DIREITOS HUMANOS E RELAÇÕES
SOCIAIS TRABALHISTAS
DIREITOS HUMANOS E RELAÇÕES
SOCIAIS TRABALHISTAS
Renata de Assis Calsing Rúbia Zanotelli de Alvarenga
EDITORA LTDA.
Rua Jaguaribe, 571 CEP 01224-003 São Paulo, SP — Brasil Fone (11) 2167-1151 www.ltr.com.br Dezembro, 2017
Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: PIETRA DIAGRAMAÇÃO Projeto de capa: FABIO GIGLIO
Impressão: BOK2.
Versão impressa — LTr 5860.5 — ISBN 978-85-361-9492-9 Versão digital — LTr 9287.9 — ISBN 978-85-361-9506-3
Todos os direitos reservadosÍndice para catálogo sistemático:
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Direitos humanos e relações sociais trabalhistas / Renata de Assis Calsing, Rúbia Zanotelli de Alvarenga, (coordenadoras). – São Paulo: LTr, 2017. Vários autores.
Bibliografia.
1. Direito do trabalho – Brasil 2. Direitos fundamentais 3. Relações de trabalho I. Calsing, Renata de Assis. II. Alvarenga, Rúbia Zanotelli de.
17-10720 CDU-34:331(81)
COLABORADORES
Alessandra Barichello Boskovic: Mestre e Doutoranda
em Direito Econômico e Socioambiental pela PUCPR. Es-pecialista em Direito material e processual do Trabalho pelo UNICURITIBA. Advogada e Professora de Direito do Tra-balho e Direito Previdenciário na Faculdade de Educação Su-perior do Paraná (FESP) e na Faculdade da Indústria (FIEP/ FAMEC). Coordenadora adjunta do curso de especialização em Direito do Trabalho e Processual do Trabalho na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Alexandre Agra Belmonte: Doutor em Justiça e
Socie-dade pela UGF, Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho e Pro-fessor do IESB.
André Araújo Molina: Doutor em Filosofia do Direito
(PUC-SP), Mestre em Direito do Trabalho (PUC-SP), Espe-cialista em Direito Processual Civil (UCB-RJ) e em Direito do Trabalho (UCB-RJ), Bacharel em Direito (UFMT), Professor da Escola Superior da Magistratura Trabalhista de Mato Grosso (ESMATRA/MT) e Juiz do Trabalho Titular na 23ª Região.
Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy: Livre-docente em
Teoria Geral do Estado pela Faculdade de Direito da Univer-sidade de São Paulo-USP. Doutor e Mestre em Filosofia do Direito e do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC-SP.
Domingos Sávio Zainaghi: Doutor e mestre em Direito
do Trabalho pela PUC-SP. Pós-doutorado em Direito do Tra-balho pela Universidade Castilha-La Mancha, Espanha. Presi-dente honorário da Associación Iberoamericana de Derecho Del Trabajo y de La Seguridad Social e do Instituto Iberoame-ricano de Derecho Deportivo. Membro do Instituto Cesarino Jr. De Direito Social. Da Societé Internationale de Droit Du Travail ET de La Seguridad Social. Membro da Academia Pau-lista de Direito. Advogado. JornaPau-lista.
Georgenor de Sousa Franco Filho: Desembargador do Trabalho de carreira do TRT da 8ª Região, Doutor em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa e Professor Titular de Direi-to Internacional e do Trabalho da Universidade da Amazônia, Presidente Honorário da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, Membro da Academia Paraense de Letras.
Gustavo Filipe Barbosa Garcia: Livre-Docente pela Fa-culdade de Direito da Universidade de São Paulo. Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Pós-Doutorado em Direito pela Universidad de Sevilla.
Especialis-ta em Direito pela Universidad de Sevilla. Professor Universitário
em Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito. Mem-bro Pesquisador do IBDSCJ. MemMem-bro da Academia Brasileira
de Direito do Trabalho, Titular da Cadeira 27. Advogado. Foi Procurador do Trabalho do Ministério Público da União, ex--Juiz do Trabalho das 2ª, 8ª e 24ª Regiões e ex-Auditor Fiscal do Trabalho.
José Claudio Monteiro de Brito Filho: Doutor em
Direi-tos das Relações Sociais pela PUC/SP. Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará. Professor do Programa de Pós-Graduação e do Curso de Direi-to do Centro Universitário do Estado do Pará. Titular da Cadei-ra n. 26 da Academia BCadei-rasileiCadei-ra de Direito do TCadei-rabalho.
José Felipe Ledur: Desembargador do Trabalho no TRT4, Mestre em Direito Público e Doutor em Direito do Estado.
Júlio Edstron S. Santos: Professor dos cursos de
gradua-ção em Direito e Relações Internacionais e especializagradua-ção da UCB/DF. Doutorando em Direito pelo UniCEUB. Mestre em Direito Internacional Econômico pela UCB/DF. Membro dos grupos de pesquisa NEPATS - Núcleo de Estudos e Pesquisas Avançadas do Terceiro Setor da UCB/DF, Políticas Públicas e Juspositivismo, Jusmoralismo e Justiça Política do UNICEUB.
Lelio Bentes Corrêa: Ministro do Tribunal Superior do Trabalho. Membro da Comissão de Peritos da Organização Inter-nacional do Trabalho. Mestre em Direito InterInter-nacional dos Direi-tos Humanos pela Universidade de Essex – Reino Unido.
Lorena Vasconcelos Porto: Procuradora do Ministério
Público do Trabalho. Doutora em Autonomia Individual e Au-tonomia Coletiva pela Universidade de Roma II. Mestre em Direito do Trabalho pela PUC-MG. Especialista em Direito do Trabalho e Previdência Social pela Universidade de Roma II. Professora Titular do Centro Universitário UDF. Professora Convidada do Mestrado em Direito do Trabalho da Universi-dad Externado de Colombia, em Bogotá.
Luiz Eduardo Gunther: Professor do Centro
Universi-tário Curitiba – UNICURITIBA. Desembargador do Traba-lho no TRT9. Pós-Doutorando pela PUC-PR. Membro do Conselho Editorial da Revista Jurídica do UNICURITIBA, do Instituto Memória – Centro de Estudos da Contemporanei-dade e da Editora JM. Integrante da Academia Nacional de Direito do Trabalho e do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. Orientador do Grupo de Pesquisa que edita a Revista Eletrônica do TRT9 (<http://www.mflip.com.br/pub/escola-judicial/>).
Manoel Jorge e Silva Neto: Subprocurador-geral do
Tra-balho (DF). Professor-Visitante na Universidade da Flórida –
Levin College of Law (EUA). Professor-Visitante na
Universida-de François Rabelais (FRA). Membro da AcaUniversida-demia Brasileira de Direito do Trabalho (Cadeira n. 64).
Marcelo Fernando Borsio: Professor Titular da UDF.
Professor do Mestrado em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas, nas disciplinas de Seguridade Social. Pós-Dou-torando em Direito Previdenciário pela Università degli Studi di Milano. Pós-Doutor em Direito da Seguridade Social pela Universidad Complutense de Madrid. Doutor e Mestre em Direito Previdenciário pela PUC-SP. Especialista em Direito Tributário pela PUC-SP. Especialista em Direito da Investiga-ção e ConstituiInvestiga-ção pela UNISUL. Coordenador Científico e Pedagógico de Cursos Jurídicos e Professor de Direito Previ-denciário e Tributário do Gran Cursos Online. Professor de diversas outras especializações em Direito Previdenciário pelo país. Professor Visitante da Universidad Complutense de Ma-drid. Autor de obras de Direito Previdenciário pela Juspodivm (Coleção Prática de Direito Previdenciário em 32 volumes), pela Revista dos Tribunais e pela Juruá. Palestrante.
Marcus Firmino Santiago: Doutor em Direito do Esta-do. Professor Permanente do Curso de Mestrado em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas do Centro Universitário do distrito Federal - UDF. Ex-Professor Permanente do Curso de Mestrado em Direito Constitucional do Instituto Brasiliense de Direito Público - IDP. Advogado.
Raimundo Simão de Melo: Consultor Jurídico e
Advo-gado. Procurador Regional do Trabalho aposentado. Doutor e Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC-SP. Pós--Graduado em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo. Professor titular do Centro Universitário UDF/Mestra-do e da Faculdade de Direito de São BernarUDF/Mestra-do UDF/Mestra-do Campo/SP no Curso de Pós-Graduação em Direito e Relações do Traba-lho. Membro da Academia Brasileira de Direito do TrabaTraba-lho. Autor de livros jurídicos, entre outros, “Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador”.
Raquel Betty de Castro Pimenta: Doutora em Direito
pela Università di Roma Tor Vergata e pela Universidade Fe-deral de Minas Gerais em cotutela internacional, Servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região e professora da Pós-Graduação Lato Sensu em Direito do Trabalho da
Pontifí-cia Universidade Católica de Minas Gerais e da Pós-Graduação
Lato Sensu em Advocacia Trabalhista da Ordem dos
Advoga-dos do Brasil (OAB-MG).
Raul Zoratto Sanvicente: Analista judiciário do Tribunal
Regional do Trabalho da 4ª Região.
Renata de Assis Calsing: Professora Titular e
Coordena-dora acadêmica do Curso de Mestrado em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas do Centro Universitário do Distrito Fe-deral – UDF. Doutora em Direito pela Universidade de Paris I, Panthéon-Sorbonne. Mestre e Bacharel em Direito pelo Centro
Universitário de Brasília, UNICEUB. Professora Associada do PPGD do UniCEUB. Auditora Federal de Finanças e Contro-le do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria Geral da União, atualmente lotada no Conselho da Justiça Fede-ral como Coordenadora de Estudos e Pesquisas.
Ricardo José Macêdo de Britto Pereira: Doutor pela
Universidade Complutense de Madri. Professor Titular do Centro Universitário do Distrito Federal, UDF-Brasília, no Mestrado em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas. Mes-tre pela Universidade de Brasília. Pesquisador colaborador do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Direito da Uni-versidade de Brasília. Colíder do Grupo de Pesquisa da Facul-dade de Direito da UNB “Trabalho, Constituição e Cidada-nia”. Subprocurador Geral do Ministério Público do Trabalho.
Rúbia Zanotelli de Alvarenga: Doutora e Mestre em
Direito do Trabalho pela PUC Minas. Professora Titular do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, Brasília. Ad-vogada.
Silvio Beltramelli Neto: Doutor em Direito do
Traba-lho pela Universidade de São Paulo. Mestre em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba. Professor de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Membro do Ministério Público do Tra-balho (Procurador do TraTra-balho em Campinas/SP).
Victor Hugo Criscuolo Boson: Mestre em Direito pela
Universidade Federal de Minas Gerais e professor da Pós--Graduação Lato Sensu em Direito do Trabalho da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais.
Vitor Salino de Moura Eça: Pós-doutor em Direito Pro-cessual Comparado pela Universidad Castilla-La Mancha, na Espanha. Professor Adjunto IV da PUC-Minas (CAPES 6), lecionando nos cursos de mestrado e doutorado em Direito. Professor visitante em diversas universidades nacionais e es-trangeiras. Professor conferencista na Escola Nacional de Ma-gistratura do Trabalho – ENAMAT e na Escola Superior de Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil. Pesquisador junto ao Centro Europeo y Latinoamericano para el Diálogo Social - España. Membro efetivo, dentre outras, das seguin-tes sociedades: Academia Brasileira de Direito do Trabalho – ABDT; Asociación Iberoamericana de Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social – AIDTSS; Asociación de Laboralistas - AAL; Equipo Federal del Trabajo - EFT; Escuela Judicial de América Latina - EJAL; Instituto Brasileiro de Direito Social Júnior- IBDSCJ; Instituto Latino-Americano de Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social – ILTRAS; Instituto Para-guayo de Derecho del Trabajo y Seguridad; e da Societé Inter-nationale de Droit du Travail et de la Sécurité Sociale.
SUMÁRIO
Apresentação...11
Reitora e Professora Doutora Beatriz Maria Eckert-Hof
Prefácio...13
Ministra do TST Maria de Assis Calsing
PARTE I – TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS
Capítulo 1. Fundamentos Históricos, Sociais e Políticos dos Direitos Humanos Fundamentais Sociais...17
Renata de Assis Calsing, Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy e Júlio Edstron S. Santos
Capítulo 2. Direitos Humanos e Direitos Fundamentais. Conceito. Diferença. Função. Características. Classificação dos Direitos Humanos Fundamentais...32
Marcelo Fernando Borsio
Capítulo 3. Os Tratados de Direitos Humanos e sua Formação, Incorporação e Efetivação no Brasil...42
José Claudio Monteiro de Brito Filho
Capítulo 4. A Efetivação nas Normas Internacionais de Direitos Humanos em Âmbito Interno...54
Silvio Beltramelli Neto
Capítulo 5. Eficácia Horizontal dos Direitos Humanos Fundamentais. A Eficácia Direta ou Imediata dos Direitos Funda-mentais nas Relações Trabalhistas...70
Marcus Firmino Santiago
PARTE II – A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS DOS TRABALHADORES
Capítulo 6. Antecedentes Históricos, Fundamentos e Princípios do Direito Internacional doTrabalho...85
Georgenor de Sousa Franco Filho
Capítulo 7. A Organização Internacional do Trabalho e os Instrumentos Internacionais de Proteção ao Trabalhador...89
Georgenor de Sousa Franco Filho
Capítulo 8. Estrutura e Funcionamento da Organização Internacional do Trabalho...94
Luiz Eduardo Gunther
Capítulo 9. O Trabalho Decente na Perspectiva do Direito Internacional do Trabalho...108
Luiz Eduardo Gunther
Capítulo 10. A Vigência Internacional das Convenções da Organização Internacional do Trabalho e o Procedimento de Ratificação, Revisão, Denúncia e de Internalização das Convenções Ratificadas no Brasil...126
Luiz Eduardo Gunther
Capítulo 11. Organicidade e Fundamentalidade da Corte Interamericana de Direitos Humanos...147
PARTE III – AS CONVENÇÕES FUNDAMENTAIS DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Capítulo 12. A Convenção Fundamental n. 87 da Organização Internacional do Trabalho...155
Ricardo José Macêdo de Britto Pereira
Capítulo 13. A Convenção Fundamental n. 98 da Organização Internacional do Trabalho ...168
Gustavo Filipe Barbosa Garcia
Capítulo 14. Convenção n. 100 da Organização Internacional do Trabalho: pela Igualdade entre Homens e Mulheres na Remuneração de Trabalhos de Igual Valor...175
Alessandra Barichello Boskovic
Capítulo 15. Comentários à Convenção n. 111 da Organização Internacional do Trabalho...181
Domingos Sávio Zainaghi
Capítulo 16. O Trabalho Infantil sob a Perspectiva Internacional...184
Lelio Bentes Corrêa
Capítulo 17. A Eliminação de Todas as Formas de Trabalho Forçado ou Obrigatório: Convenções ns. 29 e 105 da Organi-zação Internacional do Trabalho...190
Rúbia Zanotelli de Alvarenga
PARTE IV – DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO
Capítulo 18. A Constitucionalização dos Direitos Sociais Trabalhistas nas Cartas Constitucionais Brasileiras...201
Rúbia Zanotelli de Alvarenga
Capítulo 19. O Direito Constitucional do Trabalho depois da Constituição de 1988 e a Aplicação do Princípio
Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana nas Relações de Trabalho...212
Ricardo José Macêdo de Britto Pereira
Capítulo 20. A Necessária Proteção à Dignidade da Pessoa do Trabalhador e ao Labor Digno ou Decente...225
José Claudio Monteiro de Brito Filho
Capítulo 21. O Direito Fundamental ao Lazer, à Desconexão do Trabalho, ao Projeto de vida e à vida de Relações...236
André Araújo Molina
Capítulo 22. Limitações aos Poderes do Empregador e os Direitos da Personalidade do Trabalhador...253
Rúbia Zanotelli de Alvarenga
Capítulo 23. Direitos Fundamentais à Saúde e Segurança no Trabalho Integrantes de uma ordem de valores: Promoção por meio do Processo Judicial...264
José Felipe Ledur e Raul Zoratto Sanvicente
Capítulo 24. Direitos Fundamentais x Livre-Iniciativa: Critérios Objetivos para a Concretização do Exercício das Liber-dades Intelectuais nas Relações de Trabalho, em Sintonia com as Exigências da Livre-Iniciativa e Fundamentação das Decisões Resolutórias das Tensões Respectivas no Ambiente de Trabalho...271
Alexandre Agra Belmonte
Capítulo 25. Liberdade Religiosa e Relações de Trabalho. Questões Controvertidas. As Organizações de Tendência e o Dever de Acomodação Razoável (Duty of Reasonable Accommodation)...279
Manoel Jorge e Silva Neto
Capítulo 26. A Colisão de Direitos Fundamentais Trabalhistas e a Aplicação do Princípio da Proporcionalidade...289
Capítulo 27. As Limitações aos Direitos Fundamentais Trabalhistas e o Controle Extralaboral Realizado pelo Empregador sobre a vida Privada do Empregado...303
Rúbia Zanotelli de Alvarenga
PARTE V – HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL DAS NORMAS JURÍDICAS TRABA-LHISTAS: A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO TRABALHO
Capítulo 28. Trabalho Penoso: Prevenção e Reparação pelo Desgaste Sofrido pelo Trabalhador...314
Raimundo Simão de Melo
Capítulo 29. A Convenção n. 158 da Organização Internacional do Trabalho e o Direito Brasileiro...327
Lorena Vasconcelos Porto
Capítulo 30. A Proteção Contra a Dispensa Coletiva...340
Gustavo Filipe Barbosa Garcia
Capítulo 31. Hermenêutica e Interpretação Constitucional das Normas Jurídicas Trabalhistas: A Aplicação
dos Princípios Constitucionais do Trabalho...349
Rúbia Zanotelli de Alvarenga
Capítulo 32. Os Direitos Fundamentais Trabalhistas e de Previdência Social como Cláusulas Pétreas e a Proibição do Retrocesso dos Direitos Sociais dos Trabalhadores...359
APRESENTAÇÃO
Falar em Direitos Humanos na atualidade, em que o mundo vem se tornando cada vez mais plural, intercultural e com-plexo, implica trazer à baila questões de diversidade, de igualdade e de respeito às diferenças. Seja qual for a linha teórica e a perspectiva da discussão, o tema dos Direitos Humanos faz-se imprescindível para que se promova a diminuição das desigualdades sociais, em prol da dignidade da pessoa humana.
Em seu artigo primeiro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) traz: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”.
Boaventura de Sousa Santos (1997) nos ensina que “as pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza” (p. 97).
De Hannah Arendt temos a célebre frase: “a essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos”.
Essas são premissas que sempre estiveram no bojo de minhas pesquisas, como Analista do Discurso, sobre o sujeito e sua constituição social, cultural, histórica e simbólica, e estão também no bojo de minhas lutas pessoais e profissionais em torno da dignidade da pessoa humana e de uma sociedade mais justa e igualitária.
Por isso, é com grande honra e imensa satisfação que recebo a nada fácil tarefa de apresentar – e apresentar é também presentear – esta belíssima obra que trata, com rigor científico e jurídico, dos Direitos Humanos e das Relações Sociais e Trabalhistas, e é lançada num momento em que estamos prestes a celebrar os 70 anos da Declaração Universal dos Direi-tos Humanos.
Nestas quase sete décadas presenciamos, certamente, significativas mudanças sociais e vivenciamos um processo de transformações e identificações de novos sujeitos de direitos. Diante disso, a temática dos Direitos Humanos nas socieda-des contemporâneas é uma das mais importantes, não somente nos discursos jurídicos, mas também acadêmicos, religio-sos, sociais, econômicos, culturais e políticos.
É nesse contexto que se constitui este magnífico livro intitulado Direitos Humanos e Relações Sociais e Trabalhistas, organizado pelas Professoras Rúbia Zanotelli de Alvarenga e Renata de Assis Calssing e fomentado pelo Programa de Mestrado em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas do UDF. Sob diferentes perspectivas no âmbito jurídico, no pla-no discursivo, na doutrina e na cultura jurídica nacional e internacional, esta obra contempla 32 capítulos com estudos de laureados professores, pesquisadores e juristas de nossa instituição, do Brasil e do Estrangeiro. Os capítulos estão organi-zados em 5 partes, todas com o desafio de estudar e problematizar discussões acerca dos Direitos Humanos com o foco na sua relação com o Social e com o Trabalho no mundo contemporâneo.
O livro consagra e aprofunda a vocação de pesquisa acadêmica do Programa de Mestrado em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas do UDF que – embora ainda jovem, já coroado de êxitos – conta com a coordenação acadêmica dos professores Mauricio Godinho Delgado (também Ministro do Tribunal Superior do Trabalho – TST) e Renata de Assis Calsing. Nesse sentido, carrega fragmentos de um trabalho conjunto, de discussões comuns, de conversas, de momentos de (in)certezas, mas, também, de alegrias e de grandes feitos.
E isso se soma ainda à comemoração de meio século de História e tradição do UDF na comunidade acadêmica e cien-tífica de Brasília, do Distrito Federal e do País. Neste ano de 2017, a instituição celebra 50 anos de Excelência no Ensino, na Pesquisa e na Extensão, encontrando-se em plenos desenvolvimento e expansão. Criado em 1967, o UDF é a primeira instituição privada de ensino superior da capital do Brasil, sendo reconhecida e respeitada por sua tradição e excelência no ensino superior, desde a sua criação e mais fortemente com a sua incorporação, em 2008, ao Grupo Cruzeiro do Sul Educacional, o sexto maior e um dos mais representativos Grupos Educacionais do País – fato que fortaleceu a Instituição e lhe conferiu energia para galgar um contínuo e ainda mais notável crescimento.
O UDF tem marcado cada vez mais a sua presença no País e no exterior, pelo seu foco em ensino, pesquisa, extensão e internacionalização que se dá pela atuação de seus Gestores e Professores Pesquisadores em Eventos Científicos e em intercâmbios com Universidades brasileiras e estrangeiras. Cumpre, assim, a sua Missão de “oferecer à comunidade ensino superior de excelência, tornar público o conhecimento científico e tecnológico aqui produzidos e proporcionar formação crítica, reflexiva, interativa, contextualizada, competente, ética e cidadã”, contribuindo cada vez mais para oportunizar ao cidadão o Direito à Educação Superior de qualidade.
Minhas palavras de agradecimento às organizadoras e a todos os renomados autores que brindam o leitor com este belíssimo livro e conseguem, de forma preciosa, trazer novas reflexões para este que segue sendo um tema fundamental: o discurso e a prática dos “Direitos Humanos e Relações Sociais e Trabalhistas”.
Professora Dra. Beatriz Maria Eckert-Hoff
PREFÁCIO
Recebi com muita alegria e honra o convite para prefaciar esta obra coletiva sobre Direitos Humanos e Relações Sociais Trabalhistas, cujas coordenadoras são professoras do Centro Universitário do Distrito Federal.
Embora encontremos na atualidade uma alentada bibliografia sobre o tema, acredito que esta publicação representa uma reflexão e uma resposta amadurecida sobre os direitos humanos fundamentais relacionados a questões sociais e tra-balhistas de um grupo notável de profissionais – dos mais variados campos do Direito – que se dedicam ao seu estudo e pesquisa.
A abrangência e profundidade das temáticas apresentadas neste livro revelam um profundo espírito de fidelidade ao Direito e um rigoroso sentido científico no tratamento dos direitos humanos sociais e trabalhistas, tanto a partir da expe-riência brasileira quanto da internacional.
Pontuo que vivemos em um momento muito peculiar da história de nossa civilização, em que os direitos humanos formam os alicerces sobre os quais se edificam as sociedades verdadeiramente democráticas, ou seja, aquelas sociedades que efetivam ou procuram efetivar os direitos humanos sob uma perspectiva ética, em que o desenvolvimento, como diria Ignacy Sachs, aparece como um conceito pluridimensional – econômico, social, político, ecológico, cultural. Ressalta, o mesmo Autor, que o desenvolvimento não pode ter na dimensão econômica seu carro-chefe. Precisa estar subordinado às finalidades social e ética. “A finalidade ética é a solidariedade com a geração presente. O segundo imperativo ético é o da solidariedade com as gerações futuras”.(1)
Na verdade, parte-se do objetivo norteador do conceito de desenvolvimento sustentável, que se refere à satisfação das necessidades da geração presente – dentro dos limites ecológicos do planeta Terra – sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir suas próprias necessidades, ou seja, de promover seus direitos humanos.
Acentuo que este também deve ser o cenário balizador dos direitos humanos fundamentais – que não são absolutos –, uma vez que existem limites em sua satisfação ou atendimento, dados pelo contexto em que o homem tem de viver.
Alguns textos deste livro se referem à necessidade de garantir patamares mínimos no que se refere aos direitos funda-mentais básicos para uma existência digna da pessoa humana.
A propósito, gostaria de lembrar apelos do papa Francisco, em diferentes documentos apostólicos, quando afirma que a “idolatria do dinheiro e do consumo” nega a primazia do ser humano. Esta exclusão, pela falta de trabalho, de moradia, de saúde, de educação, de alimentos – direitos humanos fundamentais básicos – fere, na própria raiz, a pertença à socie-dade onde se vive, “pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são ‘explorados’, mas resíduos, sobras”.(2) É neste sentido que o compromisso ético com relação aos direitos humanos
fundamentais básicos “permite criar um equilíbrio e uma ordem social mais humana”.
E concluiu o papa Francisco: precisamos adotar “uma ética propícia ao ser humano”, segundo a qual os recursos financeiros (o dinheiro) devem servir para promover a dignidade humana, e não para governar em favor de poucos privi-legiados.(3)
Pode-se afirmar, sem erro, a partir das muitas avaliações e informações apresentadas neste livro, que o Estado brasilei-ro – em todos os níveis de poder – atua com um clabrasilei-ro déficit de efetivação dos direitos humanos, apesar de a Constituição Federal de 1988 representar um símbolo de constitucionalização desses direitos fundamentais.
Nos limites desejáveis de um Prefácio, não há espaço para maiores delongas quando os brilhantes textos contidos neste livro, por si sós, representam uma grande contribuição – sob diferentes matizes – à discussão e efetivação dos direi-tos humanos fundamentais sociais e trabalhistas em nosso País.
(1) SACHS, Ignacy. “Desenvolvimento e Direitos Humanos”. Maceió: PRODEMA (UFA), 2000 (Conferência magistral ao receber título de Doutor Honoris Causa, da Universidade Federal de Alagoas).
(2) Papa Francisco. Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho. São Paulo: Paulinas, 2013, n. 53. (3) Idem, n. 57-58.
A variedade de autores não prejudica a unidade da discussão. E como não pretende ser acabada e definitiva, a temática dos direitos fundamentais tratada nesta obra revela-se fruto de uma construção ao longo da história.
O certo é que o povo brasileiro pertence a uma comunidade política, econômica, social e cultural que necessita de uma maior atenção ao bem comum por parte de seus governantes, para que possa alcançar um nível civilizatório compatível com as nações verdadeiramente democráticas.
Boa leitura!
Maria de Assis Calsing
PARTE I
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E POLÍTICOS DOS DIREITOS
HUMANOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Renata de Assis Calsing(1)
Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy(2)
Júlio Edstron S. Santos(3)
(1) Professora Titular e Coordenadora acadêmica do Curso de Mestrado em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas do Centro Universitário do Distrito Fede-ral – UDF. Doutora em Direito pela Universidade de Paris I, Panthéon-Sorbonne. Mestre e Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Brasília, UNICEUB. Professora Associada do PPGD do UniCEUB. Auditora Federal de Finanças e Controle do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria Geral da União, atualmente lotada no Conselho da Justiça Federal como Coordenadora de Estudos e Pesquisas.
(2) Livre-docente em Teoria Geral do Estado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo-USP. Doutor e Mestre em Filosofia do Direito e do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC-SP. E-mail: <asmygodoy@gmail.com.br>.
(3) Professor dos cursos de graduação em Direito e Relações Internacionais e especialização da UCB/DF. Doutorando em Direito pelo UniCEUB. Mestre em Di-reito Internacional Econômico pela UCB/DF. Membro dos grupos de pesquisa NEPATS – Núcleo de Estudos e Pesquisas Avançadas do Terceiro Setor da UCB/DF, Políticas Públicas e Juspositivismo, Jusmoralismo e Justiça Política do UNICEUB.
(4) PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos Humanos, Estado de Derechos y Constitución. 10. ed. Madrid: Tecnos, 2010. (5) FLORES, Joaquin Herrera. Reinvención Derechos Humanos. Madrid: Atrapasuenos, 2008.
(6) BRASIL, Atlas da extrema pobreza: População residentes em domicílios agrícolas, pluriativos e rurais não agriculas e urbanos não agrícolas. Disponível em: <http://www.ipc-undp.org/pub/port/Atlas_da_extrema_pobreza_no_Norte_e_Nordeste_do_Brasil_PT.pdf>. Acesso em: 10 set. de 2016.
(7) COSTA, Marco Aurélio; MARGUTI, Bárbara Oliveira. Atlas da vulnerabilidade social nos municípios brasileiros. Brasília : IPEA, 2015. Disponível em: <http://
1. Introdução
Os Direitos Humanos se constroem ao longo do tempo, dentro dos parâmetros políticos, sociais, econômicos e cultu-rais da sociedade em que estão inseridos. Especificamente em relação aos direitos sociais, cujo reconhecimento constitucio-nal só ocorreu no início do Século XX, podemos afirmar que se trata de classe normativa essencial para garantia da dignida-de da pessoa humana, mas que ainda exige melhores condições jurídicas e financeiras para se concretizarem plenamente.
Nesse trabalho, reconhecemos que “direitos humanos” é uma nomenclatura ligada aos tratados (ordem jurídica inter-nacional), enquanto que o nome “direitos fundamentais” está atrelado ao processo de positivação das normas essenciais de uma sociedade em sua Constituição (ordenamento jurídico interno). Contudo, tal como a doutrina mais atual de Perez Luño(4) e Herrera Flores(5), entendemos que o ser humano deve
ser protegido e promovido onde quer que ele esteja, estabe-lecendo-se uma doutrina dos direitos humanos fundamentais que
aceita o uso dessas expressões como sinônimos, já que tem a mesma pretensão de proteção e promoção do ser humano.
Apesar do avanço doutrinário dessa disciplina, um dos grandes problemas jurídicos na atualidade é que direitos hu-manos fundamentais básicos como saúde, educação, moradia e trabalho ainda precisam atingir patamares mínimos de
efetividade no Estado brasileiro. Para o reconhecimento des-se problema e, principalmente, para des-se realizarem propostas que superem essas dificuldades, o presente artigo se utilizou da revisão bibliográfica e estudos de caso que demonstram os avanços, retrocessos e barreiras que (ainda) existem para a efe-tivação dos direitos humanos sociais.
A primeira parte desse capítulo buscou demonstrar a evo-lução histórica e jurídica do Estado por meio dos paradigmas constitucionais que condicionaram a criação e construção dos modelos jurídicos atuais. Esta introdução se mostra indispen-sável em razão de ser o Estado o sujeito de Direito mais capaz de produzir e efetivar os direitos humanos sociais na atualidade.
Em seguida, foi analisada a construção dos direitos hu-manos fundamentais no Ocidente, visando demonstrar que a cada momento foi necessária cobrança da sociedade para que houvesse a positivação destes direitos. O artigo segue com uma análise dos direitos sociais positivados na Constituição brasileira de 1988.
A título de estudo de caso, e já que não existem dúvidas quanto à necessidade de concretização dos direitos sociais no Brasil, analisamos alguns dados presentes no Atlas da Pobre-za(6)”, no Atlas da vulnerabilidade social nos municípios do Brasil(7)