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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Ciência Política Nível Mestrado

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Programa de Pós-Graduação em Ciência Política Nível Mestrado

Pedro Barbabela

“LA PAZ SIN LAS MUJERES ¡NO VA!”:

um estudo sobre os ativismos interseccionais feministas nos processos de construção da paz na Colômbia (2012-2016)

Belo Horizonte 2020

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“LA PAZ SIN LAS MUJERES ¡NO VA!”:

um estudo sobre os ativismos interseccionais feministas nos processos de construção da paz na Colômbia (2012-2016)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciência Política.

Orientadora: Profa. Dra. Marlise Miriam de Matos Almeida

Linha de Pesquisa: Teorias da Justiça, Feminismo e Pensamento Político Brasileiro

Belo Horizonte 2020

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Dedico este trabalho à memória de meus avós, Purcina Barbabela Silva Mello e Elysio Pereira de Mello, cuja lembrança e afeto me guiam na luta pela construção de uma sociedade mais justa para todes. Vocês estão presentes em minhas palavras.

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Em meio aos documentos, entre linhas e ideias, as análises e resultados da pesquisa foram se materializando. Este é um dos produtos dos quase dois anos de reflexão e diálogos construídos com diversas pessoas. A presente dissertação é fruto de complexas relações que foram criadas e mantidas e que me possibilitaram entrar em contato com diferentes visões, conhecimentos e produtos de conversas coletivas. Sem as incríveis discussões que presenciei e participei com as pesquisadoras e pesquisadores ao longo do mestrado, esse trabalho não seria possível.

À minha orientadora e amiga, Marlise Matos, por ter acreditado em mim e na minha pesquisa, mesmo antes de ser aprovado no processo seletivo do mestrado. Me aceitou na disciplina isolada em 2016 e me abriu um mundo de possibilidades por meio da produção de uma ciência a serviço da transformação da sociedade. Agradeço por ter estado e estar sempre presente nos momentos de dúvida e de insegurança, me tranquilizando e construindo pontes de pesquisa. Espero que essa parceria se mantenha e cresça cada vez mais durante o meu doutorado. Meu mais profundo muito obrigado!

Agradeço aos meus pais, Lêda e Omar, e aos meus irmãos, Barbara e Lucas. Eu não conseguiria chegar onde estou se não fosse o apoio incondicional que recebi de vocês. Cada linha deste trabalho foi escrita com vocês, para vocês e por vocês. Muito obrigado por me ensinarem a não desistir e a enfrentar os desafios com um sorriso no rosto e com pensamentos positivos. Muito obrigado por tudo! Amo vocês!

Ao meu companheiro, melhor amigo e confidente, Gui, por estar ao meu lado durante cada momento partilhado nessa minha jornada. Não tenho dúvidas que sem você e seu apoio incondicional essa etapa teria sido muito mais solitária e difícil. Em todas as vezes que eu achei que não fosse conseguir ou que não fosse bom o suficiente, você esteve comigo enfrentando meus dilemas e “monstros”, transformando-os em situações possíveis ou apenas em mais um percalço vivido. Obrigado por entender os momentos de tensão e insegurança e estar próximo a mim tornando tudo mais tranquilo, doce e divertido. Sou grato pelo amor e companheirismo e, por juntos, estarmos construindo uma vida.

Às queridas Periféricas+, juntas construímos muito mais que pesquisas em conjunto, estabelecemos laços de amor e solidariedade que espero que se mantenham por muitos anos. Sei que sempre estarão em meus pensamentos e lembranças mais marcantes do mestrado, Paulinha, Paula, Talita, Yulieth, Camila, Jessica, Ana, Ananda, Carla, Gabriel, Priscila, Kelly, Polly, Esther e Lívia. Juntas somos mais fortes e abalamos as estruturas do malestream da

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Gostaria aqui de fazer um agradecimento especial à minha amiga e pesquisadora inspiradora, Luciana Andrade. Não sei se isso já foi dito, mas você foi/é uma pessoa muito importante na minha formação acadêmica. Você me recebeu e esteve comigo, mesmo que distante em alguns momentos, me orientando e aconselhando sobre caminhos a seguir. Muito obrigado pela acolhida e pelo acompanhamento durante meu amadurecimento pessoal e acadêmico. Fico feliz que hoje sejamos bons amigos.

Às amigas da Rede de Feminismos e Política, pelos diálogos e orientações durante a minha trajetória, obrigado, Danusa Marques, Daniela Rezende, Viviane Gonçalves e Rayza Sarmento. Aos amigos e amigas do DCP que também participaram e me marcaram durante esses dois anos de mestrado, em especial, Isabella, Marcos, Ana Clara, Estefânia, Alexandre e Thales. Minha experiência jamais teria sido tão boa se não tivesse vocês ao meu lado, caminhando juntas. Aos demais colegas da turma de Mestrado de 2018, os meus sinceros agradecimentos também pelas contribuições ao meu amadurecimento acadêmico.

Aos meus queridos amigos de Relações Internacionais da PUC Minas, que estiveram comigo nesse processo de mudança de área, me acompanhando, mesmo que não presentes fisicamente, nos meus novos caminhos e mandando boas energias. Muito obrigado, Letícia, Tainá, Bruna, Jean, Nathaly, Annie, Bambino e Carol.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFMG, pelos ensinamentos, acadêmicos e pessoais, durante esses dois anos do mestrado. Em especial, agradeço a Ricardo Fabrino, Claudia Feres, Magna Inácio, Ana Karruz e Cristiano Rodrigues pela partilha do conhecimento nas aulas. Ao Alessandro e à Thaís, que sempre estiveram presentes para resolver todas as minhas questões, me auxiliando no que foi necessário.

À professora Karina Junqueira pela disponibilidade e por aceitar participar da minha defesa, tenho certeza de que seu olhar atento e crítico ao texto contribuirá positivamente para o trabalho. Por fim, agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), por ter me dado condições para que pudesse me dedicar integralmente a esse trabalho acadêmico.

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Así como la democracia, sin las mujeres no va, la historia sin el registro de los aportes femeninos, tampoco es un recuento genuinamente democrático (WILLS, 2005, p. 40).

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de compromisso entre o governo nacional e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) para resolução do conflito armado. A assinatura do termo significou muito mais do que o compromisso das partes na retomada das negociações, tornando-se um importante marco de inclusão e de disputas por participação de diversos agentes sociais ao longo do processo. Durante o período dos diálogos, os movimentos de mulheres e feministas assumiram um papel central ao mobilizar e organizar demandas diversas e plurais em uma luta conjunta por reconhecimento e direitos. Suas mobilizações reconheceram a interseccionalidade como um eixo de ação fundamental para as práticas feministas e estiveram presentes na maior parte das intervenções organizadas no país. Como resultado das negociações, em setembro de 2016, foi apresentada a primeira versão dos Acordos de Paz de La Habana. Assim, na presente dissertação, buscou-se, por meio de uma etnografia de documentos, compreender as diferentes estratégias adotadas pelos movimentos de mulheres e feministas na Colômbia, a partir das múltiplas manifestações dos ativismos interseccionais feministas no período compreendido entre os anos de 2012 e 2016. Os resultados apontaram para ações “em movimento” nas quais as mulheres participaram por meio de três vias – delegações oficiais, consultoria e movimentos de mulheres e feministas – na busca pela construção de redes de lutas por direitos. Além disso, observou-se a existência de relações entre as experiências diferenciadas das mulheres ao longo do conflito e a construção de políticas sensíveis aos marcadores interseccionais de gênero, raça, etnia, sexualidade, entre outros. Tais políticas foram construídas por meio de práticas interseccionais que, por sua vez, representaram esforços de superação das desigualdades reproduzidas pelo conflito. Os Acordos de La Habana foram inéditos ao apresentarem um recorte diferenciado de gênero em cada um dos seis pontos firmados, como resultado de ações coordenadas dos movimentos de mulheres e feministas e sua incidência sobre os agentes em negociação, a partir de diferentes arenas políticas. No entanto, o plebiscito organizado para decidir pela aprovação dos acordos demonstrou as forças de grupos de cunho conservador e exigiu uma reformulação do documento final de paz.

Palavras-chave: Ativismos interseccionais feministas; Movimentos de mulheres e feministas;

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2012 between the national government and the Revolutionary Armed Forces of Colombia – People's Army (FARC-EP) for the resolution of the armed conflict. The signing of the term meant much more than the commitment of the parties to resume the negotiations, becoming an important mark of inclusion and disputes for the participation of different social agents throughout the process. During the dialogue period, women's and feminist movements assumed a central role in mobilizing and organizing diverse and pluralistic demands in a joint struggle for recognition and rights. Their mobilizations recognized intersectionality as a fundamental axis of action for feminist practices and were present in most organized interventions in the country. As a result of the negotiations, in September of 2016, the first version of the La Habana Peace Agreement was presented. In this dissertation, one seeks, with an ethnography of documents, to understand the different strategies adopted by the women's and feminist movements in Colombia, through the multiple manifestations of feminist intersectional activisms in the period between 2012 and 2016. The results point towards a “moving” action in which women participated through three fronts – official delegations, consultancy, and women's and feminist movements – to build networks of fighting for rights. In addition, one observes the existence of relationships between the differentiated experiences of women throughout the conflict and the construction of policies sensitive to intersectional markers as gender, race, ethnicity, sexuality, among others. Such policies were constructed through intersectional practices that, in turn, represented efforts to overcome the inequalities reproduced by the conflict. The La Habana Agreement was unprecedented in presenting a gender-differentiated approach at each of the six points, made as a result of coordinated actions by women’s and feminist movements and their impact on negotiating agents from different political arenas. However, the plebiscite organized to decide on the approval of the agreements demonstrated the forces of conservative groups and demanded a reformulation of the final peace document.

Keywords: Feminist intersectional activisms; Women’s and feminist movements;

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FIGURA 01- II Cumbre Nacional de Mujeres y Paz ... 90

FIGURA 02 - Relações e estratégias estabelecidas pelos movimentos de mulheres e feministas na Colômbia ... 95

FIGURA 03 - Composição dos Acordos de Paz de La Habana ... 100

FIGURA 04 - Panfleto ¡Colombia está en Peligro! ... 130

FIGURA 05 - Manifestação contrária aos acordos... 131

FIGURA 06 - Adesivo de carro: Por eso digo No a los Acuerdos de La Habana ... 131

FIGURA 07 - Manifestações contra Gina Parody ... 134

FIGURA 08 - Cartaz contra a ministra da Educação Parody ... 134

FIGURA 09 - Las FARC también negocian la destrucción de la Familia ... 136

GRÁFICO 01 - Informação das participantes do evento ... 67

GRÁFICO 02 - Distribuição por gênero dos participantes ... 81

QUADRO 01 - Relação de documentos analisados ao longo do capítulo 3 ... 25

QUADRO 02 - Relação de documentos analisados ao longo do capítulo 4 ... 28

QUADRO 03 - Composição das instâncias de negociação do processo de paz entre as FARC-EP e o Governo ... 74

QUADRO 04 - Informações sobre a realização dos Fóruns ... 78

QUADRO 05 - Relação da origem social vs. número de participantes do Fórum Nacional ... 81

QUADRO 06 - Alguns exemplos de alterações relacionadas a gênero no Acordo sobre Reforma Rural Integral ... 138

QUADRO 07 - Alguns exemplos de alterações sobre gênero no Acordo sobre Participação Política ... 139

QUADRO 08 - Alguns exemplos de alterações sobre gênero no Acordo sobre Fim do Conflito...140

QUADRO 09 - Alguns exemplos de alterações sobre gênero no Acordo sobre Solução do Problema das Drogas Ilícitas ... 141

QUADRO 10 - Alguns exemplos de alterações sobre gênero no Acordo sobre Vítimas... 142

QUADRO 11 - Alguns exemplos de alterações sobre gênero no Acordo sobre Implementação, Verificação e Referendação ... 144

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AIF – Ativismo Interseccional Feminista

ANMUCIC – Associação Nacional de Mulheres Campesinas, Negras e Indígenas da

Colômbia

AP – Acordo de Paz

CFHBD – Cessar fogo e de hostilidades bilateral e definitivo CNOA – Conferência Nacional de Organizações Afro colombianas CSNU – Conselho de Segurança das Nações Unidas

CSIVI – Comissão de Seguimento, Impulso e Verificação da implementação do Acordo Final CSVR – Comissão de implementação, seguimento e verificação do acordo final de paz e de

resolução das diferenças

DA – Dejación de las armas (entrega de armas) ELN – Exército de Libertação Nacional

FARC-EP – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo IMP – Iniciativa Mujeres por la Paz

LGBTI – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos LBT – Lésbicas, Bissexuais e Transexuais

ONU – Organização das Nações Unidas

ONU Mujeres – Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o

Empoderamento das Mulheres

PDET – Programas de Desenvolvimento com enfoque territorial

PISDA – Planos Integrais de Substituição e desenvolvimento alternativo PNIS – Programa Nacional de Substituição de Cultivos de uso ilícito PNRC – Planos Nacionais de Reparação Coletiva

PNUD – Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento RRI – Reforma Rural Integral

RUV – Registro Único de Vítimas

SISEP – Sistema Integral de Segurança para o exercício da Política

SIVJRNR – Sistema Integral de Verdade, Justiça, Reparação e Não repetição UBPD – Unidade de Busca de Pessoas dadas como desaparecidas

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1. INTRODUÇÃO ... 15

1.1 “As marcas sobre o meu corpo”: gênero, violências e o conflito colombiano ... 18

1.2 Apontamentos metodológicos ... 22

1.3 Organização dos capítulos ... 31

2. COMPARTILHANDO IDEIAS E LUTAS POR JUSTIÇA SOCIAL: COMPREENDENDO OS ATIVISMOS INTERSECCIONAIS FEMINISTAS NA COLÔMBIA ... 34

2.1 As ondas dos feminismos: diálogos entre Colômbia, Brasil e América Latina ... 35

2.2 Tensionando a política de alianças: o papel dos ativismos e da interseccionalidade na luta dos movimentos sociais ... 42

2.3 Identificando os ativismos interseccionais feministas nas práticas das organizações de mulheres e feministas ... 53

3. CONSTRUINDO UMA PAZ INCLUSIVA: A ATUAÇÃO DO MOVIMENTO DE MULHERES E FEMINISTAS NAS NEGOCIAÇÕES DE PAZ ... 57

3.1 Disputas e diálogos entre os movimentos de mulheres e feministas, Estado e as FARC-EP na Colômbia ... 58

3.1.1 Buscando por novas formas de se construir a paz ... 60

3.1.2 “Las mujeres no queremos ser pactadas sino ser pactantes” ... 64

3.1.3 Por uma paz de gênero: ponto 5, conferências de vítimas e a construção da Subcomissão de gênero ... 75

3.1.4 Aprofundando as negociações de paz ... 84

3.1.5 “Participamos y decidimos en la construcción de la paz”: os Acordos de Paz de La Habana ... 87

3.2 Reflexões sobre as Ações Interseccionais Feministas na Colômbia (2012-2016) ... 94

4. POR DENTRO DOS ACORDOS DE PAZ: GÊNERO, MULHERES E FEMINISMOS EM DISPUTA ... 97

4.1 Os Acordos de La Habana na construção de uma paz estável e duradoura ... 99

4.1.1 “Hacia un nuevo campo colombiano”: diálogos transversais entre gênero e a Reforma Rural Integral ... 102

4.1.2 Participação Política: abertura democrática para construir a paz ... 108

4.1.3 Cessar fogo bilateral e definitivo, abandono de armas e garantias de segurança113 4.1.4 Solução para o problema das drogas Ilícitas ... 116

4.1.5 Acordo sobre as vítimas do conflito ... 118

4.1.6 Implementação, verificação e referendação ... 122

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5.1 Vozes disputando enquadramentos: a “ideologia de gênero” nos acordos de La Habana128 5.2 Reconstruindo os acordos: o que mudou após o plesbicito ... 135

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 146 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 156 APÊNDICE 1. Cronologia de construção de paz a partir dos movimentos de mulheres e feministas ... 168 APÊNDICE 2. Delegadas/os especialistas que foram para Subcomissão de gênero ... 170

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1. INTRODUÇÃO

O conflito civil-militar da Colômbia, que perdurou por ao menos 58 anos, pode ser apontado como aquele de maior duração na América Latina, marcado pela prevalência de ações violentas ao longo de todo o território desde o início. O período exato que delimita o marco do conflito é tratado de forma controversa na literatura. Porém, para a presente pesquisa, adotaremos a datação do Centro Nacional de Memoria Histórica (2013) da Colômbia, que reconhece o início do conflito pela transição de um contexto de disputas políticas entre os partidos liberais e conservadores, por volta de 1958, para um contexto de violência organizada pelas guerrilhas, que foi responsável pela criação de um ambiente de grande hostilidade e violência no país.

Ainda segundo o documento do Centro Nacional, o conflito colombiano pode ser descrito em quatro períodos. O primeiro1 (i) (1958-1982) foi marcado pela transição de uma violência partidária para uma violência de guerrilha, caracterizada pela proliferação de grupos guerrilheiros que contrastam com o aumento da mobilização social; o segundo período (ii) destacar-se-ia pela expansão política, militar e territorial do conflito, através do crescimento ainda maior das guerrilhas, do surgimento dos grupos paramilitares, do colapso parcial do Estado na contenção dos conflitos e da atuação de grupos associados às atividades de narcotráfico no país, aliada à proposição de uma nova Constituição (1991); o terceiro período (iii) marcaria a escalada do conflito armado, aliada a uma radicalização da opinião pública no que tange uma solução militar; e, por fim, o quarto período (iv) marcaria o rearranjo do conflito armado, compreendido por uma reordenação de forças, tanto dentro do governo colombiano quanto nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP).

Porém, devido à delimitação temporal de nosso trabalho, postularemos a existência de um quinto período (2012-2016), que seria, por sua vez, marcado pela retomada das negociações de paz e pela apresentação do Acordo de Paz de La Habana estabelecido entre o Estado colombiano, aqui entendido pela equipe de governo do então presidente Juan Manoel Santos, e as FARC-EP. Foi através da assinatura do “Acordo Geral para a Terminação do Conflito e a Construção de uma Paz Estável e Douradora”, firmado entre as partes em

negociação no segundo semestre de 2012, que se começou a pensar na inclusão da sociedade

1 Vale ressaltar que o período compreendido entre os anos de 1948* a 1958 ficou conhecido na história do país

como “La Violencia”. O período foi marcado por múltiplas ações violentas entre apoiadores do Partido Liberal Colombiano e o Partido Conservador Colombiano, após a morte do candidato à presidência Jorge Eliécer Gaitán (BIBLIOTECA NACIONAL DE COLOMBIA, 2020).

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civil na construção da paz na Colômbia (BRETT, 2017). Nesse sentido, os movimentos de mulheres e feministas tiveram um papel fundamental em todas as etapas de negociação/construção da paz no país, ao denunciar, em um primeiro momento, a ausência das mulheres nas mesas de negociações, e, em seguida, na organização de duas “Cumbres

Nacionales de Mujeres y Paz”, da formação de uma Subcomissão de Gênero e diversas outras

ações que tiveram espaços em diferentes instâncias de deliberação ao longo do período mais recente (CALBET, 2018).

A luta contra as violências e pela garantia de direitos levou os movimentos de mulheres e feministas2 a se engajarem em lutas interseccionais3 de forma conjunta buscando englobar os diferentes segmentos de mulheres e, em certos momentos, outros segmentos sociais, o que denominaremos aqui de ativismos interseccionais feministas (AIF). O termo surge com o artigo “Emergence of Interseccional Activist Feminist in Brazil: the interplay of local and global contexts” (2018), de Marlise Matos e Solange Simões, que aponta para um novo entendimento e estruturação das ações dos movimentos feministas de quarta onda na América Latina. Além disso, as discussões sobre os AIF estão presentes nas pesquisas organizadas e realizadas pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (NEPEM/UFMG), sob coordenação da Profa. Dra. Marlise Matos.

Os trabalhos desenvolvidos por Matos e Simões apontam para uma nova forma de compreensão das ações feministas. Nesse sentido, acreditamos que a presente dissertação contribuirá por meio de duas principais dimensões. A primeira delas se refere à complementação teórica a respeito da sustentação do termo. Nessa dimensão, por meio de questionamentos conceituais sobre ativismos, interseccionalidades e feminismos latino americanos, buscamos conjugar os conceitos para sustentarmos teoricamente o “novo” termo. A segunda dimensão estrutura-se por meio da aplicação empiricamente orientada a respeito dos ativismos interseccionais feministas ao estudo do caso colombiano. A materialização do conceito por meio das ações dos movimentos de mulheres e feministas durante os processos de paz na Colômbia contribui de forma expressiva para a manutenção do termo, que busca

2 Utilizamos o termo “movimentos de mulheres e feministas” para designar toda e qualquer organização,

movimento ou coletivo de mulheres que trabalham e desenvolvem ações voltadas para a melhoria de vida do segmento, independentemente do seu grau de formalização. Tais organizações podem se intitular como sendo feminista ou não. Em nossa dissertação, as instituições (Sisma Mujer, Humanas Colombia, Ruta Pacifica de

Mujeres, Iniciativa Mujeres por la Paz) possuem documentos e um posicionamento feminista sobre os temas

trabalhados. Para mais informações sobre distinções do termo, sugiro a leitura de Gonçalves (2018).

3 As formulações teóricas e empíricas a respeito das lutas e ativismos interseccionais feministas serão

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refletir a forma diferenciada pela qual são estruturadas as lutas por justiça social e direitos das mulheres (e de outros segmentos sociais) na América Latina.

Assim, essas ações e discursos produzidos pelos movimentos apresentaram-se em diferentes instâncias ao longo dos processos de construção de paz de La Habana, podendo-se destacar a participação e a organização das Cúpulas Nacionais de Mulheres e Paz, as Conferências de Vítimas, as campanhas de conscientização sobre o Acordo de Paz, as manifestações que tomaram as ruas em todo o país e a criação da Subcomissão de Gênero. Como resultado, a primeira versão dos Acordos de Paz passou a incluir um recorte transversal de gênero em cada um dos seis eixos do documento4, de modo a reconhecer as diversidades de mulheres colombianas afetadas pelo conflito. Porém, após a vitória do “NO” no plebiscito organizado, foram reeestruturadas as lutas sociais no país, principalmente ao serem inseridos, no processo de negociação, agentes ligados a setores conservadores da sociedade colombiana.

O presente capítulo tem a intenção de introduzir o objeto de estudo de nossa pesquisa. Para tanto, buscaremos, em um primeiro momento, contextualizar o emprego de ações violentas contra as mulheres no marco desse conflito armado, enquadrando-as como uma das expressões de violência política que pode ser exercida contra as mulheres. Discutiremos, por meio de autoras feministas como Elshtain (1987), Enloe (1989), Batinic (2001), Banjeglav (2009) e Segato (2014), as múltiplas interpretações do emprego da violência sexual em períodos de conflito armado ou em guerras. Sabemos que tais ações violentas foram amplamente empregadas por todas as partes envolvidas durante o conflito colombiano. Além disso, apresentamos de forma breve as respostas do Sistema Internacional de Direitos Humanos que foram fundamentais tanto para sustentar as ações dos movimentos de mulheres e feministas no processo de construção da paz iniciado em 2012, quanto para justificar de forma discursiva a adoção de um enfoque de gênero nos documentos de La Habana.

Na seção seguinte, apresentamos então o nosso percurso metodológico, descrevendo as etapas de análise dos capítulos empírico-analíticos três e quatro. Nesse momento, pontuamos a apresentação e justificativa do método escolhido, além dos documentos e dos casos selecionados nessa pesquisa. Por fim, apresentamos a estruturação dos capítulos seguintes, pontuando as principais autoras que recorremos para contribuir com o desenvolvimento da presente dissertação de mestrado.

4 O acordo de La Habana se organiza em seis eixos, sendo eles: (i) Reforma Rural Integral (RRI), (ii)

Participação política: abertura democrática para construir a paz, (iii) Fim do Conflito, (iv) Solução ao problema das drogas ilícitas, (v) Acordo sobre as vítimas do conflito: “sistema integral de verdade, justiça, reparação e não repetição”, incluindo a jurisdição especial para a paz e o compromisso sobre direitos humanos, e por fim, (vi) Implementação, verificação e referendação.

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1.1 “As marcas sobre o meu corpo”: gênero, violências e o conflito colombiano

A violência sexual tem sido um crime amplamente mobilizado por diferentes agentes durante períodos de conflitos armados ao longo da história (USAID, 2007; OXFAM, 2009; AMNESTY INTERNATIONAL, 2004; 2012; ABCOLOMBIA, 2013). Atualmente, tal violência é enquadrada como um crime de lesa humanidade e é reconhecida pelo Sistema Internacional de Direitos Humanos como uma questão importante a ser trabalhada. Na Colômbia, a violência sexual fez-se presente na vida de milhares de mulheres, que tiveram suas realidades marcadas pelo conflito armado. Porém, antes de contextualizar o caso colombiano, é interessante apresentarmos uma breve discussão teórica sobre o tema geral da violência sexual e o histórico das ações adotadas pelos Estados no Sistema Internacional de Direitos Humanos.

Na década de 1990, com o agravamento dos conflitos em Ruanda (1990-1994) e na Bósnia-Herzegovina (1992-1995), os casos de violência sexual contra as mulheres ganharam grande repercussão, especialmente após as denúncias organizadas por jornalistas e ativistas aos veículos de mídia internacional. Para Segato (2014), os conflitos inauguraram uma nova forma de mobilização bélica onde a agressão sexual passou a ocupar “uma posição central como arma de guerra produtora de crueldade e letalidade, dentro de uma forma de dano letal que é simultaneamente material e moral” (p. 342-343, tradução nossa5).

Alguns anos antes da ocorrência dos casos, a academia já estava atenta às alterações nas dinâmicas dos conflitos armados e passou a buscar compreender as experiências de generalizadas violações de direitos humanos para os segmentos de gênero e sexualidade. Nas Relações Internacionais, nos anos 1980, autoras como Jean Bethke Elshtain (1987) e Cinthia Enloe (1989) começaram a abordar o gênero como uma categoria de análise para se entender os conflitos, tanto intraestatais quanto internacionais. A intenção das autoras era a de mostrar que as formas de violências, principalmente a violência sexual, empregadas nos conflitos faziam parte de uma estratégia maior de dominação.

Seguindo essa mesma linha, Banjeglav (2009) e Batinic (2001) compreendem que a dominação através da violência sexual não implicaria apenas o controle sobre/do corpo do indivíduo, mas estaria relacionado à ideia de que, através do domínio do corpo da mulher, seria possível controlar a estrutura social e institucional que compõe a própria nação. Essa ideia baseia-se na crença de que as mulheres seriam aquelas responsáveis pelo nascimento e

5 “una posición central como arma de guerra productora de crueldade y letalidad, dentro de una forma de daño

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pela manutenção de um determinado povo. Ibrahimovic (2014) aponta que, no caso da ex-Iugoslávia, a violência sexual foi empregada como uma ferramenta genocida contra a população bósnia no território. A abordagem, amplamente defendida pelo Exército Nacional da Iugoslávia no período, era de que o nascimento de bebês sérvios de mães bósnias possibilitaria a “limpeza da raça”. Diante desse discurso, tornou-se comum ouvir da própria população sobre a existência de “campos de estupros” no país, locais onde as mulheres locais eram presas e torturadas até darem à luz a bebês sérvios.

Décadas mais tarde, a fim de compreender as diferentes dinâmicas que perpassaram as vivências das mulheres e de indivíduos com corpos feminilizados, Rita Segato (2014) afirmou que as alterações nas dinâmicas bélicas têm ressignificado os entendimentos que envolvem os corpos das mulheres, cada vez mais entendidos, também, como um “território”. Dessa forma, haveria a compreensão de que o corpo da mulher é o corpo da nação, passando-se a ideia de que a vitória do conflito ocorreria, também, por meio da dominação dos corpos femininos. Essa compreensão de Segato está baseada, em grande medida, nos trabalhos sobre governo e território de Michel Foucault (2004). A autora compreende que, por efeito do paradigma da biopolítica, “a rede dos corpos passa a ser o território, e a territorialidade passa a ser uma territorialidade do rebanho em expansão” (SEGATO, 2014, p. 349, tradução nossa). Assim, os territórios seriam constituídos por meio dos corpos, podendo ser algo a ser possuído/tomado por determinado agente.

A ideia do domínio do corpo-território, aliada à compreensão das transformações dos conflitos atuais e da participação de agentes estatais e não estatais, revela a conformação de um novo quadro de conflito informal ou não convencional, que se expandiu pelo mundo, principalmente na América Latina. Nesses novos contextos, a guerra passou a ser entendida como a materialidade última da política, ou seja, compreendida como “política feita por outros meios”:

Os grupos ou corporações armadas que se enfrentam nesta nova modalidade de guerra são facções, bandos, maras, patotas, gangs, grupos tribais, máfias, mercenários corporativos e forças para estatais e estatais de vários tipos – incluindo aqui os agentes da assim chamada “segurança pública” no exercício de sua discricionaridade em Estados cuja “duplicidade” crescente já não se dissimula (SEGATO, 2014, p. 344, tradução nossa6).

6 “Los grupos o corporaciones armadas que se enfrentan en esta nueva modalidad de la guerra son facciones,

bandos, maras, patotas, gangs, grupos tribales, mafias, mercenários corporativos y fuerzas para-estatales y estatales de varios tipos –incluyendo aquí los agentes de la así llamada “seguridad pública” en el ejercicio de su discrecionalidad en Estados cuya “duplicidad” creciente ya no se disimula”.

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Diante desse quadro de complexos entrecruzamentos de forças, as diferentes formas de violência contra as mulheres não podem mais ser entendidas como uma simples consequência desses períodos. Essas têm adquirido centralidade na construção da própria estratégia de guerra e para todas as partes envolvidas, muitas delas financiadas pelo próprio Estado. Assim, as violências contra as mulheres devem passar a ser entendidas, então, como uma violência de cunho político, sendo parte das estratégias de ação de agentes estatais e não estatais, que as empregam com o intuito de dominação/desestabilização dos agentes sociais, muitos deles – ou delas (quase sempre) - não envolvidos nas ações bélicas.

Após a cobertura midiática desses conflitos dos anos 1990, diversos Estados, Organismos Internacionais (OIs) e movimentos organizados de mulheres e feministas começaram a traçar estratégias de proteção para as mulheres em situação de violência e passaram também a pensar em meios e estratégias de inseri-las nos processos subsequentes de construção da paz. Assim, ainda nos anos 1990, ocorreram dois posicionamentos importantes por parte do Sistema Internacional de Direitos Humanos, sendo eles: a IV Conferência Mundial da Mulher, onde foi adotada a Plataforma de Ação de Beijing e estabelecido um compromisso entre os Estados parte pela promoção de ações com foco na construção da igualdade de gênero; e a alteração do Estatuto de Roma de 1998, que passou a reconhecer a violência sexual como um crime de lesa humanidade (CALBET, 2018).

Nos anos 2000, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 1325 sobre Mulheres, Paz e Segurança. O documento reconheceu dois principais aspectos estruturalmente associados ao fenômeno. Por um lado, compreendeu que as mulheres sofrem de forma diferenciada os impactos das guerras e que a violência sexual deveria ser entendida como crime contra a humanidade, sendo elemento essencial nas agendas de construção da paz. E, por outro lado, afirmou a necessidade de incluir a participação das mulheres nos cargos de poder e decisão em relação à prevenção e à resolução de conflitos (CALBET, 2018).

A partir da Resolução 1325, o Conselho de Segurança da ONU aprovou outros quatro documentos adicionais sobre a temática, sendo eles: a Resolução 1820 (2008), a Resolução 1888 (2009), a Resolução 1889 (2009) e a Resolução 1960 (2010). Essas outras quatro Resoluções reafirmaram o emprego da violência sexual no conflito como violação dos direitos humanos e salientaram o impacto diferenciado desse tipo de violência sob os corpos das mulheres. Ademais, reconheceram a importância de inserir as próprias mulheres, tanto nas

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forças de segurança quanto em cargos de decisão nas negociações para a paz. De forma geral, os cinco documentos representam um desafio para os Estados na tentativa de se melhorar as condições de vida das mulheres expostas a situações de violência em países afetados por conflitos armados e guerras.

No que tange o conflito colombiano, ainda não se sabe ao certo qual foi a magnitude e nem a extensão da violência (inclusive sexual) perpetrada contra as mulheres, durante o período. Sabe-se, no entanto, que diversas formas de violência, articuladas entre si, marcaram a realidade de vida de milhares de mulheres colombianas durante mais de 50 anos de conflito. Nesse sentido, torna-se relevante pontuar que essas violências se relacionam diretamente a diversos marcadores sociais como gênero, raça, etnia, classe, orientação sexual, identidade de gênero, geração, entre outros, fazendo com que as mulheres indígenas e afro-colombianas tenham sido afetadas de diferentes formas, o que acabou por limitar o seu acesso à justiça e o reconhecimento de direitos dessas mulheres (ABCOLOMBIA, 2013).

Segundo Calbet (2018), dois aspectos merecem destaque em relação às dinâmicas de hostilidade presentes no conflito colombiano. O primeiro diz respeito ao impacto do gênero sobre ações violentas e o segundo aos agentes que praticaram tais atos e suas motivações. No primeiro aspecto, como ressalta o autor, o Registro Único de Vítimas (RUV) aponta que as violências empregadas durante o conflito armado se diferenciam a depender do gênero do indivíduo. Assim, as mulheres teriam sido vítimas, principalmente, de deslocamento forçado e da violência sexual, assim como tiveram suas vidas marcadas pelo desaparecimento e pelo assassinato de pessoas ao seu redor – o que difere das violências voltadas para os homens. Estes foram vitimizados por ações como o recrutamento forçado, assassinatos, massacres, sequestros, deslocamentos e desaparecimentos forçados.

Para a Oxfam (2009), a violência sexual pode ser apontada como a principal causa para o deslocamento forçado de mulheres na Colômbia, sendo que duas entre dez mulheres forçadas a fugir de suas casas o fizeram devido a esse tipo de crime. Porém, mesmo com o trânsito dessas mulheres, as diferentes expressões de violências persistiram. Das mulheres deslocadas no país, cerca de 52% sofreram alguma forma de abuso físico e 36% foram forçadas a ter relações sexuais com estranhos, seja durante o processo de deslocamento ou após estarem assentadas em uma nova localidade (OXFAM, 2009).

Já no segundo aspecto, conforme apresentado pelo Centro de Memória Histórica, os agentes que mais recorreram ao uso da violência sexual durante o conflito foram os grupos paramilitares, seguidos pelas guerrilhas e pelas forças armadas do Estado. A violência teria sido empregada com diferentes propósitos, entre eles o controle social, o controle da atividade

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econômica, como estratégia e arma de guerra e, também, como forma de castigo (CALBET, 2018). Os casos de violência sexual no país apresentam um alto nível de subnotificação, que pode ser entendido a partir das inúmeras dificuldades enfrentadas no acesso ao sistema de justiça por parte das mulheres. Apesar dos obstáculos, essas agentes estiveram organizadas levando suas experiências para as arenas de discussão e demandando justiça, reparação e a garantia de não repetição (ABCOLOMBIA, 2013).

Por meio das organizações de mulheres e feministas na Colômbia, por exemplo, foi possível a criação de um sistema de resposta às mulheres vítimas de violência sexual, articulado por meio de uma rede de suporte que contou com a participação de diversas lideranças e ONGs no país. Para além da resposta às violências do conflito, as organizações de mulheres e feministas foram capazes também de estabelecer uma série de interações com agentes chave no processo de construção da paz, tais como lideranças do governo, membros das FARC-EP e de outros movimentos sociais. Esse sistema de alianças, ou de ativismos interseccionais feministas, será trabalhado e discutido de forma sistemática nos próximos capítulos dessa dissertação.

1.2 Apontamentos metodológicos

A presente dissertação desenvolve-se no intuito de responder à seguinte pergunta de pesquisa: como se deram as ações dos movimentos de mulheres e feministas para a inclusão de um enfoque diferenciado de gênero no recente processo de construção de paz da Colômbia (2012-2016)? Adotamos como hipótese o entendimento de que essas ações empreendidas pelos movimentos de mulheres e feministas foram fundamentais para a inclusão de um enfoque diferenciado de gênero nos documentos de paz. As ações estiveram pautadas através da forma específica de ativismos interseccionais feministas que buscaram, a partir da convergência de demandas plurais e pelo reconhecimento do entrecruzamento de marcadores da diferença, estabelecer lutas conjuntas por reconhecimento e pela garantia de direitos para as mulheres por meio dos processos de criação dos Acordos de Paz de La Habana (2016). Para além de tecer e de buscar “unificar” as demandas e lutas dos diversos segmentos de mulheres colombianas, os movimentos de mulheres e feministas, complexificando todo o processo em curso, buscaram estabelecer relações com outros movimentos sociais, tais como os movimentos negros, LGBTI+, indígenas, campesinos (entre outros), de modo a buscar garantir a criação de uma rede ampliada de suporte e de lutas.

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Para realizar essa pesquisa, adotamos um olhar etnográfico sobre os documentos produzidos por diferentes agentes chaves que estiveram envolvidos nos processos de construção de paz, iniciado no ano de 2012, na Colômbia. Realizamos um levantamento de Resoluções; Relatórios de organizações sociais da Colômbia, dando prioridade para instituições voltadas para a defesa das pautas femininas e feministas; Atas e Manifestos de Encontros ou de Formação de movimentos de mulheres e feministas no período; Documentos de organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), Oxfam e a Anistia Internacional; Comunicados conjuntos (CC); Matérias jornalísticas em plataformas de mídia digital; Relatorias de eventos voltados ao mesmo tempo para a resolução do conflito e para o papel das mulheres no processo; e, finalmente, os próprios documentos finais dos Acordos de Paz de La Habana.

Por meio desses documentos, buscamos compreender as diferentes estratégias adotadas pelos movimentos de mulheres e feministas no intuito de promover e garantir direitos na Colômbia, no período compreendido entre os anos de 2012 e 2016. Conforme aponta Vianna (2014), o uso de documentos como peças etnográficas significa compreendê-los como construtores da realidade social, tanto no que tange a produção de novos entendimentos sobre uma temática específica localizada em um período delimitado de espaço-tempo, como os significados os quais os documentos conscientemente reafirmam.

O intuito dessa dissertação foi, então, o de desenvolvê-la por meio de uma etnografia de documentos (HULL, 2012; VIANNA, 2014; LOWENKRON; FERREIRA, 2014). Com isso, devemos, assim como em qualquer etnografia, buscar compreender o que nos é mostrado, a maneira como o texto é construído, a polifonia de vozes e mãos presentes na sua fabricação, suas dimensões materiais e ideológicas, os lugares ocupados pelos diferentes documentos nos processos e ações, suas ausências, lacunas e, também, silêncios. São nas estruturas (re)produzidas nos documentos que encontramos as faltas e parcialidades que devem ser entendidas como “achados de pesquisa”, tanto por sua força enquanto produtos de uma realidade específica como, também, por serem agentes sociais.

Esse “novo” papel e agência atribuído aos documentos passa a ser significativo quando os compreendemos enquanto “tradução de subjetividades de realidades diversas”. Assim, devemos romper com o entendimento de que documentos sejam apenas instrumentos burocráticos de organizações. Estes refletem regras compartilhadas entre os agentes em disputa, ideologias, conhecimentos, práticas, subjetividades e as próprias organizações e instituições que os produziram (HULL, 2012).

(24)

Etnografar documentos possibilita a compreensão desses instrumentos enquanto resultados de práticas sociais e pode, inclusive, revelar as tensões e negociações que se estabeleceram nas relações entre os agentes (VIANNA, 2014). Em nossa dissertação buscamos pontuar, sempre que possível, os silenciamentos, as/os agentes, os conhecimentos e as ideologias presentes nos documentos analisados, destacando as vozes envolvidas nas negociações e as visões (re)afirmadas. Por fim, devemos pontuar que todo documento deve ser entendido como um corpus vivo, que se altera e que constrói novos mundos a cada nova leitura realizada (VIANNA, 2014).

Para o desenvolvimento da produção e da análise dos dados tivemos como objetivo central buscar (re)construir historicamente o último processo de construção de paz na Colômbia (2012-2016) a partir das ações empreendidas pelos movimentos de mulheres e feministas no país. O intuito era compreender se e como eram trabalhadas as questões interseccionais nos documentos produzidos no período para sustentar o desenvolvimento do conceito de Ativismo Interseccional Feminista (AIF).

Para a escrita do nosso capítulo três, compreendido como um tópico empírico-analítico, criamos, em um primeiro momento, uma Cronologia dos acontecimentos7 baseado fundamentalmente na “Cronologías de los diálogos con las FARC-EP8" organizado pela instituição Humanas Colombia – Centro Regional de Direitos Humanos e Justiça de Gênero, e por notícias e notas produzidas por organizações como a Corporación Humanas Colombia, Ruta Pacifica de Mujeres, Sisma Mujer, ONU Mujeres Colombia, Red Nacional de Mujeres, entre outras.

As ações selecionadas para integrar a nossa cronologia foram aquelas organizadas por movimentos de mulheres e feministas que trabalhavam de forma paralela com a questão da construção da paz no país e a temática de gênero, podendo versar sobre o impacto do conflito sobre os corpos das mulheres, participação nas mesas de negociação, proposição de ideias e recomendações a partir do enfoque de gênero e outras temáticas correlatas (Quadro 01). Todas as ações que foram selecionadas ocorreram dentro do período temporal delimitado anteriormente.

Após a criação e organização da nossa cronologia, realizamos um levantamento de documentos de outras fontes que não aquelas apontadas anteriormente para que fosse verificada a existência de tais eventos e ações. Além disso, o material coletado contribuiu para

7 A nossa Cronologia dos acontecimentos está disponível no apêndice um da presente dissertação.

8 A cronologia organizada pela organização Humanas Colombia está disponível no link <

(25)

um entendimento mais aprofundado dos casos selecionados para análise. Vale ressaltar que em alguns documentos levantados sobre eventos organizados, como nos Relatórios das duas Cumbres Nacionales de Mujeres y Paz9, havia a reprodução das falas de algumas das participantes que estavam no evento representando determinados movimentos sociais. Nesses eventos selecionados, analisamos apenas as falas de mulheres lideranças ligadas a movimentos de mulheres e feministas.

QUADRO 01 – Relação de documentos analisados ao longo do capítulo três

DOCUMENTOS COLETADOS E ANALISADOS

* DELEGADOS DO GOVERNO NACIONAL DA COLÔMBIA E DAS FARC-EP. Acordo Geral para a Terminação do Conflito e a Construção de uma

Paz Estável e Douradora. Bogotá, 2012

* PRESIDENCIA DE LA REPUBLICA. Resolución numero 339 de 2012. Bogotá, 2012.

* MUJERES POR LA PAZ. Acta de conformación. Mujeres por la Paz. Humanas Colombia: Colombia, outubro de 2012a.

* RUTA PACIFICA DE MUJERES. Carnaval de Mujeres por la Paz. Bogotá, 17 de out. de 2012

* MUJERES POR LA PAZ. La paz sin las mujeres ¡No va! Manifiesto de las

mujeres por la paz. Humanas Colombia: Colômbia, 4 de dezembro de 2012b.

* PLATAFORMA SUR DE PROCESOS SOCIALES. Encuentro nacional e

internacional de mujeres por la dignidad y la paz. Colômbia: 2013.

* CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Las mujeres le hablan a La Habana. Bogotá, 31 de jul. de 2013. In: HUMANAS COLOMBIA. Cronología

de diálogos entre el Gobierno y las FARC-EP. 2020.

* CUMBRE NACIONAL DE MUJERES Y PAZ. Sistematización 1er Cumbre. Bogotá, 2014.

* CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Movilización de Mujeres por la Paz. Bogotá, 22 de nov. de 2013. In: HUMANAS COLOMBIA. Cronología de

diálogos entre el Gobierno y las FARC-EP. 2020

* MARCHA PATRIÓTICA. Mujeres constructoras de PAZ / MARCHA 22

DE NOVIEMBRE. Youtube. 18 de nov. de 2013.

* AGENCIA PRENSA RURAL. ¿Qué eligen las mujeres? Tod@s a las calles

este 22 de noviembre. Youtube. 21 de nov. de 2013.

* PRENSARURAL. Santos nombra a dos mujeres para reforzar negociación

en la habana. S.l., 26 de nov. de 2013

* ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS; UNIVERSIDAD NACIONAL

9 A primeira Cumbre Nacional de Mujeres y Paz ocorreu entre os dias 23 a 25 de outubro de 2013 na cidade de

Bogotá, tornando um espaço essencial para a criação de redes e articulações entre os segmentos de mulheres no país. A segunda edição do evento ocorreu entre os dias 19 e 21 de setembro de 2016 e teve como tema central a frase: “participamos y decidimos em la construcción de Paz en Colombia”. As discussões presentes nos eventos estão registradas no capítulo três da presente dissertação.

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DE COLOMBIA. Informe y Balance General - Foros Nacional y

Regionales sobre víctimas. Impresol Ediciones: s.l., 2014

* PRESIDENCIA DE LA REPUBLICA; FARC-EP. Comunicado Conjunto No.

37 - Declaração de princípios para a Discussão do ponto 5 da Agenda: Vítimas. Bogotá: 2014.

* CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. I Encuentro: derechos de las mujeres, justicia transicional y construcción de paz. Bogotá, 01 de dez. de 2014. In: HUMANAS COLOMBIA. Cronología de diálogos entre el Gobierno y

las FARC-EP.

* CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Expertas a la Subcomisión de Género. Bogotá, 15 de dez. de 2014. In: HUMANAS COLOMBIA. Cronología

de diálogos entre el Gobierno y las FARC-EP.

* CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Segunda delegación de expertas a la Subcomisión de Género. Bogotá, 11 de fev. de 2015. In: HUMANAS

COLOMBIA. Cronología de diálogos entre el Gobierno y las FARC-EP. * CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Tercera delegación de expertas a

la Subcomisión de Género. Bogotá, 07 de mar. de 2015. In: HUMANAS COLOMBIA. Cronología de diálogos entre el Gobierno y las FARC-EP. * ICTJ. En el Día de las Víctimas, Colombia marcha por la paz. 2015. * CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Mujeres por la Paz se suma a la

marcha del 9 de Abril. Bogotá, 08 de abr. de 2015. In: HUMANAS

COLOMBIA. Cronología de diálogos entre el Gobierno y las FARC-EP. * CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Organizaciones de mujeres le

escriben a la Mesa de Conversaciones. Bogotá, 30 de abr. de 2015. In: HUMANAS COLOMBIA. Cronología de diálogos entre el Gobierno y las

FARC-EP.

* CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Foro: La paz tiene nombre de mujer: el papel de la mujer en la construcción de paz en Colombia. Bogotá, 22 de jul. de 2015e. In: HUMANAS COLOMBIA. Cronología de diálogos entre

el Gobierno y las FARC-EP.

* EL UNIVERSAL. Mujeres víctimas del conflicto definen su rol ante un

eventual acuerdo de Paz. Cartagena, 22 de jul. de 2015.

* CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Farc-Ep proponen crear equipo para investigación sobre violencia sexual. Bogotá, 01 de ago. de 2015f. In: HUMANAS COLOMBIA. Cronología de diálogos entre el Gobierno y las

FARC-EP.

CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Reunión con mujeres

excombatientes en La Habana. Bogotá, 18 de maio de 2016a. In: HUMANAS COLOMBIA. Cronología de diálogos entre el Gobierno y las FARC-EP. CORPORACIÓN HUMANAS COLOMBIA. Se logra el Acuerdo Final del proceso de paz. Bogotá, 24 de ago. de 2016b. In: HUMANAS COLOMBIA.

Cronología de diálogos entre el Gobierno y las FARC-EP.

* CORPORACION NUEVO ARCO IRIS. Foro Internacional Memoria

Histórica y Verdad de las mujeres en Colombia. s.l., 2015

* DEJUSTICIA. 2do Encuentro sobre Mujeres y Justicia Transicional. Bogotá, 6 de ago. de 2015.

* UN MILLON DE MUJERES DE PAZ. Nos movilizamos por la construcción

(27)

* PRESIDENCIA DE LA REPUBLICA; FARC-EP. Comunicado Conjunto No. 82. Bogotá, 2016.

* WRADIO. Mujeres excombatientes de varios países dialogan con

negociadoras colombianas. s.l., 18 de maio de 2016.

* CUMBRE NACIONAL DE MUJERES Y PAZ. Sistematización II Cumbre

Nacional de Mujeres y Paz. Bogotá, 2016.

* CUMBRE NACIONAL DE MUJERES Y PAZ. Resumen Executivo II

Cumbre Nacional de Mujeres y Paz. Bogotá, 2016.

* CUMBRE NACIONAL DE MUJERES Y PAZ. Manifesto Política – Las

Mujeres vamos por la paz. Bogotá, 2016.

* NOTICIAS CARACOL. Les doy la bienvenida a la democracia: Santos y

'Timochenko' firman Acuerdo Final. Colômbia: 27 de set. de 2016.

* OFICINA DEL ALTO COMISONADO PARA PAZ et al. Participación de las

organizaciones de mujeres que realizaron aportes en el marco del proceso de paz con las FARC. s.l., 2017

* FISAS, Vicenç. Negociar la Paz con las FARC. Barcelona: Icaria, 2016. * CALBET, Néstor. La violencia sexual en Colombia, mujeres víctimas e

constructoras de paz. Institut de Drets Humans de Catalunya, Barcelona,

2018.

* BRETT, Roddy. LA VOZ DE LAS VICTIMAS EN LA NEGOCIACIÓN:

sistematizacion de una experiencia. Programa de las Naciones Unidas para el

Desarrollo, 2017.

* CHAPARRO GONZÁLEZ, Nina; MARTÍNEZ OSORIO, Margarita.

Negociando desde los márgenes: la participación política de las mujeres en los procesos de paz en Colombia (1982-2016). Bogotá: Centro de Derecho,

Justicia y Sociedad, Dejusticia, 2016.

* FERNÁNDEZ-MATOS, Dhayana C.; GONZÁLEZ-MARTÍNEZ, María N. La paz sin las mujeres ¡No va! El proceso de paz colombiano desde la perspectiva de género. Revista CIDOB d’Afers Internacionals, n.º 121, abril de 2019. * SUSA, Dora Isabel Díaz. Integración de la perspectiva de género en la mesa de

conversaciones entre el gobierno nacional y las FARC-EP. Un hecho inédito.

EN OTRAS PALABRAS… no. 23. 2015.

* CÉSPEDES-BÁEZ, Lina M.; JARAMILLO; Ruiz Felipe. Peace without women does not go! Women’s struggle for inclusion in Colombia’s peace process with the FARC. Colombia Internacional, n.° 94, p. 83-109, 2018.

Fonte: Pesquisa ‘La paz sin las mujeres ¡no va!’ (2020).

Percebemos, ao longo do processo, que essas agentes conseguiram, durante seus discursos, pontuar de forma estratégica a interseccionalidade, ou então, a conexão de marcadores sociais, sendo este um ponto central para futuras intervenções de paz. O mesmo não ocorreu, por exemplo, com mulheres ligadas aos movimentos de desaparecidos ou aos movimentos sindicais que buscaram destacar questões mais específicas, voltadas apenas para

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o respectivo segmento10. Assim, para delimitar e facilitar nossa análise dos documentos, investigamos os discursos reportados por mulheres lideranças de movimentos de mulheres e feministas da Colômbia.

De forma geral, buscamos, a partir da definição das ações, eventos e das lideranças a serem investigadas, adotar como estratégia de análise a identificação e a contextualização, por meio da leitura dos documentos, da maneira como o conceito de gênero se relacionava com outros marcadores sociais da diferença, e, especialmente, se o mesmo estava sendo tratado no sentido de criação de alianças e lutas conjuntas para a reivindicação de direitos para os diferentes segmentos de mulheres do país. Dessa forma, em um primeiro momento, realizamos a leitura e a marcação ao longo do texto das sentenças onde identificávamos essa estruturação de lutas e, depois, retornamos às partes selecionadas previamente para criar as interconexões e para compreender de forma mais geral como isso ocorreu.

Já para o desenvolvimento do capítulo quatro, foi realizada uma análise da primeira versão dos documentos de paz de La Habana, firmado no dia 24 de agosto de 2016, entre as partes em negociação, a saber: o governo nacional da Colômbia e as FARC-EP. A análise consistiu em duas principais etapas. Em um primeiro momento, realizamos uma primeira leitura dos seis acordos base, além dos protocolos adicionais e anexos complementares aos acordos. A listagem dos documentos encontra-se no quadro 02.

QUADRO 02 – Relação de documentos analisados ao longo do capítulo quatro

Ponto 1 Hacia un Nuevo Campo Colombiano: Reforma Rural Integral Ponto 2 Participación política: Apertura democrática para construir la paz Ponto 3 Fin del Conflicto

Ponto 4 Solución al Problema de las Drogas Ilícitas

Ponto 5 Acuerdo sobre las Víctimas del Conflicto: “Sistema Integral de Verdad, Justicia, Reparación y No Repetición”, incluyendo la Jurisdicción Especial para la Paz; y Compromiso sobre Derechos Humanos

Ponto 6 Implementación, verificación y refrendación

* Protocolo y Anexo del capítulo de INTRODUCCIÓN del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo capítulo de REGLAS QUE RIGEN EL CESE AL FUEGO Y

DE HOSTILIDADES BILATERAL Y DEFINITIVO (CFHBD) Y DEJACIÓN DE LAS ARMAS (DA).

10 Aqui queremos pontuar que algumas lideranças mulheres que representavam diferentes organizações como

sindicais, partidos políticos e outras, muitas vezes, em suas falas, não pautavam, por exemplo, a diversidade de mulheres e as demandas específicas de cada segmento. Reproduziam e reforçavam alguns entendimentos que iam em direções opostas àquelas reivindicadas pelos movimentos de mulheres e feministas no país.

(29)

* Protocolo del capítulo DESPLIEGUE DEL MECANISMO DE

MONITOREO Y VERIFICACIÓN del Acuerdo de Cese al Fuego y de

Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo Monitoreo y Verificación: FLUJO DE LA

INFORMACIÓN DEL MM&V del Acuerdo de Cese al Fuego y de

Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Monitoreo y Verificación:

COMUNICACIONES ESTRATÉGICAS del Acuerdo de Cese al Fuego

y de Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Monitoreo y Verificación: OBSERVACIÓN Y

REGISTRO del MM&V del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades

Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Monitoreo y Verificación: COORDINACIÓN

DEL MM&V del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y

Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Monitoreo y Verificación: CÓDIGO DE

CONDUCTA PARA LAS Y LOS INTEGRANTES DEL MM&V del

Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Monitoreo y Verificación: SOLUCIÓN DE

CONTROVERSIAS del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades

Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Monitoreo y Verificación: MANDATO DEL

MM&V del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y

Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo y Anexos del capítulo de DISPOSITIVOS EN EL TERRENO

Y ZONAS del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y

Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo y Anexos del capítulo de Dispositivos en el Terreno y Zonas -

RUTAS DE DESPLAZAMIENTO – RD- Y COORDINACIÓN DE MOVIMIENTOS EN EL TERRENO del Acuerdo de Cese al Fuego y

de Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Seguridad para LAS y LOS INTEGRANTES

DEL MECANISMO DE MONITOREO Y VERIFICACION (MM&V) del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y

Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA)

* Protocolo del capítulo de Seguridad para LAS Y LOS DELEGADOS Y

SERVIDORES PUBLICOS del Acuerdo de Cese al Fuego y de

Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Seguridad para LAS Y LOS INTEGRANTES

DE LAS FARC-EP del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades

Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

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Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Seguridad para los DESPLAZAMIENTOS de las FARC-EP del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo del capítulo de Seguridad para los DISPOSITIVOS EN EL

TERRENO del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y

Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolos de seguridad para la MANIPULACIÓN, ALMACENAMIENTO, TRANSPORTE Y CONTROL ARMAS

durante el CFHBD y DA

* Protocolo y Anexos del capítulo de LOGÍSTICA del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Protocolo y Anexos del capítulo de DEJACION DE ARMAS (DA) del Acuerdo de Cese al Fuego y de Hostilidades Bilateral y Definitivo (CFHBD) y Dejación de las Armas (DA).

* Anexo A – Procedimiento de registro, identificación, marcado y

almacenamiento de las armas. * Acuerdo 11 de mayo de 2016.

* Acuerdo especial, 19 de agosto de 2016.

* Ley de amnistía, indulto y tratamientos penales especiales

* Acuerdo especial de ejecución para seleccionar al secretario ejecutivo de

la jurisdicción especial para la paz y asegurar su oportuna puesta em funcionamento

* Acuerdo para facilitar la ejecucion del cronograma del proceso de

dejacion de armas alcanzado mediante acuerdo de 23 de junio de 2016

Fonte: Pesquisa ‘La paz sin las mujeres ¡no va!’ (2020).

A segunda etapa de análise deu-se por meio da identificação a respeito da forma pela qual certos marcadores interseccionais foram conjugados com o marcador gênero, adotado como central em nossas análises. Assim, ao longo das 297 páginas que compõem os Acordos de La Habana, procuramos compreender como o enfoque diferenciado de gênero era inserido nos programas, planos e ações previstos nesses documentos. Além disso, buscamos perceber como outros marcadores sociais da diferença se conectavam e interligavam (ou não) com o gênero. Com isso, tornou-se possível questionar conceitos e seus respectivos entendimentos em disputa pelos feminismos colombianos, na forma como estavam contidos nos documentos de paz.

Pelo fato dos Protocolos Adicionais e Anexos dizerem respeito a um dos seis Acordos base, organizamos nosso capítulo a partir dos pontos de um a seis, inserindo sempre que necessário os conteúdos desses documentos adicionais. A decisão por realizar dessa forma o

(31)

desenvolvimento do capítulo justifica-se pela centralidade da adoção do enfoque de gênero nos próprios Acordos base e pela maneira marginal pelo qual a temática de gênero e as relações com marcadores interseccionais foram tratadas ao longo dos Protocolos e Anexos presentes na primeira versão dos Acordos de Paz de La Habana.

Por fim, gostaríamos de pontuar a árdua tarefa de se trabalhar com documentos, sejam eles oficiais ou não. No desenrolar da pesquisa, lidamos com a ausência ou a falta de páginas de alguns documentos, bem como o status de indisponibilidade de cópias digitais. Além disso, outro obstáculo encontrado durante a coleta de documentos para a pesquisa diz respeito ao fato de que muitas informações presentes em sites de organizações e plataformas de notícias foram retiradas do ar, o que nos dificultou no processo de verificação de alguns dados. Por mais que diversas iniciativas tenham buscado divulgar e registrar todas as etapas, diálogos e negociações que envolveram os processos de paz, algumas informações foram perdidas e outras não foram registradas.

Reconhecemos, assim, que o emprego de entrevistas semiestruturadas poderia facilitar o preenchimento de algumas lacunas no que tange as ações dos movimentos de mulheres e feministas e tornar o trabalho algo mais próximo dessas lideranças e organizações. Porém, por uma série de questões, tais como tempo e financiamento, não foi possível realizar um trabalho de campo mais aprofundado juntamente com as organizações de mulheres na Colômbia. O emprego da etnografia de documentos mostrou-se como um caminho possível e mais viável para responder à nossa pergunta de pesquisa, enquadrando-se como uma perspectiva válida para as análises de pesquisas nas ciências sociais, em especial na Ciência Política.

1.3 Organização dos capítulos

A pesquisa desenvolvida nas próximas páginas justifica-se pela tentativa de compreensão das diferentes dinâmicas construídas pelos e entre os movimentos sociais e a forma como podem afetar os processos de tomada de decisão dos agentes chave em processos de negociação de conflito. Além disso, o presente trabalho busca demonstrar empiricamente as articulações construídas pelos movimentos feministas com outros agentes de movimentos sociais, como movimentos negros, LGBTI+, indígenas, e como de forma convergente foram capazes de mobilizar e organizar demandas diversas e plurais em uma luta conjunta, o que contribuiu para a produção teórica já existente sobre feminismos e política na América Latina. Como veremos, os feminismos colombianos tiveram papel protagonista no processo de

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