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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESUMAR UNICESUMAR CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO. À FLOR DA PELE: depoimentos de mulheres com vitiligo

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESUMAR – UNICESUMAR CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

À FLOR DA PELE: depoimentos de mulheres com vitiligo MARINGÁ 2017

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ANA CAROLINA MARTINS PRADO

À FLOR DA PELE: depoimentos de mulheres com vitiligo

Memorial descritivo como parte integrante do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, do Centro Universitário Cesumar – UniCesumar, como requisito parcial para cumprimento das etapas exigidas no

regimento do TCC.

Orientador: Prof. Caio Tikaraishi Pierangeli.

MARINGÁ 2017

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ANA CAROLINA MARTINS PRADO

VIDEODOCUMENTÁRIO SOBRE MULHERES COM VITILIGO

Memorial descritivo apresentado ao Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, do Curso de Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, do Centro Universitário de Cesumar – UniCesumar como requisito parcial para cumprimento das etapas exigidas no regimento do TCC, sob orientação do prof. Caio Tikaraishi Pierangeli.

BANCA EXAMINADORA Orientador: _________________________________________________ Prof. Caio Tikaraishi Pierangeli

(UNICESUMAR)

Membro 1:

________________________________________________ Prof. Dr. Samilo Takara

(UNICESUMAR)

Membro 2:

________________________________________________ Prof. Douglas Oliveira

(UNICESUMAR)

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A todas as pessoas que respeitam a diversidade e buscam um olhar diferente sobre si mesmo e sobre o outro.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as forças que me motivaram a desenvolver esse projeto. Inicialmente, ao vitiligo que, se não tivesse se manifestado em minha pele, não teria despertado em mim o interesse em pesquisar, compreender e falar sobre a doença. Aos meus pais e familiares, que me apoiaram em cada etapa da graduação e me ajudaram, direta ou indiretamente, a realizar esta produção.

Ao meu namorado, que participou de cada etapa com muito interesse e paciência, dando auxílio nas entrevistas, clareando as minhas ideias e me apoiando nos momentos de angústia e indecisão. Aos meus colegas que se envolveram e contribuíram com o projeto dando ideias, emprestando equipamentos e participando de algumas gravações.

Não poderia me esquecer dos meus amigos, que se mostraram interessados e curiosos durante todo o processo de produção do documentário. Agradeço imensamente aos que ouviram histórias, apresentaram-me pessoas e compartilharam experiências a respeito do tema.

Agradeço também aos meus professores, que, com seus ricos ensinamentos, proporcionaram-me reflexões e aprendizados que levarei para a vida toda. Em especial, agradeço ao meu orientador que contribuiu imensamente para a realização deste trabalho, acompanhando todo o desenvolvimento do projeto, oferecendo ajuda e compartilhando experiências e ideias.

Não poderia me esquecer das minhas queridas entrevistadas, que se dispuseram a participar do projeto, fazendo com que o documentário pudesse existir. Agradeço não só por aceitarem participar do trabalho, mas por me permitirem conhecer suas ricas histórias, transformando a minha visão a respeito do vitiligo e contribuindo para que outras pessoas também possam enxergar o vitiligo de maneira diferente. Muito obrigada!

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6 RESUMO

O presente trabalho é um videodocumentário que trabalha a problemática de “como um videodocumentário poderia abordar e discutir a realidade de mulheres portadoras de vitiligo”. Para a produção da peça, foram entrevistadas mulheres portadoras da doença, que se encontram em contextos distintos e apresentam diferentes visões a respeito do vitiligo. Assim, após a captação das imagens, tivemos o intuito de apresentar e compreender de modo mais abrangente a realidade dessas mulheres para traçar o que seria primordial dentro da proposta do produto. A peça audiovisual abre espaço para discussões e reflexões a respeito da doença e dos impactos que ela apresenta na vida dos portadores. Para viabilizar a discussão, o trabalho baseou-se em definições a respeito da produção documental, para que houvesse coerência na construção da narrativa. Além disso, houve a necessidade de se compreender o posicionamento da mídia em relação ao vitiligo e, consequentemente, compreender a relação entre a mídia, o corpo feminino e o ser diferente. O videodocumentário pode concluir que existem falhas na abordagem da mídia e da medicina em relação ao vitiligo, assim como a escassez de informações a respeito torna-se o principal fator de origem do preconceito e da discriminação social.

Palavras-chave: comunicação, videodocumentário, vitiligo, mulher, mídia, diversidade.

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7 ABSTRACT

The present work is documentary film that aims to abord "how a documentary film needs to approach the reality of women carrier of vitiligo". For the production of this document we interview women that carry the disease. They find themselves in distinct contexts and show different opinions about the vitiligo.Thus, after the capture of the images, we had the intention of presenting and comprehending in a more comprehensive way the reality of these women to trace what would be primordial within the proposal of this work. The documentary creates discussions and reflections about the disease and the impacts that it creates in the life of their carriers. To make the discussions feasible, this work was based in definitions of their productions, so that there would be coherence in the narratives construction. Also I was necessary to understand how the media position itself about the vitiligo and consequently see the relation the media, the female body and the being different. The video documentary concludes that the approach of the media and the medicine about the vitiligo contains a lot of fails and lack of information about this disease became the mains factor of the prejudgment and social discrimination.

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8 SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 O VITILIGO ... 13

2.1 O QUE É VITILIGO ... 13

2.2 POR QUE FALAR SOBRE VITILIGO? ... 14

2.3 VITILIGO E IDENTIDADE ... 16

3 CORPO FEMININO E MÍDIA ... 20

3.1 RELAÇÃO DA MULHER COM O CORPO ... 21

3.2 O SER DIFERENTE ... 23 4 DOCUMENTÁRIO ... 26 4.1 ESTRUTURA DO VIDEODOCUMENTÁRIO ... 29 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 31 5.1 DESCRIÇÃO DO VIDEODOCUMENTÁRIO ... 32 5.2 ENTREVISTAS ... 33 5.3 EDIÇÃO ... 34 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 38 7 REFERÊNCIAS ... 39 8 APÊNDICE ... 42

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9 1 INTRODUÇÃO

O vitiligo é uma dermatose que se caracteriza pela ausência de pigmentação na pele, manifestando-se por meio de manchas sem coloração, formadas pela redução ou ausência de melanócitos na região afetada (SBD, 2016).

A doença atinge até 4% da população e o aparecimento acontece geralmente até os 20 anos de idade. A origem e o desenvolvimento da doença podem estar relacionados a fatores emocionais ligados ao estresse.

O corpo gera uma reação para que os melanócitos sejam destruídos, causando a despigmentação da pele. Por ser uma doença que desfigura o indivíduo devido a alteração da pele pela as manchas aparentes, acreditamos que o vitiligo influencia diretamente na autoestima dos portadores. Esses comumente se queixam de discriminação social, estigma e preconceito.

No entanto, ainda que o vitiligo proporcione angústia e desconforto nos pacientes, a doença é uma das psicodermatoses menos pesquisadas na medicina, a qual coloca o estresse como fator desencadeante na maioria dos casos de vitiligo.

A importância em discutir o vitiligo se dá por conta das poucas abordagens a respeito da doença tanto na mídia como na medicina. De acordo com Andrade et al. (2016), a representação do vitiligo como doença estigmatizante e excludente acontece pelo medo de contágio e pela aparência desfigurante que a patologia proporciona.

Desse modo, a construção da identidade pelo indivíduo portador da doença está diretamente relacionada a padrões de beleza. A busca constante por se enquadrar conforme esses padrões proporciona ao paciente a sensação de insatisfação consigo mesmo, interferindo no processo de adaptação à doença.

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10 O presente trabalho tem como objetivo representar a realidade de indivíduos com vitiligo. O produto audiovisual visa transmitir informações e experiências relevantes de portadoras da doença. Castro e Prado (2012) colocam que o corpo é um suporte disseminador de informação pelo qual a mídia consegue instituir padrões de comportamento e beleza que constituem um padrão ideal. Por isso, a escolha por entrevistar mulheres se deu pelo fato de que esse público seja constantemente afetado com as imposições e construções de padrões estéticos pela mídia. O intuito do trabalho é expor a realidade de mulheres que não estão inseridas nesses padrões, evidenciando e discutindo as falhas no discurso da mídia em relação ao corpo da mulher.

Além disso, acreditamos que o vitiligo – enquanto fator diferenciador do corpo – pode proporcionar problemas psicológicos nas mulheres, já que a tentativa de se inserir em determinado padrão pode se tornar desgastante para o indivíduo portador de uma condição de mudança constante e incontrolável.

Desse modo, a visão que se adquire em relação ao vitiligo enquanto fator que não permite que a mulher se encaixe nos padrões instituídos gera a percepção da necessidade de se comunicar por meio de diversas construções corporais, sobretudo as consideradas diferentes.

No segundo capítulo, apresenta-se o tema, colocando, no primeiro subcapítulo, a definição do vitiligo de forma técnica, por meio de doutrinas médicas e dados psicossociais. No segundo subcapítulo, discute-se a importância de se abordar o vitiligo, ao passo que a doença é pouco estudada cientificamente e possui poucas abordagens apresentadas pela mídia – o que contribui para situações de preconceito, discriminação e estigma. No terceiro subcapítulo, foram colocadas questões a respeito da relação entre o vitiligo e a identidade do portador, explicitando questões sociais e imposições de padrões estéticos pela mídia como fatores responsáveis pela dificuldade de compreensão e adaptação à doença.

No terceiro capítulo, fala-se sobre corpo feminino e mídia, colocando como as imposições e padronizações construídas no discurso midiático influenciam na vida e na construção identitária das mulheres. No primeiro subcapítulo, foram abordadas

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11 questões a respeito da relação da mulher com o corpo, expondo medos, inseguranças e a constante tentativa de se adequar às concepções midiáticas. No segundo capítulo, abordou-se a questão sobre o ser diferente e como a mídia aborda as construções corporais que se diferem dos padrões estabelecidos.

No quarto capítulo, fala-se sobre documentário, levantando definições e vertentes do gênero cinematográfico, bem como os objetivos e fatores pelos quais a produção documental torna-se relevante. O primeiro subcapítulo trata da estrutura do videodocumentário, abordando questões técnicas, como roteiro e montagem, a fim de explicar como se articula o processo produtivo de uma peça documental.

No quinto capítulo, foram apresentados os procedimentos metodológicos, explicando como a peça foi produzida e justificando os elementos utilizados na construção do videodocumentário. No primeiro subcapítulo, coloca-se a descrição do videodocumentário, trazendo orientações a respeito da narrativa e como ela se constrói no decorrer do produto. No segundo subcapítulo, fala-se sobre as entrevistas, como foram realizadas e quais os procedimentos adotados e os objetivos traçados durante esse processo. No terceiro subcapítulo, trata-se a respeito da edição e quais as escolhas e métodos adotados durante esse processo.

A relevância do presente trabalho advém da necessidade de informar e levantar discussões a respeito do vitiligo tanto no meio social, quanto no ambiente acadêmico.

Jornalisticamente, a abordagem permite uma compreensão e reflexão a respeito da doença e dos impactos causados por essa na vida do indivíduo portador, os quais a mídia pouco aborda. Levando em consideração o poder e abrangência dos meios de comunicação de massa, é possível perceber a escassez de informações a respeito do tema o que, de certo modo, contribui com o preconceito e a discriminação social.

É possível compreender que a mídia, conforme colocada por Castro e Prado (2012, p. 249), “constitui-se em [uma] poderosíssima instância societária, jogando

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12 diariamente padrões de comportamento e imagens de beleza que conformam um padrão tido como ideal”.

Desse modo, a mídia, enquanto detentora do poder de instituir padrões estéticos e de comportamento, segmenta assuntos considerados discutíveis no meio social, tirando o espaço de temas também relevantes e que merecem visibilidade e discussão. O videodocumentário tem como objetivo evidenciar a importância em se discutir o vitiligo dentro da mídia, a fim de abordar a diversidade e o respeito às diferenças.

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13 2 O VITILIGO

2.1 O QUE É VITILIGO?

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (2016), “vitiligo é uma doença caracterizada pela perda da coloração da pele. As lesões formam-se devido à diminuição ou ausência de melanócitos [...] nos locais afetados”.

O vitiligo é uma doença degenerativa da pele em que os melanócitos morrem, deixando de produzir a melanina no local em que ocorreu a morte celular¹. Trata-se de uma doença que leva à perda de melanina, deixando a pele com manchas hipocrômicas, de aspecto branco no local. (ANDRADE et al., 2016, p. 2)

Popularmente, a doença é conhecida pelo aparecimento de manchas brancas pelo corpo. Porém, observa-se que existem inúmeros questionamentos a respeito da causa e da natureza do vitiligo.

Como não existe um consenso a respeito da causa da doença, utilizam-se diferentes teorias para explicar a sua origem. Muito se acredita que fatores emocionais ligados ao estresse possuem relação com o desenvolvimento da doença. (ANTELO et al., 2004 apud CORREIA; BORLOTI, 2013).

O vitiligo acomete cerca de 0,5 a 4% da população mundial, sendo que 50% dos casos se iniciam antes dos 20 anos e 25% antes dos 10 anos. Seu aparecimento pode ser precoce, com alguns relatos de casos com início nos primeiros seis meses de idade (SILVA et al., 2006 apud COSTA; MOREIRA; PINTO, 2009, p. 2)

Alguns estudos não comprovam a relação entre o surgimento das lesões e fatores psicológicos. De acordo com Costa, Moreira e Pinto (2009, p. 2), “como patologia autoimune, o próprio corpo gera uma reação que faz com que haja destruição das células melanócitos, causando assim, extinção da pigmentação natural da pele.” As autoras ainda afirmam que o vitiligo não causa nenhuma incapacidade funcional, mas causa impactos psicossocioculturais,

Pode ser desfigurante, influindo negativamente na autoestima da pessoa, sobretudo nos casos extensos e em pessoas de pele negra. Existem queixas de discriminação social, sendo que muitas vezes as pessoas que apresentam vitiligo chegam a ser estigmatizadas, retardando ainda mais o tratamento. (SILVA et al., 2006 apud COSTA; MOREIRA; PINTO, 2009, p.

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Alguns autores afirmam que o vitiligo ainda é uma área pouco estudada dentro da ciência. A falta de um consenso sobre natureza da doença, assim como as constatações controversas a respeito do vitiligo, justificam-se pela pequena quantia de pesquisas realizadas com a finalidade de estudar e compreender a patologia.

O vitiligo é uma das psicodermatoses menos pesquisadas [...] a constatação do stress emocional como um dos motivos desencadeantes do vitiligo é um dos aspectos a ser ressaltado entre os resultados dos estudos realizados. Enfatiza também que quase 50% das pesquisas apontam o surgimento do vitiligo após um momento de stress; o percentual poderia ser maior se esse aspecto tivesse sido investigado em todas as pesquisas. (MÜLLER, 2001 apud SILVA & MÜLLER, 2007, p. 255)

Correia e Borloti (2013) afirmam que o vitiligo também é pouco estudado na psicologia. Para que o profissional atue com o paciente de maneira produtiva, é importante compreender as possíveis formas com que o vitiligo pode afetar a vida do paciente e as alternativas para encarar as possíveis situações que estabelecem relação com a doença.

De acordo com Papadopoulos (2005), pacientes dermatológicos relatam com frequência sentimentos como insegurança, ansiedade e desamparo. Além disso, é comum que os pacientes não entendam como a doença se desenvolveu, o que pode estar relacionado ao seu progresso. Sendo assim, para que a intervenção junto ao portador seja adequada, é necessário compreender tanto os elementos que compõem o contexto em que está inserido o portador, como também o sistema de enfrentamento que possui. (CORREIA; BORLOTI, 2013, p.)

Diante desse panorama, é possível compreender o vitiligo como condição que extrapola questões patológicas e abrange fatores psicológicos e sociais, uma vez que se expressa na pele, tornando-se evidente a representação no indivíduo. É válido considerar o abismo existente entre o portador e o meio, já que a escassez de estudos e pesquisas a respeito colaboram para a falta de informação em relação à doença.

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15 A importância de se discutir a doença e colocá-la em evidência se dá por conta da escassez de informação e conhecimento a respeito. Poucos são os estudos e os conteúdos que tenham a finalidade de explicar a patologia.

Autores defendem que tal ausência de informação é responsável pela falta de compreensão e pelo difícil reconhecimento dos portadores da doença, assim como também está relacionada ao preconceito sofrido por esses pacientes. Quanto menor a quantidade de informações a respeito, maior o estigma em relação ao vitiligo. Segundo Andrade et al.,

Os sentimentos e as posturas do portador do vitiligo estão representados pela dor emocional e pelo preconceito, sendo esses estruturados em torno das interações sociais (...) A representação do vitiligo como uma doença excludente e estigmatizante estão ancoradas no medo de contágio e na aparência desfigurante que a doença causa. A dor emocional é representada por vaidade, preconceito, estigma e aparência ruim que as manchas na pele provocam, além dos apelidos que deterioram e estigmatizam o portador da doença (2016, p. 4).

Além disso, o vitiligo, em muitos casos, pode originar problemas que extrapolam o aparecimento das manchas, como ansiedade e outros transtornos psicológicos, já que se torna alvo de preconceito e estigma no âmbito social. A doença, portanto, passa a afetar o paciente em diversos âmbitos, como afirmam Correia e Borloti,

É lícito presumir, portanto, que esses indivíduos devam apresentar constante estado de ansiedade e tenham menor capacidade de relaxamento e concentração. É possível que, em vista dessas características, apresentam também dificuldades de organização em setores importantes de suas vidas, demandando maiores tempo e esforço na realização de atividades cotidianas, profissionais e de subsistência (2013, p. 38).

Silva e Müller (2007) afirmam que um atendimento abrangente e interdisciplinar para os pacientes com doenças crônicas, em especial as psicodermatoses, é essencial para a promoção da saúde em um sistema integrativo.

A visão global de um ser humano exige que diferentes abordagens adaptem-se para produzir um entendimento mais completo da dinâmica interna e externa do paciente, que necessita não de intervenções isoladas e fragmentadas, mas sim de diferentes ações voltadas para um mesmo objetivo: a busca por um estado de saúde integral dentro das possibilidades individuais e coletivas. (SILVA; MÜLLER, 2007, p. 255)

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16 De acordo com Andrade et. al (2016), o vitiligo, por si só, não causa danos físicos ao portador. Entretanto, problemas emocionais provenientes da evidência das manchas, causam grandes transtornos psicossociais. Por isso,

a comunicação não verbal tem uma singular importância na percepção destes transtornos emocionais, visto que as mudanças podem ser interpretadas por posturas, gestos, expressões faciais e o afastamento do doente quando o mesmo passa a isolar-se socialmente. Contudo, a esperança no tratamento devolve ao portador da doença o sentimento de retomar a vida normal, de recuperar sua autoestima, mudando com isso as representações da doença. (ANDRADE et al., 2016, p. 4)

Dessa maneira, o enfoque principal do documentário são os depoimentos de mulheres portadoras de vitiligo e a relação delas para com a síndrome.

As pessoas que apresentam vitiligo têm suas próprias crenças sobre a identidade, causa, duração e até mesmo cura de sua doença, que refletem em respostas emocionais diversas como sentimentos autodepreciativos, vergonha, medo e estigma social, estresse psicossocial e baixa autoestima que podem causar ou agravar distúrbios emocionais (LEVENTHAL, 229., apud COSTA, MOREIRA; PINTO, 2009, p. 8).

Portanto, o produto audiovisual apresenta proposta similar ao storytelling (THOMPSON, 2003), cuja narrativa será pautada exclusivamente no discurso das personagens, abordando a relação portadora-doença. Essas personagens abordam questões como preconceito, aceitação, conhecimento, compreensão de si, a relação do vitiligo com o universo feminino, abordagem da mídia, entre outras.

2.3 VITILIGO E IDENTIDADE

A sociedade contemporânea possui padrões estéticos delimitados que se tornam metas a serem alcançados pelas pessoas. Em pacientes com problemas dermatológicos, o sentimento de inadequação e o estigma vivenciado se evidenciam diante das exigências externas de normalidade estética.

A sensação de discriminação quanto à aparência física acompanha o portador constantemente, provocando grande insatisfação consigo mesmo. O processo de adaptação à doença de pele pode tornar-se, dessa maneira, um foco causador de stress, assim como também pode ser consequência do enfrentamento de fatores estressantes. (SILVA; MÜLLER, 2007, p. 252)

Ao conviver cotidianamente com o estigma em relação à sua condição, o paciente, em muitos casos, torna-se inseguro e necessita constantemente da aprovação do outro para se considerar aceito socialmente. Isso porque, conforme o

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17 vitiligo se torna evidente na pele do indivíduo, maior é a necessidade de receptividade.

A necessidade da aprovação ou desaprovação que os outros manifestam em relação à aparência do doente se manifesta quando os elementos das falas se referem a vencer o preconceito pela sociedade, pois é por meio do tratamento que há esperança na repigmentação de sua pele, para que assim o paciente possa voltar a vestir roupas mais casuais e andar nas ruas sem o olhar de desaprovação das pessoas. (ANDRADE et al., 2016, p. 4)

A aceitação do indivíduo acontece ao passo em que o problema passa a ser resolvido – no caso do tratamento de repigmentação – ou quando o problema deixa se ser considerado um problema – quando o paciente deixa de se preocupar com o vitiligo. No entanto, no segundo caso, ainda que o indivíduo não se incomode em portar a condição, o olhar do outro traz ao paciente a lembrança de que ele é considerado diferente a todo momento.

Goffman (1963) afirma que a articulação do estigma provém de algo básico na sociedade, a estereotipia ou o “perfil” considerado normal em relação à conduta e ao caráter.

A identidade pessoal, então, está relacionada com a pressuposição de que ele pode ser diferençado de todos os outros e que, em torno desses meios de diferenciação, podem-se apegar e entrelaçar, [...] criando uma história contínua e única de fatos sociais que se torna, então, a substância pegajosa a qual vêm-se agregar outros fatos biográficos. (GOFFMAN, 1963, p. 51)

Dessa forma, a relação entre vitiligo e identidade estabelece-se simultaneamente ao seu processo de construção, que está ligado a fatores externos:

O processo de desenvolvimento da identidade passa também pelo reconhecimento do externo, e a pele, nesse ponto, desempenha um papel fundamental, pois uma das suas funções é representar o indivíduo como ser único. O descontentamento pessoal em não cumprir as exigências externas se reflete também em dificuldades nos relacionamentos interpessoais. (MINGNORANCE; LOUREIRO; OKINO, 2002 apud SILVA; MÜLLER, 2007, p. 252)

Nota-se que o processo de construção da identidade se estabelece de acordo com as relações interpessoais. As particularidades do indivíduo são fatores que contribuem para o processo de diferenciação e identificação no meio social. Louro (2000, p. 61) aponta que “as marcas devem nos ‘falar’ dos sujeitos.

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18 Esperamos que elas nos indiquem - sem ambiguidade - suas identidades. Teríamos apenas de ler ou interpretar marcas que, em princípio, estão lá, fixadas, de uma vez e para sempre.”.

Portanto, a identidade se articula de acordo com o reconhecimento externo que influencia diretamente o processo de construção pessoal. A formação identitária do indivíduo liga-se diretamente ao outro, sobretudo, a uma concepção central que norteará as demais representações.

Uma identidade é sempre, necessariamente, definida em relação a outra, depende de outra - na afirmação da identidade, inscreve-se a diferença. Contudo, ainda que o caráter relacional seja constituinte da representação de qualquer identidade, podemos notar que algumas delas ocupam, culturalmente, uma posição central e servem de referência a todas as demais. Essas identidades são representadas como "normais", básicas, hegemônicas. É por contraponto ou comparação a elas que as outras são qualificadas como diferentes. (LOURO, 2000, p. 67)

Segundo Louro (2000, p. 104), “o locus da construção das identidades é o corpo. Ali se inscreve e, consequentemente, se pretende ler a identidade dos sujeitos”. O corpo coloca-se como agente indispensável na construção da identidade.

As ciências sociais contam com vários estudos que demonstram a forma como o corpo se configura em símbolo de uma cultura, espaço onde se projetam códigos de identidade e de alteridade, sendo os usos que dele se faz, associados ao vestuário, ornamentos e pinturas corporais, indicativos de universos simbólicos, capazes de nos ajudar a melhor compreender o mundo que os envolve. (CASTRO, 2007 apud CASTRO; PRADO, 2012, p. 245)

Na cultura contemporânea, Castro (2007) apud Castro e Prado (2012, p. 245) propõe que o corpo se configura progressivamente como território de construção de identidade.

A preocupação com a apresentação e com o corpo vem assumindo centralidade na vida cotidiana dos indivíduos, a tal ponto que os espaços de culto ao corpo [...] caracterizam-se como uma das principais maneiras de se estabelecer formas de sociabilidade, construir marcas identitárias e de distinção social (CASTRO, 2007 apud CASTRO; PRADO, 2012, p. 245).

Prado (2011, p. 60) considera que a atenção voltada à aparência é constante nas sociedades modernas, “atingindo principalmente as mulheres, que em conformidade com esse culto ao belo encontram uma série de produtos de beleza à sua disposição no mercado.”

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19 Se o reconhecimento identitário do portador de vitiligo passa por um processo mais complexo do que o de um indivíduo que não possui a doença, a realidade da mulher que apresenta a condição é ainda mais complicada. Já que a mídia impõe padrões de comportamento e beleza para o público feminino, portador de vitiligo ou não.

Os meios de comunicação divulgam através dessas mulheres o que a sociedade deve considerar como sendo o belo. Partindo desse pressuposto, podemos afirmar que a mídia funciona de forma semelhante a uma agenda social que pauta diariamente para a sociedade assuntos que devem ser discutidos, e que concretiza processo de construção e desconstrução de identidades. (FLOR, 2011, p.79)

Esse é, portanto, o motivo pelo qual foram escolhidas personagens mulheres para participar do documentário. A realidade da mulher com vitiligo é ainda mais hostil, já que a imposição de um corpo ideal é maior e o estigma em relação ao público feminino é mais evidente. Isso prejudica o processo de construção da identidade da mulher que apresenta a condição.

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20 3 CORPO FEMININO E MÍDIA

Como suporte disseminador de informação, a mídia, é capaz de instituir padrões de comportamento e imagens de beleza que constituem um padrão ideal (CASTRO; PRADO, 2012).

Não restam dúvidas de que a mídia, contemporaneamente, constitui-se em poderosíssima instância societária, jogando diariamente padrões de comportamento e imagens de beleza que conformam um padrão tido como ideal. Este padrão, geralmente, coloca como ideal estético um corpo esguio, retilíneo, branco (mas bronzeado), cabelos lisos, impondo, em certa medida, o que deve ser considerado como como belo. (CASTRO; PRADO, 2012, p. 249).

Castro e Prado (2012) estabelecem uma relação entre mídia e sociedade, tentando encontrar mediações entre a produção e a recepção de mensagens. Pressupõe-se que os meios de comunicação fazem a reciclagem dos conteúdos absorvidos para que o público se aproprie e gere novos significados para tais elementos, assim como das demandas e tendências de comportamento social. As autoras ainda pontuam que,

devemos evitar posições ingênuas, tanto achando que os meios de comunicação somente impõem os comportamentos, quanto acreditando que são os públicos que moldam a programação. É necessário pensar esta relação de forma dialética, em que ora prevalece a força dos meios, ora sobrepõe-se a direção da audiência (CASTRO; PRADO, 2012, p. 250).

Desse modo, quando pensamos na construção e imposição de parâmetros estéticos, é preciso considerar a dualidade entre os agentes que dão origem a esses padrões. De um lado, a mídia institui padrões de beleza considerados ideais às mulheres, de outro, a coletividade, por sua vez, fomenta essas concepções ao atribuir significados e conduzir a dinâmica pela qual se articula a busca pelo belo.

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21 Dentro dessa perspectiva, é preciso compreender o fluxo de informações pelo qual o corpo está submetido e, com isso, torna-se disseminador dessas mensagens.

Perceber um corpo é notar determinada coleção de informações. Pode-se, portanto, investigar quais delas, ou seja, quais os tipos de corpos mais frequentes em certos ambientes. [...] O ambiente no qual toda mensagem é emitida, transmitida e interpretada nunca é estático, mas sim, contexto-sensitivo. Por ser contexto-sensitivo, trabalha em correlação com o corpo no tratamento do fluxo de informações permanente que os comanda. (KATZ, 2008, p. 70)

Compreende-se, então, que o fluxo de informações se articula em um ambiente mutável de acordo com o contexto. As significações a respeito do corpo encontram-se em constante movimento, assumindo diversos papéis de acordo com o ambiente no qual está inserido.

Vivenciamos, hoje, a Era da informação com os meios de comunicação em alta e, diante disso, inserem-se as novas tecnologias. Portanto, a noção de corpo aqui está para além da estética que perpassa a filosofia, ao adentrar o campo da linguagem para explorar a produção de mensagens. (GARCIA, 2005, p. 3)

Essa dinâmica pela qual o corpo age como agente disseminador de informação se insere está diretamente relacionada com a agenda social cujos assuntos são pautados de acordo com a relevância em determinado contexto.

As diversas noções de corpo, que podem ser observadas em livros, revistas e jornais, evidenciam a responsabilidade de permear diferentes pontos de vistas a fim de demonstrar a circulação de posicionamentos e de críticas sobre a imagem do corpo no contexto contemporâneo. (GARCIA, 2005, p. 2)

A noção de corpo, dentro do jornalismo, deve abranger diversas abordagens e significados. No entanto, é perceptível a falha no discurso jornalístico ao não destacar ou representar determinadas formas corporais. Por isso, o presente trabalho visa explorar a realidade vivida por mulheres que não se inserem nas concepções corporais abordadas pela mídia, a fim de evidenciar e discutir as falhas presentes no discurso midiático em relação ao corpo feminino.

3.1 RELAÇÃO DA MULHER COM O CORPO

De acordo com Katz (2008, p. 69), “Corpo é sempre um estado provisório de coleção de informações que o constitui como corpo. Esse estado vincula-se aos acordos estabelecidos com os ambientes em que vive.”. A construção do conceito

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22 de corpo extrapola o âmbito físico e assume papel social. Pode-se dizer que o corpo, enquanto objeto diretamente ligado ao ambiente, encontra-se em constante transformação, já que pode estar relacionado à evolução da sociedade e, consequentemente, aos conceitos e padrões por ela ditados.

Ainda que os conceitos de corpo considerados ideais estejam, muitas vezes, em um processo de mutação contínua, algumas estruturas corporais sobressaem-se em relação a outras. Isso porque a concepção de beleza e de corpo ideal relacionam-se com a uniformidade. Dessa forma, um corpo que foge à essa uniformidade e, de algum modo, apresenta desproporções ou estruturas não-harmônicas é desvencilhado do conceito de beleza, segundo o padrão midiático.

Portanto, dentro dessa perspectiva, inserir a mulher diante de tais padrões gera um processo de busca incessável pela aparência ideal. É preciso adequar-se ao modelo estabelecido para alcançar a beleza. Wolf (1992) considera intrigante o fator que liga a identidade feminina à beleza, de modo que a mulher permaneça vulnerável à aprovação externa. Ainda segundo a autora, “a ‘beleza’ não é universal, nem imutável, embora o mundo ocidental finja que todos os ideais de beleza feminina se originam de uma Mulher Ideal Platônica.” (WOLF, 1992, p. 15).

Diante desse contexto, Katz (2008) discorre sobre a teoria crítica do corpo, a qual deve assumir caráter emancipatório, implicando na luta contra o consenso.

Sendo o corpo sempre um estado transitório dos acordos feitos com os ambientes por onde circula, é sempre singular e único. E, se assim é, a institucionalização de um modelo de corpo, seja ele qual for, será sempre um exercício de poder na fabricação de corpos dóceis. (KATZ, 2008, p. 73)

Compreendendo a construção de padrões corporais como um processo imperativo ao indivíduo, sobretudo às mulheres, deve-se questionar de onde vem essa supremacia. Gardin (2008, p. 77) entende a mídia operante de tais imposições, “todos parecem entrar, no período da comunicação de massa, num processo de padronização, de modelização, o que do ponto de vista social e político, portanto ideológico, traz consequências por vezes danosas ao processo de criação”. E ainda acrescenta que “a supremacia dos veículos de comunicação de massa na criação de padrões ultrapassa os limites estéticos e envereda, muito sistematicamente, sobre o campo que inclui, inclusive, a saúde.” (GARDIN, 2008, p. 80)

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23 É possível relacionar os impactos da supremacia da mídia com a temática do presente trabalho. Entender o vitiligo como instrumento de constante transformação aproxima o corpo do conceito de beleza não universal e mutável defendido por Wolf (1992), mas distancia-o do processo de padronização pontuado por Gardin (2008).

Quando Gardin (2008) fala sobre os efeitos dessa padronização em relação à saúde, percebemos que poderíamos traçar um paralelo entre o vitiligo e a busca pelo corpo e imagem ideais. Muito provavelmente, o autor refere-se à saúde no âmbito físico. Porém, o vitiligo, como agente diferenciador do corpo, pode gerar impactos na saúde mental de quem o porta, fruto da constante negação ao corpo e tentativa incontível de adequação aos paradigmas pautados. A mulher, quando tenta se inserir no padrão ideal de beleza ainda que pertença a uma condição de modificação contínua e incontrolável, pode desenvolver problemas de saúde, autoestima e insegurança diante de um meio social que nega sua construção corporal, em vez de associar o vitiligo à unicidade e singularidade inerentes ao estado transitório, como Katz (2008) define o conceito de corpo.

Ao questionar as padronizações construídas pelos veículos de comunicação de massa e colocadas em prática na coletividade, percebe-se a necessidade de desconstrução de tais preceitos, a fim de proporcionar uma relação mais íntima e afável da mulher para com o seu corpo. Moreno (2008) considera que abandonar os ideais de beleza impostos não representará perdas.

Será, antes, um enriquecimento que virá da abertura para uma multiplicidade de possibilidades, para a vida. As gerações futuras - e talvez parte desta - se beneficiarão enormemente de um discurso construtivo e diverso com relação aos valores, à beleza e às áreas afins. (MORENO, 2008, p. 78)

O presente trabalho visa expor a relação da mulher com o corpo coberto pelo vitiligo, ao evidenciar o modo como a condição associa-se a diversos fatores que envolvem a autoestima, reconhecimento e autoconfiança da mulher.

O propósito do produto é traçar uma crítica em relação ao modo com que a mídia estabelece a comunicação com o público feminino, mostrando a realidade da

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24 mulher, enquanto ser que se difere das construções padronizadas que a mídia impõe e é colocado às margens da concepção de corpo ideal.

3.2 O SER DIFERENTE

Quando Saffioti (2004, p. 37) afirma que “a multiplicidade do sujeito representa o reconhecimento, a aceitação e a defesa da diferença”, pode-se compreender o “ser diferente”, fruto das infinitas particularidades do indivíduo, como algo que caracteriza, define e constitui a identidade.

A diferença é intrínseca ao ser. É o que proporciona a individualidade e, portanto, garante a unicidade e singularidade do sujeito. Além disso, segundo a autora, a identidade passa por constantes processos de transformação,

a identidade não é fixa como nas sociedades antigas, mas sim mutável e imprevisível. Assim como um camaleão, o indivíduo adapta sua identidade de acordo com o ambiente cultural e social do qual está fazendo parte em um determinado momento (FLOR, 2011, p. 3).

Pensando na identidade como constante mutação e a diferença como sua principal agente, pode-se traçar um paralelo entre o vitiligo e a identidade, já que a condição genética é caracterizada pela diferença e representa um estado de transformação contínua ao corpo e ao ser. A condição insere-se no indivíduo de maneira única, singular e, metaforicamente, representada no âmbito externo, isto é, no corpo, sobretudo na pele, as mutações e adaptações da identidade, decorrentes do convívio social e cultural. Porém, nem sempre o indivíduo estabelece tal interpretação, já que, em muitos casos, essa constante mutação proporciona incômodo, além de se apresentar como gatilho para estigmatização e discriminação no ambiente social.

Ao abordar a diferença como base da identidade, é cabível questionar a origem do conceito de “diferença” e quais os fatores que caracterizam o ser como diferente. Silva (2000) entende identidade e diferença como elementos provenientes da linguística, características das relações humanas.

Além de serem interdependentes, identidade e diferença partilham uma importante característica: elas são o resultado de atos de criação linguística. [...] A identidade e a diferença têm que ser ativamente produzidas. Elas não são criaturas do mundo natural ou de um mundo

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25 transcendental, mas do mundo cultural e social. Somos nós que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais. A identidade e a diferença são criações sociais e culturais (SILVA, 2000, p.76)

Diante disso, é possível compreender a coletividade como responsável por determinar o que é considerado diferente e identitário, utilizando como instrumento a comunicação. Nesse sentido, conforme o que afirma Garcia (2005), o corpo eleva-se como mecanismo linguístico que reflete sua forma em um método enunciativo, deixando de ser mero objeto orgânico para se transformar em linguagem, que enuncia e agrega valores socioculturais.

Sendo o corpo um instrumento de comunicação, percebe-se a necessidade de comunicar por meio de diversas representações corporais, incluindo o que é considerado diferente. Ao visibilizar a diferença, o processo comunicativo é estabelecido, fundamentando-se na prática jornalística, que visa expor e abordar diversas versões de determinado assunto. Wolf (1992, p. 77) aponta que “dar visibilidade a imagens e possibilidades distintas das que nos propõem possibilita pensar criticamente, abre o leque de alternativas para a composição da subjetividade de cada mulher.”.

Trazer à tona o discurso de mulheres portadoras de vitiligo visa expor o diferente, de modo a levantar discussões a respeito da construção do conceito de beleza e corpo ideal, evidenciando o entendimento de diferença e identidade.

Fatores que envolvem o modo de vida, as relações sociais e afetivas, o reconhecimento, compreensão, aceitação e autoestima da mulher portadora de vitiligo levantam questionamentos sobre como a mídia aborda a diferença e influencia o pensamento sociocultural a respeito do “ser diferente”.

O propósito do presente trabalho não está diretamente ligado à intenção de suprir uma demanda que a mídia jornalística não cumpre, mas mostrar como a ausência de um discurso esclarecedor, maduro e emancipatório deixa marcas emocionais muito maiores do que as que o vitiligo deixa na pele de uma mulher.

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26 4 DOCUMENTÁRIO

Desde a invenção do cinema dos Irmãos Lumiére, em 1895, a prática de capturar imagens e exibi-las se tornou um fascínio para os amantes dessa nova tecnologia (BERNARDET, 1980). Assim, dentro das inúmeras possibilidades de exploração, surgiu o gênero documentário.

Assim, a palavra documentário, de acordo com Teixeira (2006), passou a ser usada para denominar um gênero específico do cinema no final dos anos 1920 e início dos anos 1930 com a escola inglesa.

Ela traz as marcas de sua significação, surgida na segunda metade do século XIX no campo das ciências humanas, para designar um conjunto de documentos com a consistência de "prova" a respeito de uma época. Possui, desse modo, uma forte conotação representacional, ou seja, o sentido de um documento histórico que se quer veraz, comprobatório daquilo que "de fato" ocorreu num tempo e espaço dados. Aplicada ao cinema por razões pragmáticas de mobilização de verbas, ela desde então disputou com a palavra ficção essa prerrogativa de representação da realidade e, consequentemente, de revelação da verdade. (TEIXEIRA, 2006, p. 253)

Teixeira (2006) afirma que a questão do documentário não era a de configurar um conjunto de convenções comuns, atribuindo um consenso cultural que abrangesse uma determinada prática das imagens. Esse consenso nunca se concretizou e, em vez disso, uma série de concepções diferenciadas e até mesmo contrárias se estabeleceram com base em uma grande diversidade de filmes.

Por cima dos atributos e intenções que o configurariam como um gênero, a questão reivindicada pelo documentário era de cunho epistemológico, ou seja, uma questão de como conhecer, formar, educar com os meios postos à disposição pelo cinema, num momento em que o modelo ficcional nele se alastrava e destitui a realidade como referente. (TEIXEIRA, 2006, p. 254)

O conceito de documentário, segundo Nichols (2005, p. 47), não apresenta uma definição única.

Não é uma definição completa em si mesma, que possa ser abarcada por um enunciado [...] A definição de ‘documentário’ é sempre relativa ou comparativa [...] Os documentários não adotam um conjunto fixo de técnicas, não tratam de apenas um conjunto de questões, não apresentam apenas um conjunto de formas ou estilos. Nem todos os documentários exibem um conjunto único de características comuns. A prática do documentário é uma arena onde as coisas mudam. (NICHOLS, 2005, p. 47-48)

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27 Para o autor, o documentário não é uma reprodução da realidade. Se assim fosse, teríamos somente a cópia de algo já existente. O documentário é, na verdade, uma representação do real.

Representa uma determinada visão do mundo, uma visão com a qual talvez nunca tenhamos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela representados nos sejam familiares. Julgamos uma reprodução por sua fidelidade ao original - sua capacidade de se parecer com o original, de atuar como ele e de servir aos mesmos propósitos. Julgamos uma representação mais pela natureza do prazer que ela proporciona, pelo valor das ideias ou do conhecimento que oferece e pela qualidade da orientação ou da direção, do tom ou do ponto de vista que instilar. Esperamos mais da representação que da reprodução. (NICHOLS, 2005, p. 48)

Zandonade e Fagundes (2003, p. 15) também trazem uma definição de que “o vídeo documentário se caracteriza por apresentar determinado acontecimento ou fato, mostrando a realidade de maneira mais ampla e pela sua extensão interpretativa.”. Dessa forma, a produção documental propõe uma representação da realidade por meio de discursos e pontos de vistas que se complementam na construção narrativa. Os autores ainda discorrem a respeito da diferença entre o documentário clássico e o documentário moderno.

O clássico era utilizado no início do século 20, com a escola britânica de John Grierson, baseada em ilustrações e narrações construídas com finalidades, na maioria das vezes, institucionais. [...] Já o moderno, utilizado por documentaristas brasileiros desde a década de 60, busca uma interação com o público-alvo, de modo a lhes despertar o senso crítico e permitir interpretações variadas, de acordo com a realidade de cada espectador. (ZANDONADE; FAGUNDES, 2003, p. 17)

Essa nova proposta cinematográfica trouxe mudanças na postura do documentarista que, antes se preocupava em retratar a realidade, ou apenas um recorte, e agora assume um posicionamento mais crítico nas produções.

A proposta do documentário que surgiu com o Cinema Novo era assumir uma postura crítica diante da realidade brasileira, mas, acima de tudo, estava a questão ética. A postura do cineasta diante de seu público se transformava. Antes o documentário era produzido com a finalidade de registrar uma "ilusão" de realidade e difundir aquele material filmado como uma ideia fechada, sem possibilidade de interpretações, onde a própria narrativa generalizante direciona o espectador para uma recepção passiva, simplificando a complexidade do real. (ALTAFINI, 1999, p. 12)

Além da diferença entre o modelo clássico e o modelo moderno de produção documental, existem subgêneros de documentário que se caracterizam de acordo com a proposta do documentarista. Zandonade e Fagundes (2003) afirmam que o

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28 documentário de observação se difere do modelo expositivo pela ausência de intervenção do documentarista.

Nele, não há comentários ou entrevistas delimitadoras de expressão na tentativa de controlar os acontecimentos ou as pessoas, como no modelo apresentado anteriormente. Para os documentaristas adeptos a esse modelo, a câmera deve passar despercebida pelos interlocutores e captar a essência do aspecto do cotidiano. (ZANDONADE; FAGUNDES, 2003, p. 18)

O documentário representa questões relacionadas ao mundo histórico por meio de sons e imagens, sem adotar um conjunto fixo de técnicas. Esse tipo de produto não apresenta apenas um estilo ou forma. Nem todos os documentários exibem um conjunto único de aspectos comuns. A prática do documentário está sempre aberta a constantes mudanças (NICHOLS, 2005, p. 72).

Melo (2002) propõe que o documentário não pode ser definido com base em enunciados estereotipados ou tipos textuais fixos. Porém, é nítido que o documentário é um gênero com características próprias, as quais permitem que o identifiquemos como tal.

Independentemente do tema tratado (violência, ecologia, história, arte, cultura, biografia etc.), somos capazes de identificar e diferenciar um documentário de outros tipos de produção audiovisual (filmes de ficção e reportagens de TV, por exemplo). É bem verdade que no momento da fruição, o espectador pode cometer equívocos de interpretação. A inexistência de gêneros puros é um dos fatores que podem levar a equívocos. (MELO, 2002, p. 24)

A liberdade de produção e a verossimilhança são consideradas fatores diferenciadores entre o documentário e o cinema de ficção. Para Melo (2002, p. 26), o documentário não pode ser planejado como uma produção ficcional, “o percurso para a produção do documentário supõe uma liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gênero”. Além disso,

O que parece permanecer sempre como característica fundamental do documentário é o fato de ser um discurso pessoal de um evento que prioriza exigências mínimas de erossimilhança, literalidade e o registro in loco (MELO, 2002, p. 26)

Analisando o documentário como disseminador de informação, na qual a verossimilhança é imprescindível, pode-se relacionar o gênero cinematográfico com o discurso jornalístico.

Além dos conceitos de cunho estritamente lingüístico, questões pertencentes ao campo próprio do jornalismo destacam-se como pontos

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29 centrais na discussão a respeito dos gêneros. A mais proeminente delas é a discussão relativa à imparcialidade/objetividade jornalística, que vem sendo desmistificada por alguns estudiosos [...] e que nos remete a um outro debate, concernente à inserção de elementos ficcionais no discurso jornalístico. (MELO et al., 2001, p. 3)

No entanto, segundo Melo et al. (2001, p. 11), “enquanto na reportagem é sempre necessária a presença de um narrador, no documentário as vozes podem falar por si”. Ainda que a linguagem documental caminhe próxima da linguagem jornalística, a narrativa do documentário abre-se para a subjetividade, enquanto no jornalismo, o discurso deve se manter objetivo.

Portanto, o presente documentário visa propor um discurso semelhante à dinâmica jornalística, seguindo uma linha na qual a exploração de pontos de vista distintos é fundamental, sem perder o caráter subjetivo do documentário, o qual deixa que a narrativa fale por si.

A escolha pelo gênero documentário se deu pelo fato de o vitiligo ser uma doença que se apresenta por meio de manchas na pele, chamando atenção pelo aspecto visual. Além disso, a proposta é expor os relatos das portadoras da doença. Por isso, o produto não cumpriria seu objetivo caso o tema fosse representado em um fotodocumentário, evidenciando somente a imagem e nem em um radiodocumentário, que colocaria apenas os depoimentos. A produção por meio de texto tira o caráter pessoal e emotivo das entrevistas.

4.1 ESTRUTURA DO VIDEODOCUMENTÁRIO

A produção do roteiro de documentário, de acordo com Puccini (2007), envolve um processo de remodelação do real para que esse faça sentido dentro de um contexto maior.

Roteirizar significa recortar, selecionar e estruturar eventos dentro de uma ordem que necessariamente encontrará seu começo e seu fim. O processo de seleção se inicia já na escolha do tema, desse pedaço de mundo a ser investigado e trabalhado na forma de um filme documentário. (PUCCINI, 2007, p. 21)

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30 Puccini (2007, p. 21) considera que o roteiro de um documentário “é marcado pela perspectiva daquilo que está por vir, a captura de um real que gradualmente vai sendo moldado até se transformar em filme. Estamos falando da construção de um discurso sedimentado em ocorrências do real.”

Outra peculiaridade do filme documentário, quanto a seu trabalho de roteirização, se liga ao fato de muitos documentários serem ‘resolvidos’ em sua fase de pós-produção. [...] Nessa etapa, de pós-produção do filme, faz-se necessária a escrita de um roteiro que oriente a montagem, um roteiro de edição. Esse roteiro será resultado de um trabalho de decupagem do material bruto de filmagem e terá sua função voltada não mais para orientar diretor, atores ou produtor, mas unicamente o montador ou editor do filme (PUCCINI, 2007, p. 22).

Dentro do processo produtivo de um documentário, o documentarista adquire controle maior sobre a produção. Isso porque, por mais que haja um roteiro a ser seguido, nem todas as etapas e planejamentos são seguidos conforme o planejado, já que se trata da representação do real e de um universo no qual o documentarista não possui total controle. Assim, a montagem é etapa na qual se assume um maior domínio da produção.

Deixamos o campo de planejamento das filmagens para entrarmos no campo de planejamento da montagem, etapa distinta da primeira por trabalhar com a seleção de um material mais restrito, limitado a um arranjo de combinações dentro do universo das imagens já captadas para o filme. Se por um lado essa restrição limita o campo de escolha para diretor e montador do filme, por outro esse é o momento em que o documentarista adquire total controle do universo de representação do filme, é o momento em que a articulação das sequências do filme, entre entrevistas, depoimentos, tomadas em locação, imagens de arquivo, entre outras imagens colocadas à disposição do repertório expressivo do documentarista, em consonância com o som, trará o sentido do filme. (PUCCINI, 2007, p. 23)

Diante disso, durante a produção do presente documentário, o processo de montagem (DE FÁTIMA AUGUSTO, 2004) foi o momento no qual o roteiro do produto foi tomando forma. Nesse processo, o arranjo sobre as imagens já captadas foi elaborado e, assim, criado o roteiro do documentário.

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31 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A produção do documentário foi feita por meio de entrevistas com as fontes escolhidas.

Uma boa entrevista depende também de pesquisa, observação e documentação que se fazem antes dela e da observação que se faz durante. Outro aspecto importante a ser lembrado é que a entrevista é um relacionamento. Depende da sua capacidade de conversar. De interessar-se pelo que o outro tem a dizer. [...] Não basta ter uma lista de perguntas e ficar esperando as respostas. (PINTO, 2014, p. 108)

A escolha por entrevistar apenas mulheres se deu por conta das imposições e exigências de padrões de beleza e comportamento serem mais rígidas com público feminino. Além disso, foram escolhidas mulheres de diferentes faixas etárias e classes sociais, com formações profissionais diversas e que apresentem contextos e opiniões distintos a respeito do vitiligo. Entre as entrevistadas, estão uma médica, uma professora, uma estudante de psicologia e uma produtora de moda. O intuito não foi levantar nenhuma questão técnica sobre o tema, mas deixar implícita a relação entre as áreas de atuação dessas mulheres e o modo como elas articulam suas falas a respeito do vitiligo.

O documentário tem como nome “À Flor da Pele: depoimentos de mulheres com vitiligo”, visando expor a realidade de mulheres portadoras da doença, bem como elucidar questões relacionadas ao vitiligo que ainda geram dúvidas e questionamentos. A escolha do nome se deu pelo tema do documentário, que trata sobre pele e pela expressão “à flor da pele” remeter à emoção, ao momento em que os sentimentos superam a razão, o que tem ligação com o vitiligo, já que a doença, em muitos casos, origina-se e se desenvolve por fatores emocionais. Além disso, o termo também faz alusão ao vitiligo como sendo a flor que se desenvolve na pele, dentro de uma perspectiva poética e otimista em relação à doença.

O produto poderá ser veiculado em emissoras de televisão, como a TV Unicesumar, afiliada ao Canal Futura e, sobretudo, em plataformas na web, as quais abrangem um público amplo, cujo documentário visa atingir. Além disso, grande parte da audiência desses dois veículos se interessa por temas sociais que

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32 envolvam minorias, buscando conteúdos com linguagens e enredos diferentes do convencional.

Dessa forma, o documentário não se volta para um público-alvo, já que visa atingir as mais diversas camadas e realidades sociais, procurando comunicar o modo como o vitiligo atinge a vida das pessoas e interfere na convivência social.

O documentário não conta com locução, deixando as entrevistas conduzirem o ritmo da narrativa e falarem por si. Os únicos recursos utilizados paralelamente às entrevistas foram imagens das personagens no local onde ocorreram as gravações, para que as manchas de vitiligo pudessem ser melhor visualizadas.

5.1 DESCRIÇÃO DO VIDEODOCUMENTÁRIO

A peça audiovisual produzida foi intitulada À Flor da Pele: depoimentos de mulheres com vitiligo e apresenta como tema central a realidade de mulheres portadoras da doença. A escolha do tema, primeiramente, deu-se por conta da escassez de conteúdo jornalístico que aborda o vitiligo. Além disso, durante o desenvolvimento do trabalho foi possível perceber que os estudos científicos a respeito da doença não chegam a um consenso, tornando-se mais um dos motivos pelo qual o tema mereça discutido.

O tema possui grande relevância social, já que o vitiligo, em muitos casos, torna-se motivo de estigma, preconceito e discriminação e, ainda assim, é uma área pouco estudada dentro da ciência.

Pelo fato da dor estar diretamente relacionada com as alterações provocadas na pele e com a dicotomia belo/feio, a visibilidade das manchas causa um sofrimento emocional intenso, tornando-se necessários mais estudos que abordem o assunto, a fim de se garantir mais qualidade de vida e amparo pela sociedade, pelo núcleo familiar e pelos profissionais de saúde aos portadores do vitiligo e de outras doenças estigmatizantes. (ANDRADE et al., 2016, p. 4)

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33 O objetivo do documentário é permitir que as pessoas conheçam a realidade do portador da doença, compreendendo como essa condição extrapola questões relacionadas à saúde do indivíduo e afeta outras esferas pessoais e sociais.

O documentário procura promover a reflexão sobre as implicações do vitiligo na vida dessas pacientes, por meio de relatos, críticas e considerações das próprias entrevistadas em relação à doença e como essa é tratada pela mídia e pela medicina.

O trabalho tem o intuito de desmistificar questões relacionadas à doença e apresenta-se como ferramenta de conscientização a respeito de como o vitiligo é tratado no ambiente social e quais são as implicações da doença na vida de quem a possui.

5.2 AS ENTREVISTAS

O documentário tem duração de quarenta e seis minutos e onze segundos, utilizando apenas as sonoras das entrevistadas para criar o enredo da narrativa. Não foi feito o uso de narração ou passagens, visto que o discurso jornalístico está inserido apenas na proposta do documentário, e não na estrutura.

As perguntas foram elaboradas e roteirizadas pensando no objetivo do trabalho, que são as histórias, impressões e a própria relação da mulher com o vitiligo. As questões levantadas eram semelhantes, variando de acordo com as particularidades de cada entrevistada. O objetivo é que todas expusessem suas opiniões diante dos principais assuntos abordados, a fim de expor pontos de vista diferentes e dar ao público o suporte suficiente para a reflexão e as conclusões sejam alcançadas. O enredo do documentário foi conduzido pelos próprios depoimentos das entrevistadas, que se alternavam formando uma linha de raciocínio de acordo com o assunto apresentado.

As entrevistas foram realizadas entre julho e setembro de 2017, em Maringá e Londrina (PR). Visando ao conforto das entrevistadas ao falar sobre o vitiligo, as

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34 gravações foram feitas em lugares escolhidos pelas próprias personagens, nos quais elas se sentiriam à vontade para falar sobre o assunto. A ideia, durante as entrevistas, era criar uma conexão entre a entrevistada, a câmera e a documentarista, na qual elas pudessem se abrir sem influências externas.

Outro fator que também precisou ser levado em consideração foi a estética do produto, que deve ser agradável aos olhos do espectador, já que o documentário aborda um tema denso e a imagem serve como ferramenta para neutralizar o peso de determinados assuntos.

5.3 EDIÇÃO

A trilha sonora escolhida para a abertura e finalização do documentário é a música “Sem Nome, Mas Com Endereço”, da banda brasileira Liniker e os Caramelows. A escolha da trilha se deu por conta do modo como a letra da música se encaixa no tema do documentário.

A abertura do documentário apresenta a imagem de uma das entrevistadas em um movimento de tilt até que a imagem fique enquadrada em plongé. O propósito desse movimento é acompanhar o ritmo da música, que menciona “flores na cabeça” no momento em que a imagem coloca-se em plongé. As flores, nesse caso, representam o cabelo da personagem, que aborda o assunto no decorrer do documentário.

Em seguida, em um movimento de pan, a imagem coloca a segunda entrevistada em um enquadramento que mostra somente o colo da personagem, acompanhando a letra da música, que fala “pétalas no coração”. Após isso, a música menciona a palavra “raiz”, que remete ao ambiente no qual a personagem se encontra: um parque, encostada em uma árvore.

Depois, no momento em que a música fala “excitação”, a imagem mostra a terceira entrevistada em seu ambiente de trabalho, remetendo à excitação da personagem em fazer o que gosta. Ainda nesse take, a letra da música diz “acalanta

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35 o meu coração”, no sentido de que é um momento privado, no qual a personagem encontra a calma.

O take seguinte mostra a primeira entrevistada se olhando no espelho e, em seguida, olhando para a câmera. Essa foi uma maneira de adiantar para o espectador que esse é um momento de conexão entre a entrevistada, o vitiligo e a câmera, sem intervenções externas.

Logo em seguida, o take é feito com um leve movimento de backward mostrando a imagem da última entrevistada dentro de uma estufa, mexendo nos cabelos. Enquanto isso, a música diz “me sinto um peixe fora do aquário, dá pra ver”. A imagem remete à personagem como o peixe que se encontra fora do aquário, representado pela estufa, fazendo uma ligação com o vitiligo e o “ser diferente”.

Adiante, as entrevistadas começam a se apresentar falando o nome, a idade e o que o vitiligo representa para elas. Em seguida, entra segunda trilha escolhida, “Cranes In The Sky”, da cantora norte americana Solange. A música, apresentada na versão instrumental, fala sobre insegurança, angústia e a tentativa de mudança, ligando-se perfeitamente ao contexto da mulher portadora de vitiligo. A passagem em que a música está inserida mostra as personagens fazendo movimentos com a cabeça, voltando o olhar para a câmera ou tirando os olhos da câmera.

Em seguida, começam as passagens com as entrevistas, que conduzem o enredo do documentário. Primeiro, uma das entrevistadas dá uma possível definição sobre o vitiligo e, logo após isso, as demais personagens falam sobre como descobriram a doença, a procura e tentativa de tratamentos, a reação da família e os casos de bullying na escola, abordando a sensação de ser diferente e como o olhar do outro interfere na percepção e relação das personagens com o vitiligo.

Após isso, as entrevistadas relatam comentários e perguntas inconvenientes, contam casos de preconceito, discriminação e julgamento e falam sobre relacionamento e sexo, partindo, em seguida, para a visão delas em relação ao vitiligo hoje, na vida adulta.

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36 Seguindo adiante, as personagens falam sobre as impressões pessoais a respeito do vitiligo. Elas comentam sobre o modo como enxergam a condição e se a consideram como doença ou não. Além disso, elas falam sobre questões emocionais, que têm relação direta com a evolução das manchas.

Após isso, as entrevistadas passam a abordar o vitiligo como patologia e saem um pouco do âmbito pessoal, discutindo sobre as implicações do vitiligo no meio social. Elas falam sobre questões médicas e sobre o desinteresse da medicina em pesquisar e se aprofundar sobre o vitiligo. Em seguida, comentam o caso do cantor Michael Jackson, expondo opiniões bem divergentes a respeito da imagem do vitiligo em relação ao cantor.

Após isso, as personagens comentam sobre informação e a falta de iniciativa da mídia em falar sobre o vitiligo, afirmando que a orientação é fundamental para que a doença passe a ser vista como normal e haja uma clareza nas informações a respeito.

Em seguida, elas falam sobre moda e representatividade, padrões de beleza e experiências próprias sobre tentativas de se encaixar dentro dessas definições, concluindo que a mulher é atingida de todos os lados, não só aquelas que portam vitiligo. Por fim, elas concluem o documentário falando sobre a maneira como enxergam o vitiligo e passando uma espécie de mensagem para o espectador a respeito de aceitação e reconhecimento enquanto portadoras da condição.

Após isso, o fechamento do documentário é feito com imagens das entrevistadas, acompanhadas da primeira música de abertura. Quando a música fala “tô indo pro imaginário do teu peito”, a imagem é de uma das personagens mexendo no busto de um manequim, mostrando ela no ambiente de trabalho, novamente. Em seguida, a música fala a palavra “compasso”, enquanto a imagem mostra outra personagem fazendo um movimento. A palavra, nesse caso, remete ao ritmo com que o vitiligo se alastra pela pele.

Referências

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