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A PRIVATIZAÇÃO DOS PRESÍDIOS - UM AVANÇO NECESSÁRIO PARA A SOLUÇÃO DA CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO

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ELCIO CÂNDIGO ORTIGARA ELIZÂNGELA JACKOWSKI PELISSARO

A PRIVATIZAÇÃO DOS PRESÍDIOS - UM AVANÇO

NECESSÁRIO PARA A SOLUÇÃO DA CRISE NO

SISTEMA PENITENCIÁRIO

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A P R I V A T I Z A Ç Ã O D O S P R E S Í D I O S - U M A V A N Ç O

N E C E S S Á R I O P A R A A S O L U Ç Ã O D A C R I S E N O

S I S T E M A P E N I T E N C I Á R I O

Elcio Cândigo Ortigara ¹ Elizângela Jackowski Pelissaro² ¹ Advogado/SC, Bacharéu em Direito/Unoesc-Campus Videira.

² Funcionária Pública do Poder Judiciário/SC, Bacharéu em Direito/Unoesc-Campus Videira.

RESUMO: O presente artigo demonstra a análise do sistema carcerário vigente no Brasil e, conseqüentemente, a condição precária em que se encontram os presídios, os quais apresentam problemas como superlotação e falta de higiene, sendo, portanto, um ambiente propício ao crime organizado e que pode tornar humanamente impossível a ressociabilização do individuo que está preso. Tendo isso em vista, busca-se uma alternativa a fim de que o objetivo principal da pena seja atingido, adequando o sistema com a terceirização e/ou privatização destes presídios.

Palavras-chave: Estado. Sociedade. Sistema Penal Brasileiro. Terceirização. Privatização.

Este artigo traz como temática central o atual sistema penitenciário brasileiro e a necessidade urgente de soluções para os problemas que vêm se acumulando no decorrer dos tempos. O objetivo é apontar a implementação da privatização dos

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presídios não apenas como uma possibilidade, mas como uma necessidade, uma saída para o caos que se estabeleceu na maioria das penitenciárias brasileiras.

A privatização do sistema penitenciário gera polêmica quando se trata da contenção da insegurança e da criminalidade. Na prática, essa alternativa representa um grande desafio para o Estado, administração e autoridades. Descentralizar a prestação de serviços como alimentação, saúde e educação, atribuindo autonomia para gerir o resgate social dos apenados, significa um grande avanço na consolidação de um sistema comprometido com a segurança da sociedade.

A desigualdade social acompanha toda a trajetória histórica do Brasil e vem se agravando nos últimos tempos. Por fatores diversos, cresce a distância entre os grupos menos abastados e as demais classes. Uma parcela da população se desenvolve em meio às condições sociais que o sistema ou modo de produção, de alguma maneira, impõe, e nem sempre essas pessoas são dotadas dos direitos previstos na Constituição.

Tais privações naturalmente despertam sentimentos de opressão e submissão. A prática de delitos acaba se tornando constante como forma de compensação das desigualdades sociais, levando à criminalidade e à segregação.

No que diz respeito ao sistema carcerário, do ponto de vista da organização social, o agravamento é ainda maior. De um lado, o Estado com a prisão, aparentemente, cumpre sua responsabilidade de restabelecer a ordem e a segurança, e a sociedade, por sua vez, fica resguardada dos seus direitos. Em outras palavras, o que se tem é a concepção de que a única resposta ao delito é a prisão.

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Sob este aspecto, descartam-se os fatos que desencadearam tal ação: transgrediu a Lei, tem que ser preso; e tudo está resolvido. É como se o sistema carcerário desempenhasse, por si só, a função socializadora do apenado.

Como resultado, o que se vê são instituições prisionais comportando um número excessivo de presos. Sem exagero pode-se afirmar que a prisão está em crise. Essa crise abrange também o objetivo ressocializador da pena privativa de liberdade, visto que grande parte das críticas e questionamentos que se faz à prisão refere-se à impossibilidade - absoluta ou relativa - de obter algum efeito.

A condição caótica em que se encontram os presídios no Brasil é um exemplo bastante claro: superlotação, maus tratos, falta de higiene, ócio, deficiência no atendimento médico e psicológico, alto índice de consumo de drogas, violência e corrupção. O ambiente propício para o crime organizado, as rebeliões e os descontroles de toda espécie. Assim, é possível afirmar que o sistema penitenciário brasileiro está no auge da crise.

O processo de privatização, assunto que tem gerado muitas discussões, chega ao seu limite em se tratando de serviços públicos essenciais, como se trata a segurança pública.

As posições são díspares. Há quem defenda a adoção de tal medida como a solução definitiva para a crise pela qual atravessa o sistema penitenciário. Outros, no entanto, despertam a atenção para o que consideram o mais absoluto e intolerável abandono dos poderes do Estado.

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Júlio Fabbrini Mirabete ao analisar o tema, separa as atividades inerentes à execução, destacando as atividades administrativas em sentido amplo, classificadas na divisão que propõe: atividades administrativas em sentido estrito (judiciárias) e atividades de execução material, podendo estas, em seu modo de pensar, serem atribuídas a entidades privadas. Afasta, pois, em termos legais, qualquer tentativa de privatizar as atividades jurisdicionais, bem como a atividade administrativa judiciária, exercidas estas últimas, v.g. pelo Ministério Público, Conselho Penitenciário, etc.

O Professor Damásio de Jesus, acerca do questionamento sobre a privatização de presídios, cauteloso, asseverou:

A privatização é conveniente desde que o poder de execução permaneça com o Estado. O que é possível é o poder público terceirizar determinadas tarefas, de modo que aqueles que trabalham nas penitenciárias não sejam necessariamente funcionários públicos. Mas advirto: se fizermos isso, não se abriria caminho para a corrupção?1

Consoante o saudoso Hely Lopes Meirelles, existem os serviços públicos propriamente ditos, cuja Administração presta diretamente à comunidade, devido ao seu caráter eminentemente essencial e necessário "para a sobrevivência do grupo social e do próprio Estado. Por isso mesmo, tais serviços são considerados privativos do Poder Público, no sentido de que só a Administração deve prestá-los, sem delegação a terceiros", como, por exemplo, os de polícia.

1 JESUS, Damásio de, Entrevista à revista Problemas Brasileiros, nº 383 Set/Out 2007, Portal do SESC SP. Disponível

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O interesse pela privatização, entendida no sentido de busca pelo regime jurídico de direito privado para a Administração Pública, não pode chegar ao ponto de tornar letra morta o princípio da legalidade, porque sem este não se pode falar em Estado de Direito.

Não é possível, simplesmente, ignorar o regime jurídico de direito público, sem que se promovam as alterações legislativas necessárias a essa finalidade.

Já criminalistas como Luiz Flávio Borges D'urso, por outro lado, dedicam teses de mestrado à defesa da privatização do sistema carcerário, à semelhança do modelo francês, onde o administrador privado trabalha em parceria com o Estado. Advoga a tese da privatização dos presídios, como forma de minimizar os malefícios provocados pelos cárceres brasileiros.

As primeiras propostas de privatização dos serviços penitenciários no Brasil são recentes. Tem-se até então a experiência de participação privada nos seguintes estabelecimentos prisionais: Penitenciária Industrial e Regional do Cariri, no Ceará, e na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG), no Paraná. Ambas construídas com recursos dos Governos Federal e Estadual.

Em 2003 Borges, Membro do Conselho Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça e atual presidente da OAB/SP, quando presidiu o Conselho Estadual de Política Criminal e Penitenciária de São Paulo emitiu a seguinte opinião:

"Registro que sou amplamente favorável à privatização, no modelo francês e as duas experiências brasileiras, uma no Paraná há um ano e outra no Ceará, há dois meses,

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há de se reconhecer que são um sucesso, não registram uma rebelião ou fuga e todos que orbitam em torno dessas unidades, revelam que a ‘utopia’ de tratar o preso adequadamente pode se transformar em realidade no Brasil. [...] Das modalidades que o mundo conhece, a aplicada pela França é a que tem obtido melhores resultados e testemunho que, em visita oficial aos estabelecimentos franceses, o que vi foi animador. Trata-se de verdadeira terceirização, na qual o administrador privado, juntamente com o Estado fazem parceria administrativa, inovando o sistema prisional. Já o modelo americano, o qual também visitei, tal seria inaplicável ao Brasil, porquanto a entrega do homem preso ao particular é total, fato que afrontaria a Constituição brasileira. [...]. De minha parte, não me acomodo e continuo a defender essa experiência no Brasil, até porque não admito que a situação atual se perpetue, gerando mais criminalidade, sugando nossos preciosos recursos, para piorar o homem preso que retornará, para nos dar o troco!"2

Podem ser citados como exemplos da situação degradante do sistema penal brasileiro o Centro de Detenção Provisória no Espírito Santo e o presídio semi-aberto do Rio Grande do Sul (região central de Porto Alegre), ambos em condições absolutamente precárias. Falar em superlotação, nesses casos, nem define a situação lá encontrada. Os presos estão vivendo praticamente em um lixão, dividindo espaço com “ratos” e “pulgas”. Em algumas celas há tantos presos que eles são obrigados a dormir em redes, umas sobre as outras, sendo que neste último há 5.000 (cinco mil) condenados e a alimentação ali existente é suficiente somente para 1.500 (mil e quinhentos) detentos.

2 D’URSO, Luíz Flávio Borges. Privatização das Prisões mais uma vez a Polêmica. Disponível em:

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Fernando Capez, sobre o sistema de privatização de presídios, ao ser questionado acerca de que alguns estudiosos acreditam que a privatização dos presídios levanta a suspeita de estimular a indústria do encarceramento contrapondo à idéia de prevenção à criminalidade Fernando Capez declarou que:

É melhor que esse lixo que existe hoje. Nós temos depósitos humanos, escolas de crime, fábrica de rebeliões. O estado não tem recursos para gerir, para construir os presídios. A privatização deve ser enfrentada não do ponto de vista ideológico ou jurídico, se sou a favor ou contra. Tem que ser enfrentada como uma necessidade absolutamente insuperável. Ou privatizamos os presídios; aumentamos o número de presídios; melhoramos as condições de vida e da readaptação social do preso sem necessidade do investimento do Estado, ou vamos continuar assistindo essas cenas que envergonham nossa nação perante o mundo. Portanto, a privatização não é a questão de escolha, mas uma necessidade indiscutível, é um fato.3

Tal situação vai além de pensamentos de doutrinadores e do próprio Estado, pois o desrespeito ao preso não atinge apenas seus direitos, agridem a sua própria condição de ser humano, rebaixando-os à situação de animais insignificantes.

É induvidoso que o cárcere deve ser concebido como última via, pois não é, nunca foi e jamais será solução possível para a segurança pública de um povo.

Diante do exposto, o que se pode afirmar é que o modelo atual não conseguirá reverter o quadro de “absoluta falência em termos de medidas retributivas e

3 CAPEZ, Fernando. Direito Público em Pauta. Entrevistas por Vilbégina Monteiro. Disponível em:

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preventivas” que impera nos presídios. Está muito longe de serem atingidos os verdadeiros objetivos do Estado, ou seja, promover a segurança pública ou do próprio interno. O certo é que uma gestão pública modernizada e plenamente articulada com os demais segmentos da organização pública e privada é o caminho mais coerente a ser traçado.4

A realidade carcerária é preocupante; os presídios e as penitenciárias, abarrotados, recebem a cada dia um sem número de indiciados, processados ou condenados, sem que se tenha a mínima estrutura para recebê-los; e há, ainda, milhares de mandados de prisão a serem cumpridos; ao invés de lugares de ressocialização do homem, tornam-se, ao contrário, fábricas de criminosos, de revoltados, de desiludidos, de desesperados; por outro lado, à volta para a sociedade através da liberdade, ao invés de solução, muitas vezes, torna-se mais uma via crucis, pois são homens fisicamente libertos, porém, de uma tal forma estigmatizados que se tornam reféns do seu próprio passado.

Odiernamente, o homem que cumpre uma pena ou de qualquer outra maneira deixa o cárcere encontra diante de si a triste realidade do desemprego, do descrédito, da desconfiança, do medo e do desprezo, restando-lhe poucas alternativas que não o acolhimento pelos seus antigos companheiros; este homem é, em verdade, um ser destinado ao retorno: retorno à fome, ao crime, ao cárcere.

Não é cabível ao Estado e à sociedade pensar que o encarcerado, após período relativamente longo em regime subumano de sobrevivência, retorne ao convívio ressocializado. Ao contrário, na maioria das vezes, torna-se reincidente e cada vez

4 NETO, Eduardo. Aspectos sobre a Privatização dos Presídios no Brasil. Artigo publicado em Ministério Público do

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mais à margem do contexto social. Manter o sistema penitenciário nos moldes atuais é continuar alimentando a corrupção, o tráfico, a criminalidade dentro e fora dos presídios.

É de extrema urgência que se encontre uma solução intermediária que não privilegie o cárcere nem a desumanidade no cumprimento da pena, espalhando a idéia da impunidade. Parece que esta solução se encontra exatamente na privatização dos presídios.

A questão é romper com essa crise que segue numa crescente e restabelecer uma política de segurança eficaz e integrada atingindo um modelo de execução penal ideal que coloque em prática diretrizes da política criminal de humanização, de controle do crime e de ressocialização efetiva do detento, para que sejam observados os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana.

Empresas privadas assumindo o controle dos presídios, presos laborando em indústrias e/ou na própria agricultura e pecuária, regidos parcial e/ou total pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), ocupando o tempo atualmente ocioso, evitando assim, que o Estado/Sociedade arque com todos os valores despendidos para o sustento precário dos presos, apesar dos altos valores despendidos, haja vista a falta de estrutura e fiscalização carcerária em todo o país.

Ponto importante se refere à dinâmica do processo de implementação das prisões privadas, sendo que toda a operacionalização deve ser executada por uma empresa privada contratada pelo Estado, mediante processo licitatório. A empresa deve fornecer toda a infra-estrutura de pessoal (segurança, técnicos, administrativos e

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serviços gerais), material de expediente e de limpeza, alimentação, medicamentos, uniformes e materiais de higiene pessoal, entre outros.

Este tipo de contrato além de eficiente para o Estado mostra a visão lucrativa que poderá atrair empresas privadas para a gestão dos sistemas prisionais, cujos detentos apresentem comportamento social compatível com os modelos estabelecidos como aceitáveis.

Este tipo de Sistema Penitenciário deve buscar a viabilização do trabalho para o preso, bem como a educação formal e profissionalizante, a prática do esporte, o lazer e, na medida do possível, o contato com o que acontece no mundo exterior.

Conclui-se que mesmo não sendo a privatização a única solução para todos os problemas de segurança pública, na prática, a exemplo do que ocorre em algumas Penitenciárias, os resultados poderão ser positivos na ressocialização dos detentos, se comparados com o que se observa nos demais presídios, comandados pelo poder público, os quais estão superlotados e sem qualquer incentivo à reinserção dos presos na sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 CAPEZ, Fernando. Direito Público em Pauta. Entrevistas por Vilbégina Monteiro. Disponível em: <http://www.datavenia.net>. Acesso em 19 out. de 2009.

 D’URSO, Luíz Flávio Borges. Privatização das Prisões mais uma vez a Polêmica. Disponível em: <http://www.oabms.org.br>. Acesso em 19 out. de 2009.

 D'URSO, Luiz Flávio Borges. Privatização de Presídios. Consulex - Revista Jurídica, Brasília, ano 3, vol. 1, n. 31, p. 44-46, jul. 1999. In ARAÚJO NETO, Eduardo. Aspectos sobre a privatização dos presídios no Brasil. Disponível em: <http://www.pgj.ce.gov.br>. Acesso em 19 out. de 2009.  KUEHNE, Maurício. Privatização dos Presídios – Algumas Reflexões. Disponível em:

<http://www.mundojuridico.adv.br>. Acesso em 19 out. de 2009.

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SESC SP. Disponível em: <http://www.sescsp.org.br>. Acesso em 19 out. de 2009.

 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. In ARAÚJO NETO, Eduardo. Aspectos sobre a privatização dos presídios no Brasil. Disponível em: <http://www.pgj.ce.gov.br>. Acesso em 19 out. de 2009.

 NETO, Eduardo. Aspectos sobre a Privatização dos Presídios no Brasil. Artigo publicado em Ministério Público do Paraná. Disponível em: <http://www.pgj.ce.gov.br>. Acesso em 19 out. de 2009.

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