Ficha técnica
7 Congresso Florestal Nacional Artigos / Comunicações
CD
Editores: João Bento, José Lousada, Maria do Sameiro Patrício
Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais Vila Real e Bragança, Portugal.
Junho 2013
ISBN: 978-972-99656-2-3
Esta edição foi patrocinada pelo
Programa – Fundo de Apoio à Comunidade Ciêntifica/FCT
5 a 8 de Junho de 2013
Proposta de Carta de Aptidão Agrícola e Florestal para Cascais
V. Silva1* e A. Neto11: Empresa Municipal de Ambiente de Cascais; Complexo Multisserviços da Câmara Municipal de Cascais, Estrada de Manique n.º 1830 Alcoitão, 2645-138 Alcabideche
e-mail: silvadavasco@gmail.com
Resumo: No âmbito da revisão do Plano Diretor Municipal de Cascais elaborou-se a carta de
aptidão agrícola e florestal para o concelho no sentido de contribuir para o processo de tomada de decisão no ordenamento do território. Em função da presença de formações vegetais, do tipo de classe de solo, das características edafo-climáticas e da vegetação natural potencial dos espaços, recorrendo a uma análise em sistemas de informação geográfica (SIG), foi definida a aptidão para cada uma das seguintes categorias de ocupação do solo: espaço natural, agrícola e florestal. O processo de validação teve em conta que cada espaço (de acordo com o seu potencial) apenas pode ser classificado com uma categoria, iniciando-se a escolha pela existência de valores naturais a preservar, seguindo-se a aptidão agrícola e por fim a aptidão florestal. Com vista à proteção do solo e funções ecológicas inerentes, áreas sem aptidão agrícola ou florestal foram remetidas para a categoria de espaço natural. A proposta apoiou-se na ocupação atual do solo, capacidade de uso, séries de vegetação e em critérios de delimitação da estrutura ecológica, procurando definir usos adequados seja na preservação das propriedades intrínsecas (do solo) importantes para sustentar uma boa produção de biomassa, seja na salvaguarda de habitats naturais com interesse para a conservação, na revitalização das atividades agrícolas ou na criação de florestas, incluindo galerias ripícolas, no sentido da prestação de serviços ecológicos e de habitat para a fauna e flora silvestres, e quando compatível, como suporte de atividades de recreio e lazer das populações.
Palavras-chave: Plano Diretor Municipal, Estrutura Ecológica, Vegetação natural, SIG
Abstract: Within the Cascais Municipal Development Master Plan revision, an agriculture and
forestry land aptitude map has been drawn in order to help the decision-making process in land-use planning. Using natural vegetal formations presence, soil class, edapho-climatic characteristics and natural potential vegetation, a geographic information system (GIS) analysis was performed to determine the aptitude for each of the following land-use categories: natural, agriculture and forest. According to the patch potential, and assuming that only category could be chosen, a validation process started by identifying the presence of considerable natural values that must be preserved, followed by the suitability for agricultural use and finally for forestry. Aiming to the soil protection and its ecological functions, areas without potential for forestry or agricultural use were also referred to the natural category. The aptitude for agricultural and forestry use final proposal, based on the current land cover, land use capacity, vegetation series and green infrastructure delimitation criteria, define suitable land-use applications that will allow to preserve soils intrinsic properties, important to support good biomass production, as well as to protect natural habitats with conservation importance, revitalize agricultural activities and establish new forests (including riparian galleries), towards the delivery of ecological services, providing habitat for wild flora and fauna and, when compatible, the support for recreational human activities.
1. INTRODUÇÃO
A proposta de Carta de Aptidão Agrícola e Florestal de áreas de solo rural e urbano afeto à Estrutura Ecológica do concelho de Cascais integra as seguintes componentes:
Espaço Agrícola, que agrega áreas com aptidão para a atividade agrícola e pastoril, combinada com
a prestação de serviços ecológicos e atividades de lazer, áreas que se caraterizam igualmente pela importância na estruturação da paisagem.
Espaço Florestal, que incorpora áreas com aptidão florestal para criação ou fomento do coberto
arbóreo, com funções essencialmente de conservação e proteção, e quando compatíveis, de recreio e lazer.
Espaço Natural, que pretende salvaguardar áreas que apresentam valores naturais de elevado
interesse, essenciais para a manutenção dos serviços ecológicos e de habitat para a fauna e flora silvestres.
2. ANÁLISE
2.1. Espaço agrícola
Dados e Metodologia
Na determinação da maior aptidão dos solos para a atividade agrícola usaram-se como base as cartas de Capacidade de Uso do Solo e de Solos (1:25000) (IHERA, 2002) e recorreu-se aos critérios de delimitação da Reserva Agrícola Nacional (RAN) dispostos no Decreto-Lei n.º 73/2009. Neste processo foram consideradas as classes de capacidade de uso do solo A, B e Ch, e as unidades de solo classificadas como baixas aluviares (Aluviossolos) e coluviais (Coluviossolos), sempre que maioritariamente representadas. Dada a escassez de solo disponível no concelho e partindo do princípio de que não se pretende uma utilização agrícola intensiva, considerou-se também aptos os restantes solos de classe de uso C, ou seja, as sub-classes Ce e Cs.
Tabela 1. Classes de Capacidade de Uso do solo. Adaptado de SROA (1965).
Classe Caraterísticas principais
A Solos com poucas ou nenhumas limitações, sem riscos de erosão ou com riscos ligeiros e susceptíveis de utilização agrícola intensiva
B Solos com limitações moderadas, riscos de erosão no máximo moderados e susceptíveis de utilização agrícola moderadamente intensiva
C Solos com limitações acentuadas, riscos de erosão no máximo elevados, susceptíveis de utilização agrícola pouco intensiva
D Solos com limitações severas a muito severas, riscos de erosão no máximo elevados a muito elevados, normalmente não susceptíveis de utilização agrícola, poucas ou moderadas limitações para pastagem e exploração de matos e exploração florestal
E Solos com limitações muito severas, riscos de erosão muito elevados, não susceptíveis de utilização agrícola, severas a muito severas limitações para pastagem, matos e exploração florestal, servindo apenas para vegetação natural ou floresta de proteção ou recuperação ou não susceptíveis de qualquer utilização.
Tabela 2. Sub-classes de Capacidade de Uso do Solo. Adaptado de SROA (1965).
Classe Caraterísticas principais
e Erosão e escorrimento superficial
É constituída pelo conjunto dos solos duma classe em que a susceptibilidade, os riscos ou os efeitos da erosão constituem o fator dominante de limitação. O risco de erosão (resultante da susceptibilidade à erosão e do declive) e, em certos casos, o grau de erosão são os principais fatores a considerar para a inclusão dos solos nesta subclasse.
h Excesso de água
Inclui os solos em que o excesso de água constitui o principal fator limitante da sua utilização ou condicionador dos riscos a que o solo está sujeito. Uma drenagem pobre resultante quer de uma permeabilidade lenta quer dum nível freático elevado e a frequência das inundações são os principais factores determinantes dum excesso de água no solo.
s Limitações do solo na zona radicular
Abrange os solos em que predominam as limitações na zona radicular. Os principais factores que determinam essa limitação são a espessura efetiva, a secura associada à baixa capacidade de água utilizável, a baixa fertilidade difícil de corrigir ou uma pouco favorável resposta aos fertilizantes, a salinidade e/ou alcalinidade, a quantidade e tamanho de elementos grosseiros, os afloramentos rochosos, etc.
Tabela 3. Unidades de solos incluídas na RAN. Adaptado de DGADR (2008).
Ordem Sub-Ordem
Código SROA
Nome das Famílias
So lo s In ci p ie n te s A lu vi o s so lo s
A Aluviossolos Modernos Não Calcários, de textura mediana Aa Aluviossolos Modernos Não Calcários, de textura pesada
Aac Aluviossolos Modernos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura pesada Ac Aluviossolos Modernos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura mediana Alc Aluviossolos Modernos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura ligeira
C o lu vi o s so lo s
Sb Coluviossolos Não Calcários, de textura mediana Sba Coluviossolos Não Calcários, de textura pesada
Sbac Coluviossolos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura pesada Sbc Coluviossolos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura mediana Sbl Coluviossolos Não Calcários, de textura ligeira
Sblc Coluviossolos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura ligeira
Conclusões
Os espaços agrícolas, dependendo do tipo de classe do solo, podem apresentar uma utilização mais ou menos intensiva, consoante as caraterísticas de drenagem, textura e disponibilidade de água. Essencialmente, pretende-se promover a manutenção dos ecossistemas e as práticas agrícolas sustentáveis que privilegiem o modo de produção biológico e uma agricultura de proximidade que vise o abastecimento de mercados locais, seja na produção de frutícolas e hortícolas, na produção de vinho de Carcavelos em área de Região Demarcada como produto D.O.C., na requalificação de espaços verdes em solo urbano que conjuguem o recreio e a produção, na instalação de pastagens
biodiversas em mosaico com matos e prados naturais ou na criação de raças autóctones baseada na produção animal em regime extensivo (FIGUEIREDO et al., 2010; LA ROSA & PRIVITERA, 2013; ROSAS et al., 2009; ZEEUW et al., 2001).
Figura 1. Solo com máxima aptidão para vinho de Carcavelos em Região Demarcada.
2.2. Espaço florestal
Dados e Metodologia
A capacidade de desenvolvimento de determinada espécie vegetal depende das caraterísticas de solo e clima do local. Com base na Carta de Solos (1:25000) (IHERA, 2002), interpretaram-se os solos em função da sua aptidão para a produção florestal de dada espécie pelo cruzamento em SIG com a Carta de Vegetação Natural Potencial (1:25000, elaboração própria), resultando áreas com diferentes níveis de aptidão florestal para cada espécie selecionada de acordo com as séries de vegetação do concelho.
Interpretação dos solos
Com base na metodologia apresentada por DIAS et al. (2008) as unidades de solo foram classificadas em características-diagnóstico que condicionam o desenvolvimento das plantas. Neste processo, por exemplo, foi tida em conta a fase do solo, uma vez que pode representar por si uma condicionante. Assim, para solos em fase delgada (d), se a espessura efetiva pode ser aumentada por meios mecânicos a caraterística diagnóstico passa a ser Profundidade expansível (2), caso contrário passa a Espessura efetiva (10). De igual forma, solos em fase mal drenada (h) a característica diagnóstico passa a Drenagem interna (8).
Tabela 4. Classes de caraterísticas-diagnóstico. Fonte: DIAS et al. (2008).
N.º Ordem
Caraterísticas-Diagnóstico Condicionante ao Desenvolvimento
1 Sem limitações Sem condicionantes
2 Profundidade expansível Limitações de espessura efetiva, que pode ser aumentada por meios mecânicos
3 Calcário ativo Presença de calcário ativo 4 Descontinuidade textural Horizonte B argílico
5 Caraterísticas vérticas Abertura de fendas que dificultam ou limitam o desenvolvimento das raízes de plantas multianuais
6 Salinidade Excesso de sais no perfil do solo
7 Drenagem externa Potencial acumulação de água à superfície do solo 8 Drenagem interna Presença de toalhas freáticas superficiais 9 Armazenagem de água Deficiente capacidade de armazenamento de água
10 Espessura efetiva Limitação de espessura efetiva que não pode ser aumentada por meios mecânicos
11 Afloramento rochoso Não produtivo
12 Área social Não produtivo
Tabela 5. Correspondência das unidades de solo às caracteristicas-diagnóstico. Adaptado de DIAS et
al. (2008) e GUTIERRES (2004).
N.º Ordem
Característica-Diagnóstico
Unidades-Solo Código Solos
1 Sem limitações As não mencionadas Eb, Lb, Lpt, Lvt, Mng, Mns, Mnt, Pg, Pgm, Ppn,
Psn, Rcg, Vt, Vto 2 Profundidade
expansível
Incipientes, litossolos, de regime xérico, derivados de arenitos xistos ou grauvaques. Argiluviados, mediterrâneos vermelhos ou amarelos, calcários ou não, normais, para barros, com laterite ou húmicos. Calcários, pardos de regime xérico, para litossolos
Pcdc, Vato, Vcd, Vcd#, Vcd', Vcdl, Vcdt, Vgn, Vtc, Lb(d), Lpt(d), Pcdc(d), Pg(d), Pgm(d), Ppn(d), Psn(d), Vt(d), Vto(d) 3 Calcário ativo Calcários, pardos ou vermelhos, de regime xérico,
normais ou para barros
Pc, Pc', Pcb, Pcds, Pcs, Pcs', Pcsd, Pcsd', Pcst, Pct, Pcx, Ptc, Spc', Svc', Vac, Vac', Vc, Vc', Vcsd, Vcst, Vct 4 Descontinuidade textural
Argiluviados, mediterrâneos pardos, calcários ou não, normais ou para barros
Paco, Pao, Pato, Pgn, Pm, Pmg, Pmn 5 Características
vérticas
Barros pretos, pardos ou castanho avermelhados, calcários ou não, muito, pouco ou não
descarbonatados
Ba, Bac, Bca, Bp, Bpc, Cb, Cbc 6 Salinidade Halomórficos, salinos, de salinidade elevada ou
moderada, de aluviões ou rochas detríticas
- 7 Drenagem
externa
Incipientes, aluviossolos, modernos ou antigos, calcários, não calcários ou não calcários húmicos. Incipientes, coluviossolos, calcários, não calcários ou
não calcários húmicos
A, Aa, Aac, Ac, Alc, Sb, Sba, Sbac, Sbc, Sbl, Sblc
8 Drenagem interna
Incipientes, regossolos, psamíticos, para hidromórficos. Argiluviados, mediterrâneos pardos, calcários ou não, para hidromórficos. Podzolizados,
podzois hidromórficos, com ou sem surraipa. Hidromórficos, com horizonte eluvial para aluviossolos,
para regossolos, para barros, para argiluviados. Hidromórficos, sem horizonte eluvial, planossolos ou
planossólicos. Hidromórficos, orgânicos, turfosos
Ca, Cd, Pagc, Pago, Pdg, Sg, Cb(h), Sba(h), Vcd(h)
de água 10 Espessura
efetiva
Incipientes, litossolos, de regime xérico, derivados de granito, gneisse, gabro ou quartzo
Bp(d), Cb(d), Cbc(d), Paco(d), Pc'(d),Pcds(d), Pcs'(d), Pcsd(d), Pcsd’(d), Pct(d), Pcx(d), Pmg(d), Ptc(d), Vc(d), Vc’(d), Vct(d) 11 Afloramento rochoso
Não produtivo Arc, Arct, Arg, Ars
12 Área social Não produtivo Área social
Interpretação da vegetação natural potencial
A Carta de Vegetação Natural Potencial de Cascais (1:25000, elaboração própria) delimitou-se com base num modelo simplificado de correspondências entre a litologia, os solos, a bioclimatologia e as séries de vegetação (CAPELO et al., 2007). Os cursos de água e respetivas zonas de proteção foram delimitados segundo a tipologia do diploma da Reserva Ecológica Nacional (REN), do Decreto-Lei n.º 166/2008, definindo uma margem de 10 m a partir das linhas que delimitam os seus leitos. Para cada série de vegetação apresentam-se as espécies que permitem identificar a fitocenose no terreno, e como tal, são passíveis de usar em projetos de florestação e/ou recuperação biofísica.
Tabela 6. Séries de vegetação e espécies a utilizar. Adaptado de ACN (2010).
Série de vegetação Espécies arbóreas Espécies arbustivas Carvalho-cerquinho
(Ariso vulgare-Querco
broteroi S.)
Quercus faginea subsp. broteroi, Olea europaea var. sylvestris, Laurus nobilis
Quercus coccifera, Rhamnus alaternos, R. oleoides, Pistacia lentiscus, Phillyrea latifolia, Myrtus communis
Zambujeiro (Viburno
tini-Oleo sylvestris S.)
Olea europaea var. sylvestris, Ceratonia siliqua
Viburnum tinus, Rhamnus oleoides, R. alaternus, Pistacia lentiscus, Quercus coccifera, Lonicera etrusca
Sobreiro (Asparago
aphylli-Querco suberis S.)
Quercus suber, Q. robur, Olea europaea var. sylvestris
Arbutus unedo, Viburnum tinus, Cytisus striatus, Quercus lusitanica, Myrtus communis, Phillyrea angustifolia, Pistacia lentiscus, Rhamnus alaternus
Carvalho-negral (Arbuto
unedonis-Querco pyrenaicae S.)
Quercus pyrenaica, Q. suber
Amieiro (Scrophulario
scorodoniae-Alno glutinosae S.)
Alnus glutinosa, Salix atrocinerea
Sambucus nigra, Crataegus monogyna, Prunus spinosa ssp. insititioides
Freixo (Ranunculo
ficariae-Fraxino angustifoliae S.)
Fraxinus angustifolia, Populus nigra, Ulmus minor
Frangula alnus, Prunus spinosa ssp. insititioides, Pyrus bourgaeana, Cydonia oblonga
Ainda que não se existam solos halomórficos ou de salinidade elevada no concelho, nos troços litorais das linhas de água, pela forte estiagem e proximidade ao mar, subsistem sais no perfil do solo que permitem o estabelecimento de vegetação ripícola sub-halófila constituída por tamargais de
Estabelece-se em seguida a correspondência entre as condicionantes ao desenvolvimento e as espécies arbóreas que “encabeçam” as séries de vegetação identificadas na Carta de Vegetação Natural Potencial em diferentes níveis de aptidão florestal.
Tabela 7. Classificação das condicionantes ao uso florestal por espécie em 3 níveis de aptidão. Adaptado de DIAS et al. (2008) e CORREIA & OLIVEIRA (1999, 2003).
Espécie Superior Referência Inferior
Quercus pyrenaica Descontinuidade textural, Profundidade expansível, Sem limitações Drenagem externa, Drenagem interna, Espessura efetiva, Armazenagem de água
Afloramento rochoso, Área social, Calcário ativo, Caraterísticas vérticas, Salinidade
Quercus robur Sem limitações
Descontinuidade textural Profundidade expansível Drenagem externa Drenagem interna Espessura efetiva
Afloramento rochoso, Área social, Calcário ativo, Caraterísticas
vérticas, Salinidade, Armazenagem de água
Quercus suber Profundidade
expansível, Sem limitações Descontinuidade textural, Drenagem externa, Armazenagem de água, Espessura efetiva
Afloramento rochoso, Área social, Calcário ativo, Caraterísticas vérticas, Drenagem interna, Salinidade Quercus faginea Profundidade expansível, Sem limitações
Calcário ativo, Salinidade, Descontinuidade textural, Armazenagem de água, Drenagem interna, Drenagem externa
Afloramento rochoso, Área social, Caraterísticas vérticas, Salinidade
Olea europaea var. sylvestris Profundidade expansível, Calcário ativo, Descontinuidade textural, Sem limitações Salinidade, Caraterísticas vérticas
Afloramento rochoso, Área social, Drenagem interna, Drenagem externa, Espessura efetiva, Armazenagem de água Fraxinus angustifolia, Salix atrocinerea, Alnus glutinosa
Drenagem externa Drenagem interna Afloramento rochoso, Área social,
Descontinuidade textural, Profundidade expansível, Sem limitações, Calcário ativo, Caraterísticas vérticas, Salinidade, Armazenagem de
Figura 229. Aptidão florestal para o sobreiro.
Conclusões
Nesta categoria incluem-se todas as áreas com níveis de aptidão de referência e/ou superior para, pelo menos, uma das espécies eleitas. Verteram ainda as áreas de ocupação atual de matos (e.g. carrascais, tojais) onde se pretende a progressão da sucessão ecológica, de povoamentos florestais (e.g. eucaliptais, pinhais, acaciais) a reconverter para floresta autóctone, e de ribeiras a constituir galeria ripícola. De notar que os matos, para além de configurarem um habitat natural, ensombram o solo e criam condições que permitem a instalação de espécies características de etapas sucessionalmente mais evoluídas (arbóreas) e que poderão substituir (gradualmente) os matos e dominar a paisagem. O incremento do coberto florestal deve ser realizado com recurso a técnicas silvícolas de perturbação mínima (cf. ELI, 2007; GUIOMAR & FERNANDES, 2011; SANDE SILVA, 2007). No Espaço florestal são admitidos usos múltiplos de conservação, proteção, recreio e lazer. Para além da preservação do património natural e histórico-cultural associado a estes espaços, as florestas, quer em meio rural ou urbano, devem ser encaradas como fonte de serviços (ecológicos) associados a valias económicas, seja turismo de natureza, aproveitamento de produtos não-lenhosos (e.g. cogumelos, espargos), proteção civil (e.g. redução do risco de incêndio e de cheia), ou melhoria de qualidade de vida da população (e.g. espaços naturais de proximidade) (GONÇALVES et al., 2008; PEREIRA et al., 2009).
2.3. Espaço natural
Dados e Metodologia
Da Carta de Vegetação Natural Atual de Cascais (1:25000) foram selecionadas áreas que correspondem a formações vegetais com elevado e muito elevado valor biológico e interesse de conservação – Carta de Valor Biológico e Carta de Interesse de Conservação (1:25000) (ACN, 2010). Estas comunidades apresentam correspondência aos tipos e sub-tipos de habitats naturais constantes no Plano Setorial da Rede Natura 2000 (ALFA, 2004), instrumento que define orientações estratégicas para a gestão destes valores em áreas protegidas, mas que também podem ser aplicadas no restante território. Da lista de habitats detetados os que apresentam asterisco (*) possuem interesse prioritário para a conservação.
Tabela 2. Tipos de habitats que compõem os espaços naturais. Adaptado de ALFA (2004).
Habitat Comunidade Sintáxone
1240 - Arribas litorais com vegetação mediterrânica com Limonium e Armeria sp.pl. endémicos Comunidade de limónio Limonietum multiflori-virgati Comunidade de cravina-de-sintra Diantho cintrani-Daucetum halophili
2110 - Dunas móveis embrionárias com Elymus
farctus
Comunidade de feno-das-areias
Euphorbio paraliae-Elytrigietum boreoatlanticae
2120 - Dunas brancas Comunidade de
estorno
Loto cretici-Ammophiletum australis
2130pt2 - * Duna cinzenta com matos camefíticos dominados por Armeria welwitschii
Comunidade de erva-divina
Armerio welwitschii-Crucianelletum maritimae
2250pt1 - * Zimbrais de Juniperus turbinata
subsp. turbinata
Sabinal Osyrio
quadripartitae-Juniperetum turbinatae
2270 - * Dunas com florestas de Pinus pinea e/ou Pinus pinaster
Pinhal de manso e/ou pinheiro-bravo
Quercetea ilicis
4030pt1 - Tojais e urzais-tojais aero-halófilos mediterrânicos ou 4030pt3 - Urzais, urzais-tojais e urzais-estevais mediterrânicos não litorais
Tojal de tojo-durázio Daphno maritimi-Ulicetum congesti ou Lavandulo luisieri-Ulicetum jussiaei
5210pt2 - Zimbrais-carrascais de Juniperus turbinata subsp. turbinata sobre calcários
Zimbral – Carrascal Querco cocciferae-Juniperetum turbinatae
5330pt4 - Matagais com Quercus lusitanica Formação de carvalhiça
Erico scopariae-Quercetum lusitanicae
5330pt5 - Carrascais, espargueirais e matagais afins basófilos
Carrascal Melico arrectae-Quercetum cocciferae
5330pt7 - Matos baixos calcícolas Tojal de tojo-gatunho Salvio sclareoidis-Ulicetum densi
6110 - * Prados rupícolas calcários ou basófilos Comunidade de plantas suculentas
Calendulo lusitanicae-Antirrhinion linkiani
Conclusões
Nos espaços naturais, as formações dunares e de arribas costeiras, ainda que fragmentadas, encontram-se bem representadas. Os matagais, matos e prados vivazes, que se podem subdividir em Urzais, tojais e arrelvados acidófilos e Carrascais/espinhais, tojais e prados vivazes calcários com orquídeas, predominam, com maior ou menor grau de presença, com elevada cobertura, e, ainda que configurem habitats naturais, é aceitável uma redução até 50 % da sua área de ocupação, exclusivamente por progressão sucessional (cf. Espaço Florestal), com manutenção ou melhoria do grau de conservação do mosaico na restante área, mantida nesta classe de espaço (CALACIURA & SPINELLI, 2008). Formações naturais mais evoluídas estruturalmente como bosques são raras ou inexistentes, tendo sido as potenciais áreas ocupadas por plantações (e.g. Pinus spp.) ou invadidas por espécies exóticas (e.g. Acacia spp.). No que respeita às galerias ripícolas também se encontram muito degradadas e invadidas por espécies exóticas (e.g. Arundo donax), predominando estádios regressivos como silvados e
6210 - * Arrelvados vivazes calcícolas e xerófilos, frequentemente ricos em orquídeas
Prado vivaz de braquipódio
Phlomido lychnitidis-Brachypodietum phoenicoides
6220pt3 - * Arrelvados vivazes neutrobasófilos de gramíneas altas
Prado de hiparrénia Carici depressae-Hyparrhenietum sinaicae
6220pt4 - * Arrelvados vivazes silicícolas de gramíneas altas
Prado de baracejo Avenulo sulcatae-Stipetum giganteae
6410pt4 - Juncais de Juncus valvatus Juncal de Juncus valvatus
Juncetum acutifloro-valvati
6420 - Juncais mediterrânicos não halófilos e não nitrófilos
Comunidade de alpista-da-água
Gaudinio fragilis-Hordeion bulbosi
8210 - Afloramentos rochosos calcários com vegetação vascular casmofítica calcícola
Comunidade de rochas
Asplenietalia petrarchae
8220pt3 - Biótopos de comunidades comofíticas esciófilas ou de comunidades epifíticas
Comunidade de polipódio
Anomodonto-Polypodietea
8230pt3 - Comunidades derivadas de Sedum
sediforme ou S. album
Comunidade de arroz-dos-muros
Sedo-Scleranthetea
91B0 - Freixiais Freixial Ranunculo ficariae-Fraxinetum
angustifoliae
91E0pt1 - * Amiais ripícolas Amial Scrophulario scorodoniae-Alnetum glutinosae
91F0 - Florestas mistas sub-higrófilas de
Fraxinus angustifolia, Q. robur e Ulmus minor
Ulmal Vinco difformis-Ulmetum
minoris
92A0pt3 - Salgueirais arbóreos psamófilos de
Salix atrocinerea
Salgueiral-preto Viti viniferae-Salicetum atrocinereae
9240 - Carvalhais de Quercus faginea subsp.
broteroi
Cercal Arisaro-Quercetum broteroi
9320pt1 - Bosques olissiponenses-arrabidenses de zambujeiros e alfarrobeiras
prados. Em solos temporariamente encharcados ou com alguma compensação edáfica ocorrem juncais/arrelvados húmidos e sebes espinhosas, enquanto nos afloramentos e paredes rochosas surgem comunidades de plantas suculentas, fetos e briófitos. Estas formações encontram-se associadas à compartimentação da paisagem e são importantes pela disponibilização de habitat para a fauna e flora silvestres (ICN, 2003). Por fim, com vista à proteção do recurso solo e funções ecológicas inerentes, áreas sem aptidão agrícola ou florestal foram remetidas também para a categoria de espaço natural.
3. PROPOSTA
A sobreposição em SIG dos resultados obtidos para cada tipo de Espaço – Florestal, Agrícola e Natural, implicou a existência de áreas do território com aptidão para mais do que uma das componentes, sendo portanto necessário escolher qual a mais adequada através de uma avaliação pericial. Adaptando a metodologia apresentada por GUIOMAR et al. (2007), a cada área de território foram atribuídas por ordem hierárquica até 3 funções de uso, de acordo com a aptidão ou existência de valores naturais a preservar. O critério hierárquico utilizado teve como referência o valor biológico e interesse para conservação de habitats naturais, a constituição de galerias ripícolas e o colmatar da escassez de áreas adequadas para a atividade agrícola.
Tabela 9. Critério hierárquico na escolha da proposta de uso.
Ordem Tipologia Proposta
1 Áreas c/ vegetação natural de valor elevado Espaço Natural 2 Linhas de água e margens Espaço Florestal 3 Áreas c/ aptidão agrícola Espaço Agrícola 4 Áreas c/ aptidão florestal Espaço Florestal
5 Outras áreas Espaço Natural
Desta forma, para cada área do território é proposto um uso adequado baseado na ordem hierárquica, na dimensão útil e forma das manchas (e.g. áreas <500 m2 foram agregadas às áreas vizinhas) e no uso atual do solo. Todas as áreas edificadas foram excluídas da proposta. Estas operações tiveram como base cartográfica a Carta de Ocupação do Solo (escala 1:10000, elaboração própria).
Figura 3. Aptidão agrícola e florestal.
A justaposição entre a cartografia de ocupação do solo e a carta de aptidão agrícola e florestal permitiu a comparação em termos de dimensão total das diferentes tipologias (em ha) na situação atual e na proposta (CMC, 2010).
Tabela 10. Comparação do uso atual e proposto.
Componente Atual (ha) Proposto (ha) Alterado (ha) Espaço Agrícola 559,6 (5,7%) 1137,7 (11,6%) 578,1 (+103,3) Espaço Florestal 1006,7 (10,3%) 3090,3 (31,6%) 2083,6 (+207,0%) Espaço Natural 1581,9 (16,2%) 903,5 (9,3%) -678,4 (-42,9%)
De notar que na situação atual, para além das componentes mencionadas, existem espaços sem valor ecológico relevante (cerca de 1560ha, representando 15,9% do território), que se encontram desocupados tanto de edificação, como de floresta ou agricultura. São estes solos que permitiram aumentar as componentes agrícola e florestal, sem que haja necessidade de uma sobrelevada reconversão dos espaços naturais de elevado valor ecológico. Esta proposta promove a biodiversidade e a manutenção dos serviços dos ecossistemas pela diversificação do coberto vegetal e pela preservação de variedades e recursos genéticos autóctones em solo rural e urbano pertencente à estrutura ecológica de Cascais.
REFERÊNCIAS
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