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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA ECONOMIA E NEGÓCIOS FERNANDA VITÓRIA SALES DOS REIS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA ECONOMIA E NEGÓCIOS

FERNANDA VITÓRIA SALES DOS REIS

O FENÔMENO DA PEJOTIZAÇÃO NO BRASIL:

uma análise do período entre 1996 e a reforma trabalhista de 2016

OSASCO 2020

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FERNANDA VITÓRIA SALES DOS REIS

O FENÔMENO DA PEJOTIZAÇÃO NO BRASIL:

uma análise do período entre 1996 e a reforma trabalhista de 2016

Monografia apresentado à Universidade Federal de São Paulo como requisito para obtenção do grau em Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. Luciana Rosa de Souza

OSASCO 2020

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FICHA CATALOGRÁFICA

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Unifesp Osasco e Departamento de Tecnologia da Informação Unifesp

Osasco, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

R375f REIS, Fernanda Vitória Sales dos

O fenômeno da pejotização no Brasil: uma análise do período entre 1996 e a reforma trabalhista de 2016 / Fernanda Vitória Sales dos Reis. - 2020.

34 f. :il.

Trabalho de conclusão de curso (Ciências Econômicas) - Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Política, Economia e Negócios, Osasco, 2020.

Orientador: Luciana Rosa de Souza.

1. Tributos. 2. Sonegação fiscal. 3. Pessoa jurídica. 4.

Impostos - Arrecadação. 5. Reforma trabalhista. I. Souza, Luciana Rosa de, II. TCC - Unifesp/EPPEN. III. Título.

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FERNANDA VITÓRIA SALES DOS REIS O FENÔMENO DA PEJOTIZAÇÃO NO BRASIL:

uma análise do período entre 1996 e a reforma trabalhista de 2016

Monografia apresentado à Universidade Federal de São Paulo como requisito para obtenção do grau em Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. Luciana Rosa de Souza

Profa. Da. Luciana Rosa de Souza UNIFESP

Prof. Dr. Flávio Tayra UNIFESP

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DEDICATÓRIA

À minha família, amigos e professores que me acompanharam nessa jornada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha mãe que sempre foi exemplo de força, garra e coragem na minha vida. É graças a ela que eu segui meus sonhos, alcancei meus objetivos e tenho buscado a cada dia ser uma pessoa melhor.

Agradeço ao Eduardo, meu namorado, que foi meu companheiro de jornada desde a matrícula, até a última madrugada de produção da monografia. Me deu carona durante os 5 anos de duração do meu curso, as vezes indo me buscar a 40km de distância em Osasco e muitas vezes fazendo o caminho de ida e volta, de uma ponta a outra da linha de trem, só pra eu não voltar sozinha. Sendo meu ombro amigo quando eu precisava chorar por frustração em alguma disciplina e sendo meu companheiro em cada escolha que fiz. Você me mostrou o que é ser um amigo fiel, um companheiro para todas as horas e me deu forças para continuar quando eu achei que não mais conseguiria.

Agradeço aos meus professores, que me inspiraram, me fizeram pensar, repensar, ter senso crítico. É um orgulho imenso estar em uma faculdade de excelência, com professores dedicados, que prezam pelo Ensino que modifica e humaniza.

Agradeço a Deus, as pessoas boas que encontrei no caminho, aos meus amigos de jornada, a todas as experiências boas e ruins que me fizeram crescer e ser quem eu sou. Nada é por acaso e cada obstáculo que tive aconteceu para que eu me tornasse mais forte e mais segura.

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RESUMO

Este trabalho discute o fenômeno da “pejotização”, o que é, a maneira que ele ocorre, vantagens e desvantagens para o trabalhador, vantagens para as empresas que contratam dessa forma e quais são os possíveis incentivos para a ocorrência desse fenômeno. A partir da análise dos dados macroeconômicos, irá ser evidenciado se o fim da tributação de lucros e dividendos incentivou a fuga de pessoas físicas para atuar como pessoas jurídicas visando a diminuição de gastos tributários. E após a reforma trabalhista, se há um agravante dessa evasão. Esta dissertação se encontra dividida em 3 partes principais: 1) tributação do trabalho e do capital no Brasil, onde se identifica quais fatores levaram à mudança na tributação de dividendos, o que gerou essa mudança e de que maneira o trabalhador que se torna pessoa jurídica obtém vantagens e isenções em sua renda. 2) Reforma trabalhista: de que maneira ela pode tornar a pejotização uma prática mais comum e legalizada. 3) Simulações com dados reais da Receita Federal do Brasil usando as alíquotas propostas no retorno da tributação e possíveis reduções de tributação em outras esferas tributárias.

Palavras chave: tributação, sonegação de imposto, pejotização, arrecadação tributária, reforma trabalhista.

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ABSTRACT

This paper discusses the phenomenon of "pejotização", which is, the way it occurs, advantages and disadvantages for the worker, advantages for companies that hire in this way and what are the possible incentives for the occurrence of this phenomenon. From the analysis of the macroeconomic data, it will be evidenced if the end of the taxation of profits and dividends encouraged the flight of individuals to act as legal entities aiming at the reduction of tax expenses. And after the labor reform, if there is an aggravation of this evasion. This dissertation is divided into 3 main parts: 1) taxation of labor and capital in Brazil, where it is identified which factors led to the change in the taxation of dividends, which generated this change and how the worker who becomes a legal entity get benefits and exemptions in your income. 2) Labor reform: how it can make pejotization a more common and legalized practice. 3) Simulations with real data from the Federal Revenue of Brazil using the rates proposed in the tax return and possible tax reductions in other tax spheres.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tributação de lucros e dividendos no Brasil e países da OCDE (2019) ... 16

Tabela 2 – Tabela 2 - Lucro e tributação no Brasil... 18

Tabela 3 – Dados do Banco do Brasil – Exercício 2018... 19

Tabela 4 – Quem recebe dividendos... 22

Tabela 5 – Comparação da tributação de renda bruta de R$ 15 mil... 22

Tabela 6 – Potencial arrecadatório do imposto sobre dividendos... 27

Tabela 7 - Redução das alíquotas de PIS/COFINS – Ajuste da carga tributária para instituição do imposto sobre dividendos... 28

Tabela 8 - Redução da alíquota de IRPJ – Ajuste da carga tributária para instituição do imposto sobre dividendos... 29

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 11

2. TRIBUTAÇÃO DO TRABALHO E DO CAPITAL NO BRASIL... 13

2.1. Lei de 1996: extinção da tributação sobre dividendos... 13

2.1.1 Pejotização após 1996: e suas consequências... 20

2.2 Comparação trabalhador PJ x CLT... 22

3. REFORMA TRABALHISTA DE 2016... 24

3.1. Pejotização e emprego – após 2016 ... 24

3.1.1 Crise: pandemia COVID-19... 25

4. Simulações com dados reais e uso de alíquotas propostas... 26

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1. INTRODUÇÃO

As relações trabalhistas no Brasil passaram por diversas mudanças ao longo dos anos. O regime de contratação brasileiro obrigatório quando há vínculo empregatício entre empresa e empregado é a chamada Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). Em alguns casos esse regime de contratação é “burlado” e empresas passam a ter uma relação com um funcionário pessoa jurídica, que é remunerado de acordo com o tempo de trabalho e emite nota fiscal à empresa, como se fosse um fornecedor de mercadorias ou serviços, sendo essa relação sem vínculos empregatícios entre empregado e empregador, esse é o fenômeno chamado pejotização.

Krein et al. (2018, p.104) afirma que a pejotização se refere à “transformação de um empregado em um prestador de serviços legalizado como pessoa jurídica (PJ)”. Segundo os autores, esse processo visa extinguir o vínculo entre a empresa e o trabalhador, para que o trabalhador estabeleça relações de trabalho com uma figura autônoma desprovida de direitos, proteções e garantias associadas à CLT. Esse fenômeno vem acompanhado de uma série de elementos que obrigam o trabalhador a se tornar um prestador de serviços seja por ameaças de não conseguir a vaga em um cenário com taxas alarmantes de desemprego, seja pela possibilidade desse trabalhador, no caso de um empregado com mão de obra especializada e com alta remuneração, ter sua renda menos tributada ou até mesmo isenta de tributação, devido ao fato de lucros e dividendos não serem tributados no Brasil.

A isenção de lucros e dividendos no Brasil teve início em 1995, com grande influência dos economistas supply side com base na teoria a tributação ótima que influenciou s Estados Unidos da América e a Europa, porém sem tanto radicalismo como ocorreu no Brasil e será demonstrado nos próximos capítulos.

A reforma trabalhista também é um fator que merece ser destacado na possível influência à acentuação do fenômeno da pejotização, ao qual a figura do autônomo exclusivo, até então não existe, passa a ser uma maneira das empresas não contratarem funcionários de carteira assinada e com isso diminuir encargos tributários.

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12 O tema de isenção de dividendos vem ganhando mais espaço na sociedade atual, devido à pressão das contas públicas e a necessidade de se realizar uma reforma tributária. O potencial arrecadatório dessa retomada de tributação é um grande atrativo e a alta carga tributária em outras esferas públicas são fatores determinantes para os que defendem essa retomada na carga tributária.

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2. TRIBUTAÇÃO DO TRABALHO E DO CAPITAL NO BRASIL

2.1. Lei de 1996: extinção da tributação sobre dividendos

O Brasil é um dos poucos países do mundo em que os lucros e dividendos distribuídos aos acionistas de empresas estão totalmente isentos de imposto de renda. De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), somente Brasil, Estônia e Letônia não tributam lucros e dividendos distribuídos a acionistas. Essa isenção tributária nem sempre existiu, passou a ser implementada em 1995, pela lei 9.249 ao qual os lucros distribuídos por pessoas jurídicas, por meio de dividendos, passaram a ser isentos da incidência de imposto de renda. Além dessa isenção, outro benefício que reduziu significantemente o imposto de renda das pessoas jurídicas foi a possibilidade de deduzir do lucro tributável uma despesa fictícia denominada ˜juros sobre capital próprio". Segundo Gobetti e Orair (2016, p.7) essas duas “peculiaridades” tributárias são as razões da baixa progressividade do imposto de renda (IR) no país quanto da relativamente baixa tributação sobre o lucro.

Os autores afirmam que essas exceções tributárias têm raízes disseminadas nos anos de 1980 e 1990 por economistas supply-side e pela primeira geração de teóricos da tributação ótima que baseando-se na existência de um trade-off entre equidade e eficiência que aponta para a otimalidade de eliminar a progressividade na tributação, pois esta geraria distorções econômicas e desestímulo ao trabalho, a poupança e ao investimento.

Gobetti (2019, p.765) afirma que segundo a teoria da tributação ótima, a tributação da poupança “teria a propriedade de distorcer as decisões intertemporais de consumo e trabalho das pessoas, penalizando relativamente mais o consumo futuro do que o presente”. Dessa forma, o sistema tributário deve ser neutro, visando produzir o mínimo de distorções econômicas, isto é, sem influenciar as decisões econômicas dos agentes, “ponderando tanto os ganhos derivados de uma melhor distribuição de renda quanto as perdas decorrentes do impacto negativo dos impostos”.

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[...] Nesse sentido, a teoria da tributação ótima é uma teoria normativa de second best, estruturada sobre modelos com elevado grau de abstração, que, nas suas versões mais puras, assumem agentes econômicos racionais e perfeitamente informados, que conseguem prever com certa precisão sua renda futura e com grande flexibilidade para tomar decisões alocativas de quantas horas vão trabalhar, quantas horas vão dedicar ao lazer e como distribuirão seu consumo ao longo da vida de acordo com as características e mudanças dos impostos.

(GOBETTI 2019, p. 765)

A partir da necessidade de se adotar um modelo que respeitasse as premissas da tributação ótima, Gobetti afirma que alguns teoremas se tornaram muito influentes na academia, na década de 1970 e 1980, e foram utilizados como justificativa da redução da progressividade ou adoção de um imposto de renda linear e a redução ou eliminação da tributação sobre as rendas do capital.

A ideia de restringir a progressividade se baseia em duas premissas comuns em modelos microeconômicos neoclássicos: 1) a de que os salários refletem exatamente a produtividade marginal do trabalho; 2) a de que a oferta de trabalho (medida em horas) é bastante elástica entre os indivíduos mais capazes, ou seja, responde sensivelmente às variações na renda líquida pós-tributação. Dessa forma, alíquotas marginais elevadas e crescentes tenderiam a desincentivar justamente os indivíduos mais produtivos, resultando em uma perda econômica para o conjunto da sociedade e, portanto, em menos receita para o governo utilizar em políticas distributivas. (GOBETTI 2019, p. 766)

Entretanto, Gobetti (2019, p. 766) afirma que até mesmo Mirless, que foi um dos principais expositores dessa teoria, recomenda cautela na aplicação de suas especulações teóricas e se mostra surpreso com o fato de suas derivações ótimas apontarem para o extremo de um imposto de renda quase-linear.

Ronald Reagan, presidente eleito em 1980 pelos Estados Unidos da América tomando posse em 1981, influenciado pela teoria da tributação ótima e convencido da necessidade de se extinguir a punição dos empreendedores e investidores, liderou a partir da década de 1980 as reformas tributárias no país, que promoveu duas reformas no imposto de renda, entre 1981 e 1988. O resultado gerou uma redução das alíquotas de 70% para 50% em 1981 e em 1986-1988 aumentando a alíquota mínima de 11%

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15 para 15%, reduzindo o número de alíquotas de 16 para 4, eliminando a faixa de isenção, e reduzindo a alíquota máxima para 28%. Além de criar uma alíquota intermediária de 33% que deu fim a ordem de progressividade da tributação.

No Brasil, a partir da década de 1990 seguiu-se o modelo de Reagan de diminuição de imposto de renda adotando a alíquota máxima de 27,5% que anteriormente era de 50% por quatro décadas. Porém, Gobetti e Orair (2016, p.9) afirmam que nem mesmo o presidente americano e os demais países desenvolvidos que seguiram os passos de diminuição de alíquotas e faixas de tributação conseguiram ser tão radicais quanto o governo brasileiro que, em 1995, isentou completamente os lucros e dividendos. Alguns países, assim como o Brasil também se anteciparam no corte do imposto na época, a qual discutia se o imposto sobre lucros e dividendos seria uma bitributação. A Grécia, foi um desses países, porém já retomou a cobrança sendo que apenas Brasil, Estônia e Letônia atualmente ainda mantém a isenção a juros e dividendos para pessoa física, como pode ser conferido na tabela abaixo criada pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco Nacional), com base nos dados da OCDE.

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16 Tabela 1 - Tributação de lucros e dividendos no Brasil e países da OCDE (2019)

Fonte: OECD Tax Database, 2019. Elaboração Unafisco Nacional.

A partir da análise da tabela criada com os dados tributários das economias globais, nota-se que não há um consenso na não tributação de lucros e dividendos, contrariamente, há um consenso pela tributação.

Orair e Gobetti (2016, p.11) explicam que no modelo clássico de tributação, adotado pela maioria das economias globais, os lucros das corporações são tributados após sua apuração contábil e tributados novamente como dividendos pagos aos acionistas. Esse modo de tributação em duas fases se disseminou no mundo e foi amplamente

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17 usado no século XX e vigorou no Brasil na maior parte do século passado. Porém, na década de 1990 no Brasil, já não era adotado um “sistema clássico puro”, pois os dividendos eram tributados exclusivamente na fonte a uma alíquota inferior à aquelas que compunham o imposto de renda de pessoa física (IRPF) em sua tabela progressiva.

Porém, em 1995, com o argumento de atração do capital e incentivo aos investimentos, o governo brasileiro produziu duas importantes mudanças legislativas na tributação do lucro, por meio da Lei 9.249/95:

Art. 9º A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP.

Art. 10. Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior.

O artigo 9 da lei de 1995 têm como efeito prático a redução da alíquota sob a parcela do lucro, que antes era tributada pelo imposto de renda de pessoa jurídica (IRPJ) e pela contribuição social sobre lucro líquido (CSLL) e passou a ser tributada apenas quando paga ao acionista com alíquota de 15% que antes era de 34%. Já o artigo 10 determinou que os dividendos que anteriormente eram tributados com 15% passariam a ser isentos de tributação.

Na tabela abaixo produzida por Orair e Gobetti (2016, p.13) ilustra-se a redução na tributação após a lei 9.249/95. Antes dessa lei, o lucro da pessoa jurídica era tributado a 34%, após a distribuição aos acionistas era também tributado a 15% para pessoa física, restando aos acionistas 56,1% daquele lucro e repassando ao governo 43,9%.

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18 Tabela 2 - Lucro e tributação no Brasil

Nota: ¹Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF). Fonte: Gobetti e Orair (2016, p.13)

Com a alteração na lei, a empresa passou a poder deduzir juros sobre capital próprio (JSCP) da base de cálculo de IRPJ, como os autores exemplificam:

Após as mudanças, a mesma empresa passou a poder deduzir os JSCP da base de cálculo do imposto sobre o lucro. Por hipótese, assumimos que essa parcela seja de 30%. A base de cálculo cai para 70%, e o imposto da pessoa jurídica, para 23,8%, o que é compensado parcialmente pelo recolhimento de 15% de imposto sobre os JSCP, num montante de 4,5%, resultando na queda do imposto de 34% para 28,3%. Além disso, a isenção sobre os dividendos reduz o imposto sobre esta parcela de 9,9% para zero. No final, os acionistas que antes ficavam com 56,1% do lucro passaram a ficar com 71,7% do lucro, e o governo com 28,3%.

(ORAIR; GOBETTI, 2016, p.13)

Em estudo da Unafisco Nacional, com dados da Receita Federal entre 2007 a 2013, informa que o lucro distribuível aos sócios e acionistas foi no total de R$2,31 trilhões, sendo o lucro tributado apenas R$ 1,25 trilhão. Isso acontece, devido à possibilidade de, após apuração do lucro, excluir valores como JSCP, como exemplificado por Orair e Gobetti no parágrafo anterior. Dessa forma, 46% do lucro que é distribuído ficou isento de qualquer tributação. Os dados da Receita mostram que no ano de 2018, a arrecadação de IRPJ e CSLL foi de R$ 224,3 bilhões, sendo o lucro distribuível estimado em apenas R$ 1,22 trilhão. O estudo nos mostra então que, a alíquota efetiva incidente sobre o lucro das pessoas jurídicas é de 18,5%. Como pode ser ilustrado na tabela a seguir:

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19 Tabela 3 - Dados do Banco do Brasil – Exercício 2018

Fonte: Banco do Brasil – Informações ao investidor. Elaboração Unafisco Nacional.

Na tabela é possível verificar que o resultado obtido pela empresa foi de R$ 20,7 bilhões. Entretanto, o lucro tributável foi de R$ 14 bilhões, isto é, apenas 67,9% do resultado total da pessoa jurídica. As empresas optantes pelo lucro presumido e pelo Simples Nacional têm ainda mais isenção na tributação:

Esta sistemática da dupla não tributação da renda ocorre não apenas no lucro real, mas também, de forma mais clara, para as pessoas jurídicas optantes pelo lucro presumido e pelo Simples Nacional. Isso devido ao fato de, conforme a legislação nacional, a base de cálculo para tributação do lucro dessas pessoas ser uma presunção legal: aplica-se um percentual sobre o faturamento da pessoa jurídica, entendemos que este percentual seria o lucro por ela obtido. Após a aplicação deste percentual, há a incidência do IRPJ e da CSLL. Ou seja, pode ocorrer do lucro calculado fictamente ser menor do que o lucro, de fato, apurado pela empresa e passível de distribuição aos sócios. Assim, quando o lucro distribuído é maior do que o lucro tributado, configura-se uma dupla não tributação do lucro, pois a legislação permite, sob determinadas condições, a distribuição isenta do lucro apurado pela empresa. Orair e Gobetti (2016, p.14)

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20 Apesar de tantas isenções, Orair e Gobetti (2016, p.14) afirmam que não há resultados conclusivos que demonstrem êxito na ampliação de investimentos no país e justifiquem essas isenções, contrariamente, “os investimentos permaneceram estagnados por mais de uma década após a implementação dessas medidas”.

2.1.1 Pejotização após 1996: e suas consequências

A pejotização é o principal meio de cortar gastos oriundos de encargos trabalhistas, o trabalhador desenvolve as mesmas atividades que um funcionário contratado e de forma subordinada à empresa, mas sem vínculo empregatício sendo remunerado apenas como um prestador de serviços, sem as garantias e segurança que a CLT oferece. O empregador fica isento de arcar com os benefícios que a Carteira de trabalho assinada exigiria como férias remunerada, jornada 8 horas de trabalho, carga semanal de 44 horas, pagamento de 20% de INSS sobre a folha de pagamento para contribuição previdenciária. Assim como, 8% de FGTS, indenização de 40% sobre o seu montante e aviso prévio proporcional ao tempo de serviço. Em um contexto de grandes taxas de desemprego e crise econômica como no cenário atual, o trabalhador tem que se subordinar a qualquer vaga para que consiga o sustento diário para sua família, sua remuneração é atrelada às demandas de capital baseadas em metas. KREIN et al. (2018, p. 104) afirmam que “o trabalhador é obrigado a gerir a vida como um negócio, em que todas as energias estarão voltadas para tornar-se comerciável.” Para trabalhadores que são pouco qualificados e têm baixa remuneração a figura do Microempreendedor Individual (MEI) surge como uma maneira de formalizá-lo como autônomo, porém ajuda na prerrogativa da empresa forçar o trabalhador a se tornar PJ já que para se tornar MEI não há grandes custos de formalização e o trabalhador só paga mensalmente a contribuição previdenciária que gira em torno de R$60,00. Em matéria publicada pelo jornal British Broadcasting Corporation Brasil (BBC Brasil) (2020), ao qual busca entender melhor porque os mais ricos pagam menos imposto de renda, o economista Fernando Gaiger, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que nem sempre o trabalhador opta por ser PJ, muitas vezes ele se torna MEI por pressão direta do patrão ou por pressão indireta do

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21 mercado de trabalho. Os impostos que incidem sobre a folha de pagamento dos colaboradores, fazem com que muitos empregadores utilizem a contratação do PJ como uma forma de reduzir custos.

No contexto de pejotização em profissões com remuneração mais alta e maior qualificação esse fenômeno surge como uma oportunidade de a empresa pagar menos tributos e com isso transferir parte desses valores ao próprio PJ. E o trabalhador que submete a pejotização além de na maioria das vezes ter um salário maior do que teria com carteira assinada, ele tem sua renda menos tributada, fato que contribui para o déficit orçamentário público e com a desigualdade social. Segundo Mário Pinho, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional), além da situação do PJ ser uma desvirtualização das relações de trabalho, muitas vezes esses profissionais recebem parte dos rendimentos com lucros e dividendos que são isentos de imposto, acentuando ainda mais a distorção tributária (ESTADÃO, 2018).

No estudo publicado pela BBC Brasil (2020), verifica-se que no caso dos trabalhadores de renda mais alta há uma escolha própria dos trabalhadores como alguns advogados, médicos e outros profissionais liberais, que decidem por declarar sua renda como pessoa jurídica, pois assim serão menos tributados.

Na tabela abaixo elaborada pela BBC Brasil a partir dos dados da receita federal, nota-se que muitos trabalhadores com grandes salários recebem suas parcelas como dividendos, que são isentos de tributação. Comparando esses trabalhadores que atuam como pessoa jurídica (PJ) à um trabalhador de carteira assinada que tem sua renda tributada com as alíquotas do IRPF, quando o primeiro paga menos imposto e não está sujeito à tabela progressiva, se torna desleal quando trabalhadores de mesmo cargo declaram seus rendimentos como pessoa física. Dessa forma, há um incentivo para que cada vez mais esses trabalhadores se tornaram pessoa jurídica (PJ), aumentando o fenômeno da pejotização.

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22 Tabela 4 – Quem recebe dividendos

Fonte: Receita Federal/Grandes números do DIRPF 2019. Elaborada pela BBC Brasil.

2.2 Comparação trabalhador PJ x CLT

De acordo com a simulação feita pela Sindifisco em 2015 a pedido do jornal Estado de São Paulo, as alíquotas efetivas para o PJ que incidem sobre a renda de uma remuneração bruta de R$15 mil são de 11,33% se a pessoa opta por lucro presumido, ou de 4% se opta pelo Simples Nacional para renda annual até R$180 mil. Se a pessoa for um funcionário com carteira assinada do regime CLT o percentual de impostos sobre a renda seria de 24,47% considerando além do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) a Previdência Social (INSS) que é obrigatória para quem tem carteira assinada e não obrigatória para quem é PJ. A simulação foi feita para um contribuinte sem dependentes e sem dedução de gastos, melhor exemplificada na tabela abaixo. Tabela 5 - Comparação da tributação de renda bruta de R$ 15 mil

Nota: *Imposto de renda pessoa física (sem deduções), somado ao INSS. FONTE: Sindifisco Nacional

Segundo estudo realizado pelo jornal Estadão (2018), a partir de dados da Receita Federal, a parcela de 2,4% mais rica da população entre os declarantes do Imposto de Renda Pessoa Física, em 2017 detêm R$ 463,87 bilhões em rendimentos isentos de tributação. Essa parcela de isenção equivale à 55% do total de R$ 844 bilhões que ficaram isentos de imposto em 2017. Esses dados mostram que quanto mais rico é o

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23 contribuinte maior é a proporção de isenção sobre o rendimento total. A parcela que ganhou mais R$ 70,4 mil mensais em 2016 teve cerca de dois terços da renda isentos de tributação.

Segundo Orair (ESTADÃO, 2018) especialista em tributação e diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, “o Brasil precisa urgentemente fazer uma reforma do IRPF para diminuir a concentração de isenções nas mãos dos mais abastados.” Para ele não adianta discutir apenas uma nova faixa de tributação com alíquotas superiores, pois os beneficiários da isenção tributária continuarão isentos. Além disso, na visão do economista, essa nova tributação seria só mais um incentivo para os trabalhadores com carteira assinada que têm seus salários tributados como pessoa física migrarem para atuar como pessoa jurídica com rendimentos isentos de Imposto de Renda (IR).

Dessa maneira, Orair (ESTADÃO, 2018) defende que o Brasil retome o imposto sobre lucros e dividendos retirado no Governo de Fernando Henrique Cardoso em 1995, para diminuir essa desigualdade. O autor exemplifica que um trabalhador que tem salário de R$8.000 é tributado em 27,5% IRPF. Já o dono de uma grande empresa que fatura mais de R$500.000 a título de lucros e dividendos pode ficar isento de imposto como pessoa física. Essa distorção tão grande acentua ainda mais a desigualdade social.

De acordo com Rossi, em sua entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos (UNISINOS, 2017), o sistema tributário brasileiro além de ser uma das instituições responsáveis pela desigualdade de renda no Brasil é também extremamente funcional à sua manutenção, pois, há uma concentração da carga tributária nos impostos indiretos dificultando a eficiência e à competitividade do sistema produtivo brasileiro. Para o autor, essa tributação na produção e no comércio em detrimento da renda, eleva os custos das mercadorias e serviços brasileiros, dificultando a competitividade das empresas brasileiras frente à países com tributação centrada na renda e na riqueza. Segundo Maia (2017) em pesquisa intitulada “A distância que nos une”, a tributação atual no Brasil está focada nos pobres e na classe média, ao invés de tributar os mais ricos. De acordo com a pesquisa, contribuintes que ganham 320 salários mínimos mensais no Brasil, pagam uma alíquota efetiva de imposto, isto é, após retirar os

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24 descontos, deduções e isenções, similar à dos contribuintes que recebem em torno de cinco salários mínimos mensais. Quando comparados à declarantes de rendimentos mensais de 15 a 40 salários mínimos, essas pessoas chegam a pagar em tributos quatro vezes menos.

Segundo análise do gráfico contido nessa pesquisa, a progressividade das alíquotas efetivas cresce até a faixa dos 20 a 40 salários mínimos de rendimentos, passando a partir daí a ter uma queda vertiginosa, não atingindo assim o grupo mais rico do país. Para os autores essa inversão resulta da isenção de impostos sobre lucros e dividendos e a limitação de alíquotas no Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF). O grande problema na isenção de impostos sobre lucros e dividendos é que muitas vezes os “salários” do grupo mais rico da população são esses lucros e dessa maneira essa faixa da população não tem imposto nenhum sobre esse rendimento.

3. REFORMA TRABALHISTA DE 2016 3.1. Pejotização e emprego – após 2016

A reforma trabalhista aprovada em 13 de julho de 2017 pelo Senado Federal, por meio da Lei no 13.467, colocou o fenômeno da pejotização novamente em pauta. A reforma prevê a criação de uma figura inexistente nas leis do trabalho, o chamado “autônomo exclusivo”. Esse profissional pode prestar serviços regularmente para uma única empresa sem que isso seja caracterizado como vínculo empregatício.

Apesar de não ser uma prática legalizada muitas empresas praticam a pejotização com o intuito de cortar custos, porém posteriormente elas podem sofrer as consequências caso o trabalhador entre com um processo na Justiça, e se comprovando o vínculo empregatício, o trabalhador é indenizado, porém parte do poder de reivindicação pode estar em risco. De acordo com o artigo 3° da CLT os requisitos para o profissional ser considerado empregado são: ir com frequência à empresa, ser subordinado a ela e receber remuneração todos os meses. Embora não esteja prescrito em lei, a exclusividade era uma das evidências utilizadas pela Justiça de que aquela pessoa participava do regime de pejotização. Alguns autores acreditam que a ideia de autônomo exclusivo já é uma contradição, pois se esse autônomo não pode prestar serviços à outras empresas ele perde sua autonomia, como afirma a

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25 juíza Noemia Porto, vice-presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra). Para ela ao contratar um prestador de serviço o trabalhador como autônomo exclusivo a empresa tem proteção contra demissão, retira direitos presente na CLT como férias remunerada, 13° salário, FGTS, mas consegue que esse execute as mesmas tarefas que um empregado contratado faria.

3.1.1. Crise: pandemia COVID-19

A pandemia do novo coronavírus trouxe um impacto global imensurável, muito além da questão de saúde mundial. Segundo Angel Gurría, secretário da OCDE em entrevista à BBC (2020) “o choque econômico já é maior do que a crise financeira de 2008 ou a de 2001, após os ataques de 11 de setembro daquele ano.” Há uma previsão de que grande parte das econômicas globais entrem em recessão devido à crise causada pelo vírus.

Apesar de ser um cenário de incertezas sobre quando a pandemia irá de fato acabar, já que, até então, a vacina ainda está em fase e testes e não há um tratamento eficaz que possa ser aplicado na maioria dos casos, há alguns estudos que estimam os efeitos do vírus no Brasil e no mundo. Um deles foi realizado pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP). Segundo esse estudo, estima-se que o PIB brasileiro sofrerá uma queda de até 4,5% em 2020.

Alguns mecanismos foram adotados para tentar amenizar os impactos econômicos que a pandemia causou principalmente ao comércio brasileiro, afetando direta e indiretamente milhões de famílias, sobretudo aquelas de menor renda. A principal delas foi o auxílio emergencial. Segundos dados da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev) (2020), atualizados em setembro de 2020, o número de pessoas beneficiadas com o auxílio passa de 118 milhões.

Os trabalhadores autônomos que atuam como MEI foram um dos mais afetados. Segundo matéria realizada pelo site G1 (2020) a partir de dados do SEBRAE, apenas metade dos MEIs estão recebendo auxílio emergencial e segundo pesquisa realizada pela instituição no início da pandemia, mais de 60% desses microempreendedores

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26 interromperam suas atividades devido à pandemia. Porém, apenas metade desses receberam auxílio emergencial, por não se enquadrarem em algumas das regras impostas pelo governo. Ao mesmo tempo essa população encontra dificuldades para obter crédito bancário, devido à falta de garantias aos bancos, falta de comprovação de faturamento, pela não obrigatoriedade de emitir nota fiscal de vendas e também muitos desses MEIs têm o CPF negativado. (G1, 2020).

Além disso, os trabalhadores que se enquadram no fenômeno da pejotização, isto é, trabalham como pessoa jurídica para cortas custos para a empresa, se tiverem corte nos salários poderão ficar sem uma contrapartida do governo e serem obrigados a negociar com as empresassem que trabalham, sem garantia alguma de suporte por parte destas (BRIGATTI, 2020).

4. Simulações com dados reais e uso de alíquotas propostas

A tributação sobre lucros e dividendos é um assunto muito discutido atualmente principalmente pelo fato de a Reforma Tributária estar em pauta nos debates governamentais. Diversos projetos de lei foram criados com o intuito de fazer a retomada dessa tributação, dentre eles o Projeto de Lei n° 2015, de 2019, que tramita no Senado Federal e atualmente se encontra na Comissão de Assuntos Econômicos da Casa. A proposta dessa emenda seria de criar uma alíquota de 15%, assim como era antes da lei instaurada em 1995, para o imposto de renda sobre lucros ou dividendos recebidos de pessoas jurídicas pelos acionistas.

A partir do estudo realizado pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco Nacional) (2020), com dados da receita federal, pode-se verificar as possibilidades que a tributação de lucros e dividendos traria a situação tributária brasileira. Esse estudo mostra a necessidade de tributar lucros e dividendos distribuídos aos acionistas para que a partir disso, haja uma redistribuição de alíquotas no sistema tributário brasileiro e com isso diminua a carga de outros setores.

De acordo com a tabela elaborada pela Associação, o valor total de dividendos distribuídos, no ano de 2017, foi de R$ 280,56 bilhões. Se houvesse a tributação de

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27 15% proposta no Projeto de Lei nº 2015 de 2019 e posterior aplicação da tabela progressiva do imposto sobre a renda pessoa física, considerando as faixas de alíquotas aplicáveis atualmente ao IRPF e uma possível sonegação de 27%.

Tabela 6 - Potencial arrecadatório do imposto sobre dividendos

Fonte: Receita Federal. Grandes Números das Declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (2017). Elaboração Unafisco Nacional.

Baseando-se nos dados da Secretaria da Receita Federal de recebedores de dividendos em 2017, a Unafisco Nacional concluiu que a tributação teria um potencial arrecadatório de R$54 bilhões anuais. Quando atualizado para os valores correntes, com base no crescimento do PIB entre 2018 e 2019 e no IPCA acumulado, o estudo concluiu que o potencial arrecadatório chega a R$ 59,79 bilhões por ano.

Além de ser um desincentivo à Pejotização e uma forma de diminuir a desigualdade brasileira, a tributação sobre lucros e dividendos seria também uma forma de diminuir outros tributos diretos e indiretos, como redução da tributação sobre o consumo e redução da alíquota do Imposto sobre a renda das pessoas jurídicas. A carga tributária brasileira tem incidência muito alta sobre o consumo, sendo um imposto indireto que aumenta ainda mais a desigualdade brasileira. Uma maneira de reduzir esse tributo indireto, seria a redução das alíquotas do PIS e da COFINS, conforme tabela abaixo:

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28 Tabela 7 - Redução das alíquotas de PIS/COFINS – Ajuste da carga tributária para instituição do imposto sobre dividendos

Fonte: Secretaria da Receita Federal do Brasil. Análise da arrecadação das Receitas Federais. Elaboração Unafisco Nacional.

A tabela foi construída a partir dos dados da arrecadação de 2019 e foram projetados os valores para 2020, considerando o IPCA e a estimativa de crescimento do PIB, do ano de 2019.

Utilizando a tributação proposta no Projeto de Lei 2015/2019, aplica-se uma alíquota de 15% de IRPF retido na fonte, aos dividendos distribuídos aos sócios, como forma de antecipação do tributo. Posteriormente o valor será submetido à tabela progressiva do IRPF, conforme demonstrado na tabela anterior. A carga tributária sobre a renda, que atualmente é de 7,45% passaria a ser de 8,3% com a medida proposta no PL 2015/2019. Dessa maneira, com o aumento na carga, propõe-se a redução, em 17,4%, das alíquotas de PIS e COFINS, que passariam a ser de 1,36% e 6,26%, respectivamente, no caso do regime não cumulativo. Portanto, a diminuição das alíquotas sobre consumo compensaria o aumento da tributação sobre a renda.

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29 Outra proposta de redução de alíquotas seria no Imposto de renda de pessoa jurídica. Dessa forma, a tributação seria redirecionada aos acionistas e o ônus seria menor para a empresa, como exemplificado na tabela abaixo.

Tabela 8 - Redução da alíquota de IRPJ – Ajuste da carga tributária para instituição do imposto sobre dividendos

Fonte: Secretaria da Receita Federal do Brasil. Análise da arrecadação das Receitas Federais. Elaboração Unafisco Nacional.

Como demonstrado na tabela, para compensar o acréscimo na arrecadação decorrente da tributação dos dividendos, a alíquota de IRPJ deve ser reduzida em 8,75%, passando a ser de 16,25%.

Dessa forma, a tributação de lucros e dividendos possibilitaria que outros tributos fossem diminuídos, tirando a carga tributária de setores que já estão saturados de tributação e repassando a aqueles que recebem seus lucros sem encargo algum.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo irá consolidar as principais conclusões acerca do fenômeno da pejotização. Apesar de ser um termo usado no mundo todo para fazer referência a o mecanismo de sonegação tributária, ao qual a pessoa física se torna pessoa jurídica visando vantagens tributárias, ele é mais utilizado no Brasil, por ser um dos poucos países onde não se tributa o lucro em forma de dividendos distribuídos aos acionistas e ainda permite deduzir JSCP antes de tributar esses lucros como pessoa jurídica. Dessa forma, como exemplificado nos capítulos anteriores, o lucro é duplamente não-tributado, se tornando extremamente vantajoso ter seus rendimentos em forma de dividendos.

Apesar da reforma trabalhista trazer novas formas de uma empresa não contratar um funcionário como carteira assinada no regime CLT, ela não pode ser considerada a causa principal da pejotização. A figura do autônomo exclusivo, se tornou um argumento favorável as empresas que por ventura forem processadas por burlar a CLT e contratar um PJ para fazer o mesmo serviço que um funcionário faria. Esse “autônomo exclusivo” por si só pode ser considerado uma contradição, pois a figura do autônomo está justamente ligada à liberdade de se trabalhar com flexibilidade. Porém, só esse fator não traz vantagens tão expressivas como a não tributação de dividendos.

A isenção de tributação de lucros e dividendos se mostra como a principal causa de um trabalhador optar por trabalhar e se declarar pessoa jurídica e de uma empresa contratar um funcionário que não seja com carteira assinada, mesmo que no futuro possa sofrer processos trabalhistas. A forma como a estrutura tributária se dá na tributação de lucros e dividendos se mostra muito vantajosa para aqueles que tem grande parte de sua renda composta dessa forma, fazendo com que os trabalhadores de altos cargos, como diretores, médicos e advogados prefiram participar desse regime, do que optar por estar no regime CLT com garantias sociais garantidas, porém com carga tributária maior e mais regressiva.

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31 Há um consenso na sociedade que a carga tributária brasileira é elevada e mal distribuída. Comparando com os demais países da OCDE é possível notar a regressividade do sistema. Portanto, se a criação de um novo imposto de tributação direta, vier acompanhado de uma diminuição na carga indireta ou na carga sobre as empresas, fará com que a arrecadação de impostos seja mais equilibrada, assegurando a isonomia do sistema.

Com a crise do novo coronavírus a importância da assistência social do Estado se tornou ainda mais evidente. A necessidade de reavaliar a distribuição de riquezas e a desigualdade tão evidente no país, se mostra ainda mais necessária. O fim da isenção de dividendos não seria só uma maneira de impedir a sonegação de impostos por partes de empresas e trabalhadores, mas também seria uma maneira de se obter justiça fiscal, propiciando uma melhor distribuição de renda e redução de desigualdade, ao invés de fazer manutenção dela, como foi evidenciado anteriormente.

Portanto, a análise dos dados mostra que o fim da isenção de lucros e dividendos distribuídos aos acionistas seria de suma importância, para tornar o sistema fiscal mais justo e eficaz, além de ser o passo inicial para uma reforma tributária visando diminuir desigualdades e distorções tributárias.

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REFERÊNCIAS

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