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DETERMINANTES DA DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES CONTÁBEIS AMBIENTAIS DAS EMPRESAS: EVIDÊNCIAS DE ESTUDOS INTERNACIONAIS

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DETERMINANTES DA DIVULGAÇÃO

DE INFORMAÇÕES CONTÁBEIS

AMBIENTAIS DAS EMPRESAS:

EVIDÊNCIAS DE ESTUDOS

INTERNACIONAIS

Júlia Alves e Souza

julia.jasouza@gmail.com

José Willer do Prado

jwprado@gmail.com

Douglas José Mendonça

mendonca_douglas@yahoo.com.br

Este trabalho objetivou identificar, em estudos científicos internacionais, os fatores que são apontados como determinantes da divulgação de informações contábeis ambientais das empresas. A técnica metodológica aplicada foi a revisão sistemática de literatura, a partir de uma pesquisa bibliográfica e descritiva. Foram selecionados 11 artigos publicados em periódicos indexados na Web of Science, a qual é considerada uma das principais bases científicas internacionais. Ao se analisar a totalidade dos artigos, observou-se que alguns dos fatores apontados como possíveis determinantes de divulgação foram analisados por mais de um artigo, enquanto que outros fatores foram explorados por apenas um desses trabalhos. Como principais resultados, foram identificados 68 fatores testados como possíveis determinantes da divulgação de informações contábeis ambientais, e estes foram agrupados em 7 diferentes categorias: características gerais das empresas; características financeiras das empresas; governança corporativa; impacto ambiental do negócio; legislação do país e certificações ambientais; mercado em que a empresa está inserida; sociedade e imagem da empresa. Assim, observa-se que os diferentes elementos mencionados devem ser levados em consideração ao se investigar os níveis de evidenciação sobre as questões ambientais das empresas, uma vez que tais elementos tendem a influenciar na decisão de divulgar ou não esse tipo de informação. Espera-se que as categorias propostas nessa pesquisa e a sistematização das evidências sobre os determinantes possam contribuir para o avanço do conhecimento sobre a temática, servindo ainda como norteamento para novos estudos que investiguem o assunto.

Palavras-chave: Divulgação Ambiental, Determinantes de Divulgação, revisão sistemática, Contabilidade Ambiental

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1 Introdução

A degradação ambiental e o esgotamento dos recursos naturais vivenciados pela humanidade têm norteado grandes reflexões no universo corporativo. Cada vez mais, surgem evidências apontando que o ambiente natural mundial está se deteriorando, e tais evidências têm levado a uma crescente preocupação com o impacto negativo das operações empresariais sobre o ecossistema (TANG; LUO, 2016).

Conforme Braga, Oliveira e Salotti (2010), as empresas são responsáveis pela intermediação entre os recursos naturais e o consumidor final, e podem ser consideradas como um dos principais vetores da problemática ambiental. Esses autores afirmam que a exploração não responsável do meio ambiente, que desconsidera os impactos ambientais produzidos e os possíveis efeitos danosos à vida humana, é socialmente injustificável; assim, as empresas têm uma série de obrigações para com a sociedade no que diz respeito à maneira como utilizam os recursos naturais para produzirem seus bens e serviços.

A conscientização sobre a importância ambiental gera uma crescente demanda de informações sobre os impactos das ações ambientais das organizações. Monteiro e Aibar-Guzmán (2010) destacam que, como resultado dessa demanda, a contabilidade ambiental passou a ficar em evidência. Embora as empresas não tenham a obrigação legal de divulgarem informações de natureza ambiental em suas demonstrações contábeis, há evidências de divulgação voluntária desse tipo de informação (BRAGA; OLIVEIRA; SALOTTI, 2010).

Segundo Dawkins e Fraas (2011), existem grandes variações na divulgação ambiental e também pontos de vista diferentes sobre quais são os motivos que levam as empresas a divulgarem voluntariamente tais informações. De acordo com os autores, a divulgação voluntária inclui dados que não são exigidos por lei, e é útil para a tomada de decisão das partes interessadas em relação às organizações.

Desde a metade da década de 1990, a atenção para pesquisas científicas relacionadas à contabilidade ambiental tem aumentado. Nesse contexto, as informações divulgadas pelas empresas às partes interessadas tornaram-se um importante campo de estudo, no qual tanto o tipo quanto o nível da divulgação são relevantes (MONTEIRO; AIBAR-GUZMÁN, 2010; BURGWAL; VIEIRA, 2014).

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3 Um dos enfoques de pesquisa que tem se destacado diz respeito aos determinantes da divulgação ambiental corporativa, ou seja, aos fatores que influenciam essa divulgação. Analisando as diferenças que existem nas informações contábeis ambientais apresentadas por diversas empresas, observa-se que essas empresas recebem incentivos para divulgarem tal tipo de informações. Conforme Monteiro e Aibar-Guzmán (2010), vários são os atributos corporativos e as variáveis potencialmente associadas à diversidade de níveis de divulgação ambiental entre as empresas. Esses atributos se tornam relevantes para a compreensão dos padrões de comportamento da firma com relação à questão ambiental, em especial quando se trata da disponibilização de informações ao público externo à empresa.

Considerando esses aspectos, emerge a necessidade de um melhor entendimento sobre as evidências empíricas identificadas na literatura científica sobre os determinantes da divulgação ambiental corporativa. Nesse sentido, o presente artigo pretende responder à seguinte questão: em estudos científicos internacionais, quais fatores são apontados como os determinantes da divulgação de informações contábeis ambientais das empresas?

Assim, será possível reunir um conjunto de evidências empíricas sobre os determinantes da divulgação de informações ambientais, o que também fomenta uma discussão sobre o conhecimento produzido a respeito do tema e sobre os diferentes elementos que levam as empresas a divulgarem essas informações. Dessa forma, a pesquisa tem o objetivo geral de identificar, em estudos científicos internacionais, os fatores que são apontados como determinantes da divulgação de informações contábeis ambientais das empresas.

O presente artigo está estruturado em cinco seções, sendo esta introdução a primeira. Na segunda seção, é apresentada a plataforma teórica que dá embasamento ao estudo, enquanto que na terceira seção são descritos os procedimentos metodológicos utilizados. A quarta seção evidencia e discute os resultados obtidos pela pesquisa. Já na quinta seção, são apresentadas algumas considerações finais pertinentes ao trabalho.

2 Referencial teórico

2.1 A divulgação de informações contábeis ambientais

As preocupações com a proteção do meio ambiente e com a sustentabilidade das operações das empresas ganham cada vez mais relevância entre os agentes reguladores, os

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4 ambientalistas e a sociedade em geral (Monteiro & Aibar-Guzmán, 2010). Diante desse novo cenário, a sustentabilidade se tornou uma questão central para os negócios e para a sociedade. Porém, mesmo havendo uma maior conscientização sobre a importância da adoção de melhores práticas ambientais por parte das empresas, os custos dessa adoção muitas vezes fazem com que as organizações não desenvolvam boas práticas em relação à natureza e ao ambiente em que se inserem.

Apesar dos custos para que as operações empresariais sejam sustentáveis, os gestores têm percebido que a gestão ambiental pode oferecer oportunidades de adicionar valor e, ainda, de obter vantagens competitivas (MONTEIRO; AIBAR-GUZMÁN, 2010). Diante disso, as empresas têm utilizado voluntariamente a divulgação de informações ambientais. Pereira, Luz e Carvalho (2015) afirmam que a sociedade, os investidores e os analistas financeiros valorizam esse tipo de iniciativa, uma vez que a divulgação voluntária fornece informações que podem ser úteis para a tomada de decisão das partes interessadas, auxiliando na compreensão das estratégias socioambientais das organizações.

Conforme Braga, Oliveira e Salotti (2010), o processo de divulgação social corporativa pode ser caracterizado como o fornecimento de informações financeiras e não financeiras relacionado com a interação de uma organização com seu ambiente físico e social, publicado tanto em relatórios anuais como em relatórios sociais específicos.

As divulgações ambientais devem incluir várias questões relevantes sobre o meio ambiente, tais como as emissões de gases com efeito estufa (como as causadas pela combustão em caldeiras e as ligadas à eliminação de resíduos), as despesas com energia (por exemplo, óleo, carvão, energia direta e indireta), os volumes de água utilizados, as quantidades de resíduos produzidos e as políticas de utilização de recursos diversos (IATRIDIS, 2013). Devem conter, ainda, os investimentos de capital em projetos de sustentabilidade que objetivem a preservação do meio ambiente, bem como informações sobre o plano de ação ambiental da empresa.

Nesse contexto, as empresas também são encorajadas a estabelecer certos procedimentos, como a utilização de sistemas de controle interno apropriados, o monitoramento do cumprimento dos requisitos legais e a adoção de práticas amplamente aceitas em relação a questões ambientais relevantes.

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2.2 Teorias relacionadas à divulgação de informações ambientais

A questão da divulgação social e ambiental corporativa vem sendo analisada com base em várias teorias, que consideram diferentes argumentos para explicar as diferenças nas divulgações ambientais entre empresas. As principais vertentes utilizadas para explicar as divulgações ambientais são a Teoria da Divulgação Voluntária, a Teoria da Legitimidade e a Teoria dos Stakeholders.

A Teoria da Divulgação Voluntária aborda o processo de divulgação de informações como um processo endógeno, sendo que existem incentivos externos que podem estimular ou restringir as decisões de divulgação por parte das empresas. Peters e Romi (2014) explicam que essa teoria pode ser entendida como um caso especial da Teoria dos Jogos e que ela adota a premissa de que a entidade só divulgará, voluntariamente, informações boas ou vantajosas para si mesma. Assim, só haverá a divulgação de informações quando estas gerarem benefícios para as empresas e estes forem maiores que os custos da divulgação.

Segundo a ótica da Teoria da Divulgação Voluntária, as divulgações que se referem ao ponto de vista social e ambiental tendem a ser altamente valorizadas por analistas financeiros, investidores e autoridades do mercado, na medida em que estas sejam relevantes e valiosas (TANG; LUO, 2016). Diante disso, as empresas são motivadas a divulgar informações ambientais com o intuito de impressionar as partes interessadas, reduzindo a incerteza e o ceticismo a respeito das atividades desenvolvidas e dos impactos socioambientais destas (BURRITT; CHRIST; OMORI, 2016).

Já a Teoria da Legitimidade é outra perspectiva amplamente adotada para explicar a divulgação das informações ambientais. Segundo Tang e Luo (2016), essa teoria se baseia na ideia de que existe uma espécie de contrato social entre as organizações e a sociedade em que atuam, representando um conjunto de expectativas implícitas ou explícitas a respeito da forma como tais organizações devem operar.

Sob a ótica da Teoria da Legitimidade, a divulgação corporativa é utilizada para gerenciar a legitimidade da empresa. Assim, quando um evento negativo se torna uma ameaça presente ou potencial à legitimidade da empresa, os administradores tentam mudar a percepção dos que estão do “lado de fora”, com o objetivo de alinhar as expectativas da sociedade com as atividades desenvolvidas na organização e/ou convencer tal sociedade de que a empresa age de maneira socialmente responsável (IATRIDIS, 2013).

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6 Por fim, pode-se analisar o processo de divulgação de informações contábeis com base na Teoria dos Stakeholders. Segundo Burgwal e Vieira (2014), essa teoria é sustentada pela sociologia, pelo comportamento organizacional e pela política de interesses de grupos específicos, sendo uma abordagem que prioriza o gerenciamento de relacionamentos entre os diversos atores que compõem o universo empresarial, procurando integrar seus diferentes interesses. Nesse sentido, a empresa deixa de privilegiar somente os interesses dos seus acionistas, focando também na responsabilidade de satisfazer os interesses de todos os grupos ou indivíduos que afetam ou são afetados pelo alcance dos objetivos dessa empresa (que são denominados stakeholders)

Na perspectiva da Teoria dos Stakeholders, existe a necessidade de mitigar as preocupações causadas pelas práticas organizacionais relacionadas às percepções dos acionistas, credores, funcionários, fornecedores, analistas financeiros, empregados, comunidade local e governo, dentre outras partes relacionadas. Dessa forma, argumenta-se também que as empresas com maiores propensões para poluição (por exemplo, aquelas com emissões elevadas de gases que afetam a atmosfera ou com altos níveis de poluição da água) estariam inclinadas a fornecer maiores níveis de divulgação ambiental (CHO; PATTEN, 2007).

3 Metodologia

Para atingir o objetivo proposto, aplicou-se a revisão sistemática de literatura como técnica de pesquisa. A revisão sistemática utiliza a literatura sobre determinado tema como fonte de dados, e disponibiliza um resumo das evidências encontradas mediante a aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca, a apreciação crítica dos dados e a síntese da informação identificada (SAMPAIO, MANCINI, 2007).

Os dados empregados no desenvolvimento do estudo são secundários, e foram obtidos a partir dos artigos publicados em periódicos científicos. Foi definida a Web of Science, da Thomson

Reuters Scientific, como base para a pesquisa dos artigos relacionados com o campo

delimitado. A escolha da Web of Science se deu pela importância desta base no cenário científico internacional, considerando também que ela oferece acesso a mais de 12.000 periódicos científicos e acadêmicos em todo o mundo.

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7 Para a seleção dos artigos a serem analisados, foram definidos termos de busca com base na temática de divulgação contábil ambiental. A busca foi realizada por meio do website da base

Web of Science. Utilizou-se os operadores booleanos “AND” e “OR” para delimitar os artigos

a serem analisados. O operador “AND” foi utilizado para unir os termos referentes à “contabilidade ambiental”, “divulgação ambiental” e “relatórios ambientais” com palavras como “contabilidade”, “divulgação” e “relatórios”. Já o operador “OR” foi utilizado entre estes primeiros termos definidos para agrupar as buscas. Os termos foram pesquisados em inglês, que é o idioma padrão da base pesquisada.

Desta forma, na opção de “busca avançada”, foi configurado o processo o representado na Figura 01, na qual constam as combinações entre os termos de busca adotados, conforme o padrão utilizado na Web of Science.

A operacionalização da busca na base Web of Science foi realizada na data de 10 de outubro de 2017, delimitando os resultados aos artigos publicados até o ano de 2016. Como resultado, foram identificados inicialmente 214 artigos. Na sequência, optou-se por selecionar exclusivamente os estudos que utilizavam modelagens econométricas para testar empiricamente quais seriam os possíveis determinantes de tal divulgação. Para selecionar esses estudos, efetuou-se a leitura dos 214 artigos anteriormente identificados, verificando quais deles atendiam ao critério especificado. Por meio desse procedimento, foram selecionados 11 artigos.

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8 Assim, os 11 artigos selecionados apresentam evidências empíricas sobre os fatores determinantes para a divulgação de informações contábeis ambientais. Diante do elevado número de evidências identificadas, os resultados referentes às variáveis testadas nos estudos foram agrupados em categorias e discutidos de maneira agregada.

4 Resultados e discussões

No quadro 01, estão listados (em ordem cronológica) os artigos analisados no presente estudo. Observa-se que a maior parte desses artigos foi publicada a partir de 2010, o que evidencia a atualidade da temática abordada.

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9 Já no Quadro 02, identificam-se os tipos de divulgação analisada, as fontes ou relatórios utilizados, os princípios que foram empregados para a identificação dos níveis de divulgação das empresas, a amostra e o período a que se refere a divulgação investigada por cada trabalho avaliado.

A partir do Quadro 02, pode-se identificar características relevantes de cada um dos estudos. Como não existe um padrão para mensuração da quantidade ou qualidade da divulgação de informações contábeis ambientais, os artigos utilizam diferentes tipos de fontes para buscar as

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10 informações ambientais divulgadas pelas empresas. Alguns procedimentos metodológicos também diferem entre os trabalhos, e as investigações envolvem amostras de empresas de vários países e períodos distintos.

Um ponto comum a todos esses artigos é que eles aplicaram modelagens econométricas para identificar a relação entre a divulgação de informações contábeis ambientais (mensurada segundo os critérios apresentados na Tabela 02) e diversas outras variáveis. A definição dessas variáveis teve como base a Teoria da Legitimidade, a Teoria da Divulgação Voluntária e/ou a Teoria dos Stakeholders. Como tais variáveis podem influenciar no fato de a empresa divulgar (ou não) maiores níveis de informação, são consideradas potenciais “determinantes de divulgação”.

Ao se analisar a totalidade dos trabalhos, foram identificados 68 fatores testados como possíveis determinantes de divulgação. Observando as características das diferentes variáveis testadas, propõe-se que esses fatores podem ser agrupados em 7 diferentes categorias, sendo elas referentes: (i) às características gerais das empresas; (ii) às características financeiras das empresas; (iii) à governança corporativa; (iv) ao impacto ambiental do negócio; (v) à legislação do país e certificações ambientais; (vi) ao mercado em que a empresa se insere; e (vii) à sociedade e à imagem da empresa.

A primeira categoria refere-se à análise das variáveis que representam características gerais das empresas. Os resultados que os artigos apresentaram para cada uma dessas variáveis é apresentado no Quadro 03. Vale destacar que, para a interpretação desta tabela e das demais subsequentes, deve-se considerar que a primeira coluna traz o fator investigado, a segunda coluna mostra o tipo de relação observada entre o fator correspondente e a divulgação de informações contábeis ambientais (relação positiva, negativa ou não significativa), e a terceira coluna expõe todos os estudos que identificaram a respectiva relação para a variável (na linha correspondente).

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11 Assim, nota-se que a maioria dos determinantes analisados, referentes às características gerais das empresas, tem uma relação positiva com a divulgação de informações. Isso significa que esses fatores influenciam para que as empresas divulguem mais informações sobre as questões ambientais com as quais estão envolvidas. Porém, para 3 das 6 variáveis investigadas, houve estudos que apontaram evidências de relação não significativa (ou seja, algumas evidências apontaram que essas variáveis, no contexto investigado, não influenciaram na divulgação).

A segunda categoria de fatores corresponde às variáveis que representam características financeiras das empresas. O resumo das evidências obtidas para essas variáveis é exposto no Quadro 04.

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12 Conforme o Quadro 04, há evidências empíricas de que algumas características financeiras estão associadas aos níveis de divulgação de informações contábeis ambientais das empresas. Destaca-se que foram obtidas evidências divergentes para as variáveis rentabilidade e endividamento, ambas exploradas pela maioria dos artigos analisados (a rentabilidade foi analisada por 9, enquanto que o endividamento por 8 dos estudos). Logo, a influência de tais variáveis pode depender de outros fatores, tais como o contexto em que a organização está inserida.

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13 Além da influência das variáveis financeiras (que são de interesse direto dos acionistas ou proprietários da empresa), a literatura aponta que a estrutura de governança corporativa também pode influenciar na divulgação de informações ambientais. A terceira categoria de determinantes, identificada nos estudos, é a de governança corporativa. A tendência é que os mecanismos de governança favoreçam a transparência da empresa, levando a maiores níveis de divulgação. No Quadro 05, são apresentadas as evidências empíricas dos estudos para as variáveis referentes a essa categoria.

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14 Os resultados expostos no Quadro 05 confirmam que a adoção de diversos mecanismos de governança corporativa possui relação positiva com a divulgação das informações ambientais por parte das empresas. Apenas para 1 dos 12 fatores analisados não foi obtida nenhuma evidência de relação positiva.

Prosseguindo com as análises, pode-se observar que os estudos investigaram 9 determinantes referentes ao impacto ambiental do negócio, que constituem a quarta categoria de fatores determinantes. Os resultados a eles correspondentes são apresentados no Quadro 06.

As evidências para as variáveis de impacto ambiental revelam a tendência de que empresas que geram mais impactos negativos divulguem mais informações contábeis ambientais. Apenas para uma das variáveis foi obtido resultado de relação negativa, e em um único estudo. Observa-se que a variável mais explorada é a referente aos riscos ambientais associados ao setor em que a organização se insere, que foi analisada por 5 artigos.

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15 Já os resultados para os fatores referentes à legislação do país e às certificações ambientais (quina categoria de determinantes) são expostos no Quadro 07. Essa foi a categoria com o maior número de determinantes analisados, tendo sido identificadas evidências sobre 13 diferentes variáveis.

A partir do Quadro 07, observa-se que, na maior parte das realidades investigadas pelos artigos, a legislação dos países em que as empresas se localizam influenciou os níveis de divulgação de informações contábeis ambientais. Para aspectos relacionados à certificação ambiental, entretanto, os estudos apontaram evidências de que estes não levam a maiores níveis de divulgação de informações (não foi identificada uma relação significativa).

No Quadro 08, observam-se os resultados para a categoria de determinantes ligados ao mercado em que a empresa se insere. Nessa sexta categoria, foram investigadas 9 variáveis, cada qual abordada por um único estudo.

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16 A maior parte das evidências indica que características relacionadas ao mercado influenciam o nível de informações contábeis ambientais divulgadas pelas empresas. Destaca-se a influência positiva de 5 das 9 variáveis analisadas, enquanto que 2 delas tiveram influência negativa e para outras 2 os resultados obtidos pelos artigos não foram significativos.

Por fim, pode-se analisar os resultados referentes aos determinantes ligados à sociedade e à imagem da empresa (sétima categoria de determinantes). As evidências empíricas são sintetizadas no Quadro 09, sendo que foram investigadas 8 variáveis e que cada uma delas também foi explorada por apenas um dos estudos.

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17 Conforme o Quadro 09, foram identificados resultados significativos para a maioria dos determinantes investigados nessa categoria. Entende-se que um dos principais incentivos para que as empresas divulguem informações contábeis ambientais é a necessidade de manter uma boa imagem perante à sociedade, atendendo às demandas de diferentes stakeholders em relação ao conhecimento das práticas socioambientais adotadas por essas empresas.

A partir de todas as evidências apresentadas, reúne-se um rico conjunto de resultados empíricos sobre diferentes características associadas à divulgação de informações contábeis ambientais. Esses resultados podem nortear o desenvolvimento de futuros estudos sobre tal divulgação, além de auxiliarem a identificar muitos dos aspectos envolvidos nos relatórios ambientais das empresas.

5 Considerações Finais

O presente estudo investigou, em estudos científicos internacionais, os fatores que são apontados como determinantes da divulgação de informações contábeis ambientais das empresas. Foram analisados 11 artigos publicados em periódicos indexados na Web of

Science, a qual é considerada uma das principais bases científicas internacionais.

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18 quantidade ou qualidade da referida divulgação, o que leva os artigos a utilizarem diferentes metodologias para analisar as informações ambientais.

Ao todo, foram identificados 68 fatores testados como possíveis determinantes de divulgação, e estes foram agrupados em 7 diferentes categorias: características gerais das empresas; características financeiras das empresas; governança corporativa; impacto ambiental do negócio; legislação do país e certificações ambientais; mercado em que a empresa está inserida; sociedade e imagem da empresa. Assim, observa-se que os diferentes elementos mencionados devem ser levados em consideração ao se investigar os níveis de evidenciação sobre as questões ambientais das empresas, uma vez que tais elementos tendem a influenciar na decisão de divulgar ou não esse tipo de informação.

O presente artigo não tem a pretensão de investigar todos os aspectos envolvidos pelos determinantes de divulgação, mas buscou sistematizar algumas evidências relevantes para fomentar a discussão sobre as diferentes motivações das empresas em relação às suas práticas de contabilidade ambiental. Considera-se que esta pesquisa apresenta algumas limitações, pois as análises foram efetuadas a partir da produção científica disponível na base de dados a

Web of Science, que foi previamente definida. Da mesma forma, o estudo se restringiu à

análise dos artigos que se enquadraram nos critérios de seleção especificados.

Espera-se que as categorias propostas nessa pesquisa e a sistematização das evidências sobre os determinantes (incluindo a identificação dos artigos que testaram as respectivas variáveis) possam contribuir para o avanço do conhecimento sobre a temática, servindo ainda como norteamento para novos estudos que investiguem o assunto. Sugere-se que futuras pesquisas se apropriem da identificação e categorização dos fatores determinantes levantados neste artigo, utilizando-os como variáveis explicativas para investigar (em contextos ainda não explorados pela literatura) o que leva as empresas a divulgarem informações contábeis ambientais.

Referências

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