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aula Leitura: perspectivas teóricas Leitura, Interpretação e Produção Textual Autores Maria Divanira de Lima Arcoverde

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Academic year: 2021

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(1)

Maria Divanira de Lima Arcoverde

Rossana Delmar de Lima Arcoverde

Leitura, Interpretação e Produção Textual

D I S C I P L I N A

Leitura: perspectivas teóricas

Autores

aula

(2)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

Governo Federal Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação

Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED

Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor

José Ivonildo do Rêgo

Vice-Reitora

Ângela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a Distância

Vera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba Reitora

Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitor

Aldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE

Eliane de Moura Silva

A6751 Arcoverde, Maria Divanira de Lima.

Leitura, interpretação e produção textual./ Maria Divanira de Lima Arcoverde, Rossana Delmar de Lima Arcoverde. – Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN, 2007.

15 fasc.

“Curso de Licenciatura em Geografia – EaD”.

Conteúdo: Fasc. 1- Linguagem: diferentes concepções; Fasc. 2 - leitura – perspectivas teóricas; Fasc. 3 - o jogo discursivo no processo de leitura; Fasc. 4 - leitura – antes e além da palavra; Fasc. 5 - a leitura como prática social; Fasc. 6 – produção textual-perspectivas teóricas; Fasc. 7 – a tessitura do texto; Fasc. 8 – gêneros textuais ou discursivos; Fasc. 9 – gêneros textuais e ensino; Fasc. 10 – a escrita como processo; Fasc. 11 – recursos de textualidade – coesão; Fasc. 12 – recursos de textualidade – coerência; Fasc. 13 – produzindo gêneros textuais – o resumo; Fasc. 14 – produzindo gêneros textuais – a resenha; Fasc. 15 – produzindo gêneros textuais – o memorial

ISBN: 978-85-87108-59-3

1. Leitura (Lingüística). 2. Produção de textos. 3. Educação a Distância. I. Título.

22 ed. CDD 418.4 Coordenador de Edição

Ary Sergio Braga Olinisky

Projeto Gráfico

Ivana Lima (UFRN)

Revisora Tipográfica

Nouraide Queiroz (UFRN)

Thaísa Maria Simplício Lemos (UFRN)

Ilustradora

Carolina Costa (UFRN)

Editoração de Imagens

Adauto Harley (UFRN) Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN) Dimetrius de Carvalho Ferreira (UFRN) Ivana Lima (UFRN)

Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Revisores de Estrutura e Linguagem

Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UEPB)

Revisoras de Língua Portuguesa

(3)



2

Apresentação

Tradicionalmente, desde os primeiros anos de escolaridade, convivemos com atividades de leitura. Não é verdade? Mas, você já pensou que mesmo antes de freqüentar a escola, você já realizava leituras de mundo e de textos?

Pois é, desde a mais tenra idade, nós fazemos leituras e leituras... Leitura do mundo que nos cerca, leitura das pessoas, leituras táteis e leituras nos mais variados códigos.

Historicamente, as práticas educacionais em leitura têm sido subsidiadas por modelos teóricos. É nessa direção que, nesta aula, apresentamos e vamos refletir sobre as várias concepções que evidenciam o processo de ensino-aprendizagem da leitura.

Para tanto, discutiremos quatro perspectivas teóricas: teoria da decodificação, teoria cognitiva, teoria interacional e teoria discursiva. O glossário disponível no decorrer da aula e as sugestões de leitura poderão auxiliá-lo no processo de compreensão de noções mais complexas para a realização das atividades propostas.

Objetivos

Esperamos que você, ao final desta aula, entenda que

o conteúdo leitura pode ser estudado sob vários enfoques teóricos;

a relação dessas teorias com as práticas de leitura concorrem para a formação do leitor.

(4)

Atividade 1

Para começo de conversa...

Você sabia que existe uma abordagem teórica que defende a idéia de que a atividade da leitura consiste numa mera identificação dos códigos lingüísticos e das informações que os textos trazem?

Realize a atividade que segue e vamos discutir e aprender sobre essa perspectiva teórica.

Teoria da decodificação

Leia o texto a seguir e responda às questões:

Saga da Amazônia

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta mata verde, céu azul, a mais imensa floresta no fundo d’água as Iaras, caboclo lendas e mágoas e os rios puxando as águas.

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir era: fauna, flora, frutos e flores

[...]

FARIAS, Vital. Saga da Amazônia.

(5)

Como você deve ter percebido, a atividade acima exigiu de você algumas capacidades para poder responder às questões, identificando informações expressas no texto.

Por exemplo, você precisou decodificar palavras, ler com fluência o texto, localizar e reproduzir informações. Foi, apenas, uma tarefa de mapeamento entre a informação gráfica da pergunta e sua forma repetida no texto.

Para estabelecer esse processo, sua prática de leitura se baseou na teoria da decodificação, tendo em vista que você apenas decifrou o código lingüístico e relacionou-o ao significado.

Segundo essa teoria, o processo de leitura consiste numa habilidade decorrente de um aprendizado particular, cabendo ao leitor realizar apenas um processo linear do que está escrito.

a)

Qual o título do texto?

b)

Quem é o autor do texto?

c)

Em que região está localizada a mais bonita e imensa floresta?

d)

Identifique e transcreva da segunda estrofe do texto as ações praticadas pelos animais.

Decodificar

Segundo o dicionário de Houaiss decodificar vem da palavra código e quer dizer “interpretar o significado de palavra ou sentença de uma dada língua natural, considerada como código”.

(6)

Ler, nessa perspectiva, é uma atividade que explora n a dimensão individual do leitor;

n as habilidades cognitivas e os conhecimentos lingüísticos.

Trata-se de um processo em que o leitor faz uma relação entre signos lingüísticos e unidades sonoras presentes no texto escrito.

Essa concepção valoriza, assim, as informações explícitas no texto. O leitor põe em prática estímulos visuais do código (grafia), partindo daí para apreender a informação contida no texto. Nessa visão, o processo de leitura está centrado no texto, e não, no leitor. Este, só se utiliza das informações contidas na escrita para entender o texto.

Continuando nossa conversa...

É evidente que a teoria que estudamos anteriormente não é a única que explica o ato de ler. Vejamos agora a teoria cognitiva.

A teoria cognitiva

A vertente cognitiva amplia os estudos sobre o processo de leitura e, de forma contrária ao modelo da decodificação, defende que a leitura é uma atividade de compreensão, em que o leitor utiliza seus esquemas mentais para apreender as idéias do texto. Nessa atividade, o indivíduo busca a compreensão do texto em seu repertório de conhecimentos acumulados ao longo de sua experiência de vida.

O foco desse processo é o leitor, e não o texto, tendo em vista que esse leitor é um sujeito ativo, que age sobre as informações do texto.

Desse modo, na busca da construção do sentido do texto, o leitor: n ativa conhecimentos de mundo;

n antecipa ou prediz conteúdos do texto (como num “jogo de adivinhação”) ; n checa hipóteses (confirma ou não);

n compara informações;

n tira conclusões;

n produz inferências (usa pistas que o próprio texto fornece)

Cognitiva

Diz-se de estados e processos relativos à organização de estruturas mentais que explicam o ato de conhecer; relativo ao conhecimento.

Hipóteses

Suposição, conjectura, pela qual a imaginação antecipa o conhecimento, com o fim de explicar ou prever a possível realização de um fato e deduzir-lhe as conseqüências. Inferências Operação intelectual por meio da qual se afirma a verdade de uma proposição em decorrência de sua ligação com outras já reconhecidas como verdadeiras.

(7)

Atividade 2

Essas capacidades ajudam o leitor no processo de formulação de um conjunto de significações para as mensagens veiculadas pelo autor. E este não adota uma atitude passiva, na expectativa de que o texto lhe forneça todas as informações.

Para os defensores dessa teoria, a leitura é uma construção de sentido, que envolve um grande número de habilidades mentais (percepção, memória, inferências lingüísticas, entre outras), que são necessárias para o entendimento do que se lê. A leitura é, portanto, uma tarefa lingüística que prioriza, em especial, a ação mental do leitor.

Problematizando a teoria cognitiva

Leia todas as informações do texto a seguir e responda às questões.

(8)

Com base nesta atividade, pudemos constatar que o processo de leitura vai além da decodificação de informações. Para responder a atividade anterior, você precisou ativar seus

esquemas cognitivos e estabelecer relações com as informações trazidas no texto.

Compreenderemos melhor essa concepção, refletindo sobre o que diz Coracini (1995, p. 14)

O bom leitor seria aquele que, diante dos dados do texto fosse capaz de acionar o que Rumelhart chama de esquemas, verdadeiros ‘pacotes de conhecimentos’ estruturados, acompanhados de instruções para seu uso.

Nesse modelo, então, as significações construídas pelo leitor ultrapassam as informações literais do texto e põem o leitor em ação com seu conhecimento de mundo, levando-o a entrar nas malhas do texto e a elaborar a sua interpretação.

Considerando a legenda que acompanha o mapa, justifique por que as capitais João Pessoa e Natal, apenas são consideradas “Centros Regionais” e não “Metrópoles Nacionais”?

Esquemas

Está relacionado às estruturas cognitivas que se refere a uma classe de seqüências de ação semelhantes que consistem no conhecimento parcial adquirido e estruturado na mente do sesr humano.

(9)

Atividade 3

Quanto você contribui para o aquecimento global?

Se você pensa em chaminés industriais quando alguém fala em aquecimento global, saiba que, todos os anos, cada “pessoa física” do planeta produz, em média, 7 toneladas de gás carbônico. A estimativa, feita pela ONU, não inclui fábricas e usinas, só a soma de todas as emissões que as pessoas provocam ao ligar o carro, acender o fogão ou comer carne. Somadas, elas são responsáveis por 0,9% das 7 gigatoneladas anuais de gás carbônico que a humanidade joga na atmosfera (número semelhante à emissão de fenômenos naturais, como vulcões e incêndios florestais). “O impacto pessoal na formação do efeito estufa é muito grande. Quanto mais prejudicamos o clima, fica mais urgente ainda tomar uma atitude”, diz Oswaldo Martins, da ONG Iniciativa Verde. Não há mais muita dúvida de que o homem é responsável pelas alterações que o clima do planeta sofreu nos últimos 50 anos.

[...]

CORDEIRO, T. Revista Superinteressante,São aulo, Editora Abril, mar, 2007, p. 38

1)

Uma questão de compreensão inferencial, de forma que o leitor estabeleça uma dedução que não se encontra de maneira explícita no texto.

Leia o texto a seguir e elabore duas questões, conforme as orientações que vêm expostas depois do texto.

(10)

Podemos concluir que, nessa visão, o texto ainda é o único caminho que o leitor persegue, embora implique numa participação ativa e criativa daquele que lê. Dessa forma, é a partir do ponto de vista do leitor e por meio de suas experiências que ele pode expor e contrapor a sua leitura do texto.

Um pouco mais de conversa...

Vejamos então que, segundo uma outra abordagem, é possível constatar que a significação de um texto não se encerra nele mesmo, nem tampouco nas habilidades cognitivas de quem lê.

A próxima teoria que vamos estudar defende a idéia de que a atividade de compreender o que se lê vai além do texto e das capacidades do leitor. Trataremos agora da leitura, como um processo de interação social, evidenciado pela teoria interacionista.

A teoria interacionista

Uma situação de interação em questão

O texto a seguir constitui um bom exemplo em que o processo de construção de sentido de um texto requer, além dos conhecimentos lingüísticos que o leitor possui, outros conhecimentos que interagem nessa procura de significação.

2)

Uma questão de compreensão do texto, que exija do leitor explorar o seu conhecimento de mundo.

Interagem

Interagir significa agir reciprocamente; exercer ação junto ao outro.

(11)

Indicadores educacionais mostram

“distância” do Oiapoque ao Chuí

http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/outras/news04_15.htm Conhecimento ligüístico, textual e de mundo O conhecimento lingüístico desempenha um papel central no processamento do texto. O conhecimento textual, também é importante, pois é o conjunto de noções e conceitos sobre o texto e influenciam na interação entre leitor e autor. Finalmente, o conhecimento de mundo (social), às vezes adquirido informalmente, se dá por meio, também, de situações de ensino-aprendizagem formal, no convívio social, histórico e cultural. O título da notícia publicada no site do Inep, em 1994, nos mostra que a linguagem

é usada não apenas para informar ao leitor sobre a distância em quilômetros do Oiapoque ao Chuí advinda dos “indicadores educacionais”. Não é à toa que a palavra distância está acompanhada de aspas. Quando lemos “do Oiapoque ao Chuí”, que dimensiona o tamanho do Brasil, interpretamos que, nesse contexto, essa expressão revela as desigualdades do País, com relação aos índices educacionais. O Brasil, imenso em tamanho, também é gigante na desigualdade social e educacional.

Assim, continuando nossa análise, vemos que essa mesma expressão interpretada por alguém que desconhece os pontos extremos a Norte e a Sul do país, “Oiapoque e Chuí”, poderia ter pouco ou quase nenhum efeito de sentido. No entanto, o nosso conhecimento do quanto representa essa distância ao longo dos, aproximadamente, 5.330 quilômetros que separam a cidade do Oiapoque ao Chuí, também demonstra as disparidades educacionais do nosso país, quanto ao percentual de analfabetos, anos de estudo, crianças que estão na escola, taxa de distorção idade-série, entre outros.

Da mesma forma, muitas vezes, dizemos determinadas palavras ou enunciados completos, não apenas para informar algo, mas para provocar efeitos de sentidos diversos, conforme a situação social em que esses enunciados são produzidos.

Assim, que tal pensarmos um pouco mais sobre esta perspectiva de ler textos? Que teoria pode explicar esse processo de leitura? Que concepção de linguagem daria suporte a esse modo de ler?

É certo que você já deve ter concluído, com base no que você estudou na primeira aula, que só uma concepção de linguagem poderia justificar esse processo – a interacional. Nesse modelo há um inter-relacionamento dos dois níveis de conhecimento do leitor. Tanto a informação gráfica quanto a informação que o leitor acumulou nas suas experiências de vida participam do ato de ler.

O significado nem está centrado no texto, nem tampouco no leitor. O leitor nessa concepção aciona seus conhecimentos prévios, fazendo interação entre seus conhecimentos lingüísticos, textuais e sociais.

Esta concepção pressupõe a reconstrução de sentidos e tem como base os conhecimentos apropriados ao longo da vida que interagem entre si, razão por que a leitura é considerada um processo interativo. Sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão, afirma Kleiman (1989). Nesse sentido, essa autora considera como conhecimentos prévios: o conhecimento lingüístico, textual e de mundo (social).

(12)

Atividade 4



2

sua resposta

.

Assim, conforme Moita-Lopes (1996, p. 141),

O leitor é visto, então como sendo parte de um processo de negociação de significado com o escritor, por assim dizer, do mesmo modo que dois interlocutores estão interagindo entre si na busca do significado, ao tentar ajustar seus esquemas respectivos. Essa interação é caracterizada por procedimentos interpretativos que são parte da capacidade do leitor de se engajar no discurso ao operar no nível pragmático da linguagem.

Leia os enunciados a seguir e escreva quais os sentidos que nos fazem interpretar esses dizeres:

(13)

2.

sua resposta

Conversando um pouco mais...

C

omo estamos vendo, o processo de leitura, com base na teoria interacional, diferentemente da teoria da decodificação (centrada no texto) e da teoria cognitiva (centrada nas capacidades do leitor), focaliza as situações de interação em que estão envolvidos leitor, texto e autor. Essa forma de conceber o processo de leitura, de modo que seja produtivo e que a interpretação possa ser realizada efetivamente, exige que, como afirma Rauen (2006) os produtores de sentido do texto - autor e leitor - estejam sócio-historicamente determinados e ideologicamente constituídos.

Nesse sentido, leitor e escritor vivenciam uma relação resultante das situações histórica e social que determinam o processo de produção de sentido e ressignificação do texto, visto que como diz Antunes (2003, p. 67)

A atividade da leitura completa a atividade da escrita. É, por isso, uma atividade de

interação entre sujeitos e supõe muito mais que a simples decodificação de sinais gráficos.

O leitor, como um dos sujeitos da interação, atua participativamente, buscando recuperar, buscando interpretar e compreender o conteúdo e as intenções pretendidos pelo autor.

(14)

Atividade 5

A partir dessa compreensão, acreditamos que esse modelo tem relevância para a prática pedagógica, tendo em vista que prioriza o trabalho com a leitura e a produção textual, sob a perspectiva da língua como instrumento de interação social, como foi estudado na aula anterior. Desta forma, vemos que há nesse enfoque um compromisso com a formação de sujeitos críticos e ativos no contexto histórico social em que estão inseridos.

Problematizando a teoria interacional

Leia o texto a seguir e elabore 2 questões que possibilitem ao leitor realizar um processo de leitura interacional.

Leonardo da Vinci

A história de como um homem bastardo, canhoto, vegetariano, homossexual e libertador de passarinhos tornou-se o maior gênio ocidental de todos os tempos. Em meio a tudo o que já se disse sobre Leonardo da Vinci, ao longo de 500 anos, a frase de Freud brilha como uma pérola: “Ele foi como um homem que acordou cedo demais na escuridão, enquanto os outros continuavam a dormir”.

É admirável que Leonardo tenha conseguido suportar a sua solidão. “Será que ninguém jamais ouvirá a minha voz, e que sempre estarei só, como neste momento, nas trevas debaixo da terra, como se tivesse sido sepultado vivo, junto com meu sonho de asas?” Esse desabafo é de quando ele se refugiou numa adega, com seus livros, manuscritos e instrumentos científicos. Lá fora, as tropas francesas de Luís XII devastavam Milão a canhonaços.

[...]

(15)

Continuando nossa conversa...

V

imos assim, que a teoria interacional revela que a atividade de ler está dimensionada num processo em que leitor e autor se relacionam em busca dos sentidos do texto. Entretanto, uma nova forma de conceber a leitura mostra que nessa busca se estabelecem diálogos, encontros e confrontos que desencadeiam novas relações e ressignificações do texto. Discutiremos, a partir de então, a teoria discursiva.

Teoria discursiva

Esta perspectiva teórica toma como base conceitos sociológicos e antropológicos. A leitura é uma prática discursiva, cuja habilidade do leitor se efetiva quando ele se coloca em relação ao texto e a todos os “outros textos” (discursos sociais, históricos e culturais) que participam desse processo. Nesta abordagem, estão envolvidos,

(16)

1.

o leitor e os sentidos historicamente constituídos;

2.

o leitor e todos “os outros textos”, discursos, conhecimentos, práticas (sociais, lingüísticas, culturais, históricas) inscritos no texto;

3.

as infinitas possibilidades de novos dizeres (novas leituras/discursos/textos).

O texto não possui um único sentido, mas múltiplos sentidos. O leitor, muito além de um simples decodificador de sinais gráficos e fonemas, é um leitor discursivo, crítico que interroga o texto, aprecia conforme valores estéticos, afetivos, éticos e políticos; e amplia os sentidos do texto em condições sócio-historicamente determinados.

Nessa visão, a leitura é

uma ação, um trabalho do leitor no texto. Que sem dúvida envolve a recuperação da lógica posta pelo seu autor, da história contada, do argumento alinhavado, da idéia defendida, mas que não pára aí. O leitor lê mais do que isso. Lê também o modo pelo qual essas idéias se produziram e aí lê o texto na sua relação com o autor, com a história. Nesse mergulho o leitor traz para o texto “outros textos”, outras histórias que nele estão escondidas. Faz o vai-vem (sic) entre sua vida e a vida contada no texto, a sua interpretação e a interpretação já sancionada para o texto (GUEDES, 2006, p. 74).

Importante

Essa concepção exige que o leitor discursivo explore: n o contexto de produção do texto;

n as finalidades da atividade de leitura; n a intertextualidade temática;

n a intertextualidade discursiva; n as apreciações estéticas e afetivas;

n as apreciações relativas a valores éticos e políticos; n a discussão crítica do texto;

n a possibilidade da interdisciplinaridade temática;

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Atividade 6

Para compreendermos melhor essa vertente teórica, vamos realizar a atividade a seguir.

1)

Você gostou da idéia de Rubem Alves apresentada nesse texto? Justifique. Leia o fragmento de texto e responda às seguintes questões:

“Um bibliotecário de verdade conhece os cenários que os livros desenham para orientar-nos em nossas viagens. Cada professor, na sua área, deveria ser um bibliotecário. Sua função não é caminhar por trilhas batidas olhando para o chão. É mostrar os cenários literários que podem ser vistos se olharmos para cima... Assim se aprende o mundo.”

ALVES, Rubem. Sem notas e sem freqüência. Revista Educação. São Paulo: Segmento. Ano 9, nº 107, 2006, p. 66.

(18)

Atividade 7

Como você deve ter percebido, a compreensão da leitura do texto envolveu o processo de leitura como função social. Para responder, você precisou se colocar como um sujeito social e discursivo, no sentido de que é alguém que tem um lugar social, uma história determinada.

Assim, uma leitura discursiva de um texto permite que o leitor: n desenvolva uma consciência crítica;

n instaure um confronto entre ele e o escritor;

n estabeleça um diálogo com o texto e com “outros textos”;

n torne-se co-autor do texto que lê;

Portanto, trata-se de uma prática social de leitura (letramento) que emerge do diálogo social e histórico entre o leitor e todos os outros (discursos) advindos do processo da leitura.

Letramento

O uso da palavra letramento vem esclarecer sobre as “habilidades, conhecimentos e atitudes necessárias ao uso efetivo e competente da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita” (SOARES, 2003, p. 89).

Leia o texto e avalie, com base nas teorias estudadas, as questões que seguem. Justifique mostrando que capacidades o leitor mobilizaria para responder cada questão.

“A região Nordeste ocupa uma grande área do território brasileiro. Apresenta características comuns ao país, mas também alguns aspectos que a particularizam. Não é uma região homogênea, apresentando diferenças entre as áreas que a compõe. O Sertão é uma dessas áreas e possui condições naturais e humanas específicas, como, por exemplo, o clima semi-árido, vegetação de Caatinga, a pecuária e a agricultura de subsistência. O Cariri, por sua vez, localiza-se no Sertão. Também apresenta características comuns ao Nordeste e particulares a essa região”.

[...]

Fragmento de texto retirado de MARTINS, D., BIGOTTO, F. e VITIELLO, M. A regionalização do espaço brasileiro. In: Geografia: sociedade e cotidiano. São Paulo: Escala Educacional, 2006, p. 27.

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1)

O que existe de comum entre as condições naturais do sertão e a região onde você mora?

2)

Leia o fragmento do poema.

[...] Quando há inverno abundante No meu Nordeste querido

Fica o pobre em um instante Do sofrimento esquecido [...]

Patativa do Assaré

3)

Qual a região de que trata o texto?

Patativa do Assaré: uma voz do Nordeste. São Paulo, Hedra, 2000. In: Geografia: sociedade e cotidiano. São Paulo: Escala Educacional, 2006, p. 26.

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4)

Leia a letra de música e responda à questão a seguir.

Meu cariri

Rosil Cavalcanti e Dilú Melo No meu cariri

quando a chuva não vem não fica lá ninguém somente Deus ajuda se não vier do céu chuva que nos acuda macambira morre chique-chique seca juriti se muda. [...]

A letra da música “Meu cariri” retrata a situação vivida por alguns nordestinos, em razão das especificidades dessa região, conforme o texto anterior apresenta. Quais os fatores que levam essas pessoas a migrarem para outras regiões do Brasil? Justifique.

Nisso tudo, é importante lembrar que as quatro perspectivas teóricas estudadas nesta aula, não se anulam entre si. Uma não se sobrepõe a outra, nem tampouco invalida a que antecede.

Enfim, ler é entregar-se à leitura, num jogo discursivo em que o leitor, cria e recria significados, vivenciando encontros e desencontros, pois

A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar de um diálogo: interrogar, escutar, responder, concordar etc. Neste diálogo o homem participa todo e com toda a sua vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, com as suas ações. Ele se põe todo na palavra, e esta palavra entra no tecido dialógico da existência humana, no simpósio universal.

BAKHTIN, M. (1979, apud CLARK e HOLQUIST, 1998, p. 13).

Disponível em: www.casadeportinari.com.br/cronologia/retirantes.htm Acesso em: 23/08/2007

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Leituras complementares

Recomendamos como leituras essenciais que fundamentam a conversa que tivemos nesta aula:

CORACINI, M. J. R. F. O jogo discursivo na aula de leitura: língua materna e língua estrangeira. Campinas: SP: Pontes, 1995.

A autora aborda questões sobre o ensino-aprendizagem, em geral, e, de modo particular, o ensino de línguas centrando a atenção no aspecto da leitura, concepções de linguagem, texto, leitura, metodologia, que constituem, embora parcialmente, o imaginário discursivo que habita o sujeito sócio-ideológico constituído.

MOITA-LOPES, L. P. Um modelo interacional de linguagem. In: Oficina de Lingüística

Aplicada. Campinas: SP: Mercado de Letras. 2001, p. 137-146.

O autor discute o modelo de leitura interacional, considerando que o fluxo da informação opera em ambas as direções interacionalmente e mostra que leitores e escritores estão posicionados social, política, cultural e historicamente ao agirem na construção do significado do texto.

http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0402/04.htm

Artigo desenvolvido pelo Prof. Dr. Fábio José Rauen/PPGCL/UNISUL. Consulta em 23/03/07.

O site traz um artigo no qual o autor discute a respeito da concepção sócio-interacional de leitura. Para isso, mostra que no processo de interpretação é preciso oferecer ao leitor condições, que vão além das estratégias de codificação. Ou seja, é necessário estabelecer relações na construção do sentido dos textos, de modo que possa tornar “explícitas as idéias implícitas e obscuras”.

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Resumo

Auto-avaliação

Leia as afirmações a seguir e teça comentários.

Seus comentários ajudarão você a identificar os pontos positivos de sua aprendizagem e também os aspectos que você ainda deverá melhorar. Assim, avalie seu desempenho como aluno nesta aula.

A leitura é uma atividade que pode ser explicada por diferentes

perspectivas teóricas.

Nesta aula aprendemos que diferentes perspectivas teóricas explicam o processo de leitura: 1) Teoria da decodificação: Ler é uma atividade de decodificação, que está centrada nas informações grafolingüísticas do texto (centrada no texto); 2) Teoria Cognitiva: Ler é uma atividade de ativação das habilidades mentais do indivíduo (centrada no leitor); 3) Teoria Interacional: Ler é uma atividade que incide no processo de interação entre leitor e autor, mediado pelo texto (centrada na interação entre leitor e autor); 4) Teoria Discursiva: Ler é uma prática discursiva em que está envolvida o leitor, o(s) texto(s) – discursos sociais, históricos e ideológicos, revelando múltiplos sentidos. É uma atividade dialógica que possibilita à recriação de outros discursos, tornando-se o leitor um co-autor do texto que lê. Aprendemos ainda, que todas essas teorias são válidas para explicar como se dá o processo de ler.

(23)

Saber ler contribui de forma decisiva para a autonomia e

a formação crítica do leitor.

Referências

ANTUNES, I. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola. 2003. BAKHTIN/VOLOCHINOV. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo, Hucitec, 1929. CORACINI, M. J. R. F. O jogo discursivo na aula de leitura: língua materna e língua estrangeira. Campinas: SP: Pontes, 1995.

GUEDES, P. C. A formação do professor de português: que língua vamos ensinar? São Paulo: Parábola, 2006.

MOITA-LOPES, L. P. Oficina de Lingüística Aplicada. Campinas: SP: Mercado de Letras, 2001.

KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: SP: Pontes, 1989. SOARES, M. Letramento e escolarização. In: RIBEIRO, V. M. (Org.) Letramento no Brasil. São Paulo: Global, 2003, p. 89-113.

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Referências

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