• Nenhum resultado encontrado

O futuro do dólar como principal reserva internacional. 28/02/2009 por Rodrigo Felismino

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O futuro do dólar como principal reserva internacional. 28/02/2009 por Rodrigo Felismino"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

O futuro do dólar como principal reserva internacional 28/02/2009 por Rodrigo Felismino

Ano 1 – No 5 – Janeiro 2008

Não é a primeira vez que se discute a possibilidade de substituição do dólar como ativo de reserva internacional dos países. Essa questão já reapareceu em outras três oportunidades durante as décadas de 1970, 1980 e 1990, sempre durante períodos de depreciação da moeda norte-americana.

A recente onda de dúvidas quanto ao dólar é reflexo de uma nova fase de depreciação iniciada em 2002 e sem um indicativo claro de quando terminará. O que torna esse momento diferente dos demais é que agora existe o euro, uma moeda capaz de rivalizar o dólar. O conjunto das economias que adotam o euro ainda não é grande o suficiente para ameaçar essa liderança norte-americana, mas, de acordo com os professores Menzie Chinn (Universidade de Wisconsin) e Jeffrey Frankel (Universidade de Harvard), com a expansão da União Européia (UE), principalmente com a adesão do Reino Unido, na década de 2020 o euro deverá substituir o dólar como principal reserva internacional.

A afirmação dos professores, apoiada por mais pesquisadores, é feita com base na premissa de que as condições necessárias para os países montarem suas reservas internacionais em determinada moeda deve-se ao tamanho da economia do país emissor (ou grupo de países), sua segurança macroeconômica e o tamanho e relevância do seu centro financeiro.

Aliada aos fatores macroeconômicos, com uma abordagem histórica é possível demonstrar uma forte relação entre poder econômico, militar e a moeda mais amplamente utilizada, fatores que foram determinantes para a substituição da libra inglesa pelo dólar no início do século XX.

Tamanho é documento

Estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que os 305,5 milhões de norte-americanos farão o PIB do seu país chegar a US$ 14,4 trilhões em 2008 (crescimento de 2,3% em relação a 2007).

País nenhum no mundo hoje rivaliza com esses números. Para chegar perto, só o esforço conjunto de um grupo de países, mais exatamente os quinze que já adotaram o euro. Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Malta, Portugal, Eslovênia e Espanha, totalizam uma população de 319,1 milhões de habitantes e um PIB de US$ 12,7 trilhões estimados para este ano.

Apesar de uma população 4% maior, este bloco tem PIB 11,8% inferior aos dos Estados Unidos. Mas, se considerarmos a perspectiva de formação da zona do euro com 26 países (15 + Dinamarca, Estônia, Hungria, Látvia, Lituânia, Noruega, Polônia, Reino Unido, República Checa, República Eslováquia e Suécia), o bloco passaria a contar com uma população de 470,4 milhões de habitantes e um PIB projetado para 2008 de US$ 17,8 trilhões.

Neste cenário, a zona do euro seria maior em população (53,9%) e economia (23,6%) do que os EUA, atendendo ao primeiro pré-requisito estabelecido pelos pesquisadores. Na hipótese de adesão da Turquia, possibilidade um pouco mais remota, a esse total somaria outros 74,6 milhões de pessoas e US$ 513,3 bilhões ao PIB do bloco.

Os 11 países que ainda não integram a UE contribuiriam com US$ 5,1 trilhões, dos quais US$ 2,9 trilhões viriam apenas do Reino Unido, fator crucial para o desenvolvimento do bloco regional.

Gestão transparente

Sob a batuta do presidente George Walker Bush as finanças públicas norte-americanas têm resultado em contínuos e crescentes déficits em conta-corrente. A pergunta geralmente feita é: por quanto tempo esse déficit

(2)

Tudo indica que a manutenção dessa condição depende exclusivamente do apetite dos bancos centrais de outros países em montar suas reservas em dólares em detrimento de outra moeda, por exemplo, o euro. Avalia-se que essa disposição seria reduzida caso a política macroeconômica dos EUA levasse a um aumento da inflação e da depreciação acentuada do dólar, abalando a confiança na moeda. Outro fator seria a mudança na estratégia desses bancos centrais que hoje atuam no mercado de câmbio a fim de evitar uma valorização de suas moedas locais em relação ao dólar.

Dados do FMI demonstram que os países têm reduzido lentamente a participação do dólar na composição de suas reservas internacionais. O gráfico a seguir demonstra que enquanto a participação do dólar nas reservas caiu de 56% em 2000 para 41% em 2007, nesse mesmo período a participação do euro subiu de 14% para 17%.

Vale ressaltar que, em 2000, o total de reservas internacionais somava US$ 1,937 trilhão, ao passo que em 2007 era de US$ 6,037 trilhões.

Fica evidente que a redução das reservas em dólares não implicou em uma transferência para euros, tampouco para libras, que tem mantido sua participação entre 2% e 3% nesses anos. O que surpreende é a participação das outras moedas (iene não integra), que passaram de 22% em 2000 para 36% em 2007.

Maturidade financeira

Para alcançar o status de moeda internacional, é necessário que o país de origem da moeda tenha um mercado financeiro e de capitais aberto, desregulamentado, bem desenvolvido e maduro. Londres preenchia (e preenche) esses requisitos durante a liderança da libra, assim como Nova Iorque o faz agora. No caso do euro, seus principais centros financeiros, Frankfurt e Paris, apesar de terem se desenvolvido muito nas últimas duas décadas, ainda estão muito atrás de Londres e Nova Iorque.

De acordo com a “Pesquisa Trienal de Bancos Centrais”, o movimento financeiro diário médio em abril de 2007 foi de US$ 3,210 trilhões. Desse total, 16,6% foram movimentados na praça de Nova Iorque, 34,1% em Londres e 2,5% em Frankfurt.

Do total movimentado, para 43,2% das operações a moeda utilizada foi o dólar e para 18,5%, o euro. O iene representou 8,2% das operações e a libra, 7,5%. Em comparação com 2001, o dólar reduziu sua participação em 4,4% e o euro, em 1,6%. No mesmo período, a libra aumentou sua participação em 13,6% e a cesta de moedas dos países emergentes, em 17,2%, passando a ser utilizada em 9,9% das transações financeiras internacionais diárias.

(3)

Os quinze países da UE movimentaram 10,8% desse total diário. Para que o euro tenha condições de substituir o dólar como principal moeda internacional, será necessário incorporar o Reino Unido. Neste cenário, com 44,9% do volume financeiro e 26% da movimentação mundial em euros, a maturidade e o tamanho de seu sistema financeiro e de capitais trariam tranqüilidade e corpo suficientes para que os agentes econômicos reconhecessem no euro uma opção mais viável.

Afinal, o que determina se uma moeda tem condições de ser utilizada como reserva internacional é o tamanho do país ou região onde a moeda é originalmente utilizada e sua economia de escala, tendo em vista que os países estão mais predispostos a utilizar a moeda que a maioria lança mão nas trocas internacionais.

O dólar substitui a libra

No século XIX, aproximadamente 90% do comércio mundial era feito em libras. Apesar de, em 1872, a economia dos EUA ter ultrapassado a do Reino Unido, ainda em 1899 o total de reservas internacionais em libras era mais que o dobro da soma das principais moedas “rivais” (franco e marco alemão) e muito maior do que o dólar.

Mesmo com uma economia maior, até a Primeira Guerra Mundial as exportações norte-americanas ainda não tinham ultrapassado as britânicas, o que não ocorreu de maneira definitiva até a Segunda Guerra Mundial. A fragilidade do seu sistema financeiro lançava dúvidas sobre a segurança do dólar, afinal somente em 1913 é que foi criado um banco central no país.

A balança começa a pender para os norte-americanos com o advento da guerra em 1914, quando os EUA passaram de devedores a credores do Reino Unido, e o dólar se tornou a única moeda convertível em ouro a um preço fixo na década de 1920.

O que se pode observar é que as dúvidas sobre a força da libra iniciaram a partir do declínio da hegemonia britânica na esfera interncional, sobretudo de seu poderio econômico, colonial, militar. Ainda assim, a libra manteve-se dominante durante o entre-guerras, devido ao fator inércia, o qual demonstra que mesmo após a decadência do país ou região, levará algum tempo para que outra moeda assuma o seu lugar, porque se uma moeda é utilizada no passado tenderá a ser utilizada no futuro, até que outra, lentamente, a substitua.

Dólar no pós-Segunda Guerra Mundial

Essa substituição lenta da libra pelo dólar só se concretizou a partir do acordo de Bretton Woods, em 1944, quando foi instituíto o padrão dólar-ouro. O dólar (atrelado ao ouro) foi o verdadeiro ativo de reserva no pós-Segunda Guerra Mundial, ao passo que as moedas européias não eram convertíveis.

As economias européias e de outros países em reconstrução mediam seu desempenho pelas reservas construídas em dólar a partir dos superavitis em suas balanças comerciais, principalmente com os EUA, que passaram a acumular deficits preocupantes a partir de 1958.

Com o dólar lastreado em ouro, um ativo com fornecimento até certo ponto fixo, sem uma taxa de crescimento constante da sua oferta, aliado a uma demanda cada vez maior de reservas pelo crescente fluxo do comércio internacional, era questão de tempo até os EUA encerrarem o regime de Bretton Woods, acabando com o lastreamento do dólar pelo ouro. A desvalorização do dólar contra o ouro ocorreu 1971 a partir de uma decisão unilateral dos EUA, decisão essa logo acompanhada pelas outras economias industrializadas que, naquele ponto, mantinham suas moedas atreladas ao dólar.

Mesmo com a flexibilização cambial desses países industrializados, a utilização do dólar como reserva continuou elevada. Foi no final da década de 1970 que as reservas em dólares começaram a declinar, sobretudo pela moeda norte-americana perder seu valor frente a outras moedas, levando a conflito os Estados Unidos e seus parceiros comerciais, principalmente a Europa.

Os três episódios de depreciação do dólar ocorreram entre 1977-79, 1985-88 e 1993-95, um em cada década. Durante esses períodos os EUA foram acusados de terem negligenciado sua responsabilidade na manutenção de uma moeda estável. Por esse motivo, em 1979 alguns países europeus criaram a Unidade Monetária

(4)

Européia, em inglês ECU, uma unidade baseada na média de uma cesta de moedas européias, que em 1999 se tornou o euro.

Renasce o debate

Com uma nova onda de depreciação do dólar, volta-se a falar sobre a possibilidade deste deixar de ser a principal moeda do comércio internacional, assim como ocorreu nos três episódios anteriores, quando se cogitou a utilização do iene ou marco alemão como alternativas.

A diferença dos espisódios de depreciação anteriores para o de hoje é que o euro é uma realidade e a estrutura econômica dos países integrantes da UE preenche boa parte dos requisitos necessários para que o euro se torne a principal moeda internacional nas transações e reserva dos países.

Como demonstrado, a adesão do Reino Unido é fator determinante para a zona do euro suplantar a economia dos EUA e tornar-se confiável o suficiente para os agentes internacionais. Resta a questão do poder militar dos Estados Unidos.

Nesse ponto, não há sinais de decadência do poderio norte-americano. Seu gasto anual de US$ 522,68 bilhões é três vezes maior do que a soma dos 15 países da UE. Se considerássemos uma UE expandida, com 26 países (incluido o Reino Unido), seu gasto militar seria de US$ 253,93 bilhões, ainda assim a metade do que o dos EUA.

A força norte-americana é tão impressionante que se somarmos o orçamento militar dos 26 países da UE expandida (US$ 253,93 bilhões), China (US$ 48,20 bilhões), Índia (US$ 23,52 bilhões) e Rússia (US$ 33,80 bilhões), o total de US$ 359,45 bilhões ainda é 31,2% menor do que o orçamento dos EUA.

Sob a administração de George W. Bush, houve um grande incremento dos gastos militares. Quando assumiu o governo em 2000 o país destinava US$ 342,17 bilhões a esta rubrica. Com os atentados de 11 de setembro de 2001 e os preparativos para a guerra que começou em seguida, os gastos saltaram para US$ 440,81 bilhões e não pararam de crescer até o momento. De 2000 até hoje o crescimento foi de 152,7%.

Apesar do fracasso parcial das últimas empreitadas militares, as mesmas serviram para reequipar o poderio militar norte-americano e aumentar sua presença em pontos estratégicos do jogo geopolítico internacional, dissipando qualquer dúvida sobre sua capacidade de mobilização e força.

O euro substitui o dólar

Estamos ainda longe da década de 2020, quando os professores Chinn e Frankel afirmam que o euro substituirá o dólar. É um exercício de especulação e tanto, e opiniões a respeito não faltam. Já em 2000 o Deutsche Bank previa que em 2010 o euro representaria 40% das reservas cambiais do mundo. Como demonstrado, de 1999 até hoje passaram de 14% para 17%, de acordo com o FMI. Em relatório no início de 2007, antes da recente crise das hipotecas norte-americanas, o banco alemão reafirmou sua perspectiva em função da conjuntura econômica dos Estados Unidos, Europa e Ásia.

O primeiro ponto é a vulnerabilidade do dólar provocada pelo crescente déficit em conta-corrente, o qual só poderá ser corrigido a partir de uma desvalorização ainda maior do dólar diante de outras moedas internacionais.

O segundo aspecto é uma mudança de política cambial na China, cuja moeda, o yuan, deixou de estar atrelada apenas ao dólar e passou a adotar como referência de indexação uma cesta de moedas, da qual o euro faz parte. Isso implica que o governo chinês poderá optar pela aquisição de mais ativos em euros, diversificando suas reservas internacionais.

Apesar de muitos economistas duvidarem que o euro substituirá o dólar, a crise das hipotecas e um agravamento da recessão nos EUA poderia acelerar a migração de carteiras de investimentos dos EUA para a zona do euro, mais estável, com rentabilidade e agora desfrutando de um nivel de liquidez que tem levado o euro, cada vez mais, ao status de moeda para emissões de dívidas empresariais e soberanas.

(5)

A adesão de mais países à zona do euro e esta conjuntura econômica internacional são ingredientes suficientes para um crescimento do comércio e das reservas internacionais em euros em um futuro próximo. Contudo, a questão da inércia e do poderio norte-americano, que não apresenta sinal de fraqueza, deixam dúvidas sobre quando essa mudança ocorrerá, ou quando o petróleo e demais commodities passarão a ser cotados em euros. O que parece claro é que a tendência à desvalorização do dólar deverá ser mantida enquanto os bancos centrais do mundo, sobretudo da China e Japão, continuarem dispostos a financiar este deficit norte-americano.

Rodrigo Felismino Fontes:

Periódicos: New York Times, Washington Post, The Wall Street Journal, Harvard Business Review (EUA), Valor Econômico (Brasil), The Economist, Financial Times, Agência BBC, Agência Reuters (Reino Unido), Les Echos, Le Figaro, International Herald Tribune Agência AFP (França).

Referências

Documentos relacionados

• Agora, vamos estender o Teorema da Capacidade do Canal de Shannon para o caso de um canal com ru´ıdo n˜ao branco, ou colorido. • Mais espec´ıficamente, dado um modelo de

SENSOR DE

Deve-se acessar no CAPG, Coordenadorias > Processo de Inscrição > “Selecionar Área/Linha para Inscrição” e indicar as áreas de concentração e linhas de pesquisa nas

6 Consideraremos que a narrativa de Lewis Carroll oscila ficcionalmente entre o maravilhoso e o fantástico, chegando mesmo a sugerir-se com aspectos do estranho,

A seleção portuguesa feminina de andebol de sub-20 perdeu hoje 21-20 com a Hungria, na terceira jornada do Grupo C do Mundial da categoria, a decorrer em Koprivnica, na

O desenvolvimento das interações entre os próprios alunos e entre estes e as professoras, juntamente com o reconhecimento da singularidade dos conhecimentos

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla