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Nome: CPI - Tráfico de Órgãos Humanos CPI - Tráfico de Órgãos Humanos Número: 0768/04 Data: 8/6/2004

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL CPI - TRÁFICO DE ÓRGÃOS HUMANOS

EVENTO: Audiência Pública N°: 0768/04 DATA: 8/6/2004 INÍCIO: 15h06min TÉRMINO: 16h04min DURAÇÃO: 58min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 58min PÁGINAS: 23 QUARTOS: 12

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

RENATO CAMARGO VISCARD - Médico intensivista do Centro Intensivo de Assistência Toxicológica – CIAT

SUMÁRIO: Tomada de depoimento.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Havendo número regimental, declaro abertos os trabalhos da 19ª reunião ordinária da Comissão Parlamentar de Inquérito, destinada a investigar atuação de organizações atuantes no tráfico de órgão humanos. Informo aos Srs. Parlamentares que foram distribuídas cópias das atas da 17ª e 18ª reuniões. Sendo assim, indago se há necessidade de sua leitura.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Peço a dispensa da leitura da ata.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Dispensada a leitura, em discussão a ata. Não havendo quem queira discuti-la, passo à votação. Os Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. Aprovadas as atas. Comunico a V.Exas. o recebimento dos seguintes ofícios: Deputado Marcus Vicente, justificando sua ausência no dia 27 de maio de 2004 na reunião desta CPI; Deputado Benedito Dias justificando sua ausência nos dias 1º, 2 e 3 de junho de 2004, nas reuniões da CPI, por ter participado do Fórum Hospitalar em São Paulo; Deputado Dr. Ribamar Alves, comunicando que foi indicado pela Liderança do PSB a participar de compromissos político-partidários no Estado do Maranhão, no dia 18 de maio de 2004. Submeto à apreciação de V.Exas. também serem delegados poderes deliberativos a uma Comissão representativa deste órgão com a finalidade de serem melhores desenvolvido s trabalhos dessa CPI, quando em diligência fora de Brasília. Em discussão a solicitação. Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. Aprovado. Ordem do Dia. Esta reunião foi convocada para realização de audiência pública com a presença do Sr. Renato Camargo Viscard, médico intensivista do Centro Intensivo de Assistência Toxicológica – CIAT e ainda deliberação de requerimentos.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Sr. Presidente, venho pedir a inversão de pauta.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Solicitação de intervenção de pauta feita pelo Deputado Zico Bronzeado. Em discussão a solicitação. Não havendo quem queira discuti-la, passo à votação. Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. Aprovada a inversão. Vamos à Ordem do Dia.

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Requerimento nº 1, convoco o Vice-Presidente, Deputado Pastor Frankembergen, para que assuma... (Pausa.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Item 1. Requerimento nº 49/04, do Sr. Neucimar Fraga, que solicita seja convocado o Sr. Gerson de Souza Barreto, Presidente da Associação Pró-Renais Crônicos do Brasil e membro do Conselho Estadual e Municipal de Salvador, a prestar esclarecimentos que contribuirão para elucidar algumas questões sobre o andamento e funcionamento do Sistema Nacional de Transplante.

O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, pela ordem. Tendo e vista que os três requerimentos são do mesmo autor, queria pedir a V.Exa. a votação em bloco desses 3 requerimentos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Consultado o Plenário. Em discussão. Aprovado. Então vamos fazer a leitura dos 3 requerimentos. Já fizemos a leitura do primeiro, vamos fazer do segundo. Requerimento nº 50/04, do Sr. Neucimar Fraga, que solicita seja convocado o Dr. Jacinto dos Santos, Delegado de Polícia Federal, a prestar esclarecimento a esta Comissão sobre 8 inquéritos abertos para apurar as responsabilidades criminais de dirigentes, médicos, prepostos e representantes de hospitais, em Minas Gerais, pela prática do delito de homicídio tipificado no art. 14 da Lei nº 9.434/97, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e de tratamento. Item 3. Requerimento nº 51/04, do Sr. Neucimar Fraga, que solicita seja convidada a Sra. Neide Barriguelli, Presidente da Federação das Associações de Renais e Transplantados do Brasil, a prestar esclarecimentos que contribuirão para elucidar algumas questões sobre o andamento e funcionamento do Sistema Nacional de Transplante. Para encaminhar a matéria dos 3 requerimentos, concedo a palavra ao Deputado Neucimar Fraga, autor do requerimento.

O SR. DEPUTADO NEUCIMAR FRAGA - Sr. Presidente, os requerimentos ora apresentados, nós entendemos ser de importância para esta Comissão Parlamentar de Inquérito. Primeiro, do delegado que comanda o caso ocorrido na cidade de Poços de Caldas, Minas Gerais, Delegado da Polícia Federal, que tem conhecimento profundo sobre esses casos e a presença dele nesta Comissão para prestar esclarecimentos. Nós entendemos ser muito importante para os trabalhos

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desta Comissão. Os demais convocados: a Presidente do Federação Nacional do Sistemas Renais Crônicos do País e o outro também, o representante dos renais crônicos da Bahia, partindo do princípio de que essas duas pessoas procuraram a Comissão Parlamentar de Inquérito com interesse em participar e ajudar esta Comissão e se apresentaram como colaboradores desta Comissão, desejosos de serem ouvidos por esta Comissão para que eles estar esclarecendo para esta Comissão os procedimentos, as dificuldades enfrentadas pelos pacientes que estão na fila no Brasil aguardando por um transplante. Esse é o motivo da convocação e quero contar com a colaboração dos nobres Pares para que esses requerimentos sejam aprovados para que nós possamos ouvi-los.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pastor Frankembergen) - Em votação os Requerimentos nºs 49/04; 50/04 e 51/04. Em discussão. Não havendo quem queira discutir, os Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram. Aprovado. Devolvo a direção dos trabalhos ao Deputado Neucimar Fraga. (Pausa.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Quero convidar neste momento a tomar assento na Mesa o Dr. Renato Viscard. Antes de passar a palavra ao depoente, peço a atenção dos presentes para as normas estabelecidas no Regimento Interno da Casa. O tempo concedido ao depoente será de até 20 minutos, prorrogados a juízo da Comissão, não podendo ser aparteado durante esse período. Os Deputados interessados em interpelá-lo deverão inscrever-se previamente junto à Secretaria da Comissão. Cada Deputado inscrito terá o prazo de até três minutos para fazer as suas indagações, dispondo o depoente de igual tempo para resposta, facultada a réplica e a tréplica pelo mesmo prazo. (Pausa.) Por se tratar de oitiva de testemunha, quero solicitar ao Sr. Renato Viscard que preste juramento conforme o art. 203 do Código de Processo Penal, que está sobre a mesa.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Faço, sob a palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber e me for perguntado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Em conformidade com o art. 210 do Código de Processo Penal, advirto o depoente das penas culminadas ao crime de falso testemunho, assim descrito no art. 342 do Código de Processo Penal: “Fazer afirmação falsa, ou negar falar a verdade como testemunha perito, tradutor

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ou intérprete em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral”. Vamos, neste momento, conceder a palavra pelo tempo de até 20 minutos, prorrogados a juízo da Comissão pelo mesmo período ao Dr. Renato Viscard. O Dr. Renato Viscard foi convocado através do depoimento, do requerimento apresentado pelo Relator desta Comissão, Deputado Pastor Pedro Ribeiro, e na justificativa ele disse que, na manhã do dia 05 de março, a Dra. Liliana Cardoso, mãe do doador, foi informada que não foi possível realizar o transplante de fígado de seu filho, porque o monitor swanganz, considerado imprescindível na manutenção da vida do receptor, estava quebrado. É necessário que seja esclarecido porque foram capitados os órgãos se não havia condições operacionais necessárias para o transplante, bem como porque ao se constatar a inexistência de equipamento não foi encaminhando o fígado para outro Centro de Transplante. Em documento interno do hospital o Dr. Roland informou que o Dr. Renato Viscard era o médico informado pelo procedimento de monitorização requerido durante o transplante. Então, esse procedimento é referente a esse a esse caso e o motivo da convocação. Vamos conceder a palavra ao Dr. Renato Viscard pelo tempo de até 20 minutos para ele falar sobre os fatos de que tem conhecimento sobre esse caso e ter oportunidade de fazer a sua defesa.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Eu vou esclarecer qual era a minha contribuição no transplante hepático, especificamente no transplante hepático. O transplante hepático é um procedimento em que, num adulto, ou num adolescente, as transfusões sangüíneas de soro e de plasma chegam até a 20, 25 litros. Para que a gente possa fazer esse volume dentro de uma pessoa, só para se ter uma idéia, digo que a quantidade de sangue circulante de uma pessoa é por volta de 5 litros. Então, a gente estaria por vezes trocando até 4 vezes essa quantidade de sangue. Obviamente esse é um procedimento arriscado e só pode ser feito com a monitorização especial, chamado monitorização hemodinâmica, que usa um catéter para determinar o débito cardíaco e outras variáveis hemodinâmicas do paciente. A realização do transplante hepático ocorreu no Hospital de Base, porque inúmeras pessoas dedicaram seu esforço pessoal para que ele acontecesse. Cada um conseguiu o material em algum canto, pegou, emprestou, tomou emprestado e as coisas foram conduzidas dessa maneira. Quando eu fui avisado da possibilidade de

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transplante, eu avisei que o monitor que faz esse tipo de monitorização estava com defeito e não tinha sido consertado por falta de manutenção, mas que eu tentaria arrumar um outro no hospital. Além desse monitor, haviam mais 2 monitores na UTI — esse era o do Centro Cirúrgico —, mas dos monitores da UTI um estava com defeito e o outro estava sendo usado. Como havia aquela possibilidade de que o monitor fosse liberado, as coisas continuaram a ocorrer. No final, o que aconteceu foi que nós não conseguimos tirar o monitor do paciente da UTI, e o nosso estava com defeito, foi quando o transplante não foi realizado. Na época, o conserto de material na Secretaria era uma coisa muito difícil, porque os contratos de manutenção estavam suspensos. Usualmente a gente conseguia um conserto simples em pouco tempo. Então, creio que foi... O grande problema nosso foi a espera de que algo pudesse ser resolvido, e por isso foi pedido sangue, foi pedido tudo. E nós achávamos que realmente conseguiríamos resolver essa dificuldade e não conseguimos. Quanto aos outros fatos, se o órgão foi encaminhado para outro lugar ou não foi, disso eu não tenho conhecimento. Eu não sou da Central de Captação; eu só, durante o ato cirúrgico, fazia a monitorização hemodinâmica. Esse era o meu papel. Não sei se tenho mais alguma coisa a declarar, mas estou à disposição para responder.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O.k. Vamos conceder a palavra ao Deputado Pastor Frankembergen.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Sr. Presidente, demais colegas Deputados, eu gostaria de iniciar perguntando qual foi a participação do Sr. Renato no procedimento da cirurgia do transplante que foi submetido à captação do órgão do jovem, do paciente Marcos Cardoso.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - O senhor diz na captação? O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Exato.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Eu não participava da captação. O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor não participava da captação?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não. A captação é um ato cirúrgico separado, que não precisa de monitorização, da monitorização hemodinâmica, essa monitorização avançada.

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O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está certo. O senhor trabalha... Então a sua especialização, no caso, é para monitorar?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Minha especialização é Medicina Intensiva, minha especialidade é para trabalhar em UTI. Uma das funções de um médico de UTI é fazer monitorização hemodinâmica profunda. Quando se criou o transplante... Eu sou uma pessoa... Eu sou intensivista há 25 anos. Eu tenho muita experiência em monitorização hemodinâmica. Eu, na Associação de Medicina Intensiva Brasileira, sou do Conselho Diretor de um curso de hemodinâmica e fui chamado para participar do transplante exatamente fazendo essa parte.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Está certo. O senhor já falou alguma coisa, mas em que condições técnicas de pessoal e equipamentos se encontrava, à época, a Central de Transplante instalada no Hospital de Base de Brasília para se realizar a captação e o transplante de órgãos humanos?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - As coisas no Hospital de Base, ou sei lá, no serviço público, elas sempre são apertadas. Toda vez que a gente ia fazer um transplante tinha de pedir anestésico para alguém, tinha de pedir pelo amor de Deus para arrumar sangue. Eram coisas dessa ordem. Era uma operação de guerra, a gente saía em campo tentando conseguir as coisas. Às vezes dava certo, às vezes não dava certo. O que houve dessa vez foi um descompasso entre a esperança de conseguir as coisas e a não-realização dessas coisas.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Só uma pergunta: quando os médicos, a equipe médica que estava realizando o transplante começou a retirada dos órgãos...

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Do órgão.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - ... do órgão, eles... não há um sincronismo entre, no caso, a equipe que estava fazendo a retirada do órgão e, no caso, por exemplo, o senhor que estava monitorando para...

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não, nessa hora eu estava tentando arrumar um monitor. Não estava nem perto.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor estava próximo do local, então? E tudo dentro de uma sala?

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O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não, eu estava andando pelo hospital tentando conseguir o monitor.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Há quanto tempo esse monitor estava com defeito ou não estava funcionando?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Uns 2 dias pelo menos, uns 2 dias. O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Uns 2 dias antes... O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Do transplante.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - ... do transplante. Quem é a pessoa, no caso, o encarregado, o profissional médico, para verificar a existência, ou seja, as condições essenciais para a realização do transplante? Inclusive a questão dos equipamentos que são imprescindíveis para a realização da cirurgia?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - O senhor diz a nível do hospital? O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - A nível do hospital, no caso aqui se referindo especificamente à questão do transplante.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Perfeito. A nível do hospital, cada um cuida de alguma coisa, mas o responsável é o chefe do transplante, que, no caso, é o Dr. Roland.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Ele é o responsável para... Ou seja, para...

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Juntar as coisas.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - ... juntar as coisas de vocês.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Juntar as pessoas, as coisas.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - As pessoas, a questão de equipamento?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sem dúvida.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Então ele, antes da cirurgia, para se fazer o transplante, ele chegou a lhe procurar e perguntar como é que estava? Se estava funcionando, se não estava?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sim. Sim, sem dúvida.

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O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Me perguntou. E eu falei o que ia fazer. Eu falei que ia procurar, porque o nosso estava quebrado e ia procurar.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Mas isso só foi no ato da cirurgia?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não, isso foi antes, quando ele, já tentando fazer a captação, me comunicou.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Mas ele não tinha conhecimento de que fazia 2 dias que esse monitor estava...

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Provavelmente não. Vou dizer uma coisa: monitor, no Hospital de Base, é continuamente usado — não existe essa coisa de falar assim: — Esse material aqui é do transplante e vai ficar guardado à chave. A gente não pode se dar a esse luxo; à época não podia, porque faltavam monitores. Se eu trancasse o monitor dentro do armário, algumas cirurgias seriam suspensas por isso. Então, o monitor do transplante era usado em outras cirurgias, não era exclusivo do transplante, e, obviamente, se se mexe muito com equipamento eletrônico, a tendência dele é um dia quebrar.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - No Hospital de Base existe somente um monitor?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Desse tipo?

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Desse tipo.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Desse tipo só tínhamos 3, só. O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Três?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Só 3.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - E os outros 3, não estavam funcionando ou estavam sendo usados?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não, 3 com o nosso. Um deles não estava funcionando, e o outro estava sendo usado na UTI, e era esse que nós esperávamos que pudéssemos trazer para o transplante e não pudemos.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Na sua avaliação, o cirurgião responsável pela captação, bem como o médico responsável pela monitorização do receptor — no caso o senhor — não deveriam, previamente, verificar as condições dos materiais e equipamentos necessários ao procedimento?

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O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sim, mas tudo era difícil. Se a gente fosse esperar condições absolutamente ideais... Não se pode esperar, assim, 10 litros de sangue do tipo B negativo. O transplante surgiu agora: você liga para o Hemocentro e pede 10 litros de sangue B negativo. O Hemocentro fala assim: — Tenho meio litro. Aí, começa. — Mas onde pode ter? — Ah, no Hospital do Gama. —

Ah, onde mais? — No hospital... Quer dizer, é todo um processamento. O paciente

que está na situação de doador... não é muito fácil manter aquela situação; às vezes, o paciente não resiste muito tempo, porque ele já tem morte cerebral. Então, as coisas saem atropeladas mesmo, e a gente vai fazendo e fazendo para ver se consegue dar tempo — esse é que é o problema. Não dá para falar assim: Não, eu

só vou começar a tirar o órgão na hora em que eu conseguir os 10 litros de sangue.

Não dá para fazer isso. Se a gente fosse fazer esse tipo de procedimento, não teria saído nenhum transplante.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Certo. O senhor tem conhecimento de uma sindicância interna realizada pelo Hospital de Base, após a denúncia da mãe do garoto Marcus, solicitando a apuração dos fatos com relação ao transplante?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Eu tenho conhecimento, mas eu nunca fui convocado para essa sindicância.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor nunca foi ouvido nessa sindicância?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não; nunca fui convocado nem ouvido.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - No relatório desse sindicância, se afirma que o fígado não foi implantado, ou seja, não receptou devido à perda de tempo ocorrida pela falta, no caso, do aparelho que monitorava o débito cardíaco do receptor.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sim.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Pergunto: não foi constatado previamente pela equipe cirúrgica — volto até a fazer esta pergunta — que o hospital não tinha equipamentos em condição de fazer o transplante?

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O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Foi constatado, mas havia uma chance de conseguir. E, por isso, a gente deu andamento às coisas. Nos outros transplantes, nós também tivemos problemas, e grandes, e conseguimos vencê-los. Naquele transplante não conseguimos. Nosso esforço é grande: o hospital é um hospital público, com carência de verbas, com carência de medicação — só para V.Exa. ter uma idéia, nosso transplante, algum tempo depois, foi cassado pelo Ministério da Saúde. Por quê? Porque nosso equipamento estava deficiente, não tinha sido nem consertado ainda, e estavam começando a faltar anestésicos, antibióticos, coisas dessa ordem. Tivemos de suspender os transplantes. O Ministério da Saúde foi lá. Constatou a situação e falou: “olha, não temos outra coisa

a fazer a não ser suspender o transplante de fígado”, que foi suspenso.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O relatório também afirma que, devido as condições operacionais precárias e face ao decurso de tempo, o fígado captado não foi remetido a outro centro transplantador por já não apresentar eficácia quanto ao seu resultado. Por que a equipe médica, ao verificar, ainda que tardiamente, que o hospital não dispunha, naquele momento, dos equipamentos indispensáveis ao transplante, não encaminhou o órgão para outro centro transplantador. Não houve negligência, na sua avaliação?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não sei. Eu não trabalho na Central de Regulação de Transplante, certo. Esse procedimento não faz parte do que eu faço. Eu diria que não houve — meu julgamento. Porque a gente sempre estendia as coisas ao máximo. É como eu disse, o esforço da gente era sempre... Às vezes, faltava o fio específico para fazer a sutura da artéria. E a gente saía; ligava para o hospital particular, o colega lá arrumava, coisas dessa ordem. Não pensa que era uma operação assim tranqüila e limpa.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Outra pergunta. No julgamento da sindicância, concluiu-se que o fígado foi encaminhado, na forma da lei, para o Núcleo de Anatomia Patológica, sendo daí enviado para a incineração. No entanto, no dia 12 de agosto de 2002, a Diretoria de Controle e Avaliação dos Serviços de Saúde, da SES, do DF, informou ao Sistema Nacional de Transplantes que a sindicância do Hospital de Base esclareceu que o fígado do paciente Marcus Henrique Cardoso foi sepultado no cemitério local, dentro das normas existentes.

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Pergunto: o senhor pode nos dizer se o fígado doado foi incinerado ou sepultado? E, se foi sepultado, em que cemitério de Brasília?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não sei. Porque não faz parte do meu procedimento. Esse é o procedimento do anatomista, do pessoal da anatomia patológica, do médico legal etc.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Eu gostaria de fazer uma pergunta: no caso do transplante, qual a sua atuação específica nesse ato cirúrgico?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - A punção de uma veia profunda próxima ao coração, ou uma veia profunda do pescoço, ou uma veia do tórax profunda. A passagem do catéter. O catéter vai até a artéria, passa por dentro da câmara direita do coração, entra no pulmão, na artéria pulmonar e, naquela posição, a gente, por uma diferença de temperatura, injetando uma solução de temperatura conhecida, consegue-se calcular o débito cardíaco. Medindo as pressões pulmonares, você consegue estimar a pressão da câmara esquerda do coração e das câmaras direitas. Isso tem aplicação em equações. E você pode determinar a quantidade de sangue injetada pelo coração e a situação da circulação periférica. E, com esses dados, o paciente que tem insuficiência hepática tem um tipo especial de circulação. Os vasos periféricos dele são extremamente dilatados. Por isso, é uma cirurgia que usa muito volume sangüíneo, de soro, etc. Sem essa monitorização, é arriscadíssimo fazer um transplante, especificamente o de fígado.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Esse procedimento é feito no receptor?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - No receptor; só nele.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Somente no receptor. E, na captação, o senhor tem alguma participação no ato da captação?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não tenho.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Então, no momento em que foi retirado o fígado do Marcus, o senhor não estava presente?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não, não estava presente.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - E o senhor não tem conhecimento se, realmente, foi tirado mais algum órgão?

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O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não tenho. Se foi retirado em bloco, é isso o que o senhor quer saber, não sei, não estava lá.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O.k., obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Com a palavra o Deputado Jurandir Boia.

O SR. DEPUTADO JURANDIR BOIA - Sr. Presidente, Dr. Renato, eu posso ser a testemunha do que é o sacerdócio da Medicina, porque exerci, durante muitos anos, essa profissão. E sacerdócio, porque tem que ter vontade de fazer, de realizar as coisas, principalmente nos hospitais públicos que deveriam estar à frente da medicina no atendimento à pessoa que necessita daquele tipo de tratamento. E, os médicos, às vezes, se vêem, como muitos, a ponto de escolher quem vai sobreviver ou não, porque a realidade é cruel, sobretudo para quem desse tipo de hospital precisa. E, com isso, padece o paciente e seus familiares, mas padece, muito mais, quem vive o drama de poder dar uma assistência de qualidade; quem tem competência e qualificação para fazer e realizar qualquer procedimento na área especializada. Por isso, acho que os médicos, de um modo geral, em determinado momento, são muito injustiçados, quando são criticados, diante de alguma fatalidade ou diante de alguma ocorrência indesejável. No entanto, gostaria, só a nível de informação, diante de toda essa realidade que não é boa nos hospitais públicos... Consegue-se programar uma cirurgia, um transplante antecipado, uma cirurgia de forma eletiva, sabendo que... porque, pela precariedade de instrumentos e de equipamentos, a pessoa pode, em determinado momento, em pleno ato cirúrgico, vir a pane qualquer equipamento desse. Mas se consegue, pelo que o nobre médico falou, numa programação, num transplante, fazer que o paciente possa correr o risco de não ter um monitor, de não ter os fios para fazer as ligaduras adequadas, ou são casos que, de fato, não fossem para a mesa, numa emergência médica, morreria; ou se era, de forma eletiva, como são boa parte dos atos?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - O transplante não chega a ser um procedimento eletivo. Porque, quando você sabe que tem um possível doador, você vai fazer tipagem sangüínea dele; vai tentar conseguir o sangue dele; vai fazer as tipagens infecciosas, para saber se é possível ter alguma doença; se ele é

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compatível com o receptor. Isso leva, pelo menos, umas seis horas. Enquanto isso está acontecendo, o resto tem que estar acontecendo. Porque o doador em morte cerebral, o senhor sabe, é de difícil manutenção. A gente não pode usar drogas muito pesadas, porque comprometem o estado do órgão a ser transplantado no caso. O transplante é sempre uma operação de guerra. Você pára de fazer tudo o que você estava fazendo e vai sempre atrás de alguma coisa. Cada um vai atrás de alguma coisa. A equipe, nós éramos oito, assim, fixos; e, se entrava em contato por telefone, cada um de onde estivesse já saia acionando a sua parte. Normalmente, não foi a primeira vez que não deu certo; o que não conseguimos, dessa vez, foi salvar o órgão. Esse foi o problema. Outros transplantes também não deram certo. Houve transplante, no qual não conseguimos achar a quantidade de sangue suficiente, por exemplo. Então, não foi possível realizar. E aí deu tempo de encaminhar para outro local o órgão doador em causa, não é.

O SR. DEPUTADO JURANDIR BOIA - Respondido, Deputado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Com a palavra o Deputado Zico Bronzeado.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Dr. Renato, estamos, já há alguns dias, trabalhando com esta CPI, na verdade, conhecendo várias situações que, para nós, eram desconhecidas. E, a partir dessa nossa ida a São Paulo, semana passada, comecei a ver que esta CPI tem uma contribuição muito grande a dar a este País, não em relação ao transplante do fígado, aqui, do Hospital de Base, mas a uma série de outros. Agora, queria perguntar ao doutor quais os requisitos básicos para que essa unidade de saúde, um hospital, como o Hospital de Base em Brasília, que é um hospital de referência, não é Presidente, seja uma unidade transplantadora? O que é necessário: os profissionais, os equipamentos ou um alvará, uma autorização do Ministério da Saúde?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - O Ministério da Saúde tem normas para uma unidade de transplante de fígado, por exemplo, ou transplante renal, ou qualquer transplante de córnea. O hospital tem que ser de um certo nível; ele tem que ter banco de sangue; tem que ter posto de coleta; tem que ter um equipamento de certo tipo. Existe, na portaria, especificado qual o equipamento que a gente tem de ter. Uma vez que você reuna todas as condições, você solicita ao Ministério da

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Saúde, eles vêm, fazem uma vistoria e aprovam ou não. Aprovando, você tem que ter um banco de sangue maravilhoso, você tem que ter laboratório maravilhoso, porque você vai fazer exames que são rápidos e específicos. Bem, aprovado, você pode começar a ter o transplante; abre-se a fila, você se inscreve como unidade de transplante, no Sistema Nacional — funciona por aí. Embora eu nunca tenha participado disso, eu sei disso. E eu participei da visita de fechamento do nosso transplante. Estava lá a colega, era uma colega de Campinas, que falou: “Olha, eu

vou fechar na tentativa de ajudar vocês... — até isso ela falou —, ... porque as condições de vocês são muito precárias”.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Então, o Hospital de Base preenchia esses requisitos antes dessa...

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Antes preenchia.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Só faltava estar funcionando o equipamento.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Antes preenchia; depois parou de preencher.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - E o fechamento foi dado em relação a esse fato de não ter, ou houve outros?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Bem, aí, depois, já havia mais equipamentos quebrados. O conserto de equipamento passou um grande tempo, no hospital, sendo um problema. Não havia contrato de manutenção mais. Algumas firmas faziam de graça, porque conheciam a gente, uma relação, no final, que você tem, não é. Ou o sujeito fazia, esperando receber, daqui a um ano, sei lá quanto tempo, enfim, mas era sempre uma relação meio informal; era de favor mesmo.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - O que nos leva a questionar, doutor, é que, na verdade, temos consciência de que a maioria, realmente, é morte cerebral. Mas, em outros casos, foi constatado, acho que, nesta Comissão, já houve casos de denúncias de que houve um forçamento de morte etc. Então, nossa preocupação é se, nesse caso, não foi só perdido um fígado, não é, também foi uma vida. Não quero aqui fazer uma acusação. Mas já que o hospital não estava preparado, naquele momento, com equipamento, em que se perdeu uma vida, não

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em detrimento da retirada do fígado, e não poder... E o paciente que iria receber esse fígado, ele teve uma segunda chance?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Teve. Não com a gente, não é. O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Foi transplantado?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Detalhes da história eu não sei, mas ele teve a segunda chance. Porque nós acabamos com a fila, não é. Quando a gente viu que estava num ponto, no qual não podia mais ir, nós mesmos paramos.

O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - É isso, Sr. Presidente, muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Sr. Renato, o senhor faz parte da equipe de transplante do Hospital de Base de Brasília desde o início da credencial do hospital?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Transplante de fígado, o senhor diz? Eu fiz todos os transplantes. Aliás, vou dizer francamente, inscrito no Ministério da Saúde, eu não estou na equipe de transplante, mas eu faço parte da equipe como voluntário.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas, a legislação, então, permite que uma pessoa que não seja inscrito...

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Permite.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - ... como membro da equipe de transplante participe dos procedimentos então, é normal isso?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Permite, se eu tiver a especialização suficiente para realizar aquilo, não é?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, o senhor, oficialmente, não fazia parte da equipe de transplante?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não. Fazia isso, sei lá, como... O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Voluntário.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Voluntário.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Existe muito voluntário, como o senhor, trabalhando no sistema de transplante, sem fazer parte oficialmente das equipes de transplante?

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O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não sei no sistema de transplantes, mas, em outras coisas, especificamente, existem, sem dúvida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor nos relatou a dificuldade enfrentada e disse que esse não é o primeiro caso em que existiram problemas durante o procedimento de transplante. Foi o primeiro caso em que vocês perderam o fígado. Mas que já tiveram outros problemas, também, durante os procedimentos. O senhor acredita que esses problemas também são responsáveis pela queda nos procedimentos de transplantes, dentro dos hospitais; poderiam ser maiores se não houvesse esses problemas?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Olha, sem dúvida. Acho que a mídia até bem fala das condições de saúde do sistema público. Elas pioraram muito. Então, o transplante de fígado não existe mais em Brasília. Não temos fila; os pacientes são encaminhados para fora. Isso foi a piora do sistema, sem dúvida. Quando o Deputado disse que a CPI é útil, acho que ela será útil em muitos aspectos. Um deles creio que seria a melhoria de condições da saúde pública. Esse seria um dos aspectos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, o senhor concorda em que a falta, vamos dizer aí, de equipamentos, de investimentos e de acompanhamento tem prejudicado a captação de órgãos e o transplante no Brasil?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sem dúvida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mesmo diante das dificuldades já apontadas pelo Hospital de Base de Brasília e outros centros transplantistas no Brasil, o Governo insiste, ao invés de resolver o problema, em fazer campanha para doação de órgãos. Se existem problemas e não existe mais transplante, vamos dizer, por falhas no sistema, o senhor acredita que, fazendo mais campanhas, não haverá muito mais órgãos para serem desperdiçados?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Acho que isso tem duas vertentes. O que nós fizemos quando tivemos a primeira perda? Nós paramos o transplante, certo, infelizmente. Mas, por outro lado, o transplante deve ser incentivado para que as pessoas façam doação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas se existe dificuldade em fazer a retirada do órgão, se existe dificuldade nos procedimentos necessários

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para um transplante com sucesso, o que queremos perguntar é o seguinte: não era mais fácil, ao invés de o Ministério gastar verba com publicidade para incentivar a doação, investir para que o sistema funcione cem por cento, sem falta de equipamentos e procedimentos?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sem dúvida, claro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Porque, nesse ponto, estamos também tentando colaborar. Porque, se existe problema no sistema; se, como o senhor disse, muitos transplantes poderiam ter sido realizados em Brasília, se o sistema funcionasse cem por cento, se o hospital tivesse a infra-estrutura necessária para um credenciamento, com certeza, durante esse período, várias pessoas perderam a oportunidade de viver por falta de um órgão; inclusive esse paciente que esteve no hospital para receber o órgão, ficando 10 horas à disposição da equipe de transplante, mas depois foi informado de que não poderia ser realizado o transplante, porque o órgão já havia sido prejudicado e veio a morrer posteriormente, pela falta de um órgão. Ele veio; estava com toda a expectativa de vida; não recebeu o órgão e acabou morrendo. Ou seja, o que estamos querendo dizer é que existem pessoas, dentro do próprio Ministério da Saúde, inclusive o Ministro, que tem dito que o sistema de transplante no Brasil funciona 100%, sem problemas. E os depoimentos, que estamos colhendo, estão confirmando que os procedimentos necessários para um transplante, com sucesso, estão falhando e muitos transplantes deixam de ser realizados. O senhor, então, confirma essa dificuldade?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sem dúvida. Deve-se investir mais. Como o senhor disse, talvez menos propaganda e mais investimento na área.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Nos equipamentos? O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sem dúvida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor, com certeza, por fazer parte, mesmo que voluntário, dessa equipe, sabe da importância de salvar uma vida, de se dar uma expectativa, de dar aos pacientes que estão na fila uma esperança. Por exemplo, quando o Ministério da Saúde veio e interrompeu o trabalho de transplante no hospital foi por falta dos procedimentos necessários — equipamentos, infra-estrutura. Se ele tivesse, em vez de paralisado o programa,

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perguntado “O que está faltando aqui para que o programa funcione 100%?”, ele contribuiria mais ou não para o sistema de transplante?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sem dúvida, se ele nos ajudasse a corrigir os problemas, contribuiria muito mais do que pura e simplesmente cassando a nossa licença.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - A equipe de transplantes e... segundo alguns depoimentos prestados, inclusive pelo coordenador da Central de Transplantes, eles foram unânimes também em afirmar que 50% dos hospitais do Brasil não notificam as centrais de transplantes sobre as mortes diagnosticadas no conceito de morte encefálica nos hospitais. Esse é um procedimento também no Hospital de Base de Brasília? O senhor acredita?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não. No hospital, a campanha era muito grande para doação. Mesmo assim, muitas famílias não concordavam.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Mas, segundo depoimentos prestados aqui por médicos, inclusive pela coordenadora da Central, e até pelo coordenador nacional do Sistema de Transplante, o Roberto Soares, ele diz que os transplantes no Brasil poderiam ser maiores entre doadores e cadáveres, mas não são, porque, os hospitais, mais de 50% dos casos, eles não notificam as centrais de transplante sobre as mortes encefálicas dos hospitais.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Isso deve ocorrer realmente. Tudo no Brasil é subnotificado. Qualquer doença é subnotificada e, seguramente, o transplante deve entrar nessa fila. Também é subnotificado no mundo inteiro. Há uma porcentagem que se perde.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O senhor acha que essa omissão em notificar centrais sobre as mortes encefálicas é proposital ou tem algum outro motivo?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - É difícil responder. Não sei, porque é uma situação que realmente nunca vivi. Não creio que motivos religiosos neste País sejam muito fortes, embora eles existam, mas dificilmente alguém colocaria a religião acima de um procedimento desses. Pode ser que as pessoas não notifiquem.

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O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Da estrutura hospitalar? É difícil. O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - A lei diz o seguinte... A lei diz que, diagnosticado o conceito de morte encefálica, o hospital, uma equipe médica, um médico que está tratando o paciente, tem que comunicar à Central de Transplante sobre o paciente diagnosticado com a morte encefálica. A Central de Transplante vem ao hospital e, através de uma estrutura que pode contar com psicólogo, assistente social e até membros da Central, faz a abordagem à família do paciente que está diagnosticado com o conceito de morte encefálica, para ver a possibilidade de se autorizar as doações.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - O que acho que deve acontecer é que a pessoa já prejulga, frente a um paciente com morte cerebral e com um prognóstico ruim, ou com uma contra-indicação, ele já nem avisa mais a Central. O Sistema de Saúde não é muito organizado e sabemos disso. Como se vai brigar por certas coisas, se faltam tantas outras?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Então, o senhor há de convir que, no Brasil, o que falta não é doador, nem órgão. O que falta é o sistema funcionar também cem por cento?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sem dúvida. Já fui a um hospital no interior do Brasil, que também se chamava Hospital de Base. Fui dar um curso de UTI lá. Precisei apanhar uma peça lá dentro da UTI, falei com o colega: “Como é

que está?”. Ele disse: “Ah, está mais ou menos”. “Mas, qual é o problema?”. E ele

falou: “Nós só temos um antibiótico”. Não perguntei nem qual era para não ficar chato para mim ou para ele. Mas essa é a situação. Essa é a situação da Saúde. Sem dúvida, a organização vai depender do investimento, senão não vai ser possível. Você não pode estar preocupado com o transplante se o seu paciente de apendicite está morrendo, uma coisa muito mais simples. Eu acho que, obedecendo a uma ordem de complexidade, é isso que provavelmente leva à desorganização do sistema. Você não tem como resolver as pequenas coisas, que dirá as grandes.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Durante o tempo de trabalho do senhor no Hospital de Base de Brasília, o senhor já presenciou fatos semelhante a esse, onde um órgão se perdeu por falta de equipamentos ou por imperícia ali do trabalho?

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O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Eu não sei. Não. Que eu acompanhasse de perto, não.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Você já ouvir falar...

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Eu sei que o transplante renal teve problemas dessa ordem, certo, por falta de condições mesmo, por falta de fio de sutura, coisa dessa ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Agora, segundo a sindicância, o hospital constatou a morte encefálica e comunicou a Central. A Central entrou em contato com a família de receptores. Os receptores foram chamados ao hospital. Houve um período aí grande entre um procedimento e outro. Isso não foi suficiente para dizer: “Olha, está faltando um aparelho, vamos buscar, e

vamos colocar e vamos salvar”. Não deu para... nesse período?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não, eu que cuidei, eu particularmente cuidei disso. Eu liguei para o representante, pedi para ele olhar o aparelho. É o tempo do representante me mandar o técnico e vê que não conseguia consertar o aparelho naquela hora. É o tempo de eu sair procurando outro, de eu tentar arrumar um emprestado fora do hospital. Foi mais ou menos isso. Não conseguimos, eu não consegui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Só mais uma pergunta, Dr. Renato. O art. 2º c/c art. 14 da Lei de Transplante, a Lei 9. 434, diz que participar da equipe de transplante, sem registro no Ministério, é crime, com pena de 2 a 6 anos de reclusão. O senhor sabia disso?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O órgão de classe dos médicos, o Conselho Regional de Medicina, o senhor acha que não têm esclarecimento sobre essa lei?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O.k. Com a palavra o Deputado Pastor Frankembergen.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Eu gostaria de perguntar ao depoente em que momento o senhor avisou que o aparelho, o monitoramento estava danificado? Em que momento desse processo?

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O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - No momento que eu fui comunicado sobre o transplante. Quando me falaram: “Tem um transplante em andamento”. Eu falei: o aparelho está com defeito. Eu vou atrás para ver se eu consigo resolver.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - Isso quantas horas antes de se fazer o procedimento da retirada, da captação do órgão?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não me lembro.

O SR. DEPUTADO PASTOR FRANKEMBERGEN - O senhor não sabe? O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não me lembro realmente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Sr. Renato, qual é o procedimento, por exemplo, que a equipe de transplante, ao realizar um transplante, a equipe recebe do SUS por esse procedimento?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - A equipe? Não. O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Não?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Bom, pelo menos aqui no Hospital de Base.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O hospital que recebe? O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - É o hospital que recebe.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O.k. O senhor, como voluntário, não recebia nada por participar da equipe?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Não. Acho que ninguém recebia, não é?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Só o hospital?

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Só o hospital. Passávamos à noite, normalmente é feito à noite, porque temos outras atividades, mas...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - O.k.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - ... nunca recebemos nada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Nós queremos agradecer a presença do senhor aqui, atendendo à convocação desta CPI e dizer que estamos trabalhando. O objetivo desta Comissão Parlamentar de Inquérito é investigar as denúncias sobre irregularidades no sistema de transplante, sobre o tráfico de órgãos no País. Estamos acompanhando alguns casos em algumas regiões do Brasil e estamos acompanhando atentamente os depoimentos. E estamos constatando que,

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na verdade, no Brasil, não falta doador, nem faltam órgãos. O que está faltando realmente é o sistema ser eficiente na captação e eficiente no transplante a ser realizado. Na verdade, o que estamos percebendo é que existe um desperdício de órgãos no Brasil, até porque as campanhas que são feitas são feitas para todo o Brasil. E existe região que nem Central de Captação existe. Por exemplo, no caso de Brasília, se tivesse aqui uma campanha regional por cada Estado, cada Estado ia fazer campanha de doação para o órgão que ele está captando, o que adianta aqui, em Brasília, por exemplo, incentivar o pessoal doar um fígado, se aqui não existe captação para esse fígado ser transplantado. O que condiz, por exemplo, incentivar a doação de coração se aqui não faz a captação do coração. Então, nós queremos até propor, no final dos trabalhos desta Comissão, que as campanhas sejam regionalizadas e que seja incentivada a doação de órgãos que podem ser aproveitados naquela região.

O SR. RENATO CAMARGO VISCARD - Sem dúvida, creio que seria uma boa medida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - E, aí, além de você ter segurança dentro do processo, você vai evitar, por exemplo, que uma família autorize tirar um rim, ou um fígado, e a equipe tire um outro órgão. E aí nós estamos percebendo que existem, já em algumas regiões, membros de equipes que trabalham de má-fé, pedem autorização para tirar um órgão e tiram outro e o mandam para o setor particular para as equipes particulares realizarem o transplante em pacientes particulares. Então, nós queremos agradecer o senhor pela participação. Se entendermos que seja necessário convocá-lo novamente, nós vamos convocá-lo para que o senhor possa estar colaborando com esta Comissão Parlamentar de Inquérito. Agradecemos a presença do senhor aqui na Comissão conosco. E, não havendo mais quem queira fazer uso da palavra, convoco reunião para o próximo dia 15 de junho, terça-feira, às 14h, em local ainda a definir, com a presença dos Srs. Dr. Celso Galli Coimbra, advogado, estudioso do método de apinéia; Dr. Cícero Galli Coimbra, neurologista; Dr. Luís Alcides Manreza, neurologista. E ainda para deliberação de requerimento, cuja pauta será encaminhada aos gabinetes de V.Exas. Essa reunião, na terça-feira, vai ser um debate importante nesta Comissão, onde vamos ter aqui especialistas das áreas

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discutindo a morte encefálica no Brasil e o método de apinéia, que são exames exigidos para diagnóstico de morte encefálica, pela rede pública do nosso País. Muito obrigado. Que Deus abençoe a todos. Agradeço a presença de todos. Declaro encerrada esta reunião.

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