acordo com Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2017), no Brasil mais de 3.000 espécies de peixes já foram catalogadas. Entre os alevinos nativos, muitos demonstraram ser vantajosos para na exploração da piscicultura, a saber, o Dourado, Piau, Pintado, Jaú, Pirarucu, Bijupirá, dentre outros.

A produção total brasileira no ano de 2015 foi de 483.241 toneladas, com alta de 1,88% em relação ao ano anterior. Quanto à exportação, o Brasil está em 22º lugar no mundo: com cerca de 40 mil toneladas por ano (SEBRAE, 2017).

O Brasil reúne condições favoráveis à piscicultura. Além do potencial de mercado, conta com clima favorável, disponibilidade de áreas, abundantes safras de grãos (soja, milho, trigo, entre outros que geram matéria prima para ração animal) e ainda bom potencial hídrico (BOZANO, 2002; KUBITZA et. al, 2012).

Mato Grosso se destaca na produção pecuária e agrícola (soja, bovinocultura de corte, milho e algodão) e a piscicultura surge como uma das alternativas para os produtores rurais

(3)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 aumentarem seu mix de produtos dentro em suas propriedades. Além disso, a piscicultura constitui alternativa para melhoria de vida de moradores rurais, ribeirinhos e povos indígenas. Dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (FAMATO, 2014) apontam que o Estado de Mato Grosso produziu em 2011, aproximadamente 49 mil toneladas de peixes em água doce, sendo o terceiro maior produtor nacional e o maior produtor na região Centro-Oeste. De acordo com o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato

Grosso (INDEA-MT), existiam 994 produtores de peixe até janeiro de 2014, distribuídos por

todo o Estado de Mato Grosso.

Quanto à localização, Juara pertence à Mesorregião Norte Mato-grossense, que tem o Município de Sinop como polo regional e a norte faz limites com os estados de Amazonas e Pará. Já a leste pelo Rio Xingu, ao sul pelo divisor de águas das bacias dos rios Amazonas e Paraguai e a oeste com a Bolívia e o Estado de Rondônia. (TRUGILLO, 2009).

As condições hidrográficas favoráveis podem tornar a piscicultura uma atividade promissora e com impactos positivos no âmbito social, econômico e ambiental. Nesse contexto, forma de trabalho que fortaleçam os processos produtivos, como o cooperativismo, é adequado. Para Furquim (2001, p. 23), o cooperativismo “é o instrumento mais perfeito de organização da sociedade, por ser um sistema de organização social e econômico, cujo objetivo não é o conjunto de pessoas, mas o indivíduo através do conjunto das pessoas” constitui uma forma organizativa alternativa para os piscicultores, uma vez que oferece benefícios àqueles que optam pelo trabalho cooperativo.

No trabalho de pequenos e médios produtores rurais, o cooperativismo passa ser um mecanismo estratégico para o desenvolvimento humano e produtivo. A constituição de cooperativas pode trazer soluções para muitos problemas locais, inclusive na busca por inserção dos produtos no mercado. Desse modo, contribuirá com o desenvolvimento local por meio da geração de renda e, em função disso, a melhoria da qualidade de vida da população. (BRASIL, 2016).

Em face do exposto, o estudo teve como objetivo central identificar os limites e possibilidades para a implantação e funcionamento de uma indústria cooperativa de processamento de peixes.

A pesquisa tem sua relevância por apresentar uma alternativa para a geração de trabalho e renda via produção e processamento de peixe, bem como proporcionar aos produtores locais esclarecimentos a respeito do cooperativismo como forma organizativa.

(4)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 O artigo está dividido em cinco seções, sendo a primeira destinada a introdução onde é destacado o contexto e o objetivo do estudo. A segunda traz o aporte teórico utilizado. A terceira expõe os procedimentos metodológicos. A quarta analisa os resultados e por fim, na quinta seção têm-se as considerações finais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O COOPERATIVISMO

A origem de organizações chamadas de cooperativas ocorreu em dezembro de 1844, quando "27 tecelões e uma tecelã do bairro de Rochdale, em Manchester, na Inglaterra, fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale" (IRION, 1997, p. 25),

Com objetivos claros, esses trabalhadores economizaram vinte e oito libras para criarem uma sociedade que atuaria no mercado, tendo o homem como principal finalidade na associação e não o lucro. Pertinente destacar que, ao iniciarem seu negócio, foram motivo de deboche por parte dos demais comerciantes. Contudo, logo no primeiro ano de funcionamento o capital da cooperativa aumentou para cento e oitenta libras e cerca de dez anos mais tarde o “Armazém de Rochdale” já contava com 1.400 cooperantes, prosperou economicamente, funcionando de forma democrática e exercendo sua função social (IRION, 1997).

A cooperação se faz presente na história do homem. Vem do primitivismo quando contribuía para que o homem alcançasse seus objetivos. No entanto, houve por algum tempo, certa incompreensão do termo cooperativismo. Tal incompreensão gerava falta de clareza ou coerência quando da comparação com outros modelos de sociedades. Neste sentido, (BULGARELLI, 1967, p. 30 apud FRANZ 2006) menciona que:

As dificuldades iniciais dessa conceituação decorrem, em grande parte, de terem sido as definições formuladas por economistas e com o sentido de realçar a supressão do intermediário e o aspecto não lucrativo da atividade cooperativa, elementos que por si só não eram capazes de conferir originalidade à cooperativa, deixando margem de confusão com outras sociedades. [...] Por outro lado, essas dificuldades eram agravadas pelo fato de as cooperativas, atuando nos mais variados setores da atividade humana, se dividirem e subdividirem em inúmeros tipos e categorias. (BULGARELLI, 1967, p. 30 apud FRANZ 2006).

(5)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 As organizações cooperativas atuam na busca e desenvolvimento de princípios organizacionais diferentes dos da iniciativa privada ou pública. Segundo Irion (1997, p. 51), o Congresso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), realizado em Viena, atualizou em 1996 os princípios cooperativistas, os quais sinteticamente são enunciados no quadro 1.

Quadro 1 - Princípios do cooperativismo PRINCÍPIOS DESCRIÇÃO

Adesão

voluntária e livre

As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem discriminação de sexo, idade, raça, preferências políticas e religiosas;

Gestão

Democrática e livre

As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. A Diretoria eleita agirá por delegação e com responsabilidade para com os associados. Os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto).

Participação econômica dos sócios

Os sócios contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Recebem, habitualmente, se houver uma remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão. O destino dos excedentes visa sempre o desenvolvimento da cooperativa, seja por meio da criação de reservas legais, em benefício dos sócios nas transações com a sociedade ou, de apoio a outras atividades, sendo necessária a aprovação via assembleia;

Autonomia e independência

As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, sob controle de seus membros. As relações das cooperativas com outras organizações sejam públicas ou privadas, devem ser exercidas de modo a preservar seu controle democrático e autônomo.

As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos colaboradores, de forma

(6)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Educação,

formação e informação.

que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação. É dever das cooperativas prestar assistência técnica, educacional e social para os seus associados, devendo constituir um fundo, previsto em estatuto para garantir a realização desse princípio;

Inter cooperação

Além de suas atividades específicas de atendimento aos associados, as cooperativas trabalham juntas, regidas por estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais, que permitam manter o desenvolvimento, o fortalecimento e a sustentação do movimento cooperativo.

Fonte: Adaptado da Lei 5764/71

Os princípios citados no quadro 1 dão sentido social e democrático ao modelo de organização, na qual o capital torna-se um instrumento de materialização dos objetivos propostos, ou seja, não é um elemento determinante de sua constituição.

Há diversos tipos no Brasil de organizações cooperativas previstas pela legislação brasileira (Lei 5764/71), os quais são apresentados no quadro 2.

Quadro 2 - Tipos de Cooperativas

TIPOS DESCRIÇÃO

Cooperativas Agropecuárias

Reúnem produtores rurais ou agropastoris e de pesca, que trabalham de forma solidária na realização das várias etapas da cadeia produtiva. Cooperativas de

Consumo

Caracterizam-se pela compra em comum de artigos de consumo para seus cooperantes, buscando diminuir o custo desses produtos. Na prática funcionam como supermercados.

Cooperativas de Crédito

(Financeiras)

São sociedades de pessoas destinadas a proporcionar assistência financeira a seus cooperados.

Cooperativas Educacionais

Pais e alunos se uniram para enfrentar a falta de estrutura do ensino público e o alto custo das mensalidades das escolas particulares.

(7)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Cooperativas

Especiais (Cooperativas Sociais)

São as cooperativas constituídas por pessoas que precisam ser tuteladas, objetivando a organização e gestão de serviços sócios sanitários e educativos.

Cooperativas de Habitação

São cooperativas destinadas à construção, manutenção e administração de conjuntos habitacionais para seu quadro social. Cooperativas de

Infra estrutura -

Cooperativas cuja finalidade é atender direta e prioritariamente o próprio quadro social com serviços de infraestrutura.

Cooperativas de Mineração

Cooperativas com finalidade de pesquisar, extrair, lavrar, industrializar, comercializar, importar e exportar produtos minerais.

Cooperativas de Produção

Cooperativas dedicadas à produção de um ou mais tipos de bens e mercadorias.

Cooperativas de Saúde-

Cooperativas que se dedicam à recuperação e preservação da saúde humana.

Cooperativas de Transporte

Cooperativas de prestação de serviços de transporte de cargas ou passageiros em suas várias modalidades.

Cooperativas de Turismo e Lazer

Cooperativas que têm por finalidade prestar serviços e/ou atender direta e prioritariamente o seu quadro social com serviços turísticos, lazer, entretenimento, esportes, artísticos, eventos e de hotelaria. Cooperativas de

Trabalho

Cooperativas dedicadas à produção de um ou mais tipos de bens e serviços.

Fonte: Adaptado da Lei 5764/71

O cooperativismo se assenta sobre quatro fundamentos: liberdade, igualdade, solidariedade e racionalidade. O quadro 3 cita cada um deles.

Quadro 3 - Fundamentos do cooperativismo FUNDAMENTOS DESCRIÇÃO

(8)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Liberdade:

A democracia é a concretização da liberdade, pois possibilita a participação, escolha e decisão sobre as ações na cooperativa, garantindo seu sucesso.

Igualdade:

Numa cooperativa os direitos e obrigações são iguais para todos. Ninguém tem mais ou menos poder ou benefício, por ter mais ou menos capital.

Solidariedade:

A solidariedade é a alavanca de todo e qualquer processo cooperativo, pois é por meio da ajuda mútua que se constrói uma economia solidária e coletiva.

Racionalidade

O uso da ciência e da tecnologia no cooperativismo deve ser motivo de emancipação, respeito e dignidade nas condições socioeconômico das pessoas.

Fonte: Adaptado da Lei 5764/71.

2.2 A PISCICULTURA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A atividade de piscicultura faz parte de noticiários e debates em nível local, nacional e internacional ligadas ao tema sustentabilidade como alternativa aos desequilíbrios ambientais ocasionados pelos avanços econômicos. (REIGOTTA, 1998).

As práticas sustentáveis devem prever a inter-relação entre homem e natureza. Nessa perspectiva de inter-relações Sato e Carvalho (2005) discorrem que esse contato não ocorre isoladamente, no entanto é perceptível a ação do homem em seu desfavor na busca pelo desenvolvimento a qualquer custo.

Nesse contexto, a sustentabilidade tornou-se um tema recorrente nos debates e reflexões na tentativa de garantir um futuro com qualidade de vida. O tema não diz respeito apenas à individualidade do ser humano, mas aos aspectos coletivos, em escala nacional e internacional. Esses debates ocorrem em nível global em prol do interesse no comprometimento com atitudes responsáveis e transformadoras que possam responder ás necessidades do meio ambiente (SATO, 2005).

Discorre Sachs (2003), que o princípio do desenvolvimento sustentável está em crescer economicamente, preservando o meio ambiente e erradicando a pobreza. Pois o modelo econômico tradicional que impõe suas necessidades em face dos recursos finitos da natureza e da desigualdade social, gera desequilíbrios; o desenvolvimento deve vir atrelado ao

(9)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 compromisso econômico, social, político, cultural, humano e ambiental, como instrumento da vida em sociedade.

Nessa perspectiva, a piscicultura se mostra uma alternativa na geração de trabalho e renda. Os subsídios governamentais, estudos de viabilidade, assessoria técnica, dentro outros, são fatores que auxiliam o fomento da organização dos produtores. (PEREIRA et. al., 2013).

Para Barbosa (1992), a atividade de piscicultura apresenta vantagens, dentre as quais a possibilidade de uso de áreas improdutivas para agropecuária, como os terrenos alagadiços, os quais são propícios para a criação de peixes. Além disso, oferece rápido retorno comercial, podendo apresentar crescimento considerável de produção por área, demandando pouco gasto de energia para locomoção e é um produto de eficiência quanto à conversão alimentar. Essa conversão pode ser mais bem entendida quando se observa economias como a do Japão, Noruega e Estados Unidos, países com maior número de produtores de peixe do mundo.

A maior parte da produção de peixes tem a finalidade de alimentação, contudo, podem-se identificar outras utilidades, inclusive para fins sanitários, como no combate a larvas de mosquitos ou moluscos transmissores de doenças, podem servir ainda como despoluidores de alguns ambientes aquáticos; fins biológicos com a realização de estudos genéticos e testes laboratoriais; ornamentação em aquários; pesca esportiva em pesque-pague, povoamento e repovoamento de aéreas agredidas; fonte de proteína animal, já que constitui alimento mais saudável em comparação a carnes vermelhas (SOARES, 2003).

No processo produtivo a piscicultura pode se apresentar custo relativamente baixo, com isso, torna-se uma atividade econômica e financeira interessante aos produtores. Complementarmente, mostra-se como alternativa de diversificação nos espaços rurais, sobretudo na agricultura familiar. Há ainda a possibilidade de retorno financeiro para fins industriais em frigoríficos próprios com uso produtivo da pele, na fabricação de rações, na remoção das hipófises para utilização em hormônios, etc. Assim, a piscicultura se diferencia pelas possiblidades de atividades agrícolas em ambiente aquático e, constitui como prática de produção sustentável. (VALENTI, 2000).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa ocorreu na forma de estudo de caso utilizando-se de análise em profundidade (YIN, 2001) de dados na perspectiva qualitativa por meio da análise de discurso. (GODOI; COELHO, 2011). O objeto de análise foi a Cooperativa Agropecuária Mista e

(10)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Aquícola do Rio Arinos (COOPERARINOS), com frigorífico de processamento de peixes instalado na cidade de Juara-MT.

As técnicas de coleta de dados utilizadas foram: observações in loco, pesquisa documental, questionários e entrevistas (quadro 4) com sócios e atores sociais ligados ao empreendimento cooperativo em questão.

Quadro 4- atores sociais entrevistados 2018.

Sujeitos Denominação Questões abordadas Forma de abordagem Presidente da cooperativa de peixes E1 Histórico da cooperativa, dificuldade, oportunidades, participação dos sócios, políticas públicas locais; Entrevista não estruturada Presidente da associação dos pescadores de rio. E2

Históricos, número de associados,

demanda, dificuldades, oportunidades, mercado. Entrevista não estruturada Chefe de vigilância sanitária. E3

Exigências legais para atividade, atendimento da cooperativa às normas sanitárias. Entrevista semi estruturada (1h20 min) Produtor e comerciante 01 E4

Processo produtivo, produtividade, dificuldades, oportunidades, participação política do município, participação na cooperativa, benefícios da cooperativa.

(11)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Produtora e

comerciante 02 E5

Processo produtivo, produtividade, dificuldades, oportunidades, participação política do município, participação na cooperativa, benefícios da cooperativa Entrevista semi estruturada (sem gravação a pedido do entrevistado). Gestores de Restaurantes R1, R2, R3, R4 Quantificação de quantidade de vendas, atendimento de demanda, qualidade do pescado, tipo do pescado. Questionário Gestores de Mercados M1, M2, M3, M4 Quantificação de quantidade de vendas, atendimento de demanda, qualidade do pescado, tipo do pescado.

Questionário

As observações in loco versaram sobre a estrutura da indústria de processamento da cooperativa. Ocorreu de forma assistida com um dos sócios em duas visitas, sendo uma em outubro e outra em dezembro de 2017. Foram considerados para tal os equipamentos, organização interna, capacidade produtiva e aspectos inerentes ao funcionamento sobre o abate e empacotamento dos peixes. Quanto às entrevistas foram realizadas em outubro a maio de 2017 e novembro e maio de 2018.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 A INDÚSTRIA COOPERATIVA

Importante esclarecer que a seda da COOPERARINOS está localizada na cidade de Porto dos Gaúchos-MT, município vizinho de Juara-MT, na ocasião de formação da cooperativa (ano 2013) a prefeitura de Porto dos Gaúchos cedeu um espaço para a cooperativa, contudo, vários sócios moram e tem propriedades em Juara-MT.

Com passar dos anos o processo de formação do frigorífico de peixes da cooperativa em Juara-MT ocorreu a partir de diversas mobilizações da comunidade local. Foram necessárias trinta e uma reuniões, algumas com o SEBRAE para treinamentos sobre cooperativismo, bem como reuniões com a Organização de Cooperativas Brasileira (OCB-MT). Ainda aconteceram visitas por parte de um grupo de cooperados até a Indústria Brasileira de Pescados Amazônicos

(12)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 (NATIV), localizada em Sorriso–MT, ao frigorífico Bom Futuro, em Cuiabá-MT, pelo fato desse ultimo ter participado em vários encontros estaduais e nacionais sobre piscicultura, conforme o relato de E1.

Segundo o entrevistado E1 um fator motivador para a cooperativa buscar fomentar a planta da indústria para processamento de peixes em Juara-MT, foi a desativação do funcionamento do frigorífico NATIV entre os anos de 2009 e 2013 no município de Sorriso– MT, sendo então pensado em instalar uma unidade frigorífica local.

Somado a esse fato, nos últimos anos houve políticas públicas municipais em Juara-MT incentivando a instalação de tanques para criação de peixes, sendo então, construídos em algumas propriedades no município, fomentando a produção de peixes (E4).

Quanto a instalação do frigorífico, essa se deu na gestão municipal anos de 2013 a 2016, envolvendo desde o projeto civil, escolha e vistoria do local, a fábrica de ração e ainda o laboratório de “alevinagem”. Sendo em fevereiro do ano de 2017 concedida a licença para operar no município (LIMA, 2017).

Conforme relatos do E1, em meio às dificuldades de produção e comercialização dos peixes, os produtores buscaram instalar a cooperativa por iniciativa própria, não obtendo êxito pelas dificuldades encontradas. Posteriormente, com o apoio dos órgãos SEBRAE e Associação Comercial e Industrial de Juara (CEAJU) fomentou-se de forma mais incisiva a ideia da cooperativa e que esta se estendesse pelo Vale do Arinos, uma vez que no município vizinho à Juara-MT, Novo Horizonte do Norte-MT, é propício para a atividade piscicultora e, em Porto dos Gaúchos-MT, seria estabelecida a sede da cooperativa.

Embora o comércio local seja propenso ao consumo de peixes industrializados, com o atual custo de produção a cooperativa não consegue concorrer com as grandes indústrias, uma vez que o licenciamento e demais despesas são as mesmas, seja para os pequenos ou para os grandes produtores/fornecedores. Pertinente destacar que, o comércio local foi parceiro para a implantação do frigorifico, fazendo doações de utensílios, vestimentas e valores em dinheiro, como mencionado por E1.

4.2 LIMITES NA IMPLANTAÇÃO DA INDÚSTRIA

Quanto aos fatores limitadores para a implantação da indústria de peixes em Juara-MT, de acordo com E4 o maior desafio para a atividade piscicultura está no número reduzido de pessoas cooperadas e interessadas pela atividade. Somada a isso, tem-se a escassez de recursos financeiros e apoio dos órgãos públicos.

(13)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Todavia, apesar das dificuldades no decorrer das atividades, ressalta-se que a cooperativa foi essencial para o desenvolvimento da atividade piscicultora na região, já que inicialmente os cooperados não tinham ideia de como comercializar o peixe na cidade, o que os abrigava a comercializar na feira municipal uma vez que não tinham como negociar em outras cidades ou no comércio local, e o baixo preço vigente na época causava prejuízo. (DEPOIMENTO, E4).

Antes da instalação da indústria, conforme o E1, os peixes não eram eviscerados, por não existir local adequado, ou seja, abatedouro. Diante da necessidade constatada, houve o auxílio de pessoas e órgãos públicos, tanto na doação do local, que a princípio era a Casa do Mel (associação local), como também doações, incluindo os próprios cooperados, e ainda a contrapartida do município com a elaboração do projeto da indústria.

Incialmente os peixes processados não seriam comercializados na feira municipal, a intenção dos cooperados era vender no atacado, mas não foi possível. Conforme os cooperados entrevistados E1 e E4, essa situação levou a abertura de um mercado de peixes no município de Juara-MT, o que foi visto como positivo.

Ainda acerca das principais dificuldades para o grupo de cooperados se manterem organizados no formato de cooperativa, o E1 relata como a principal o licenciamento. Relata o fato envolvendo vistorias das águas dos tanques de doze produtores da cooperativa, a qual foi protocolada na Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) há mais de quatro anos, sendo várias vezes já refeitas e não houve a efetivação da mesma. Essa demora acarreta atraso das atividades da cooperativa, pois os produtores não conseguem recursos financeiros nas entidades e órgãos parceiros sem essa licença. Essa situação causa desânimo crescente na continuação da atividade, evidenciando a inviabilidade dessa atividade nesses moldes.

Igualmente desafiadora é a dificuldade enfrentada pela indústria de processamento de peixe quanto às exigências de inúmeros órgãos e a morosidade desses em oficializar isso. Por exemplo, a demora de três anos e meio para se conseguir o Licenciamento de Operação junto à SEMA, somado a mais seis meses para a liberação junto ao Serviço de Inspeção Municipal (SIM), isso requer o pagamento de alvará anual no Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Mato Grosso (CRMV-MT), bem como pagamento do salário de um veterinário permanente no local. Esses fatos envolvendo procedimentos burocráticos e custos tornam onerosa a continuidade e avanço da referida cooperativa.

Somando a este cenário de dificuldades, e de acordo com o planejamento realizado pelo SEBRAE, se faz necessário abater seis mil quilos de peixes ao mês para o alcance das metas

(14)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 e, considerando que a licença do SIM permite a comercialização somente dentro dos limites do município de Juara-MT, não há demanda para todo o pescado, uma vez que existe concorrência da colônia de pescadores local, da agricultura familiar e das vendas realizadas de casa em casa de forma clandestina pelos indígenas da região, sem o selo de inspeção municipal (Relato do E1).

Ainda de acordo com o E1, há somente um funcionário para processar o volume mínimo de peixes previsto, sendo insuficiente. O aumento do número de funcionários acarretará aumento do preço final do produto, o que faria o kg do peixe processado chegar a R$ 30,00, colocando o produto em desvantagem no mercado em relação as carnes de bovinos, suínos e aves.

Em relação à inspeção, o E3 relata que essa fica a cargo da secretaria municipal de agricultura por meio de um médico veterinário que é responsável pela inspeção municipal, o qual acompanha fiscaliza toda a produção de origem animal, que anteriormente precisa ter licenciamento ambiental. Isso requer que a estrutura a ser construída tenha seu projeto de engenharia aprovado para que, posteriormente seja feita a inspeção pelo médico veterinário responsável pelo SIM. Esse acompanhamento permite averiguar a conformidade e só então, liberar a indústria para processar os peixes.

No entanto, apesar desses obstáculos, após a implantação da indústria classificada como mini frigorífico pode-se perceber aumento da demanda no mercado do peixe produzido no município de Juara-MT, como cita o E3. Isso ocorreu porque os proprietários de pequenas chácaras que possuíam tanques, e antes não tinham como colocar à venda no comércio local por não ter um local apropriado para limpar o pescado, com a instalação do frigorifico isso foi possível.

Considerando a média de venda ao mês superior a mil quilos de peixe, e na época da quaresma e Semana Santa, atinge aproximadamente quatro mil quilos, percebeu-se um acréscimo considerável, como pode ser notado nos relatos de E3 e reforçado por E4.

Se por um lado existem limitações, por outro, ficou evidente também alguns resultados positivos. O que pode sinalizar positivamente, uma vez que empreendimentos cooperativos nesse segmento de atividade deram certo. Pode-se citar o Estado do Rio Grande do Sul, como cita Alves (s.d, p. 562) que entre os anos de 1990 a 2000 foram criadas organizações cooperativas por um grupo de pescadores artesanais objetivando geração de renda para diversas famílias. A Coopescas instalada no município de Torres-RS, com a finalidade de

(15)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 melhorar a comercialização e realizar a captura de pescados em alto mar. Esse trabalho teve resultados positivos e foi possível atingir mercados maiores em Porto Alegre-RS.

4.3 POSSIBILIDADES QUANTO À IMPLANTAÇÃO DA INDÚSTRIA COOPERATIVA Quanto às possibilidades, diante das constatações, para o mini frigorífico identificou-se a necessidade de agregar mais sócios que sejam piscicultores com interesse em comum na geração de trabalho e renda, seja de forma artesanal, seja por produção em tanques.

Percebeu-se que desde o início das atividades os associados da cooperativa receberam apoio das prefeituras de Juara-MT, Novo Horizonte-MT e Porto dos Gaúchos-MT, além do SEBRAE. Parcerias essas importantes para abertura da indústria e, como já citado, a prefeitura de Juara-MT, além de outros incentivos, fez a doação do local. Destaca-se também o papel do SEBRAE, a partir do qual os cooperados decidiram criar a cooperativa, e participar de cursos e workshops, como citam o E4 e o E1.

No entanto, ficou evidenciada a desarticulação do grupo de sócios da cooperativa que deixaram de perceber na piscicultura fonte de trabalho e renda, somados aos desgastes gerados para a aquisição e liberação de uso da infraestrutura.

Pertinente destacar, de acordo com Ono e Campos (2011) que o segmento de piscicultura revela que os produtores e empresas estão apostando no potencial de retorno da piscicultura e buscando inovações tecnológicas que possibilitem expandir e diversificar seus empreendimentos, da mesma forma oferecer produtos de melhor qualidade, com maior valor agregado. Ou seja, a aquicultura no Brasil pode ser encarada como uma importante fonte de alimento para a população brasileira.

Sobre possibilidades no que se ao consumo local, tendo em vista a percepção dos pescadores, o estudo apresenta dados importantes para pensar a atividade de piscicultura no município. Vale salientar que, o trabalho de campo não configurou como análise de demanda de mercado com os critérios de uma pesquisa quantitativa, mas, apenas a percepção de demanda a partir da realidade dos pescadores e do comércio tradicional local.

Sobre possibilidades no que se refere ao consumo pelo comércio local, a E2 afirma que tem 32 pescadores associados, de modo que cada um tem a possibilidade de pescar até 125 Kg de peixe por semana. Esses peixes são vendidos por cada pescador em restaurantes, lanchonetes e até em outras cidades. Contudo, a E2 destacou que essa produção não atende as necessidades da comunidade local, há falta de produto.

(16)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Quanto à produção de peixes, segundo depoimento de E4 percebe-se que a comercialização dos peixes industrializados pela cooperativa no comércio local aceitação em lanchonetes e restaurantes, já nos mercados, somente nos menores. Os mercados maiores por comprarem em grande quantidade, conseguem preços menores, a um valor que a cooperativa não consegue oferecer.

Sobre a origem dos peixes comercializados em Juara-MT nos mercados e restaurantes, o quadro 5 apresenta as principais fontes.

Quadro 5 - Principais fontes fornecedoras de pescados para os comércios de Juara-MT

Fonte fornecedora Mercados Restaurantes

M1 M2 M3 M4 R1 R2 R3 R4

Fora do estado

Dentro do Estado de outras regiões

Dentro do Estado e da região do Vale do Arinos Cooperativa Associação de Piscicultores Pescadores Informais

Fonte: Pesquisa de Campo (2018)

Ao observar o quadro 5, nota-se que dentre os mercados apenas M3 adquire peixes da Cooperativa e os demais mercados compram de fornecedores em outras regiões do estado e também fora do estado, com exceção de M2, que adquire produtos oriundos da Associação de Piscicultores do município de Juara-MT (outra organização coletiva).

Em relação aos restaurantes pesquisados mostrados no quadro 5, apenas R1 compra de fornecedores fora do estado de Mato Grosso, uma vez que o R2, R3 e R4 têm como fontes fornecedoras de pescados a Cooperativa e pescadores informais da região do Vale do Arinos, ou seja, compram de piscicultores locais.

(17)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Sobre o mercado consumidor de peixe em Juara-MT, os dados obtidos junto aos responsáveis pelo setor de compras de comércios que possuem açougue e podem comercializar carne de peixe, como Mercados (total de 4) e Restaurantes (total de 4), contatou-se a media mensal de aquisições de peixes para a venda, como mostra o quadro 6.

Quadro 6- Média mensal de carne de peixe adquirido para venda em Juara-MT

Quantidade

Mercados Restaurantes TOTAL

MÊS M1 M2 M3 M4 R1 R 2 R 3 R 4 Até 100 kg 100 10 0 100 100 1 00 1 00 600 101 – 200 Kg 2 00 200 201 – 300 Kg 301 – 500 Kg Acima de 501 Kg (1500 kg) 1.500

Cálculo da média mensal 2.300 Kg

Fonte: Pesquisa de Campo (2018)

De acordo com o quadro 6, verifica-se que, tanto para os mercados quanto para os restaurantes abordados, 75% adquirem mensalmente até 100 kg de carne de peixe pra comercialização. Somente o M3 (mercado) adquire mais de 501 kg, sendo 1500 kg de peixe ao mês para comercialização, e apenas 01 (um) restaurante, aqui chamado de R3, adquire entre 101 e 200 kg de peixe para venda.

Segundo estimativas, "o consumo de peixe no Brasil foi de 9,0 kg per capita registrados em 1961 e 20,2 kg per capita em 2015, em uma taxa média de expansão de 1,5% por ano. As estimativas preliminares para 2016 e 2017 apontavam crescimento futuro de 20,3 kg per capita e 20,5 kg per capita, respectivamente" (SOFIA, 2018).

Quanto a produção de peixes em quilogramas produzidos pela Associação de pescadores artesanais em Juara-MT no período de um mês pode ser estimada no quadro 7.

(18)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Quant. kg/sem. Quant. pescadores Total Kg sem. Total mensal

150 32 4.864 kg 19.456 kg

Fonte: Pesquisa de Campo (2018)

A Associação de Pescadores da Lagoa do Juara é outra organização de pescadores locais que se formou na região. Essa associação contribui para organização e reivindicação dos pescadores locais junto ao poder público municipal e federal (E2).

Percebe-se que o valor declarado pelo comércio em geral é menor que o mencionado pelos vendedores de peixes artesanais (quadro 7). Isso pode ser atribuído ao fato de que o comércio local atendido por Restaurantes podem não ter controle exato das aquisições, além disso, a comercialização dos peixes artesanais também ocorre em feiras e direto ao cliente. Salienta-se ainda que os restaurantes analisados foram os localizados nas áreas do centro da cidade, não sendo comtemplados no estudo os restaurantes estabelecidos nos bairros.

Em relação às espécies de peixes comercializadas nos mercados e restaurantes pesquisados, as principais são: Pintado, Matrinxã, Tambaqui, Tabatinga, Trairão e Cachara.

Também foi questionado aos mercados se houve alguma dificuldade para a aquisição de peixes da Cooperativa, sendo constatado que não. Quanto aos restaurantes, somente o R2 disse não ter dificuldades na compra de pescados da Cooperativa. Já os demais, R1, R3 e R4 tiveram dificuldades relacionadas a regularidade no fornecimento (R1 e R3) e o R4 sobre a qualidade do produto, forma de pagamento e preço dos peixes.

Por fim, sobre o preço das espécies de peixes para comercialização pelos mercados e restaurantes investigados, o quadro 8 traz a média de valores observados:

Quadro 8- Preço médio mensal de carne de peixe adquirido para venda em Juara-MT

Média de Preço Mercados Restaurantes

M1 M2 M3 M4 R1 R2 R3 R4 Dourado - R$ 8 - - - - Piau - - - - Pintado - - R$ 18, 90 R$ 14 - R$ 32 R$ 40 R$ 15 Jaú - - - - Pirarucu - - - -

(19)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 Matrinxã - R$ 9 - - - - R$ 25 - Tilápia R$ 27 - - - - Tabatinga - - R$ 18 - - - - - Tambaqui - - R$ 10, 66 R$ 4,8 0 - - - - Trairão - - - R$ 30 - Cachara - - - -- - - - R$ 15

Fonte: Pesquisa de Campo (2018)

O quadro 8 revela discrepância entre os valores pagos pelos restaurantes e os valores pagos pelos mercados, tendo os últimos médias de preços menor, o que pode ser influenciado pela quantidade maior de pescados adquirida. Ressalta-se que o R1 não informou a média de valores pagos na aquisição de quaisquer espécies que compra.

A respeito dos peixes vendidos no comércio local e a responsabilidade pela fiscalização, verificou-se que essa é feita pela Vigilância Sanitária local para identificar os peixes do mercado estão regulares em relação a procedência, ou seja, se possuem selo SIM (do município), se de fora do município, se possuem o serviço de Inspeção Sanitária Estadual (SISE), ou Serviço de Inspeção Federal (SIF) quando oriundos de outros estados. Todo o peixe a ser comercializado deve apresentar esses selos, conforme informou o E3.

Quanto aos peixes processados pela cooperativa, conforme o E4 percebe-se que há boa aceitação no comércio local por parte das lanchonetes e restaurantes; já nos mercados, somente os menores adquirem peixes da cooperativa, pelo motivo anteriormente exposto.

Também há fiscalização em restaurante e lanchonetes. Nesse sentido o E3 destaca que a preocupação com a certificação e armazenamento dos pescados nesses estabelecimentos é a o que já fora citada, bem como os procedimentos adotados quando do não cumprimento dos requisitos estabelecidos.

Os dados revelam contradições entre as declarações dos gestores do comércio local, formal e revendedores de peixes e os pescadores, já que, os números de vendas apresentados pela associação são maiores. Essa contradição pode estar na prática de compra por parte do comércio dos próprios pescadores sem registro, ou, o grande número de venda dos pescadores direto ao cidadão via feiras e encomendas.

Diante dos dados apresentados, percebe-se oportunidade para que o mercado de peixe na região cresça e fomente o desenvolvimento local, uma vez que há possibilidade para atender

(20)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 a região e atuar com a venda de peixes para outros estados brasileiros. Contudo, a limitação pode estar na organização e gestão da associação e da cooperativa local. Isso porque, há maior volume de venda de peixes in natura em feiras, entrega domiciliar de carne não processada. Gestão profissional e maiores investimentos na indústria dariam maiores oportunidades de vender a carne processada e garantir carne de qualidade e com maior facilidade de transporte.

Para Silva (2011), a piscicultura é percebida uma alternativa para os pescadores artesanais e os pequenos produtores rurais e como tal, fortalece a agricultura familiar, promove o associativismo e/ou cooperativismo e o desenvolvimento local.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que a piscicultura na agricultura familiar organizada na forma cooperativa tem potencial para promover o desenvolvimento local somado ao mercado e as condições hídricas favoráveis para a atividade de piscicultura na região analisada. Isso posto, acredita-se nas possibilidades de atuação da cooperativa de processamento de peixes no município de Juara-MT. No entanto, essas possibilidades devem ser valorizadas e providas de suporte estrutural e financeiro por parte dos órgãos públicos, o que consequentemente fortalece o desenvolvimento local.

Diante do caso analisado, percebeu-se como possibilidades o mercado local que se apresenta como potencial consumidor, e como tal, permite a expansão das atividades produtivas da cooperativa e a retomada do trabalho coletivo dos piscicultores. Contudo, será preciso desenvolver lideranças ativas capazes de reiniciar a mobilização e a reorganização dos produtores rurais em torno do movimento cooperativista. Essas ações podem impactar positivamente o desenvolvimento regional do Vale do Arinos.

Quanto às limitações de ordem interna, percebeu-se a morosidade nos procedimentos burocráticos, limitações estruturais da cooperativa, escassez de mão-de-obra para o processo produtivo, desarticulação entre os sócios, falta de recursos financeiros, variáveis essas que, no percurso da cooperativa levaram ao enfraquecimento do empreendimento.

De caráter externo, observou-se como limitadores as operações produtivas da cooperativa a cessão do apoio da prefeitura ao mini frigorífico após a implantação e também a dificuldade de acesso a recursos financeiros para melhorar a estrutura da indústria, o que impossibilita a obtenção do SIF.

As evidências trazidas pelo contexto analisado são pertinentes para refletir sobre o papel dos agentes públicos, no caso os fiscalizadores, que a priori poderiam ser de orientação, de consultoria e posteriormente fiscalizatórios. Isso se justifica pela característica do público

(21)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761 que atua com a piscicultura, em sua maioria pequenos agricultores familiares sem muitos recursos e como tal, precisam de apoio para desenvolver-se em suas atividades produtivas e organizativas.

Parcerias podem ser feitas para mudar essa realidade. Uma das possibilidades seria a Universidade do Estado de Mato Grosso contribuir por meio da pesquisa e extensão e com isso, auxiliar na captação de recursos por meio da elaboração de projetos e também no auxilio na organização do empreendimento.

Quanto à realização de estudos futuros, sugere-se os que envolvam casos múltiplos no cenário estadual a fim de contextualizar as indústrias cooperativas de processamento de peixes já implantadas e em plena atividade no estado. Tal investigação subsidiaria comparações com os resultados mostrados nesse trabalho e, com isso trazer maior e melhor entendimento dos limites e possibilidades deste tipo de empreendimento em termos de importância e potencialidades.

REFERÊNCIAS

ACESSE NOTICIAS. Piscicultura em Juara avança e se torna mais uma opção

econômica. Disponível em: http:

<www.acessenoticias.com.br/.../piscicultura_em_juara_avanca_e_se_torna_mais_uma_> . Acesso em 26 Set. 2017.

ACESSE NOTICIAS. Coopearinos: Nasce cooperativa de agricultura e piscicultura em Porto dos Gaúchos. Disponível em: <http://www.acessenoticias.com.br/juara/id-409500/08/03/2013> Acesso em 26 Set. 2017.

BARBOSA, J. A Piscicultura como alternativa de investimento para produtores rurais na Região

do Médio Amazonas. Dissertação de Mestrado em Economia Rural. Fortaleza, 1992. Dissertação

(Mestrado em Economia Rural), UFCE, 1992.

Bacia hidrográfica de Juara. Disponível em :

<http://www.juaranet.com.br/juara/32228/Juara-completa-35-anos-conheca-o-potencial-de--nosso-municipio>. Acesso em 3 Out. 2017.

BRASIL. Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Lei que Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5764.htm>. Acesso em 14 Maio 2017.

(22)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761

BRASIL. Ministério da Agricultura, pecuária e abastecimento. Cooperativismo e Associativismo no Brasil. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/cooperativismo-associativismo/cooperativismo-brasil> Acesso em 04 Mar. 2019.

BOZANO, G.L.N. Viabilidade Técnica da Criação de peixes em tanques-redes. In: Simpósio

Brasileiro de Aquicultura, 12., 2002, Goiânia. Anais.

CAPRA. F. Alfabetização Ecológica. A educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo. Cultrix. 2006.

COELHO, A. L. de A. L.; GODOI, C. K. Análise Sociológica do Discurso: Aproximação dos Elementos Epistemológicos, Metodológicos e Técnicos ao Campo Organizacional. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnANPAD/enanpad_2011/EPQ/2011_EPQTC.pdf> Acesso em 22 Abr. 2016.

FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DO MATO GROSSO (FAMATO). Diagnóstico da Piscicultura em Mato Grosso. Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) - Cuiabá, 2014. Disponível em: <http://imea.com.br/upload/pdf/arquivos/P221_Diagnostico_da_Piscicult_ura_Versao_Final_com_ca pa.pdf.> Acesso em 14 Maio 2017.

FRANZ, C. M. A Contribuição do Cooperativismo de Crédito para a Eficiência Econômica e

Eficácia Social. Disponível em:

<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2006_2/cristiane.pdf.> Acesso em 22 Jun. 2017.

FURQUIM, M. C. A. A Cooperativa como Alternativa de Trabalho. São Paulo: LTr, 2001.

IRION, João Eduardo Oliveira. Cooperativismo e Economia Social. São Paulo: STS, 1997.

IBGE. Mato Grosso. IBGE Cidades. Disponível em <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/juara/panorama> Acesso em 04 Mar. 2019.

LIMA, A.; R. Piscicultura e o desenvolvimento local em Juara - MT. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação). Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Juara-MT, 2017.

KUBITZA, F.; CAMPOS, J. L.; ONO, E. A.; ISTCHUK, P. I. Panorama da Piscicultura no Brasil: particularidades regionais da piscicultura - Parte II. Panorama da Aquicultura, v. 22, p. 16-31, 2012.

(23)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761

MARCHESE, R.. As Ferramentas de Marketing Aplicadas às Commodities Agropecuárias. Brasília, 2006. Monografia (Graduação em Administração de Empresas) Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas - FACISA.

PEREIRA, E. A.; ALAIR F. F.; ALAN F. F. O Papel da Coopeixe no Desenvolvimento do

Território da Pesca e Aquicultura do Médio São Francisco, Minas Gerais. Desenvolvimento em

Questão. Unijuí, ano 11, n. 24, set./dez. 2013

REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. 3. ed.. São Paulo: Cortez, 1998. 87p.

SEBRAE. Estudo sobre piscicultura na Bahia. Agronegócios: piscicultura. Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/.../Piscicultura%20na%20Bahia.p.> Acesso em 02 Out. 2017.

SACHS, Ignacy. Inclusão social pelo trabalho: Desenvolvimento humano, trabalho decente e o futuro dos empreendedores de pequeno porte no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2003

SATO, M.; CARVALHO, I. Educação ambiental. Pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005.

SEAFOOD BRASIL. SOFIA 2018: Projeções em Consumo e Produção. Disponível em: <http://seafoodbrasil.com.br/sofia-2018-projecoes-em-consumo-e-producao/.> Acesso em 03 Mar.2019.

SILVA, L. S. A importância das associações e cooperativas para o fortalecimento da piscicultura

na agricultura familiar no Estado da Bahia. Disponível em:

<http://www.ecoeco.org.br/conteudo/publicacoes/.../ix.../GT8-349-254-20110620234442.pdf>. Acesso em 25 Set. 2017.

SOARES, C. Análise das implicações sociais, econômicas e ambientais relacionadas ao uso da

piscicultura: o caso Fazenda Princesa do Sertão. Palhoça/SC. Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. UFSC, 2003.

TRUGILLO, E.; A. Percepção Ambiental em Córregos Urbanos sob o olhar da Comunidade

Educativa de Juara/MT. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em

Ciências Ambientais. Cáceres/MT: UNEMAT, 2009.

VALENTI, W.C.; POLI, C.R.; PEREIRA, J.A.; BORGHETTI, J.R. Aquicultura no Brasil: bases para um desenvolvimento sustentável. Brasília: CNPq, 2000.

(24)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 8, p. 13560-13582 aug. 2019 ISSN 2525-8761

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos I. trad. Daniel Grassi. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Referências

Documentos relacionados

No que se refere ao sector da educação, MELO (1993: 1 e 2), tomou os resultados do Recenseamento da População de 1991, comparou-os com os de 1981, e concluiu ter ocorrido

Entre o grupo da área rural a maioria das crian- ças apresentaram estatura adequada e peso adequado em ambos os sexos (83,3% meninos; 82,3% meninas), assim como na área Urbana

Modo Cinema On Modo Cinema On Modo Cinema On Modo Cinema On IMPORT ANTE! PREP ARAÇÃO UTILIZAÇÃO DEFINIÇÕES PROBLEMAS? Seleccionar “Imagem” O televisor está predefinido para

A Direção da Escola Técnica de Saúde de Cajazeiras (ETSC) e a Direção do Centro de Formação de Professores (CFP) da Universidade Federal de Campina Grande

Índice TG total da empresa no período, para a força de trabalho (próprios + terceiros) Óbitos – próprios Óbitos – terceirizados 5,52 154 2,38 1.358 3,20 1.042 0 4 4,69 113

P.O.V.: Melina vê, pela janela, o PAI passa instruções, gesticulando e apontando para a construção.. Ao seu lado o PEDREIRO

Adicionalmente, foram analisadas as Guias de Trânsito Animal (GTA), que permi- tiram identificar a movimentação do rebanho bovino em Mato Grosso. A maior parte dos

Al igual que en otras lenguas, existe en español un conjunto de verbos cuyo contenido semántico es esencialmente aspectual, y que denotan cambio de estado o, a veces,