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O outro lado do Novo Código de Ética Médica Ter, 18 de Maio de :58

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Academic year: 2021

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No dia 13 de abril entrou em vigor o Novo Código de Ética Médica (CEM), revisado e ampliado pelo Conselho Federal de Medicina. O antigo Código era de 1988, mas poucas mudanças foram observadas no atual. O CCM notícias entrevistou o Prof. Eurípedes Mendonça, um dos membros da Comissão Estadual de revisão do CEM, sobre os bastidores desse processo e sobre a opinião pessoal do resultado.

O CFM pediu a colaboração da comunidade e entidades de classes para a etapa de

revisão e atualização do Código de Ética Médica. Qual foi a participação efetiva da

população para ter os interesses atendidos?

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A sociedade foi representada através das suas lideranças, principalmente da área jurídica e da Igreja. Mas o povo não chegou para descentralizar a discussão, então por mais que a

população queira contribuir na elaboração, certamente terá dificuldades porque são aspectos inerentes aos profissionais da medicina. Não dá pra saber cientificamente se as necessidades da população foram atendidas, é preciso uma pesquisa.

Muito do que já existia no Código de Ética vigente desde 1988 foi divulgado como novidade. O Sr. Acredita que foi estratégia para dar uma boa imagem ao CFM?

Estratégia não, porque o Conselho é atuante e já está muito na mídia. Acho que foi mais uma oportunidade da gente auscultar, dos sentimentos representativos, se aquelas normas que estão em vigor há mais de 20 anos estão ainda válidas para os dias atuais. E o que a gente verificou é que sim, porque nenhuma norma do Código anterior foi revogada, pelo contrário, foram acrescentados alguns itens.

Uma das principais mudanças diz respeito a ortotanásia. O que o Sr. pensa sobre essa autonomia do paciente em escolher morrer naturalmente?

Eu acho que é um resgate do pensar nordestino. A gente sabe que o nordestino prefere ser desenganado e morrer em casa. Então é um resgate da morte digna e junto com seus

familiares, no seu aconchego. É como alguns animais que voltam para o seu lugar de origem

para morrer. Foi um avanço no Código e passou a ser um dos princípios fundamentais. O

médico agora vai discutir com o paciente e seus familiares os aspectos da morte.

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Isso está sendo respaldado pelo Conselho Federal de Medicina, no sentido de não manter o paciente vivo como objeto. Quando não há a mínima condição de recuperação, para quê estar submetendo-o a transtornos, a sofrimentos, quando a gente sabe que há nenhuma perspectiva de retorno ou qualidade de vida? Esse mecanismo veio para tranqüilizar os médicos,

principalmente para não ficar com drama de consciência. Nesses casos vale mais a experiência do médico do que o sentimento da família em querer manter o paciente vivo.

Outra discussão é sobre a criação de embriões para escolher sexo, cor dos olhos, etc. (a chamada terapia genética). O Sr. acha que isso é retroceder, já que a ciência só avança?

A medicina do futuro não vai ser mais cirurgia, o trabalho do médico será no microscópio, porque a gente vai trabalhar as doenças através de terapia gênica para curar. Vai ser um campo que vai trazer muita polêmica ética para evitar que se “fabriquem” bebês simplesmente para ajudar outros bebês, ou que se façam eugenia... A gente tem que se preocupar com o avanço no sentido de resgatar a doença e não só por estética. Porque qual o sentido de escolher a cor dos olhos da criança? Isso não é saúde, é vaidade.

Agora é ético praticar a telemedicina. Há riscos? E como responsabilizar o profissional por possíveis erros?

Dr. Eurípedes- É um passo seguinte, porque a telemedicina já é um fato consumado, mas o que devemos agora é traçar mecanismos de como responsabilizar os médicos no caso de erro.

A gente tem que ter cuidado pra saber quem está do outro lado, a competência e qualificação

do profissional. O Conselho Federal certamente vai ter que detalhar, aliás, isso aí já está dito

no Novo Código: a telemedicina vai ser motivo de resoluções específicas.

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Com a obrigatoriedade de preservar o sigilo dos prontuários o médico pode estar comprando uma briga judicial?

Assim como é com o padre, é com o médico: o que a gente diz pra ele, ele não pode dizer para ninguém. No momento em que o paciente for ao médico e não tiver a garantia de que o que ele disser lá não vai ficar para sempre com o médico, ele nunca mais vai ter confiança. A justiça agora quer ter acesso, se infiltrar (é a chamada ‘judicialização’ da medicina) para ter

informações. O Código vai afirmar a proteção do paciente, porque a informação é do paciente e, ao médico cabe a guarda. Se o juiz precisar dessas informações deve nomear um médico perito e aí é possível passar de um médico para outro, mas nunca para uma pessoa leiga. 

Haverá dificuldade no cumprimento, mas a norma é bonita, é um avanço.

O Novo Código reforça a proibição de o médico ter vínculos com indústrias

farmacêuticas ou participar de atividades publicitárias. Isso seria para evitar que a medicina se transforme em comércio?

É, porque o comércio está chegando à medicina, isso aí não tem dúvidas. Nós não podemos aceitar a contaminação do médico entrando em esquemas para ter lucro. A gente defende a remuneração digna por aquilo que ele exerce como médico e não a participação no lucro pelo que ele usou ou indicou. Somos totalmente contra essa promiscuidade que infelizmente é uma tendência, é uma luta inglória. Acho que o Código poderia avançar mais nesse quesito.

Por falar nisso, o Código também frisa que é antiético fazer distinção de atendimento

aos pacientes que pagam pela consulta (seja particular ou através de planos de saúde) e

a população que é assistida pela SUS. É possível mudar essa realidade?

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o serviço público.

Um dos artigos reforça a proibição dos “garranchos” escritos nas receitas médicas. Isso deve ser mudado desde a formação do aluno, futuro médico?

Essa é uma questão que merece discussões sociológicas, filosóficas, porque há pessoas que acham que o indivíduo que tem letra ruim tem vocação pra ser médico, como se pra ser médico tem que ter letra ruim. Seria interessante verificar se as pessoas que tem letra boa e depois que se formam médicas ficam com a letra ruim [risos]. Então a gente precisa discutir: por que a letra do médico tem que ser ruim? Será que é durante o curso que na pressa, o estudante de medicina começa a mudar a letra?  A caligrafia ilegível pode trazer problemas sérios, levar até a morte, trocar antibiótico por expectorante... A gente resolveria na graduação, é necessário que as faculdades discutam esse assunto e trabalhem uma boa caligrafia, uma letra legível, porque isso tem implicações éticas, jurídicas e até criminais.

Numa visão geral, como o Sr. acha que as mudanças no Código vão refletir na comunidade acadêmica?

Os novos médicos vão perceber o que os espera para o futuro. Saber que a ética está

delimitando o que é possível ou não. Então isso é um norte para que os futuros médicos que queiram exercer a profissão, principalmente nas áreas onde há polêmicas com

comercialização, como as áreas de ortopedia, cardiologia, eles tem que ter cuidado a partir da graduação e, em especial quem vai trabalhar na parte de engenharia genética, com

fecundação in vitro, bebê de proveta e barriga de aluguel, porque nesse sentido o ordenamento

ético é muito forte.

Referências

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