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O uso de agrotóxicos: um estudo de caso na comunidade de Bons Aires, Alegre, ES

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Academic year: 2021

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20437 - O uso de agrotóxicos: um estudo de caso na comunidade de Bons Aires, Alegre, ES

Survey on the use of discarded pesticide containers in the Association and residents of Bons Aires, Alegre, ES

ROCHA, Rafael Luiz Frinhani¹; SILVA, Edson Fernando Braga da¹;

OLIVEIRA, Yago Ricardo de¹; CALABIANQUI, Taís Neves¹; DIAS, Natália Caroliny Silva¹; GOBBO, Samia D’Angelo Alcuri²

1 Acadêmicos do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Alegre, rafaelfrinhanii@gmail.com; yagordeoliveira@gmail.com; edinho556@gmail.com; taiscalabianqui@gmail.com; naty-linda91@hotmail.com; 2 Professora do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Alegre

sdagobbo@ifes.edu.br Resumo

A chamada “revolução verde” provocou grande aumento no uso de agrotóxicos, resultando no aumento da produção e também, no aumento de contaminação ambiental e humana devido ao uso e descarte desordenado dos produtos e suas embalagens. Nesse contexto, diversos órgãos vêm desenvolvendo campanhas a fim de instruir os produtores sobre os riscos causados pelo manuseio inadequado dos produtos. Com base nessas informações o presente trabalho visou conhecer a conduta em relação ao uso e descarte dos produtos e embalagens em uma Associação de Produtores Rurais da Comunidade de Bons Aires, pertencente ao distrito de Rive, Alegre, Espírito Santo, Brasil. Os dados obtidos indicam carência de informações, pois as práticas realizadas pelos produtores demonstram que eles estão sujeitos a riscos reais de saúde e à contaminação ambiental. Assim, há a necessidade de que sejam desenvolvidas atividades instrutivas a fim de proporcionar melhorias na qualidade de vida dos produtores e preservação ambiental.

Palavras-chave: Contaminação; Conduta ambiental; Intoxicação; Revolução verde.

Abstract: The so-called "green revolution" provoked a considerable increase in the use of pesticides, resulting in increased production and consequently, the increase of human and environmental contamination, resulting primarily from uncontrolled use and disposal of the products and their packaging. In this context, several public and private organizations have been campaigning in order to educate producers about the various risks caused by improper handling of such products. Based on this information, the present study seeks to know the use of pesticides and the conduct in relation to the disposal of packaging in a Rural Producers Association of the Community of Bon Aires, belonging to the district of Rive in Alegre, Espírito Santo, Brazil. The data indicates a lack of information about the risks to health and the environment because the practices carried out by the producers show that they are subject to actual health risks and environmental contamination. Thus, we see the need for instructional activities that are designed to promote changes in harmful behavior, providing improvements in the quality of life for farmers and environmental preservation. Keywords: Contamination; Environmental conduct; intoxication; Green Revolution.

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Introdução

A chamada “revolução verde” levou a utilização de produtos químicos, principalmente os agrotóxicos a níveis alarmantes (BOZIKI et al. 2011) com a finalidade de aumentar a produção com a mesma quantidade de área cultivada. Este aumento proporcionou o aumento do abastecimento das grandes cidades ao mesmo tempo em que gerou graves problemas para a sociedade que ainda persistem na atualidade.

Considerando a falta de conhecimento do agricultor no manuseio dos produtos, e o uso exagerado de agrotóxicos, os agricultores acabam desencadeando uma série de fatores nocivos, ou seja, a contaminação do meio ambiente, e até mesmo a intoxicação por esses agrotóxicos quando não usados de forma correta (GARCIA, 1991).

Os agrotóxicos, quando armazenados corretamente, oferecem reduzido risco à saúde humana e ao meio ambiente. Segundo Garcia (1996), a questão de armazenamento se divide em três escalas ou âmbitos: a fábrica que seria a origem, a intermediária que é o comércio, e por última o destino final que seria a propriedade agrícola. Essa última é a mais discutida entre as três escalas, pois compromete o meio ambiente, muitas vezes por não proceder de forma correta em relação ao armazenamento e descarte.

Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo conhecer a frequência de uso de agrotóxicos, e a conduta em relação ao descarte das embalagens pelos agricultores pertencentes à Associação de Produtores Rurais da Comunidade de Bons Aires, distrito de Rive, Alegre, Espírito Santo, Brasil.

Metodologia

O estudo caracteriza-se como um estudo de caso, e foi desenvolvido junto a uma Associação de Produtores Rurais da Comunidade de Bons Aires, pertencente ao distrito de Rive, Alegre – ES.

Para coleta de dados fez-se uso de um formulário aplicado junto aos produtores rurais membros da Associação. O formulário foi composto por dez questões: cinco questões que versaram sobre informações gerais do agricultor e da propriedade, e cinco questões sobre a utilização de agrotóxicos, a quantidade anual média utilizada, a dosagem, o armazenamento e a destinação final das embalagens.

Segundo Mattar (1994), um formulário é um conjunto de questões elaborado para gerar os dados necessários para se atingir os objetivos do projeto, com isso deve-se evitar o número exagerado de questões, e ainda as mesmas devem ser elaboradas de acordo com a realidade sociocultural dos respondentes. É preenchido pelo próprio pesquisador, oportunizando a participação de todos, inclusive dos que possuem dificuldade de leitura e escrita.

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A amostra foi composta de 15 agricultores locais. A participação foi voluntária, sendo garantido o sigilo das informações. Para análise dos dados fez-se uso da frequência relativa.

Resultados e discussões

A produção agrícola da comunidade de Bons Aires baseia-se em lavouras de café, em menor quantidade, pastagens para o gado. O território é modelado em rochas cristalinas com relevo bastante acidentado e elevado. Situado nas latitudes meridionais da Zona Tropical, o clima da sede municipal é tropical e sub-úmido. Os totais anuais de chuvas não são geralmente grandes, e ficam em torno de 1.200mm (IDAF, 2014).

Embora existam vários registros que contestam suposto sucesso econômico proveniente da “revolução verde”, muitos agricultores familiares acabam adotando o modelo defendido por este sistema, acarretando a má utilização de agrotóxicos. Segundo a Lei 7.802, de 1989, os agrotóxicos são definidos como:

Produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; além de substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento (BRASIL, 1989, p. 11459).

A comunidade de Bons Aires apresenta grande concentração de cafeicultores. A cafeicultura possui forte valor simbólico para os mesmos, o que justifica a ânsia pelo aumento da produção, e, por conseguinte, o uso de agrotóxico.

Quando questionados sobre a utilização de agrotóxicos em suas propriedades, 14 dentre os 15 produtores afirmaram que fazem uso. Um agricultor não respondeu. Desta forma, considerando as respostas válidas, 100% dos produtores questionados confirmaram o uso de agrotóxicos. Sobre a quantidade média utilizada por ano, 100% dos produtores afirmam utilizar entre 5 e 10 litros anuais de agrotóxicos tipo herbicida.

Em relação à indicação da dosagem utilizada nas aplicações, foi notado maior concentração por meio de prescrição agronômica (53,3%) (Tabela 1).

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TABELA 1. Frequência da indicação de dosagem dos agrotóxicos.

Indicação da dosagem Frequência (%)

Rótulo do produto 13,3

Agrônomo 53,3

Conhecimento próprio 33,4

Cabe destaque que a minoria declarou atender as indicações dos rótulos. Este resultado remete aos estudos de Peres et al. (2003). Esses autores afirmam que um dos fatores que explica a pouca observância dos dados nas embalagens é que as informações técnicas contidas nos rótulos e bulas dos agrotóxicos não são inteligíveis aos produtores rurais. Importante destacar ainda, que a maioria dos produtores rurais afirma seguir indicação dos agrônomos, podendo inferir a ausência de um trabalho incentivador em relação aos manejos agroecológicos que poderiam substituir esta postura agressiva ao meio ambiente, que reflete na saúde do agricultor e de toda comunidade.

Sobre a questão que diz respeito ao armazenamento dos agrotóxicos, 80% dos produtores afirmam armazenar as embalagens separadas de outros produtos, e 20% afirmaram não fazer tal separação, o que indica vulnerabilidade sanitária podendo causar doenças nos produtores e até mesmo levar a morte.

A destinação das embalagens, após a utilização dos produtos, foi também questionada. Pode-se confirmar que a maioria dos agricultores utiliza a queima como método de descarte, e apenas 40% afirma devolver as embalagens no local onde comprou, o que seria a forma correta. As alternativas reveladas são apresentadas na Tabela 2.

TABELA 2. Destinação das embalagens dos agrotóxicos.

Destino das embalagens Frequência (%)

Queima 60,0

Devolve ao local onde comprou 40,0

Os resultados apresentados em relação ao descarte merecem atenção, pois indicam falta de conhecimento sobre os riscos que os agrotóxicos apresentam, em especial, a queima das embalagens plásticas com resíduos químicos. Foi confirmado que 60% utilizam da queima como forma de descarte das embalagens, e 40% devolvem as embalagens no local da compra. Segundo a lei, compete ao vendedor e distribuidor disponibilizar e gerenciar unidade de recebimento para a evolução de embalagens vazias pelos usuários, e ao fabricante providenciar o recolhimento, e Cadernos de Agroecologia - ISSN 2236-7934 - Vol 10, No. 1, Jun 2015 4

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dar destinação final adequada às embalagens vazias devolvidas nas unidades de recebimento (SOUZA CRUZ, 1998).

Percebe-se uma conduta errada em relação ao armazenamento dos agrotóxicos, pois 20% dos agricultores não possuem local apropriado para o acondicionamento. Sabe-se da importância do armazenamento correto, pois o mesmo deve ficar distante de nascentes, rios, lagos, açudes e moradias, evitando assim, possíveis acidentes contra o meio ambiente e os animais. Rando (2004) salienta que o depósito para armazenar os agrotóxicos deve ser somente utilizado para esse fim, e o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (INPEV, 2002), indica que o armazenamento deve ser feito por um período de no máximo um ano, com as embalagens furadas no fundo para que se evite a reutilização.

Conclusões

O uso frequente de agrotóxicos é uma realidade entre os agricultores da comunidade de Bons Aires. Um número representativo confirma o uso e dosagem por meio do conhecimento próprio, e a maioria não utiliza o meio correto para o descarte das embalagens. Estes resultados remetem a uma reflexão sobre a importância da implantação de projetos que visem orientar os agricultores sobre os riscos que acarretam a utilização de agrotóxicos para o meio ambiente, bem como para a saúde de toda comunidade. Ações que promovam a adoção de técnicas sustentáveis e agroecológicas devem ser implementadas, pois garantem mudanças de hábitos que resultam na melhoria da qualidade de vida bem como da preservação ambiental.

Agradecimentos

Agradecemos à Associação de Produtores de Bons Aires pela cooperação no desenvolvimento deste estudo.

Referências bibliográficas:

BRASIL, Lei n.º 7.802, de 12 de julho de 1989. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 jul. 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7802.htm>. Acesso em: 30 out. 2014.

BOZIKI, D.; SILVA, L. B.; PRINTES, R. C. Situação atual da utilização de agrotóxicos e destinação de embalagens na Área de Proteção Ambiental Estadual Rota Sol, Rio Grande de Sul Brasil. Revista VITAS – Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade – www.uff.br/revistavitasNº 1, setembro de 2011.

GARCIA, E. G. Segurança e Saúde no Trabalho Rural. Dissertação de Mestrado, USP, 1996. 233p.

GARCIA, E. G.; ALMEIDA, W. F. Exposição dos trabalhadores rurais aos agrotóxicos no Brasil. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. V. 19, nº. 72 p. 7 - 11, jan./mar. 1991. GURGEL, C. Reforma do Estado e segurança pública. Política e Administração, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p.15-21, 1997.

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INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS. Destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos. São Paulo, 2002. 24p. (Manual de Orientação).

INSTITUTO SOUZA CRUZ. Agrotóxicos – Manual sobre uso correto e seguro. Rio de Janeiro, 1998.

MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing: metodologia, planejamento, execução e análise. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 1994.

PERES, F.; MOREIRA, J. C.; DUBOIS, G. S. Agrotóxicos, saúde e ambiente: Uma Introdução ao tema. In: PERES, F.; MOREIRA, J. C. (Org.). É veneno ou é remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. P. 21 - 41. RANDO, J. C. Todos por um. Revista Atualidades Agrícolas. São Bernardo do Campo, p.34–39, 2004.

Referências

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