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Ensino de mecânica sob medida e o uso de referências especializadas

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Academic year: 2021

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CCNEXT - Revista de Extensão, Santa Maria v.38 - n.Ed. Especial XII EIE- Encontro sobre Investigação na Escola , 2016, p. 192– 197 Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM IISSN on-line: 2179-4588

Ensino de mecânica sob medida e o uso de referências especializadas

Guilherme Frederico Marranghello

gfmarranghello@gmail.com

Resumo

São inúmeras as alternativas de ensino que se apresentam diante de nós. Apresentamos, neste trabalho, uma alternativa de trabalho voltada ao ensino de física cujas ideias básicas podem ser aplicadas em outras áreas do conhecimento. O trabalho está direcionado ao ensino da

mecânica, utilizando como ferramentas o Ensino sob Medida e artigos retirados de revistas especializadas em ensino de física. Após três aplicações da proposta, apresentamos este trabalho.

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CCNEXT v.3 Ed. Especial- XII EIE- Encontro sobre Investigação na Escola, 2016, p.192– 197 193

1.

Contexto do relato

Este trabalho vem sendo elaborado, testado e reformulado durante os três últimos anos dentro da Universidade Federal do Pampa, Campus Bagé. O relato apresentado neste trabalho consiste na última versão da proposta, desenvolvida com uma turma de Física 1 do curso de Engenharia de Energias Renováveis e Ambiente. A turma consistia inicialmente de 47 alunos, sendo que todos eles já haviam cursado a disciplina anteriormente, sem aprovação. A disciplina de Física 1 deste curso possui carga horária total de 60 horas, sendo distribuída em duas aulas de duas horas a cada semana.

2.

Detalhamento das atividades

Na primeira versão desta proposta o autor se propôs a organizar toda a disciplina apoiando-se em textos de revistas especializadas em ensino de física como a Revista Brasileira de Ensino de Física, Caderno Brasileiro de Ensino de Física e Revista Física na Escola. Assim, foi selecionado um texto por aula, a serem utilizados em 30 aulas. A tarefa não foi difícil, tendo em vista a enorme quantidade de material sobre o assunto.

Nesta primeira versão da proposta, os textos foram utilizados apenas para organização do conteúdo de uma forma mais “rica”. Sentindo a falta do envolvimento dos alunos nas atividades, a segunda versão do trabalho contou com atividades desenvolvidas pelos alunos, assim, dentre os 30 trabalhos selecionados, foi necessário selecionar alguns trabalhos para que os alunos colocassem “as mãos na massa”. Assim, sempre após o desenvolvimento de um determinado conteúdo, os alunos tinham uma atividade a ser realizada contando com estes textos como material de apoio.

Por fim, a versão apresentada neste trabalho traz o uso de apenas dez trabalhos no desenvolvimento do curso. O diferencial apresentado nesta versão é o uso dos trabalhos associados à metodologia do Ensino sob Medida. Este método foi desenvolvido por Novak e colaboradores (apud ARAUJO e MAZUR, 2013) e está baseado no mapeamento e uso dos conhecimentos prévios dos alunos na preparação das aulas. Assim, os dez trabalhos selecionados eram indicados para os alunos com tarefas a serem respondidas antes das duas aulas semanais sobre aquele assunto. Desta forma, os alunos deveriam ler o texto e realizar as tarefas ali descritas antes mesmo de o professor apresentar o novo conteúdo. Com base nas respostas enviadas pelos alunos, a aula poderia ser iniciada desde o uso de uma revisão total do conteúdo até uma breve exposição do que foi trabalhado no texto seguido de novo conteúdo.

Os textos foram todos disponibilizados no ambiente virtual Moodle da Unipampa onde, a cada atividade seguia um fórum de discussão e todas as respostas às perguntas ou as tarefas desenvolvidas eram enviadas pelo mesmo sistema. Sempre que possível, o trabalho era avaliado antes mesmo do prazo final de entrega, permitindo ao aluno um novo envio do trabalho. Por vezes os trabalhos eram entregues na forma de fotos e/ou vídeos.

Os trabalhos iniciaram com um texto sobre a Modelagem Científica (BRANDÃO, ARAUJO e VEIT, 2008), seguido de um trabalho onde os alunos tiveram grande envolvimento sobre o uso da Câmera Digital no estudo da Cinemática (CATELLI, MARTINS e SILVA, 2010). A figura 1 apresenta o gráfico construído por um aluno para posterior determinação da aceleração do veículo.

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Figura 01: Trabalho realizado por um aluno na segunda atividade: O uso da Câmera Digital no estudo da Cinemática.

Seguindo estudos que pudessem levar a uma reflexão sobre direção consciente, utilizou-se um trabalho sobre a diferença entre 60 km/h e 65 km/h (SILVEIRA, 2011). Como os alunos tem fácil acesso ao computador, o uso de ferramentas computacionais foi incentivado com o trabalho seguinte (VEIT, MORS e TEODORO, 2002). O tema do transporte urbano retorna com a discussão sobre as Inclinações das ruas e das estradas (SILVEIRA, 2007). A construção de aparatos experimentais surge no estudo de colisões (CHESMAN et. al., 2005). Um novo texto sobre impulso discute a colisão de automóveis (WRASSE et. al, 2013).

Um exemplo de aparato experimental, construído por um aluno, pode ser visto na figura 2, enquanto os resultados do uso de um software podem ser encontrados na figura 3.

Figura 02: Aparato experimental construído para a atividade proposta para o estudo de colisões.

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Por fim, os trabalhos sobre rotação discutem a conservação de energia (SILVA et. al., 2003), o papel da Força Gravitacional na órbita da Lua (AGUIAR, BARONI e FARINA, 2009) e a Velocidade de Rotação da Terra (SCHAPPO, 2009).

O método de Ensino sob Medida também está balizado na Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, assim, é importante resaltar o papel de alguns trabalhos que, dentro desta teoria, fizeram o papel de agentes da diferenciação progressiva e reconciliação integrativa, como o trabalho sobre inclinação de ruas e estradas, retomando a decomposição de vetores, versando sobre forças e adiantando o conteúdo de trabalho e potência. O trabalho sobre colisões também discute a conservação de energia e o movimento parabólico. Entretanto, conforme o próprio Ausubel diz, que o principal elemento da teoria é investigar o que o aluno já conhece sobre o assunto e ensiná-lo de acordo, esta metodologia vai diretamente ao encontro deste preceito quando indica um texto ao aluno, sobre um assunto ainda não trabalhado em sala de aula, recebe suas respostas sobre questões fundamentais para a sequência do trabalho e adéqua a aula a estas respostas (ARAUJO e MAZUR, 2013).

3.

Análise e discussão do relato

Ao longo das 17 semanas do semestre, excluindo a primeira semana, as semanas das provas e as semanas anteriores às provas, todas as outras 10 semanas foram iniciadas com as atividades descritas aqui. Devido ao caráter distinto dos trabalhos, onde alguns exigiam domínio computacional, outros exigiam trabalhos manuais, como a construção de experimentos e outros apenas o raciocínio lógico da disciplina, dos 10 trabalhos, apenas as 7 melhores notas foram utilizadas para compor 30% da nota final. Os outros 70% foram divididos entre um trabalho sobre a relação entre as Energias Renováveis e a Mecânica (20% da nota final) e 3 provas (50% da nota final). Dos 47 alunos que estavam matriculados na disciplina, 28 reprovaram por falta de frequência sendo que destes, 15 nunca compareceram à aula. Dos outros 13 alunos reprovados por frequência, 11 abandonaram o curso após uma nota baixa na primeira avaliação e 2 após a segunda avaliação. Dos 19 alunos que permaneceram até o final do semestre, 18 foram aprovados. Apesar de, a primeira vista, o resultado parecer assustador, ele apresenta uma evolução em relação ao histórico da disciplina de Física 1 dentro da instituição onde, frequentemente, o número de aprovações não ultrapassa 4 ou 5 alunos por turma.

O trabalho, como foi organizado, exigiu dos alunos não apenas uma carga de trabalho elevada, necessária para cumprir um trabalho por semana. Mesmo que, em algumas situações, este trabalho não fosse muito extenso, um mínimo de leitura era necessário. Como as atividades eram exigidas antes do trabalho com o conteúdo relacionado, os alunos também chegavam na aula com alguma ideia do assunto a ser trabalhado. Por fim, o professor também pode chegar em cada semana de aula com uma visão bastante próxima sobre como deveria trabalhar o conteúdo. Este método também exige grande dedicação do professor, afinal, há trabalho ou prova para ser corrigida durante todas as semanas.

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4.

Considerações finais

O método de Ensino sob Medida foi aplicado durante um semestre, na disciplina de Física 1 do curso de Engenharia de Energias Renováveis e Ambiente. Como algumas das principais conclusões é necessário salientar que o uso do ambiente virtual Moodle para troca de trabalhos e avaliação dos conhecimentos prévios dos alunos foi exaustivo, seja para o professor quanto para o aluno, entretanto, crucial. O número de alunos aprovados ao final do semestre, embora ainda pouco satisfatório, fui muito superior aos números anteriores que mantinham uma média pouco inferior a 10 aprovações. É importante salientar que, dentre os 18 aprovados, apenas 3 obtiveram média inferior a 6,0 (nota para aprovação) nas provas e assim pode-se considerar que os trabalhos auxiliaram não apenas na aprendizagem, mas também no aumento da nota.

A necessidade de uso de propostas inovadoras para o ensino da mecânica, a fim de torná-lo mais atraente, motivador e eficaz foi solucionada através do uso de artigos publicados em algumas das principais revistas especializadas em ensino de física do Brasil. Por fim, além de acreditar que a metodologia do Ensino sob Medida colaborou para o ensino de física e que os textos retirados das revistas de ensino de física foram potencialmente significativos, também se deve crédito ao uso de recursos como experimentos e simulações computacionais. O uso destas tecnologias contribuiu não apenas para o aprendizado de física, mas também do uso destes recursos e da compreensão da ciência como um todo.

Referências

AGUIAR, C. E.; BARONI, D.; FARINA, C. A órbita da Lua vista do Sol. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 31, n. 4, 4301 (2009).

ARAUJO, I. S.; MAZUR, E. Instrução pelos Colegas e Ensino sob Medida: Uma Proposta para o Engajamento dos Alunos no Processo de Ensino-Aprendizagem de Física. Aceito para publicação no Caderno Brasileiro de Ensino de Física (2013).

BRANDÃO, R. V.; ARAUJO, I. S.; VEIT, E. A. A Modelagem Científica de Fenômenos Físicos e o Ensino de Física. Física na Escola, v. 9, n. 1, p. 10 (2008).

CATELLI, F.; MARTINS, J. A.; SILVA F. S. Um Estudo de Cinemática com a Câmera Digital. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 32, n. 1, 1503 (2010).

CHESMAN, C.; SALVADOR, C.; SOUSA, E. S.; ALBINO, A. Colisão Elástica: Um Exemplo Didático e Lúdico. Física na Escola, v. 6, n. 2, p. 23 (2005).

SCHAPPO, M. G. Medindo a Velocidade de Rotação da Terra sem Sair de Casa. Física na Escola, v. 10, n. 2, p.

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CCNEXT v.3 Ed. Especial- XII EIE- Encontro sobre Investigação na Escola, 2016, p.192– 197 197

SILVA, W. P.; SILVA, C. M. D. P. S.; PRECKER, J. W.; SILVA, D. D. P. S.; SOARES, I. B.; SILVA, C. D. P. S. Esfera em Plano Inclinado: Conservação da Energia Mecânica e Força de Atrito. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 25, n. 4, p. 378 (2003).

SILVEIRA, F. L. Inclinações das ruas e das estradas. Física na Escola, v. 8, n. 2, p. 16 (2007).

SILVEIRA, F. L. Um interessante e educativo problema de cinemática elementar aplicada ao trânsito de veículos automotores – a diferença entre 60 km/h e 65 km/h. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 28, n. 2, p. 468

(2011).

VEIT, E. A.; MORS, P. M.; TEODORO, V. D. Ilustrando a Segunda Lei de Newton no Século XXI. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 24, n. 2, p. 176 (2002).

WRASSE, A. C.; ETCHEVERRY, L. P.; ROCHA, F. S.; MARRANGHELLO, G. F. Investigando o impulso em crash tests utilizando vídeo-análise. Submetido para publicação na Revista Brasileira de Ensino de Física em

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