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O sucesso do 26º Congresso

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Academic year: 2021

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Promovida pela AESabesp, essa realização

superou todos os seus índices, em 2015,

consolidando-se como a maior evento

técnico-mercadológico do setor da América

Latina. Saneas traz a cobertura completa.

Ano XIII . Edição 56 . Agosto a Novembro de 2015

Matéria tema

O saneamento na

O sucessO dO

26º cOngressO

TécnicO AesAbesp

FenAsAn 2015

Artigo técnico

Gestão do PURA

Jerson Kelman na

Matéria Especial

VEÍCULO OFICIAL

-FENASAN

2016 VEÍCULO OFICIAL

-FENASAN

2016

(2)

Desenvolver produtos químicos inovadores e de alta performance para o tratamento de água e efluentes:

há mais de 50 anos, esse é o nosso foco. Com 12 unidades fabris estrategicamente localizadas e sólidas

relações de parceria, estamos ao lado das principais empresas de saneamento e processos industriais do

Brasil. A segurança e eficácia dos nossos produtos são comprovadas através do uso em mais de 3.500

municípios. Nossa liderança é resultado de uma estrutura única, aliada a diferenciais estratégicos que

garantem a mais completa solução para os clientes:

BAUMINAS Química.

Tecnologia e inovação ao seu lado.

• Produção vertical de matérias-primas

• Tecnologia de última geração e inovação constante

• Logística estruturada e inteligente

• Suporte técnico altamente capacitado

(3)

Prezado(a)s Associado(a)s,

É

com imensa satisfação que trazemos nesta última edição da Revista Saneas da Diretoria da AESabesp Gestão 2013/2015 os principais re-gistros do 26 º Encontro Técnico AESabesp e da Fenasan 2015. Estes evidenciam a importância de estarmos unidos em torno de uma causa essencial para a sociedade brasileira: “A crise da água e suas consequências no séc. XXI” tendo sido, inclusive, foco da palestra de abertura proferida pelo presidente da Sabesp, Eng. Jerson Kelman, que lotou o auditório magno do evento.

Com público recorde, o evento técnico-mercadológico mais importante da Amé-rica Latina em saneamento ambiental trouxe profissionais de todos os estados brasi-leiros que, somados aos vindos de diversos países da América Latina, Caribe e União Européia, consagraram essa realização como o grande dínamo do conhecimento e de desenvolvimento tecnológico do setor, pois, tanto nos auditórios das dez mesas redondas, com temas pertinentes ao enfrentamento da crise hídrica, quanto nos corredores da feira, onde estavam os mais significativos produtos, serviços e projetos, apresentaram lotação máxima.

Os resultados nos levam a uma promissora expectativa para a próxima edição do evento, em 2016, prevista para os dias 16, 17 e 18 de agosto, no Pavilhão Vermelho do Expo Center Norte. Esta certamente encontrará nossa entidade mais fortalecida e nosso setor mais amadurecido, com disposição redobrada para buscar, debater e apresentar novas alternativas e diretrizes para a nossa tão sonhada universalização do saneamento.

E dentro deste contexto de caminhos além fronteiras, trazemos em nossa ma-téria tema uma abordagem sobre o setor de saneamento na América Latina, com uma entrevista com o presidente da AIDIS, Dr. Luiz Augusto de Lima Pontes, uma personalidade com referência técnica e diplomática internacional, que se interessa pelo desenvolvimento social, pelas bases do saneamento, da engenharia sanitária, da saúde e do meio-ambiente. Da mesma forma, também relatamos a visita de um grupo de especialistas brasileiros à Califórnia, nos Estados Unidos, que apresentaram no Espaço Vida da Sabesp Ponte Pequena várias experiências dessa região, notada-mente sobre o reúso de água.

E finalizando esta edição, tratamos de um tema es-portivo na sessão “Vivências”, sempre carregado de muita velocidade e adrenalina: o kartismo, atividade esportiva praticada por muitos de nossos associados. Uma boa leitura a todos!

Eng. Reynaldo E. Young Ribeiro Presidente da AESabesp

Editorial

ExpEdiEntE

Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua Treze de Maio, 1642, casa 1 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484 Fax: (11) 3141 9041

aesabesp@aesabesp.org.br www.aesabesp.org.br

Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp

Tiragem: 10.000 exemplares Diretoria Executiva

Presidente: Reynaldo Eduardo Young Ribeiro

Vice-presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges 1º Secretário: João Augusto Poeta

2º Secretário: Aram Kemechiam

1º Diretor Financeiro: Walter Antonio Orsatti 2º Diretor Financeiro: Nelson Cesar Menetti Diretoria Adjunta

Cultural: Sonia Maria Nogueira e Silva Esportes: Evandro Nunes de Oliveira Marketing: Paulo Ivan Morelli Franceschi Polos: Antônio Carlos Gianotti

Projetos Socioambientais: Maria Aparecida Silva de Paula Social: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges Técnica: Olavo Alberto Prates Sachs

Conselho Deliberativo

Antonio Carlos Gianotti, Benemar Movikawa Tarifa, Carlos Alberto de Carvalho, Cid Barbosa Lima Junior, Dejair José Zampieri, Evandro Nunes de Oliveira, Gilberto Alves Martins, Iara Regina Soares Chao, Ivan Norberto Borghi, Luciomar Santos Werneck, Maria Aparecida Silva de Paula, Paulo Ivan Morelli Franceschi, Rodrigo Pereira de Mendonça, Rogélio Costa Chrispim e Sonia Maria Nogueira e Silva Conselho Fiscal

Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Nelson Luiz Stabile

Conselho Editorial - Jornal AESabesp e Revista Saneas Coordenador: Luciomar Santos Werneck

Colaboradores: Benemar Movikawa Tarifa, Luiz Yukishigue Narimatsu e Nivaldo Rodrigues da Costa Jr.

Coordenadora de Assuntos Tecnológicos Marcia de Araújo Barbosa Nunes

Comissão Organizadora do 26º Encontro Técnico AESabesp - Fenasan 2015

Presidente da Comissão: Gilberto Alves Martins Coordenador da Fenasan: Olavo Alberto Prates Sachs

Coordenadora do Encontro Técnico AESabesp: Sonia Maria Nogueira e Silva Membros: Antonio Carlos Roda Menezes, Iara Regina Chao, Ivan Norberto Borghi, João Augusto Poeta, Maria Aparecida S. Paula, Mariza Guimarães Prota, Nélson César Menetti, Paulo Ivan Morelli Franceschi, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Rodrigo Pereira de Mendonça, Tarcisio Luiz Nagatani, Walter Antonio Orsatti Equipe de Apoio: Maria Flávia da Silva Baroni, Maria Lúcia da Silva Andrade, Monique Funke, Paulo Oliveira, Rodrigo Cordeiro, Vanessa Hasson Polos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP

Coordenador dos Polos: Rodrigo Pereira de Mendonça Polo AESabesp Costa Carvalho e Centro: Sérgio Luiz Caveagna Polo AESabesp Leste: Antonio Carlos Roda Menezes Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli Polo AESabesp Oeste: Claudia Caroline Buffa

Polo AESabesp Ponte Pequena: Fernandes Hayashi da Silva Polo AESabesp Sul: Antonio Ramos Batagliotti Polos AESabesp Regionais

Diretor de Polos: Antonio Carlos Gianotti

Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli

Polo AESabesp Caraguatatuba: Felipe Noboru Matsuda Kondo Polo AESabesp Franca: Mizue Terada

Polo AESabesp Itatiba: Carlos Alberto Miranda Silva Polo AESabesp Itapetininga: Jorge Luis Rabelo Polo AESabesp Lins: João Luiz de Andrade Areias Polo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto Polo AESabesp Vale do Paraíba: Sérgio Domingos Ferreira Polo AESabesp Vale do Ribeira: Jiro Hiroi

Jornalista Responsável

Maria Lúcia da Silva Andrade – MTb. 16081 Redação

Ednaldo Sandim e Lúcia Andrade Projeto visual gráfico e diagramação Neopix DMI

contato@neopixdmi.com.br www.neopixdmi.com.br

Desenvolver produtos químicos inovadores e de alta performance para o tratamento de água e efluentes:

há mais de 50 anos, esse é o nosso foco. Com 12 unidades fabris estrategicamente localizadas e sólidas

relações de parceria, estamos ao lado das principais empresas de saneamento e processos industriais do

Brasil. A segurança e eficácia dos nossos produtos são comprovadas através do uso em mais de 3.500

municípios. Nossa liderança é resultado de uma estrutura única, aliada a diferenciais estratégicos que

garantem a mais completa solução para os clientes:

BAUMINAS Química.

Tecnologia e inovação ao seu lado.

• Produção vertical de matérias-primas

• Tecnologia de última geração e inovação constante

• Logística estruturada e inteligente

(4)

Índice

10

Entrevista

AIDIS: a grande conexão pelo saneamento da AL

12

Ponto de vista

AESabesp apresentou experiências na administração de secas na Califórnia

14

Crise gera trabalho e gera oportunidades!

Por Viviana Borges

45

Diretoria

de Projetos

Socioambientais

Ações da DPS

48

Vivências

Pilotos de kart

28

Especial

26º Encontro Técnico

Fenasan 2015

29

Solenidade de abertura

32

Primeiro dia

34

Segundo dia

38

Terceiro dia

41

Premiação e Encerramento

Matéria

Tema

A projeção

internacional

do saneamento

na América Latina

06

16

Artigos técnicos

Programa de uso racional da água, estratégia bem sucedida da Sabesp na gestão do consumo em prédios públicos: o caso da penitenciária de Santana

24

Direitos da natureza - dignidade do planeta Terra

(5)

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

GESTÃO AMBIENTAL SUSTENTÁVEL

Pós-graduação “lato sensu”

Bauru

Campinas

Ribeirão Preto

REALIZAÇÃO:

APOIO:

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: www.ibeas.org.br

Fone: (14) 3016 0416

TURMAS

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

(6)

A

proximadamente 97,5% de toda a água do planeta Terra encontram-se nos oceanos, ou seja, é água salgada. Dos 2,5% de água doce existente, 2,493% estão em locais praticamente inacessíveis. Apenas 0,007% é encontrada em locais de fácil acesso. A América Lati-na, uma área majoritariamente subdesenvolvida, é ironicamente a região mais rica do mundo em termos de disponibilidade de água doce por pessoa. Estima-se que 31% dos recursos hídricos do mundo estejam neste continente. Mesmo assim, em toda a re-gião, a irregularidade no abastecimento de água e no saneamento básico faz com que esses serviços não cheguem a quem precisa.

Cerca de 100 milhões de pessoas na AL são desprovidas de acesso ao saneamento básico. E, com mais de 80% dos la-tino-americanos vivendo em cidades, essa desigualdade é mais sentida nas áreas rurais da região, onde a falta de água e sane-amento é comum. A falta de sanesane-amento básico tem impactos na saúde, na educação, no turismo e em outras áreas e pode diminuir o Produto Interno Bruto (PIB) de 2% a 3%.

Com a contínua expansão das megacidades da América Latina a tendência é que as políticas públicas priorizem as necessidades da crescente população urbana. Mas, embora o investimento em água e saneamento aumente as diferenças entre as zonas urbanas e rurais, em muitos países isso não necessariamente significa falta de recursos financeiros. O que falta são políticas mais eficientes, treinamento profissional para fazer a manutenção das redes e des-tinação correta de investimentos.

Reservatório Mundial

Segundo dados do Banco Mundial, até 2050, mais de um bilhão de pessoas viverão em cidades sem água suficiente. À medida que a população aumenta, também cresce a necessidade de abaste-cimento. O principal problema é que a quantidade de água no mundo não aumenta. A América Latina, nesse cenário, tem um papel fundamental, porque possui a maior quantidade de água doce do mundo. Segundo a Global Water Partnership (GWP), quase um terço dos recursos hídricos renováveis estão na América do Sul. Entre os países do mundo que contam com a maior quan-tidade de água, três estão na América Latina e figuram entre os dez primeiros: Brasil (primeiro), Colômbia (terceiro) e Peru (oitavo).

O ranking de abundância, no entanto, não significa água para todos. Em cidades como Lima, São Paulo e Cidade do México, onde a demanda por esse recurso é muito elevada, grande parte da água potável é desperdiçada devido ao uso ineficiente e às instalações precárias, agravando assim a crise futura.

América

Latina:

Uma região rica em

água e de contrastes

em qualidade de vida

(7)

Pela hora da morte

Água é vida, certo? Certo. Mas seu custo em alguns lugares da AL está pela hora da morte. De acordo com informações do Pro-grama das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mais de 15% da população, distribuída em 31 países da AL, não têm acesso à água potável.

Um bom exemplo é o Peru, onde uma grande região do país é um enorme deserto, os que estão mais afastados obtêm água através de caminhões-pipa, poços artesianos, rios, valas ou nas-centes. Não raras vezes a qualidade dessa água é inadequada e seu abastecimento não é contínuo. A cobertura de água e sane-amento no país já supera 90%, mas são justamente os que não têm acesso à rede que pagam mais pelo serviço. Um metro cúbico de água para um usuário conectado à rede pública custa apro-ximadamente 30 centavos de dólar, enquanto que a compra de água de caminhões-pipa pode chegar a custar mais de 4 dólares (12 reais) por metro cúbico, ou seja, 12 vezes mais.

A reciclagem da água, especialmente no setor agrícola, é uma das principais soluções para enfrentar a crise. Desafortunadamen-te, cerca de 90% da água residual de países em desenvolvimento escoa sem tratamento até os rios, lagos e zonas costeiras. De acor-do com especialistas acor-do Banco Mundial, na América Latina, três quartos dos esgotos líquidos ou água residual volta para os rios e outras fontes hídricas, criando graves problemas para a saúde pública e para o meio ambiente.

Mas há exemplos positivos. É o caso, por exemplo, da usina Taboada, uma estação de tratamento de água em Lima, que se transformou em uma peça importante para a solução do pro-blema. Os resíduos sólidos, ao invés de serem lançados ao mar, podem ser reutilizados para fins comerciais como combustível, fertilizantes e até material de construção.

Finalmente, já que 71% dos glaciares tropicais - situados entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio - do mundo se encontram no país, um projeto busca aproveitar a água dos An-des, cerca de 7.240 quilômetros de picos cobertos de neve que desempenham um papel vital no abastecimento de água da re-gião, e que se vêem ameaçados devido ao derretimento causado

pelo aquecimento global.

Buscar novas fontes pode parecer a solução mais adequada, no entanto, es-pecialistas alertam que a melhor saída seria investir na conservação e recu-peração de mananciais existentes, além, é claro, do reaproveitamento da água. É mais ou menos parecido com nosso orçamento doméstico: se gastamos mais do que ganha-mos ou teganha-mos, tereganha-mos de tomar emprestado. O problema é que, no caso da água, o recurso é esgotável.

Sem energia não há

água e sem água

não há energia

Na América Latina e no Caribe existe uma pressão crescente dos recursos hídricos por fatores climá-ticos como as secas e as inundações

e por atividades econômicas que precisam de muita água, como a mineração e a agricultura. Apesar de ser uma região rica em recursos energéticos como hidrocarbonetos, energia hidrelétrica e biocombustíveis, esta riqueza está igualmente má distribuída: aproximadamente 34 milhões de pessoas carecem de acesso aos serviços modernos de eletricidade.

A água precisa de energia para ser purificada, transportada, pressurizada e depurada, enquanto a maior parte dos processos de produção de energia necessitam de água para a refrigeração, extração, entre outros. Trata-se de dois recursos intimamente liga-dos e que impactam os sistemas alimentares.

A FAO (Foodand Agriculture Organization of the United Nations) orienta que os governos devem criar políticas energéti-cas que levem em consideração os nexos existentes entre a produ-ção de alimentos, a geraprodu-ção de energia e a sustentabilidade dos recursos hídricos.

Disparidades entre o campo e a cidade

Os níveis de cobertura de água potável e saneamento refletem as assimetrias que prevalecem entre as áreas rurais e urbanas da região. Dos 77 milhões de pessoas que não têm água potável, 51 milhões vivem em áreas rurais, enquanto os restantes 26 milhões estão em áreas urbanas. No que se refere ao saneamento, consta-tou-se que mais de 100 milhões de pessoas não têm qualquer tipo

(8)

de serviço. Essa população soma-se a 256 milhões de habitantes da região que fazem uso de latrinas e de fossas sépticas.

Gestão inadequada dos recursos hídricos

Aproximadamente 86% das águas residuais são despejadas em corpos d’água na região, sem qualquer tratamento. Apesar de grandes camadas da população serem abastecidas por água po-tável e possuírem saneamento, deve-se salientar que a utilização de água para as necessidades básicas não é a principal destinação dada aos recursos hídricos. O agronegócio, com 70% e a indústria com 20% configuram-se como os principais setores sócio econó-micos que fazem maior uso da água, totalizando 90% da água extraída e utilizado para tais fins.

A região está experimentando uma crescente dependência do uso de suas fontes de água subterrânea: América do Sul utiliza entre 40 e 60% de sua água de aquíferos, enquanto a América Central e México dependem de 65% dessas fontes. No México, por exemplo, 102 dos 653 aquíferos são sobre-explorados.

Somado a isso, há a inadequada gestão na conservação e na distribuição da água, e em média, 40% da água é perdida em vazamentos e em sistemas de esgoto inadequados. Com uma po-pulação em crescimento, com demandas crescentes por serviços básicos e modelo de desenvolvimento baseado na exploração de matérias-primas, a América Latina está caminhando em direção a uma piora na exploração das suas fontes de água.

O “estresse”da água

Apesar de ser o continente mais rico em termos de disponibili-dade per capita de água, isso não significa que as populações não sofram com uma escassez, e grave, da água. Países como o Peru, El Salvador e México já experimentam o chamado “es-tresse hídrico”.

Cada um desses países merece uma análise diferenciada: o Peru é um país rico na disponibilidade de água, mas, tendo em conta que os seus principais núcleos urbanos e suas atividades económi-cas estão no litoral em áreas desértieconómi-cas, a acessibilidade do recurso se torna difícil e caro.

No caso do México, há a crescente migração campo/cidade, em particular, em direção a Cidade do México, um dos principais aglo-merados urbanos do mundo.Este centro urbano abriga um quinto da população (mais de 20 milhões de pessoas) e as principais ativi-dades socioeconômicas do país. Como mencionado anteriormen-te, cerca de 1/6 dos aquíferos mexicanos já está sobre-explorado, portanto a crescente procura de centros urbanos envolve a impor-tação de água de outras regiões. A Cidade do México já importa 45% da água que consome do interior do país.

El Salvador, com 21,040 km², é um dos países mais desmatados e densamente povoados da América Latina, com 333 habitantes/ km². Conta com uma cobertura florestal original de apenas 3% de todo o território, com uma população estimada em 6,9 milhões de habitantes. Este pequeno país depende de uma grande bacia que abrange 50% do seu território a bacia tri nacional do Rio Lempa (compartilhado com Honduras e Guatemala).

O alto nível de erosão das encostas existentes na bacia deste rio, como resultado da alta taxa de desmatamento e conversão do uso do solo (para pasto, por exemplo) influenciou decisivamente no estresse hídrico que este país vem sofrendo. San Salvador, onde um terço da população do país se concentra, importa 25% da água que consome do rio Lempaque.

Vale a pena mencionar a crise de água que aflige o Haiti. A situação deste país do Caribe é classificada como “catastrófica”, semelhante à da África subsaariana. De acordo com Rothfeder (2001) em seu livro: “EveryDrop for Sale”, as populações deste país sobrevivem, em média, com 3 ou 4 litros de água por dia.

Consequências para a saúde associados com

a deterioração

da água

A Organização Mun-dial de Saúde tem dito repetidamente que 85% das causas de doenças e mortes no mundo são associadas a água contaminada e falta de acesso a ela. Anualmente, disente-ria, diarréia e outras doenças transmitidas pela água tiram a vida de 3 milhões de pesso-as. A América Latina não é uma exceção a esta realidade: todos os anos, 150.000 mor-tes são relatados por doenças de veiculação hídrica, 85% das quais ocorrem em crianças com menos de 5 anos de idade.

85%

Causas de doenças e mortes no mundo são associadas a água

contaminada e falta de acesso a ela

3

Disenteria, diarréia e outras doenças transmitidas pela água

milhões

de mortes

(9)

Brasil ocupa a 112ª posição

em ranking de

saneamento básico

No contexto mundial, o Brasil ocupa a 112.ª po-sição num ranking de saneamento entre 200 pa-íses, segundo aponta um estudo divulgado, em 2014, pelo Instituto Trata Brasil e pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, durante o fórum Água: Gestão Es-tratégica no Setor Empresarial. A finalidade dessa amostragem foi apontar o que poderia ser obtido com mais investimentos em saneamento básico, melhorando a qualidade de vida do brasileiro e elevan-do a economia elevan-do país.

De acordo com esse trabalho, o Índice de Desenvolvimen-to do SaneamenDesenvolvimen-to atingiu 0,581, indicador que está abaixo não só do apurado em países ricos da América do Norte e da Europa como também de algumas nações do Norte da África, do Oriente Médio e da América Latina em que a renda média é inferior ao da população brasileira. Entre eles estão o Equador (0,707); o Chile (0,686) e a Argentina (0,667).

O índice é mensurado com base no Índice de Desenvolvi-mento Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Na última década, o acesso de mora-dias à coleta de esgoto aumentou 4,1%, nível abaixo da média histórica (4,6%). Em 2010, 31,5 milhões de residências tinham coleta de esgoto.

A região Norte foi a que apresentou a melhor evolução, ape-sar de ter as piores condições no país com 4,4 milhões de casas sem coleta. Somente o estado do Tocantins conseguiu ampliar o atendimento em quase 21%. No Nordeste, um universo de 13,5 milhões não contavam com esses serviços e em mais de 6 milhões de lares não havia água tratada. O maior número de residências sem coleta foi registrado no estado da Bahia (3,3 milhões), seguido pelo Ceará (1,9 milhão). No Sul, mais 6,4 mi-lhões de residências também não contavam com os serviços de coleta e os estados com os maiores déficits foram: Rio Grande do Sul (2,8 milhões) e Santa Catarina (1,9 milhão). Já no Sudes-te, com os melhores índices de cobertura, ainda existiam 8,2 milhões de moradias sem coleta.

Segundo advertem os organizadores do estudo, “a situação do saneamento tem reflexos imediatos nos indicadores de saú-de”. Eles citam que, em 2011, a taxa de mortalidade infantil no Brasil chegou a 12,9 mortes por 1.000 nascidos vivos,

supe-rando às re-gistradas em Cuba (4,3%), no Chile (7,8%) e na

Costa Rica (8,6%).O estudo destacou ainda que, se houves-se cobertura ampla do saneamento básico, as internações por infecções gastrintestinais que, segundo dados do Ministério da Saúde atingem 340 mil brasileiros, baixariam para 266 mil. Além da melhoria na qualidade da saúde isso representaria re-dução de custo, já que as internações levaram a um gasto de R$ 121 milhões, em 2013.

Pelos cálculos desse trabalho, a universalização traria uma eco-nomia das despesas públicas em torno de R$ 27,3 milhões ao ano e mais da metade (52,3%) no Nordeste. Outros 27,2% no Norte e o restante diluído nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Con-forme os dados, em 2013, 2.135 vítimas de infecções gastrintesti-nais perderam a vida - número que poderia cair 15,5%.

A universalização do saneamento também diminuiria os afasta-mentos do trabalho ou da escola em 23% , o que poderia implicar em queda de R$ 258 milhões por ano. Outro benefício apontado pelo estudo seria a dinamização do turismo com a criação de quase 500 postos de trabalho e renda anual de R$ 7,2 bilhões em salários, além de incremento na formação do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma da riqueza gerada no país, da ordem de R$ 12 bilhões.

(10)

Aidis:

a grande conexão

pelo saneamento

da América Latina

E

m complementação a nossa abordagem sobre o saneamento na América Latina, entrevistamos o Eng. Dr. Luiz Augus-to de Lima Pontes, presidente da AIDIS (Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental), entidade que congrega as principais instituições de profissionais e estudantes das três Américas, com focos voltados à preservação am-biental, à saúde e ao saneamento. Fundada em 14 de abril de 1948, a AIDIS foi criada 7 dias após a fundação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde então, mantém estreita colaboração com essa

entidade, o que garante reconhecimento e represen-tações nas assembléias e comitês executivos tanto na OMS como também na Organização Panamericana da Saúde (OPS).

Saneas: O senhor poderia discorrer sobre as atuações da AIDIS e de que forma ela tem promovido o sanea-mento e a engenharia sanitária na América Latina?

Lima Pontes: A Associação representa o setor em 32 países das Américas e do Caribe e atualmente possui 35 mil associados. A cada 2 anos, nos anos pares, promove-mos o Congresso Interamericano de Engenharia

Sanitá-Eng. Dr. Luiz Augusto de Lima Pontes

Presidente da AIDIS

(11)

ria e Ambiental com a participação de todos os países representados; em 2016 será realizado em agosto Cartagena - Colômbia. E nos anos ímpares realizamos congressos regionais (nessa gestão já foram rea-lizados em Miami, Nicaragua, Bolívia e Chile) e também realizamos encontros nas 24 seções nacionais além de eventos temáticos a cargo das nossas divisões técnicas.

Saneas: Como estão sendo estabelecidas parcerias com institui-ções que permitam consolidar essas ainstitui-ções de interesse mútuo?

Lima Pontes: No sentido de incrementar a atuação da AIDIS te-mos firmado convênios com outras instituições congêneres como a AESABESP, AWWA, WEF, IWA, ISWA, OPS/OMS, BID, Banco Mundial e outras.

Saneas: De que maneira o crescimento da população urbana na América Latina e a falta de recursos nas zonas rurais aumentaram as desigualdades no acesso ao saneamento?

Lima Pontes: A América Latina e o Caribe apresentaram um bom desempenho no cumprimeno das Metas de Desenvolvimento do Mi-lênio (MDMs) atingindo 85% de cobertura de água potável previstos, o que não significa que essa água tenha a qualidade requerida e con-tinuidade no abastecimento. Porém os 15% não cobertos significam muita gente sem água. O desafio de se combater a escassez hídrica recai tanto sobre as áreas urbanas quanto as rurais, cujas populações padecem de problemas referentes à saúde e ao saneamento.

Saneas: Mais de 30% da água doce do mundo está na América Latina, o que a torna a região mais rica do planeta em termos de recursos hídricos. Isto poderia significar que os problemas e abas-tecimentos estão mais concentrados nas gestões de abastecimento do que nos recursos naturais?

Lima Pontes: Creio que os empecilhos para um melhor abaste-cimento estão nestes dois pontos. Com exceção de Buenos Aires, que está às margens do Rio da Prata, as demais metrópoles da América Latina estão encravadas em locais de difícil captação de água (a RMSP é um bom exemplo). Mas é pertinente também que se houver investimentos em obras bem projetadas e vontade políti-ca para reconhecer a importância desse setor na infra-estrutura das cidades, todo o processo tende a melhorar.

Saneas: Com previsões climáticas que atestam ainda pelo me-nos mais dois ame-nos de escassez hídrica, o senhor crê que a Amé-rica Latina, por concentrar o maior bioma mundial:a Floresta Amazônica, consiga mais investimentos de países ricos, sem por em risco a liderança de seus governos?

Lima Pontes: A vulnerabilidade da Amazônia é evidente no

cenário mundial e esbarra em interesses de países mais desen-volvidos, principalmente no continente europeu, onde existem organizações não governamentais que pleiteiam a sua interna-cionalização. Mas, de fato, trata-se de um patrimônio mundial e o que precisamos é nos preocupar com a boa condução dos seus recursos para a sociedade de uma maneira geral, a despeito de interesses políticos e mesmo econômicos.

Saneas: A falta de água pode travar o progresso da tecnologia na gestão dos Recursos Hídricos em condições de indefinição e risco, caso a escassez perdure?

Lima Pontes: Pode sim, se continuarmos a utilizar processos que não se preocupam com o uso racional da água. O lado positivo dessa es-cassez hídrica foi justamente o de despertar uma nova consciência, tanto nos hábitos de consumo, como no desenvolvimento de novas práticas, sejam voltadas à hidroenergia ou a demais setores de alto consumo hídrico, como por exemplo, a agricultura, que hoje conta com novos processos de irrigação como gotejamento nas lavouras. Um conceito moderno que tem ganhado evidência é a pegada hídri-ca, que relaciona o quanto de água está sendo empregado em cada ação de consumo. Todos esses fatores trazem um certo otimismo no futuro, mas ainda se tem muito o que fazer para chegarmos a um nível ideal de relacionamento equilibrado o uso da água.

Saneas: A questão dos rios transfronteiriços é discutida regularmente nos fóruns internacionais. O senhor aventa a possibilidade da água vir a ser motivo de disputa de divisas dentro da América Latina?

Lima Pontes: Há disputas pela água em todo o mundo e na América Latina não é diferente, mas elas tem sido ajustadas de forma diplomá-tica, como por exemplo no episódio da construção da usina de Itaipu, uma hidrelétrica binacional, localizada na fronteira entre Brasil e Para-guai, a segunda maior hidrelétrica do mundo em extensão perdendo apenas para a Hidrelétrica de Três Gargantas na China.

Saneas: Em sua concepção, por ser um direito humano, é possível a água ser defendida por uma governança global, desvinculada dos interesses econômicos e geopolíticos? Ou isso ainda é uma utopia?

Lima Pontes: De fato, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que o acesso à água potável e ao saneamento básico é um direito humano essencial, inclusive por estar intrinsecamente ligado aos direitos à vida, à saúde, à ali-mentação e à habitação. Então, uma governança global da água deverá ocorrer em algum momento, mas não vejo isso muito pró-ximo. Dessa forma, temos que intensificar nossas ações regionais para atender as necessidades dos cidadãos, dentro ou fora de suas fronteiras.

(12)

AESabesp apresentou

experiências vivenciadas

em visita técnica à

califórnia

Promovido pela AESabesp, por meio de seu Pólo Ponte Pequena, foi realizado, na manhã de 23.09, o Momento de Tecnologia: “ Experiências na adminis-tração de secas na Califórnia”. A abertura foi feita pelo presidente da entidade, Reynaldo Young Ribei-ro, que destacou a importância de se trazer informa-ções relacionadas ao enfrentamento da crise hídrica de outros países, para uma possível aplicabilidade em nossa região.

Essa ação ainda contou com a participação da ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), APECS (Associação Paulista de Empre-sas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio

Ambiente), ABIMAQ (Associação Brasileira da Indús-tria de Máquinas e Equipamentos), Arcadis-Logos, CH2M Hill e Tetratech Brasil, em evento que lotou por completo o auditório do “Espaço Vida”.

Nessa ação foram apresentadas as experiências vi-venciadas na Califórnia pelo grupo formado por Vi-viana Aquino Borges (diretora social e vice-presidente da AESabesp, cuja participação nessa missão técnica teve seu custeio autorizado a partir de uma decisão do Conselho Deliberativo da entidade); Dante Raga-zzi Pauli (presidente da ABES nacional); Luiz Roberto Pladevall (presidente da APECS); Valdir Folgosi (vice--presidente do Sindesam/Abimaq); Rolando Gaal

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das (presidente da Sociedade Americana de Engenheiros Civis); Antonio Eduardo Giansante (consultor e professor do Mackenzie e da Universidade de Metz); Carlos Alberto Rosito (conselheiro da GO Associados); Gesualdo Saraiva Pallerosi (diretor da APECS), Helio Nazareno Padula Filho (diretor da ABES) e Lineu Andrade de Almei-da (consultor e professor do Mackenzie).

Esse grupo teve a iniciativa de ir à Califórnia, no período de 27 a 31 julho de 2015, para conhecer as ações adotadas para o uso ra-cional da água nesse estado que é o mais populoso dos EUA, cujas regiões tem acentuadas semelhanças com a RMSP, principalmente no enfrentamento da crise de escassez hídrica.

Na oportunidade, foram visitadas as grandes estações de reúso de água: Michelson Water Recycling Plant e Groundwater Reple-nishment System, além de empresas e departamentos públicos res-ponsáveis por alguns condados da Califórnia, como o Department of Water & Power, a Prefeitura de Los Angeles, a La Sanitation, o West Basin Service Area e a Tillman Water Reclamation Plant.

Presidente da ABES, Dante Ragazzi Pauli e a vice-presidente da AESabesp, Viviana Borges

A primeira parte desse Momento de Tecnologia foi conduzida pe-las palestras do presidente da ABES, Dante Ragazzi Pauli, e da vice-presidente da AESabesp, Viviana Borges, que discorreram e expuseram em slides tudo o que foi visto nas visitas, os índices atingidos pelos programas de uso e de reúso de água, os investi-mentos requeridos, as tecnologias utilizadas, as legislações segui-das e as campanhas de conscientização propagasegui-das na sociedade local, conferindo um panorama bem vasto de alternativas para o enfrentamento de uma crise hídrica.

Na segunda parte, lideranças de conceituadas empresas do setor apresentaram seus recursos utilizados no desenvolvimento de pro-jetos e de instalações de água reciclada, com as palestras de Jack Bryck (Arcadis-Logos); Alexander Fortin e Helena Kubler (CH2M Hill do Brasil) e Eduardo Yassuda (Tetratech Brasil).

Na conclusão das apresentações a AESabesp sorteou guarda-chu-vas personalizados entre os espectadores do auditório e agradeceu todos os parceiros presentes que dividiram esta rica experiência.

Viviana Aquino Borges, Dante Ragazzi Pauli,Luiz Roberto Pladevall, Valdir Folgosi, Rolando Gaal Vadas,Antonio Eduardo Giansante,Carlos Alberto Rosito, Gesualdo Saraiva Pallerosi,Helio Nazareno Padula Filho e Lineu Andrade de Almeida

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Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges Possui graduação em

engenharia civil pela Universidade Mackenzie (1992), mestrado pela USP - Escola Politécnica (2003), especialização em engenharia de saneamento básico pela USP - Faculdade de Sáude Pública (1999) e em gestão pública pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (2010). Atualmente é gerente da Divisão de Planejamento, Gestao, Desevolvimento Operacional e produção da Diretoria Metropolitana da Sabesp, e também diretora social e vice-presidente da AESabesp.

Crise

gera trabalho

e

gera oportunidades!

É preciso discutir, entender e aproveitar as oportuni-dades que surgem em decorrência de uma crise!

A questão da pouca oferta de água é muito dis-cutida por especialistas, por ser motivo de disputas regionais e até de guerras, quando muitas vezes se afirma ser a água o petróleo do futuro. Será que este tempo já começou?

A AESabesp se uniu a uma delegação brasileira do setor de saneamento e foi a Califórnia para conhecer as tecnologias aplicadas, seus

resultados e, principalmente, a administração da estiagem hídri-ca extrema que se estabelece por lá, há cerca de 4 anos. Tudo isto para trazer experiências ao setor de saneamento brasileiro e, es-pecificamente ao de São Paulo.

Inicialmente podemos pensar que os californianos estão numa crise há mais tempo que nós na RMSP - Sabesp, mas não é bem assim. A seca na Califórnia é re-corrente, eles já passaram por estiagens extremas cerca de 10 vezes no último século. Ou seja, as condições de recursos hídricos da Califórnia são críticas histo-ricamente! Muito diferente da crise hídrica que se abateu na RMSP - Sabesp, com ênfase no

Sistema Cantareira em 2014, que apresentou uma sequ-ência de poucas chuvas num período de três anos, nunca antes registrada na nossa história. Entretanto, mesmo conhecendo o preparo para o enfrentamento das secas extremas na Califórnia há de se ponderar sobre a aplica-ção destes recursos no nosso país.

Tomemos como exemplo, o dimensionamento da infraestrutura que é planejada e se baseia na proje-ção de um longo histórico. Sendo assim, os

enge-nheiros americanos, no início do século passado, projetaram e construíram uma infraestrutura com dimensionamento coerente às estiagens extremas que a cada década ocorria e ocorre na Califórnia. Da mesma forma, os engenheiros brasileiros projetaram, no meio do século passado, a sequência de repre-sas que compõem o sistema Cantareira, coerentes com a projeção do histórico da RMSP. Similares, tanto a Califórnia, mais concentrada no sul da

Ca-lifórnia, quanto a RMSP relata um crescimento populacional acentuado nos últimos anos e atravessam uma escassez hídrica associada a altas tem-peraturas. Entretanto, a dispo-nibilidade hídrica da RMSP foi de, aproximadamente metade da sua mínima histórica men-sal durante sucessivos meses de 2014, ao passo que, a Ca-lifórnia registra uma seca pró-xima da mínima histórica da década de 70. Assim, apesar da escassez hídrica na Califór-nia desde 2012, esta não é tão assustadora quanto à enfren-tada pelo Brasil na RMSP.

Outro exemplo é a dificul-dade de se reduzir o consumo quando se gasta pouco. Para os californianos que consomem atualmente cerca de 450 l/hab.dia e utilizam cerca de 40% do con-sumo em rega de jardim, pode-se economizar o consumo abrindo mão da rega do jardim sem se apertar com outros usos domiciliares. No entanto, para os brasileiros, o que significa reduzir o consu-mo em 20% ou 40%?

O sistema de abastecimento de água americano é público. Apesar da escassez hídrica, a Califórnia é

Por Viviana Borges

no ambiente

técnico,

adoramos novas

técnicas, novas

metodologias,

inovações

aplicadas, mas o

povo pode pagar

esta conta?

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percebida como uma região importante para o país. Há repasse de recursos públicos para o enfrentamento dessa escassez que não são necessariamente repassadas para as contas de água dos con-sumidores. Há programas de governos que perduram por déca-das, com alocação de recursos públicos contínuos de importação de água para a região e mais recentemente em ampliação da ofer-ta de água local (reúso, dessalinização, poços, piscinões etc.). Algo que pode ser comparado à reversão do Rio São Francisco para o equacionamento da escassez hídrica no Nordeste brasileiro.

No início do século 21, o governo norte americano deu início a um programa para mudar o portfólio de recurso hídrico na Cali-fórnia. Nesta época, iniciou-se fortemente a implantação de esta-ções de tratamento de água reciclada, rede exclusiva de água re-ciclada (reuso) e de dessalinização, já que a maioria da população está concentrada próxima ao nível do mar.

Os custos de implantação e operação, destas novas formas de se obter água, foram extremamente altos e, por isto, o programa é longo, iniciado há quase uma década, continuam em adequado funcionamento e, hoje se fala nos planos para 2035.

Isto posto, começam aqui nossas discussões: Até que ponto estas experiências poderiam ser utilizadas no Brasil? Se até mes-mo para o padrão norte americano seus custos são elevados! Até quanto se pode pagar pela água? No Brasil temos conhecimento e condições técnicas de implantação de novas tecnologias, mas o custo de vida brasileiro comporta a implantação destas novas e caras tecnologias?

No ambiente técnico, adoramos novas técnicas, novas metodo-logias, inovações aplicadas, mas o povo pode pagar esta conta? Mesmo considerando que o Brasil e o estado de São Paulo, per-cebam o setor de saneamento como uma infraestrutura básica de saúde pública, na RMSP – Sabesp que, garante cerca de 20% do PIB brasileiro, o setor de saneamento seria ou deveria ser prioriza-do em um programa de governos com recursos de longo prazo? O povo brasileiro pode e deve pagar mais impostos por isto?

Estas questões precisam ser debatidas e compreendidas para que decisões adequadas sejam tomadas. A crise abre espaço para esta discussão. A hora pode ser agora!

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Por Ramon Velloso de Oliveira e Sônia Maria nogueira e Silva

Programa de uso racional da água,

estratégia bem sucedida da Sabesp na

gestão do consumo em prédios públicos:

o caso da penitenciária de Santana

A

té agosto de 2012, a conta de água da Penitenciária Feminina de Santana, na capital paulista, sob responsabilida-de do governo estadual, oscilava em torno de R$ 1.300 milhão, com uma média de con-sumo mensal de 56.424 m3. No mês de dezembro de 2014, para o mesmo número de usuários e com maior regularidade e segurança no abastecimento, o volume faturado foi de R$ 585 mil e o volume con-sumido de 29.040 m3 – com uma economia acumu-lada, ao longo do período, de 420.406 m3, suficiente para abastecer uma população de 100 mil habitan-tes. Os resultados foram obtidos com a implantação do Programa de Uso Racional da Água – PURA, uma das principais ações da Companhia de Saneamen-to Básico do Estado de São Paulo – Sabesp dentre as diretrizes de gestão sustentável dos recursos hí-dricos. Institucionalizado em 1996, com foco em edifícios da administração pública, o PURA explora as possibilidades de otimizar o uso da água, com-binando reparos em instalações hidráulicas, adoção de equipamentos economizadores, ações educativas de sensibilização e conscientização dos usuários para a necessidade de mudança de hábitos de consumo. O retorno de investimento é rápido e em alguns casos imediato. Na Penitenciária de Santana, os R$ 10 milhões investidos foram recuperados em menos de 2 anos. O Programa já foi implantado em 8.160 mil imóveis em todo o Estado por meio de parcerias com órgãos públi-cos estaduais e municipais. Para uma redução do consu-mo de pelo menos 10%, é oferecido um desconto de 25% na conta. Em média, a economia chega a 33%.

Introdução

Iniciativa pioneira no Brasil, o Programa de Uso Racional da Água – PURA, da Companhia de Sa-neamento Básico do Estado de São Paulo, con-cebido com o suporte do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT e da Escola Politécnica da USP, foi uma resposta à necessidade latente já nos anos 1980 de políticas públicas de conservação da água disponível, em face das dificuldades e dos custos crescentes de exploração de novas fontes de abastecimento.

O PURA começou a ser idealizado na Sabesp em 1985 e institucionalizado em 1986, inspirado em experiências de outros países trazidas pelo Sim-pósio Internacional sobre Economia de Água de Abastecimento Público, promovido pelo IPT1, em São Paulo. Entre outras contribuições relevantes do evento, demonstrou-se que a quantidade de água consumida no País poderia ser reduzida de forma expressiva com a adoção de componentes de baixo consumo de água, reparos em instalações hidráuli-cas e incentivo à mudança de hábitos de consumo da população.

Inicialmente, foi montada a estrutura do Progra-ma e em 1995 foram desenvolvidos projetos-piloto em hospitais, escolas, cozinhas industriais, prédios comerciais e condomínios para criação da metodo-logia. Ao mesmo tempo, um levantamento realiza-do em diversos tipos de edifícios serviu de amostra-gem para determinar o consumo por pessoa nesses locais de grande circulação e estabelecer metas de redução do volume de água utilizado (Tabela 1).

Ramon Velloso de Oliveira(1)

Engenheiro Civil pela Faculdade de Engenharia de São Paulo (FESP), Tecnólogo de Obras Hidráulicas pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec), trabalha há 26 anos na Cobrape - Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos, e desde 1996 coordena equipes de trabalho em pesquisas de vazamentos em sistemas de abastecimento de água e na implantação do Programa de Uso Racional da Água - PURA da Sabesp em edifícios públicos da Região Metropolitana de São Paulo. Endereço (1):

Rua Capitão Antonio Rosa, 406 - Jardim Paulistano - São Paulo - SP - CEP 01443-010 - Brasil - Tel: (11) 3897-8000 - e-mail: ramonvelloso@cobrape. com.br Sônia Maria Nogueira e Silva

Engenheira Civil pela Escola de Engenharia Federal do Pará, foi coordenadora do Programa de Uso Racional da Água – PURA da Sabesp de 1995 a 2004, e atualmente é consultora do Uso Racional da Água.

1 SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE ECONOMIA DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO PÚBLICO. SÃO PAULO, 1986. Anais... São Paulo: IPT, 1987. 324 p.

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Tabela 1: Consumo de água por pessoa em edifícios públicos e comerciais. Ano 1995

Natureza Consumo por pessoa

Escolas Estaduais 1º e 2º Grau 25 litros/aluno/dia

Escolas Internatos 150 litros/aluno/dia

Escolas Semi-Internatos 100 litros/aluno/dia Prédios Públicos e Comerciais 50 litros/funcionário/dia Prédios Hospitalares sem lavanderia 500 litros/leito/dia Prédios Hospitalares com lavanderia 750 litros/leito/dia Prédios com alojamentos provisórios/cozinha/lavanderia 120 litros/pessoa/dia

Quartéis 150 litros/militar/dia

Prédios Penitenciários 200 litros/preso/dia Restaurantes – Prédios Públicos 25 litros/refeição/dia

Creches – Prédios Públicos 50 litros/pessoa/dia Fonte: Sabesp

Ao mesmo tempo, a Sabesp estabeleceu negociações com fabricantes para a aquisição de equipamentos economizadores. Dados apura-dos pela Escola Politécnica da USP comprovaram as vantagens da substituição de equipamentos (Tabela 2).

Tabela 2: Comparação no consumo entre equipamentos convencionais e equipamentos economizadores

Equipamento Convencional Consumo Equipamento Economizador Consumo Economia

Bacia com caixa acoplada 12 litros/descarga Bacia VDR 6 litros/descarga 50% Bacia com válvula bem regulada 10 litros/descarga Bacia VDR 6 litros/descarga 40% Ducha (água quente/fria) - até 6 mca 0,19 litros/seg Restritor de vazão 8 litros/min 0,13 litros/seg 32% Ducha (água quente/fria) - 15 a 20 mca 0,34 litros/seg Restritor de vazão 8 litros/min 0,13 litros/seg 62% Ducha (água quente/fria) - 15 a 20 mca 0,34 litros/seg Restritor de vazão 12 litros/min 0,20 litros/seg 41% Torneira de pia - até 6 mca 0,23 litros/seg Arejador vazão cte (6 litros/min) 0,10 litros/seg 57% Torneira de pia - 15 a 20 mca 0,42 litros/seg Arejador vazão cte (6 litros/min) 0,10 litros/seg 76% Torneira uso geral/tanque - até 6 mca 0,26 litros/seg Regulador de vazão 0,13 litros/seg 50% Torneira uso geral/tanque - 15 a 20 mca 0,42 litros/seg Regulador de vazão 0,21 litros/seg 50% Torneira uso geral/tanque - até 6 mca 0,26 litros/seg Restritor de vazão 0,10 litros/seg 62% Torneira uso geral/tanque - 15 a 20 mca 0,42 litros/seg Restritor de vazão 0,10 litros/seg 76% Torneira de jardim - 40 a 50 mca 0,66 litros/seg Regulador de vazão 0,33 litros/seg 50% Mictório 2 litros/uso Válvula automática 1 litro/seg 50% Fonte: Relatório Mensal 3 Projeto de Pesquisa Escola Politécnica da USP/SABESP, junho 1996.

A implantação efetiva do PURA teve início em 1996 mediante a assinatura de contratos com tarifa reduzida para entidades públicas estaduais e municipais da Região Metropolitana de São Paulo, além de alguns edifícios comerciais “ Contrato de Tarifação Pública” – garantindo-se aos participantes um desconto de 25% na tarifa de água desde que cumprida uma meta de redução mensal de consumo de no mínimo 10%. Entre outros exemplos bastante significativos, a Escola Estadual Fernão Dias, no bairro de Pinheiros, apresentou uma redução de 93% no consumo; e nas próprias instalações da Sabesp a economia superou os 70%, como mostra a Tabela 3.

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Tabela 3: Economia no consumo de água em locais onde inicialmente foi implantado o PURA

Local Economia no Consumo

Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo 16% Complexo Hospital das Clínicas de São Paulo 25%

Condomínio Comercial São Luís 16%

Condomínio Jardim Cidade 28,5%

Cozinha Industrial da Ford 52%

Cozinha Industrial da Sede Sabesp 65%

Edifício de Administração Sabesp 72%

Ceagesp 32%

Escola de Engenharia Mauá 19%

Escola Estadual Fernão Dias Paes 94%

50 Escolas Estaduais da Região Metropolitana de São Paulo 40% Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPT 53%

Lar Batista de Criança 21%

Palácio dos Bandeirantes 31%

Poupatempo Sé 10%

USP Fases I e II 26%

USP Fase III 37%

Fonte: Sabesp

A iniciativa da empresa paulista antecedeu em um ano a criação do Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água – PNCDA pelo Ministério do Planejamento e Orçamento e Secretaria de Política Urbana, constituído de orientações para o planejamento, gestão e articulação institucional de ações de conservação e uso racional da água, conservação da água nos sistemas públicos de abastecimento e conservação da água nos sistemas prediais.2 Desde então, o PURA vem servindo de base para outras companhias estaduais de sanea-mento que começam a vislumbrar o potencial de retorno econômico e ambiental de programas de uso racional da água.3

Dados mais recentes da Sabesp indicam que, até o final de 2014, o Programa foi implantado em 8.160 mil imóveis em todo o Estado, dos quais 2.903 na Região Metropolitana de São Pau-lo. Até dezembro de 2015, será implantado em 240 escolas es-taduais, e a expectativa é chegar a uma economia anual de R$ 13,9 milhões e de, no mínimo, 216 milhões de litros de água, deixando de utilizar água suficiente para abastecer uma cidade com 36 mil habitantes.4

Na maioria dos casos, a meta de economia 10% é superada em poucos meses, mantendo-se, na média, em 33%, e os valores in-vestidos são recuperados em períodos muito curtos, quase sempre antes do final da implantação do Programa.

Metodologia do PURA

A metodologia para implementação do PURA compreende três etapas. Primeiramente é realizado um diagnóstico técnico: uma equipe designada pela Sabesp vai à instalação, faz o levantamen-to de levantamen-todo o processo de consumo e utilização de água, detecta pontos críticos e aponta a margem de economia possível. Em se-guida, é elaborado o projeto técnico: uma equipe especializada apresenta soluções para os pontos críticos identificados na etapa anterior e estabelece ações, investimento, prazo necessário para a execução de obras, treinamento de pessoal e mudança dos pro-cessos. A última etapa, de suporte operacional, consiste na execu-ção das obras necessárias e na manutenexecu-ção dos sistemas críticos, aplicando a tecnologia selecionada. Ao mesmo tempo, são

reali-2 http://www.pmss.gov.br/index.php/biblioteca-virtual/programa-nacional-combate-ao-desperdicio-agua-pncda 3 http://www.revistas.sp.senac.br/index.php/ITF/article/viewFile/453/408

4 Balanço Sabesp 2014. Disponível em <http://site.sabesp.com.br/uploads/file/sociedade_meioamb/rs_2014.pdf>

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zados seminários, palestras para sensibilização e conscientização dos funcionários e usuários, buscando a mudança da cultura e dos hábitos de utilização da água.

As ações educativas são uma peça-chave do PURA. Para que os efeitos da redução do desperdício perdurem, é necessário que as pessoas que usufruem dos espaços reformados se conscienti-zem do valor econômico e social da água e incorporem essa nova consciência aos hábitos cotidianos. As ações envolvem a formação de gestores, controladores e multiplicadores, e são desenvolvidas nos próprios locais de intervenção e através de ciclos de cursos e palestras promovidos pela Sabesp por equipe especializada para grupos específicos.

As soluções adotadas, tanto do ponto de vista técnico quanto das ações de conscientização e responsabilização dos usuários, devem se adequar às condições específicas de cada ambiente. As situações com que se deparam as equipes técnicas vão desde restrições a intervenções físicas em edifícios tombados pelo patri-mônio histórico até a persistência de atos de vandalismo após as reformas, como ocorre em instituições escolares.

Estudo de caso:

penitenciária feminina de Santana

A implantação do PURA na Penitenciária Feminina de Santana, considerado o maior complexo feminino da América Latina, lo-calizado na zona norte da capital paulista, foi um dos casos mais desafiadores já enfrentados pela Sabesp, dadas as características peculiares de tipologia e de uso do imóvel. Mas foi também um dos mais bem sucedidos, resultando em uma redução de 49% no volume consumido e de 55% do volume faturado ao final da implantação do Programa, em dezembro de 2014, comparativa-mente aos valores de outubro de 2012, quando teve início.

Antes das intervenções do PURA, apesar da elevada conta de consumo, que oscilava em torno de R$ 1.300 milhão ao mês, as crises de falta d’água eram constantes, seja devido a vazamentos nas instalações hidráulicas e problemas nos reservatórios, seja por atos de vandalismo, facilitados pela obsolescência e a fragilidade dos equipamentos.

O edifício onde está instalada a Penitenciária foi inaugurado em 1920 para abrigar a antiga Penitenciária do Estado. É composto de 3 pavilhões divididos em 2 alas com 5 andares cada, além das áreas administrativas. No total, são 1.500 celas distribuídas en-tre os pavilhões (1.368 celas) e áreas administrativas (132 celas). Ocupam esses espaços mais de 3 mil pessoas – cerca de 2.600 detentas e 500 funcionários ativos que trabalham em 3 turnos. Nos dias de visita, esse número chega a 4 mil.

Implantação do Programa

A Sabesp, através da Superintendência de Gestão de Empreen-dimentos – ME – Diretoria Metropolitana, contratou o Consórcio Água – Usar sem Desperdiçar, liderado pela Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos – Cobrape para a implantação do PURA na Penitenciária de Santana. A empresa já contava com a experiência acumulada na implantação do Programa em mais de 900 edifícios das mais diversas tipologias e funcionalidades, como a USP, escolas, hospitais e prontos-socorros, o Palácio dos Bandeirantes e prédios da Prefeitura de São Paulo, entre os quais os edifícios históricos Matarazzo, Martinelli e São Joaquim e o Teatro Municipal.

As características peculiares da Penitenciária exigiram um cui-dadoso trabalho de preparação, tendo em vista as questões de segurança envolvidas. Antes de tudo era necessário definir os pro-cedimentos a serem seguidos pela equipe técnica na execução das atividades. Para isso, foram realizadas várias reuniões entre representantes do Consórcio, Sabesp, Administração Penitenciária e Coordenadoria das Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo. Foram estabelecidas as seguintes medidas:

■ Adoção de um esquema especial de vistoria que permitisse o acesso rápido dos funcionários às frentes de serviços (celas). ■ Liberação da frente de serviço de um pavilhão por etapa, de

modo que as intervenções fossem realizadas em todas as celas de uma só vez, reduzindo as etapas dos serviços de implantação. ■ Criação de corredores de passagens no piso térreo para não

haver contato da equipe de trabalho com as detentas. ■ Orientações à equipe sobre o Regimento e Procedimento

Inter-no e de Segurança da Penitenciária.

Os trabalhos tiveram início com um levantamento preliminar em todas as unidades do complexo, compreendendo informações sobre o consumo total de água e população usuária, caracteri-zação física da edificação, informações externas à edificação e informações sobre os pontos de consumo. Com base nesse levan-tamento, foi elaborado o plano de trabalho e o cronograma de intervenções para os 24 meses do contrato.

Foram definidas sete atividades, assim distribuídas:

1. Pesquisa e correção de vazamentos

Os trabalhos de pesquisa e correção de vazamentos visíveis e não visíveis começaram já no mês de outubro de 2012. Com o suporte de equipamentos eletrônicos de alta precisão, foram pesquisados os trechos compreendidos entre os hidrômetros e os reservatórios dos prédios bem como as demais derivações de tubulações de água existentes e a rede de distribuição predial, totalizando 10

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pesquisas em 3.300 m. Foram localizados e reparados 26 vaza-mentos. Outras 9 pesquisas foram realizadas para verificar possí-veis vazamentos dos ramais prediais alimentados por reservatórios até os pontos de consumo de água (aparelhos sanitários).

2. Obras de adequação predial

Essa atividade, iniciada também em outubro de 2012, consistiu na substituição de equipamentos convencionais por equipamen-tos economizadores de água, além de reformas de pisos, pintura e instalação de azulejos e reparos em geral. A lista de 42 itens correspondentes a obras de adequação predial inclui, entre ou-tros: troca de 1.565 bacias sanitárias por bacias do tipo volume de descarga reduzido, instalação de 1.511 caixas de descarga de embutir, troca de 1.529 torneiras de lavatório por torneiras de fechamento automático antivandalismo e instalação de 1.316 uni-dades de duchas com vazão de 8 litros/min.

3. Gestão do consumo de água

Já em novembro de 2012 foi implantado o sistema de gestão do consumo de água por telemedição para os três hidrômetros exis-tentes na Penitenciária e posteriormente 1 hidrômetro para medir o consumo de água da cozinha. Foram instalados os equipamen-tos de comunicação GPRS (General Packet Radio Services), uma tecnologia que tem o objetivo de aumentar as taxas de transferên-cia de dados entre celulares. O sistema permite o monitoramento do consumo de água a distância, em tempo real, com a transmis-são de dados via celular para os servidores da Sabesp e da Secreta-ria de Administração PenitenciáSecreta-ria. Os hidrômetros são equipados com comunicação pulsada ou Mbus. Foram instalados também 2 sensores de pressão nas ligações de água da Penitenciária.

Ainda em novembro, foram iniciados os estudos para o apri-moramento do modelo de telemedição desenvolvido pela Sabesp com a setorização das áreas funcionais. O objetivo dos técnicos da Cobrape era poder identificar com precisão locais com suspeita de vazamentos ou desperdício de água. A novidade consistiu na instalação de hidrômetros individuais a cada três celas e em ou-tros pontos estratégicos, para que, registrados picos de consumo pontos específicos, se proceda ao fechamento das tubulações de água via rádio frequência. Em 17 meses, foram instalados 160 hidrômetros, 161 transmissores de radiofrequência, 155 válvulas esféricas, repetidores e concentradores de dados.

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4. Adequação do sistema de água quente nos

pontos de chuveiro (recirculação)

O sistema de água quente nos pontos de chuveiro nos 3 pavilhões era insuficiente para atender à demanda nos horários de maior consumo. O novo sistema de recirculação tornou possível o abas-tecimento simultâneo em todos os pontos, evitando o desperdício e proporcionando mais conforto às detentas. Para a implantação do sistema foram instalados 21 metros de tubulação de cobre, 280 metros de tubulação aquatherm, 24 válvulas de controle ope-radas remotamente, com alimentação 24 Vcc, através de um pai-nel de comando das bombas na Central de Aquecimento.

5. Execução de rede de água para

interligação dos 3 reservatórios

A Penitenciária possui 3 reservatórios de água, o primeiro na Ave-nida Zaki Nachi; o segundo na área interna, abastecido por uma ligação de água existente da Avenida Ataliba Leonel; e o terceiro próximo à entrada principal, que se encontrava desativado. Para a melhoria do sistema de abastecimento e distribuição de rede de água, procedeu-se à interligação dos reservatórios com a implan-tação de 820,60 metros de tubulação em PVC.

6. Recuperação eletromecânica e estrutural

dos reservatórios

Os trabalhos foram iniciados em agosto de 2013, mês em que o consumo de água é menor. Primeiramente foi construída a casa de bombas para a recuperação eletromecânica dos reservatórios. Na

se-quência foi realizada a impermeabilização da torre principal, com 45 m de altura e capacidade de reservação de 1.200 m3; depois da torre da cozinha, com 17 m e capacidade de 20 m3; e finalmente da torre da portaria, com 26 m com capacidade de 100 m3, que abastece o prédio da administração. As obras foram executadas em 4 meses.

7. Programa de educação ambiental

O Programa consistiu de duas modalidades de treinamento: PURA na Cozinha e Formação de Gestores. O primeiro, realizado em maio de 2013, envolveu 100 pessoas – 30 funcionários e 70 detentas – res-ponsáveis pela cozinha da Penitenciária. Foram realizados três cursos com duração de 4 horas sobre o tema “Controle higiênico-sanitário de alimentos, visando o uso racional da Água”, com aulas expositivas e práticas a fim de disseminar as boas práticas de consumo de água no processo de higienização dos alimentos e ambientes. As orientações se basearam em um diagnóstico preliminar do consumo de água e das condições higiênico-sanitárias da cozinha, incluídas análises microbioló-gicas em alimentos e utensílios para avaliar os riscos de contaminação. Os cursos para formação de gestores envolveu 135 pessoas, entre diretores, coordenadores e funcionários, através de aulas expositivas e práticas, com o objetivo de subsidiá-los com informações sobre as jus-tificativas das ações do PURA e os resultados esperados, e seu papel na mobilização dos usuários para garantir a permanência dos resultados obtidos com a implantação do Programa.

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Resultados

O Contrato de Tarifação para Entidades Públicas formalizado entre a Sabesp e a Administração da Penitenciária Feminina de Santana, em agosto de 2012, estabeleceu como meta de consu-mo de água 49.000 m3/mês após a conclusão das intervenções do PURA, em dezembro de 2014. Esse resultado foi alcançado já

Gráfico 1: Volume Consumido em m3

Gráfico 2: Redução do Consumo em %

em março de 2013. No final do contrato, a média registrada era de 40.854 m3/mês.

Para o cálculo de redução de consumo, foi utilizada a média de consumo de água dos 12 últimos meses anteriores ao início das atividades do Programa, que era de 56.424 m3.

No último mês de validade do contrato, foi registrada uma redução de 49% no volume de água consumido, e desde o início a econo-mia foi de 420.406 m³.

(23)

O gasto médio mensal no período anterior à implantação do PURA era de R$ 1.306.043,54. Ao final do contrato, era de R$ 803.190,44 – uma redução de 55%, perfazendo uma economia de

R$ 14.582.739,80 em dezembro de 2014.

Até junho de 2014, a economia obtida foi suficiente para cobrir o investimento de R$ 10 milhões no Programa.

GRÁFICO 3: Faturamento em R$

(24)

Vanessa Hasson de Oliveira

Vanessa Hasson de Oliveira é advogada, graduada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (1992). Especialista em Direito Ambiental pela Faculdade de Saúde Pùblica da Universidade de São Paulo (2003). Doutora em Direitos Difusos e Coletivos e Mestre em Direito das Relações Econômicas Internacionais, com ênfase em Meio Ambiente, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008). Atua na gestão e desenvolvimento de projetos socioambientais junto ao primeiro e terceiro setor. Professora Titular da Faculdade de Direito da Universidade Estácio. Diretora da OSCIP MAPAS - Métodos de Apoio à Práticas Ambientais e Sociais e líder do Movimento Direitos da Natureza no Brasil.

Direitos da natureza -

dignidade do planeta Terra

Por Vanessa Hasson de Oliveira

A

dignidade do planeta Terra é assunto da comunidade planetária, assim con-siderados todos os membros que em sua universalidade constituem o pla-neta Terra, e deve ser remetido à toda comunidade humana internacional. Desde 1972, com a realização da Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, em Estocolmo, seguindo-se das reuniões realizadas no Rio de Janeiro nos anos de 1992, 2002 e mais recentemente a Rio+20 em 2012, a comunida-de internacional tem se prestado ao comunida-debate com ano-tações de princípios relevantes à tomada de decisões internas de cada um dos Estados-parte, notadamente a internalização da proteção ambiental às legislações, a exemplo do Brasil em sua Constituição Federal, pro-mulgada em 1988.

A Organização das Nações Unidas vem marcando o passo da humanidade e caminhando com proposi-ções de relevância à consecução da mudança para-digmática de que o Planeta necessita para permane-cer como suporte da vida e para que o ser humano alcance os níveis de paz suficientes ao seu aprovei-tamento. Entretanto, a marcha das negociações da comunidade internacional é lenta, ou por outra, a velocidade da destruição avassaladora imposta pela humanidade à qual responde reflexivamente o meio ambiente, é maior.

Alertada sobre o cenário apocalíptico da crise am-biental retratado pela ciência, a ONU deu reposta às diretrizes emanadas da Rio+20 para fortalecer a governança para o meio ambiente e resolveu imple-mentar direcionamento mais eficaz na governança ambiental mundial, regida pela UNEP - United Na-tions of Environment Program, instituindo a UNEA - United Nations Environment Assembly, que é

cons-tituída pela representação de todos os 193 países que constituem as Nações Unidas e farão reuniões anuais, diferentemente da governança anterior, onde a representação era de apenas 58 países e suas reu-niões bianuais. No âmbito da reunião inaugural da UNEA, realizada no final de junho de 2014, foram discutidos os encaminhamentos para o fortalecimen-to das políticas públicas internacionais de meio am-biente - Environmental Rule of Law.

Ainda com referência à Rio+20, a comunidade internacional reconheceu o acolhimento do Plane-ta como suporte da vida; considerou o afetuoso e visceral relacionamento que algumas comunidades humanas mantém com ele, denominando-o de Mãe Terra e percebeu a necessidade de restaurar a saúde e a integridade dos ecossistemas do Planeta de forma holística e integrada, ou seja, sistêmica.

Apesar da força dessas afirmações, as lideranças mundiais diretamente envolvidas com a problemá-tica ambiental não puderam romper, ainda, com o paradigma antropocêntrico e finalmente reconhecer que não há um objeto apropriável nesta relação. Mas estamos a caminho, nossa percepção é de que se trata de uma questão de mais ousadia e ação, cuja contribuição espera-se realizar com o esforço empregado no presente trabalho e seus possíveis desdobramentos para fazer coro com o que de me-lhor tem sido produzido, em termos de avanço na mudança do paradigma antropocêntrico, em dire-ção à paz da humanidade.

Seguimos, assim, os passos da doutrina do Capita-lismo Humanista, pretendendo dar ênfase à questão planetária, alinhando-se com as águas frescas jorra-das jorra-das novas, e cada vez mais fortes, falas da co-munidade ambiental internacional a respeito de um

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