PROJECTO ESCOLAR SANTIAGO DO ESCOURAL
O ESPAÇO DO TEMPO
Portugal
01 JAN 1970 a 01 JAN 1970
Os alunos de primeiro e segundo ano têm aulas em simultâneo com a mesma professora, outra professora ensina o terceiro e o quarto ano. Neste momento a escola tem 16 alunos numa sala e 14 na outra.A equipa de produção do "espaço do tempo" criou condições para que eu pudesse leccionar uma aula de movimento criativo. Colocámos na sala um sistema de aquecimento e um tapete que podemos desenrolar facilmente para criar um espaço "seguro" e confortável para as crianças. Estas têm que tirar os sapatos para que o tapete se mantenha em bom estado.
Inicialmente as minhas aulas tinham duração de 45 minutos. Neste momento passo 90 minutos com cada um dos grupos, uma vez por semana.Nesta altura já tinha trabalhado com os vários jardins-de-infância, escolas primárias de Montemor-o-Novo, EB2/3, assim como as Escolas Superiores de Educação Maria Ulrich e ESE de Santarém. Organizei várias formações para professores e educadores e colaborei com a universidade na área pedagógica.
O Conceito do Colapso e Desorganização
A diferença entre o terreno anterior e a situação que eu encontrei no Escoural foi significativa. Se fui confrontada com a existência de dois ou três casos difíceis de estudantes na sala de aula, nos sítios onde trabalhei anteriormente, no Escoural aconteceu exactamente o contrário. Em 10 crianças, duas apresentavam um desenvolvimento normal, as outras evidenciavam um conjunto de comportamentos problemáticos: ansiedade, desorganização, comportamentos agressivos, desajustamento, falta de auto-estima e, na sua maioria, escassas competências manuais e comunicativas. De uma maneira geral o ambiente era agressivo, barulhento e destrutivo.
Eu adaptei a minha aula a estas circunstâncias. Normalmente o foco do meu trabalho com as escolas é a criação de um espectáculo como uma experiência formativa em direcção ao esforço individual, criatividade, colaboração, auto-estima, sensibilidade, etc. No caso do Escoural, preocupou-me mais a "aprendizagem emocional"e o experienciar novas formas de estar uns com os outros, que não fossem destrutivas e desorganizadas.
Iniciei este trabalho com uma aula de movimento muito organizada, o que não foi fácil. Por norma, os alunos estão habituados a reagir a "um professor que grita e que os ameaça". Eu recuso-me a ensinar dessa forma, pelo contrário, tento trabalhar através do conceito de motivação pela curiosidade, de forma a estimular um certo auto-controlo e autonomia.Estou consciente de que neste momento crítico de estabelecer uma forma de relacionamento com o outro, as crianças passam por uma fase em que abusam do meu estilo e os professores pensam que eu não consigo controlar as crianças. Mas é este momento que eu tenho que ultrapassar, assim como as suas expectativas de gritos e ameaças. Eu tento continuamente criar um ambiente novo e mais sensível.
No primeiro ano o meu trabalho era baseado em sessões de movimento e jogos sociais. Criei um conjunto (set) de exercícios que estimulam a sensibilidade e a consciência do próprio corpo e do ritmo da música. A atenção à respiração, equilíbrio, flexibilidade e um certo fluir de energia harmoniosa. Um movimento que promove uma certa expressão natural, baseada na ergonometria, funções psicomotoras e o uso saudável do corpo.
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O conceito de re-integração pela melhoria do sentimento de si e de relacionamento
A longo prazo, o objectivo do meu trabalho é despertar o desenvolvimento psicológico desde o princípio, o que significa tentaractivar o sentimento autêntico através de diferentes formas de expressão e dotá-las de novas formas de intersubjectividade.
Através de um processo interior progressivo, a comunicação para o exterior deverá tornar-se mais clara e mais integrada. Neste contexto, começo a trabalhar com a multidimensionalidade do movimento e da expressão através da arte, como um suporte para o processo de identidade das crianças.
questões identitárias antes e para além da linguagem verbal.
A utilização do ritmo como um apoio estrutural para a organização de si no tempo e no espaço, como uma nova forma de relacionamento empática coerente e não agressiva, que promove um sentimento de continuidade e fluir, juntamente com um sentimentopositivo de si.
Nesta perspectiva, eu vejo o movimento como uma oportunidade de crescimento e a forma perfeita para reorganizar desajustamentos.
Novos Conhecimentos da Investigação da Infância
A visão alargada de uma nova base de conhecimento foi adquirida com investigações recentes na área da infância e avanços ao nível da neurosciência (Daniel N. Stern). Acreditamos que o trabalho através da percepção intermodal como ferramenta principal para a aprendizagem integrada é fundamental para o desenvolvimento. A utilização de música e de movimento como meios estruturantes do processo interactivo entre duas ou mais pessoas é fundamental na melhoria das relações e na comunicação construtiva, assim como para o pensamento abstracto, o que significa estar apto a sentir o espaço, a forma, os timings e os níveis de intensidade, meios fundamentais para o pensamento matemático e gramatical, a criatividade em geral e a criação de algo novo.
Daniel Stern afirma que a música e a dança abstrata são cruciais na organização da mente. A Abordagem Humanista
Utilizando a abordagem humanista do meu trabalho, considero a pessoa no seu todo, que é aberta e que não receia novas experiências como um modo de vida criativo e que utiliza a capacidade para ultrapassar situações complicadas através de um conjunto de recursos positivos e pensamento construtivo.
Primeiro Passo
Após um primeiro momento de experiência corporal através do movimento e música, que promove: a base de autêntico,
o sentimento de si não verbal,
o sentimento de autonomia e regulação dos afecto
Começo por introduzir outras experiências emocionais, de cariz muito pessoal. Utilizo imaginação guiada, estimulação da fantasia, simbolização e consciência.O objectivo é a experiência da percepção ligada a um sentimento e falar sobre o mesmo, depois de acontecer, para que seja possível integrar o que foi sentido de uma forma cognitiva.
Neste contexto, percepção significa para mim que as crianças tomam consciência dos estímulos e conseguem relacioná-los com os seus próprios sentimentos, de tal forma que os integram.
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Exemplos de trabalho: Setting 1:
Começo com uma primeira parte de movimento, uma sequência mais organizada de movimentos que promove a sensibilidade, o fluir da energia, a percepção da música e auto-sentimento.
Leio um texto de imaginação guiada (Gestalt) e deixo às crianças um momento para visualizar o que viram nas suas mentes.
Deitar cá para fora: encorajo-os a desenhar o que viram.
Setting 2:
Leio uma história de conteúdo emocional (por exemplo "conflito e resolver o conflito") Falamos sobre "formas de resolver o conflito"
Mostro-lhes algumas pinturas abstractas que, de alguma forma, transportam os símbolos do livro infantil para outro contexto
Deixo que experimentem "forma e dissolução no abstracto" com aguarelas;
Pia Kraemer, 2012
Para mais informações contactar: pia.kraemer@oespacodotempo.pt / 266 899 856/7
