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R E L A T Ó R I O. O Desembargador Federal JOSÉ MARIA LUCENA (Relator):

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Academic year: 2021

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PROCESSO Nº: 0801994-56.2013.4.05.8000 - APELAÇÃO APELANTE: JOSE CARLOS RIBEIRO ROCHA

ADVOGADO: WILLIAMS PACIFICO ARAUJO DOS SANTOS APELADO: FAZENDA NACIONAL

RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL JOSE MARIA LUCENA - 1º TURMA

R E L A T Ó R I O

O Desembargador Federal JOSÉ MARIA LUCENA (Relator):

Trata-se de apelação contra sentença que denegou a segurança buscada por José Carlos Ribeiro Rocha, contra ato do Delegado da Receita Federal do Brasil em Alagoas, visando determinação judicial que lhe garanta o direito de se defender da cobrança supostamente indevida que lhe fora feita pela autoridade dita coatora ou ainda a extinção de tal cobrança.

Eis a ementa da sentença ora atacada:

Mandado de Segurança. Tributário e Constitucional. Isenção de imposto de renda. Cobrança administrativa. Impossibilidade de defesa. Natureza não-salarial do ganho de capital. Incidência de imposto de renda. Não comprovação do óbice à defesa. Inexistência de direito líquido e certo. Segurança denegada.

1. Apenas são abrangidos pela isenção de imposto de renda, segundo o disposto no art. 6º, XIV da lei n. 7.713/88, os proventos percebidos pelos portadores das moléstias elencadas e não todo e qualquer valor por eles auferidos.

2. Precatórios estaduais recebidos por meio de cessão de créditos constituem alienação com natureza de cessão de direito, transformando-se, por conseguinte, em ganho de capital. Tais valores não possuem natureza salarial, não podendo, pois, enquadrar-se na hipótese de isenção de imposto de renda descrita, vez que esta norma, por sua qualidade, merece ser interpretada de forma restritiva.

3. Inexistem quaisquer provas acerca do óbice oposto pela Receita Federal em relação ao direito de defesa do impetrante. O mero aviso de cobrança acompanhado da afirmação de impedimento da impugnação não preenche o requisito essencial à procedência do mandado de segurança, qual seja, o direito líquido e certo.

4. Cabe ao interessado, através da demonstração da ilegalidade do comportamento da

autoridade reputada coatora, o ônus de provar seu direito líquido e certo. Não se desincumbindo deste ônus, torna-se incabível a via estreita do para mandamus tutelar o direito invocado.

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Nas suas razões recursais, o apelante sustenta ter recebido cobrança ilegal, referente a restituição de IPRF em 16/08/2010, sem que lhe fosse possibilitado apresentar impugnação administrativa, com efeito suspensivo, nos moldes do Decreto 70235/72. Invoca ser servidor estadual aposentado, gozando de isenção do imposto de renda, em função de ser portador de doença grave, e que, no ano de 2009, recebeu valores referentes à cessão de créditos de precatórios, com retenção de IRPF na fonte no montante de R$ 83.792,46, tendo informado tais valores em sua declaração anual de rendimentos e, posteriormente, em face da isenção, ter reavido tais valores, através de restituição procedida pela Receita Federal, em 16/08/2010.

Sustenta a legalidade do procedimento efetuado, sendo descabida a cobrança, mormente quando não lhe foi oportunizada a defesa.

Contrarrazões apresentadas.

RELATEI.

PROCESSO Nº: 0801994-56.2013.4.05.8000 - APELAÇÃO APELANTE: JOSE CARLOS RIBEIRO ROCHA

ADVOGADO: WILLIAMS PACIFICO ARAUJO DOS SANTOS APELADO: FAZENDA NACIONAL

RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL JOSE MARIA LUCENA - 1º TURMA

V O T O

O Desembargador Federal JOSÉ MARIA LUCENA (Relator):

Da documentação acostada aos autos, verifico que a presente ação mandamental visa atacar ato praticado pelo Delegado da Receita Federal do Brasil em Alagoas, relativo ao Aviso de Cobrança decorrente do Processo Administrativo n. 10410.723542/2013-17, no qual a autoridade fiscal intima o impetrante a devolver o valor tido por indevidamente restituído em 16/08/2010, em decorrência do processamento da DIRPF 2010, referente ao ano-calendário 2009.

Inicialmente, invoca o apelante a ilegalidade do dito aviso de cobrança porquanto não lhe foi ofertada oportunidade de defesa. Sobre o tema, compartilho do entendimento firmado na sentença, de seguinte teor:

"23. Sobre a negativa da Receita Federal em conceder-lhe oportunidade de defesa com relação a este aviso, vislumbro que o impetrante não coligiu qualquer prova apta a comprovar suas

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teria sido obstado o contraditório com relação a ele, impedindo-lhe de impugná-lo, não preenche o requisito essencial à procedência do mandado de segurança, qual seja, o direito líquido e certo.

24. Como é cediço, cabe ao interessado, através da demonstração da ilegalidade do

comportamento da autoridade reputada coatora, o ônus de provar seu direito líquido e certo, in casu, o de lhe ser oportunizada defesa administrativa. Não se desincumbindo deste ônus, torna-se incabível a via estreita do mandamus para tutelar o direito invocado."

No entanto, em relação ao cabimento da cobrança efetuada no dito Aviso, tenho por pertinente a insurgência do apelante.

Importante, ressaltar que o presente mandamus não ataca o Auto de Infração lavrado em decorrência do Mandado de Procedimento Fiscal - MPF nº 0440100/2012.00405, referente à apuração do ganho de capital havido pelo contribuinte na operação de cessão de créditos de precatório. A insurgência aqui demonstrada limita-se à cobrança dos valores que foram

restituídos ao autor, após o processamento da DIRPF, entendidos pela Receita Federal como indevidamente devolvidos.

No caso em apreço, houve o recolhimento do IRPF sobre o montante recebido pelo autor -quando da negociação efetivada junto à Telemar Norte Leste S/A, referente à cessão de créditos de precatório com deságio, em 04/12/2009, conforme Termo de Quitação, no valor de R$

83.792,46 - através de Documento de Arrecadação/DAR junto à Secretaria da Fazenda do

Estado de Alagoas, tendo o contribuinte especificado naquele documento tratar-se de IRPF sobre recebimento de precatório.

Embora o dito recolhimento não tenha se submetido à sistemática prevista para os casos de retenção de imposto de renda pela fonte pagadora, no caso de pagamento de precatório judicial -porque, diga-se, disso não se tratou naquele momento -, motivo pelo qual, à toda evidência, o dito valor não constou das informações prestadas pelo Governo de Alagoas, na Declaração do

Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - DIRF, não se pode deixar de admitir que o contribuinte fez, voluntariamente, o recolhimento do valor de R$ 83.792,46 a título de imposto de renda.

A meu ver, tal recolhimento foi indevidamente efetuado, porquanto, a verba recebida não decorreu do pagamento do precatório relativo a verbas salariais atrasadas pelo Governo do Estado de Alagoas. O montante percebido pelo autor naquele momento correspondeu a

pagamento de parcela do acordo firmado entre ele e a TELEMAR, e que representaria ganho de capital auferido.

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Assim, houve o equívoco do contribuinte em considerar o montante recebido como verba salarial, o que atrairia a incidência do IRPF sobre proventos, efetuar o recolhimento do tributo e,

posteriormente, informar tais valores em sua DIRPF, tendo por consequência a restituição, em face do gozo de isenção do tributo por ser portador de moléstia grave.

Por seu turno, a Receita Federal também equivocou-se ao proceder à restituição desses valores que não constavam das DIRFs apresentadas pelo Estado de Alagoas, e, por conseguinte, não foram contabilizados no âmbito da União.

Assim, diante dessa sucessão de equívocos, não vejo como atribuir ao autor a responsabilidade pela devolução do montante constante no Aviso de Cobrança ora discutido. Se sobre aqueles valores recebidos da TELEMAR o contribuinte deveria recolher imposto a título de ganho de capital, à alíquota de 15% (quinze por cento), perante à Receita Federal, inclusive que está sendo cobrado no auto de infração anteriormente mencionado, descabido foi o recolhimento feito pelo autor à Receita Estadual à título de imposto de renda na fonte, à alíquota de 27,5% (vinte e sete e meio por cento) sobre os valores que lhes foram pagos pela TELEMAR.

Isso porque, somente quando houvesse a expedição do precatório em seu nome, tais verbas com evidente natureza salarial, estariam alcançadas pelo imposto de renda sobre proventos, à

alíquota de 27,5%, usufruindo, nesse momento, da isenção a que faz jus o autor.

Desta feita, entendo desarrazoado imputar ao autor, que já efetuou indevidamente o recolhimento do valor de R$ 83.792,46 à Fazenda do Estado de Alagoas, a obrigação de restituir tal quantia à Fazenda Nacional e, em seguida, cobrar da Receita alagoana a repetição deste mesmo

montante.

Certamente, o mais razoável é que as Fazenda Públicas se compensem, buscando a Receita Federal o montante que entrou nos cofres estaduais e que, indevidamente, ressarciu ao contribuinte quando da apuração da DIRPF.

Ante o exposto, dou parcial provimento ao apelante, anulando o aviso de cobrança nos moldes acima fixados.

ASSIM VOTO.

PROCESSO Nº: 0801994-56.2013.4.05.8000 - APELAÇÃO APELANTE: JOSE CARLOS RIBEIRO ROCHA

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APELADO: FAZENDA NACIONAL

RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL JOSE MARIA LUCENA - 1º TURMA

E M E N T A

TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPOSTO DE RENDA. SERVIDOR ESTADUAL APOSENTADO. PORTADOR DE MOLÉSTIA GRAVE. AVISO DE COBRANÇA. AUSÊNCIA DE OPORTUNIDADE DE DEFESA NÃO DEMONSTRADA. EQUIVOCADO RECOLHIMENTO DE IMPOSTO DE RENDA PERANTE A RECEITA ESTADUAL COMO SE FORA HIPÓTESE DE RETENÇÃO NA FONTE SOBRE VALORES DE PRECATÓRIO. VALORES DEVOLVIDOS PELA RECEITA FEDERAL. DESCABIMENTO DO AVISO DE COBRANÇA.

1. Trata-se de apelação contra sentença que denegou a segurança buscada contra ato do Delegado da Receita Federal do Brasil em Alagoas, relativo ao Aviso de Cobrança decorrente do Processo Administrativo n. 10410.723542/2013-17, no qual a autoridade fiscal intima o impetrante a devolver valor tido por indevidamente restituído em 16/08/2010, em decorrência do

processamento da DIRPF 2010, referente ao ano-calendário 2009.

2. Inicialmente, invoca o apelante a ilegalidade do dito aviso de cobrança porquanto não lhe foi ofertada oportunidade de defesa. Sobre o tema, adota-se o entendimento firmado na sentença, de seguinte teor: "23. Sobre a negativa da Receita Federal em conceder-lhe oportunidade de defesa com relação a este aviso, vislumbro que o impetrante não coligiu qualquer prova apta a comprovar suas alegações. A mera existência nos autos do referido aviso acompanhada da afirmação de que lhe teria sido obstado o contraditório com relação a ele, impedindo-lhe de impugná-lo, não preenche o requisito essencial à procedência do mandado de segurança, qual seja, o direito líquido e certo. 24. Como é cediço, cabe ao interessado, através da demonstração da ilegalidade do comportamento da autoridade reputada coatora, o ônus de provar seu direito líquido e certo, in casu, o de lhe ser oportunizada defesa administrativa. Não se desincumbindo deste ônus, torna-se incabível a via estreita do mandamus para tutelar o direito invocado.". 3. Afasta-se a preliminar e enfrenta-se o mérito relativo à legalidade da cobrança.

4. Importante, ressaltar que a presente ação mandamental não ataca o Auto de Infração lavrado em decorrência do Mandado de Procedimento Fiscal - MPF nº 0440100/2012.00405, referente à apuração do ganho de capital havido pelo contribuinte na operação de cessão de créditos de precatório. A insurgência aqui demonstrada limita-se à cobrança dos valores que foram

restituídos ao autor, após o processamento da DIRPF, entendidos pela Receita Federal como indevidamente devolvidos.

5. No caso em apreço, houve o recolhimento do IRPF sobre o montante recebido pelo autor -quando da negociação efetivada junto à Telemar Norte Leste S/A, referente à cessão de créditos de precatório com deságio, em 04/12/2009, conforme Termo de Quitação, no valor de R$

83.792,46 - através de Documento de Arrecadação/DAR junto à Secretaria da Fazenda do

Estado de Alagoas, tendo o contribuinte especificado naquele documento tratar-se de IRPF sobre recebimento de precatório.

6. Embora o dito recolhimento não tenha se submetido à sistemática prevista para os casos de retenção de imposto de renda pela fonte pagadora, no caso de pagamento de precatório judicial -porque, diga-se, disso não se tratou naquele momento -, motivo pelo qual, à toda evidência, o dito

(6)

PROCESSO Nº: 0801994-56.2013.4.05.8000 - APELAÇÃO APELANTE: JOSE CARLOS RIBEIRO ROCHA

ADVOGADO: WILLIAMS PACIFICO ARAUJO DOS SANTOS APELADO: FAZENDA NACIONAL

RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL JOSE MARIA LUCENA - 1º TURMA

valor não constou das informações prestadas pelo Governo de Alagoas, na Declaração de

Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - DIRF, não se pode deixar de admitir que o contribuinte fez, voluntariamente, o recolhimento do valor de R$ 83.792,46 a título de imposto de renda. 7. Tal recolhimento foi indevidamente efetuado, porquanto, a verba recebida não decorreu do pagamento do precatório relativo a verbas salariais atrasadas pelo Governo do Estado de Alagoas. O montante percebido pelo autor naquele momento correspondeu a pagamento de parcela do acordo firmado entre ele e a TELEMAR, e que representou ganho de capital auferido. 8. Assim, houve o equívoco do contribuinte em considerar o montante recebido como verba salarial, a atrair a incidência do IRPF sobre proventos, efetuar o recolhimento do tributo e, posteriormente, informar tais valores em sua DIRPF, tendo por consequência a restituição, em face do gozo de isenção do tributo por ser portador de moléstia grave.

9. Por seu turno, a Receita Federal também equivocou-se ao proceder à restituição desses

valores que não constavam das DIRFs apresentadas pelo Estado de Alagoas, e, por conseguinte, não foram contabilizados no âmbito da União.

10. Diante dessa sucessão de equívocos, não se há de atribuir ao autor a responsabilidade pela devolução do montante constante no Aviso de Cobrança ora discutido. Se sobre aqueles valores recebidos da TELEMAR o contribuinte deveria recolher imposto a título de ganho de capital, à alíquota de 15% (quinze por cento), perante à Receita Federal, inclusive montante este que está sendo cobrado no auto de infração anteriormente mencionado, descabido foi o recolhimento feito pelo autor à Receita Estadual à título de imposto de renda na fonte, à alíquota de 27,5% (vinte e sete e meio por cento) sobre os valores que lhes foram pagos pela TELEMAR. Isso porque, somente quando houvesse a expedição do precatório em seu nome, tais verbas com evidente natureza salarial, estariam alcançadas pelo imposto de renda sobre proventos, à alíquota de 27,5%, usufruindo, nesse momento, da isenção a que faz jus o autor.

11. Tem-se, portanto, por desarrazoado imputar ao autor, que já efetuou indevidamente o

recolhimento do valor de R$ 83.792,46 à Fazenda do Estado de Alagoas, a obrigação de restituir tal quantia à Fazenda Nacional e, em seguida, cobrar da Receita alagoana a repetição deste mesmo montante. Certamente, o mais razoável é que as Fazenda Públicas se compensem, buscando a Receita Federal o montante que entrou nos cofres estaduais e que, indevidamente, ressarciu ao contribuinte quando da apuração da DIRPF.

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A C Ó R D Ã O

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas. Decide a Primeira Turma do Egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação, nos termos do voto do Relator.

Recife, 04 de dezembro de 2014 (data do julgamento).

JOSÉ MARIA LUCENA, Relator.

Referências

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