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PROMOÇÃO À SAÚDE COM MOTORISTAS DE ÔNIBUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

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Academic year: 2021

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PROMOÇÃO À SAÚDE COM MOTORISTAS DE ÔNIBUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Francisco Antonio da Cruz Mendonça 1 Rosiléa Alves de Sousa 2 Érika da Silva Bandeira 3 Luis Rafael Leite Sampaio 4 Raimunda Magalhães da Silva 5

INTRODUÇÃO

1 Enfermeiro. Mestre em Saúde Pública. Docente e Coordenador adjunto do curso de enfermagem do Centro Universitário Estácio do Ceará e

Docente da Faculdades Nordeste.

2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente e Coordenadora do curso de enfermagem do Centro Universitário Estácio do Ceará. 3 Técnica de Enfermagem. Acadêmica de Enfermagem do curso de enfermagem do Centro Universitário Estácio do Ceará.

4 Enfermeiro. Mestre e Doutorando em Farmacologia. Docente do curso de enfermagem do Centro Universitário Estácio do Ceará e da

Universidade de Fortaleza.

Estudos mostram que a estatística da mortalidade do sexo masculino supera a do feminino e as principais causas de mortalidade dos homens envolvem as doenças isquêmicas do coração, cerebrovasculares, respiratórias, os homicídios e acidentes de trânsito(1).

Essa diferença entre os gêneros, segundo Laurent e colaboradores(2), pode está relacionada com a prevenção, uma prática não muito adotada pelo sexo masculino e que é muito utilizada por grande parte das mulheres. A não adesão às medidas preventivas em saúde, deve-se em grande parte, às variáveis culturas existentes na população masculina. Essas variáveis incluem: a doença como sinal de fragilidade, o medo de descobrir alguma agressão a saúde; a posição de provedor, justificada pela atividade laboral exercida pelo homem para sustento da família, associada à dificuldade de acesso aos serviços assistenciais; entre outras.

Com o intuito de facilitar o acesso da população masculina aos serviços de saúde, foi lançada em 2009 a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) pelo ministério da saúde. Com objetivo geral de promover a melhoria das condições de saúde da população masculina do Brasil, contribuindo de modo efetivo para redução da morbidade e mortalidade dessa população, através do enfrentamento racional dos fatores de risco e mediante a facilitação ao acesso, às ações e serviço de assistência integral à saúde(1).

Destacam-se alguns elementos para o cumprimento dos princípios de humanização e da qualidade da atenção integral dessa Política, como a facilitação do acesso aos serviços de saúde; a captação precoce dos homens para realização de atividades de prevenção primária relativas, principalmente, às doenças cardiovasculares e cânceres; além da oferta de informações e orientações à população sobre promoção, prevenção e tratamento dos agravos à saúde do homem. Os motoristas de transporte coletivo possuem o perfil necessário para implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem e cumprimento desses elementos, pois caracterizam-se na categoria profissional exercida, predominantemente, pela população masculina, em conjunto com as suas condições de trabalho, desfavoráveis à saúde.

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Em face a esta problemática, objetivou-se, nesse estudo, relatar a experiência da promoção à saúde do homem desenvolvida com motoristas de ônibus. Esta promoção à saúde estimula o auto-cuidado e a responsabilidade de cada motorista com sua saúde.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, vivenciada por acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem, do Centro Universitário Estácio do Ceará, durante as atividades da disciplina de Ensino Clinico I - Saúde Coletiva.

No mês de outubro de 2012, realizou-se uma atividade extramuro, através da visita a uma Empresa de Transporte Coletivo Urbano e Metropolitano, situada no município de Fortaleza-Ce, pertencente à Secretaria Executiva Regional II (SER II).

Nesta visita foram desenvolvidas atividades de educação em saúde, abordando temáticas relacionadas à saúde do homem, entre elas: alimentação saudável e prática de exercícios físicos, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e adesão aos serviços de saúde. Cada temática procurou determinar os níveis de promoção e prevenção à saúde, além de estimular o acesso desses profissionais às Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Associadas à Educação em Saúde, foram desenvolvidas, também, atividades práticas de verificação da pressão arterial, da glicemia capilar, do teste rápido do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), mensuração do Índice de Massa Corpórea (IMC) e imunização.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No primeiro contato com os motoristas de ônibus da Empresa visitada, percebeu-se dispersão e pouco interesse por parte dos mesmos. A partir de uma interação maior com a minoria dos homens, pode-se notar um empenho e interesse aprofundado por parte dos trabalhadores.

As atividades de educação em saúde foram realizadas numa sala de reunião, onde se estabeleceu um vínculo entre os acadêmicos de enfermagem e os motoristas. Através do estabelecimento deste vínculo educativo, os homens presentes mostraram-se interessados nas temáticas esplanadas e participativos, na exposição de suas dúvidas e casos clínicos vivenciados por eles próprios. Essas dúvidas puderam ser esclarecidas e ofertadas informações e orientações devidas aos casos clínicos presentes, mantendo sempre os princípios de promoção à saúde.

Os resultados das ações desenvolvidas na Empresa de Transporte Coletivo serão relatados, destacados em tópicos, com a finalidade de torná-los sistemáticos e didáticos.

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Sabe-se que a obesidade, a hipertensão arterial e a diabetes estão relacionadas com o desgaste físico e mental, ao cansaço e estresse, à má alimentação e ao sedentarismo.

Durante o cotidiano, o motorista expõe seu corpo a muitas agressões, como o sedentarismo e a alimentação inadequada, os quais constituem fatores de risco para doenças cardiovasculares(3). Este mesmo estudo revela que dos motoristas de ônibus entrevistados, 40% referem ingerir frituras com frequência, 30,9% consomem até seis vezes na semana lanches (sanduíches, pizzas, salgadinhos, etc.), 47,3% referem consumir diariamente açúcar refinado e 32,7% consomem até três vezes na semana refrigerantes.

Semelhante ao nosso estudo, percebeu-se nos motoristas da Empresa de Transporte Coletivo visitada, o consumo de uma alimentação inadequada, caracterizada pelo excesso de alimentos gordurosos, associado à obesidade presente em alguns, confirmada pela verificação do Índice de Massa Corpórea (IMC).

Quanto à realização de atividade física regulada, notou-se ausente por parte dos motoristas. Onde o tempo disponível para a prática de exercício físico é inexistente, devido a jornada de trabalho exaustiva e os horários imprevisíveis, pois observou-se que a maioria dos trabalhadores desempenham suas atividades profissionais no turno misto, ou seja, parte diurno e parte noturno ou rotativo.

PROMOÇÃO À PREVENÇÃO DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

Tratar de doenças relacionadas à prática de atividade sexual, ainda hoje apresenta resistência por parte da população, principalmente quando refere-se ao sexo masculino. No entanto, os acadêmicos de enfermagem utilizaram didáticas e métodos específicos para facilitar a interação paciente-profissional sobre esta temática.

Estudo realizado por Madureira e Trentini(4) com dez homens do oeste catarinense evidenciaram que os homens utilizam o preservativo somente para evitar gravidez; o preservativo com a esposa denuncia traição; o preservativo deve ser usado “fora de casa”, e quanto à prevenção de DST, informaram que a não utilização do preservativo decorre de fatores culturais vinculados ao machismo, bem como a adoção de condutas que possam diminuir sua vulnerabilidade no campo sexual.

Em nossa pesquisa, percebeu-se que os homens aceitaram o assunto quanto à prevenção de DST, esclareceram suas dúvidas, observou-se extremo interesse no aprendizado do uso correto do preservativo. Contudo, verificou-se resistência por parte dos da maioria deles para realização do teste rápido do HIV, notando-se a partir do exposto o medo de descobrir um agravo à saúde, como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) diagnosticada nos portadores do HIV, apenas um motorista aceitou a fazer o teste rápido do HIV.

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Dessa forma, os homens devem ser conscientizados sobre a importância da participação deles no planejamento reprodutivo, devem ser informados sobre os métodos contraceptivos, além de serem alertados sobre as doenças causadas por uma relação sexual insegura, ou seja, com múltiplas parceiras, a não utilização do preservativo, a realização da má higiene íntima, entre fatores causadores de DST.

PROMOÇÃO À ADESÃO DA POPULAÇÃO MASCULINA AOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Devido ao modelo hegemônico masculino imposto pela sociedade, o homem pouco se preocupa com sua saúde. Para o gênero masculino, procurar um serviço de saúde, somente ocorre quando existe alguma queixa ou patologia evidente. Isto acontece devido as variáveis culturais existentes comentadas anteriormente.

Os motoristas de ônibus, que participaram das ações educativas em saúde, mostraram pouca adesão aos serviços de saúde, principalmente aos de nível de atenção primária. Observou-se que os fatores que dificultam o acesso dessa população à Unidades Básicas de Saúde, consistem nas questões relacionadas ao trabalho, onde a ausência de tempo disponível consiste no fator predominante para a não adesão; além do medo de descobrir que algo vai mal com a própria saúde.

De acordo com Figueiredo(5) aponta que a ausência ou a invisibilidade dos homens nos serviços de saúde denuncia a inadequação entre as necessidades e expectativas de saúde dos homens e a estrutura e funcionamento dos serviços de saúde, particularmente dos serviços de atenção primária à saúde.

A partir dessas atividades de Promoção à Saúde do Homem constataram-se alterações nos níveis pressóricos, glicêmicos e nutricionais. Estes quando associados a pouca procura dos motoristas de transporte coletivo aos serviços de saúde, permitem estabelecer uma classificação de risco à saúde para estes profissionais.

Percebeu-se que os motoristas de ônibus apresentam risco da atividade, relacionada à ausência da prática de exercício físico, confirmada pelo sedentarismo, risco de consumo, relacionada à ingestão inadequada, associada à obesidade e risco ocupacional, devido ao estresse no trabalho. Estudos demonstram que as grandes cidades oferecem ambiente favorável ao estresse, que interferem na prevalência de HAS doenças coronarianas. Este ambiente é caracterizado pelo nível do tráfego, semáforos, congestionamentos, acidentes, condições climáticas, cumprimento de horários e responsabilidades sobre as vidas das pessoas conduzidas.

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Conclui-se que a partir dessa experiência, os motoristas de ônibus desta empresa apresentam consumo de uma alimentação inadequada, caracterizada pelo excesso de alimentos gordurosos, associado à obesidade, bem como o interesse no aprendizado do uso correto do preservativo e pertencem à categoria de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Além da ausência desses homens nos serviços de saúde, verificou-se falta de conhecimento adequado quanto às ações desempenhadas em uma UBS. Isso pode ser corrigido, através do estímulo para procura aos serviços de saúde, já que próximo à Empresa onde trabalham, existe uma UBS, a qual pode acolher esses homens.

Sendo assim, faz-se necessário a implantação de políticas que visem tanto o bem-estar como a correção da carga horária trabalhada, pois o tempo mostrou-se como fato preponderante para os agravos à saúde dos motoristas de ônibus.

Sugere-se que oficinas de promoção à saúde sejam desenvolvidas com estes profissionais, além da prática de atividades físicas nos intervalos, abordagem sobre as DST no próprio ambiente de trabalho e implantação de fiscalização da qualidade da alimentação destes profissionais, para obtenção de um estilo de vida mais saudável.

CONTRIBUIÇÕES OU IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM

Pelo campo de atuação da Enfermagem na assistência na Atenção Primária à Saúde, vale ressaltar que pode-se na atuar na prevenção primária das doenças pois está diretamente ligada ao processo de educação e promoção à saúde, enfatizando a dieta saudável e da manutenção de uma prática regular de atividade física.

Esta prática, desenvolvida por acadêmicos de enfermagem em um espaço social externo ao ambiente universitário promove a aproximação do discente com a realidade da sua região e permite a apropriação de novas tecnologias em enfermagem, além de promover a visibilidade da profissão.

Palavras-chave: Saúde do Homem. Saúde do Trabalhador. Promoção da Saúde. REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

2. Laurent R, Melo J, Prado MH, Gotlieb SLD. Perfil epidemiológico da morbi-mortalidade masculina. Ciênc. saúde coletiva. 2005, 10(1): 35-46.

3. Alquimim, AF, Barral ABCR, Gomes KC, Rezende MC. Avaliação dos fatores de risco laborais e físicos para doenças cardiovasculares em motoristas de transporte urbano de ônibus em Montes Claros (MG). Ciência & Saúde Coletiva. 2012, 17(8):2151-58.

4. Madureira VSF, Trentini M. Da utilização do preservativo masculino à prevenção de DST/aids. Ciênc. saúde coletiva. 2008, 13(6):1807-16.

5. Figueiredo W. Assistência à Saúde dos Homens: um desafio para os serviços de atenção primária. Ciência & Saúde Coletiva. 2005, 10(1):105-9

Referências

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