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Educon, Aracaju, Volume 11, n. 01, p.1-10, set/2017

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Recebido em: 04/08/2017 Aprovado em: 05/08/2017 Editor Respo.: Veleida Anahi Bernard Charlort Método de Avaliação: Double Blind Review E-ISSN:1982-3657 Doi:

AS CONTRIBUIÇÕES DOS CURSOS NORMAIS CONFESSIONAIS CATÓLICOS AO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO MAGISTÉRIO EM ARACAJU (1937-1946)

DILSON GONZAGA SAMPAIO

HELENA MARIA FAGUNDES DOS SANTOS BRAZ CRISTIANO DE JESUS FERRONATO

EIXO: 18. FORMAÇÃO DE PROFESSORES. MEMÓRIA E NARRATIVAS

RESUMO: O presente artigo objetiva apresentar as duas primeiras escolas normais confessionais católicas: Colégios Nossa Senhora de Lourdes (1937) e o Colégio Patrocínio de São José (1946), ambas fundadas em Aracaju/Se, por congregações femininas de origem europeia, no início do século XX. Dessa forma, considerações são tecidas a respeito das contribuições do curso normal na profissionalização feminina em Aracaju. A investigação tem como marco temporal o ano de fundação desses cursos nessas instituições quando as mesmas já mantinham outras modalidades de ensino. O aporte bibliográfico desta pesquisa ancorou-se nos escritos de Nosella e Buffa (2009), Magalhães (2004) e Bourdieu, (2009); bem como na pesquisa documental com o foco nos anúncios propagados pelos Colégios no Jornal A Cruzada, os documentos institucionais e as atas dos inspetores de ensino. Ressalta-se que, para o período investigado as instruções educativas estavam inseridas no projeto dogmático católico, atrelado a uma formação moral de educar mulheres, pautada nos “bons” costumes e no cumprimento de ser boa esposa e mãe. PALAVRAS-CHAVE: Colégio Patrocínio de São José. Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Curso Normal. Formação de professores.

ABSTRACT: This article aims to present the first two Catholic confessional schools: Our Lady of Lourdes Colleges (1937) and the Colegio Patrocínio de São José (1946), both founded in Aracaju / Se by female congregations of European origin at the beginning of the century XX. Thus, considerations are woven regarding the contributions of the normal course in female professionalization in Aracaju. The research has as a time frame the year of foundation of these courses in these institutions when they already had other teaching modalities. The bibliographical contribution of this research was anchored in the writings of Nosella and Buffa (2009), Magalhães (2004) and Bourdieu, (2009); As well as documentary research focusing on the advertisements propagated by the Colleges in the newspaper The Crusade, the institutional documents and the records of the teaching inspectors. We emphasize that for the period under investigation the educational instructions were inserted in the Catholic dogmatic project, linked to a moral formation of educating women, based on "good" customs and the fulfillment of being a good wife and mother.

KEYWORDS: Sponsorship College of St. Joseph. College of Our Lady of Lourdes. Normal course. Teacher training.

1 INTRODUÇÃO

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educativas femininas, aprofunda-se o estudo, partindo dos arquivos, da biblioteca e dos demais espaços de memória, para conhecer a história dos principais colégios católicos de Aracaju e identificar que, durante a trajetória das instituições, tiveram grande relevância no campo educacional.

Magalhães (2004, p. 58) ressalta que, “conhecer o processo histórico de uma instituição educativa é analisar a genealogia da sua materialidade, organização, funcionamento, quadros imagéticos e projetos, representações e projetos dos sujeitos na relação com a realidade material e sociocultural de contexto”. Para o estudioso (2004, p.54), “a educação é um constructo pessoal, fruto de uma relação institucional e social (grupal), por participação dos sujeitos. No plano pedagógico a relação entre o sujeito e a instituição é de natureza instituinte”. As escolas são agências criadas pelo homem a fim de atender às necessidades da sociedade em cada época, em um processo sincrônico, na formação de novos líderes e na educação linear do seu povo.

Nessa perspectiva recorre-se à História Cultural, sob a ótica de Chartier (1990, p. 16) como “o objeto da história cultural é identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída, pensada, dada a ler”. O objetivo desse trabalho não é realizar um estudo comparado entre os cursos normais de cada colégio, mas identificar quais foram as práticas e as intenções em instituir esse curso.

O curso normal surgiu na França e estava vinculado à formação de professoras para o serviço público. A matrícula de maioria feminina representava a possibilidade de profissionalização e instrução de muitas moças da elite francesa, conforme (ARAÚJO, 2010, p. 35) que assevera que “a lógica do Estado era a de formar professores revestidos do ideal de ser “missionário” como a finalidade de regenerar moralmente as massas incultas”.

Na busca desse entendimento, qual seja conhecer a história dos primeiros cursos normais confessionais em Aracaju, são encontrados diversos documentos oficiais e institucionais, fotos e registros pessoais que travam desses cursos e das suas orientações. Desse modo, a igreja e o estado estavam juntos em um plano de civilizar e educar a população pela instrução das massas.

Logo necessário se faz realizar as leituras, desmontar os documentos e analisar para que e para quem se destinavam os cursos normais em Aracaju. A lupa dos historiadores da história da educação é clareada por diversos autores da área. Um deles é Le Goff quando afirma que “a leitura dos documentos não serviria, pois, para nada se fosse feita com ideias preconcebidas” (2003, p. 527).

A realização desse estudo deu-se no início de uma investigação a respeito dos colégios confessionais femininos católicos em Sergipe. Essas instituições foram difundidas em diversas cidades do Estado e principalmente na capital aracajuana. Com a fundação do Colégio Patrocínio de São José (1940) e o Colégio Nossa Senhora de Lourdes (1903), dirigidos por religiosas de origem europeia. É no século XX que foram criadas novas condições para a presença católica no território brasileiro com os convites feitos por bispos de diversas arquidioceses.

Dessa forma segundo Azzi (2008, p.8) “o período de 1922 a 1962 é marcado por um projeto específico, destinado à restauração da fé”. Por tanto, umas das principais estratégias do catolicismo brasileiro foi a difusão de novas instituições educativas e instituições culturais a exemplo de jornais, associações e irmandades. Essa tática tinha à frente um corpo de agentes preparados aos serviços educativos e pastorais da igreja.

A sociedade brasileira do início do século XX primava por conceitos religiosos, morais e de boa retidão, essas ideias passariam por canais culturais que,

A imprensa foi utilizada através de livros, revistas e folhetos, que se destinava tanto às pessoas com instrução superior como, até mesmo, às crianças valorizada a comunicação verbal, através de sermões, conferências, confissões, orientação espiritual de associações e grupos, retiros, além de programas radiofônicos. Houve também um esforço para que a mensagem católica chegasse a todos os rincões do país, inclusive aos sertões do Nordeste e do Mato Grosso, bem como ás classes e grupos sociais. Ricos e pobres, homens e mulheres, velhos e crianças, operários e camponeses, políticos e empresários, bem como os diversos grupos étnicos (AZZI, 2008, p. 19).

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Dessa maneira, a Igreja Católica do início do século XX, no Brasil, representou uma das principais produtoras e difusoras de preceitos culturais e religiosos, diretamente acompanhada pelo estado ao incentivar a incursão de novas escolas e a escolarização dos jovens, passaria a atender meninos e meninas em Colégios femininos e masculinos com internatos, externatos e semi-internato. De modo, essa ampliação beneficiava “os colégio se esforçavam por bilhar. Como eram quase sempre os únicos nas pequenas cidades, localidades onde se situavam, sobressaíam necessariamente. Os colégios das freiras eram sempre os mais organizados, disciplinados, exigentes”. (AZZI, 2008, p.156).

No Brasil, as instituições educativas católicas de ensino normal surgiram depois dos conventos, antes dedicados à vida de reclusão e sacralidade religiosa, visavam à admissão de moças para a vida religiosa. Muitas das famílias de elite procuravam os conventos no desejo de instruir com ensinamentos das prendas do lar, bons modos e atividades manuais.

Dessa forma, a educação feminina foi por um período na sociedade brasileira, tímida e com poucos avanços no plano de escolarização, algo que afetou a educação mulheril, fazendo com que a formação feminina fosse prejudicada. Isto porque muitas meninas cresciam analfabetas, sem acesso à instrução e permaneceriam assim até muitas chegarem ao casamento.

Todas as congregações católicas que se instalaram no Brasil, do século XIX em diante, empregaram o método jesuítico em sua prática docente [...] essa atitude não era fortuita, mas parte da estratégia católica em sua luta contra a modernidade (NOSELLA & BUFFA, 1996, p.56).

Portanto não diferente a outras capitais, Aracaju contava com uma Escola Normal[1] subsidiada pelo Estado, com matrícula em sua maioria feminina. Para todas que passassem nos exames de admissão promovidos própria instituição,

O primário era oferecido em Aracaju, às meninas em escolas isoladas em grupos escolares e escolas particulares. Estas geralmente mantinham internatos e começaram a crescer e a se multiplicar a partir do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. É o caso do Instituto América, dirigido por Norma Reis, professora a Escola Normal, que funcionou de 1920 a 1935, possuindo um corpo docente renomado. As ordens religiosas também mantiveram colégios na cidade. O Colégio Nossa Senhora de Lourdes, [...], as possibilidades educacionais femininas em Aracaju, a partir de 1920, estavam vinculadas às seguintes instituições: à Escola de Comércio Conselheiro Orlando e ao Colégio Atheneu (FREITAS, 2003, p.31).

2 AS CONTRIBUIÇÕES DOS CURSOS NORMAIS CONFESSIONAIS CATÓLICOS AO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO MAGISTÉRIO EM ARACAJU (1937-1946)

O Colégio Nossa Senhora de Lourdes foi a primeira instituição educativa confessional feminina em Aracaju, fundada em (1903), pela ordem religiosa, das Irmãs Sacramentinas de origem francesa, voltada à educação feminina. Iniciou suas atividades em um prédio localizado nas proximidades do centro da cidade, com um ensino particular oferecendo os curso primários, secundários, de admissão e a escola normal, com internato, externato e semi-internato. De acordo com Costa (2003, p.37), “o acesso à educação oferecido no internato era privilégio das moças ricas porque os custos eram elevados”.

Essa instituição representou na época o primeiro Colégio implantado em Aracaju, que de forma sistêmica mantinha em suas práticas educativas as principais modalidades de ensino de acordo a legislação[2] do período.

O Colégio Nossa Senhora de Lourdes ganhou rápido notoriedade junto à sociedade aracajuana devido a sua formação e disciplina aplica na sua instrução. Credenciou o trabalho das religiosas que se revezavam na ministração das disciplinas. A instrução religiosa promovia, na formação dos os homens e mulheres, habilidades diferenciadas

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uma vez com cursos de curta duração como corte e costura, piano, desenho e culinária.

Portanto, no que concerne aos colégios para a formação de professoras, instituições na sua grande maioria particulares, e que eram frequentadas por mulheres, geralmente pertencentes às famílias mais favorecidas economicamente, ao adquirirem a formação, necessariamente adquiriam o que é conceituado por Bourdieu

“O campo de produção simbólica é um microcosmos da luta simbólica entre as classes: é ao servirem os seus interesses na luta interna do campo de produção (e só nesta medida) que os produtores servem os interesses dos grupos exteriores ao campo de produção” (BOURDIEU, 2002, p.12).

Assim, a formação feminina deu-se em um campo importante. Quando se analisa a formação das religiosas, boa parte delas, com experiências na área de educação e assistência, transmitiram às suas alunas diversos ensinamentos importantes para a formação da mulher nesse período. Haja vista que as discentes transmitiriam o capital absorvido na instituição e reconfigurando-se em novas práticas de conhecimento.

Nos colégios católicos de ensino normal, além das práticas pedagógicas, eram incentivadas ativardes religiosas como construtoras também do saber cultura. Dessa forma, o ensino normal atenderia a uma necessidade de mercado. Quando se necessitava reorganizar o ensino primário, as escolas normais foram importantes instâncias na mediação da cultura, ou seja, espaços responsáveis pela divulgação do saber, pedagógico, cultural, de saúde e religioso para a formação docente feminina.

Assim, o Colégio Nossa Senhora de Lourdes iniciou as atividades de formação das professoras primárias, cabendo às Irmãs a tarefa de conduzir às jovens no seu processo de formação. É o que elucida Costa:

A equiparação das escolas particulares à Escola Normal Rui Barbosa foi uma das inovações introduzidas pelo Regulamento do Ensino de 1931, com vistas a dotar os cursos de formação de professores de um caráter mais técnico [...] o novo regulamento de Ensino dispunha das condições para que as escolas. Particulares fossem equiparadas. As mesmas deveriam possuir prédio adequado, organizar o ensino de acordo com a Escola Normal Oficial (COSTA, 2003, p.41).

O desejo do Estado era organizar o ensino normal, voltar a um único currículo, que atendesse à necessidade da escola, e ao alunado era primordial afinar o discurso e as práticas dessas instituições, fiscalizando-as e orientando-as nas conjecturas pedagógicas. Essas normas foram seguidas pelas escolas normais do Colégio Patrocínio de São José e o Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Havendo também em comum nas três instituições de ensino normal[3]. A criação dos grupos escolares pautados em uma nova pedagogia, com modernas instalações, exigia um corpo docente mais preparado a assumir as escolas na capital e do interior do estado, ampliando o campo de atuação das normalistas.

O trabalho das religiosas pretendia que, ao término do ensino ginasial, as alunas ingressassem no ensino normal, assim prosseguiriam seus estudos na mesma instituição. Tática aplicada tanto pelos Colégios patrocínio de São Jose e o Colégio Nossa Senhora de Lourdes.

Na década de quarenta do século XX, funcionou no Colégio Patrocínio de São José a escola normal de segundo 2º ciclo feminino, autorizado sobre o Decreto lei Estadual n. 815057, de 31 de agosto de 1946, de acordo com a Lei Federal n. 8.530, de dois de janeiro do mesmo ano. É equiparada à Escola Normal Rui Barbosa, sobre o decreto lei n. 85 de 30 de julho de 1949[4]. Foi a segunda escola normal confessional criada em Aracaju[5]. O curso era voltado à formação de professores primários.

A instituição estudada contribuiu para a feminização do magistério em Sergipe, em tempo que esteve em consonância com os planos republicanos ao incentivar a formação de mais professores primários até a metade do século. “A institucionalização é uma fase, num processo evolutivo mais amplo, que corresponde ao constructo que resulta da

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função instituinte e que se consolida na instituição” (MAGALHÃES, 2004, p.47). A complexidade de uma instituição não é apenas os seus instrumentos educativos, mas as relações que são estabelecidas fora dos seus muros e como essas mensagens são apropriadas por seus agentes educativos e transmitidas a outros.

Em nível nacional, em 1946, o curso normal recebeu uma ampla regulamentação, através da Lei orgânica do Ensino Normal (8.560, de 2/01/1946). Nos moldes desta legislação, foi elaborada a Lei Estadual n°30 de 04 de dezembro de 1947 (FREITAS, 2003, p.80).

Dessa forma, a organização burocrática de uma instituição é composta de leis, regulamentos, normas, inspeções, calendários, contabilidade, cronogramas de avaliações, estatutos, regimes e outras normas que validem o seu poder instituinte. “As instituições educativas, de forma particular e na sua dimensão sistêmica, são realidades dentro de outra realidade” (MAGALHÃES, 2004. p.67).

A ação educativa exercida pelos sujeitos na instrução é um organismo vivo pelo qual os agentes apropriam-se das mensagens e normas, reproduzem o que foi aprendido para novos sujeitos. “O capital cultural é um ter que se tornou ser, uma propriedade que se fez corpo e tornou-se parte integrante da “pessoa,” um “habitus”” (NOGUEIRA e CATANI, 2014, p.65).

O gabinete de leitura do Colégio, em 1948, contava com 1.124 obras diversificadas por vários temas, assuntos e autores a respeito do campo do ensino normal, em que a apropriação do conhecimento pedagógico é compreendida como “o hábitus, como indica a palavra, é um conhecimento adquirido e também um haver, um capital (de um sujeito transcendental na tradição idealista) o hábitus, a hexis, indica a disposição incorporada, quase postural” (BOURDIEU, 2010, p. 61). Reiterando o que já foi discorrido em 1952, o currículo da escolar normal tentava atender os conhecimentos pedagógicos, de saúde e cívicos.

O curso ocorria em período matutino e vespertino. Na distribuição das disciplinas, os horários e o tempo de estudo de cada uma, compreende-se que o curso era dividido em eixos temáticos. O primeiro da base pedagógica com as disciplinas Pedagogia, Metodologia do Ensino Primário, Biologia Educacional, Administração Escolar, Fundamentos Sociais da Educação, Prática de Ensino e Psicologia Educacional. Essas disciplinas preparariam as normalistas para sua vivência na sala de aula, por métodos estruturantes do saber conhecer e fazer. Já o segundo eixo temático era das disciplinas voltadas para o campo do saber médico, tais como Puericultura e Educação Sanitária, logo as apropriações desse saber pelas normalistas justificava-se pelos projetos de civilidade republicana e de higiene das cidades. E por último, as disciplinas de Educação Física, Recreação e Jogos, Desenho e Arte Aplicada. Esperava-se que a normalista fosse criativa nas suas atividades e as desenvolvesse com brilhantismo. São disciplinas mais práticas e que desenvolviam a criatividade das alunas.

A disciplina de ensino religioso não estava presente no currículo dos cursos, embora não configurasse entre as disciplinas do curso normal, ela se constituía em uma modalidade de ensino bastante valorizada na formação educacional das professorandas, pois os seus ensinamentos eram ministrados por meio de um curso de formação de catequistas, em que as alunas faziam a leitura da Bíblia e dos livros da vida dos santos.

Dessa forma, as normalistas também recebiam na escola uma forte preparação de caráter moral e cívico, pois os ensinamentos transmitidos não visavam apenas inculcar os preceitos do catolicismo e do conhecimento pedagógico, pretendia também ensinar os valores cívicos e prescrever formas de comportamentos, inclusive essas práticas se tornavam ainda mais valorizadas, pelo fato de ocorrer no encerramento do ano escolar a distribuição dos prêmios de conduta, desfiles cívicos estudo e as inscrições no livro de ouro das alunas exemplares.

Horta (1994, p. 4) apresenta a função da escola como “o papel desempenhado pela Igreja Católica no período em questão e acompanhamos os esforços desenvolvidos pelo regime no sentido de utilizar-se da Igreja como instrumento de legitimação política e inculcação moral”.

O estado esperava das normalistas que desempenhassem papeis importantes na atividade do magistério, na formação de uma nova sociedade sobre preceitos cívicos e patrióticos. Desse modo, o plano estava traçado entre a igreja e o governo quando na ligação de uma política de restauração nacional.

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Para tanto, a ação dos agentes educativos responsáveis pela criação dos cursos normais em Aracaju favoreceu a inclusão dessas jovens e moças no campo profissional, contribuindo para o desenvolvimento dos preceitos higiênicos quando as mesmas difundiam práticas de saúde no ambiente escolar. Dessa forma, a normalista não era apenas a professora responsável pelo ler, escrever e ensinar as principais operações matemáticas, mas, cuidadora e observadora de certas enfermidades próprias do período pueril.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para esse trabalho, buscou-se compreender as contribuições para a História da profissão docente e para a História das Instituições Educativas.

O resultado da pesquisa revelou que tanto o Colégio Patrocínio de São José quanto o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, foram importantes espaços educativas na formação cultural, social e religioso de diversas jovens e moças no modelo de educação feminina comum ao período investigado. A consequência dessas práticas foi a formação da mulher-professora por sua natureza materna. Este era o caminho único que se abria à possibilidade de uma ocupação para a mulher que não fosse somente o lar.

O projeto de formação praticado nos Colégios estava classicamente também imbuído do espírito patriótico, com diversos rituais cívicos. Por meio dos desfiles cívicos, comemorações de feriados e premiações de competições. Assim diversos conceitos nortearam a formação docente nas instituições confessionais católicas, as mesmas contavam com o apoio do governo, quando autorizava e financiava com determinas bolsas de estudos.

O desejo do Estado com a reorganização do ensino primário e a criação dos grupos escolares, ao admitir agentes especializados, formados, resolveria o problema da educação e a atuação de professores leigos em diversas escolas do país, consequentemente contribui com a Igreja Católica, no desejo de ampliar seus fies e seguidores.

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Mestre em Educação pela Universidade Tiradentes e Professor de Educação Básica da Prefeitura Municipal de Socorro. Membro do Grupo de Pesquisa História da Educação no Nordeste (GPHEN/GT/SE). E-mail: dilsongonzaga@yahoo.com.br.

Mestranda em Educação – UNIT/SE. Especialista em MBE Análise e Gestão de Negócios pela Universidade Federal de Sergipe. Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Sergipe. Docente da Universidade Paulista - UNIP. Membro do Grupo de Pesquisa História da Educação no Nordeste Oitocentista (GHENO/GT/SE).

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E-mail: hbraz81@gmail.com.

Doutor em Educação pela Universidade Federal da Paraíba-UFPB, professor do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Tiradentes - UNIT. Coordenador do Grupo de Pesquisa História da Educação no Nordeste – GPHEN/GT-SE. E-mail: cristianoferronato@gmail.com.

[4] A primeira Escola Normal criada em Aracaju, atendia prioritariamente o sexo masculino (1870), criada pela lei Orgânica da Instrução Pública. Vinculada ao Atheneu, que nesse período era o único Colégio de ensino publico. Essa foi a primeira instituição fundada para formação do magistério.

[5] De acordo com (COSTA, 2003, P.41) “Através do Decreto-Lei n. 55, de 22 de junho de 1931, ser equipara à Escola Normal Rui Barbosa era uma exigência legal e uma demonstração do prestígio”.

[6] Escola Normal Rui Barbosa e no ano de (1946) Instituto de Educação Rui Barbosa, Colégio Nossa Senhora de Lourdes e Colégio Patrocínio de São José.

[7] Fonte: Livro de registro de reuniões da Escola Normal (1950), acervo do arquivo do Colégio. [8] A primeira Escola normal confessional em Aracaju foi a do Colégio Nossa Senhora de Lourdes.

Referências

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