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Democracia e o dilema da ação coletiva: para que serve o voto?

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Academic year: 2021

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Democracia e o dilema da ação coletiva: para que serve o voto?

Cesária Catarina Carvalho Ribeiro de Maria Souza* Resumo: O presente artigo tem por escopo trazer reflexões sobre a função do voto dentro do regime democrático de governo, a partir de um diálogo com as teorias de Joseph Schumpeter, Robert Dahl e Adam Przeworski. Buscar-se-á, primeiramente, trazer as diferentes concepções de democracia, bem como as considerações sobre o voto trabalhadas pelos autores. Por fim, pretende-se analisar a relação entre as instituições e o comportamento dos indivíduos, a partir da teoria da lógica da ação coletiva, desenvolvida por Mancur Olson e de um breve diálogo com Douglass North. As reflexões desenvolvidas nesse trabalho não objetivam esgotar os temas democracia e voto, em razão da sua complexidade, mas apenas analisar e contrapor as teorias desenvolvidas pelos autores apresentados.

Palavras-chave: Voto; Regime democrático; Ação Coletiva; Comportamento Político. Abstract: This article has the purpose to bring reflections on the role of voting in a democratic system of government, from a dialogue with the theories of Joseph Schumpeter, Robert Dahl and Adam Przeworski. First, it will bring different conceptions of democracy, as well as considerations on voting presented by the authors. Finally, we intend to analyze the relationship between institutions and the behavior of individuals, from the theory of the logic of collective action byMancur Olson and from a brief dialogue with Douglass North theory. The reflections developed in this work does not aim to exhaust the democracy and voting issues, because of its complexity, but it will analyze and contrast the theories developed by the submitted authors.

Keywords: Vote. Democratic regime. Collective Action. Political Behavior. I – Democracia e voto

A democracia pode ser tratada a partir de perspectivas diversas, não havendo um conceito preciso nem uma finalidade específica estabelecidos pela teoria política contemporânea. Schumpeter, em sua obra Capitalismo, socialismo e democracia, analisa a teoria clássica da democracia, desenvolvida no século XVIII, tecendo-lhe algumas críticas. Para o autor, o método democrático, na concepção clássica, é o “arranjo institucional para se chegar a certas decisões políticas que realizam o bem comum, cabendo ao próprio povo decidir, através da eleição de indivíduos que se reúnem para cumprir-lhe a vontade.” (SCHUMPETER, 1961, p.300).

A democracia clássica tem como finalidade a busca pelo bem comum, partindo da premissa de que há uma vontade comum, um consenso sobre o que seria bom para todos. E, para que “funcione”, o cidadão só dever ser consultado em situações extremas, ou seja, para a tomada de decisões políticas relevantes, enquanto para outras decisões deve ser formado um parlamento, composto de representantes eleitos pelo povo e, para solucionar questões de cunho administrativo, deve haver um governo, representado por

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um primeiro - ministro. As decisões do parlamento e do governo são pautadas na vontade geral, visando à consecução do bem comum (SCHUMPETER, 1961, p. 301).

No entanto, a crítica de Schumpeter diz respeito à dificuldade em se definir, de forma inequívoca, o que é bem comum, já que as pessoas e os grupos podem ter interesses diversos ou os seus interesses podem ter significação diversa. Dessa construção teórica, pode-se extrair que a oposição estará sempre presente numa democracia, ante a possibilidade de uma minoria almejar interesses contrários ao da maioria.

Nesse contexto, é importante ressaltar que a vontade geral não pode ser compreendida como uma soma de vontades particulares, uma vez que o indivíduo não se encontra isolado, distante das pressões e influências de grupos e de informações. Em apertada síntese, na democracia clássica, “o povo tem uma opinião definida e racional a respeito de todas as questões e que manifesta a sua opinião pela escolha de representantes que se encarregam de sua execução”. (SCHUMPETER, 1961, p. 322).

A teoria schumpeteriana propõe uma inversão dos “papéis”, na qual cabe ao povo a formação de um governo, de um corpo intermediário – que, na teoria rousseauniana, é o corpo responsável por levar os anseios dos cidadãos ao soberano. Assim, a democracia pressupõe uma competição pelo voto do cidadão para que os indivíduos ou grupos aufiram a liderança política, sendo considerada como um “sistema institucional, para a tomada de decisões políticas, na qual o indivíduo adquire o poder de decidir mediante uma luta competitiva pelos votos do eleitor.” (SCHUMPETER, 1961, p. 322).

Dessa forma, a existência da democracia pressupõe uma concorrência pela liderança política, que só será obtida através do voto. No entanto, a questão que se coloca é que o eleitor não tem uma liberdade absoluta para formar o governo, já que terá que escolher dentro das opções definidas e apresentadas pelas lideranças políticas. Assim, na lógica da “teoria da liderança competitiva”, os partidos políticos ocupam um papel crucial, sendo responsáveis por definir e coordenar as lideranças que participarão da competição política para alcançar ou conservar o poder.

O método democrático proposto por Schumpeter deve ser entendido como um instrumento de seleção de líderes políticos, dentre aqueles previamente escolhidos pelas elites políticas. O voto deixa de ser visto como um instrumento para a escolha de representantes, passando a ter a função de ratificar a vontade da elite política e, consequentemente, de aceitar a liderança. Nesse sentido, a democracia não significa

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“governo do povo”, mas sim “que o povo tem oportunidade de aceitar ou recusar aqueles que o governarão”, através de uma competição “livre entre possíveis líderes pelo voto do eleitorado”. (SCHUMPETER, 1961, p. 340).

Verifica-se que a competição é um ponto crucial no debate acerca da democracia. A teoria schumpeteriana equipara a livre competição de lideranças à livre concorrência de mercado, considerando que, dentro do “mercado de lideranças”, o eleitor “compra” o melhor “produto”. O tema também é presente na teoria de Dahl (2012) sobre a democracia, somado aos elementos: contestação pública e direito de participação. Para o autor, a competição, somada à participação ampliada, é capaz de modificar as lideranças políticas, já que possibilita a participação dos grupos menos representados na composição do parlamento e do governo.

É importante esclarecer que os elementos contestação pública e participação não variam de forma dependente, o que demonstra que um regime mais restritivo (com relação ao voto) pode garantir mais oportunidades de oposição, ao passo que um regime mais inclusivo pode ter um governo mais intolerante à contestação, portanto o crescimento da participação e da contestação pública não garante uma democratização plena segundo Dahl (2012, p. 29-31), que chega a afirmar que hegemonias inclusivas podem permitir a popularização (maior participação) sem liberalizar a contestação pública, enquanto oligarquias competitivas tendem a liberalizar sem popularizar, de forma que a contestação pública é ampliada e a participação restringida.

Entretanto, quando as hegemonias inclusivas e as oligarquias competitivas se transformam em poliarquias, tendem a garantir maior participação e oposição, visto que as poliarquias podem ser compreendidas como regimes mais democráticos, que “foram substancialmente popularizados e liberalizados, isto é, fortemente inclusivos e amplamente abertos à contestação pública.” (DAHL, 2012, p.31).

No que tange à participação e à contestação, as teorias de Schumpeter (1961) e de Dahl (2012) se contrapõem. Para Schumpeter, a participação do cidadão, através do voto, tem a finalidade de ratificar a escolha das elites; em contrapartida, Dahl propõe que através de uma participação ampla e de um direito de contestar menos restrito, as lideranças políticas podem ser modificadas e isso garante um espaço para a coexistência de interesses conflitantes entre maioria e minoria.

Dahl parte da premissa que a ampliação da participação e da oposição está relacionada ao nível de tolerância por parte do governo, ou seja, “quanto maior o conflito entre governo e oposição, mais provável é o esforço de cada parte para negar

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uma efetiva oportunidade de participação à outra nas decisões políticas”. A tolerância do governo à oposição cresce à medida que os custos para a sua supressão aumentam e, segundo um dos axiomas formulados pelo autor, “quanto mais os custos da supressão excederem os custos da tolerância, tanto maior a possibilidade de um regime competitivo.” (DAHL, 2012, p.36-37). Assim, o governo mais democrático é aquele que garante maior tolerância à contestação pública e atua como uma espécie de mediador entre os seus interesses e o da oposição.

Cabe ressaltar que Dahl coloca entre as garantias1 de um regime democrático a liberdade de criação e de filiação a organizações, bem como a previsão de instituições que busquem a tutela dos instrumentos de participação e de oposição, o que demonstra que a adesão de indivíduos a organizações coletivas é um importante instrumento para garantir a participação e a oposição.

A competição, a possibilidade de oposição e a participação também são presentes na teoria construída por Przeworski, em sua obra Democracia e Mercado. Para ele, a democracia

[...] é um sistema em que os partidos perdem as eleições. Na democracia há partidos, isto é, divergências de interesses, valores e opiniões; há competição organizada segundo as regras estabelecidas e, periodicamente, alguns são perdedores e outros, vencedores. (PRZEWORSKI, 1994, p. 25)

Dentro de uma democracia temos a disputa entre forças políticas antagônicas e, portanto, as instituições e os recursos disponíveis são os pontos-chave para o êxito na disputa eleitoral, uma vez que os investimentos e os recursos disponíveis pelos grupos são desiguais e tende ao sucesso aquele grupo que retrata o interesse social dominante e que tem acesso a melhores recursos, inclusive os econômicos.

O processo democrático, segundo Przeworski, é a institucionalização da disputa, dentro de um contexto de incerteza com relação aos resultados, uma vez que os atores não sabem o que pode acontecer, embora saibam o que é possível, mas que não é provável ou então sabem o que possível e provável, mas não sabem o que vai acontecer (PRZEWORSKI, 1994, p. 28).

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Segundo Dahl, nas democracias, as instituições devem proporcionar oito garantias: 1) Liberdade de formar e aderir a organizações; 2) Liberdade de expressão; 3) Direito de voto; 4) Elegibilidade para cargos públicos; 5) Direito de líderes políticos disputarem apoio e votos; 6) Garantia de acesso a fontes alternativas de informação; 7) Eleições livres e idôneas e 8) Instituições para fazer com que as políticas governamentais dependam de eleições e de outras manifestações de preferência. (DAHL, 2012, p.27)

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Dentro de um regime democrático, há sempre a oportunidade para que grupos distintos lutem por seus interesses em função da periodicidade da competição, materializada pelas eleições. E, por esse motivo, acreditando que possa vencer a disputa futura e satisfazer seus interesses, o grupo “perdedor” aceita o resultado.

Portanto, a democracia funciona como um sistema de equilíbrio, em que as regras institucionais se sobrepõem aos interesses dos grupos, de forma que estes aceitam os resultados, mesmo que desfavoráveis, ao invés de se voltarem contra as instituições. Estas favorecem a negociação entre as forças políticas, o que é fundamental dentro de um sistema democrático.

Uma questão a ser levantada refere-se ao porquê da adesão dos grupos à democracia. Segundo Przeworski, a aceitação das instituições democráticas se dá em função da coerção exercida pelo Estado, através da imposição das regras institucionais, bem como pela “segurança contra a violência arbitrária” (PRZEWORSKI,1994, p. 53), já que, para alguns grupos, é mais seguro aceitar a derrota, do que se voltar contra a democracia.

A ideia de equilíbrio trazida por Przeworski (1994) reside no fato de que os governos devem acatar todos os interesses políticos na tomada de decisões e na implementação de políticas públicas, ao mesmo tempo em que não devem permitir que determinados grupos de interesses bloqueiem a efetivação das decisões políticas a fim de desestabilizá-los.

Refletindo sobre o voto, sua função é a de ratificar os resultados dentro do processo democrático, que decorrem “de negociações entre os líderes das forças políticas e não de um processo universal de deliberação”, ou ainda de “confirmar o poder dos responsáveis por esses resultados” (PRZEWORSKI,1994, p.29).

Assim, nos parece que as teorias democráticas de Dahl e Przeworski se coadunam, enquanto a de Schumpeter se contrapõe às demais ao não trazer para o debate a possibilidade de participação, de oposição e de negociação dentro do arranjo institucional, ao considerar que o voto apenas aceita e ratifica as escolhas das lideranças políticas.

II - O papel das instituições e o dilema da ação coletiva

A discussão sobre a forma pela qual se constituem e se organizam as instituições é recorrente na teoria política contemporânea e, portanto, faz-se necessário refletir sobre

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o papel das instituições a partir de um diálogo entre a teoria de Olson, sobre a lógica da ação coletiva, e a de North.

A teoria sobre a lógica da ação coletiva busca explicar porque os indivíduos se organizam, coletivamente, para prover bens comuns, ao invés de os buscarem individualmente. Segundo a teoria olsoniana, o que estimula os indivíduos a formarem grupos são: a existência de bens coletivos e os custos para o seu provimento, de forma individual.

No entanto, o dilema da ação coletiva consiste no fato de que, dentro de um grupo, o indivíduo racional tende a não cooperar, de forma voluntária, com o provimento de benefícios coletivos, já que, independente da sua colaboração, participará do benefício coletivo provido. Assim, por não poder ser excluído dos bens coletivos, o indivíduo não se estimula a contribuir para que sejam providos, já que “pegará carona” – comportamento free rider – no trabalho de outros integrantes do grupo e se beneficiará de forma igual (OLSON, 1999).

Olson propõe que o tamanho dos grupos influencia na contribuição ou não dos indivíduos, de forma que, nos grupos grandes, a distribuição dos benefícios comuns é mais fluida e os custos da negociação e do incentivo para a participação serão maiores, assim os indivíduos terão menos incentivos para contribuir. Para Olson, os grupos grandes devem fazer uso de incentivos seletivos, negativos (coerção) ou positivos (recompensas) para estimular os indivíduos a cooperar. No entanto,

[...] os incentivos econômicos não são, com certeza, os únicos incentivos possíveis. As pessoas algumas vezes sentem-se motivadas também por um desejo de prestígio, respeito, amizade e outros objetivos de fundo social e psicológico (Olson, 1999, p. 71).

Assim, segundo o autor, as pressões sociais, seja pela coerção ou pelos incentivos, são mais eficientes em grupos menores (privilegiados e intermediários), já que nestes as ações dos indivíduos podem ser mais notadas, o que os estimula a cooperar. Além disso, os benefícios coletivos são mais visíveis e melhor alcançados em virtude da ação coletiva. Dialogando com a teoria de North, temos que as coerções, numa situação de baixa condição de informação e de “habilidades computacionais limitadas,reduzem os custos da interação humana em comparação com um mundo sem instituições” (NORTH, 1999, p. 36).

O papel das instituições, nesse contexto, é a de definir as regras, coordenar as escolhas e as decisões do grupo e, consequentemente, “reduzir a incerteza, provendo uma estrutura para vida cotidiana” (NORTH, 1999, p.3). As instituições são:

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As regras do jogo em uma sociedade, ou mais formalmente, são os constrangimentos que moldam a interação humana concebidos pelos seres humanos. Dessa forma, elas estruturam os incentivos na troca humana, seja política, social ou econômica. (NORTH, 1999, p.3). Dentro das instituições, as regras formais e as informais, como convenções e códigos de conduta, moldam o caráter e as escolhas do jogo, pois, caso violados, implicam punições, o que para North é fundamental para o funcionamento das instituições (NORTH, 1999, p.4).

As instituições fornecem para os indivíduos modelos de conduta e filtros de interpretação que direcionam as preferências dos indivíduos e afetam as suas escolhas (HALL; TAYLOR, 2003, p. 198). Assim, questionamos se é possível relacionar a pressão das instituições, através dos incentivos seletivos, à escolha dos indivíduos a partir do voto.

A teoria da escolha racional trabalha com indivíduos racionais, cujas ações podem ser orientadas ou modificadas pelo contexto institucional em que estão inseridos. Ao explicarem o institucionalismo da escolha racional, Hall e Taylor (2003) mencionam que o comportamento dos indivíduos é determinado por um cálculo estratégico, que indica que suas ações são influenciadas pela expectativa acerca do comportamento provável dos demais atores. E as instituições são capazes de diminuir as incertezas com relação ao comportamento esperado, de forma que:

[...] As instituições estruturam essa interação ao influenciarem a possibilidade e a seqüência de alternativas na agenda, ou ao oferecerem informações ou mecanismos de adoção que reduzem a incerteza no tocante ao comportamento dos outros, ao mesmo tempo que propiciam aos atores “ganhos de troca”, o que os incentivará a se dirigirem a certos cálculos ou ações precisas. (HALL; TAYLOR, 2003, p.206).

Przeworski atribui um importante papel às instituições, dentro do regime democrático. Segundo o autor, “os indivíduos não agem, diretamente, na defesa dos seus interesses”, mas concedem a organizações coletivas o poder de agir em seu nome (PRZEWORSKI,1994, p. 27). Dialogando com a teoria olsoniana, temos que o incentivo fornecido pelas organizações coletivas é o negativo, consistente na coerção, pois, segundo Przeworski, os indivíduos só delegam poder a essas organizações em razão da coerção por elas exercida e da possível aplicação de sanções caso o indivíduo “tente fazer valer seus objetivos particulares em detrimento do interesse coletivo.” (PRZEWORSKI, 1994, p. 27).

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Assim, a escolha do individuo quanto à adesão a um grupo se deve em função da coerção exercida pelas organizações coletivas e principalmente pelo Estado. No entanto, como há uma margem de não-adesão, em que indivíduos se abstêm de participar e são indiferentes com relação aos resultados, o Estado tende a tolerar, até certo ponto, a não-adesão individual, evitando que grupos não-participantes se voltem contra as instituições democráticas, por não aceitarem os resultados e, consequentemente, buscarem uma mudança brusca no quadro institucional.

Do diálogo com North, podemos extrair que as escolhas dos indivíduos, inclusive com relação ao voto, são orientadas pelas regras institucionais, sejam formais ou informais, em razão do baixo custo das ações e das escolhas subjetivas.

Nesse contexto, destacamos a informação como um elemento relevante para orientar as escolhas do indivíduo, que se refletem no voto.

Schumpeter destaca que as informações relevantes para o cidadão provavelmente servem para algum fim político, porém considera como eficientes, politicamente, as informações “adulteradas”, que não refletem a verdade dos fatos (SCHUMPETER, 1961, p.315). O tema também é presente na obra de Dahl, que chega a considerar, como garantia institucional, a existência de “fontes alternativas de informação” (DAHL, 2012, p.27). A informação aproxima o eleitor do candidato, sendo um recurso, que, se bem articulado, traz bons resultados na competição eleitoral.

As convicções dos indivíduos são, em boa parte, moldadas pelos códigos de conduta informalmente impostos pelas instituições e a informação é um elemento que permeia a capacidade de escolha dos cidadãos, já que apresenta os interesses e as propostas das forças políticas para que o cidadão possa escolher melhor o grupo e a ele aderir.

Considerações finais

Das reflexões trazidas nesse artigo, depreendemos que a competição é um elemento essencial para a configuração do regime democrático, presente nas concepções de Schumpeter, Dahl e Przeworski. No entanto, os dois últimos autores acrescentam a participação e a possibilidade de oposição como instrumentos garantidores da coexistência de grupos antagônicos, que buscam interesses distintos, e da possibilidade de mudança das lideranças políticas.

A partir da análise das teorias de Olson e de North, extraímos que as instituições são importantes instrumentos para superar, em parte, o dilema da ação coletiva,

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já que, através da coerção – impondo regras formais e informais e criando mecanismos para impor sanções – os indivíduos a elas aderem e são estimulados a cooperar para o provimento dos bens comuns. Assim, as instituições diminuem os custos da negociação, ou seja, do oferecimento de incentivos seletivos (Olson, 1999) para estimular a adesão e cooperação.

Analisando, timidamente, a função do voto, concluímos que a moldura institucional (North, 1990) limita as escolhas dos indivíduos na medida em que as regras do jogo político são definidas pelo Estado e, em se tratando da competição pelo poder, só resta ao indivíduo a escolha entre nomes previamente escolhidos pelas lideranças políticas antagônicas.

Não obstante a restrita margem de escolha do indivíduo, não podemos desconsiderar que a garantia de participação através do voto é fundamental para reforçar a responsividade dos governos às preferências dos cidadãos (Dahl, 2012), uma vez que na democracia há margem para mudanças periódicas (através de eleições), de forma que os “ganhadores de hoje” podem ser os “perdedores de amanhã” e fica a cargo dos eleitores a escolha entre as forças políticas que mais se coadunam com os seus interesses.

Referências Bibliográficas

DAHL, Robert. Poliarquia: participação e pposição. São Paulo, Ed. USP, 2012.

HALL, Peter A; TAYLOR, Rosemary C. R. As três versões do neo-institucionalismo. Lua Nova [online]. 2003, n.58, pp. 193-223. ISSN 0102-6445.

North, Douglass C. Institutions, Institutional Change and Economic Performance. Cambidge: CambidgeUniversity Press. 1990.

Olson, Mancur. A Lógica da Ação Coletiva. São Paulo: Edusp, 1999.

Przeworski, Adam. Democracia e Mercado. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.

*A autora é Mestre em Sociologia Política (UENF). Linha de Pesquisa: Cidadania, Instituições Políticas e Mercado. Especialista em Direito Público (UNIDERP). Professora Auxiliar de Ciência Política e Direito Constitucional no Curso de Direito, da UNESA- campus Macaé. Assistente Jurídico no Município de Macaé-RJ.

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