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ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste Campus de Cascavel ISSN

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Academic year: 2021

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A REFORMA PSIQUIATRICA E A (DES) ATENÇÃO A FAMÍLIA CUIDADORA

Diuslene Rodrigues Fabris1

RESUMO:

O artigo visa proporcionar uma aproximação acerca da realidade socialmente construída no que diz respeito à loucura, e mais especificamente na relação que se estabelece entre sociedade, política de atenção em saúde mental, e família cuidadora, levando-se em conta a realidade atual posta através da Lei 10.216/2001. Assim o artigo quer discutir a real dimensão do cuidado que se tem dispensado ou não às famílias cuidadoras.

PALAVRAS-CHAVE: Família, CAPS, Cuidado e Cuidadores, PTM.

INTRODUÇÃO

Historicamente a loucura, constituiu-se como uma das categorias que mais esteve sujeita a preconceitos e mudanças de compreensão relacionadas ao contexto cultural e social.

Neste sentido, Bisneto (2007), coloca que o louco já foi visto como uma representação da divindade, manifestação demoníaca e portador de poderes sobrenaturais. Contudo em nenhum destes momentos o louco deixou de ser visto como uma figura que oferece riscos, que ameaça e que coloca em perigo, tanto os sujeitos quanto a ordem social.

A partir da promulgação da Lei 10.216/2001, inicia-se no Brasil um movimento no âmbito das práticas psiquiátricas em direção a reinserção das pessoas com transtorno mental na sociedade, bem como a sensibilização da sociedade em prol de uma abordagem voltada ao atendimento focado na busca da construção da cidadania e autonomia dos usuários, de modo a estimular a integração familiar e social.

1Professora Assistente do Curso de Serviço Social da UNIOESTE/Campus de Toledo. Coordenadora da

Atividade de Extensão Estação Saúde, Meio Ambiente e Educação Ambiental. Membro dos Grupos de Pesquisa em Fundamentos do Serviço Social: Trabalho e Questão Social do Curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, e do Grupo de Estudo e Pesquisa em Políticas Ambientais e

Sustentabilidade - GEPPAS – UNIOESTE/Campus de Toledo – Paraná. e-mail:

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OBJETIVOS

O presente trabalho propõe a reflexão em torno da relação que se estabelece nas práticas substitutivas, mais especificamente o CAPS, e as famílias cuidadoras de pessoas com transtorno mental, considerando-as a partir de sua relevância no contexto social que vai gradativamente sendo incorporada também pelas políticas oficiais de assistência.

METODOLOGIA

Este artigo foi produzido a partir da pesquisa bibliográfica na tentativa de compreender a relação que se estabelece no contexto dos serviços substitutivos, especificamente o CAPS, no que diz respeito à atenção que deve ser direcionada às famílias cuidadoras da pessoa com transtorno mental. Segundo Gil (2002, p. 45), “a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”.

RESULTADOS

A REFORMA PSIQUIATRICA E OS CAPS

No início dos anos de 1970, tem início no Brasil, o processo de Reforma Psiquiátrica, cuja temática central tinha como prioridade efetivar um modelo assistencial em saúde mental, voltado à efetivação da cidadania2 da pessoa com transtorno mental, buscando transformar não somente as instituições e o tratamento como também a compreensão construída historicamente em torno da loucura.

Neste sentido, a Reforma Psiquiátrica questionava os conhecimentos e as práticas profissionais, tendo segundo Vasconcelos (2008), uma característica marcante, pois era um movimento completamente externo ao aparelho de Estado, em mobilização aberta da

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opinião pública e da imprensa, colocando sua luta a favor dos trabalhadores da saúde mental, das pessoas com transtorno mental e seus familiares primando pela equidade.

A partir dos anos 80, os trabalhadores em saúde mental, de todo o país organizaram-se em prol do projeto brasileiro de desinstitucionalização do tratamento psiquiátrico3, estimulando inicialmente a produção legislativa em prol da causa. Contudo, somente em 2001, é promulgada a Lei 10.2164, a qual propõe um tratamento humanizado ao doente mental e a inversão do modelo asilar para os serviços comunitários, hospital-dia e centros de atenção psicossocial (CAPS), todos mantidos pelo setor público5, iniciando um processo de muitas mudanças nas organizações dos serviços que passam a exigir também uma nova conduta da sociedade em relação ao trato do transtorno mental.

Atendendo a estas prerrogativas, os serviços oferecidos pelos CAPS, contrapõem-se ao modelo vigente anteriormente, por ocorrer em meio aberto, tendo como propósito da intervenção fortalecer no usuário as possibilidades para o seu desenvolvimento, autonomia e cidadania, com a finalidade de superação das relações de dependência da pessoa com transtorno mental e as instituições psiquiátricas

Ressalta-se ainda que os CAPS dispõem de uma legislação que os regulamenta, e sua política está direcionada para a integralidade do atendimento. Compostos por equipes multidisciplinares6, responsabilizando-se pelo atendimento regular de um número limitado de pacientes7 e seus familiares, a partir de uma perspectiva que considera que abordagem psicossocial, não é a simples somatória de elementos dentro de determinadas condições sociais, mas sim um contexto onde estão expressas questões da ordem da representação, vínculos e identidade.

Neste contexto, coloca-se também a necessidade da constituição de uma equipe multiprofissional no CAPS, cuja interlocução deve estar voltada aos usuários e

3 O movimento dos trabalhadores em saúde mental foi denominado: “Por uma sociedade sem

manicômios”.

4 A Lei 10.216 de 06 de abril de 2001 dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de

transtornos mentais, e redireciona o modelo assistencial em saúde mental; tendo sido respaldada na Lei Basaglia italiana.

5 O fato de o setor público assumir prioritariamente esta modalidade de atendimento colocou fim a uma

prática já cristalizada, de que muitos hospitais lançavam mão, em negligenciar no tratamento adequado a fim de receber recursos vindos do Estado.

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A equipe mínima de um CAPS deve conter: 1 psiquiatra, neurologista ou pediatra com formação em saúde mental infantil, um enfermeiro, 4 profissionais de nível superior (entre psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo) e 5 profissionais de nível médio.

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seus familiares, com vistas a fortalecer as relações e vínculos sociais, considerando que a abordagem e o envolvimento familiar não tem haver com o questionamento destas “estruturas”, mas sim o fortalecimento de suas potencialidades.

Desta forma, o trabalho desenvolvido no CAPS deve possibilitar ao usuário um meio terapêutico, obtido através da construção e oferta de um ambiente onde diversas modalidades de atendimento estejam disponíveis de uma forma facilitada.

Por outro lado, deve-se considerar também a necessidade dos profissionais nortearem suas práticas a partir de um projeto terapêutico8 que contemple as mais variadas contribuições que podem ser oferecidas tecnicamente, por cada um dos profissionais do CAPS.

Assim, ao se pensar a Reforma Psiquiátrica e os CAPS, a partir de uma perspectiva que de fato contemple os princípios fundamentais do SUS, requerem acima de tudo que se invista em ações voltadas a superação do conceito socialmente construído de que a loucura só pode ser tratada a partir do isolamento dos sujeitos, levando em conta também, os cuidadores da pessoa com PTM, enquanto sujeitos vitimados pela opressão e preconceito. Considerando ainda conforme coloca Afonso (2001), que a proteção dos vínculos familiares é um dos recursos básicos iniciais para o tratamento do PTM, porém este não anula a necessidade de equipamentos comunitários que possam dar suporte e responsabilizar-se conjuntamente com a família no acompanhamento da pessoa com transtorno mental.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

A compreensão do espaço familiar como sendo distinto daquele que inicialmente compreendia-se ocupado num modelo de relação nuclear, harmoniosa, imune a conflitos e desentendimentos, em função das profundas mudanças ocorridas na sociedade e em seu modo de produzir e reproduzir-se, trouxe a tona um novo conjunto de arranjos, bastante distante das bases conservadoras.

Por outro lado a Reforma Psiquiátrica trouxe justamente, o reforço da importância do engajamento e priorização da participação familiar nas discussões pertinentes a pessoa com transtorno mental e a família cuidadora. Contudo, deve-se considerar que apesar da importância

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Além do projeto de trabalho é preciso também, em parceria com o usuário, construir um projeto terapêutico individual que inclua a construção de trabalhos de inserção social, voltados a potencializar as capacidades individuais, bem como minimizar o estigma social.

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já atestada da participação familiar em todo o processo de acompanhamento e tratamento do PTM, ela também enquanto instituição construiu-se com rupturas e fragilidades, não estando aptas em alguns casos, a lidar com o cuidado, sejam por questões de ordem material, concreta, subjetiva ou afetiva, até porque as famílias sempre foram afastadas dos considerados loucos, e somente após a segunda guerra, foram implantadas diversas políticas de desinstitucionalização do tratamento psiquiátrico. Fato que acabou por trazer aos familiares a possibilidade do convívio e reaproximação com o portador de transtorno mental, fazendo emergir o papel da pessoa cuidadora.

Logo há que se considerar que, são diversos os desafios que se apresentam às famílias das pessoas com transtorno mental, visto que ela também está sujeita ao adoecer, a instabilidade e a inconstância em diferentes aspectos, mais especificamente pela dificuldade que advém do próprio convívio com um sujeito que oscila entre crises de agressividade, alegria exagerada e depressão alternados a momentos de lucidez. Além do que, muitos PTM resistem ao reconhecimento da doença, negando-se a realizar o tratamento, porém está resistência seja ela do doente ou do familiar, não está posta no centro da relação ao acaso, ela é também expressão da discriminação e preconceito já cristalizados na sociedade, dos quais a família também partilha.

Assim o que muitas vezes é compreendido pelos profissionais da saúde mental, da atenção básica ou pela sociedade, como falta de responsabilidade ou descaso, por parte dos familiares em relação ao PTM, trata na verdade de desinformação e consciência crítica.

Em torno desta complexidade que a situação apresenta, há que se considerar que o campo da saúde mental, não se restringe a medicina, até porque não está restrita ao PTM, mas também para sua família, visto que o cuidado não se constitui única e exclusivamente da boa vontade ou do desejo de cuidar, exige e sobrecarrega economicamente, emocionalmente, fisicamente e limita o cuidador em suas escolhas e individualidade, além do elemento frustração, muito presente no cotidiano que envolve transtorno mental, visto que não há perspectivas de cura propriamente dita.

Desta forma há que se considerar que, segundo coloca Afonso (2001), a idéia de que a família é quem vai cuidar da pessoa que, não vai precisar ser institucionalizada, requer certo cuidado, levando em conta quais são as condições da família para aderir ao tratamento, quais as contribuições da abordagem psicossocial na realidade desta família e acima de tudo considerar que é com uma família em crise que se está lidando, quer no sentido social ou psíquico. Neste sentido o cuidado familiar é sempre um terreno que requer atenção quando se quer de fato conceber família como um espaço de cuidados, e que para tal também o requer para si.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AFONSO, Lúcia. Atenção psicossocial a famílias de pacientes em saúde mental. In: Revista Interações. V.6, nº11, jan/jun.2001. São Paulo: Unimarco, 2001.

BEZERRA, Jr B. Cidadania e loucura: um paradoxo. In: Bezerra Jr B, Amarante P.(orgs). Psiquiatria sem hospício: contribuições ao estudo da Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro (RJ): Relume Dumará; 1993.

BISNETO, José Augusto. Serviço Social e Saúde Mental: uma análise institucional da prática. São Paulo. Cortez, 2007.

BRASIL. Lei 10.216, de 6 de abril de 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/legisla/htm>. Acesso em: 20 mar. 2007.

GIL, Antonio Carlo. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

LA HAYE, Jacques L. de. A morte do manicômio: história da antipsiquiatria. São Paulo: Imaginário: Ed. da Universidade Federal do Amazonas, 2007.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde e Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial. Brasília, Ministério da Saúde, 2004, 86p.

ROSA, Lúcia C. dos Santos. Transtorno Mental e o cuidado na família. São Paulo: Cortez, 2008.

VASCONCELOS, Eduardo M. Saúde Mental e Serviço Social: o desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2008.

Referências

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