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OLGA BENÁRIO Lutei pelo justo, pelo melhor do mundo Artigo publicado na edição de número 04 do Jornal A Verdade

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OLGA BENÁRIO

“Lutei pelo justo, pelo melhor do mundo”

Artigo publicado na edição de número 04 do Jornal A Verdade

“Eu gostaria que soubessem que soubessem que ali cumpri duas tarefas: uma do Partido e outra do meu coração”.

O auditório, repleto de militantes da Juventude Comunista Internacional, veio abaixo quando Olga Benário, uma jovem de 20 anos, concluiu com essas palavras o relato da ação que comandara poucos meses antes, em abril de 1928, em Berlim, ocasião em que resgatou da prisão o seu namorado e militante do PC alemão, Otto Braun.

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Uma revolucionária sem vacilações

Olga nasceu em 12 de fevereiro de 1908, em Munique, Alemanha. Seu pai, Leo Benário, alemão, advogado socialdemocrata. Sua mãe, Eugénie Gutmann, filha de uma rica família judia. Adolescente, interessou-se pela leitura marxista, mas não foram os livros que lhe despertaram a consciência revolucionaria, e sim a leitura dos processos em que seu pai defendia os trabalhadores. Pouco depois de completar 15 anos, pediu para ingressar no grupo Shwabing, da juventude Comunista Alemã, já na clandestinidade naquele ano de 1923.

Aceita, Olga ganhou logo a confiança do grupo, assumindo as tarefas mais difíceis, inclusive algumas rejeitadas por todos até então, como pichar o centro da cidade. A firmeza, a dedicação e sua beleza despertavam intensas paixões entre os companheiros, e ela apaixonou-se cedo por Otto Braun, um jovem de 22 anos, mas já experimentado militante com participação ativa na revolução de 1919, sob o comando de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknech.

Antes mesmo de completar 18 anos, Olga deixou a confortável casa dos pais e foi morar com o namorado num bairro operário de Berlim, o Neukolln. Logo passou a ser admirada não só pelos admirada pelos companheiros, mas pelos operários em geral. Era uma militante incansável: manifestações de rua, pichações, panfletagens nas portas das fábricas e apoio às greves operárias, bem como círculos de estudos com jovens trabalhadores eram sua rotina diária. Ela fazia sempre uma reivindicação nunca atendida pela direção do Partido: treinar militarmente os jovens para enfrentar os

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grupos nazistas, cada vez mais ousados, e a própria polícia do Estado, que agredia violentamente as massas nas manifestações de rua.

Em outubro de 1926, Otto Braun foi preso como suspeito de “alta traição à pátria”. Também detida, Olga foi solta dois meses depois e não conteve sua alegria quando recebeu da direção do Partido a incumbência de organizar uma equipe, e chefiá-la pessoalmente, numa ousada ação: tirar Otto da prisão de Moabit.

Ação vitoriosa

No dia 11 de abril de 1928, o diário berlinense Berliner Zeitung Mittag lançou uma edição extraordinária informando que, em menos de um minuto, meia dúzia de jovens com idade entre 15 e 20 anos, que pareciam estudantes de direito interessados em acompanhar uma audiência judicial, renderam guardas e juízes libertaram da prisão de Moabit um preso acusado de alta traição, Otto Braun. Acrescentava que havia sido identificada a chefe do grupo, “uma linda jovem de cabelos escuros e olhos azuis”.

No território livre da URSS

Caçados por toda a Alemanha pelo aparelho repressor do Estado, que ofereceu uma recompensa de cinco mil marcos a quem desse informações precisas sobre o seu paradeiro, eles deixaram o pais com destino a Moscou.

Depois de sua palestra relatada no início, Olga não teve mais espaço em sua agenda, chamada para debates em escolas, fabricas, fazendas estatais e programas de rádio da URSS. Logo passou a acompanhar a organização da Juventude Comunista em vários países da Europa e foi eleita para o presidium da organização. Foi aceita na Escola da Força Aérea, onde fez cursos de paraquedismo e pilotagem de aviões. Treinou também

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no Regimento de Cavalaria, aprendeu a lidar com artilharia e a manejar armas pesadas. Na Escola da Força Aérea, onde treinavam revolucionários de todo o mundo, alguém lhe falou que um jovem capitão, de nome Luís Carlos Prestes, comandara no Brasil uma coluna de guerrilheiros que percorreu 25.000 quilômetros a pé, e nunca sofreu uma derrota. Olga ficou impressionada e curiosa para saber por que essa coluna incrível não havia derrubado o governo que combatia.

Não tardaria a satisfazer sua curiosidade. No verão de 1934, aos 26 anos, Olga recebeu do secretário do Comintern, organização internacional dos comunistas, uma tarefa especial: acompanhar e dar segurança pessoal a um líder revolucionário latino-americano que tinha decidido voltar ao seu pais e comandar uma revolução. Olga aceitou entusiasmada a missão, e no dia seguinte era apresentada ao “Cavaleiro da Esperança”.

Quem era esses cavalheiros?

Em 1924, Luís Carlos Prestes servia no batalhão ferroviário de Santo Ângelo, no Rio do sul, onde mobilizou 1.500 homens, entre militares e civis, para o encontro com os militares paulistas que se haviam rebelado contra o governo ditatorial de Artur Bernardes e se deslocado para o sul. Em Foz do Iguaçu, os dois grupos se encontraram e formaram a Coluna, que partiu para os sertões brasileiros buscando levantar a população contra despotismo. Entretanto sem um programa claro, recebeu a simpatia popular, mas não uma adesão concreta às suas fileiras. Depois de atravessar 25.00 quilômetros do território brasileiro, os rebeldes penetraram na Bolívia onde despuseram armas.

A miséria encontrada no caminho despertou a consciência de Prestes, que aderiu ao comunismo, aproximou-se do partido comunista e seguiu para a União Soviética.

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A insurreição de 1935

Para despistar as policias secretas, Olga planejou a viagem dos dois como se fosse um casal burguês. Atraída pelas estratégias e táticas de guerra, ela extasiou-se com a narração dos lances da coluna: Prestes por sua vez, encantou-se com aquela bela mulher tão interessada e versadas nas artes bélicas. O que seria um disfarce se tornou realidade. Desembarcaram no Brasil como marido e mulher.

Ao chegarem, em abril de 1935, encontraram em andamento o maior movimento de massas da história do Brasil, a Aliança Nacional Libertadora. ANL juntava operários, camponeses, estudantes, profissionais liberais, setores médios, todos, enfim, que tinham interesses contrários ao modelo econômico que só beneficiava o capital imperialista, os grandes capitalistas nacionais e os latifundiários.

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O governo de Getúlio Vargas decretou a ilegalidade da ANL e a mobilização de massas refluiu. A saída aprovada do PCB foi desencadear uma insurreição, que começou em 23 de novembro, e, à exceção do Rio Grande do Norte, ficou restrita praticamente aos quarteis onde o PCB tinha bases organizadas. Derrotado o movimento, com o país sob estado de sitio, milhares de militantes e simpatizantes foram presos. A maioria dos dirigentes do Partido Comunista suportou as torturas ferozes, mas alguns cederam. A partir de suas informações, a polícia política prendeu Prestes e Olga no dia 05 de março de 1936, Rio de Janeiro.

Nas garras do Gestapo

A ditadura de Vargas simplesmente deportava os estrangeiros presos dos quais não conseguia provas de envolvimento na insurreição. Foi o que ocorreu com Olga, apesar de estar gravida, carregando no útero filho de pai brasileiro, tendo a permanência no país garantida pela Constituição Federal. A Corte Suprema negou os pedidos de habeas-corpus, fundamentando que o estado de sitio suspendia todos os direitos, inclusive os constitucionais.

Apesar da resistência dos companheiros presos, Olga foi retirada do presidio e conduzida para um navio em

cujo mastro tremulava a bandeira alemã com a suástica nazista. No dia 18 de outubro dava entrada na prisão da Gestapo em Berlim, a mesma onde esteve encarcerada sua heroína Rosa Luxemburgo. Foi ali que, em 27 de novembro de 1936 nasceu a filha de Olga e Prestes, Anita Leocádia. Anita veio trazer alento a Olga, que por determinação de Gestapo, só poderia ficar com a filha enquanto a amamentasse. Depois, a criança seria conduzida para um orfanato nazista.

Dona Leocádia, mãe de Prestes, mobilizou a Europa inteira em favor da libertação do filho, da nora e de sua neta, que finalmente lhe foi entregue em 21 de janeiro de 1938,

Anita Leocádia Prestes, filha de Olga Benário e Luis Carlos Prestes

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com um ano e dois meses de idade. Ela recebeu a menina na prisão, mas não pôde ver Olga.

Ravensbrück: O campo de concentração nazista para mulheres

Nos campos de concentração nazistas

Da prisão berlinense, Olga foi conduzida para o campo de concentração de Lichtenburg, e depois para o de Ravensbruck. Em ambos, não lhe permitiram ficar entre as comunistas. Foi colocada na ala das ‘’ antissociais’’, isto é, mendigas, ladras e prostitutas. Olga não se desesperou. Fez amizades e conquistou a liderança daquelas prisioneiras. Procurava despertar sua consciência, dando aulas, mostrando as causas de estarem ali, organizando dramatizações; fez um mapa-múndi para lhes explicar o desenvolvimento da guerra e mostrava a União Soviética, país que derrotaria com certeza, como, de fato, derrotou, o mostro nazifascista.’’ Em pouco tempo estaremos livres’’, dizia. Recebeu várias punições por desenvolver essas atividades: meses em solitárias fétidas e insalubres, chicotadas e outros tipos de tortura, mas nunca recuou.

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Firme até o último instante

Em 1942, as prisioneiras de Ravensbruck começaram a ser retiradas do campo e não voltar mais, exceto as roupas com as quais haviam saído e onde, conforme o combinado, elas escondiam bilhetes informando seu último destino: Bernburg. Nesse lugar, havia um hospital psiquiátrico que os nazistas transformaram em centro de extermínio coletivo, em câmaras de gás venenoso.

A hora de Olga chegou em fevereiro de 1942, pouco antes de ela completar 34 anos de idade. Quando seu nome foi chamado, nos minutos que lhe deram para sair da cela e ir para o veículo que a conduziria à morte, ela deixou um bilhete no qual, depois de falar do grande amor que sentia pelo marido e por sua filha, escreveu;

‘’ Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Até o

último momento, manter-me-ei firme e com a vontade de viver.

Beijo-os pela última vez.’’

Fonte:

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Última carta de Olga Benário

Queridos:

Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças – ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica… Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha carta de despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a ideia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.

Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ei, mesmo que não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver-me dado ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha? Querida Anita, meu querido marido, meu Garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que esforço-me para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão por que se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue.

Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas… Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte.

Beijo-os pela última vez.

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