Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
Órgão 7ª Turma Cível
Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0740356-29.2020.8.07.0000 AGRAVANTE(S) BANCO DO BRASIL SA
AGRAVADO(S) BLL INFORMATICA LTDA - ME,BRAYTNER CLAUDINO DA SILVA e LAURA BEATRIZ GONCALVES SIMOES
Relatora Desembargadora GISLENE PINHEIRO
Acórdão Nº 1311726
EMENTA
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TITULO EXTRAJUDICIAL. PENHORA. VERBA SALARIAL. AUXÍLIO EMERGENCIAL. IMPOSSIBILIDADE. LIBERAÇÃO DE VALORES NA ORIGEM. MANUTENÇÃO.
1. Conforme o artigo 833, inciso IV, do Novo Código de Processo Civil, são impenhoráveis os
vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações e os proventos de aposentadoria, dado que se destinam ao sustento do devedor.
2. A jurisprudência desta Corte, bem como do Superior Tribunal de Justiça tem se orientado no sentido de que o pedido de constrição sobre proventos mensais auferidos pelo devedor são, em regra, impenhoráveis, exceto para pagamento de dívidas de caráter alimentar. 2.1 O caráter impenhorável das verbas salariais também se aplica aos valores atinentes ao auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal (Lei n. 13.982/2020), uma vez que tal auxílio se destina justamente a garantir a subsistência do beneficiário no período da pandemia pela Covid-19.
3. No caso dos autos, a dívida vindicada não possui natureza alimentar (Cédula de Crédito). Assim, ante o caráter impenhorável das verbas bloqueadas, resta acertada a decisão agravada que determinou a liberação de tais valores em sede de tutela de urgência, estando plenamente demonstrados os requisitos para sua concessão, nos termos do artigo 300, do CPC, não havendo que se falar em sua reforma.
4. Agravo de Instrumento conhecido e não provido.
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, GISLENE PINHEIRO - Relatora, CRUZ MACEDO - 1º Vogal e FÁBIO EDUARDO MARQUES - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. IMPROVIDO. UNANIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 21 de Janeiro de 2021
Desembargadora GISLENE PINHEIRO Relatora
RELATÓRIO
Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto por BANCO DO BRASIL S.A. contra decisão proferida pelo Juízo da Quarta Vara Cível de Brasília (Id. 71303686 dos autos de origem) que, nos autos de execução de título extrajudicial nº 0021197-22.2012.8.07.0001, determinou o desbloqueio nas contas correntes dos executados nos seguintes termos:
“Trata-se de cumprimento de sentença movido por BANCO DO BRASIL em desfavor de BLL INFORMATICA LTDA – ME, BRAYTNER CLAUDINO DA SILVA e LAURA BEATRIZ GONÇALVES SIMÕES.
Em busca da satisfação do seu crédito, o exequente requereu a penhora via Bacenjud para bloqueio de quantia em dinheiro na conta bancária dos executados, o que foi deferido e realizado por este juízo, bloqueando-se os montantes de R$ 2.233,31, R$ 1.047,62 e 130,07 do Executado Braytner Claudino e R$ 2.948,01 e R$ 10,05 da Executada Laura Beatriz. Em razão desta constrição realizada, os executados formulam pedido de desbloqueio ao argumento de que a penhora recaiu sobre valores de natureza salarial e valores atinentes aos auxílios emergenciais recebidos em razão da COVID-19, o que encontra óbice no art. 833, IV, do Código de Processo Civil.
É o brevíssimo relatório. DECIDO. (...)
Compulsando os autos, verifico que a penhora do valor de R$ 1.047,62, realizada em conta corrente do Executado Braytner e a constrição da quantia de R$ 2.948,01 na conta corrente da Executada Laura Beatriz recaíram sobre verba salarial e verba oriunda do auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal em razão da COVID-19.
Sendo assim, os valores descritos devem ser restituídos aos executados por estarem abarcados pela impenhorabilidade, mantendo-se os demais bloqueios realizados.
Ante o exposto, DEFIRO PARCIALMENTE a impugnação ofertada e DETERMINO o desbloqueio das quantias de R$ 1.047,62, realizada em conta corrente do Executado Braytner e da quantia de R$ 2.948,01 na conta corrente da Executada Laura Beatriz. Após o trânsito em julgado da presente decisão, libere-se em favor dos Executados as referidas quantias, mais acréscimos legais.
Ainda, considerando que não houve impugnação ao restante do bloqueio de ID 69760509, libere-se em favor do credor BANCO DO BRASIL S.A, as quantias de R$ 2.233,31, R$ 130,07 e R$ 10,05, mais acréscimos legais.
Intimem-se e cumpra-se.”
Em suas razões recursais (Id. 19693731), o agravante aduz que não estão presentes os requisitos para a antecipação de tutela vindicada pelo agravado. Afirma que inexiste verossimilhança das alegações, tampouco periculum in mora, bem como ausência de risco ao resultado útil do processo. Afirma que a agravada não comprovou a urgência no desbloqueio deferido na origem.
Sustenta, alternativamente, a possibilidade de penhora de 30% dos valores bloqueados. Defende a mitigação da impenhorabilidade salarial, ainda que não se cuide de crédito com natureza alimentar. Colaciona jurisprudência que entende corroborar sua tese.
Requer, ao final, o conhecimento do recurso e reforma da decisão agravada. Preparo (Id. 19693732).
Contrarrazões no Id. 19846142. É o relatório.
VOTOS
A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - Relatora
Estando presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Cuida-se de agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto por BANCO DO BRASIL S.A. contra decisão proferida pelo Juízo da Quarta Vara Cível de Brasília (Id. 71303686 dos autos de origem) que, nos autos de execução de título extrajudicial nº 0021197-22.2012.8.07.0001, determinou o desbloqueio nas contas correntes dos executados nos seguintes termos:
“Trata-se de cumprimento de sentença movido por BANCO DO BRASIL em desfavor de BLL INFORMATICA LTDA – ME, BRAYTNER CLAUDINO DA SILVA e LAURA BEATRIZ GONÇALVES SIMÕES.
Em busca da satisfação do seu crédito, o exequente requereu a penhora via Bacenjud para bloqueio de quantia em dinheiro na conta bancária dos executados, o que foi deferido e realizado por este juízo, bloqueando-se os montantes de R$ 2.233,31, R$ 1.047,62 e 130,07 do Executado Braytner Claudino e R$ 2.948,01 e R$ 10,05 da Executada Laura Beatriz. Em razão desta constrição realizada, os executados formulam pedido de desbloqueio ao argumento de que a penhora recaiu sobre valores de natureza salarial e valores atinentes aos auxílios emergenciais recebidos em razão da COVID-19, o que encontra óbice no art. 833, IV, do Código de Processo Civil.
É o brevíssimo relatório. DECIDO. (...)
Compulsando os autos, verifico que a penhora do valor de R$ 1.047,62, realizada em conta corrente do Executado Braytner e a constrição da quantia de R$ 2.948,01 na conta corrente da Executada Laura Beatriz recaíram sobre verba salarial e verba oriunda do auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal em razão da COVID-19.
Sendo assim, os valores descritos devem ser restituídos aos executados por estarem abarcados pela impenhorabilidade, mantendo-se os demais bloqueios realizados. Ante o exposto, DEFIRO PARCIALMENTE a impugnação ofertada e DETERMINO o desbloqueio das quantias de R$ 1.047,62, realizada em conta corrente do Executado Braytner e da quantia de R$ 2.948,01 na conta corrente da Executada Laura Beatriz. Após o trânsito em julgado da presente decisão, libere-se em favor dos Executados as referidas quantias, mais acréscimos legais.
Ainda, considerando que não houve impugnação ao restante do bloqueio de ID 69760509, libere-se em favor do credor BANCO DO BRASIL S.A, as quantias de R$ 2.233,31, R$ 130,07 e R$ 10,05, mais acréscimos legais.
Intimem-se e cumpra-se.”
Sobreveio na origem, reconsideração de parte da decisão agravada, nos seguintes termos (Id. 73409465 dos autos de origem):
“(...)
Ante o exposto, corrijo a determinação precedente (ID 72926659), para determinar a expedição de ofício ao Banco do Brasil, a fim de transferir as quantias de R$ 1.047,62, realizada em conta corrente do Executado Braytner e da quantia de R$ 2.948,01 na conta corrente da Executada Laura Beatriz para as contas de origem do bloqueio realizado no ID 69760505, independentemente do trânsito em julgado, ressaltando que eventuais custos da operação bancária poderão ser deduzidos pela Instituição Financeira do valor a ser recebido.
Ainda, ressalto que as quantias R$ 2.233,31, R$ 130,07 e R$ 10,05, mais acréscimos legais, deverão ser liberadas em favor do credor BANCO DO BRASIL S.A.
Sobre as disposições da penhora, nosso atual Código de Processo Civil, dispõe que, exceto nas hipóteses legais, não se admite a penhora sobre verba de natureza salarial, consoante regra insculpida no artigo 833, inciso IV:
Art. 833. São impenhoráveis: (...)
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º;
(...)
§ 2o O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8o, e no art. 529, § 3o.
Nesse caso, os créditos oriundos de verba com natureza salarial, somente em casos excepcionais, como prestação alimentar, podem ser penhorados para satisfazer as necessidades do alimentando. Ou seja, a penhora não pode incidir sobre valores que tenham origem salarial, o qual se revela, em regra, como hipótese de impenhorabilidade absoluta.
Nesse compasso, a jurisprudência deste eg. Tribunal tem se orientado no sentido de que o pedido de constrição sobre proventos mensais auferidos pelo devedor são impenhoráveis, sendo, além do mais, meramente exemplificativo - numerus apertus - o rol das verbas mencionadas no dispositivo.
Assim tem se manifestado esta e. Corte de Justiça:
PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PEDIDO DE CONSTRIÇÃO SOBRE 30% DOS
PROVENTOS MENSAIS AUFERIDOS PELO DEVEDOR. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. INDEFERIMENTO DA PENHORA. VERBA SALARIAL. IMPENHORABILIDADE. ART. 833, INCISO IV, NCPC. NATUREZA ALIMENTAR. MÍNIMO EXISTENCIAL. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRECEDENTES DO C. STJ. RESP 1.184.765/PA. REGIME DOS RECURSOS REPETITIVOS. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. DECISÃO MANTIDA.
1. Dispõe o art. 833, inciso IV, do Novo Código de Processo Civil, que são impenhoráveis os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º.
2. Em razão de tais verbas terem natureza alimentar e de assegurarem ao indivíduo as condições mínimas de existência, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana, o c. Superior Tribunal de Justiça, por reiteradas vezes, tem interpretado o referido dispositivo no sentido de que elas possuem proteção absoluta, diante da expressa vedação legal.
3. Logo, restando inequívoco que a penhora vindicada recairia sobre valores que o agravado recebe a título de salário, já que Fisa a constrição, em folha, de 30% dos rendimentos do executado, a pretensão de fato é inadmissível, porquanto, como dito, os vencimentos oriundos de salários e/ou remunerações estariam blindados pelo manto da impenhorabilidade.
4. Sendo manifesta a improcedência do instrumento aviado pela recorrente, aliado ao fato de os argumentos que o embasa estarem em confronto com jurisprudência dominante deste egrégio Tribunal de Justiça e do Superior Tribunal de Justiça, não merece reparos a r. decisão atacada.
5. Agravo de Instrumento conhecido e desprovido.
(Acórdão n.1006046, 07011703820168070000, Relator: ALFEU MACHADO 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 24/03/2017, Publicado no DJE: 18/04/2017. Pág.: Sem Página Cadastrada.). (Grifou-se);
AGRAVO DE INSTRUMENTO EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL PENHORA SOBRE 30% DE SALÁRIO IMPENHORABILIDADE EXCEÇÃO PREVISTA NA NOVA LEI PROCESSUAL NÃO CARACTERIZADA.
01. inciso IV do art. 833 do CPC/2015 corresponde ao inc. IV do art. 649 do CPC/1973, com mínima alteração de texto para corrigir a redação, sem modificação da norma. Prossegue impenhorável, em regra, a remuneração do executado, sendo meramente exemplificativo (numerus apertus) o rol das verbas mencionadas no dispositivo
(vencimentos, subsídios, soldos, salários etc.). Qualquer verba que serve ao sustento do executado desfruta de natureza alimentar, sendo, assim, impenhorável como regra geral. (Ed. Revista dos Tribunais, 2ª Ed., p. 2013)
02. Somente é possível aplicar a exceção prevista no § 2º do art. 833 do CPC quando demonstrados os pressupostos para tal.
(Acórdão n.1031049, 07061067220178070000, Relator: ROMEU
03. Recurso provido.
GONZAGA NEIVA 7ª Turma Cível, Data de Julgamento: 12/07/2017, Publicado no DJE: 21/07/2017. Pág.: Sem Página Cadastrada.). (Grifou-se);
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PENHORA DE REMUNERAÇÃO. NATUREZA DE VERBA ALIMENTAR. IMPENHORABILIDADE. LIMITE. COMPROVAÇÃO. LIBERAÇÃO DA QUANTIA BLOQUEADA.
1. Ateor do art. 833, inciso IV, do Novo Código de Processo Civil, são impenhoráveis os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvadas as importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários mínimos mensais.
2. Agravo de instrumento parcialmente provido para impedir o bloqueio da remuneração da devedora. Agravo interno prejudicado.
(Acórdão n.1055864, 07095017220178070000, Relator: FLAVIO ROSTIROLA 3ª Turma Cível, Data de Julgamento: 25/10/2017, Publicado no DJE: 09/11/2017. Pág.: Sem Página Cadastrada.). (Grifou-se).
Logo, resta inequívoca a impenhorabilidade da verba salarial, porquanto, os rendimentos salariais, em regra, objetivam a atender às necessidades indispensáveis à sobrevivência do devedor e de seus familiares, não se mostrando razoável admitir a penhora de tais valores, de modo a privilegiar o pagamento da dívida.
Esse pensamento encontra ressonância na jurisprudência do c. Superior Tribunal de Justiça, vejamos:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DÉBITOS LOCATÍCIOS. VERBAS SALARIAIS. PENHORA.
IMPOSSIBILIDADE. ARTIGO 649, IV, DO CPC/73. RECURSO MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL. INCIDÊNCIA DA MULTA DO ART. 1.021, § 4º, DO NCPC. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Aplica-se o NCPC a este julgamento ante os termos do Enunciado Administrativo nº 3 aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. 2. Essa Corte Superior possui entendimento jurisprudencial no sentido de
ser vedada a penhora de verbas salariais do devedor, exceto para pagamento de dívidas de
3. Em virtude do não provimento do presente recurso, e da anterior
caráter alimentício.
advertência em relação à aplicabilidade do NCPC, incide ao caso a multa prevista no art. 1.021, § 4º, do NCPC, no percentual de 3% sobre o valor atualizado da causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito da respectiva quantia, nos termos do § 5º daquele artigo de lei. 4. Agravo interno não provido, com imposição de multa. (AgInt no AREsp 1080695/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/10/2017, DJe 06/11/2017). (Grifou-se);
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PENHORA DE SALÁRIO. NATUREZA ALIMENTAR DA VERBA EXECUTADA. CONTRATO DE
LOCAÇÃO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. As Turmas integrantes da Segunda
Seção desta Corte Superior entendem ser vedada a penhora de verbas salariais do devedor, exceto para pagamento de dívidas de caráter alimentício. 2. No caso dos autos, trata-se de execução de débito decorrente de contrato de aluguel, situação que não se
3. Agravo interno não provido. (AgInt no AgInt
enquadra na exceção à impenhorabilidade.
no REsp 1504620/DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 06/04/2017, DJe 03/05/2017). (Grifou-se).
Acresça-se, a título de reforço, que em julgamento sob o rito da sistemática de recurso repetitivo, o STJ assentou que “mostram-se absolutamente impenhoráveis as verbas de natureza salarial, contempladas como tal aquela decorrentes de remuneração, aposentadoria, pensão, soldo, dentre outras, elencadas no art. 649, inciso IV, do CPC/73, atual art. 833, inciso IV, em ordem a homenagear o princípio
Frise-se, ainda, como bem pontuado pelo Magistrado de origem, que o caráter impenhorável das verbas salariais também se aplica aos valores atinentes ao auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal (Lei n. 13.982/2020), uma vez que tal auxílio se destina justamente a garantir a subsistência do
beneficiário no período da pandemia pela Covid-19. Neste sentido, cite-se jurisprudência desta Corte:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. PENHORA. CONTA-POUPANÇA. DESVIRTUAMENTO. CONTA-CORRENTE. POSSIBILIDADE DE CONSTRIÇÃO. AUXÍLIO EMERGENCIAL. COVID-19. IMPENHORABILIDADE.
I - Constatado que a conta-poupança do executado é utilizada como conta-corrente, o numerário nela bloqueado não está amparado pela impenhorabilidade do art. 833, inc. X, do CPC.
II - O executado demonstrou que a importância bloqueada via Bacen Jud é proveniente do auxílio emergencial destinado às pessoas em situação de vulnerabilidade social no período da pandemia de COVID-19, o qual possui natureza alimentar e é impenhorável, arts. 833, inc. IV, do CPC e 5º da Resolução/CNJ nº 318/2020.
III - Agravo de instrumento desprovido.
(Acórdão 1287294, 07242257620208070000, Relator: VERA ANDRIGHI, 6ª Turma Cível, data de julgamento: 23/9/2020, publicado no DJE: 14/10/2020. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. OBJETO. CRÉDITO DESGUARNECIDO DE PRIVILÉGIO. PENHORA PELA VIA ELETRÔNICA. CONSUMAÇÃO. ALCANCE. CRÉDITO ORIGINÁRIO DO AUXÍLIO EMERGENCIAL FOMENTADO PELO GOVERNO FEDERAL. PANDEMIA DO CORONAVÍRUS. NATUREZA. VERBA ALIMENTAR. SUBSISTÊNCIA E PRESERVAÇÃO DA DIGNIDADE DO BENEFICIÁRIO. IMPENHORABILIDADE. SALVAGUARDA LEGAL (CPC, ART. 833, IV). COMPREENSÃO DA OBRIGAÇÃO NAS EXCEÇÕES À
IMPENHORABILIDADE CONTEMPLADAS PELO LEGISLADOR PROCESSUAL.
INEXISTÊNCIA. ELISÃO DA PROTEÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. RESOLUÇÃO Nº 318 do CNJ. RECOMENDAÇÃO. CONSTRIÇÃO. DESCONSTITUIÇÃO. NECESSIDADE.
AGRAVO PROVIDO.
1.O auxílio emergencial fomentado pelo Governo Federal tem por objetivo fornecer proteção emergencial a trabalhadores autônomos, informais, microempreendedores individuais e desempregados no período de enfrentamento à crise causada pela pandemia do Coronavírus, ressoando impassível que os valores recebidos a esse título ostentam natureza alimentar, pois destinados a assegurar a subsistência de quem o recebe num momento em que está desprovido dum mínimo apto a fomentar suas necessidades materiais, sendo absolutamente impenhorável.
2.Aferida a natureza alimentar do auxílio emergencial, diante da sua finalidade,
porquanto destinado à subsistência e preservação da dignidade do beneficiário, a par da sua natureza temporária, não sobeja possível que seja alcançado por penhora para
realização de crédito desprovido de privilégio, o que emerge do disposto no artigo 833, IV, do CPC, pois volvido a assegurar um mínimo para o fomento das despesas do
montante daquela gênese recolhido na conta da titularidade do executado, deve ser desconstituíra por ter absorvido verba absolutamente impenhorável.
3.Agravo conhecido e provido. Unânime.
(Acórdão 1280245, 07194069620208070000, Relator: TEÓFILO CAETANO, 1ª Turma Cível, data de julgamento: 2/9/2020, publicado no DJE: 23/9/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
No caso dos autos, a dívida vindicada não possui natureza alimentar (Cédula de Crédito), bem como observa-se que o montante penhorado decorre de verbas salariais e valores recebidos a título de auxílio emergencial, pelos agravados.
Assim, em virtude da absoluta impenhorabilidade das verbas em questão, resta acertada a decisão agravada que determinou a desobstrução de tais valores em sede de tutela de urgência, estando plenamente demonstrados os requisitos para sua concessão, nos termos do artigo 300, do CPC, não havendo que se falar em sua reforma.
Ante o exposto, CONHEÇO do recurso e NEGO-LHE PROVIMENTO. É como voto.
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. [1]
(REsp 1184765/PA, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/11/2010, DJe 03/12/2010)
O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - 1º Vogal Com o relator
O Senhor Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES - 2º Vogal Com o relator
DECISÃO