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A HISTÓRIA QUE SE TEM E A HISTÓRIA QUE SE QUER: SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE O LIVRO "TERRA VERMELHA" EM SALA DE AULA

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Academic year: 2021

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A HISTÓRIA QUE SE TEM E A HISTÓRIA QUE SE QUER:

SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE O LIVRO "TERRA

VERMELHA" EM SALA DE AULA

Aline Apolinário Furtunato - linefurtunato@hotmail.com Cinthia Torres Aranha - cta.cinthia.torres@hotmail.com Professor (a) Orientador (a): Drª Marlene Rosa Cainelli - marlenecainelli@sercomtel.com.br UEL/Universidade Estadual de Londrina

Resumo: Pretende-se nesse trabalho apresentar uma proposta de aula oficina. A partir de uma sequência didática sobre a história de Londrina-PR através do Patrimônio Cultural Literário, será apresentado como fonte o livro “Terra Vermelha” de Domingos Pellegrini. Publicado em 1998, o livro se propõe a narrar à saga dos pioneiros nos primórdios desta cidade e seu desenvolvimento. Tendo em conta a proposta de sequência didática, será apresentado um trabalho com etapas pré-estipuladas permitindo ao professor e também ao aluno, uma organização de tempo, no qual proporcionará uma sensação de objetividade para com a oficina. A escolha da narrativa do livro “Terra Vermelha” está presente pela influência da cidade de Londrina nos livros de Domingos Pellegrini, no qual, considerando essa obra como patrimônio cultural literário, percebe-se que a mesma cria e mantém uma determinada visão sobre a colonização da cidade de Londrina e é neste ponto que será trabalhado o conceito de Patrimônio com os alunos. Cabe ressaltar que essa não será a única ferramenta a ser utilizada. Aos alunos será apresentado o patrimônio como uma fonte historiográfica e trabalhada junto a documentos com narrativa alternativa. A proposta de aula oficina permitirá ao professor uma análise dos níveis de aprendizado dos alunos no decorrer de todas as etapas do trabalho.

Palavras-chave: história de Londrina; Patrimônio Histórico; narrativas.

INTRODUÇÃO

O artigo apresentado a seguir corresponde às aulas-oficina ministradas em um 9º Ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Londrina, cuja temática foi “A História de Londrina através do Patrimônio Cultural Literário” sendo a duração de 7 aulas de 50 minutos. A definição de seqüência didática aqui utilizada foi proposta pela professora Drª Isabel Barca e compreende a ideia de um trabalho com etapas pré-estipuladas que permite tanto ao professor quanto ao aluno a organização do tempo e a visualização do objetivo a alcançar, ou seja, o desenvolvimento das capacidades de análise e formulação do pensamento histórico.

Esta sequência didática busca trabalhar a questão do Patrimônio Histórico Cultural através do livro “Terra Vermelha” do escritor londrinense Domingos Pellegrini na abordagem da História da cidade de Londrina. O autor nasceu em 23 de Julho de 1949 na cidade de Londrina, foi formado em Letras e Publicidade pela Universidade Estadual de Londrina entre os anos 1967 e 1975, especializou-se em Teoria Literária pela Unesp e foi vencedor duas vezes do prêmio literário Jabuti por duas de suas obras “O Caso da Chácara Chão” e o “Homem Vermelho”. A cidade de Londrina está presente em várias de suas obras

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e “Terra Vermelha”, escrito em 1998, se propõe a narrar a saga dos pioneiros nos primórdios desta cidade e seu desenvolvimento.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

“Patrimônio” é um conceito amplo que compreende desde uma explicação mais simplista como “algo que por ter um valor a ele atribuído, é deixado para as futuras gerações.” (CANO, 20121

) como um conceito que remonta à Antiguidade e que apropriado pelos estados modernos como ferramenta na construção das identidades nacionais, se modifica e se torna

Em primeiro lugar, o patrimônio é entendido como um bem material concreto, um monumento, um edifício, assim como objetos de alto valor material e simbólico para a nação. Parte-se do pressuposto de que há valores comuns, compartilhados por todos, que se consubstanciam em coisas concretas. Em segundo lugar, aquilo que é determinado como patrimônio é o excepcional, o belo, o exemplar, o que representa a nacionalidade. Uma terceira característica é a criação de instituições patrimoniais, além de uma legislação específica. (FUNARI; PELEGRINI, 20062)

Funari e Pelegrini enfatizam que o conceito de patrimônio histórico não pode ser entendido se desvinculado de um outro conceito, o de coletividade, este se constituindo como a junção de “grupos diversos, em constante mutação, com interesses distintos e, não raro, conflitantes. Sendo o conceito de “patrimônio” nascido e transformado no seio dessa coletividade, não se pode pretendê-lo como algo aceito em unanimidade por todos os indivíduos. Logo, temos a escolha de determinados objetos, monumentos, narrativas, pessoas, escolhidas por uma parcela desta coletividade, geralmente a parcela dominante em termos políticos e econômicos, em detrimento de outros. Este patrimônio acaba se solidificando de tal maneira na memória dos indivíduos, que uma história se cria e se expande. À historiografia fica a tarefa de desmistificar e desnaturalizar essas narrativas criadas, apresentando aquelas que ficaram esquecidas na História.

Neste sentido, esta sequência didática se pré-dispôs a trabalhar com a narrativa do livro “Terra Vermelha”, tida como patrimônio cultural literário e que cria e mantém uma determinada visão sobre a colonização da cidade de Londrina. Aos alunos foi apresentado o patrimônio como uma fonte historiográfica e trabalhada junto a documentos com narrativa alternativa.

No decorrer do desenvolvimento da seqüência didática observou-se os níveis de aprendizado (Rüsen, 20103) alcançados pelos alunos.

Desenvolvimento da Proposta

Como suporte para a seqüência foi utilizado o recurso REA4:

“Recursos Educacionais Abertos são materiais de ensino, aprendizado e pesquisa em qualquer suporte ou mídia, que estão sob domínio público, ou estão licenciados de maneira aberta, permitindo que sejam utilizados ou adaptados por terceiros. O uso de formato s técnicos abertos facilita o acesso e o reuso potencial dos recursos publicados digitalmente. Recursos Educacionais Abertos podem incluir cursos completos, partes de cursos, módulos, livros

1

________________. História e Patrimônio. In: CANO, Márcio Rogerio de Oliveira. A Reflexão e a Prática no

Ensino - Volume 6 – História. Ed. Blucher: São Paulo, 2012. 2

FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.

3 SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão Rezende (Orgs.). JörnRüsen e o Ensino de História. Curitiba: Ed. UFPR, 2010.

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Os módulos dessa seqüência estarão disponíveis em um site no qual, o professor poderá utilizá-lo a seu favor, apropriando-se e modificando da forma que lhe for conveniente para suas aulas, podendo ser também um modelo para outras aulas oficinas.

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didáticos, artigos de pesquisa, vídeos, testes, software, e qualq uer outra ferramenta, material ou técnica que possa apoiar o acesso ao conhecimento.” (Unesco/Commonwealthof Learning com colaboração da Comunidade REA-Brasil 2011)

Iniciamos a seqüência didática com uma investigação sobre os conhecimentos prévios dos alunos a respeito do tema, utilizando-se do conceito de aula-oficina proposto por Isabel Barca.

Ora se o professor estiver empenhado em participar numa educação para o desenvolvimento, terá de assumir-se como investigador social: aprender a interpretar o mundo conceitual dos seus alunos, não para de imediato o classificar em certo/errado, completo/incompleto, mas para que esta sua compreensão o ajude a modificar positivamente a conceitualização dos alunos, tal como o construtivismo social propõe. Neste modelo, o aluno é efetivamente visto como um dos agentes do seu próprio conhecimento, as atividades das aulas, diversificadas e intelectualmente desafiadoras, são realizadas por estes e os produtos daí resultantes são integrados na avaliação. (BARCA, 20045)

Neste questionário constaram as seguintes questões:

 Escreva sobre os seus conhecimentos a respeito da História de Londrina. Coloque no papel tudo o que você assistiu (cinema, televisão, propagandas), ouviu (rádio, conversas com colegas conhecidos ou familiares) ou leu.

 O que você entende por “Patrimônio Histórico”?  Para que serve um Patrimônio Histórico?

 Você conhece algum patrimônio histórico? Qual?

O próximo módulo foi a utilização das respostas dos alunos em uma investigação sobre como poderíamos mediar o conhecimento prévio destes e um possível desenvolvimento de seu pensamento crítico.

As questões e os documentos presentes para cada módulo estão disponíveis no link a seguir:

Questões:http://pt.surveymonkey.com/s.aspx?sm=74dyE1xWth4UdSk3TMauyw%3d%3d

Documentos: http://pt.surveymonkey.com/s/DHGSTRY

Módulo I – Entendendo o conceito “Patrimônio Histórico”

Com base nas respostas obtidas dos alunos, discutimos em sala de aula o conceito de “Patrimônio Histórico” e sua utilização como fonte histórica. As definições do conceito tanto dos alunos quanto do professor foram colocadas na lousa para que aqueles copiassem em seus cadernos.

Utilizando exemplos de patrimônio da própria cidade, falamos a respeito das intencionalidades presentes na construção e na manutenção de determinada narrativa histórica. Neste momento entramos mais especificamente na questão do patrimônio literário, resumindo brevemente a história do livro e contextualizando, assim, os alunos.

Módulo II – Recolhendo dados sobre o autor e a obra6

A turma foi dividida em grupos de 4 alunos. A cada um desses grupos foi disponibilizado um recorte de jornal sobre o autor, sobre a produção da obra e sua intencionalidade. Disponibilizamos também um roteiro de perguntas a serem respondidas, sendo essas organizadas em forma de narrativa.

5

BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta

Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e

Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 144. 6

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Módulo III – Analisando a Fonte

Ao término do Módulo II, os alunos partiram para a análise da fonte, ou seja, o livro “Terra Vermelha” de Domingos Pellegrini7

. Nesse momento os temas foram divididos de I a VIII8. Para melhor entendimento do texto, os alunos buscaram no dicionário as palavras desconhecidas, em seguida, o grupo iniciou a análise do fragmento, respondendo em forma de narrativa às questões norteadoras.

Módulo IV – Cruzando dados em uma narrativa

Nesta etapa os alunos analisaram um segundo documento9, seguindo o mesmo modelo anterior. A narrativa desenvolvida contrapôs a fonte e este segundo documento, confrontando as informações de ambos.

Módulo V – Apresentando o trabalho

A partir das três etapas de análise, os alunos foram capazes de construir uma narrativa histórica sobre o tema apresentado e então finalizando o trabalho apresentaram à turma os resultados obtidos, encerrando a sequência didática.

CONCLUSÃO

Para Rüsen, o aprendizado histórico se dá de forma plena quando

[...] os sujeitos aprendem, na produtiva aquisição da experiência histórica, a considerar sua própria auto-relação com a dinâmica temporal. Eles compreendem sua identidade como “desenvolvimento” ou como “formação”, e ao mesmo tempo, com isso, aprendem a orientar temporalmente sua própria vida prática de tal forma que possam empregar produtivamente a assimetria característica entre experiência do passado e expectativa de futuro para o mundo moderno nas determinações direcionais da própria vida prática. (RÜSEN, 2010)

Dessa forma, quando da utilização da história local para a abordagem de conceitos como “patrimônio histórico”, “fontes históricas”, “intencionalidade”, “identidade”, permite-se ao aluno fazer referências à sua vida prática, à tudo aquilo que o afeta diretamente com o âmbito maior da História, fazendo com que esta adquiria importância para o indivíduo, aproximando-o desta e dando-lhe significado de forma a não se tratar apenas do conhecimento por conhecimento e desvinculado da própria vida.

BIBLIOGRAFIA

BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de

qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de

Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 144.

7

PELLEGRINI, Domingos. Terra Vermelha. São Paulo: Geração Editorial, 2003. 8

A turma contava com 32 alunos. Para trabalhos futuros, o professor poderá escolher outros temas dentro do livro de acordo com o número de grupos.

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BONI, Paulo César. Fincando Estacas! A história de Londrina (década de 30) em textos e imagens. Londrina: Editora do Autor, 2004.

________________. História e Patrimônio. In: CANO, Márcio Rogerio de Oliveira.

A Reflexão e a Prática no Ensino - Volume 6 – História. Ed. Blucher: São Paulo,

2012.

CAINELLI, Marlene; SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. Ed. Scipione: São Paulo, 2009.

CAINELLI, Marlene. SCHMIDT, Maria Auxiliadora (ORGs). Educação Histórica: Teoria e Pesquisa. Editora Unijuí: Ijuí, 2011.

FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio

Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.

HOLTZ, Edson. Noites Ilícitas. Londrina: EDUEL, 2005.

JOFILLY, José. Londres-Londrina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

NIXDORF, Klaus (idealizador). Londrina Paraná Brasil: raízes e dados históricos: 1930-2004. Londrina: Edição Humanidades, 2004.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão Rezende (Orgs.). Jörn Rüsen e o Ensino de História. Curitiba: Ed. UFPR, 2010.

REA (Recursos Educacionais Abertos). Disponível em < http://rea.net.br/site/o-que-e-rea/ > Acesso em 20 de setembro, 2013.

Referências

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