• Nenhum resultado encontrado

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Texto Integral

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 0383/11

Data do Acordão: 15-02-2012

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: CASIMIRO GONÇALVES

Descritores: OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL

NULIDADE

TÍTULO EXECUTIVO PROVENIÊNCIA DA DÍVIDA ERRO NA FORMA DE PROCESSO CONVOLAÇÃO

Sumário: I - No âmbito da nulidade do título executivo, por falta de requisito

essencial consistente na falta de indicação e proveniência da dívida exequenda (al. b) do nº 1 do art. 165º do CPPT), o que releva é que o título executivo (ou a prova documental que a permita suprir)

possibilite ao executado a informação suficiente para saber com

segurança qual é a dívida a que o título se refere, de forma a estarem assegurados eficazmente os seus direitos de defesa.

II - A nulidade do título executivo, por falta de requisitos essenciais e quando não puder ser suprida por prova documental, não constitui fundamento de oposição enquadrável na al. i) do nº 1 do art. 204º do CPPT.

III - No caso de haver erro na forma de processo quanto a algum dos fundamentos mas não quanto a outros, não há lugar a convolação.

Nº Convencional: JSTA000P13784

Nº do Documento: SA2201202150383

Data de Entrada: 14-04-2012

Recorrente: FAZENDA PÚBLICA

Recorrido 1: A...

Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral: Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal

Administrativo:

RELATÓRIO

1.1. A Fazenda Pública recorre da sentença que, proferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela julgou procedente a oposição que A…… deduziu contra a execução fiscal contra si instaurada para cobrança de dívida ao Instituto de Apoio às

Pequenas e Médias Empresas, na quantia de € 49.260,45, acrescida de € 7.881,47 a título de juros de mora.

1.2. A recorrente termina as alegações formulando as conclusões seguintes:

1ª. Com vista à instauração do Processo executivo para cobrança dos montantes supra identificados remeteu o IAPMEI ao Serviço de

Finanças de Bragança, os seguintes documentos: - Certidão de dívida (cfr. doc. junto a fls. 22 dos autos);

- Contrato de concessão de subvenção financeira a fundo perdido celebrado entre a aqui oponente e o IAPMEI, do qual constam os outorgantes, objecto, destino e montantes do mesmo, tipo de financiamento, valor, condições específicas dos apoios financeiros concedidos modalidades de pagamento, fiscalização e condições da rescisão do referido contrato (cfr. doc., junto a fls. 23 a 36 dos autos);

(2)

- Proposta DRJCNº. 13/02.-MC, da qual constam as razões pelas quais se encontravam reunidas as condições para que o conselho de administração do IAPMEI rescindisse o contrato de apoio financeiro concedido (cfr. doc. junto a fls. 37 a 39 dos autos) e;

- Notificação realizada à aqui oponente para que procedesse à restituição do incentivo que lhe havia sido concedido e devida

fundamentação para a ocorrência de tal facto (cfr. doc. junto a fls. 40 a 42 dos autos);

2ª. Recebidos os elementos anteriormente referidos procedeu o Serviço de Finanças de Bragança à instauração de execução fiscal contra a aqui oponente a qual veio a caber o nº 0485200601007211 (cfr. doc. junto a fls. 15 dos autos);

3ª. A aqui oponente foi citada, tendo vindo a deduzir oposição em 07.12.2006. (cfr. doc. junto a fls. 4 dos autos).

4ª. A douta sentença considerou provada a seguinte matéria de facto: O Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (IAPMEI) veio dar execução a uma certidão de dívida por si emitida, junta como Doc. 1 da PI, e que aqui se dá por reproduzida, com o seguinte destaque: “Certifica-se para efeitos do nº 2 do art. 30º do DL nº 387/88 de 25 de Outubro, que a empresária em nome individual A…… (...) é devedora ao Instituto (...), dos montantes cuja descrição se segue: 1/ € 45.340,73 (quarenta e cinco mil trezentos e quarenta euros e setenta cêntimos) respeitante ao incentivo transferido. 2/ € 3.919,72 (três mil novecentos e dezanove euros e setenta e dois cêntimos) referentes aos juros de mora calculados sobre o Incentivo transferido calculados à taxa contratual.(...)”;

5ª. A decisão aqui sob recurso foi proferida, conhecendo que o título executivo que serviu de base à execução não contém, a identificação da natureza e proveniência da dívida, e que no caso dos títulos

executivos que servem de base à execução, o requisito “natureza e “proveniência de dívida”, foi explicitamente previsto no art. 163º, nº 1 al. e) do CPPT, não contendo a mesma certidão de dívida, os

referidos requisitos, considerou o Ex. Sr. Dr. juiz que se verifica

nulidade insanável no processo de execução nos termos previstos no art. 165º, nº 1, al. b) do CPPT, concluindo pela procedência da

oposição e extinção da execução fiscal.

6ª. O título executivo a que falte algum dos requisitos apontados nas alíneas do nº 1 do artigo 163º do CPPT só carece de força executiva, como dispõe esse número, consubstanciando nulidade insanável do processo de execução fiscal, «quando não puder ser suprida por prova documental».

Ou seja, a falta de requisitos essenciais do título em que se funda a execução só ocasiona a extinção desta se não for possível supri-la por prova documental. O que vale por dizer que, quando do título não conste a menção da entidade emissora, a data da emissão, o nome e domicílio do devedor, a natureza e proveniência da dívida e o seu montante por extenso, não se segue, necessariamente, a extinção da execução, já que a falta pode ser suprida mediante outro(s)

documento(s) que não o próprio título, por força da alínea b) do nº l do artigo 165º do CPPT, ficando a situação regularizada e podendo a execução prosseguir, mesmo com base num título que, só por si, não

(3)

teria força executiva, por carecer de requisitos essenciais. Pode, pois, dizer-se que a falta de requisitos do título executivo não é causa da extinção da acção executiva, nem, sequer, da sua suspensão, o que leva a essa extinção é o insuprimento da falta por prova documental. 7ª. Analisada a factualidade supra referida no ponto III, bem como, a fundamentação da douta sentença aqui sob recurso, é nosso

entendimento que a mesma não poderia ter conhecido de nulidade insanável nos presentes autos, nos termos previstos na al. b) do nº 1 do art. 165º do CPPT, por falta de requisitos do título executivo, nos termos previstos na al. e) do nº 1 do art. 163º do CPPT, na medida em que tendo sido a certidão de dívida emitida acompanhada dos elementos supra referidos no ponto III, encontra-se sobejamente esclarecida nos autos a natureza e proveniência da dívida em

execução nos mesmos, bem como, o motivo de pedido de reembolso, e por maioria de razão os fundamentos, nos quais se baseia a

cobrança coerciva dos montantes indicados na certidão de dívida. Donde em nosso entender, se encontra também suprida a “eventual” falta de requisitos essenciais do título executivo, a qual, a existir, se encontraria sempre suprida por força dos documentos juntos à mesma.

Termina pedindo que seja declarada a nulidade da sentença sob recurso, com todas as consequências legais.

1.3. Não foram apresentadas contra-alegações.

1.4. O MP emitiu parecer no sentido do provimento do recurso, nos temos seguintes, além do mais:

«Afigura-se-nos que o recurso merece provimento embora não pela argumentação aduzida pela recorrente.

Com efeito o argumento de que se encontra esclarecida nos autos a natureza e proveniência da dívida em execução nos mesmos, bem como, o motivo de pedido de reembolso, esbarra logo com um dado de facto que ficou assente no probatório, nomeadamente que não se provou que «entre o oponente e o IAPMEI tivesse sido celebrado algum contrato de concessão de subvenção financeira a fundo perdido» – cf. fls. 196.

Ainda assim, entendemos que a pretensão da recorrente, no sentido de que a sentença não poderia ter conhecido de nulidade insanável nos presentes autos, nos termos previstos na al. b) do nº 1 do art. 165º do CPPT, por falta de requisitos do título executivo, nos termos previstos na al. e) do nº 1 do art. 163º do CPPT, pode proceder, embora por outras razões.

É que, conforme se vem pronunciado de forma maioritária a

jurisprudência deste Supremo Tribunal Administrativo, a nulidade por falta de requisitos essenciais do título executivo não consubstancia o fundamento de oposição previsto na alínea i) do nº 1 do artigo 204º do CPPT, podendo e devendo ser invocada no processo executivo – vide acórdãos do pleno da secção de Contencioso Tributário de 6/5/2009, rec. nº 0632/08, de 19/11/2008, rec. nº 430/08, de

17/12/2008, rec. nº 364/08, de 23.02.2005, processo 574/04, e os acórdãos da secção de Contencioso Tributário de 19.11.2011,

recurso 340/10, de 23/10/2007, rec. nº 026762, de 14/3/2007, rec. nº 0950/06, de 28/2/2007, rec. nº 1178/06, de 20.11.2002, processo

(4)

1701/02, de 20.11.2000, processo 22591 e de 14.04.199, processo 22906, todos in www.dgsi.pt.

E isto porque, como se sublinha no supracitado Acórdão 574/04 a nulidade do título executivo não constitui facto modificativo ou

extintivo posterior à liquidação, podendo ser requerida como incidente da execução no processo respectivo onde deverá ser apreciada, podendo até, se razões processuais a tal não obstarem e for caso disso, convolar-se o requerimento de oposição para incidente na própria execução.

Nestes termos somos de parecer que o presente recurso merece provimento, devendo revogar-se o julgado recorrido.»

1.5. Notificadas as partes do teor do Parecer do MP e para querendo se pronunciarem, nada disseram.

1.6. Corridos os vistos legais, cabe decidir.

FUNDAMENTOS

2. Na sentença recorrida julgou-se provada a factualidade seguinte: 1. O Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (IAPMEI) veio dar execução a uma certidão de dívida por si emitida, junta como doc. nº 1 da PI, e que aqui se dá por reproduzida, com o seguinte destaque: “Certifica-se para efeitos do n° 2, do art. 30°, do DL nº 387/88, de 25 de Outubro, que a empresária em nome individual A……, (...) é devedora ao Instituto (...), dos montantes cuja descrição se segue: //1. € 45.340,73 (quarenta e cinco mil trezentos e quarenta euros e setenta e três cêntimos) respeitante ao incentivo

transferido. //2. € 3.919,72 (três mil novecentos e dezanove euros e setenta e dois cêntimos) referentes aos juros de mora calculados sobre o incentivo transferido calculados à taxa contratual. (...)”; 2.2. E em sede de factos não provados, a sentença exara: «Com interesse para a decisão não se provou:

. Que entre a Oponente e o IAPMEI tivesse sido celebrado algum contrato de Concessão de Subvenção Financeira a Fundo Perdido; (A oponente alude nos arts. 10°, 14°, 16º, 27º a um contrato sem,

contudo, indicar/descrever os Outorgantes, conteúdo ou data da sua celebração, ou sem o enquadrar na sua causa de pedir. Cfr., art. 264º, nº 1 do CPC).»

3.1. Enunciando como questões a decidir as atinentes (i) à inconstitucionalidade do art. 30° do DL 387/88, de 25/10, (ii) à

ilegalidade da dívida exequenda e da prescrição dos juros de mora e (iii) à omissão de requisitos do título executivo, a sentença concluiu: - Quanto à inconstitucionalidade do art. 30° do DL 387/88, a questão já foi conhecida no anterior acórdão do STA, 179 a 185 (que julgou o Tribunal Tributário materialmente competente para conhecer da oposição, para tal aresto se remetendo.

- Quanto à ilegalidade da dívida exequenda e da prescrição dos juros de mora, não se provaram factos que sustentem esta causa de pedir, acrescendo que, como decorre da al. h) do nº 1 do art. 204° do

CPPT, a ilegalidade da liquidação da dívida exequenda só pode constituir fundamento de oposição nos casos em que a lei não assegure meio judicial de impugnação ou recurso contra o acto de liquidação ou, dito de outro modo, sempre que esteja prevista na lei a possibilidade de impugnação judicial ou recurso do acto de liquidação

(5)

é um destes meios processuais que deve ser usado e não o processo de oposição. E dado que como resulta do art. 99° do CPPT, no caso existia a possibilidade de impugnação do acto tributário e este

fundamento invocado (ilegalidade da dívida por ser injustificada a rescisão de contrato) não se subsume em nenhum dos previstos no art. 204° do CPPT, resultaria manifesta a improcedência da oposição, fundamentada nesta causa de pedir.

- Quanto à omissão de requisitos do título executivo (e sendo de entender que a nulidade derivada da falta de requisitos essenciais do título executivo pode ser apreciada em sede de oposição à execução, pois ocorrendo tal nulidade a execução fica extinta, não sendo, por isso, de aplicar a esta nulidade o regime de conhecimento das demais nulidades processuais do processo de execução fiscal),

verifica-se, no caso, que apesar de o título executivo em causa conter a menção da entidade emissora, a respectiva assinatura, a data de emissão, o nome e domicílio da devedora e a indicação por extenso do montante da dívida, não contém, contudo, o requisito «natureza» e «proveniência de dívida», que foi explicitamente previsto na al. e) do nº 1 do art. 163º do CPPT, sendo que não pode considerar-se que a natureza da dívida seja apenas o «incentivo transferido», pois nem sabemos a que incentivo se reporta nem porque é que foi transferido. E por outro lado, também nada consta relativamente ao motivo do reembolso.

Assim, ocorre nulidade insanável no processo de execução - cfr. art. 165°, n° 1, al. b) do CPPT, que implica a procedência da oposição e a extinção da execução fiscal.

3.2. É deste entendimento (relativamente a esta última questão) que a recorrente Fazenda Pública discorda, alegando que embora a falta de requisitos essenciais do título em que se funda a execução

determine a extinção desta se não for possível supri-la por prova documental, no caso, a eventual falta desses requisitos essenciais do título está suprida, uma vez que tendo sido a certidão de dívida

emitida acompanhada, quer do contrato de concessão de subvenção financeira a fundo perdido celebrado entre a oponente e o IAPMEI, do qual constam os outorgantes, objecto, destino e montantes do

mesmo, tipo de financiamento, valor, condições específicas dos apoios financeiros concedidos modalidades de pagamento,

fiscalização e condições da rescisão do referido contrato, quer da Proposta DRJCNº. 13/02.-MC, da qual constam as razões pelas quais se encontravam reunidas as condições para que o conselho de

administração do IAPMEI rescindisse o contrato de apoio financeiro concedido. Ou seja, está esclarecida nos autos a natureza e

proveniência da dívida em execução nos mesmos, bem como, o motivo de pedido de reembolso, e por maioria de razão os

fundamentos, nos quais se baseia a cobrança coerciva dos montantes indicados na certidão de dívida.

3.3. A questão a decidir no presente recurso é, assim, atento o teor quer das conclusões do recurso, quer do Parecer do MP, a de saber se a sentença enferma de erro de julgamento ao decidir pela

procedência da oposição por ocorrência de nulidade insanável (falta de requisitos essenciais do título executivo) no processo de execução

(6)

– al. b) do nº 1 do art. 165° do CPPT.

Com efeito, embora radicando em fundamentação diversa, é na alegação deste erro de julgamento que se consubstanciam quer a alegação da recorrente Fazenda Pública quer a alegação do MP. Para a Fazenda o erro de julgamento verifica-se por entender que, no caso, a existir tal nulidade, ela sempre estará suprida por prova

documental.

Para o MP o erro de julgamento verifica-se porque a invocada nulidade por falta de requisitos essenciais do título executivo não consubstancia o fundamento de oposição previsto na al. i) do nº 1 do art. 204º do CPPT, podendo e devendo ser invocada no processo de execução (na intervenção processual do MP está abrangida a

possibilidade de se pronunciar sobre as questões de legalidade suscitadas no processo e a de suscitar questões que obstem ao conhecimento do mérito do pedido, deduzir excepções, arguir

nulidades, e requerer a realização de diligências - cfr. arts. 13º e 121º do CPPT, bem como Jorge Lopes de Sousa, Código de Procedimento e de Processo Tributário, Anotado e Comentado, Vol. II, 6ª edição, Áreas Editora, 2011, anotações ao art. 121º, pp. 300 a 303), sendo que, notificadas as partes para se pronunciarem sobre esta alegação do MP, nada disseram.

Vejamos.

4. Quanto ao erro de julgamento invocado pela recorrente

Fazenda Pública:

De acordo com o disposto na al. e) do nº 1 do art. 163º do CPPT, é requisito essencial do título executivo a menção da natureza e proveniência da dívida.

E de acordo com o disposto na al. b) do nº 1 do art. 165º do mesmo Código, a falta de requisitos essenciais do título executivo, quando não puder ser suprida por prova documental, constitui nulidade insanável em processo de execução fiscal.

O que releva, neste âmbito, é que o título executivo permita ao executado a informação suficiente para saber com segurança qual é a dívida a que o título se refere, de forma a estarem assegurados eficazmente os seus direitos de defesa.

Ora, como aponta o MP, a alegação por parte da Fazenda Pública, no sentido de que se encontra esclarecida nos autos a natureza e

proveniência da dívida em execução nos mesmos, bem como, o motivo de pedido de reembolso, esbarra logo com um dado de facto que ficou assente no Probatório (e que não pode ser questionado no presente recurso), qual seja o de que não se provou que «entre o oponente e o IAPMEI tivesse sido celebrado algum contrato de concessão de subvenção financeira a fundo perdido».

Daí que, não questionando a recorrente esta factualidade, faleça desde logo a alegada tese de que a eventual falta do requisito essencial do título atinente à não indicação da natureza e

proveniência da dívida, está suprida em face da circunstância de a certidão de dívida ter sido acompanhada, quer do contrato de

concessão de subvenção financeira a fundo perdido celebrado entre a oponente e o IAPMEI, do qual constam os outorgantes, objecto, destino e montantes do mesmo, tipo de financiamento, valor,

(7)

condições específicas dos apoios financeiros concedidos

modalidades de pagamento, fiscalização e condições da rescisão do referido contrato, quer da Proposta DRJCNº. 13/02.-MC, da qual constam as razões pelas quais se encontravam reunidas as condições para que o conselho de administração do IAPMEI rescindisse o contrato de apoio financeiro concedido.

Neste contexto, improcedem portanto os fundamentos de recurso invocados pela Fazenda.

5. Todavia, como se disse, o MP também invoca, por sua parte, erro de julgamento por a invocada nulidade por falta de requisitos

essenciais do título executivo não consubstanciar o fundamento de oposição previsto na al. i) do nº 1 do art. 204º do CPPT, podendo e devendo ser invocada no processo de execução.

Vejamos.

5.1. A nulidade do título executivo, por falta de requisitos essenciais e quando não puder ser suprida por prova documental, não constitui fundamento de oposição enquadrável na al. i) do nº 1 do art. 204º do CPPT.

Tem sido este, aliás, o sentido da actual jurisprudência do STA, como se pode ver dos acórdãos do Pleno da Secção do Contencioso

Tributário, de 6/5/2009, rec. nº 0632/08, de 19/11/2008, rec. nº

430/08, de 17/12/2008, rec. nº 364/08, de 23/2/2005, rec. nº 0574/04, bem como os acórdãos da Secção, de 19/1/2011, rec. 0340/10 (do qual foi relator o presente e cujo texto passaremos a seguir), de 23/10/2007, rec. nº 026762, de 14/3/2007, rec. nº 0950/06, de 28/2/2007, rec. nº 01178/06 e de 20/11/2002, rec. nº 01701/02. Refere-se no citado aresto de 6/5/2009:

«Ora, há que reconhecer que tal fundamento cabe na literalidade da referida norma pois que patentemente não envolve a apreciação da legalidade da liquidação – desde logo, é-lhe posterior – nem interfere em matéria da exclusiva competência da entidade que emitiu o título. Por outro lado, tal nulidade conduz à extinção da execução pelo que, sendo esta o fim primacial da oposição, não haverá, por aí, obstáculo à predita resposta afirmativa. Cfr. Jorge de Sousa, CPPT anotado, 2º volume, nota 16 ao artigo 165º.

Todavia, outros parâmetros há a considerar.

Dispõe o artigo 2º, nº 2, do Código de Processo Civil, que “a todo o direito (…) corresponde a acção adequada a fazê-lo reconhecer em juízo”.

E, em termos semelhantes, preceitua o artigo 97º, nº 2, da Lei Geral Tributária, que “a todo o direito de impugnar corresponde o meio processual mais adequado de o fazer valer em juízo”.

Assim, a cada direito corresponde uma só acção: unidade, que não pluralidade. Cfr. o acórdão do STJ, de 28 de Janeiro de 2003, in Colectânea, 166, p. 61.

Ora, o artigo 165º do CPPT considera nulidade insanável em

processo de execução fiscal “a falta de requisitos essenciais do título executivo, quando não puder ser suprida por prova documental”. E estabelece o respectivo regime, e efeitos: a anulação dos termos subsequentes do processo que do acto anulado dependam

(8)

podendo ser arguida até ao trânsito em julgado da decisão.

A lei elegeu, pois, tipicamente, o respectivo regime legal: trata-se de uma nulidade.

E, como tal, estabelece-se igualmente o seu regime de arguição. Assim sendo, foi propósito legal desconsiderá-la como fundamento de oposição, ainda que seja a mesma, substancialmente, a consequência resultante: a extinção da execução consubstanciada na nulidade do próprio título.

Por outro lado, a tutela jurídica concedida à nulidade é, até, mais consistente do que a resultante da oposição, na medida em que pode ser arguida até ao trânsito em julgado da decisão final, que não

apenas no prazo de 30 dias contados da citação – cfr. artigo 203º, nº 1, do CPPT.

Aliás, a entender-se dever ser conhecida pelo Chefe do Serviço de Finanças (ou, porventura, pelo juiz – cfr. o artigo 151º, nº 1, do CPPT), sempre o respectivo processo seria urgente – artigo 278º, nº 5 – o que é mais consentâneo com a celeridade querida para o processo de execução fiscal, atenta essencialmente a sua finalidade de cobrança de impostos que visam “a satisfação das necessidades financeiras do Estado e de outras entidades públicas” e a promoção da justiça social, da igualdade de oportunidades e das necessárias correcções das desigualdades na distribuição da riqueza e do rendimento – artigo 5º, nº 1, da Lei Geral Tributária.

Nada, pois, parece justificar a apontada dualidade – em termos de nulidade processual da execução fiscal e de fundamento de oposição à mesma -, aliás proibida nos termos do referido artigo 2º do Código de Processo Civil.

Conclui-se, assim, que a nulidade da falta de requisitos essenciais do título executivo – nos termos do artigo 165º, nº 1, alínea b), do CPPT – não é fundamento de oposição à execução fiscal por não

enquadrável no seu artigo 204º, nº 1, alínea i).»

Neste contexto, concluindo-se que a nulidade da falta de requisitos essenciais do título executivo não é fundamento de oposição à execução fiscal por não enquadrável no seu artigo 204º, nº 1, alínea i), procede, consequentemente, a alegação do MP.

5.2. Mas, assim sendo, impor-se-ia, então (cfr. arts. 97º, nº 3 da LGT e 98º, nº 4 do CPPT), ordenar a convolação para a forma de processo adequada à apreciação desta nulidade (sendo que a mesma é de conhecimento oficioso e pode ser arguida até ao trânsito em julgado da decisão final – nº 4 do art. 165º do CPPT). Isto é, impor-se-ia ordenar a convolação da petição de oposição apresentada em petição de arguição de nulidade, junto do respectivo órgão de execução fiscal, por falta de requisitos essenciais do título executivo.

A tal obsta, no entanto, o facto de a oponente invocar, nos arts. 29º e 30º da Petição Inicial da oposição, a prescrição de juros (fundamento para o qual é meio processual adequado o processo de oposição, tendo em conta o pedido formulado a final – extinção da execução), sendo que é de afastar a convolação no caso de haver erro na forma de processo quanto a algum dos fundamentos, mas não quanto a outros: «A correcção do erro na forma de processo só é possível quando todo o processo passe a seguir a tramitação adequada. Por

(9)

isso, se o processo de oposição à execução fiscal tem de prosseguir, por ter sido invocado algum dos fundamentos de oposição à

execução fiscal, estará afastada a possibilidade e convolação» (cfr. Jorge de Sousa, Código de Procedimento e de Processo Tributário, anotado e comentado, II vol. 5ª ed., anotação 46 ao art. 204º, pag. 372).

E embora a sentença não o refira expressamente, é de entender que considerou, implicitamente, prejudicada a apreciação de tal questão, face à solução dada ao litígio.

Assim, deve ordenar-se a baixa dos autos ao Tribunal “a quo” para que, apurada a factualidade necessária e se nada mais obstar, seja apreciada essa suscitada questão da prescrição.

E nem se diga que o oponente fica com menor tutela jurídica pois, como se disse, a tutela concedida à nulidade pode ser exercida até ao trânsito em julgado da decisão final, ao passo que, tratando-se de dívida exequenda que não tem natureza tributária, já seria duvidosa a possibilidade de também a prescrição ser invocada fora do âmbito da oposição à respectiva execução (ou seja, em sede de execução e de eventual reclamação de acto do órgão de execução fiscal).

DECISÃO

Nestes termos acorda-se em, com a presente fundamentação, dar provimento ao recurso, revogar a sentença recorrida e ordenar a baixa do processo ao Tribunal “a quo” para que, apurada a

factualidade necessária e se nada mais obstar, seja prolatada nova sentença que aprecie a suscitada questão da prescrição.

Sem custas.

Lisboa, 15 de Fevereiro de 2012. - Casimiro Gonçalves (relator) - Lino Ribeiro - Dulce Neto.

Referências

Documentos relacionados

A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se baseia no fato de que uma

Figura 8 – Isocurvas com valores da Iluminância média para o período da manhã na fachada sudoeste, a primeira para a simulação com brise horizontal e a segunda sem brise

Entrando para a segunda me- tade do encontro com outra di- nâmica, a equipa de Eugénio Bartolomeu mostrou-se mais consistente nas saídas para o contra-ataque, fazendo alguns golos

Equipamentos de emergência imediatamente acessíveis, com instruções de utilização. Assegurar-se que os lava- olhos e os chuveiros de segurança estejam próximos ao local de

Este texto é uma reflexão em torno da necropolítica, a partir de Achille Mbembe, e das esculturas de Niemeyer, de como estas obras artísticas representam a enunciação e

Logo após a fase de reconhecimento, os cientistas injetaram doses de salina e 1g/kg de etanol em um (8) grupo, e pentilenotetrazol (substância usada para causar amnésia

Centro Caraívas Rodovia Serra dos Pirineus, Km 10 Zona Rural Chiquinha Bar e Restaurante Rua do Rosário Nº 19 Centro Histórico Codornas Bar e Restaurante Rua Luiz Gonzaga

5 Magazine Luiza, ou Magalu, é uma empresa de tecnologia e logística voltada para o varejo e oferece uma ampla gama de produtos e serviços para brasileiros