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Estudos Lingüísticos XXXIII, p , [ 1110 / 1115 ]

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Academic year: 2021

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PAUSA E PAR DIAL ÓG ICO: (CO)RELAÇÃO NA A TIVID ADE DISCURSIVA DE SU JEITOS CO M DOENÇA DE PARK IN SON

(PAUSE AND DIALOGIC ESTRU TURATION: (CO)RELATION IN DISCOU RSIVE ACTIVITY OF SUBJE CTS WITH PARKINSON `S DISEA SE)

Lilian Fáti ma ZAN IBO NI (Instituto de Estudos da Linguagem – Uni camp/CAPES)

ABSTRA CT: This paper aims to show some (co)relation between pause and dialogic estruturation in spontaneous conversation of two subjects with Parkinson`s disease when compar ed to t wo subjects with no cerebral lesion.

KEYWORDS: pause; discourse; Par kinson’s diseas e.

Alguns dos pressupostos teóricos que fundamentam nossa proposta provêm d e estudos realizados pel a equipe do Projeto “ Gramática do Português Falado”, e desenvolvidos por autores como Jubran et al (1993), Silva et al (1993; 1996), Hilgert (1993), Fávero et al (1996 ), Koch et al (2000). Noss a opção por esses autores deve-se ao fato de que, para eles, a fala, em seu curso dialógico, não é u m fenômeno anárquico e aleatório. Ao contrário, t rata-s e d e um fenô meno que mantém regularidad es em sua estrutura e, assi m, é hierarquicamente organi zado e formulado nu m construto interacional entre os interlocutores que (s e) constituem a (n a) atividade conversacional.

É o que se pode depreender, por exemplo, de Jubran et al (1993), p ara quem “a quase si multan eidade entre a elaboração e a mani festação do discurso, d eco rrent e dessa espontaneidad e, n ão afasta o teor d e atividade estrutural mente o rganizada, que caracteriza u ma conv ersação”. Aind a neste s eu trab alho, a autora defende a idéi a de que a organização da atividade verbal é ordenada cognitivamente, mes mo sem planejamento p révio e, portanto , tem um pad rão próprio (p.394 )

Para todos esses autores, o caráter estruturado r dessa atividade é o turno1 convers acional, o qu al pede u ma construção colaborativa entre os interlo cutores e, assi m, é produ zido, em algu ma medida, não só nu ma sucessão temporal, mas t amb ém, por referência ao turno anterior.

Baseando-nos na possibilidade d e estruturação da conversação , foi em Fávero et al (1996) que consegui mos supo rte teóri co-metodológico mais diret amente relacion ado ao nosso propósito neste estudo. Para estas autoras, a atividade convers acional se org aniza em pares dialógicos, os quais estão cat egorizados de acordo com sua função, co m su a n atureza e com sua forma.

1 O turno pode ser entendido como aquilo que o falante faz ou diz enquanto tem a palavra, incluindo, aí, a possibilidade do silêncio (MARCUSCHI, 1997; HILGERT, 1993). Koch (2000), por sua vez, destaca o papel do turno como fator organizacional da conversação, valendo a regra “ fale um de cada vez” – o que, para Marcuschi, acentua o caráter disciplinador do turno discursivo na conversação. (p.84)

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Quanto à função do par dialógico , seu p apel s eria o de introdu zir u m (sub)(super) tópico dis cursivo, d e d ar continuidade a esse tópico, e de redirecionar ou, até mes mo, mud á-lo. Já quanto à natureza, as autoras classi ficam os pares dialógicos em:

(a) pedido de in formação: pode ser entendido co mo algo que o interlocutor deseja saber e, assi m, sua resposta i mplica no forn eci mento e/ou es clarecimento da informação solicitada. Vejamos um exemplo (gri fo ) d e nosso corpus:

*exemplo 1: con versa entre L. e C. (P1) sobre alguns hábitos de C: L. o s enhor l ê bast ante sob re Parkinson não lê?

C. leio eu eu sou::: sócio do:: Brasil Parkinson ++ me mandam::: muito boa: ++ ah::

ah:: são boletins ++ muito bem explicativos dá pra g ente ter u ma idéi a ++ sabe qu e o Parkinson foi d etectado + por u m médi co né?

(b) pedido de con firmação: pod e ser entendido como a solicitação de sustentação ou certifi cação d a in formação dad a p elo interlocutor na resposta anterio r. Vejamos as partes sublinhad as do s eguinte exemplo d e nosso corpus:

*exemplo 2: con versa entre L. e J. sobr e o nome da mãe de J.: J. + (0.83) E ma (inco mpreensível) Pavarini

L. Pavarin? J. PavariNI L. NI?

(c) pedido de esclarecimento: pode ser ent endido como o momento em que o interlocutor não consegue ter co mpreens ão (auditiva ou não) do enunciado que lhe foi apresentado. Vejamos os destaques do seguinte exemplo de nosso corpus:

*exemplo 3: L. e C. con versam sobre o nom e de alguns d e seus familiares: L. e a netinha?

C. a n etinha:: chama:: Estela L. co mo?

(d) pergunta retóri ca: pod e ser entendido como u ma p ergunta que não exige resposta, uma vez qu e o fal ante elabora e responde à pergunta, mantendo seu turno ou estabelecendo contato . Neste caso, não apres entaremos exemplos, u ma v ez que não constatamos a ocorrência d e u ma p ergunta d esta natureza na atividade discu rsiva dos quatro sujeitos de nossa p esquisa.

Considerada, porém, a ocorrên cia significativa de situações conv ersacionais como as que estão em d estaque no exemplo abai xo

*exemplo 4: con versa entre L., J. e E .: L. seu (J.) o senhor vai qu erer p assar perfume? E. ((risos))

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J. + (3.53) L. vai?

J. (ainda t enho de p edir pra ela) L. ah:: tem d e pedir ((risos))

E. então p assa bem po rque depois quando elas forem v er o fil me + vão sentir + o cheiro

e vai ter saudade d e vo cê ((risos))

J. + (0.65) mas é isso que eu qu ero *exemplo 5: conv ersa entre L. e C.: L. quantas revistas o s enhor já leu? C. + (1.33 ) sobre o assunto? L. é

C. + (0.83 ) ah várias + (assunto à base de) parkinsoniano ++ tem parkinsoniano qui::: se

apro fund a:: (na:: n a) no assunto

L. dizem que é a melho r maneira de:: + de lidá co m a doen ça é estudá sobre ela

C. é:: (0.85) conh ecê:: a::: + eu sei eu tenho u ma idéia muito b em:: + formada ++

porque:: ++ num é tão di fícil num é co mplicado nu m é ++ difícil:: a in formação é:: simpl es ++ é u ma enzi ma + que faz falta no cérebro ++ e:::ssa enzi ma:: dizem

L. [isso]

que:: treme né? + num sei eu tô tomando um remédio muito bo m ++ nu m tenho tremido muito

propusemos, em nosso estudo, uma categoria a qual deno minamos co mo comentário. Este designaria a exposição de u ma opinião ou d e uma idéia do falante sob re o assunto tratado no turno de s eu interlocutor. Embora não tenha caráter interrog ativo, o comentário exige, a nosso ver, que o interlocutor (tamb ém) faça u ma exposição de idéias e/ou de argu mentos para que h aja progressão tópica. Desse modo, comp reendemos o co mentário co mo uma atividade verb al que, por exigir um maior grau de elaboração para a constru ção do enun ciado, exige, conseqüentemente, u ma atividade cognitiva mais “refinada”.

Quanto à forma do par dialógico, esta “pode ser considerad a d ecorrente do processo interacional e não interior a ele” (FÁVE RO E T AL., 1996, p.496). A forma do par dialógico é ap resent ada pelas autoras como se segue:

(a) pergunta fech ada: pode ser entendida como u ma pergunta que exige u ma resposta com o uso de “ sim/não”, ou que mant enha esse mesmo valor semântico. Vejamos u m exemplo retirado do nosso corpus:

*exemplo 6: L. e J. con versam sobre a atividade profissional de J. no IBGE: L. toda vida o senhor trabalhou lá?

J. toda vida único emp rego L. no:ssa

(b) pergunta aberta: pod e ser entendida como uma pergunta que, geral mente iniciada por um pronome interrogativo, exige u ma resposta que esteja

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vinculada à condição do p rono me utilizado. Vejamos um exemplo extraído de nosso corpus:

*exemplo 7: L. e C. con versam sobre caract erísticas dos netos de C.: L. V.? ++ qu al que é o mais art eiro?

C. o mais arteiro acho que é a:: J.

Com base, então, nessas observ açõ es teóricas, consid eramos, em nosso estudo, a fo rma do par dialógico conjugada a sua natureza, veri ficando, então , co-oco rrências dessas cat egorias no desenvolvi mento da atividade discursiva dos sujeitos que integram nossa análise, conco mit antemente à presen ça d a pausa no início do turno convers acional.

Para tanto, gravamos e digitalizamos a fal a de quatro sujeitos – dois parkinsonianos (P1 e P2) e dois sem lesão neurológica (G1 e G2) – e en fatizamos as características acústicas (de preen chimento e de duração) das p ausas no início dos turnos conversacionais, co mparando os resultados entre estes dois grupos de sujeitos. Para a seleção destes sujeitos, pro curamos manter o mes mo critério de escol arização, sexo e idade. Quanto à gravação da atividade verb al, utilizamos um grav ador tipo DA T, marca SO NY, modelo TCD-D8, acoplado a u m micro fon e SONY , modelo ECM-MS957, localizado a cerca de 30 cm dos sujeitos gravados. Digitalizamos os trechos em que se dava a troca entre os turnos conv ersacionais a partir do prog rama co mput acional Multi Sp eech, mod elo 3700 , da Kay Elemet rics. Selecion amos as pausas em início de turno que apresentaram duração igual ou maior que 0,5s eg e as pausas silenciosas, preen chidas e mistas2.

Conjugando, ent ão, as caract erísticas dialógicas da atividade conv ersacional desses quatro sujeitos às características (acústicas) de preenchi mento das paus as, obtivemos os resultados que constam no quad ro 01 .

Vistos os resultados que obtivemos, veri ficamos que a necessidade d e elaboração da cat egoria di alógica com entário se justi fica, n este trabalho, por dois motivos: (a) é o tipo/natureza de p ar dialógico de maior ocorrência tanto n a fala dos parkinsonianos quanto na dos sujeitos sem les ão neurológica; e (b) é no início de turnos organizados por esta cat egoria que se d eu o maio r nú mero de paus as, princip al mente na fala dos parkinsonianos.

Além disso, estas pausas tiveram maior duração do que aquelas qu e ocorreram diante de outros tipos de pares dialógicos , fato que, a nosso ver, pode atribuir ao “ comentário” a condição de exigir maior grau de elaboração tanto por p arte do locutor quanto por part e de seu interlocutor.

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Para a caract erização das pausas qu anto ao seu p reenchi mento (ou n ão), recorremos à Chacon & Schul z (2000 ).

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P1 G1 P2 G2 Pa r dialógico Natureza/ forma Tipo de pausa N=60 % N=7 % N=84 % N=8 % Silenciosa 13 21,66 01 14,28 22 26,19 04 50,00 Preenchida 03 5,00 00 00 00 00 00 00 In formação/ aberta Mista 01 1,66 00 00 03 3,57 00 00 Silenciosa 04 6,66 03 42,85 18 21,42 00 00 Preenchida 02 3,33 00 00 01 1,19 00 00 In formação/ fech ada Mista 02 3,33 00 00 01 1,19 00 00 Silenciosa 16 26,66 03 42,85 24 28,57 03 37,5 Preenchida 03 5,00 00 00 01 1,19 00 00 Co mentário/ aberta Mista 06 10,00 00 00 06 7,14 00 00 Silenciosa 04 6,66 00 00 04 4,76 01 12,5 Preenchida 00 00 00 00 00 00 00 00 Con firmação/ fech ada Mista 02 3,33 00 00 00 00 00 00 Silenciosa 00 00 00 00 02 00 00 00 Preenchida 00 00 00 00 00 00 00 00 Esclareci mento/ aberta Mista 00 00 00 00 00 00 00 00

Quadro 01: correlação ent re p ausas (qu anto ao seu p reenchi mento) e os tipos de pares

dialógicos em P1, em G1, em P2 e em G2 .

Esta condição de maior oco rrência de pausa frente a categoria dialógica comentário associ ada à maior du ração dest as pausas pode indiciar dificuldad es de linguagem nos sujeitos parkinsonianos deste estudo, que, como estratégia/recu rso para driblar estas di fi culdades, parecem reco rrer ao uso de pausas de modo a obter o tempo necessário para a elabo ração/programação – cognitiva – d e sua atividad e verbal .

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CHA CON , L. & SCHUL Z, G. Duração d as pausas em conversa espontânea de parkinsonianos. Caderno de Estudos Lingüísticos. v.39, p.51-71 , 2000.

FÁVERO , L. L.; ANDRADE, M. L . C. V. O.; AQUIN O, Z. G . O. Perguntas e respostas como mecanis mos de coesão e coerên cia no t exto falado. In: CASTILHO , A . T. & BASILIO , M. (Org.) Gramática do Português falado: estudos descritivos. Campin as, Editora da UN ICAMP/FAPESP, v.4, p.473-508, 1996a.

FÁVERO , L. L.; ANDRADE , M. L. C. V. O.; AQUINO, Z. G. O. Estratégias de construção do texto falado: a co rreção. In: KATO , M. (Org.) Gramática do Português falado: convergências . Campinas, Editora d a UN ICA MP/FAPESP, v .5, p.355 -66,1996 . HILGERT, J. G. Problemas d e formulação. Estudos Lingüísticos XXI (Franca), v.2, p. 823-829, 1992 .

HILGERT, J. G. Esboço de u ma fundament ação teóri ca para estudo das atividades de formulação textu al. In: CA STIL HO, A . T. (Org.) Gramática do Português falado: as abordagens. Campinas , Editora da U NICAMP/FAPESP, 1993. v.3 , p.99-115.

JUBRAN, C. C. A. S.; U RBANO, H.; KO CH, I.G.V.; et al. O rganização tópica da convers ação. In: ILARI, R. (Org.) Gramática do Português falado: níveis de análise lingüística. 2ª edição. Campinas: Editora da UNICAMP/FAPE SP, v .2, p.359 -97, 1993b. KOCH, I. V. A inter-a ção p ela linguagem. 5a. edi ção . São Paulo: Cont exto, 2000 . SIL VA, M. C. P. S.; KOCH, I. G. V. A di mensão ilocutória. In: CASTILHO , A. T. (Org.) Gramática do Português falado: as abordagens . Campinas, Editora da UNICAMP/FAPESP, 1993 . v.3, p.19 -29.

SIL VA, M. C. P. S.; KOCH, I. G. V. Estratégias de des acel eração do texto falado. In: KATO, M. (O rg.) Gramática do Português falado: convergências. Campin as, Editora da UNICAMP/FAPESP, 1996. v .5, p.327 -38.

RESUMO: este estudo tem por objetivo apres entar algumas (co)relações entre pausa e estruturação dialógica n a fala espontân ea d e dois suj eitos parkinsonianos co mparada à de dois sujeitos sem lesão neurológica.

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