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Mazzaropi and Brazil’s cinema industry: the importance of caipira comedy forbrazilian cinematography from 1950’s to 1980’s

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Academic year: 2019

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Resumo

Este trabalho propõe analisar a vida e obra do cineasta Amácio Mazzaropi, a partir das críticas especializadas sobre VHXV ÀOPHVO intuito não é biográÀFR à medida que propõe uma discussão maior sobre a sua obra e as impressões sobre o autor e personagem $ LQWHQção é entender a infância do produtor e os caminhos que o levaram a criar sua produtora cinematográÀFDSDUDLGHQWLÀFDU a importância do cineasta para a indústria brasileira de cinema e a representação da identidade caipira ante ao processo de urbanização à época)LQDOPHQWHRDUWLJR pretende responder algumas questões como a relação entre público e crítica; tradição e modernidade e a reprodução de LGHQWLGDGHVVRFLDLV

Abstract

This work proposes to analyze of the Amácio Mazzaropi’s life and cinematographic production, based on VSHFLDOL]HG FULWLFLVP DERXW KLV PRYLHV ,W LVQ·W D ELRJUDSKLFDO VWXG\ 7KH LQWHQWLRQ is to understand, through the producer’s childhood, the ways that allowed him to EXLOG KLV RZQ ÀOP FRPSDQ\ WR LGHQWLI\ WKHÀOPPDNHULPSRUWDQFHWRWKHEUD]LOLDQ industry of cinema and the representation of the caipira identity in the urbanization SHULRG )LQDOO\ WKH DUWLFOH SURSRVHV WR answer some questions as the relationship between public and critics; modernity and WUDGLWLRQDQGVRFLDOLGHQWLWLHVUHSURGXFWLRQ

Novos Cadernos NAEA

v. 18, n. 3, p. 293-307, set-dez. 2015, ISSN 1516-6481 / 2179-7536

Keywords

0D]]DURSL &XOWXUDO ,QGXVWU\ &DLSLUD FXOWXUH &LQHPD

Palavras-chave

0D]]DURSL ,QGúVWULD FXOWXUDO &XOWXUD FDLSLUD

&LQHPD

Mazzaropi e a indústria de cinema do Brasil: a

importância da comé

GLDFDLSLUDSDUDDFLQHPDWRJUDÀD

brasileira nos anos de 1950-1980

Mazzaropi and Brazil’s cinema industry: the importance of caipira comedy forbrazilian cinematography from 1950’s to 1980’s

Thaís Valvano - 0HVWUDQGD GR 3URJUDPD GH 3yV*UDGXDomR HP &LrQFLDV 6RFLDLV HP

(2)

INTRODUÇÃO

AmáFLR0D]]DURSLQDVFHXQDFDSLWDOGRHVWDGRGH6ão Paulo, mas foi no

LQWHULRUTXHSDVVRXSUDWLFDPHQWHWRGDDVXDYLGD$RVGRLVDQRVPXGRXVHFRP

os pais para Taubaté, onde passou boa parte da infâQFLD$FRVWXPDDRFRWLGLDQR

FDLSLUDDYLGDHRVFRVWXPHVGRLQWHULRUDYROWDD6ão Paulo aos sete anos foi um

GHVDÀRà medida que o menino teve que se adaptar novamente à cidade grande

0$726 $QRV PDLV WDUGH WDO FRQÁLWR GH DGDSWDção seria fortemente representado em váULRVGHVHXVÀOPHV

6XD LQIância e adolescrncia foram marcadas pela falta de recursos de sua família, seus pais não tinham muito dinheiro e quase sempre passavam

SRUSUREOHPDVÀQDQFHLURV(PXPGHOHVVHXSDLGHFLGLXYROWDUà Taubaté para

trabalhar na indústria trxtil da cidade, onde mais tarde Mazzaropi também

WUDEDOKRX 3RUém, desde criançD R VRQKR GH VHU DUWLVWD R GRPLQDYD $GRUDYD ir ao teatro e os personagens de que mais gostava eram os caipiras, que faziam grande sucesso no teatro desde a sua infância, como ele declarou na entrevista

TXHFRQFHGHXDUHYLVWD´9HMDµQRDQRGH

Na adolescrncia, Mazzaropi começou a se envolver diretamente com o

WHDWUR(OHPHVPRGL]LDTXHWUDEDOKDYDFRPWHDWUR´PDVQão como ator – eu pintava cenáULRV$OLáVHXDPDYDDSLQWXUDVHPSUHDPHLDSLQWXUD3RLVEHPXP

EHORGLD´SHUGLµRSLQFHOHUHVROYLVHJXLUDFDUUHLUDGHDWRUµ0$==$523, 3DUDHQWHQGHURVIDWRUHVTXHLQÁXHQFLDUDPDVFDUDFWHUísticas de Mazzaropi como ator é importante considerar o contexto brasileiro, principalmente na cidade

GH6ãR3DXOR3DUDWDQWRéYDOLGRREVHUYDURWUHFKRGRWH[WRGH&áVVLR6DQWRV0HOR

HPTXHRDXWRUFDUDFWHUL]DDFDSLWDOSDXOLVWDQRVDQRVDUJXPHQWDQGRTXH

“a presença marcante do estado, como grande exportador e produtor de café, são aspectos que na virada do séFXOR;,;SDUDR;;Yão delineando novos contornos ao estado como um todo e àVXDSULQFLSDOFLGDGH6ãR3DXORµ0(/2

A partir desses fatores, pode-se considerar que a arte não estava alheia a essas questões, principalmente as peças apresentadas em circos e teatros populares, pois estas visavam ao diálogo com o público, que respondia à medida

TXHVHLGHQWLÀFDYDFRPDVKLVWóULDVHQFHQDGDV

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Mazzaropi e a indústria de cinema do Brasil: a importância da comédia caipira

SDUDDFLQHPDWRJUDÀDEUDVLOHLUDQRVDQRVGH

WUDEDOKDUFRPFLQHPD'HVVHPRGRSDVVRXDVDWLUL]DUDOém dos sucessos dos

ÀOPHVHVWUDQJHLURVRVVHXVSUóprios colegas produtores que, segundo Mazzaropi, tinham um problema grande de não atentar para as necessidades do púEOLFR

Dizia ainda que seu sucesso advinha do trabalho que mostrava ao seu

púEOLFR6HJXQGRHOHVHXVÀOPHVRIHUHFHPGLVWUDçãRHPIRUPDGHRWLPLVPR´(X

UHSUHVHQWRRVSHUVRQDJHQVGDYLGDUHDO1ão importa se um motorista de praça,

XPWRUFHGRUGHIXWHERORXXPSDGUH(XGRFXPHQWRPXLWRPDLVDUHDOLGDGHGR

TXHFRQVWUXRµ0$==$523,(VVDé uma das principais peculiaridades

GH0D]]DURSLYLVWRTXHRSURGXWRUSULPDYDSRUÀOPDUHPFHQários reais, como uma praçDQDSHTXHQDFLGDGHGH6ão Luiz do Paraitinga ou o convento na cidade de TaubatéDÀPGHFULDUXPHQUHGRRPDLVSUóximo possíYHOGDUHDOLGDGH

Tais recursos cinematográÀFRVQão só possibilitaram um conhecimento

PHOKRUGRWLSRVRFLDOTXHHUDUHSUHVHQWDGRQRÀOPHFRPRJDUDQWLXRVXFHVVR

de púEOLFR0DVDQWHVGHDWLQJLUWDOVXFHVVRFRPRSURGXWRU0D]]DURSLMá era um artista muito conhecido por seus programas no rádio e na televisãR6XDHVWUHLD no cinema se deu através de um teste para protagonizar o pró[LPR ÀOPH GD

FRPSDQKLDGHFLQHPD9HUD&UX]1QRDQRGH6DLGDIUHQWHIRLRVHXSULPHLUR

ÀOPHODQçDGRQRPHVPRDQRHVHJXLGRSRURXWURVGRLVQDPHVPDFRPSDQKLD

Em razãRGDFULVHQD9HUD&UX]HOHIRLWUDEDOKDUQDFRPSDQKLD&LQHGLVWULRQGH aprendeu os recursos essenciais para produzir um longa-metragem, além de atuar em mais trrVÀOPHV$VVLPRDUWLVWDHVWDYDFDGDYH]PDLVSHUWRGHVHXVRQKR

$3$0),/0(6($&2162/,'$ÇÃ2'$&20É',$&$,3,5$12

&,1(0$%5$6,/(,52

&RPRUHFRQKHFLPHQWRGRSúblico, o sucesso de suas piadas, capital inicial para o investimento em um sonho, Mazzaropi funda a sua própria produtora cinematográÀFDQRDQRGH²D3URGXWRUD$Pácio Mazzaropi – 3$0ÀOPHV2

Quando questionado sobre os motivos que o levaram a arriscar tão alto, dizia:

´(XYLDRFLQHPDFKHLRGHJHQWHHPHXEROVRYD]LR7LQKDDSUHQGLGRXPSRXFR

de cinema e resolvi fazer minhas próSULDVÀWDV$ÀQDOPLQKDHPSUHVDVHULDD única que teria o artista principal trabalhando de graça”0$726S

,VVRSRGHVHUEHPDQDOLVDGRQDSUópria entrevista que Mazzaropi concedeu

DR0RYLPHQWRHP(OHGHIHQGLDTXHFDPLQKDYDUXPRà consolidação de

uma indústria cinematográÀFDEUDVLOHLUD

1 &ULDGD HP SHORV HPSUHVáULRV )UDQFR =DPSDUL H )UDQFLVFR 0DWDUD]]R 6REULQKR ´(VSHOKDGDHP+ROO\ZRRGIXQGDUDPD&RPSDQKLD&LQHPDWRJUáÀFD9HUD&UX]µ0$726

S

(4)

>@ WHQKR XPD VLWXDçãR H[FHSFLRQDO GHQWUR GR FLQHPD EUDVLOHLUR 9HMR LVVRSHORYROXPHGHÀWDV$3DP)LOPHVFRPSDQKLDGLVWULEXLGRUDTXHé PLQKDWHPÀOLDOQR5LRGH-DQHLURWHPVHGHSUóSULDHP%HOR+RUL]RQWH HP&XULWLED5HFLIH3RUWR$OHJUHHDPDWUL]DTXLHP6ão Pauto, onde WUDEDOKDPSHVVRDV(VWRXLQFOXVLYHDGLDQWDGRHPUHODção ao governo brasileiro, que pretende fazer um estúGLR HQWUH 6ãR 3DXOR H 5LR 0$==$523,

Esses dados não passavam despercebidos pelos críticos de cinema, inclusive existem fontes que mostram o interesse do governo da época nessas

questõHV$SHVDUGHRVDQRVGHWHUHPVLGRPDUFDGRVSRUXPIRUWHFRQWUROH

político estatal representado pelo regime militar, não se pode esquecer que um dos principais objetivos do governo era fomentar o processo de industrialização nacional, incluindo a indúVWULDFXOWXUDO7DODÀUPDção é vista no jornal Estado

GH6ãR3DXORGHGHRXWXEURGH)LJXUDTXHFREULXRHQFRQWURHQWUH

Mazzaropi e o presidente Médici que discutiram sobre o fomento da indústria cinematográÀFD6HJXQGRRMRUQDO´o presidente Médici disse que dará todo o apoio ao cinema nacional para transformá-lo em indústria”

)LJXUD²5HFRUWHGRMRUQDO(VWDGRGH6ãR3DXORGHGHRXWXEURGH

)RQWH &HQWUR GH 'RFXPHQWDçãR H 3HVTXLVD +LVWóULFD GD 8QLYHUVLGDGH GH 7DXEDWé &'3+81,7$8

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Mazzaropi e a indústria de cinema do Brasil: a importância da comédia caipira

SDUDDFLQHPDWRJUDÀDEUDVLOHLUDQRVDQRVGH

0$726SWDQWRTXHFULDYDDUWLIícios para fugir das fraudes que

RFRUULDPIUHTXHQWHPHQWH

O reconhecimento da importância de Mazzaropi na criação de uma indústria cinematográÀFD QDFLRQDO SDUHFLD HVWDU VRPHQWH QR HQFRQWUR FRP R presidente e em alguns críWLFRV TXH GHVWDFDYDP D SRSXODULGDGH GR SURGXWRU A críWLFD HVSHFLDOL]DGD HPJHUDO DQDOLVDYD RVÀOPHVPD]]DURSLDQRV GHIRUPD

SHMRUDWLYDPXLWDVYH]HVFKHJDQGRDGHVTXDOLÀFáORV&RQWXGRGHYHVHFRQVLGHUDU o interesse político dos próSULRVMRUQDLV

$ PDLRU SDUWH GRV UHODWRV VREUH RV ÀOPHV GH 0D]]DURSL HVWá focada principalmente em seus lançDPHQWRV$TXHVWão a se observar é que muitos críticos ressaltavam a falta de técnica, a precariedade de recursos e a repetição de enredos, ao mesmo tempo em que concordavam que se tratava de mais um sucesso de púEOLFR1RHQWDQWRH[LVWLDPDTXHOHVTXHUHVVDOWDYDPTXHRJUDQGHQúmero de

HVSHFWDGRUHVQRVÀOPHVGH0D]]DURSLFRQGL]LDFRPRVXEGHVHQYROYLPHQWRGR

Brasil, e que somente este condicionamento seria a explicação cabível para tal

VXFHVVR/2<2/$

Entretanto, salvo alguns críWLFRVPDLVFRQWHVWDGRUHVFRPR,JQácio de Loyola, a maioria ressaltava a importância do púEOLFRQRVÀOPHVGH0D]]DURSL7DPEém não era possível omitir essa questão, principalmente ao considerar a matéria de Paulo

0RUHLUD/HLWHSDUDRMRUQDO)ROKDGH6ãR3DXORGRGLDGHMXQKRGH

6ão duas mil pessoas, o trânsito está interrompido numa faixa da Avenida 6ão João, o Largo Paissandu está DJLWDGR8PDHVFRODGHVDPEDXPDEDQGD GRLQWHULRUDVGXDVPLVWXUDQGREDWXFDGDHPDUFKLQKDVDRPHVPRWHPSR 0RWRFLFOHWDVHYLDWXUDVGR'69VLUHQHVROGDGRVGD30HXPVDUJHQWR Dois caminhões de uma estação de televisão, holofotes, fotóJUDIRV(QWão, com 45 minutos de atraso, o gálaxie preto estaciona junto à calçada do cine Art-Palácio, para a cerimôQLDGHHVWUHLDGRÀOPH “JecãRXPIRIRTXHLUR no céu”025(,5$

Esses dados foram apresentados em 1977, quando Mazzaropi já havia consolidado a sua produtora que, a partir de sua fundação em 1959, passou a

SURGX]LUXPÀOPHSRUDQRHWRGRVGHUHODWLYRVXFHVVR

Os anos de 1970 foram fundamentais para a produçãRGH0D]]DURSL(P todos os lançamentos era esperado um grande núPHURGHSHVVRDV2SURGXWRU determinava que fossem feitas em méGLDFópias, que eram distribuídas a um grande núPHUR GH VDODV VLPXOWDQHDPHQWH 6DEHQGR TXH R VHX JUDQGH Súblico

HVWDYDHP6ãR3DXORRSURGXWRUVHJXUDYDDVÀWDVGXUDQWHXPPrs só no estado

GH6ãR3DXORSDUDGHSRLVGLVWULEXLUQR5LRGH-DQHLUR%HOR+RUL]RQWH&XULWLED

5HFLIHH3RUWR$OHJUH

(6)

Neste sentido, a crítica de Paulo Moreira Leite foi ainda mais enfática ao

DQDOLVDU DUHQGDGRVÀOPHVPD]]DURSLDQRVHVSHFLDOPHQWHR-HFD0DFXPEHLUR

(VWHÀOPHDWLQJLXXPWRWDOGHHVSHFWDGRUHVHPXPDQRGHH[LELção

– a maior bilheteria nacional do ano de 1975, atingindo 10,5 milhões de cruzeiros

025(,5$(VWDDÀUPDção sugere a demonstração da importância de Mazzaropi naquele momento, fato que, em certa medida, incomodava alguns críticos e chamava a atençãRGHRXWURVWDQWRV

Mais um grande sucesso era esperado pelo público de Mazzaropi no ano

GH2SURGXWRUHVWDYDODQçando a sua mais nova película intitulada O Jeca

FRQWUDR&DSHWD$RDQDOLVDUHVVDÀWDDOJXQVFUíticos diziam que ela foi inspirada

QRÀOPHQRUWHDPHULFDQR2H[RUFLVWDHTXHRSURGXWRUKDYLDIHLWRDVátira

SDUDDSURYHLWDURVXFHVVRTXHRÀOPHHVWUDQJHLURÀ]HUDQDVELOKHWHULDVGRPXQGR

WRGR&RQWXGRDFRPSDQKDQGRRXQãRRVXFHVVRGRÀOPHRTXHVHSRGHDÀUPDU

é que a intensão de Mazzaropi nãRHUDUHSURGX]LUÀHOPHQWHRHQUHGRGRÀOPH hollywoodiano, mas sim satirizá-lo e garantir ao púEOLFRPXLWDVULVDGDV

(PXPFRQWH[WRPDLVJHUDOSRGHVHGL]HUTXHHVWHÀOPHDJUHJDWRGDVDV SHFXOLDULGDGHVGRVÀOPHVPD]]DURSLDQRVPLVWXUDQGRFRPédia, questões sociais, violrncia e ingenuidade do caipira numa só produçãR7DLVIDWRUHVDSDUHFHPQD discussão sobre a aprovação ou não da Lei do Divórcio, nas brigas intermináveis entre os homens do meio rural, nas graças do jeca e na suposta falta de malícia

GDVSHVVRDVGRFDPSR

1HVWHDVSHFWRRÀOPHSRGHVHUFRQVLGHUDGRFRQWHVWDGRUQDPHGLGDHP

que se inicia com uma pesquisa de opiniãR2VMRUQDOLVWDVVDHPàs ruas querendo saber o que a população acha da Lei do DivóUFLR3DUDLVVR0D]]DURSLÀOPDD discussão em um cenário externo, como se reproduzisse, mais uma vez, o próprio cotidiano do seu púEOLFRQDVSHTXHQDVFLGDGHV'HVGHRFRPHço, a polrmica da aprovação da lei vai alterar as relaçõHVSHVVRDLVGDFLGDGH]LQKD$OJXQVYão gostar da ideia e outros tantos vãRÀFDUUHFHRVRVSULQFLSDOPHQWHDVPXOKHUHVTXHÀFDP

FRPPHGRGHSHUGHUVHXVPDULGRV

A observação que se constrói a partir dos acontecimentos retratados no

ÀOPHé de que a população do meio rural não estava preparada para a aprovação da lei do divórcio, pois somente a possibilidade de aprovação já alteraria as relações

SHVVRDLVQDTXHOHPHLR1HVWHVHQWLGRDOém de expressar os problemas causados por tal notícia, Mazzaropi procura dialogar com os próprios personagens do

ÀOPHFRPRRSDGUHSRUH[HPSOR

Assim, Mazzaropi cria um enredo sobre tradiçãR H PRGHUQLGDGH 6HXV

SHUVRQDJHQVÀFDPXPWDQWRTXDQWRatônitos com a modernização, que chegam

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Mazzaropi e a indústria de cinema do Brasil: a importância da comédia caipira

SDUDDFLQHPDWRJUDÀDEUDVLOHLUDQRVDQRVGH

conversa que o personagem PoluíGRWHPFRPRSDGUHGDFLGDGH,QFRQIRUPDGR com as mudanças que estavam ocorrendo no interior, o protagonista pergunta se o padre é a favor da lei do divóUFLRFRQÀUPDQGRDSRVLção contrária da igreja e,

FRQVHTXHQWHPHQWHDGRFDLSLUD

(QWUHWDQWRYDOHUHVVDOWDUTXHRÀOPHIRLSURGX]LGRHPHTXHDOHL

do divórcio só foi aprovada no Brasil em 1977, ou seja, havia uma discussão de âPELWR QDFLRQDO H R ÀOPH VH SRVLFLRQRX FRQWUário à QRYD OHL $Oém disso, legitimou a sua posição através de seus personagens, visto que os heróis da trama são contrários e os vilões a favor do divóUFLR

A análise que Zulmira Tavares4 fez sobre a representação do divórcio no

ÀOPHGH0D]]DURSLIRLFRQWXQGHQWH

Na verdade a qualidade de negra vilania emprestada ao divóUFLRGHÁDJUD toda a ação da estóULD SRU H[HPSOR R VHGXWRU &DPDUão, ao tomar conhecimento da lei do divórcio, ri satanicamente e tenta logo em seguida violentar a mulher do próximo: um revóOYHU GLVSDUD H &DPDUão morre (também por causa do divórcio, como se verá QRÀPPHQWHVHDUHVSHLWR de uma duvidosa herançD$PRWLYDção? O divóUFLR3RUém, como tanto os divorcistas (os vilõHV FRPR RV DQWLGLYRUFLVWDV RV KHUóLV DJHP GD maneira mais fora de propósito possível na defesa de um ou de outro SRQWRGHYLVWDDFUHGLELOLGDGHGHDPERVRVHQIRTXHVÀFDPXLWRGXYLGRVD 7$9$5(6

Além disso, esta é mais uma caracteríVWLFDGH0D]]DURSLH[SOLFLWDGDQRÀOPH Ele propõe uma questão e nãRDGHIHQGHGHIRUPDGHWHUPLQDGD3RUPDLVTXHÀTXH clara a sua posição sobre a questão do divórcio, por exemplo, ele a aborda de forma

VXSHUÀFLDOHLQVHULGDQXPDJDPDGHDFRQWHFLPHQWRVTXHHODDFDEDVHPDQLIHVWDQGR

apenas como uma consequrQFLDGRTXHVHGHVHQURODQDWUDPD

Portanto, é inviáYHOUHDOL]DUXPHVWXGRDSURIXQGDGRVREUHRÀOPH-HFD

FRQWUDR&DSHWDVHPDERUGDURVFDVRVVHSDUDGDPHQWH$QWHULRUPHQWHÀ]XPD

breve contextualização do enredo para demonstrar como os acontecimentos se

HQFDGHLDP 3RUWDQWR WRUQDVH QHFHVVário dar continuidade a essa explanação, porém de forma mais especíÀFDGHDFRUGRFRPRLQWHUHVVHGHFDGDSHUVRQDJHP que vai usar a questão do divóUFLRSDUDDWLQJLUVHXVREMHWLYRVRXSDUDVHGHIHQGHU

2ÀOPHSURSõe a discussão de váULRVWHPDVÉ evidente que o divórcio é o tema central, mas, além dele, destacam-se a obsessão da fazendeira rica, a prisão

GRÀOKRGHVHX3ROXído, a aparição de um advogado de defesa um tanto suspeito, o encontro de PoluíGRFRP-HVXV&ULVWRHDVáWLUDDRÀOPH2H[RUFLVWD7RGDHVVD rede de elementos da trama éUHWUDWDGDVLPXOWDQHDPHQWH3RUWDQWRQHVWHDUWLJR

(8)

me proponho a esquematizar tais questões não de acordo com o desenrolar do

ÀOPHPDVGHDFRUGRFRPRVFDVRVDERUGDGRV

Aproveitando para ameaçar Poluído, Dionísia inventa para o caipira que viu

$XJXVWRPDWDQGR&DPDUão e que o denunciaria caso o Jeca não se divorciasse para

VHFDVDUFRPHOD(VVDDPHDça acontece logo no iníFLRGRÀOPHHYDLVHHVWHQGHUSRU toda a história, fazendo com que PoluíGRDÀPGHVDOYDURVHXÀOKRÀTXHFDGDYH] mais envolvido na trama de DioníVLD2WíWXORGRÀOPH-HFDFRQWUDR&DSHWDWRUQD se emblemático em uma cena em que o caipira tem um pesadelo e vr Dionísia5

se transformar em demôQLR3RULVVRRFDSHWDQão é força de outro mundo, ao contrário, éUHSUHVHQWDGRQDVDWLWXGHVGDID]HQGHLUDDSDL[RQDGDSHOR-HFD

2XWURIDWRULPSRUWDQWHQRÀOPHé a aparição de um advogado contratado por Dionísia, que inventa para o povo da cidade que o divórcio já foi aprovado, e

TXHHOHUHVROYHULDRSURFHVVRGHTXHPTXLVHVVHVHGLYRUFLDU2SUREOHPDé que a lei não tinha sido aprovada e o advogado se aproveitava da ignorância das pessoas para ganhar dinheiro através da criação de um falso processo de divóUFLR$Oém disso, combinado com Dionísia, ele inventa uma herança que Poluído ganharia, para fazer com que ele e sua esposa assinassem o documento que, na verdade, seria o falso divóUFLR

Mesmo sendo falso, tanto Poluído quanto a sua mulher acreditavam estar

GLYRUFLDGRV$FRQIXVão só foi desfeita quando o Jeca vai procurar a fazendeira para tentar reaver os papeis e anular o divóUFLR1RHQWDQWRTXDQGRFKHJDà residrncia de Dionísia ouve a conversa da proprietária com o seu advogado, em

TXHDPERVULHPSRUWHUHPHQJDQDGRWRGDDFLGDGHHDÀUPDPTXHDOHLDLQGDQão

IRLDSURYDGD$ID]HQGHLUDDÀUPDDLQGDTXHIRLHODTXHPPDWRXR&DPDUão, e fez isso porque descobriu que a vítima planejava liquidáOD$RRXYLUWRGDDFRQÀVVão dos vilões, Poluído se dirige àGHOHJDFLDSDUDLQIRUPDUDRGHOHJDGRDGHVFREHUWD Essas análises são interessantes à medida que fortalecem o enredo e abordam questões importantes de forma suave e eufrmica, garantindo leveza à mensagem levada ao público, mesmo quando abordam temas como violrncia e desigualdade, representados pelas crueldades de Dionísia e do advogado quando usa o seu conhecimento e informaçãRSDUDWUDSDFHDU

Outra questãR LQWHUHVVDQWH GR ÀOPHé D SDVVDJHP GH -HVXV &ULVWR $ primeira cena em que Poluído aparece conversando com Jesus acontece quando o Jeca está desanimado com as injustiçDVGRPXQGR6HXÀOKRHVWDYDSUHVRR mundo se modernizando, sentia que não pertencia mais àTXHOHOXJDU(OHSDVVD então a questionar o motivo de existir tanta gente que faz o mal, mas que tem

5 Lembrando que Dionísia deriva do Deus grego Dionísio, conhecido como Deus da insânia e

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Mazzaropi e a indústria de cinema do Brasil: a importância da comédia caipira

SDUDDFLQHPDWRJUDÀDEUDVLOHLUDQRVDQRVGH

bastante dinheiro e tanta gente que só faz o bem e nãRWHPTXDVHQDGD$VVLP argumenta que dinheiro não traz felicidade e que a maior riqueza éVHUIHOL]

O interessante éTXHQRÀQDOGRÀOPHRSúEOLFRGHVFREUHTXH-HVXV&ULVWR

QDYHUGDGHHUDXPKLSSLH(VVDGHVFREHUWDFDXVDFHUWDFXULRVLGDGHSRLVQãRÀFD

GHÀQLGD D LQWHQção de Mazzaropi ao criar aquele personagem, podendo levar a várias interpretações, mas o fato é que o diálogo retoma a discussão sobre desigualdade econômica e injustiça social, e de certo modo não deixa de ser

UHSUHVHQWDGDGXUDQWHWRGRRÀOPH3RUém, essas questões reforçam a necessidade

GHHQWHQGHUHVVDDQDORJLDD&ULVWRWDOYH]SRUFRQWUDSRUR&DSHWDRXHQWão para mostrar um novo grupo social que se formava nos anos de 1970, os hippies

3RUÀPRúltimo aspecto que proponho analisar é a sáWLUDDXPGRVÀOPHV

KROO\ZRRGLDQRVGHPDLRUVXFHVVRQRVDQRVGH²2H[RUFLVWD0D]]DURSLQão

propôs a reproduçãRGRHQUHGRGRÀOPHSHORFRQWUáULR&RPRYLPRVDKLVWória é marcada por grandes acontecimentos norteados por um assunto muito distante

GRÀOPHQRUWHDPHULFDQR²TXHé o tema do divóUFLR1HVVHVHQWLGRRSURGXWRU demonstra de forma alusiva e lúdica que tais manifestações sobrenaturais podem

PXLWR EHP VHU H[SOLFDGDV QR PXQGR GRV KRPHQV 2 PHGR GDV SHVVRDVé que faz com que elas acreditem no fenômeno de incorporação do demôQLR3ROXído inclusive chega a acreditar que sua esposa está com o demônio no corpo, do mesmo

PRGRTXHDPHQLQDGRÀOPH´2HOHWULFLVWDµ7&RQWXGRQRÀQDOPDLVXPDYH]D

crença em poderes sobrenaturais é desfeita quando descobrem que a cama em que Poluído estava se mexia devido aos cachorros que estavam debaixo do móYHO

O que se pode entender dessa sátira, principalmente pela alusão aos fenômenos sobrenaturais, sendo explicados por fatores concretos, é que

0D]]DURSLSUHWHQGLDPRVWUDUFRPHVWHÀOPHTXHQãRHUDSUHFLVRSULRUL]DUÀOPHV estrangeiros para atingir o grande público, visto que o cinema nacional era capaz

GHSURGX]LUÀOPHVOXFUDWLYRV$Oém disso, o produtor mostrou que conseguia

ORWDUDVVDODVGHFLQHPDFRPÀOPHVVLPSOHVTXHDERUGDYDPGHIRUPDFômica e

leve assuntos do próprio cotidiano da populaçãRGRLQWHULRU(VVDKLSótese pode

VHUOHYDQWDGDDSDUWLUGRGHSRLPHQWRTXH0D]]DURSLFRQFHGHXDRMRUQDOLVWD&DFR %DUFHORVQRGLDGHDEULOGH

Muita gente faz cinema no Brasil para consumo próprio e não percebe que não faz sucesso porque vive divorciada do povo, falam uma linguagem intelectual e o povo nãRJRVWDGHSHQVDU$QDOLVHPEHPR7XEDUão, os

Em nenhuma das críWLFDV VREUH R ÀOPH HQFRQWUHL XPD H[SOLFDção sobre o personagem de

&ULVWR =XOPLUD 7DYDUHV GHIHQGH TXH HUD XP Vímbolo representativo que foi explicado no

PXQGRGRVKRPHQV

(10)

DPHULFDQRVID]HPHOHYDPRGLQKHLURGDTXL0HGá uma vontade de dar um soco nos beiços daquele bonecão quando ele aparece com aqueles dentãRQDWHOD3RUTXHQós nãRÀ]HPRVSDUDRGLQKHLURÀFDUDTXLPHVPR 0$==$523,

&RQVLGHUDQGRDPHVPDOóJLFDGRÀOPHTubarão SDUD2H[RUFLVWD

RTXH0D]]DURSLFULWLFDé DIDOWDGHLQYHVWLPHQWRQRFLQHPDQDFLRQDO

4XDQGRHOHLQGDJDRPRWLYRGHQHQKXPFLQHDVWDEUDVLOHLURWHUIHLWRRÀOPHDQWHV GH+ROO\ZRRGPRVWUDWRGRRVHXUHVVHQWLPHQWR(DUJXPHQWDTXHVHRÀOPH

tivesse sido produzido no Brasil, o sucesso e os lucros poderiam fomentar a indústria cinematográÀFDQDFLRQDOHQãRDXPHQWDURVOXFURVHVWUDQJHLURV

$LQGDQHVWHGHSRLPHQWR0D]]DURSLFRPHQWDRVXFHVVRGRÀOPHGH

EntãRHXÀ]HVWHDQRR Jeca Contra o Capeta achando que nunca mais atingiria rendas tãRDOWDVFRPRDVRXWUDV0DVWLYHRXWUDDJUDGável surpresa: um milhão de pessoas jáYLUDPDÀWDTXHHVWá na quinta semana do circuito 6HUUDGRUHP6ãR3DXORÉXPDEDUEDULGDGH0$==$523,

O seu discurso nãRPXGD2VXFHVVRGHVHXVÀOPHVé constantemente

FRPSDUDGRFRPRVÀOPHVHVWUDQJHLURVVHQGRTXHDOJXQVGHOHVSHUGHPHVSDço

para a exibiçãRGRVÀOPHVGR-HFD

O depoimento “Jeca contra o tubarão” é ainda mais interessante quando se

DQDOLVDPRVGHSRLPHQWRVGHSHVVRDVFRPXQVTXHDVVLVWHPDRVÀOPHVGR0D]]DURSL SULQFLSDOPHQWHGDFLGDGHGH6ãR3DXOR2SUóprio produtor defende que a capital paulista é um lugar de caipiras, chegando a caracterizar a variedade que existe na

FLGDGH(PXPWUHFKR0D]]DURSLGHIHQGHDVXDSRVLção no sentido de produzir

ÀOPHVGHDFRUGRFRPRTXHRSúEOLFRFDLSLUDGHVHMDHQFRQWUDUQRFLQHPD

6HPSUH PH SUHRFXSHL FRP R FDERFOR R FDLSLUD TXH IRL PXGDQGR VHX temperamento, na medida em que a sociedade entrava na onda do GHVHQYROYLPHQWR$QWLJDPHQWHHXFRQWDYDXPDKLVWória ingrnua e todos JRVWDYDP(XGL]LDTXHTXHULDFDVDUFRPXPDQDPRUDGDPDVRSDLGHOD nãRTXHULDGHL[DU'HSRLVHXIDODYDTXHLDGDUXPWLURQRPHXRXYLGRH outro no dela, para nós dois juntinhos nos unirmos no céu e era o maior VXFHVVR+RMHRSRYRGá gaitada disto, acha ridíFXOR(OHVHVWão com a TV em casa e não querem mais saber de riscar o dedão no chão como faziam DQWHV0$==$523,

Essa conscirncia da importância do seu público é a grande defesa do produtor, principalmente ao rebater as críticas sobre a falta de qualidade do seu

WUDEDOKR 6HJXQGR HOH TXDOTXHU HQUHGR TXH IRU FULDGR UHVSHLWDQGR D RSLQLão e a vontade do púEOLFR WHQGH DR VXFHVVR 3DUD DUJXPHQWDU HVVD TXHVWão, cita

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Mazzaropi e a indústria de cinema do Brasil: a importância da comédia caipira

SDUDDFLQHPDWRJUDÀDEUDVLOHLUDQRVDQRVGH

desgraçado”, como ele mesmo relata, mas que atingiu sucesso de púEOLFR3DUD Mazzaropi, o púEOLFRYDLDSODXGLUWDQWRRÀOPHTXHOKHID]ULUTXDQWRRVTXHOKH faz chorar, mas que, no entanto, seja condizente com a realidade e possibilidades de compreensãRGRVHVSHFWDGRUHV

$HVFROKDGRÀOPHGHSDUDDQDOLVDURVXFHVVRGH0D]]DURSLFRPR

produtor cinematográÀFRQão foi aleatória, visto que foi o que atingiu8 a maior

ELOKHWHULDGHVXDFDUUHLUDVXSHUDQGRLQFOXVLYHÀOPHVHVWUDQJHLURV6REUHLVVRR

produtor defende que:

>@HQTXDQWRR-HFDEULJDFRPRGLDERQDVWHODVGRVFLQHPDVSDXOLVWDV &KDUOHV%URQVRQHRXWUDVÀWDVHVWUDQJHLUDVWHUão que esperar a vez com muita ‘humildade’”, diz Mazzaropi sorridente e às vezes debochado: “porque eu mesmo não esperava tanto sucesso com O Jeca contra o &DSHWD0$==$523,9

Nos depoimentos e entrevistas Mazzaropi não esconde a alegria de superar

DVÀWDVHVWUDQJHLUDVHPQúmero de púEOLFR&RPRMá mostrado, sua intenção era criar uma indústria cinematográÀFDEUDVLOHLUD3DUDHOH´HQTXDQWRRSDís continuaar abrindo espaçRSDUDRVÀOPHVHVWUDQJHLURVWHUá menos chance de investir em produções próSULDVµ$SUópria independrncia de Mazzaropi em relação à sua produção éSURYDGHVVHFRQWH[WR2IDWRGHXWLOL]DUUHFXUVRVÀQDQFHLURVSUóprios na realizaçãRGHXPÀOPHPRVWUDDGLÀFXOGDGHGHUHFHEHULQFHQWLYRH[WHUQR2 fator positivo é que a renda própria, aléPGHVHUVXÀFLHQWHSDUDRVJDVWRVFRP a produção de um longa-metragem, ainda garante a manutenção e aquisição de equipamentos cinematográÀFRVPDLVPRGHUQRV

Neste sentido, o fato de o tíWXORGRGHSRLPHQWRGH0D]]DURSLD&DFR Barcelos ter sido “Jeca contra o tubarãRµGHÀQHH[DWDPHQWHHVVDSUREOHPática

TXHRSURGXWRUWDQWRGHIHQGLD$Oém de ser contra a abertura que o Brasil dava à exibiçãRGHÀOPHVQRUWHDPHULFDQRVQão via nas produções nacionais um estímulo à produçãRGHÀOPHVGHVXFHVVRSRLVHPVXDRSLQLão, muitos intelectuais se

SUHRFXSDYDPPDLVHPSURGX]LUÀOPHVTXHURPSHVVHPSDUDGLJPDVGRTXHVH

atentar para a vontade do púEOLFRFRQVXPLGRU

8 &U(VSHFWDGRUHV0rs de lançDPHQWRIHYHUHLUR)LJXUDHPº lugar QDOLVWDGDVPDLRUHVUHQGDVGRÀOPHQDFLRQDOHP)LJXUDHPº lugar na lista das

´PDLRUHVUHQGDVGRÀOPHQDFLRQDOQRSHUíRGRGHDQRV´GHMXOKRGHDGH]HPEURGH

)LJXUDHPºOXJDUQDOLVWDGDV´PDLRUHVUHQGDVGRÀOPHQDFLRQDOQRSHUíodo de julho

GHDMXQKRGHFRPDUHQGDGH&UHFRPHVSHFWDGRUHVµ

DisponíYHOHPKWWSZZZFLQHPDWHFDJRYEUFJLELQZ[LVH[HLDK",VLV6FULSW LDKLDK[L

V EDVH ),/02*5$),$ ODQJ S QH[W$FWLRQ OQN H[SU6HDUFK ,' IRUPDW GHW DLOHGSIW

(12)

2 MAZZAROPI E A CRÍTICA AO CINEMA NOVO

Em 1970, Mazzaropi concedeu uma entrevista à revista Veja, na qual ele

DQDOLVDRSDQRUDPDGRFLQHPDQDFLRQDO(VVDHQWUHYLVWDé importante, na medida em que ele fala do seu sucesso com o público, da sua visão sobre o cinema como indústria e critica as produçõHVGR&LQHPD1RYR6,021$5'$ entrevista “O Brasil é meu público”, que foi concedida ao jornalista Armando

6DOHPHPGHMDQHLURGHVHUá a fonte utilizada para estabelecer a relação

HQWUH0D]]DURSLHR&LQHPD1RYR

Para entender a crítica de Mazzaropi é preciso antes entender o surgimento

GR&LQHPD1RYRHVXDSURSRVWD6HJXQGRRDUWLJRGH$UPDQGR6DOHPDSURSRVWD

era criar um estilo próprio de fazer cinema no Brasil, e não reproduzir o modo de vida norte-americano, que era difundido principalmente atravéVGRVÀOPHV

GH+ROO\ZRRG(UDQHFHVVáULRFULDUXPDLGHQWLGDGHQDFLRQDO3RULVVRHUDPXLWR comum a produçãRGHÀOPHVTXHUHWUDWDVVHPRVXEGHVHQYROYLPHQWRGRSDís, que denunciasse questõHVVRFLDLV$Oém disso, não reconheciam que havia uma produçãRGHÀOPHVQDFLRQDLVDQãRVHUSHODSURGXWRUD9HUD&UX]HSHORVÀOPHV

de chanchadas10GRVDQRVGHH

2VÀOPHVGHFKDQFKDGDVGHL[DUDPGHID]HUVXFHVVRQRÀQDOGRVDQRVGH

1950 porque não acompanharam a mudança pela qual a população brasileira

SDVVDUDQHVVHVDQRV1DFHQDSDXOLVWDDFRPSDQKLD9HUD&UX]IXQGDGDHP

tinha a proposta de criar uma indústria cinematográÀFDQDFLRQDOTXHSURGX]LVVH

ÀOPHVGHTXDOLGDGH3DUDLVVRVHXVFULDGRUHVQão pouparam recursos para contratar

SURÀVVLRQDLV HVWUDQJHLURV H HTXLSDPHQWRV GH DOWD TXDOLGDGH 2 SUREOHPDé que

WDLVLQYHVWLPHQWRVIRUDPPDLRUHVTXHDUHQGDGHVHXVÀOPHVID]HQGRFRPTXHD SURGXWRUDHQWUDVVHHPFULVHÀQDQFHLUDYLQGRDIDOLUSRXFRVDQRVGHSRLV

6HJXQGR5DPRVDSURGXWRUD9HUD&UX]WDPEém não obtinha o

UHWRUQRÀQDQFHLURSRUTXH

>@ D HPSUHVD SUHRFXSDYDVH DSHQDV FRP D SURGXção, deixando a distribuição a cargo de multinacionais tambéPSURGXWRUDVGHÀOPHVHTXH não tinham interesse nenhum em ceder um pedaço do seu mercado para o FLQHPDEUDVLOHLUR5$0261HVVHVHQWLGRR&LQHPD1RYRDSDUHFH como uma forma de se diferenciar das experirncias anteriores e propor a produçãRGHÀOPHVEDUDWRVHFRQGL]HQWHVFRPDUHDOLGDGHGHXPSDís em GHVHQYROYLPHQWR6HXVLGHDOL]DGRUHVGHIHQGLDPTXHXPÀOPHGHTXDOLGDGH pode ser feito com apenas uma câmera na mão e uma ideia na cabeçD

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Mazzaropi e a indústria de cinema do Brasil: a importância da comédia caipira

SDUDDFLQHPDWRJUDÀDEUDVLOHLUDQRVDQRVGH

Mazzaropi acompanhara todo esse processo, inclusive chegou a trabalhar

QD SURGXWRUD 9HUD &UX] RQGH SURGX]LX WUrV ÀOPHV 6DELD GRV SUREOHPDV GD SURGXWRUDSDVVDYDHHPFHUWDPHGLGDRTXHFDXVDUDHVVHVSUREOHPDV8PGHOHV

evidentemente era a distribuição, tanto que, logo após a criação de sua produtora, Mazzaropi tratou logo de criar uma distribuidora para impedir os desvios

ÀQDQFHLURVDOéPGHFRQWUDWDUÀVFDLVSDUDHYLWDUIUDXGHVQDVVDODVGHH[LELçãR Muito do sucesso do cineasta deveu-se aos seus cuidados desde o processo de produção até a exibiçãRGHXPÀOPH

Observando o quadro cinematográÀFRQR%UDVLO0D]]DURSLID]LDPXLWDV críticas em relaçãRDR&LQHPD1RYR2EVHUYDYDTXHDVSURGXções neste grnero não atingem o grande púEOLFR6HJXQGRHOHLVVRHUDSUHMXGLFLDOQDPHGLGDHP

TXH GLIHUHQWHPHQWH GRV ÀOPHV SURGX]LGRV SHOD 3$0 ÀOPHV Qão ajudam a indúVWULDGHFLQHPDQR%UDVLO

Não posso falar pelos outros porque não conheço os resultados dos núPHURVGDTXLORTXHHOHVID]HP7HQKRPXLWDYDLGDGHHPGL]HUTXHHXQão tenho nenhum problema de exibiçãRGHPHXVÀOPHV2VH[LELGRUHVID]HP ÀODQDSRUWDGD3DP)LOPHV2SúEOLFRYDLYHUPLQKDVÀWDVHVDLVDWLVIHLWR Eu jáFRQVHJXLFRORFDUSHVVRDVQXPGLDQDVYárias sessões do Art PaláFLR HP 6ãR 3DXOR &RP LVVR DQGR GH FDEHçD HUJXLGD $JRUD SHOR RXWURWLSRGHÀOPHIHLWRQR%UDVLOQãRUHVSRQGR1ão sei se ele pode ajudar a indústria cinematográÀFDQDFLRQDO0$==$523,

$LQGDVREUHR&LQHPD1RYRFDUDFWHUL]DRFRPRHVWLORIHLWRSDUDXPD PLQRULDGHLQWHOHFWXDLV

Não, eu nãRWHQKRQDGDFRQWUDHOH6ó acho que a gente tem que se decidir: RXID]ÀWDSDUDDJUDGDURVLQWHOHFWXDLVXPDPLQRULDTXHQão lota uma ÀOHLUDGHSROWURQDVGHFLQHPDRXID]SDUDRSúblico que vai ao cinema em busca de emoçõHVGLIHUHQWHV2Súblico é simples, ele quer rir, chorar, YLYHUPLQXWRVGHVXVSHQVH1ão adianta tentar dar a ele um punhado de absurdos: no lugar da boca põe o olho, no lugar do olho põHDERFD,VVR éSDUDDJUDGDULQWHOHFWXDO0$==$523,

O ressentimento de Mazzaropi está no fato de os intelectuais reconhecerem

DTXDOLGDGHGRVÀOPHVGR&LQHPD1RYRPDVQãRDGRVVHXV3DUDRSURGXWRU

o cinema nacional só se transformará em indústria quando os espectadores

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É válido ressaltar que a proposta deste trabalho não éGHVTXDOLÀFDUDSURGXção

GR&LQHPD1RYRSHORFRQWUáULR5HFRQKHFHPRVTXHRPRPHQWRSROítico no qual

HVVHV ÀOPHV HUDP SURGX]LGRV GLÀFXOWDYD PXLWR D GLYXOJDção dos mesmos, fator que pode explicar a falta de púEOLFR&HQVXUDIDOWDGHLQYHVWLPHQWRHUHFXUVRVVão temas importantes que estão além das margens desse artigo, mas são de fundamental importâQFLDSDUDHVWXGRVVREUHDFLQHPDWRJUDÀDEUDVLOHLUD$LQWHQção deste trabalho, portanto, foi reabilitar a produção de Mazzaropi através do resgate da visão do cineasta sobre o cinema brasileiro, pois, antes de ser um empresário que visava ganhar muito

SRUGLQKHLURHOHHUDXPSURGXWRUTXHWLQKDXPVRQKR

Mazzaropi defendia que o seu sucesso e o seu dinheiro eram resultados do diáORJRTXHVHXVÀOPHVVHPSUHPDQWLYHUDPFRPRSúEOLFR(OHQão via cinema apenas como arte, mas também como um negóFLR1DVHQWUHYLVWDVDQDOLVDGDVIRL possível perceber que seus planos e desejos eram os mesmos: continuar fazendo de seu negócio a arte de entreter o púELFR

REFERÊNCIAS

$5$Ó-2,¶2&RULQWLDQR·pXPDGDVJUDQGHVFRPpGLDVIHLWDVSRU0D]]DURSLµFolha

de São Paulo6mR3DXORMXQ

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%$5&(/26&-HFDFRQWUDRWXEDUmRJornal Movimento6mR3DXORGHDEULOGH

%$56$/,1,*MazzaropiR-HFDGR%UDVLO6mR3DXORÉWRPR

%285',(8 3Coisas Ditas 7UDGXomR GH &iVVLD 5 GD 6LOYHLUD H 'HQLVH 0RUHQR

3HJRULP6mR3DXOR%UDVLOLHQVH

%5$*$1d$0´-HFD7DWXSRU0D]]DURSLµIpotesi-XL]GH)RUDYQS

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&$1','2$Os parceiros do Rio Bonito.6mR3DXOR'XDV&LGDGHV(G

)$6621,26DLGHEDL[R0D]]DURSLFolha de São Paulo6mR3DXORMXQ

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7HUUD

)216(&$5RGULJR'RFXPHQWiULRPRVWUDLPSRUWkQFLDGH0D]]DURSLO Globo5LR

GH-DQHLURIHY

)5(66$726%Caipira sim, trouxa não:representações da cultura popular no cinema GH0D]]DURSL6DOYDGRU('8)%$

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Mazzaropi e a indústria de cinema do Brasil: a importância da comédia caipira

SDUDDFLQHPDWRJUDÀDEUDVLOHLUDQRVDQRVGH

/($/91Coronelismo, enxada e voto6mR3DXOR$OID2PHJD

/,0$17Um sertão chamado Brasil5LRGH-DQHLUR5HYDQ

/2<2/$,$&RQWULEXLomRGH0D]]DURSLSDUDR5HWURFHVVRÚltima Hora6mR3DXOR

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Movimento,GHDEULOGH

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Revista de História e Estudos CulturaisYQMDQPDU

0(1'21d$ 6 5 $V EDVHV GR GHVHQYROYLPHQWR FDSLWDOLVWD GHSHQGHQWH GD LQGXVWULDOL]DomRUHVWULQJLGDjLQWHUQDFLRQDOL]DomR,Q/,1+$5(60<2UJHistória

geral do Brasil5LRGH-DQHLUR&DPSXVS

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025(,5$9-.LQGXVWULDOL]DomRHPRGHORROLJiUTXLFRGHGHVHQYROYLPHQWR,Q 1Ð92$-)5(66$726%)(,*(/621.2UJCinematógrafo – um olhar VREUHDKLVWyULD6DOYDGRU('8)%$6mR3DXOR('81(63

257,=5A moderna tradição brasileira6mR3DXOR%UDVLOLHQVH

3$0),/0(6. O jeca contra o capeta'LUHomR3LR=DPXQHUH$PiFLR0D]]DURSL

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5$026)2UJHistória do Cinema Brasileiro6mR3DXOR$UW

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52'5,*8(60O Brasil na década de 1950HG6mR3DXOR0HPyULDV

6$/(0$2%UDVLOpPHXS~EOLFRRevista Veja6mR3DXORGHMDQHLURGH

6,/9$)2UJHistória e imagem

5LRGH-DQHLUR8)5-6,021$5'3A geração do Cinema NovoSDUDXPDDQWURSRORJLDGRFLQHPD5LR

GH-DQHLUR0DXDG

7$9$5(6='HSHUQDVSURDUJornal Movimento, DEU

72/(17,12&O rural no cinema brasileiro6mR3DXOR('81(63

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Referências

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