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Da consciência política às massas no Brasil: o cinema político brasileiro. Fernanda Sayuri Gutiyama Universidade Estadual de Campinas

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Academic year: 2021

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Resumo

A intenção do artigo é identificar a influência de filmes políticos nacionais sobre a população brasileira, através de uma análise baseada em pesquisa qualitativa, de entrevistas abertas e pessoais realizadas com o grupo de alunos, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, realizador do Projeto “Cinematographo Cineclube”, que confirmaram tanto a presença dessa influência, como também relataram sobre os problemas do Cinema Brasileiro em torno da problemática de alienação, disputa com a produção estrangeira, acessibilidade do público nacional, entre outros.

Palavras-chave: cinema; consciência; influência; política; alienação. Introdução

O motivo mais relevante para eu ter optado por um curso na área de Comunicação Social, especificamente no curso de Midialogia, foi o Cinema, pois possui uma força inigualável de comoção, consciente e inconscientemente, através da combinação de sons, imagens, palavras, enfim, de todos os signos. No entanto, o que sempre me chamou a atenção, foi a vertente cinematográfica voltada ao campo político-social, pelo fato de conter ideologias políticas, envolvendo a massa e opinião - muitas vezes extremamente subjetiva -, tudo isso exposto de maneira explicita e implícita, como propostas de reflexão para todo o seu público, em minha opinião.

Na América Latina, os primeiros passos do cinema político foram dados na Cuba, em 1959, um cinema revolucionário que refletia toda a convulsão do cenário político cubano, com a proposta de conscientizar, provocar e inspirar (FURHAMMAR; ISAKSSON, 1976). Neste período, não só Cuba enfrentava processos revolucionários. Na maioria dos casos, apesar dos governos ditatoriais militares possuírem um eficiente controle de repressão, a produção cinematográfica revolucionária e opositora ganhou reconhecimento internacional, pois a campanha democrática mundial estava muito forte, que acabou vetando a censura (FURHAMMAR; ISAKSSON, 1976).

Especificamente no Brasil, esse cinema ficou conhecido como Cinema Novo. Esse movimento surgiu através de um grupo de diretores jovens, amadores, que documentava a pobreza, principalmente o sertão e a favela. Entre essas produções estão: “Rio Quarenta Graus” (1955) e “Vidas Secas” (1963), de Nélson Pereira dos Santos, “Assalto ao Trem Pagador” (1962), de Roberto Farias, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha, entre muitas outras, destacando-se “O Pagador de Promessas” (1962), de Anselmo Duarte (MIUCCI, 2009).

Da consciência política às massas no Brasil: o cinema político brasileiro Fernanda Sayuri Gutiyama

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Após o golpe da ditadura militar, o foco tornou-se outro: a situação política e a dos intelectuais frente à repressão sofrida. Em 1965, muitos diretores foram presos por se oporem ao governo. A luta pela democracia foi reconhecida internacionalmente, destacando filmes como “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha. Como esses filmes ganharam o foco mundial, os governos ditatoriais se viam impossibilitados de censurá-los, inclusive, foi por isso que ganharam até o apoio pelo Instituto Nacional do Cinema (FURHAMMAR; ISAKSSON, 1976).

O Cinema Brasileiro foi se desenvolvendo, e durante tudo isso, o que foi constatado, é que a massa não queria ver sua própria miséria onde se procurava escapar, e a partir disso, o Cinema se moldou (FRANÇA, 2003). A fim de organizar o mercado cinematográfico e angariar simpatia para o regime, o governo Geisel cria, em 1974, a estatal Embrafilme, que teria papel preponderante no cinema brasileiro até sua extinção em 1990. Dessa época datam alguns dos maiores sucessos de público e crítica da produção nacional, como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), de Bruno Barreto e “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1981), de Hector Babenco, levando milhões de brasileiros ao cinema com comédias leves ou filmes de temática política. O fim do regime militar e da censura, em 1985, aumentou a liberdade de expressão e indicou novos caminhos para o cinema brasileiro (HISTÓRIA, 2009).

Com o fim da Embrafilme, em 1990, pelo governo Collor, seguem políticas neoliberais de extinção de empresas estatais e abriu o mercado de forma descontrolada aos filmes estrangeiros, norte-americanos em quase sua totalidade. A produção nacional, dependente da Embrafilme, entra em colapso, e pouquíssimos longas-metragens nacionais são realizados e exibidos nos anos seguintes (HISTÓRIA, 2009).

Após o cataclismo do início dos anos 90, o sistema se reergue gradualmente. A criação de novos mecanismos de financiamento da produção por meio de renúncia fiscal (Leis de Incentivo), juntamente com o surgimento de novas instâncias governamentais de apoio ao cinema, auxilia a reorganizar a produção e proporciona instrumentos para que realizadores possam competir, mesmo de modo desigual, com as produções milionárias norte-americanas. Esse período é conhecido como a “Retomada” do Cinema Brasileiro. Em pouco tempo, três filmes são indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: “O Quatrilho” (1994), “O Que é Isso, Companheiro?” (1997) e “Central do Brasil” (1998), atraíram milhões de espectadores para as salas de exibição. Hoje, podemos encontrar outros filmes como “Carandiru” (2003) e “Tropa de Elite” (2007), que obtiveram um público surpreendente, sendo a violência a temática predominante (HISTÓRIA, 2009).

Diante dessa vasta produção brasileira, questionamos sobre até que ponto esses filmes podem gerar reflexões políticas, e também sobre a potencialidade de alienar o público, levando-se em conta os fatores de acessibilidade e a concorrência com filmes estrangeiros, questionamentos aos quais este artigo intenciona-se a esclarecer, através da opinião dos estudantes do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, que participam do Projeto “Cinematographo Cineclube”, desenvolvido há 10 anos, através de sessões semanais de filmes, aos quais são discutidos após serem vistos, focando-se em seus conteúdos (ROSA JR., 2009).

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Objetivo Geral

Mostrar a influência de filmes políticos nacionais sob a população brasileira através dos resultados obtidos a partir das entrevistas dos participantes do Projeto “Cinematographo Cineclube”, e da mesma forma, obter mais informações sobre esse projeto, para poder identificar também as motivações atuais de quem está envolvido com esse tipo de cinema.

Objetivos específicos

-Realização de pesquisa bibliográfica e webliográfica sobre a produção dos filmes político-sociais brasileiros, temas recorrentes desse tipo de cinema, artigos ou qualquer outro estudo que aborde o esse tema;

-Determinação de amostra a ser coletada;

-Formulação prévia das questões para a entrevista; -Entrevista com a população selecionada;

-Análise de dados e intercruzamento de conhecimentos adquiridos; -Elaboração do artigo;

-Elaboração da apresentação do artigo em PowerPoint.

Metodologia

Tipo de pesquisa: Qualitativa

Local de aplicação: IFCH- Instituto de Filosofia e Ciências Humanas- UNICAMP População envolvida: 6 participantes do projeto “Cinematographo Cineclube”

Pesquisei em busca de livros sobre filmes político-sociais nas bibliotecas dos Institutos de Artes e de Filosofia e Ciências Humanas, da Unicamp, onde satisfatoriamente consegui encontrar fontes com dados relevantes; pesquisei na internet teses defendidas e outras publicações com o mesmo tema de estudo, porém não consegui encontrar quase nada de muita pertinência ao assunto; foquei-me em filmes que possuíram mais destaque nesta área, os temas político-sociais mais freqüentes, e sobre a influência do cinema em geral.

A partir disso, pude determinar a amostra. O perfil escolhido foi de pessoas que estão mais próximas de questões sociais e particularmente próximas a esse tipo de cinema, que foi o caso dos participantes do projeto “Cinematographo Cineclube”. Delimitei o número de entrevistados para seis, por causa do pouco tempo de pesquisa, mas foi o suficiente, pois a população total é pequena, que é por volta de vinte pessoas, pois varia a participação em cada sessão (ROSA JR., 2009). A seleção das seis pessoas foi aleatória, e foram aquelas que tiveram melhor disponibilidade de tempo. O local escolhido foi o IFCH, porque é o Instituto em que os participantes estudam e onde as sessões de filmes são realizadas.

A formulação prévia de algumas questões foi feita para que a entrevista possuísse um roteiro a ser seguido, para não perder o foco da pesquisa, apesar do caráter da entrevista ser aberta. As questões abordaram:

• a influência do cinema nacional no cenário político brasileiro;

• a potencialidade do cinema brasileiro como gerador de questionamentos políticos e de alienação;

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• os objetivos do projeto “Cinematographo”; • citação de filmes de relevância pessoal;

• a disputa de público entre a produção de cinema brasileiro e estrangeiro; • a produção atual do cinema político brasileiro e da fase do Cinema Novo; • a acessibilidade do público a esse tipo de cinema;

• a experiência particular em relação à mudança de perspectivas, aos questionamentos, causados após ter visto alguns filmes em particular.

As entrevistas foram informais e pessoais, para obter uma visão geral do tema pesquisado e para que o entrevistado expressasse livremente suas opiniões e atitudes, além dos fatos e motivações que os constituem. Como previsto, as entrevistas decorreram sem problemas no local escolhido, no IFCH, após duas sessões de filmes, que sempre ocorrem de segunda-feira, às 18h30; estas foram dos dias 13/04 e 27/04.

Feito as entrevistas, pude analisar os dados obtidos a partir do roteiro pré-estabelecido (que foi citado acima). Reuni todas as respostas coletadas e correlacionei com as informações coletadas durante a pesquisa bibliográfica e webliográficas. Com os resultados obtidos, cheguei a uma conclusão.

A partir disso, este artigo foi elaborado segundo o documento “Dicas para elaboração de artigo” (VALENTE, 2009), descrevendo os objetivos, os métodos, os resultados e a conclusão, de forma bastante detalhada e aprofundada. Após finalizar o artigo, elaborei uma apresentação em PowerPoint, contendo o resumo da pesquisa, pontos de vista encontrados nas entrevistas, os resultados, para que a demonstração da pesquisa ficasse objetiva e organizada.

Resultados

Os resultados obtidos nas entrevistas foram os seguintes:

Pergunta 1: Qual a influência do cinema nacional no cenário político brasileiro? (historicamente e atualmente)

De acordo com as respostas recebidas, o cinema influencia o cenário político brasileiro sim, cumprindo o papel de um dos elementos formadores de opinião, através de sugestões de reflexão (ou a falta dela), sendo que ambos, cinema e cenário político, estabelecem uma relação mutualística. Todos os entrevistados concordaram que hoje, a temática do cinema nacional está mais voltada para a nossa realidade social, especialmente à criminalidade, sendo que antes as produções se ocupavam mais a ilustrar obras literárias e ficções.

“O cinema sempre tem influência no cenário político de qualquer lugar, no Brasil não é diferente. Independente do conteúdo político dos filmes eles sempre influem, seja com algum tipo de pensamento ou idéia, seja pela falta dele.” – Marcos Antonio Rosa Junior (ROSA JR., 2009), 20 anos, 3º semestre em Ciências Sociais.

Pergunta 2: O cinema pode ser considerado gerador de questionamentos ou alienante? Se for gerador de questionamentos, qual a sua abrangência?

A maioria dos entrevistados concordou que o cinema cumpre os dois papéis simultaneamente, justificando que depende muito de quem assiste e como assiste ao filme, assim como a circulação (acessibilidade e divulgação) dos filmes. Foi levantada a importância de haver

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discussão após o término do filme, pois a conscientização do público normalmente não dura um dia após ele assistir a exibição se as reflexões propostas não forem devidamente trabalhadas.

“O cinema, para mim, pode tanto alienar politicamente quanto gerar questionamentos. Acho que tudo depende de quem assiste e de como assiste. Muitos filmes têm a intenção de gerar reflexão, mas se não forem vistos com um olhar crítico, podem ter um efeito doutrinador, e assim inverso ao desejado. Claro que há aqueles filmes que não surpreendem, nem na linguagem e nem no conteúdo, e apenas reproduzem a estética e as temáticas culturalmente hegemônicas. Mas mesmo eles podem gerar questionamentos. Tudo depende do olhar que é dado ao cinema, do hábito de discuti-lo. Em outras palavras, depende de uma educação cinematográfica!” Samuel Ribeiro dos Santos Neto (SANTOS NETO, 2009), 19 anos, 3º semestre em Ciências Sociais.

Pergunta 3: Seria o projeto “Cinematographo” uma alternativa ao cinema de massas e alienador? Se não, o que seria exatamente?

A resposta para esta questão foi unânime. Todos os entrevistados responderam que o projeto “Cinematographo” não se propõe a ser uma alternativa, mas sim exibir filmes e curta-metragens aos quais não seriam vistos em qualquer lugar, sem imposição de censura ou limitações, para que sejam exploradas todas as potencialidades geradoras de debate em cada filme.

“Para exemplificar, imaginemos um filme da novela Malhação, no qual sejam mostrados jovens de classe média-alta em seus relacionamentos e problemas pessoais. Mesmo aí, onde aparentemente não há nada que gere questionamento, se pode fomentar inúmeros debates, até mesmo por meio da subversão do próprio seriado.” Samuel Ribeiro dos Santos Neto (SANTOS NETO, 2009), 19 anos, 3º semestre em Ciências Sociais.

Pergunta 4: Se você julga que o cinema brasileiro possui importância no cenário político nacional, quais filmes poderiam ser citados? (Mínimo de três filmes)

O filme mais citado foi “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles, por causa de seu reconhecimento internacional, grande bilheteria e porque gerou grande polêmica sobre a violência, assim como o segundo mais citado, “Tropa de Elite” (2007), de José Padilha. “O que é isso Companheiro” (1997), ficou em terceiro junto de “Vidas Secas” (1963). Outros filmes citados foram: “Mutum”(2007), “O beijo da mulher aranha”(1985), “Pixote- a lei do mais fraco” (1981), “Deus e o diabo na terra do sol” (1964), “Saneamento Básico: o filme” (2007), “Noticias de uma Guerra Particular” (1999), “Última Parada 174” (2008), “Central do Brasil” (1998),O ano em que meus pais saíram de férias” (2006), “Edifício Master” (2002), “Eles não usam black-tie” (1981) e “Os cafajestes” (1962).

Pergunta 5: Como se dá a disputa de público entre o cinema estrangeiro e o nacional, no cenário atual? Qual o motivo da entrada tão massiva do cinema estrangeiro no Brasil?

Claramente, o cinema estrangeiro é predominante sobre o nacional. Esse fato foi justificado pelos entrevistados por diversos fatores:

- o cinema estrangeiro sempre serviu como grande referência e é visto com grande admiração, não só pela qualidade, mas também por causa de todo o glamour instalado por Hollywood, dos

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grandes estúdios e suas estrelas. Na opinião de Samuel (SANTOS NETO, 2009), crescemos sendo influenciados pela linguagem e estética cinematográfica estrangeira, e são elas as que nós buscamos e estabelecemos como de qualidade, porque parecem mais claras e confortáveis por estarmos acostumados com elas.

- problemas de marketing, acesso e retorno financeiro: os filmes ficam concentrados somente no eixo São Paulo/ Rio de Janeiro, porque simplesmente não compensa aos exibidores do interior trazê-los, já que a bilheteria conseguida mal cobre os gastos de frete, e infelizmente, o caráter comercial é predominante, segundo o entrevistado Leonardo Mendes (MENDES, 2009). Com essa baixa rotação e baixo giro de capital do Cinema Brasileiro, há baixos investimentos de empresários, do governo, de exibidores, e distribuidores, dessa forma, há baixo investimento em marketing e investimentos nas próprias produções de filmes, que resulta na fama ruim do cinema nacional (o estigma de que o cinema nacional é chato, ruim e com muito apelo sexual), a pouca procura.

Com a evolução das entrevistas, pudemos coletar informações sobre a produção atual do cinema político brasileiro. Os entrevistados reforçaram que a temática mais freqüente fica próxima da realidade social, com atenção especial a violência, sobre conflitos entre classes, favelas, tráfico de drogas, racismo, relação policial e civil e também a temática trabalha com reconstruções históricas, de lutas políticas e o período da ditadura militar. Além disso, reconheceram que o cinema atual brasileiro vem ganhando um maior espaço internacional e um aumento de produções, porém, a maior parte dessa produção é voltada para questões de entretenimento, ao qual o mercado se apresenta mais dinâmico.

Sobre a acessibilidade, ficou evidente o quanto o cinema continua inacessível a população, não só por questões de falta de marketing e propaganda, mas por questão de custo, já que mais de 20% da população vive abaixo da linha de pobreza (ROSA JR., 2009).

Quando a discussão caminhou em direção à fase do Cinema Novo, três pessoas alegaram não ter conhecimento suficiente para responder. Os outros relataram que foi uma proposta de inovação do Cinema Brasileiro, que procurava abordar nossa realidade social da época de forma inovadora, que criasse uma identidade nacional, tanto que essa fase foi fincada na história do Cinema Mundial. O entrevistado Alexandre Vander Velden (VELDEN, 2009), considerou esta a fase que maior provocou questionamentos na população nacional sobre seu papel diante o cenário mundial e todas as problemáticas brasileiras, como as de miséria e fome.

Sobre influências particulares, Samuel relatou que o cinema foi de muita importância para a vida dele, pois além de ter influenciado em sua escolha de prestar Ciências Sociais, o cinema permitiu que ganhasse um olhar mais crítico e objetivo, aumentando sua potencialidade de discussão e reflexão sobre qualquer assunto. Outros relataram a mesma importância, e também o âmbito de criar interesses sobre determinados aspectos da nossa história e sociedade.

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Todos esses dados obtidos fazem com que os dados bibliográficos e webliográficos tornem-se concretos. Andréa França (FRANÇA, 2003) afirma que o cinema político sempre procurou refletir a massa dos excluídos-errantes como também propor novas linguagens narrativas de cinema que superasse o convencional, que hoje em dia, se tornou numa caixa de ressonância profética e visionária sobre o país, retratando de situações que ganham um valor internacional, ou seja, que não só se aplicam a realidade nacional, mas mundial, refletindo o fenômeno da globalização, em que as fronteiras são quebradas. Para ela, certamente os filmes refletem não só a possibilidade de conhecimento de um determinado assunto, mas também demonstrar o que pensam as referências e representações imaginadas dos filmes e abrir experiências daquilo que pensam sobre a realidade em fluxos de imagens, conhecimentos, informações e narrativas que compõem nossa maneira de pensar, perceber, sentir, sonhar e conhecer, como num jogo de possibilidades alternativas aos qual o espectador é convidado para participar.

Já o autor de “Cinema e Política” (FURHAMMAR; ISAKSSON, 1976), questiona as intenções ou efeitos que fazem de um filme um ato político, e até que ponto isso depende fatores externos, como o modo da platéia encarar, as análises ou o julgamento posteriores, ou até onde quem está argumentando tem consciência do que produziu. Ele conclui que, apesar de não podermos de fato afirmar o alcance político adquirido ou até onde os filmes possam chegar, podemos constatar que os filmes cumprem um papel importante no esclarecimento de fatos contemporâneos, assim como se dá a comunicação de massa, ou seja, as reportagens televisivas, exemplificando através do fato ocorrido nos Estados Unidos, durante as campanhas contra a discriminação racial, em que Hollywood, para recuperar sua esfarrapada reputação, produziu filmes “maduros” e difundiu uma consciência social, ao qual tiveram a intenção de modelar a opinião do público, para que tomassem partido dos negros contra os brancos, assim como funcionou de forma a ser um rito purificador de seus atos racistas, para a população branca.

No entanto, pesquisas empíricas habilitam psicólogos sociais a confirmar que o cinema raramente provoca mudanças de atitude, mas que, assim como a propaganda, manipulam idéias, e aí está o grande equívoco: as idéias podem manipular as atitudes indiretamente, como indicam outras pesquisas. Porém, o problema desse cinema político, não cabe somente a esse fato, pois como podemos constatar, o papel político da televisão é muito maior, e veio a crescer desde seu surgimento, ocupando a expressão politizada não só do cinema, mas também do rádio e da literatura. Hoje, junto à televisão, ainda podemos encontrar a internet, além de todas as outras tecnologias que vêm sendo inventadas. O cinema, em meio a tudo isso, se tornou como uma linguagem muito metafísica, em que poucos podem entender, por isso, os meios políticos procuram formas mais factuais de abordagem, como é a veiculação de reportagens pela televisão (FURHAMMAR; ISAKSSON, 1976).

E, desta forma, Furhammar e Isaksson(1976) afirmam que o cinema político, por causa desse fato, mudou o seu foco, passando a refletir uma realidade social mais individualista, ou seja, temas que mexem com a subjetividade do público, e que sejam polêmicos, em que o entretenimento seja maior, assim como seu retorno financeiro.

Através de toda essa exposição feita, podemos justificar a importância do debate logo após os filmes serem vistos, pois, como demonstrado, sim, o cinema político propõe temas,

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ideologias, situações e reflexões de diversas maneiras, seu conteúdo é vasto, porém necessita de um espectador preparado para vê-lo, seu olhar deve ser crítico de tal maneira, que poucos possuem a capacidade de tê-lo, já que a educação de como olhar nunca foi veiculada. Com esse tipo de olhar, qualquer tipo de produção, seja de entretenimento ou que não possua nenhum conteúdo político, poderia nos causar um tipo de reflexão produtiva que alterasse a nossa maneira de pensar.

Como não estamos prontos o suficiente para esse tipo de reflexão, o cinema comercial, de entretenimento, cresceu em nosso país, sendo que a maioria das produções é estrangeira, por serem maiores, com investimentos exorbitantes, atores bonitos, efeitos especiais encantadores e, novamente, com um retorno financeiro maior.

Conclusão

Podemos concluir que o problema do Cinema político brasileiro não está em seu conteúdo, mas sim no olhar despreparado do espectador, devido a todos os fatores econômicos e sociais, e também por causa dos baixos investimentos recebidos, pois o retorno do cinema de entretenimento é maior por receber maior retorno financeiro. Assim, apesar do cinema político possuir potencialidade de gerar questionamentos e influenciar na maneira de pensar de uma população, não consegue atingir satisfatoriamente o público em geral, atingindo somente uma minoria intelectualizada.

Através da possibilidade dessa reflexão ser obtida, fica evidente que os resultados da pesquisa foram satisfatórios e sem grandes dificuldades de serem obtidos, e com eles, poderíamos fomentar outras pesquisas que continuassem a trabalhar com a relação do cinema e a maneira de pensar da população brasileira, em vista do desenvolvimento tecnológico junto aos vários tipos de mídias que vêm a surgir, em que a convergência de arte e tecnologia junto à reprodutibilidade técnica ficam mais evidentes.

Referências

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-ASSALTO ao trem pagador. Direção: Roberto Farias. Produção: Herbert Richers. Distribuidora: Fama Filmes.1962. (89 min.), preto e branco.

-BEIJO da mulher-aranha, O. Direção: Hector Babenco. Brasil/Estados Unidos. Produtoras: FilmDallas Pictures, HB Filmes e Sugarloaf Films Inc. Distribuidora: Island Alive. 1985. (120 min.), preto e branco.

-CAFAJESTES, Os. Direção: Ruy Guerra. Brasil. Produtoras:.Gerson Tavares, Jece Valadão e Magnus Filmes. Distribuidora: Fama Filmes. 1962. (100 min.), preto e branco.

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-CARANDIRU. Direção: Hector Babenco. Brasil. Produtoras: Globo Filmes, HB Filmes, Columbia Tristar. Distribuidora: Columbia Tristar. 2003. (147 min.), color.

-CENTRAL do Brasil. Direção: Walter Salles. Brasil. Produtores: Arthur Cohn e Martine de Clermont-Tonnerre. Distribuidora: Sony Pictures Classics. 1998 .(112 min.), color.

-CIDADE de Deus. Direção: Fernando Meirelles. Brasil. Produtor: Walter Salles. Distribuidoras: Lumière e Miramax Films. 2002. (135 min.), color.

-DEUS e o Diabo na Terra do Sol. Direção: Glauber Rocha. Brasil. Produtor: Luiz Augusto Mendes. Distribuidora:Macvídeo, Versátil. 1964. (125 min.), preto e branco.

-DONA flor e seus dois maridos. Direção: Bruno Barreto. Brasil. Produção: Luiz Carlos Barreto, Newton Rique e Sr. Distribuidora:Embrafilme e New Yorker Films. 1976.(120 min.), color.

-EDIFÍCIO Master. Direção: Eduardo Coutinho. Brasil. Produção: Maurício Andrade Ramos e João Moreira Salles. Distribuidora: Riofilme. 2002. (110 min.), color.

-ELES não usam Black-tie. Direção: Leon Hirszman. Brasil. Produtoras: Embrafilme, Leon Hirszman Produções Cinematográficas. Distribuidora: Embrafilme. 1981.(120 min.), color.

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-MIUCCI, Carla. Cinema Brasileiro: um panorama geral. Mnemocine, disponível em http://www.mnemocine.com.br/cinema/historiatextos/carla1BR.htm. Acesso em: 10 de abril de 2009.

-MUTUM. Direção: Sandra Kogut. Brasil. Produtoras: Ravina Filmes e Gloria films. Distribuidora: Ravina Filmes. 2007. (95 min.), color.

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-NOTÍCIAS de uma guerra. Direção: João Moreira Salles. Brasil. Distribuidora: Vídeofilmes. 1999. (56 min.), color.

-PAGADOR de promessas, O. Direção: Anselmo Duarte. Produção: Oswaldo Massaini. Distribuidoras: Lionex Films e Embrafilme. 1962. (95 min.), preto e branco.

-PIXOTE- a lei do mais fraco. Direção: Hector Babenco. Brasil. Produção: Paulo Francini e José Pinto. Distribuidora: Embrafilme. 1981. (127 min.), color.

-QUATRILHO, O. Direção: Fábio Barreto. Brasil. Produção: Luis Carlos Barreto, Lucy Barreto e Adair Roberto Carneiro. Distribuidora: RioFilme. 1994. (120 min.), color.

-O QUE É ISSO, companheiro? Direção: Bruno Barreto. Brasil. Produção: Lucy Barreto e Luiz Carlos Barreto. Distribuidoras: Miramax Films e Riofilme. 1997. (105 min.), color.

- RIO Quarenta Graus. Direção: Nélson Pereira dos Santos. 1955. (100 min.), preto e branco.

- ROSA JR., Marcos A. [3 de abril, 2009]. Entrevista concedida a Fernanda Sayuri Gutiyama.

-SANEAMENTO básico – o filme. Direção: Jorge Furtado. Brasil. Produção: Nora Goulart e Luciana Tomasi. Distribuidora: Columbia Pictures do Brasil. 2007. (112 min.), color.

-SANTOS NETO, Samuel Ribeiro dos [13 de abril de 2009]. Entrevista concedida a Fernanda Sayuri Gutiyama.

-TERRA em transe.Direção: Glauber rocha. Brasil. Produção: Zelito Viana. Distribuidora: Difilm. 1967.(115 min.), preto e branco.

-TROPA de elite. Direção: José Padilha. Brasil. Produção: José Padilha e Marcos Prado. Distribuidora: Universal Pictures do Brasil / The Weinstein Company. 2007. (118 min.) color.

-ÚLTIMA parada 174.Direção: Bruno Barreto. Brasil. Produção: Patrick Siaretta, Paulo Dantas, Bruno Barreto, Antoine de Clermont-Tonnerre. Distribuição: Paramount Pictures. 2008. (110 min.) , color.

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-VALENTE, José A. Dicas para elaboração de artigo. 2009.

-VELDEN, Alexandre Vander [27 de abril de 2009]. Entrevista concedida a Fernanda Sayuri Gutiyama.

-VIDAS secas. Direção: Nélson Pereira dos Santos. Brasil. Produção: Luis Carlos Barreto, Herbert Richers Nelson Pereira dos Santos e Danilo Trelles. Distribuidora:Sino Filmes, Riofilme e Sagres Vídeo. 1963. (103 min.), preto e branco.

Referências

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