Hipnóticos, sedativos e
ansiolíticos
Hipnóticos e sedativos
Sedação: diminui a atividade, modera a excitação e acalma quem o recebe
Hipnose: indução e manutenção do sono por certa duração; lembra o sono natural em suas características eletroencefalográficas
Obs.: Sono induzido por hipnóticos não lembra o estado passivo de sugestionabilidade, induzido artificialmente e também de chamado hipnose
Hipnóticos: estão entre os medicamentos mais prescritos do mundo
Sono normal
Sono de um indivíduo normal pode ser dividido em estágios;
No Eletroencefalograma (EEG), a passagem do estado de vigília (estágio 0) para sonolência (estágio 1), sono superficial (estágio 2) e sono profundo (estágios 3 e 4) é acompanhada da mudança progressiva de um padrão de ondas de alta freqüência e baixa voltagem para outro, de ondas de alta voltagem e baixa freqüência, chamado de sono de ondas lentas;
Progressão leva em torno de 30 a 40 minutos e é seguida de reversão destes estágios, com duração semelhante.
Sono normal
Quando o sono retorna ao estágio 1, aparece uma outra forma de sono: sono paradoxal ou movimentos oculares rápidos (REM);
Neste estágio o EEG é semelhante ao do estado de vigília, com ondas de baixa amplitude e alta freqüência;
Os sonhos que podem ser recordados ocorrem neste estágio e, em geral, apresentam conteúdo emocional;
O ciclo repete-se quatro ou cinco vezes ao longo de uma noite normal de sono, com diminuição gradual do tempo de sono profundo (estágios 3 ou 4) e aumento do sono REM.
Eletroencefalograma
Permite captar a atividade elétrica de neurônios corticais através da colocação de eletrodos no couro cabeludo.
LENT, 2004
EEG
durante
Sono normal
A necessidade de sono e a latência para iniciar o sono sofrem grandes flutuações individuais;
Idade é um fator importante:
Tempo total de sono e períodos REM e profundo são maiores em crianças e adultos jovens do que em indivíduos idosos;
Lent, 2004; Guimarâes, 2005
Funções do sono
Hipóteses
Restauração de energia gasta durante a vigília
Menor consumo de energia durante o sono: a atividade motora é mais baixa, assim como o fluxo sangüíneo, a respiração, a temperatura corporal e, conseqüentemente, a taxa metabólica global.
Redução da temperatura cerebral (sono não REM), que aumenta gradativamente durante a vigília
Recuperação da sensibilidade a neurotransmissores, como a noradrenalina, que diminui gradativamente durante a vigília
Neuroquímica do sono
Neurônios-relés tálamo-corticais apresentam dois modos de operação:
Modo de transmissão
Característico da vigília;
Consiste na permanente ativação das vias tálamo-corticais pelas sinapses excitatórias glutamatérgicas das fibras aferentes (ex. transmissão de informação sensorial)
Vigília
Neurônios tálamo-corticais são mantidos ligeiramente despolarizados, com o potencial de membrana próximo ao potencial de disparo;
Ativação massiva dos dendritos das células corticais;
Neuroquímica do sono
Neurônios-relés tálamo-corticais
Modo de disparo em salva
Característico do sono;
Neurônios estão menos despolarizados e só disparam potenciais de ação de tempos em tempos, em salvas periódicas.
Sono
Neurônios tálamo-corticais ficam hiperpolarizados;
Neurônios talâmicos disparam apenas ocasionalmente (em salvas);
EEG sincronizado
Sono
Neurônios talâmicos possuem canais de cálcio tipo T, que se tornam ativos quando a membrana hiperpolariza e inativos quando a membrana despolariza;
Abertura produz um “potencial de cálcio” despolarizante, que atinge o limiar e provoca alguns potenciais de ação;
Atividade rítmica e sincronizada
Vigília
Vias ativadoras originárias dos neurônios histaminérgicos do hipotálamo posterior;
Projetam amplamente para o córtex cerebral;
Lesão desta região: coma e sincronização do EEG;
Anti-histamínicos: sonolência
Dopamina Noradrenalina Acetilcolina
Histamina Glutamato Aspartato
Substância P Peptídeo vasointestinal Neurotensina Hipocretina ou orexina
Neurotransmissores envolvidos na
vigília
Indução do sono
Sistemas moduladores histaminérgicos: recebem inervação inibitória de neurônios gabaérgicos do hipotálamo anterior;
Neurônios gabaérgicos do hipotálamo anterior: parecem entrar em ação no início do sono de ondas lentas, silenciando os neurônios histaminérgicos que mantêm a vigília;
Neurônios colinérgicos do hipotálamo anterior: ativos durante o sono de ondas lentas;
Núcleo reticular do tálamo
Região cuja função é controlar o modo de operação dos neurônios-relés;
Maioria dos neurônios é inibitória e libera GABA (ácigo gama-aminobutírico);
Também disparam em função dos canais de cálcio tipo T;
Inervam os núcleos talâmicos, hiperpolarizando-os;
Núcleo reticular do tálamo
Não tem aferentes sensoriais;
Fica sob controle do sistema de moduladores colinérgicos do tronco encefálico, cujos neurônios estende axônios aos neurônios reticulares;
Quando os neurônios colinérgicos disparam, ativam os neurônios inibitórios do núcleo reticular talâmico, que assim hiperpolarizam as células tálamo-corticais;
LENT, 2004
Sono paradoxal e vigília
Sinais para acordar: ambiente externo e sistemas sensoriais ou sistema temporizador circadiano (mecanismo ainda desconhecido);
Neurônios noradrenérgicos do locus ceruleus: aumentam a atividade na transição sono paradoxal e vigília.
Insônia
Uma das queixas mais comuns na prática médica em geral;
Hipnótico perfeito:
Deveria permitir a ocorrência de um sono com arquitetura normal, não causaria efeitos no dia seguinte e não interagiria com outros medicamentos;
Seu uso crônico não provocaria dependência ou insônia rebote após a interrupção;
Exercício moderado regular: satisfaz todos estes critérios e pode ser eficaz para muitos casos.
Insônia
Crença, por parte do paciente, de que não está dormindo suficientemente;
Mudanças na arquitetura do sono, consideradas normais no processo de envelhecimento;
Aparecimento de problemas clínicos ou psiquiátricos que afetam o dormir;
Hipnóticos parecem ser utilizados em maior quantidade por mulheres e idosos.
Classificação da insônia
Insônia Transitória
Dura menos de 3 dias;
Habitualmente causada por um breve estressor ambiental e situacional (ex. após viagens aéreas intercontinentais);
Insônia a curto prazo
Dura de 3 dias à 3 semanas;
Habitualmente causada por um estressor pessoal, como doença, sofrimentos ou problemas de trabalho.
Classificação da insônia
Insônia a longo prazo
Já durou mais de 3 semanas;
Nenhum estressor específico pode ser identificado;
Necessidade de uma avaliação médica mais completa, mas a maior parte não necessita que o sono seja estudado por toda a noite.
Classificação da insônia
Insônia secundária a transtorno psiquiátrico
Ansiedade, depressão, esquizofrenia, crise maníaca e outros;
Tratamento deve objetivar a correção da causa primária do distúrbio do sono;
Insônia matinal decorrente de transtorno depressivo grave: antidepressivos;
Associação de trazodona para pacientes cuja insônia é efeito colateral dos inibidores de recaptação de serotonina.
Classificação da insônia
Insônia secundária a transtorno psiquiátrico
Insônia secundária a quadros esquizofrênicos, maníacos ou psicóticos orgânicos (demência senil):
Antipsicóticos, principalmente os mais sedativos;
Classificação da insônia
Insônia que acompanha outras doenças clínicas
Tratamento adequado da desordem subjacente; ICC, DPOC
Dor
Uso de fármacos
Classificação da insônia
Insônia condicionada
Não há doença psiquiátrica ou outra condição clínica importante;
Realizar atividades da vigília fora do quarto de dormir;
Má percepção do estado de sono
Queixa de sono ruim, sem alterações mensuráveis Tratamento difícil
Tratamento da insônia
Insônia transitória constitui-se na única indicação bem comprovada de hipnóticos;
Eficácia de benzodiazepínicos em diminuir a latência do sono e prolongar sua duração;
Nos casos de insônia secundária: tratamento deve objetivar a correção da causa primária do distúrbio do sono;
Faltam dados que justifiquem o uso dos hipnóticos mais comuns (benzodiazepínicos) em insônia crônica. Efeito tende a diminuir com o tratamento; alterações na arquitetura do sono e efeitos colaterais.
Tratamento da insônia
Benzodiazepínicos – mais utilizados; Zolpidem, zopiclona e zaleplona;
Outros depressores do sistema nervoso central - foram abandonados para esta indicação:
Barbitúricos; Hidrato de cloral; Etclorvinol; Glutetimida; Meprobamato; Metiprilona; Paraldeído
Benzodiazepínicos
Hipnóticos mais utilizados;
Maior índice terapêutico e menor potencial para dependência física;
Não provocam indução enzimática hepática;
Produzem um sono mais fisiológico
Benzodiazepínicos
Interagem com o receptor GABAA, aumentando a afinidade pelo GABA – aumento da freqüência de abertura do canal em quantidade submáximas de GABA
Interação em sítio alostérico
Desvio para a esquerda da curva de concentração-resposta, sem aumentar a corrente máxima evocada com o GABA
Benzodiazepínicos
Receptores GABA: 2 subtipos principais
GABAA: ionotrópico
GABAB: metabotrópico
Receptor GABA
A
Ionotrópico: canal de cloreto;
Formado por cinco subunidades;
Responsável pela maior parte da neurotransmissão inibitória no SNC;
Benzodiazepínicos se ligam em uma região distinta do ponto de ligação do GABA;
Não ativam o receptor, requerendo GABA para exercer seus efeitos – modulação dos efeitos do GABA
Receptor GABA
A
Já foram identificadas cerca de 16 subunidades, classificadas em 7 famílias:
Seis a; Três b; Três g;
Subunidades d, e, p, q, r
Receptor GABA
A
Multiplicidade de subunidades gera a heterogeneidade dos receptores
Três combinações predominam em adultos: a1b2g2, a2b3g2, a3b3g2
Acredita-se que os benzodiazepínicos se liguem na interface entre as subunidades a e g e que ambas as subunidades determinem a farmacologia do seu local de ligação
Benzodiazepínicos
Termo refere-se à parte da estrutura composta de um anel benzeno (A), fusionado a um anel diazepínico de sete membros (B);
Substituinte 5-arila (anel C) em todos os benzodiazepínicos mais importantes
Benzodiazepínicos –
propriedades farmacológicas
Sistema nervoso central
Sedação; Hipnose; Redução da ansiedade; Relaxamento muscular; Amnésia anterógrada; Atividade anticonvulsivante
Benzodiazepínicos –
propriedades farmacológicas
Ações periféricas
Vasodilatação coronariana, após a administração intravenosa de doses terapêuticas de alguns benzodiazepínicos;
Benzodiazepínicos – SNC
Efeitos sobre o EEG e sobre os estágios do sono:
Diminuição da atividade alfa na vigília: ocorre tolerância;
Diminuição da latência do sono, o número de despertares e o tempo gasto no estágio 0 (vigília);
Tempo no estágio 1 diminui e há uma proeminente redução no tempo gasto no sono de ondas lentas (estágios 3 e 4);
Prolongamento do estágio 2; Redução do sono REM
Benzodiazepínicos – SNC
Picos noturnos de secreção de hormônio do crescimento, prolactina e hormônio luteinizante não são afetados;
Durante o uso noturno crônico, os efeitos sobre os vários estágios do sono habitualmente declinam em poucas noites;
Interrupção do uso: efeito rebote, que pode incluir um aumento no sono REM;
Benzodiazepínicos
Ação ultra-rápida
Ação curta, com meias-vidas de menos de 6 h: triazolam;
Ação intermediária, com meias-vidas de 6 a 24 h: estazolam e temazepam;
Benzodiazepínicos
Longa ação: meias-vidas maiores que 24 h: flurazepam, diazepam
Concentração no líquido cérebro-espinhal é aproximadamente igual à do fármaco livre no plasma
Benzodiazepínicos
Extensão da ligação às proteínas se correlaciona com a lipossolubilidade:
Alprazolam: 70 % Diazepam: 99 %
Embora possa haver competição com outros fármacos que se ligam às proteínas, não há descrição de qualquer exemplo clinicamente significante;
Modelo bi-compartimental
Benzodiazepínicos
Modelo tri-compartimental para os mais lipossolúveis:
Rápida captação para o cérebro e outros tecidos bem perfundidos após administração intravenosa (ou oral de um composto rapidamente absorvido);
Fase de redistribuição para o interior de tecidos menos bem perfundidos, especialmente músculos e gordura;
Cinéticas de redistribuição de fármacos lipofílicos tornam-se ainda mais complexas pela circulação êntero-hepática;
Benzodiazepínicos
Grandes volumes de distribuição e em muitos casos maiores nos pacientes idosos;
Nos regimes usados para sedação noturna, a taxa de redistribuição pode ter uma influência maior que a taxa de biotransformação sobre a duração dos efeitos sobre o SNC;
São biotransformados por enzimas do citocromo P450, particularmente CYP3A4 e CYP2C19;
Oxazepam: diretamente conjugado
Benzodiazepínicos - metabolismo
Metabólitos ativos de alguns benzodiazepínicos
:São biotransformados mais lentamente que os compostos originais
Duração da ação de muitos tem pouca relação com a meia-vida de eliminação do fármaco administrado;
Benzodiazepínicos - metabolismo
Primeira fase: benzodiazepínicos com substituinte na posição
1 (ou 2) do anel diazepínico: modificação e/ou remoção do substituinte
Formação de compostos N-desalquilados biologicamente ativos
Exceções: triazolam, alprazolam, estazolam e midazolam que contêm ou um anel triazol ou imidazol fusionado.
Benzodiazepínicos – N-desalquilação
Benzodiazepínicos - metabolismo
Segunda fase: hidroxilação na posição 3, habitualmente
resultando em um derivado ativo. Ex.: oxazepam a partir do nordazepam;
Taxas muito mais lentas que as do primeiro estágio;
Benzodiazepínicos - metabolismo
Benzodiazepínicos - metabolismo
Terceira fase: conjugação dos compostos 3-hidroxil, principalmente com ácido glicurônico;
Produtos invariavelmente inativos;
Importante:
Triazolam e alprazolam são biotransformados, principalmente, por uma hidroxilação inicial do grupo metila sobre o anel triazol fusionado;
Compostos a-hidroxilados são bastante ativos, mas biotransformados de forma muito rápida, principalmente por conjugação com ácido glicurônico: não há acúmulo apreciável destes metabólitos ativos.