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C.E.P. - CENTRO DE ESTUDOS PSICANALITICOS

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C.E.P. - CENTRO DE ESTUDOS PSICANALITICOS

Texto de conclusão Ciclo VI

O fator contribuinte da insuficiência e a função paterna na constituição do sujeito.

NELSON DAVID MUZEL NETO

CICLO VI - TURMA QUINTA-FEIRA NOITE

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O fator contribuinte da insuficiência e a função paterna na constituição do sujeito.

A complexidade e riqueza de detalhes dos relatos de Freud fazem com que nos encontremos imersos no universo de cada caso exposto. Além de tentarmos entender a dinâmica do atendimento do grande mentor da psicanálise, podemos ouvir os relatos e sintomas dos pacientes ressurgirem em nossas mentes mesmo quando não estamos com os textos em mãos.

Durante minha releitura do caso Pequenos Hans, escrito por Freud em 1909, pude observar uma dinâmica Pai/Mãe/Filho que, talvez pela imaturidade conceitual em minha primeira leitura, não pudera ser observada com mais minuciosidade.

Freud publica o trabalho sobre o caso de fobia em um menino de cinco anos, Hans, filho de um médico conhecido de Freud, cuja mulher e mãe do menino havia sido sua paciente. Muito atencioso, o pai suportou o sofrimento de ouvir, com paciência e interesse em favor da melhora do filho, a livre verbalização que possibilitou tratar o menino, através da orientação por cartas com Freud.

Porém, mais do que o esforço deste pai demonstrado claramente em suas a longas narrativas, o que me chamou atenção foi o lugar desta criança em relação ao desejo de sua mãe, o qual se mostra fundamental para a construção do aparelho psíquico do pequeno paciente.

Fica claro, durante todo o relato do pai que Hans vivencia a angústia da castração que se apresentava em constante eminência, quando surgia a possibilidade da satisfação do desejo incestuoso pela mãe.

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O menino Hans vivia em seu reinado primogênito na mais plena simbiose de convívio com sua mãe. Com a chegada da irmã, já na sua gestação, teve a privação de sua presença e no nascimento teve recordações inconscientes dos cuidados que recebera quando era um bebê e desejou voltar a ter este lugar privilegiado concedido pela mãe, lugar este que será melhor explicado adiante.

Como mecanismo de defesa, sua angústia e ansiedade puderam ser nomeadas como uma fobia por cavalos, que representava uma ameaça ao seu “pipi”, e que posteriormente fora relacionado com o pai, pela semelhança entre o instrumento de freio do cavalo e o bigode preto do pai.

Hans tem um sonho e quando acorda assustado corre para o quarto dos pais.

Na manhã seguinte, quando interrogado, o garoto relata que havia sonhado com uma girafa grande, de pescoço comprido e uma outra girafa amarrotada. A grande gritava muito pois ele, Hans, havia levado para longe a girafa amarrotada e por isso, a girafa grande estava muito brava. Logo o pai de Hans faz a relação entre a girafa grande como o Pai e a girafa amarrotada como a mãe.

Esta cena passa a ser rotineira e todas as manhãs Hans entra no quarto de seus pais. A mãe não pode resistir ao pedido do filho e o leva para a cama por alguns minutos e mesmo sob a admoestação frágil do pai, ela responde sem dúvida e com uma certa irritação, que tudo aquilo é uma bobagem e que não existe mal algum em deixar que o menino passe alguns minutos com ela na cama.

Conclui o pai que esta é a solução da cena matrimonial, transportada para a vida da girafa; à noite, ele fora arrebatado por uma ânsia de ter sua mãe e por esta razão foi para o quarto dos pais. Isto tudo constitui uma fantasia de desafio relacionada com a satisfação pelo triunfo alcançado sobre a resistência de seu pai.

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“Grite o quanto quiser! Não adianta porque a mamãe me leva para a cama. A mamãe é minha!”

Por outro lado, esta disputa com o pai cede espaço a um amor por seu grande e primeiro amigo que ao mesmo tempo que era uma ameaça à relação com a mãe, era carinhoso e companheiro e por isso como consequência, Hans era tomado por um sentimento de culpa tão forte, que através da ambivalência de sentimentos (amor e ódio) , fora instalada a neurose de ansiedade.

Neste caso, a repressão do pai vence o instinto, porém não o fez desaparecer.

Apenas distorceu seus impulsos agressivos e sexuais por haver gerado ansiedade, pela dor interna da impossibilidade de realizar seus desejos, ligados diretamente ao instinto de sobrevivência. Neste momento de declínio desta relação incestuosa com a mãe (Complexo de Édipo), surge a noção de censura e o aparecimento do Superego. Isto é fundamental ao ser humano, por construir a base moral e ética do convívio em sociedade. Igualmente promove ao Ego a capacidade em negociar o prazer para uma situação e momento adequado.

Durante uma pausa em minha leitura, assistindo a um dos episódios da série Bates Motel, uma relação Mãe/filho e este lugar de desejo, se apresenta como um fator importante não apenas para o desenrolar da trama, mas pela intensidade patológica, como responsável pela origem de um dos principais assassinos em série do cinema.

A série é um prelúdio para o filme de 1960, Psicose, de Alfred Hitchcock, que retrata a vida de Norman Bates, um jovem de 17 anos e de sua mãe Norma, antes dos eventos retratados no filme .

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A série começa, na primeira cena, com Norman descobrindo que seu pai havia sido misteriosamente assassinado no sótão de sua casa. Desesperado ele corre chamando pela mãe, que estava no banho. Ele pede por ajuda e ela, calmamente, vai ao encontro do corpo estendido no chão. Ao invés de desesperar ao ver o pai de seu filho, morto, ela abraça Norman e o consola pela perda, não dando relevância à morte de seu marido.

A partir daí, a relação entre os dois se intensifica de tal forma, que o desejo quase incestuoso fica evidente, durante o desenrolar da trama.

Norma compra um hotel e decide então iniciar uma nova vida, porém, o reaparecimento de Dylan, filho de seu primeiro casamento que havia saído de casa alguns anos atrás, a quem recebe com a pergunta: “ Por que você está aqui?” , atrapalha os planos de viver nesta fantasia simbiótica com Norman.

Em um dos diálogos entre os irmãos, Norman faz uma pergunta: “Por que você me deixou?” Seu irmão responde: “Eu não poderia sobreviver a esta mulher e suas loucuras.”

Neste momento, Norman recebe uma mensagem em seu celular. Era de Bradley, uma garota de sua escola, de quem havia recebido algumas indiretas e convites para encontros, porém ele havia recusado todos.

Encorajado pelo irmão mais velho, Norman responde à mensagem e marca um encontro naquela noite com Bradley, que estava sozinha em casa e o aguardando para que pudessem ficar juntos.

Durante a madrugada, sua mãe Norma acorda e, como que pressentindo a perda, sai pela casa procurando pelo filho. Quando entra em seu quarto e vê a cama

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vazia, sai à procura do filho. Dylan acorda e diz: “Ele está agora, na cama de outra mulher, vivendo a vida dele”. O capítulo se encerra com o desespero de Norma, gritando pela casa: “Ele nunca deixará de ser meu!”.

Gostaria de me deter até este momento da série para expor alguns conceitos e então tentar traçar uma relação entre as duas mães: A mãe de Hans e de Norman.

Em seu livro “O pai e sua função na psicanálise”, Joël Dor nos apresenta didaticamente as funções de cada componente da estrutura familiar e nos detalha a relação entre Pai/Mãe/filho.

Sua experiência clínica pode corroborar a observação corrente segundo a qual o sujeito obsessivo teria se sentido demasiadamente amado pela mãe. Ele testemunha, sem saber o investimento fálico preponderante que se operou sobre ele como consequência da resolução do Édipo feminino daquela mãe, que encontra em seu filho, a possibilidade de concretizar o desejo de ter um falo.

Assim, podemos designar o sujeito obsessivo como um “nostálgico do ser”.

Pela lógica fálica, a criança se encere, igualmente de boa vontade numa crença psíquica que lhe confere um lugar de objeto junto ao qual a mãe seria suscetível de encontrar aquilo que é suposto esperar do Pai.

Identifica-se aí, um momento importante e necessário de passagem decisiva do ser (o falo) ao ter (o falo), na qual a mãe deve se significar como dependente daquele que intervém com a Lei e que detém o Falo, ou seja o Pai; falo este, que a princípio para ela se concretizava na existência do filho.

Porém, se o discurso desta mãe se apresenta ambíguo, pode se instalar no imaginário da criança um lugar de suplência à satisfação de seu desejo, como

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demonstrado no discurso da mãe de Hans, onde ela se irrita quando admoestada pelo marido para que o filho saísse de sua cama. Esta insatisfação parcial do desejo da mãe pode suscitar na criança a necessidade de satisfazê-la constituindo assim um apelo regressivo à manutenção da identificação fálica da criança. Daí a

“nostalgia” de um retorno ao ser, vivamente cobiçado mas nunca plenamente alcançado.

Observamos que nos dois casos acima relatados, tanto Hans como Norman apresentam uma lógica organizacional que se apoiam em um dispositivo de suplência do desejo de suas mães. Em ambos os casos, os filhos se encontram no que Lacan define como “paraíso” com a mãe. Uma relação dual, imaginária, a ilusão de complementaridade com o corpo delas. Nesta relação, a criança é objeto de desejo da mãe; é o falo que lhe falta.

Mas onde se dá a diferenciação entre a estrutura obsessiva do pequeno Hans e o desenrolar da estrutura de um dos psicóticos mais famosos do cinema?

A resposta vem de fora, externa à esta relação dual mãe/filho, algo que apresente uma alteridade ao universo vivido por eles, como uma língua estrangeira em um país que só se falou até então, sua língua nativa.

Para o pequeno Hans, houve um momento em que sua relação simbiótica com a mãe fora afetada. Além do nascimento da pequena irmã, a quem passou a ser dada toda atenção necessária que um recém-nascido requisita, um encontro traumático com a função interventora e proibitiva do pai gera tanto sofrimento psíquico, que a criança, para não ter que suportar a dor da saída de sua posição imaginária fálica, desenvolve uma fobia, que funciona como uma proteção contra a angústia que advém de suas relações com sua mãe e seu pai.

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No capítulo IV de “Inibição, sintoma e angústia” (1926), Freud define a fobia como um sintoma substutivo para algo que foi recalcado, “eliminando assim, os dois principais impulsos do complexo edipiano – sua agressividade para com o pai e seu excesso de afeição pela mãe.”

Nesta dinâmica familiar porém, tanto o pai como a mãe de Hans executam suas funções com algumas falhas, o que fazem com que os sintomas do garoto se mantenham, até que ele , através da construção da fantasia do bombeiro, que lhe desparafusa e “lhe dava um pipi maior”, consiga solucionar seu Édipo, seu medo da castração e por fim sua fobia.

O pequeno garoto nadava em felicidade, cercado pelo investimento da mãe que deixava rastros de insuficiência em relação à sua submissão ao Falo do esposo, consolidando assim sua adesão equívoca à função do pai. Para Hans tudo era permitido, inclusive ficar no leito dos pais, uma vez que a função simbólica de seu pai era muito frágil, que mesmo com toda dedicação em ouvir o filho, não executava apropriadamente sua função de interditor.

Segundo Lacan, quem exerce o papel de “pai superior”, aquele “a quem a palavra se revela como testemunho de verdade” é o próprio Freud. O pai de Hans diante de seu não-saber o que é ser um pai em sua função simbólica, o demanda ao professor que é quem traça o encaminhamento da solução da fobia do menino através de suas orientações.

Todavia podemos observar que mesmo falho, este pai depois das orientações dadas pelo professor, consegue intervir como um pai simbólico, ajudando seu filho a passar pelo Complexo edipiano e desenvolver sua estrutura como um neurótico.

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Mas o que dizer sobre a relação de Norman e sua mãe? A incapacidade dela em aceitar sua castração como resolução de sua angústia edipiana quando menina, obriga o filho a assumir uma posição não de suplência da satisfação do desejo por um falo, mas como suplência do próprio falo de sua mãe.

O desejo de Norma fez com que seu filho ficasse preso a um estadio de alienação, em um período onde todo bebê recebe um investimento necessário e fundamental para a constituição do sujeito, entretanto, com a intervenção adequada, este período deve ser superado e se faz necessária a passagem do estado real (ser o falo) para o simbólico (ter o falo), que vem através da intervenção da função paterna, a que Lacan da o nome de Significante do Nome do Pai.

Assim este sujeito e sua mãe são interditados pela Lei proibitiva desta relação simbiótica e com isso compreendem as regras básicas da vinculação familiar, e consequentemente, da sobrevivência em sociedade – não ao incesto e ao assassinato.

Entretanto, tomada por um furor, Norma põem fim em tudo e em todos que ousam atravessar em seus planos de manter o seu paraíso com seu filho; nem que para isso, seja necessário transgredir toda e qualquer regra básica imposta pela lei, cometendo atos perversos de atrocidade, como que se para ela, não existisse regra, lei ou algo, ou alguém que a interdite. Tudo isso em nome de um gozo fálico, aprisionando Norman num presente que já tem ditado o trágico e fatídico futuro de um dos mais famosos psicóticos da história do cinema.

Referências

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