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earfes «Mm;^ ir-n 'Ano 2.* f N.#73 SUPLEMENTO DE "A MANHÃ" Rio, Domingo,

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Letras eArfes

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«Mm;^ ir-n 'Ano 2.*

f N.#73

SUPLEMENTO DE

"A

MANHÃ"

Rio, Domingo, 18-1-1948

^

W&

/- «

'-* L

, *

O

dever do cronista de

in-formar oi loiloros sobre

aqueles

acontecimentos

literários que são ao mesmo

tempo importantes o atuais, não

encontra seu limite na9

dificul-dades apresentadas pela poesia

inglesa — então, as citações

adiantam pouco, hélas — nom

tratando-se de um poeta

"her-métíco". Jã é preciso tomar

co-nascimento, também por aqui,,

'de

Dcvid Gascòyne: sou

primai-to o por onquanprimai-to único

volu-me de versos, Poems, 1937-1342,

foi logo saudado polo autorisa*

díssimo Stephen Spender como

grande Acontecimento literário.

Desde então,' até ao roconto

on-sedo de Derek Stahíord no

"Poc-try Quarterly", a fama de

Gas-coyno não cessou de crescei*

Homem Nicholson, incluindo Ihs

cinco poemas ao volume de ver*

soe religiosos da Editora Pau*

güin, aproximou o poeta difícil

de inúmeros-leitores que nunca

o teria mlido. Gascòyne ainda

não- entrou, isto é verdado, nas

grandes" antologias oficiais,

fo-cbadas aos "poetes de tronte

ano"- mas

Já foi consagrado

pela

"menção

honrosa" na di*

vulgadissima "História da

lito-ratura inglesa" de Entwistlo.

*1eader"

d uma figura invisível de

da poesia inglesa, ente

poeta que guarda um silôncio

obstinado.

Dovid Gascòyne tem pouco

mais ide 30 anos.

Formou-se,

poeticamente, na França, onde

chegou à escrever versos

em

língua francesa. E' espécie de

"retrato

do jovem como

artls-ta" seu poema

"Noctcmbules",

ém que aparece um

"boy"

que

escreve dando-so as três horas

do alto da torre de St. Sulpice,

"a

última página do um livro

que ninguém compreenderá'',:

Naquele tempo, ò jovem

Gás-coyno foi surrealista — o i*"'

raeiro

surrealista

inglês.

Em

1936, organizou cm Londres a

"Exposition

Internatioucle"

do

grupo. A guerra —- que se tor

naria a experiência

íundamen-tal de sua vida — já o

oncon-trou colho renegado do

movi-mento. Começou, então, o ciclo

de poesias religiosas, de uma

religiosidade sombria

e

alia-mente

independente,

invoesn-do o

"Chtist

of Revolution and

'

oi Poetry", "para que a longa

viagem do gênero humano pola

noite não tenha sido em vão".

Dai em diante a poesia de

Gas-coyno tornou-se cada vez mais

tenebrosa: é um canto

"do

Pas*

sado que acabou, e do

Futu-ro que será vasio; o a cor pFutu-ro-

pro-ta, invadindo o prisma inteiro,

iorna.se absoluta". Ao mesmo

tempo, Gascòyne deixou dt> ser

hermético:

as

suas

imagona,

que

foram

complicadissimas,

"metafísicas"

no sentido da'

an-tiga poesia inglesa, tornaram*

se cristalinas, diáfanas, para

exprimir

"uma

existência,

cons-dente apenas do seu próprio

fim,

inarticúlada,

solitária, ,e

cega". O resultado quase

.na-tural de uma poesia assim è o

silêncio em que Gascòyne

per-manece há mais de 4 anos.

Si-léncio de um místico para o

qual as palavras perderam. o

sentido ? Silêncio motivado por

uma inibição anii-pãétíea? Si-.

Iêncio deliberadamonte

anti-li-terário, tirando-so

cs

últimas

conclusões do surrealismo que

ò poeta no entanto renegara ?

'

Gascòyne é renegado do

sur-realismo. Mas a sua passagem

pelo movimento, que foi ao

mes-mo tempo

sua

aprendisagem

poética, é de importância

íun-damental para ss

compreendei-lhe a poesia. Como quer que

se pense sobre o valor dos

ma-nifestos repelidos e

contradita-rios do grupo e sobre o

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K^a

Pictó — SANDRO BOTTICELLI

GASCÒYNE E A ARTE POÉTICA

OTTG MARIA CARPEAUX

lho insensato, d^Lberadamente

absurdo dos adepíoa — a

in;-. portância histórica do

movimen-to é inegavèli bastaj para

pro-var isso, o fato da existêticva do

grupos surrealistas no mundo

inteiro e até hoje, na Espanha

e na Escandinávia, na Bélgica

e na Iugoslávia, no México e

no Peru, na Rumánia e na

Ve-nezuela, na Tchecoslováquia e

até nos paises árabes; basta

acrescentar, que o reprsssntanie

do movimento na Inglaterra íoi

um Gascòyne.

O surrealismo

correspondia evidentemente

a

uma necessidade intime; d i

ri-ma contemporânea.

Maj não

chegou a matar á sede d?süa

alma. A leitura da Hictoire c:ü

surréalisrne, de Maurice Nadsau,

revela as fraquezas literárias e

ideológicas do programa, a im~

possibilidade de espíritos

ieaü-sadores ficarem

dôntio

dessa

"Igreja

do diabo". Aragon

após-tou assim como apostaram

Ne*-vai, Gascòyne e a maioria do3

hispano-americanos.

Dir-se-ia

que

"le surréalisrne s<?rt à temt

à cóndition d'en sortir".

Nos

renegados, e mais do que em

todos eles no renegado

Gascoy-ue, revela-se aquilo que o

sur-realismo podia r-er e não íoi,

sua necessidade e sua derrota.

A raiz do movimento literário

ou anti-Iiterárío, chamado

tur-realismo, é o fenômeno a' que

Marx chamara

"alienação":

o

rompimento entre o homem e a

realidade. O fenômeno ê

carac-terlstico da nossa civilização e

de todas as expressões dela,

po-liticas e econômicas, religiosas

e artísticas. O surrealismo

des-cobriu o fenômeno litarariameu*

te (ou anti-litèrariamente)>

des-cendo da superfície da no^sa

civilização para os abismos

so-ciais e espirituais, até o

abis-mo da loucura em que

oncon-trou a alienação consumada.

Os renegados

do

sunealismo

percorreram o caminho

inver-so: de babro para cima,

pro-curando a abolição da

alie:ia-«ão, seja pela revolução social,

seja pela fé religiosa.

Chega-riam, de qualquer maneira, áo

infra-realismo a um

supra-roa-lismo. David Gascòyne também

percorreu es3e caminho: dai a

invocação do "Chríst of Revo-,

lution", daí a terminologia

reli-giosa de poemas como

"Mise-rere", "Pietà" e "Tenebrae" que

ficam no entanto envolvidos om

trevas noturnas como se o

pró-prio poeta não acreditasse na

realidade da fé que lhe

forno-ce as imagens. Não faltam ar

gumentos para se interpretar o

silêncio obstinado do poeta

co-mo inibição.

Stephen Spender,

baseando-se apesar do baseando-seu credo radical

na plenitude da tradição

poóti-ca inglesa, reconheceu 03,-ger

mes daquela inibição num

"vi-cio poético" que sempre a*

cen-surou asperamente quando

apa-recendo em poetas ingleses: na

"sclí-pity",

na compaixão con*

sigo mesmo. Com efeito,

expres-soes de "self-pity" são

frequon-tes em Gascòyne, nenhuma mais

forte do que aquela imagem

(em

"Noctambules")

do jovem

artista, escrevendo na Paiis

no-turna a última página de um

11-?ro que ninguém compreende*

rá.

O próprio Spender

ucon-tuou porem o sentido de apr-m*

disagem da fase francesa do

Gascòyne; até os versos trair

coses do poeta teriam sido exer*

cícios, individualmente

iirpoi-tantes, para livrar-se da compli*

cada "imagory"

hermético-mota-física. Só assim o pootu che*

garia à clareza

aistalina dos

seus sombrios versos de guor

ra, daquele "Misororo" era que

compara as torturas da

huroa-nidado contemporânea com os

sofrimentos do Crucificado, sen-*

do todos nós "onbokors at the

crime",

mudos

cúmplices

do'

crime. O hermetismo da

primei-ra poesia de Gascòyne corres*

pondo ao individualismo

fecha-do fecha-do jovem artista, sufocafecha-do

pela

"self-pity'*.

A

experiôn-cia da guerra dará ò sua poo*

sia uma significação geral —•

um sentido.

Em qualquer outra literata*

ra, uma evolução ansim con*

siderar-se-ia como perfeitamen*

te natural; a critica inglesa é,

neste ponto também, mais

exi-gente. Dispensam

a

sintaxe

poética da coerência lógica da

prosa; mas exigem a coerên*

cia da lógica poética. Sob esse

aspecto Stanford analizou um

dos poemas mais importantes

de Gascòyne, "Pietà", em que

outra vez se identificam os

so-lrimentos de Cristo e o da hu*

manidade, contemporâneos 23W

pre

"till

the cathársis of the race

shall be complete"; então, pelo

silêncio subsequente, confessa

o poeta a contradição, que não

sabo resolver, entre a

interpre-tação da guerra como crime

(era Miserere) e como catarse

(em Piotá"). E' um problema

quase técnico da

transfigura-ção do pensamento lógico om

emoção poética; mas atrás

des-so problema levanta-des-so a

in-terrogação

ameaçadora

pelo

sentido do mundo: "a longa

via-gem do gênero humano

pela

noite não terá sido em vão?".

Ou então,

"a

cor preta,

inva-dindo o prisma inteiro,

tornar-se-á absoluta?".

Citando uma frase de

Berg-son-r"C'est Io réel qui 33 fait

possible, et non pas le possible

qui devient réel" — o filósofo

espanhol Garcia Baca, esboçou

recentemente um sistema

de

correspondência que eu

tentu-ria, aqui aplicar da maneira

seguinte: ao Necessário

corres-pondem o Passado e a

língua-gem da Ciência; & Realidade

correspondem o Presente o a

linguagem da vida quotidiana;

mas a linguagom

da

Poesia

corresponde ao Futuro e á

PM-teridade.

Poder-se-iam lançar,

desta maneira, os fundamentos

de uma nova Arte Poética; aque*

Ias equações restabelecem

a

dignidade t'a poesia ao lado

das realidades já cristalizadas

ou ainda em movimento. Libor

dade só há na poesia na qual

"le

réel se fait pospible". ai de

nós se 9 possível so tornasse

reall Esto último ca3o é o

as-sunto poético do surrealismo; o

Gascòyne também conhece

"the

netherworld'3 d«ad suns".. "os

"soes

mortos de um mundo

in-ferior" — nunca se definiu

me-lhor o mundo poético do surroa*

lismo. Dai a angústia que, sem

teoria alguma, lhe invade a

poesia o lhe permite — porque

se trata de poesia autêntica,

"du

possible qui se fait réel"

— de sair dos abiamos

surrea-listas: é o momento em quo os

"soes mortos" se transformam

em trevas de uma outrçf

espé-cie.

do

poema

"Tenebrae

("There is no more —

Hegeno-ration in the striclcén sun...

'*),

(Conclui na ir pág.)

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LETRAS

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ARTES

DOMINGO, 18-1-1948

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0 SUPLEMENTO OA "POLIU DQ NORTE"

Do Bolem, no Porá, nos vem orna bela surpresa: o excelente

suplemento literário da "Folha do Norte", digno üc nula numa

capital da província. Vulgarizou-se no sul a famosa expressão

"Exército du Pará". Quc não sc molestem os paraenses eom elo.

A verdade e que do grande Estada nortista, nns. vim

constante-mente, bela» manifestações dè Inteligência « de atividade

inicie*-etual, como as deste suplemento; dirigido por ITaroíuo Maranbtlo

o cora om beto grupo de colaboradores, rm qne figuram nomes

de escritores dc Iodos os cantos do pais c dos mais destacados ('a

literatura brasileira moderna..

"IMAGENS E EMOÇÕES"

Com o titulo acima, o sr. Ivan Fontes publica o seu

primei-ro livprimei-ro dc versos. Sâo em grande parte soneto*, repassados de

ternura e senliraentalismo e no ritmo clássico, sem ousadias:

modernistas. Prefaciando a obra Asterio de tampos estabelece

correlação entro o estro de Ivan Fontes e de outro grande poc*

ts sergipano, como ele, Hermes Fontes.

20 POETAS INGLESES

Será lançado ainda êste mês, pela Editora A NOITE, o

novo livro de Bezerra de Freitas, intitulado "20 poetas ingle.

eco'*. Profundamente identificado cem a cultura inglesa,

Bezer-ta de- FreiBezer-tas apresenBezer-ta nesse volume um desenvolvimento dos

temas, diretrizes e influências da lírica britânica, desde os

tem*-pos mais recuados até a atualidade. Não sc cinge o volume

ape-nas ao terreno do debate e da exegese próprio ao ensaio; o au.

tor ayrcsenta uma

antologia de grandes poetas ingleses,

visão-do assim aproximar visão-do leitor brasileiro um apoética riquíssima

pela sua densidade humana o pela sua beleza artística.

Ilustrações de Santa Rosa enriquecem "20/ poetas ingleses".

0 DESTINO DA CHINA

Entre os livros mais vendidos em 1847 figurui "O Destino

da China", de Chiang Kai-Sheck, lançado- peta Editora A NOITE

em sua

'**Coleção

Imagens da Época'*. Esse acontecimento asei*

nala claramente o interesse que o publico braafteite dedica aos

livros que, unindo o ensaio políticewwcial i biografia, possuem

nma amplitude universal e um sentido imediato onde ss

refle-tem as inquietações sociais da époeav "O Destina da China",,

abas,. coIoca.se no mesmo plano de atualidade dos depoimentos

de Kravchenko; Attlee e outros .

QUEM E QUE ?

Certo dia, estava André Gide folheando un» livro nas Galei ias

do Odeon quando alguém, se aproximou e disser

A gente, ao ver tanto livros pergunta quem- poderá lê-los.

Mas; ao ver certas pessoas — respondeu Gide — pergunta

que poderão elas ler.

Como experiência para uns o outros, ai temos, numa

ezee-Tente tradução, o livro de Gide "O Imoraliata"', que acaba de

aoa-recer nas livrarias.

NOTA SOBRE UM ENSAIO DB PAULO RONAI

O- pequeno livra de Paula Rónai sobre "Balsac e a Comédia

Humana" é quase obrigatório para o leitor brasileii'0.. Por

es-sa razão nasce clássico. Com efeito; não se compreende, o lan«

çamento global das obras de Balzac, em língua portuguesa,

co-mo eatá sendo feito agora, sem uma introdução esclarecedora dc

muitos segredos do engenho e da'arte do genial criador das

"Me.-mórias de duas jovens casadas". Essa introdução começa nas.

notas que Paulo Rónai escreveu para a edição dá "Comédia

Hu-mana" c 3e completa no primoroso ensaio a que «os referimos.

O erudito nos ensina muita coisa a respeito de Balzac. E o es.

critor nos sugestiona com o brilho d^ sua prosa e de sua lógica

admiráveis. — A, L.

ÚMA REVISTA FEITA SO» PELO ELEMENTO FEMININO

Dirigida poi* Jurema lari Ferreira, a revista "Mulher

Ma-jíazliie." se impôs pelo seu viLrajiiismo e pela sua originalidade;,

apresentando

em

números

movimentados

as

mais

sugestivas

imagens do feinlnisino no Brasil. Em seu último número,,

co-laboram, entre outras escritoras,

Flavia' de

Carvalho

Lobo,

Laís ¦¦¦!',!»ronda e Maria Yandcrlci- Menezes. Reportagens

interes-santes,

seçções

de

esportes, sociedade e -cultura, comentários

e contos dão a "Mulher Magazine" um sentido de dinamismo

c bom gosto quc lhe outorga um característico especial cm

nos-so- jornalismo.

**"DÁ CALÚNIA E INJÚRIA"

ÒJjòra. "Da Calunia e Injuria", ([ntprensas

e Verbais), do juiz Oliveira e Silva, recentemente

aparecido e cuja í." edição se esgotou

rápida-mente, tendo já sido- lançada a segunda, ti tuna

das obras mais completas de legislação e

júris-prudência aliinenles uo assunto. 0 autofNpila

exaustivamente da quesiâo, oferecendo aos

pro-fissionais nm guia seguro, capaz de

derimir-lhes Iodas as dúvidas no referido seior jurídico.

UMA INTRODUÇÃO AOS PROBLEMAS MUNDIAIS

William Eullitt, antigo embaixador americano na Rússia,

numa época muito interessante, — 33 a 36, — de

modifica-ções

surpreendentes

no

cenário

raternacional,

condensou

suas preciosas observações num livro de grande repercussão «E

o Globo desaparecerá» agora revelada ao público, brasileiro. O

autor nes coloca diante doa grandes negócios entre as maiores

potências de nossos dias. Mas o que predomina no seu livro,

com caráter sensacional, são suas cerradas criticas à União

So-viética, baseadas numa lógica irrespondível e no testemunho da

história. È incrível que esse livro do- embaixador Buiíitt, —

ver-dadeiro «prefácio aoa problemas mundiais» — não tenha sido

ainda suficientemente debatido entre nós. Trata-se. no entanto,

de obra que, pelo caráter monumental do assunto, não- pode

nem deve escapar ao senso de observação do leitor brasileiro..

A tradução do Sr. Raul de Poltilo matou um pouco o brilho

dês-se lançamento. É uma tradução defeituosa, O IPE deve cuidar

melhor de suas traduções.

0 2.° VOLUME DA "COMÉDIA HUMANA"

O &.;• volume da grande euiçâo brasileira da "Comedia

Iluma-na", dirigida por Paulo Rónai, que aparecerá ainda êste niès

r*on-tém amplo material ilustrativo, dedicado inteiramente à

carie*-tura mie de Balzac fizeram os artistas da época.

A CARGA DA COVARDIA

sS£^yZ''y:y/y^ft^X^a

^$$&>&Fwfè88Se.

0!:vt:":i * HS.iifí

I URO que a origem deale

I

bato papo nâo está na

-9

ca •••ção

4o

nranda-tbo o autuo menos visa tomar

atoa de duelo parlamentar

Naa-cao, «o centraria, de nn

«mo-•o or. Jool Silveira quo sempre

«rifo Jarcep* • de» porteiro*,

«o anui coisa muito simples o

omito espontânea — o artigo

quo o critica Sérgio MHIiet svr

bKsTótt» outro dia, no

suplemen-to do TXdri© Carioca".

Atrevi-daco> com una

coragem

inte-leetual que- vai

rareaudo cá por

nossas bandas,

con'*

erguida-do qua 4 uma

coisa tão

soli-dá

quanta-

'

o

pfio da Açúcar,

a «ator db

"Dia-ria Critico"

re-~ oi voa,. 'oBioo&s

'já

houvesse-

o-Congresso

do

Escritores

bati-do

ao

portes.,

danonaiág a

cor-¦ção totaüiâcia que o* gaeúV

aa sonética exerça sobre os

asaimrosY Feses aqui o dogas

• «atoe do artigo, qua provocou'

w •¦«

J*-*L ^.aksâsk. *• ^**W

1M

• i* prassiato a sr. Dalcidi» fa

rottdbt, dedo espetado no

ven-to, «ndcnaandot

leacionário, reactoncticl'

Ora vim Der» qua o sr.

Sar-gi* MilSerj paulista do

quatro-ceutes, pode sor acusade de

todas «s. patranhas —

receio-nário, porem, urna ova ! Dedo*-'

ra o homem que, em Belo

Ho-ruonte, os eacritores que nâo

são

comunistas — a maioria,

naturalmente —, por covardia,

silenciaram no instante «ar que

deviam protestar. Assinando aio.

caos de solidariedade- aos

inte-leetuais que saírem a desdita

de viver em paises dominador

pelos totaUtaristas dá

direita,

nâo se lembraram de pedir urna

só moção do eolidariedade para

os escritores "expiugadoa" da

Único Soviética. Ej têso e

b-*a-bo, acrescenta:

A covardia é difícil de

car-regar'.

'i"''/'

E porque a covardia ó difícil

de carregôr ó quej nesto

instan-to, cora o artigo da. critico pau*

lista, começam a surgir

comen-tários sobre a estranha,

aütu-de do Congresso. N.o case. o

silêncio, mais rigorosamente a

covardia, implica em certa

so-lidariedade aos expurgos,

rea-lizados . por Stalin que,

3e.gun-do o sr. Edmun3e.gun-do Moniz,

tam-bém é escritor. Mas, se o

Cou-gresso expediu suas moções ds

solidariedade para as vítimas

de Franco e Trujillo, e ignoírou

redondamente a existência das

vitimas de Stalin, Tito, Groza,

Diraítrov, e o diabo — outro

ca-minho não temos senão

con-cluir pelo domínio dos

convunis-tas no Congresso.

Isso>. aliás, estava visto

des-de o primeiro minuto. As des-

dele-gações, com exceção de uma ou

outra, vinham prenhes. de

co-munistas. Escritores, que ainda

estão para publicai; uma frase

ou uma redondilha, expvmham

os nomes pela primeira vo?..

Para mim, por exemplo, que sou

macaco velho e sempre confie

desconfiando., cdé hoje ignoro

DJALMA VIANA

eomo (oram constituídas

aqua-Ias delegações, ai, interior . a

dentro. Doa nomes

representa-Uvos: das prosadas» néraa l JK •

guns,. é certa, mas noa passar

vam. da edatiscas destinadas «

campar o espírito dc comédia.

E, como nfio poeta detsar do

acontecer, tlvanj— o dasloch*

quo agora a ss. Sérgio MiUSot.

rosvmo om síntese

ext*raerd>riá-riár

•— Ji carga da covarrüal

Todos essas covardes, que tf*

verara do botar •: mãe no sal

•m. conseqüência dós aplausos

qua oforeceram ao sr-. Osório

Borba qaó bravamente defendia:

a cultura ameaçada por Trur

}ilo,. tinham om monta a id^iá

gigantesca;

era* iruRopensável

não quebrar a harmonia, exa

necossárie não provocar o

boa-sé, era precisa ebeirar as

üo-ma caüo-ma Feediuauda, •¦ toara.

C colaboratam, peto sSIndo,

ms obra ranam^fag qae sc Omao

Solenes» rs<rttw am favos dá

cultue» e em aeaefida de

iate-Ugen«rim.

Os escnlaraa rusooS

e aê* me- rma*» asa exuados

escritorea a astistoa

espécie*,,

quo

bailando oa deds* dst morseba-*

lísómov qae conmsaassem

do-brandis os rraatog diante de» mr

teiesees políncos, que se

demas-semi Mesmo sebes-' « eovarefie,

sobre o medo*, sabre a farte ás

músçvios, 9 iaxUsperisáTtri «ia

que todo corresse asaf..

.

Comeu; «au!; ê verdade. Mm,

\â agora, quando- todo» se

rs-colheram aos gabinetes e aos:

chinelos', quando ura Homem, dos

bofes dò: sr. Sérgio Míffiet

re-solve conspurcar o falso

incen-ao, quando es próprios jonicjs

mineiros revidara a passividade

feminina dos nossos letrados —

agora á oue ae reconhece à

crtn-seqüência, dramática e

ihfleui-vel^ cortando nervos; e

sangram--do a carne: o Congresso de

Es-.-critores, era. Belo Horizonte.- foi

uma

chantagem!

E foi uma

chantagem, meus irmãos,

por-que todas as moções ali' vota-:'

das, da defesa da rateligência

em sua liberdade, de defesa-da

independência para a

criação-artística,

de

condenação aos

métodos totalitários para

esrna-gar o trabalho intelectual, não

se concretizaram e não so

con-centraram sobre o maior inimigo

da própria criação artística e da

própria inteligência..

Não me venha daí, pòr favor,

o sr. Astrogildo Pereira teútar

uma defesa

"e

querer me

vrnpin-gir qua, na União Soviética, os

escritores voam como os passa-:

rihhos. Não mo venha com

ês-ses rapapés,

por

favor.

Ele,

como todo.3 ps que estavam em

Bolo Horizonte participando dò

Congresso — a não ser

natu-ralmonte os imbecis que iá

apa-receram por tática política sem

sequer saber assinar os nomeai

estavam fartos de ter a

rea-lidade sob os olhos. Colegas

ilustres, e de prestígio

interna-cional, cantaram e entoaram mil

vezes

as mesmas

modinhas,

Famoso., o protesto de André

Si-dè. Não menos famoso o

pro-testo d© Artur Koestler. E não

menos famoso ainda o protesto

de André Malraux.

De resto, o em caráter oHcial,

não se cansara a União

Sovié-tica de informar que escritores

foram "expurgados" porque

es-• QUEM TRADUZIU MELHOR?

Correspondência t publicações literárias, ti es li mulas tr

''Letras e Artes", devem ser endereçadas

pura

iorae

Laccria, ma Viveiros de Castro, HO, apart. Sf

Duas editoras brasileiras acabam de aprtesentar, num

lan-gamento Simultâneo, duas traduções de um dos mate famosos

romances da literatura francesa: "Los Liaisons Dangevetises"r

de Choderlos de Laelos. Um dos tradutores, Carlos^ Drumnrmnd

de Andrade, traduziu assim o título-: "As relações peri-gosas"'. <D

outro, tradutor,, o escri,tov e jornalista Osório-

'Boríja^,,

deu, a<2'

tí-tuio uma tradução literal: "As ligações- perigosas". EsGusa

dl-zer que aa duas- fcrad'ii€.oès sáo, no gei'al, boas. Mas...

auem

traduziu melhor o titulo? '¦

-:..

• ».,..U.«., ---.<.-- 1%

^Í:Aa.

lavo» se aburguesaedo... O

sr. Sérgio Milliet, em aeu

mii-go, cita alguns casos. Mas.

om-tes mesmo que a fase

dos-purges" se iniciaMeA anles

mo que o marecrraKssimo

ajãse a inteligência russa a ee»

nerá-b como o todo .nitiws

o o sabe tudo, lá es comualar

tos ds tenino icvslavam a qae

significa, para a inteligência, ¦

"ditadura

do proletariada".

A

viuva do Dostoiewsbi, làfatmsi

Henry Ttoyat, morria da toma.

Rosanov tam hcm morria do fa*

me. O período daa Grilamos»,

tos, com a morte de Lenine.não

tardaria. O txsr Alexandra que

condenara <t rabiíhos 'orçados

o poeta MíJcIitfUov, travi«iocmar

va-so em pinto.

Mas, como ;á uãc eta possi''*

vel, qdrnii5r-3e um escritor, as*

critor ou iomclista, ioraalisla oa

um artÍ3ta "tout coart". volfaur

seo. marechalíssimo conüa seao |

préprios correlígios^Fxioov ftíb.

lares e funcionários tombaram

ao pé do muro. Oe totoUctams.

Eamenev, Zinoviev» Badeb» sar ,

Fes da morte,, tiveram qua ao ,

retratar. Trotslty. todos sabem»

morria, ali no Méxke, a golpes ...

de machadinha. Saiòidava-aa a

poeta Maiakovsk», AalmwescBO

Ptadkfiin, Gegoi Dostafevsbi e

Tòlsioi forem Tiquidados" sob

a peso de tremenda

censura-Músicos dax Choatoliovlteb tosam

censuradas ou posto» lota ds>

lei". Fiearam. porém» sa bafs-.

ladores sórdidos, gente da

das-se de Ehrenburg, que- escreviam

sobre os pés. de Stalin,. as

per-, nas de Stalin. a barriga de Sto» per-,

Bn, o rosto de Stalin e oatras

partes de Stalin

E diante

disso, desta violação física da

todos os valores. culturais o bw*

manos,, proferiram os. escrito*.

res. brasileiros do Congresso da

Belo Horizonte salvar, a cultor

ra nas costas de um pobre dia*

bo como Trujillo. Etotivamentei

era para se achar engraçado I •

Todo» eles, como disse, esta"

vam fartos de conhecer toda ia*

: a» — conhecer isso o saber/ do

que se passava aqui em.aossa

própria toba.

Aqui, enquanto

pôde falar, o sr. Luis Carlos.

Prestes» que é por excelência

o anti-intelectual, não íes

ou-tra coisa senão iniuriar e caiu*

nior. escritor es brasileiros. Mas*

amigos do chá e do bem

com-, portamentocom-,

os

congressistas

não ignoravam que, no rociar1

to,, ampla e bem treinada era

. a bancada comunista.. Acovar*

daram-ae, pois. Faltaram as tri*

pas. tripas e sangue.

Desmoralizado neste instante,

que. não conheço uma sé

pes-soa. que leve a sério os seus.

palpite»; o Congresso de

Escri-tores serviu paza demonstrar o

cansaço de todos nós para

co-médias semelhantes. E sirva a

conseqüência de lição! E que a

cargq da covardia, a que se

ro-feriu o crítico

Sérgio

Milliet.

possa ser posta

no

chão —

aprendendo

os escritores bra*

sileiros que, contemporizar com

' comunistas., é pagar mais cedo

ou, mais tarde.

:,

Experimentados, o quero, acre*

ditar não voltem a repetir a pas*

sividade, já podem o» escrito'*

res,. em outro Congresso, pisar

a terreiro dispostos a qualquer

arranca rabo. Enquanto, porém»

perdurar o exemplo de Beto

Ho-risonlâj e por uma simples

quês-tão de decência e de coragem

moral, estão proibidos de

agre-dir verbalmente tuna pulga. Fí"

quem nos gabinetes*, cocando

a sola dos pés ou consultando

os. dicionários,, mas não acusem

a ninguém mais.;

Afinal, a derçc nstiação de

«O-7ardia ioi muito forte.

Excessl-vãmente loile. Tão forte que

hastpu para sei-altar definitr

vãmente o Congresso. £ tirar

a praac- n« muito cabífi TatfíidO

a sebo,

(3)

DOMINGO, 18-1-1948

ZtiTRAS

B

ARTES

Página 3

O "best-seller" da França, no momento

i HU '•• I »l\.,-í

->>-•'

"A PESTE", DE ALBERT CAMUS

JACQUES MADAULE

*\

'

(Exclusividade para LETRAS E ARTES mo Brasil) /'.

E/

prociso

dizô-lo,

antes

de tudo, porque ó ver d

a-do; este livro davo ser

considerado um dos mah»

impor-tantos aparecidos de trô i anos

para ca. De certo, Albert

Ca-mus não era um doaconhocido.

Perturbara-nos

"Lo

Mytho do

Syriphe"; tínhamos

admirado

"L'Etranger",

alguma

coisa

mato do que uma obra de arto

já em si muito bela; tínhamos

aplaudido o

"Le

Malentendu"

"Caligula";

tínhamos lido com

reconhecimento o« artigos de

"Combat";

tínhamos ouvido, —

e com que emoção?— Camus

diier-nos um dia o que

espora-ya ele» o incróo, dos católicos

Tudo Isso se

encontra

na

"Peste-"»

o há ainda ali muito

mato. Tudo isso, quero dizer,

essa arte que o uma das mais

perfeitas do nosso tempo; essa

narativa

sóbria, onde.

partia-do partia-do um dapartia-do em si mesmo

pouco verosimel. somos de tal

iorma arrebatados pela

histó-ria a ponto de perdermos a

consciência de tudo mais.

Camus viveu, como nós. a

tragédia do nosso tempo, e

ei-lo a atingi-la, se não no

cora-ção, pelo menos muito perto

do coração; tão perto que um

livro como

"La Peste" licara

por todos os séculos como um

testemunho sobre a nossa épo

-ca, da mesma maneira que o

"Werther"

o

"Reno"

ou

o

"Adolphe*

sobre

as

outras.

Nosso mal. não 6 maus, real

mente, um mal individual, uma

dessas doenças

que

coriser-vam o paciente' no isolamento

de Um quarto íechado e de um

sofrimento que

'ele

não poda

repartir

com

mais

ninguém,

atinge toda a coletividade. E'

Nossa doença

é

epidêmica:

a terra hoje que se torna

seme-lhanto a essa cidade de Oran

sobre a qual drapejá a

ban-deira

negra.

Reunidos,

per-manecemos, entretanto,

separa-dos, isolados de uma parte

es-sencial de nós mesmos, como

esseg habitantes de Oran que

deixaram partir um ente

que-rido no momento em quo a

ei-dade ia ser interdita. Entre a

calamidade pública e os sofri-*

mentos individuais, há

sensi-velmente, a mesma relação da

peste que ruge por cima da

ei-dado e os corações

despedaça-dos por uma ausência. Pois

adivinhastes muito bem que a

"Peste", de Camus não é

so-mente a doença epidêmica que

ias, de tempo em tempo, na

Í HJ^Mâ,"

*

espantos?./» «#S8^;

para desaparecer/

enterrando-se não enterrando-se sabe onde até a

pró-xima vez de surgir de novo.

A peste é o mal, o mal que

está em nós o que Peguy, pela

voz de sua Joana d'Arc

ch<x-mava

"O mal universal

Huma-no". Há

épocas

felizes,

em

que o percebemos menos, em

que ele parece não

atormen-tar senão as espôcies

inferio-res, refugiadas nos porões de

nossas

cidades,

como

ratos.

Mas vem o dia, nao se sabo

por que, em que ele sg

mani-festa, de repente,

de

novo.

Por

toda

parte'

encontramos

ratos mortos; depois, um belo

dia, são os homens que

come-çam, por sua vez, a morrer.

E isso dura o que

apraz

a

Deus. A peste desaparece

co-mo viera, enterra-se de novo;

mag não morre jamais é

deve-mos sempre receiar,

empurrei

com o pé ainda uma vez, em

qualquer parte, esse rato

mor-to, emunciador ,da calamidade.

. „ .Então, o dever é simples: é

preciso combater, é preciso

lu-tar, agarrar o mal pelo

pesco-ço, não para derrubá-lo, pois

isso está acima das forças

hu-manas, mas para contê-lo. Foi

assim que alguns homens em

Oran se empenharam na luta

contra p flagelo. Eram homens

bem diferentes entre eles; um,

impelido, de qualquer maneira.

pela sua profusão, o dr. Rioux,

o que é, de ronto, lambem o

narrador; mas os outros.

Tar-roui o Jornalista Ravibert, quo

se encontrava

em

Oran, pór

acaso, e quo a peste ali

pren-deu; o burocrata Grand, que

burila uma frase banat e não

chega a terminá-la.

Não pu*

deram

eles

esquivar-so

ao

apelo da poste. E muito

me-nos o conseguiu o Jesuíta

Pa-neloux,

que

comenta

Santo

Agostinho o é um homem de

¦\ v. f <M**<»

Albert Camus

estudo.

Hoje, trata-se de

ou-tra coisa e mesmo os sermões

não bastam.

Eis, pois, esses homens

reu-nidos por uma amizade de

sur-da e severa, amizade' dos

companheiros

de

arme

que

afrontam o mesmo perigo. Não

importam os diferentes motivos

de cada um deles, .quer digam,

como

Paneloux.

que

devem

pregar, quer experimentem,

co-mo o misterioso Tarrou, certa

tarde, a imperiosa necessidade

de confiar em alguém. Mas na

realidade, nem Paneloux, nem

mesmo Tarrou são os

verdadei-ros intérpretes do autor.

Pa-neloux crê em Deus, é a Deus

que elo se reporta, não para

Justificar-se, mas para explicar

o flagelo, e Camus no-lo

re-pete suficientemente que não

crê em Deus.

Tarrou também

mas o problema de Tarrou,

co-mo ele próprio o diz, é saber

se se pode ser um santo sem

Deus. Ora, não é exatamente

esse o problema de Camus.

Ele se exprime

suficientemon-te, parece-me pela boca do dr.

Rieux:

"Sinto-me mais

solida-rio com 63 -VOTrárias. do quo

com os santos. Não tenho

gos-to, creio, pelo heroísmo o a

santidade. O que me

interes-sa é ser um homem".

Deixo

de

lado

a

resposta

que lhe dá Tarrou e que não

me parece muito pertinente

Poder-se-ia dizer, creio, que ó

exatamente a mesma coisa ser

um santo e um homem. Para

que opor a santidade ao

hu-manismo?

Digo

humanismo

onde seria preciso, talvez,

es-crever humanidade. O que

su-perficialmente se reprova nos

. santog é se mantérèrn~êle!?"

Io-ta da

humanidade.

Lamento

que Camus me dê a impressão

de formular tais juízos.

Pois

como poderia

um

santo

ser

santo se não tivesse sido

an-tes um homem? E em que con*

siste, exatamente, ser um hor

moni? Em ser capas do

son-tir todos os sofrimentos do ho*

mom, pois os santos não par*

!.um de imitadores

do

Jesus

Cristo, o homem perfeito.

Ro-ceio

que subsista ainda

um

pouco de confusão no espirito

de Camus.

Mas essa confusão, não é,

em última análise, a do toda

uma

época? Dir-se-ia que o

homom, colocando a mão so*

bre as potências exteriores as

quais até ao presente so

sub-metia, som controlá-las, logrou

descobrir-se a si mosmo.

Pôs-se» não

talvc.-.,

a

adorar-se»

mas unicamente a ostimar-so,

do tal forma que quando o dr.

Rieux fala de ser

simplesmon-te um homom, significa não

ha-ver nada mais para lá disso o

ser o homem solitário. Solitá*

ria num universo absurdo, num

mundo, onde o homom se

dei-xa de amar a ai mesmo. Já não

poderá

contar com coisa

ai-guma e a peste Jamais será

contida. Uma das cenas mais

comoventes do livro é aquela

em que vemos morrer, no meio

de atrozes sofrimentos, de

so-irimentos bem maiores do que

os suportados habilmento pelos

adultos, uma criança inocento.

O padre Paneloux fica

trans-tornado com o que vê. Estará

ai, sem dúvida, o problema

mais temível, aquele que já

nos Karamazov opunha Ivan a

seu

irmão

Aliocha.

Também

a morte de Paneloux ú uma

• morte duvidosa, como havia

sido o fim de sua vida, em quo

não se sabia mais qual a

ori-gem do devotamento por oi o

testemunhado aos pestiíexos.

Vê-se muito bem

cm

"La

Peste" tudo que um católico

não pode admitir, e que não

nos satisfazemos com a

res-posta de Camus mais do quo

ele admite a nossa.

Entretan-to, uma cooperação é po3sivol

e nesse ponto quero terminar

estas breves notas. Mesmo se

há muito a dizer sobre os ser

mões de Paneloux, sobretudo

o segundo, o certo é que

Ca-mus quiz fazer dele um

cris-tão o esse criscris-tão o

romancis-ta não repeliu. O jesuíromancis-ta man~

tem o seu lugar nas equipas

heróicas formadas polo dr.

Ri-eux, da mesma maneira pela

qual o romancista queria quo

03 católicos organizassem as

suas, Junto aos incréos como

ele. Os católicos não se negam

a tal coisa. Mas Camus deve,

por sua vez, compreender, quo

o que os distingue, ó, acima

àa

'bruma

empestaãa que

ro-cobre

a

humanidade, existir

uma transcendência,

sem

a

qual, na realidade, esses

com-bates não teriam nenhum

sen-tido.

Sercmog menos homens

por aceitarmos a

transcendeu-cia? Ou, ao contrário, o

reco-nhecimento

do

Transcendente

não será o começo e o fim de

toda a humanidade

verdadei-ra? Tal o problema final que

estabelece esse belo livro. Não

há outro mais atual, nem mais

importante para a salvação do

—nosso mundo. Não - esqueçamos-,

todavia, ter sido a paz

pro-metida aos homens de

boa

vontade.

Camus se inclui no

número deles. E' com alegria,

apesar de tudo que nos

divi-de, que lhe tomamos a mão

entre as nossas.

O LIRISMO DE ALBERTO DE OLIVEIRA

Fxprcssáo das mais puras do lirismo de Alberto de Oliveira

constitui u "ülnqucUc", qua .sob o titulo "Póstuma", (oi editada

hu nltfum tempo, pela Acndomln Brasileira du Letras. O volume,

prefaciado por Alolsio do Castro, Inlcta-so com um trecho du prn«

sa, o fragmento autobiográfico intitulado "Começo de Vida", cm ,

quo o poeta esquemaliz;» os primordios de sua formação

lit:rá-ria. Quanto as poesias ai onfclxatlns, constituem, como já

(li*se-mos, alguns dos instantes mais felizes do grande cantor da nn«

turp*a tropical. São geralmente de uma extraordinária

delicado-za, do mais puro lirismo o de, uma suavidade de expressão quo

desconcertará quem se habituou a julgar Alberto de Oliveira um

parnasiano frio o impossível.

De resto, cs leitores poderão comprovar isso, pelas poesias

que aqui reproduzimos.

LUÍS HEITOR VAI DIRIGIR UMA DAS SEÇÕES

DA UNESCO

Acaba de ser escolhido para dirigir uma da.s seções mais

mt-portantes da Divisão de Letras c Artes da UNESCO, O professor

Luiz Heitor Corrda de Azevedo, da nossa Kseola de Música c uma

das maiores autoridades do Brasil cm assuntos do tolck-lore

mu-slcal. Luiz Heitor, que regressou ha pouco de Portugal, onde

jun-lamente com Hcnato Almeida ('Amara Cascudo tomou parte uum

Congresso de ' Folk-Lorò Luso-Brasllclro, embarcará dentro em

breve para Paris, a fim de assumir o seu cargo, que atribuindo

n um brasileiro constitui, sem dúvida, uma alta deferença no

nosso pais.

AS ATIVIDADES DA COMISSÃO NACIONAL

DE FOLCLORE

Km reunião hú pouco realizada no Itamarati, a Comissão

Nacional de Folk-I.orc do Instituto Brasileiro de Kdueafão,

Cien-cin c Cultura, presidida pelo Sr. Benato Almeida, estabeleceu um

largo plano He atividades para o corrente anos. DOsse plano

cons-tara, entre outras medidas d© grande alcance para o referido

ra-mo do estudos, a organização de manuais de pesquisas folk-loricas

e a realização de cursos, conferências e festivais folk-loricos, conr

a rcvivcsccncias de festas tradicionais.

Foram encarregadas de

importantes trabalhos incluídos no referido programa, as Sras.

Cccilia Meireles c Oney de Alvarenga, os Srs. Joaquim Ribeiro e

Câmara Cascudo.

MORREU O ESCRITOR BENJAMIM LIMA

Faleceu na semana passada, o jornalista c escritor

líenja-miro Lima. Foi um espírito que se dispersou todo. na atividade

da imprensa, amassando colidianaimeutc, para a veracidade do

público, isso a que alguém cbamou de

"pão de Molocb", não

che-gando a realizar uma obra à altura de suas possibilidades, aliás

bem vastas.

O DESAPARECIMENTO DE LEONARDO MOTA

Foi recebida com pesar em todo o Brasil, a noticia da morta

de Leonardo Mota, um dos mais laboriosos pesquisadores do nosso

folk-lore. Para colher nas fontes as expressões mais genuínas do

sentimento popular, Leonardo Mota varejava os sertões,

perma-necendo em contato íntimo com vaqueiros, tabaréus e até

can-gacciros. Realizou, por isso, uma obra valiosíssima de

documen-taçãò, infelizmente ainda mal conhecida no sul do pais, mas que

bastará para que lbc guardemos o nome.

"TERNURA E DESLUMBRAMENTO"

Está sendo aguardado com vivo ialcres.se

o novo livro do

poefa Carlos Conceição, intitulado

"Ternura c Deslumbramento"

e que deverá sair nos próximos dias da.s oficinas da

"Imprensa

Nacional".

POESIAS DE MAURO CARMO

Um acontecimento literário interessante tem sido a

nco-Hilda carinhosa dispensada pelo nosso público ao poeta Mauro

Carmo,

que

acaba

do

retornar

ao

panorama

literário

com

"Vagalume".

Elogiado na Academia Brasileira

de Letras por Olegario

Mariano, esse livro de versos comunica uma mensagem

como-veute pela sua humanidade e pela doçura do seu lirismo. Mauro

Carmo, obediente AS normas tradicionais do verso,

revcla-s*

principalmente um cultor esmerado e atento do son^í «* seu

livro "Vagalume" atesta, em toda a linha, a pur*za de uma

vocação poética sugestiva. Impresso pela EdW»ra

"A Noite.

"Vagalume" está se destacando significativamente no cenário

editorial,

' J

* A VOLTA DE CORNELIO PENA

A Editora A Noite vai inaugurar a sua Coleção de

Roman-ce3 Brasileiros, lançando um livro que se destina a ocupar um

dos mais importantes lugares na produção deste ano. Trata-se

de "Repouso", o romance que há longos anos Cornelio Pcuna

vi-ilha escrevendo.

.

Autor de "Fronteira" e

"Dois romances de Nico Horta ,

li-vros consagrados pelo possa crítica e colocados cm uma posição

revolucionária no domínio da renovação literária do Brasil,

Cor-nclio Penna se destaca pela beleza de seus romances, que fixam

vidas ásperas e abandonadas, c focalizam agudos dramas de

in-quictaçâo e amor.

"Repouso"-será uma grandiosa oportunidade para que o

nos-so público tenha a verdadeira medida de um dos mais poderonos-sos

romancistas cm língua portuguesa.

.,

A Ü./1/IWIrIE

Diretor:

ERJNANI REIS

LETRAS E ARTES

ORIENTAÇÃO DE

JORGE LACERDA

COLABORADORES:

Adonias Filho, Alcântara Silveira, Alceu Amoroso Lima,

Al-meida Fischer, AlAl-meida Sales, Alphonsus Guimarães Filho

Ani-bal Machado, Antônio Rangel Bandeira, Ascenclino Leite.

Au-Susto Frederico Schmidt, Augusto Meyer. Batista ia Costa. Breno

Acioli, Brito Broca, Cassiano Ricardo, Cecília Meireles,

Cris-tianò Martins, Ciro dos Anjos, Clarisse LispecUor, Cláudio T.

Barbosa, Dalton Trevisan, Dantas Mota, Dinah S, de Queiroz.

Canabrava, Fernando Ferreira do Lacerda, Frariklih de Oli

veira, Geraldo Ferraz, Gabriel Munhoz da Rocha. Guerreiro

Ra-mos, Gustavo Barroso, Herbert Parentes Fortes, Herman

Li-ma, Jayme Adour da Câmara, João Conde, Joaquim Ribeiro.

Jorge de Lima, José F. Coelho. José Geraldo Vieira, José S.

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Or-nelas, Manuel Bandeira, Marcos Konder Reis, Mário da Silva

Brito, Mário Qúiritahà, Marques Rebelo, Murilo Mendes,

No-velli Júnior, Neli Dutra. Octavio de Faria, Oliveira e Silva

Otto Maria Carpeaux, Paulo Ronai, Peregrino Júnior,

Ren-zo Massarani, Ribeiro Couto, Rodrigo M; F. de Andrade. Roger

Bastido, Rogério Corção, Roland Corbisier, Rosário Fusco.

Ru-bem Biáfora. Santa Rosa. Sérgio Mitliet, Servulo ae Melo. Sylvio

da Cunha. Tasso da Silveira, Tcmístocles Linhares, Thiers Mar

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ILUSTRADORES:

Alfredo Ceschiatti, Armando Pacheco, Athos Bulcâo, Marcicr

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Kerr.

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