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O Sábado também foi feito para o homem

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Academic year: 2021

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Texto

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O Sábado também foi feito para o homem……

A liturgia do IX Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre a celebração do Dia do Senhor, sábado para os judeus, domingo para os cristãos, fazendo memória da ação criadora e redentora de Deus para com o seu Povo. Na 1ª leitura, o povo de Deus do Antigo Testamento recebeu o mandamento de guardar o Sábado, que é, ao mesmo tempo, o memorial do repouso de Deus depois de concluída a obra da criação e dia de acção de graças por essa criação. E ainda mais agora ele há-de ser fiel ao mandamento do Senhor e permitir que os outros o possam ser também, porque, se agora o povo de Deus é um povo livre, é porque também Deus o libertou. Mas o Sábado do Antigo Testamento anuncia o Dia do Senhor da Nova Aliança, o Domingo, o dia do repouso em Deus, repouso que Jesus nos alcançou pelo seu Mistério Pascal.

Na 2ª leitura, a vida do Apóstolo de Cristo reproduz a vida do Senhor, é outra manifestação do seu Mistério Pascal: frágil como um vaso de barro, transporta em si o tesouro do mistério de que é ministro e apóstolo; participando na Paixão do Senhor, pelos sofrimentos e trabalhos do seu ministério, é instrumento ao serviço da manifestação e da comunicação da vida de Jesus; comungando assim na Morte do seu Senhor, é portador aos outros da própria luz de Deus.

No Evangelho, o Sábado foi dado ao homem como dia de repouso para que ele pudesse contemplar e agradecer a Deus a obra da criação e assim se manter sempre fiel à aliança com o Senhor, seu Criador. Era um mandamento dado ao homem para o libertar, não para o escravizar. O escândalo dos fariseus vinha-lhes de eles não saberem ir além da letra e não chegarem ao espírito; e assim não conseguiram reconhecer na Lei o Senhor da Lei. Como haviam depois de entender o novo Dia do Senhor, o Domingo, memorial da sua Páscoa?

LITURGIA DA PALAVRA

LEITURA I

Leitura do Livro do Deuteronómio «Deut 5, 12-15» "Recorda-te que também foste escravo no Egipto"

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Eis o que diz o Senhor:

«Guarda o dia de sábado, para o santificares, como te mandou o Senhor, teu Deus.

Trabalharás durante seis dias e neles farás todas as tuas obras.

O sétimo, porém, é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nele qualquer trabalho,

nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu escravo, nem a tua escrava, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem nenhum dos teus animais, nem o estrangeiro que mora contigo. Assim, o teu escravo e a tua escrava poderão descansar como tu.

Recorda-te que foste escravo na terra do Egipto e que o Senhor, teu Deus, te fez sair de lá com mão forte e braço estendido.

Por isso, o Senhor, teu Deus,

te mandou guardar o dia de sábado».

Palavra do Senhor

LEITURA II

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios«2 Cor 4, 6-11» "Manifesta-se no nosso corpo a vida de Jesus"

Irmãos:

Deus, que disse: «Das trevas brilhará a luz» fez brilhar a luz em nossos corações,

para que se conheça em todo o seu esplendor a glória de Deus, que se reflete no rosto de Cristo.

Nós trazemos em vasos de barro o tesouro do nosso ministério, para que se reconheça que um poder tão sublime

vem de Deus e não de nós.

Em tudo somos oprimidos, mas não esmagados; andamos perplexos, mas não desesperados; perseguidos, mas não abandonados;

abatidos, mas não aniquilados.

Levamos sempre e em toda a parte no nosso corpo os sofrimentos da morte de Jesus,

a fim de que se manifeste também no nosso corpo a vida de Jesus.

Porque, estando ainda vivos,

somos constantemente entregues à morte por causa de Jesus, para que se manifeste também na nossa carne mortal

a vida de Jesus.

Palavra do Senhor

EVANGELHO

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos «Mc 2,23–3,6» "O Filho do homem é também Senhor do sábado"

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Passava Jesus através das searas, num dia de sábado, e os discípulos, enquanto caminhavam,

começaram a apanhar espigas. Disseram-Lhe então os fariseus:

«Vê como eles fazem ao sábado o que não é permitido». Respondeu-lhes Jesus:

«Nunca lestes o que fez David, quando ele e os seus companheiros tiveram necessidade e sentiram fome? Entrou na casa de Deus,

no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu dos pães da proposição, que só os sacerdotes podiam comer, e os deu também aos companheiros». E acrescentou:

«O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.

Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado». Jesus entrou de novo na sinagoga,

onde estava um homem com uma das mãos atrofiada. Os fariseus observavam Jesus,

para verem se Ele ia curá-lo ao sábado e poderem assim acusá-l’O.

Jesus disse ao homem que tinha a mão atrofiada: «Levanta-te e vem aqui para o meio».

Depois perguntou-lhes:

«Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?».

Mas eles ficaram calados.

Então, olhando-os com indignação

e entristecido com a dureza dos seus corações, disse ao homem:

«Estende a mão».

Ele estendeu-a e a mão ficou curada. Os fariseus, porém, logo que saíram dali, reuniram-se com os herodianos

para deliberarem como haviam de acabar com Ele.

Palavra da Salvação

REFLEXÃO HOMILÉTICA

AMBIENTE

O texto evangélico do próximo domingo conclui a primeira secção do Evangelho de Marcos, que descreve a fase inicial do ministério de Jesus (cf. 1,14-3,6), e é a última das controvérsias de Jesus com os seus opositores acerca de algumas práticas rituais judaicas, no caso sobre o sábado judaico. É de notar que estes dois textos que formam Mc 1,23 – 3,6 são os únicos dois textos de Marcos em que Jesus se contrapõe ao sábado; no resto do Evangelho, tanto Jesus como quem está com Ele observam as práticas judaicas a respeito do mandamento de guardar o sábado. Recapitulando, Jesus tinha-se já confrontado com os escribas a respeito do perdão dos pecados ao paralítico (cf. 2,1-13), do estar à mesa com os publicamos e pecadores (cf. 2,14-17); depois, com os discípulos de João Batista e os fariseus sobre as práticas do jejum, não observado pelos discípulos de Jesus (cf. 2,18-22); confronta-se agora com os fariseus sobre o respeito pelo dia de sábado em dois episódios (2,23-28; 3,1-6), sendo que, neste último episódio, pela primeira vez os seus opositores se reuniam com os herodianos para encontrar maneira de condenar Jesus à morte (3,6), funcionando esta decisão como conclusão de todos os confrontos.

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Será bom ter em conta o objetivo desta primeira secção do Evangelho de Marcos; o evangelista pretende mostrar a novidade trazida pelo movimento de Jesus, bem diferente do ambiente judaico e rabínico, mostrando o amor de Deus pelos que estavam marginalizados (os publicamos e pecadores), uma mensagem que toma corpo no perdão dos pecados (na cura do paralítico) e a total rejeição de leituras rigoristas da Lei de Moisés, demonstrando que o formalismo pode aniquilar a experiência de fé, que deve estar sempre orientada para o bem do outro. Como se verá o critério que Jesus deixa para interpretar o sábado judaico, mas também outros preceitos é o amor ao outro.

MENSAGEM

O nosso texto é composto por dois episódios que colocam Jesus em confronto com a instituição do sábado judaico: os discípulos a colher espigas para comer e um homem com uma mão atrofiada que nos coloca, com Jesus e os seus interlocutores, diante do dilema de curar ou não esse homem; ambos os episódios em dia de sábado. No que ao primeiro episódio diz respeito, o problema de colher espigas talvez seja o problema de se entender como colheita.

De qualquer forma, Marcos convida-nos a centrar-nos nas palavras de Jesus que ajudam a interpretar a sua liberdade diante da instituição do sábado judaico: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado» (Mc 2,27-28); «Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?» (Mc 3,4). Estas palavras de Jesus dão a interpretação dos episódios, bem como da forma como Jesus se posiciona diante da instituição de sábado em geral.

Já na controvérsia de Mc 2,1-12 sobre o perdão dos pecados, a questão era do «poder» ou «autoridade» para o fazer. Da mesma forma, agora apenas nas palavras de Jesus, a relação de Jesus com o sábado exprime-se em chave de poder e autoridade, uma vez que Ele, «o Filho do homem, é também Senhor do sábado» (Mc 2,28).

A segunda linha de argumentação é a da total precedência das necessidades humanas, mesmo em relação ao sagrado: isto vale para a fome dos discípulos diante do sábado que é sagrado, como valeu para a fome de David e dos seus homens diante dos pães sagrados da proposição (pelo menos na forma como Mc 2,25-26 nos conta o episódio com algumas nuances em relação a 1Sm 21,1-7) e valerá também para a cura do homem com a mão atrofiada diante da instituição de sábado. Diante do poder de Jesus e das necessidades humanas, as coisas sagradas não têm um valor próprio (nem o pão do santuário, no caso de David, nem o sábado, no caso dos discípulos de Jesus ou do homem com a mão atrofiada), mas existem para o bem da humanidade (os pães da proposição para alimentar David e os seus homens, o sábado para o homem e para Jesus); na interpretação de Jesus, é fundamental que o que é sagrado esteja ao serviço do homem. A par deste critério, se partirmos da formulação da pergunta retórica de Mc 3,4, na perspetiva de Jesus não há um agir neutro e ainda menos decisivas são as instituições: a lei é a da atenção ao outro, a quem sou chamado a fazer bem, salvando-lhe a vida, ou então posiciono-me diante dele para lhe fazer mal, causando-lhe a morte. Em ambos os momentos, Jesus escolheu fazer o bem e colocar-se ao serviço das necessidades humanas, satisfazendo-as, mesmo se isso lhe acarreta a decisão do conluio das autoridades políticas e religiosas contra Ele, para o condenarem à morte.

É importante ter em conta que Jesus não retira qualquer importância ao sábado, enquanto dia consagrado a Deus, mas redireciona-o de modo a voltar à intuição inicial da Lei de Moisés, uma vez que «o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado» (2,27). Não está em causa uma interpretação libertina ou relativista do sábado, mas fazer dele o dia da relação com Deus que vem em auxílio de quem está em necessidade. Uma boa interpretação lê todos estes aforismos de Jesus em relação entre eles, de modo que o sábado esteja sempre ao serviço do homem, para fazer bem e salvar a vida; se, de facto, Jesus é o senhor do sábado, é para o recolocar ao serviço do homem e da salvação da vida.

ACTUALIZAÇÃO

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Jesus ensina-nos a posicionar-nos com verdadeira liberdade diante da Lei de Moisés, ou melhor, diante da Lei de Deus, que nos chegou por Moisés, sem perder nunca de vista o seu objetivo de regular a nossa vida em sociedade e em Igreja, protegendo os mais frágeis e evitando toda e qualquer opressão por parte de quem exerce o poder. Interpretações rigoristas da Lei – como são as dos fariseus no nosso texto – cegam e não deixam ver as necessidades humanas que, na perspetiva de Jesus, são o verdadeiro critério para manter uma atitude livre diante da Lei.

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O nosso texto não coloca em causa a celebração do culto no dia de sábado, mas reposiciona-a de modo a que possa coabitar com o serviço dos necessitados, na pessoa dos discípulos com fome e de uma pessoa com uma mão atrofiada. A celebração do Dia do Senhor, ao domingo, pode ser cada vez mais expressão desta dupla faceta do sábado

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reinterpretado com Jesus que, em dia de sábado entra na sinagoga, lugar onde se realiza o culto, mas não pactua com a necessidade de quem sofre, indo em seu auxílio, dando conforto e, no caso, mesmo a cura. Se o cristão prolonga na existência a vida de Cristo, é importante que no dia maior, a Ele consagrado, não se perca de vista aqueles que foram os seus prediletos.

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A regra hermenêutica que Jesus dá para saber o que se pode fazer ou não ao domingo pode ser transposta para outros campos da nossa vida: é importante saber que queremos estar ao serviço do bem e da salvação da vida humana, em linha com o desejo de Deus, tal como se manifesta na vida e mensagem de Jesus; a par disso, sabemos que as instituições, sejam elas religiosas ou civis, devem estar ao serviço da vida humana, para que possam realizar a missão para a qual nasceram.

{Transcrito por Avelino Seixas}

Referências

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