• Nenhum resultado encontrado

ECLI:PT:TRE:2007: B

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "ECLI:PT:TRE:2007: B"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

ECLI:PT:TRE:2007:2456.07.3.8B

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRE:2007:2456.07.3.8B

Relator Nº do Documento

João Marques

Apenso Data do Acordão

15/11/2007

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso Público

Meio Processual Decisão

Apelação Cível confirmada a sentença

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais

Jurisprudência Nacional

Legislação Comunitária

Legislação Estrangeira

Descritores

condução sob o efeito do álcool; direito de regresso;

(2)

Sumário:

Cortar uma curva, invadindo a semifaixa de rodagem contrária, é um comportamento típico e frequente num condutor apressado e temerário e não um daqueles que, em termos de causalidade adequada, consagrada no nosso direito (art° 563° do C. Civil) se possa considerar típico de um condutor alcoolizado.

Decisão Integral:

*

PROCESSO Nº 2456/07 – 3

ACORDAM NO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE ÉVORA

*“A” com sede na Rua …, n° …, …, propôs acção declarativa de condenação, com processo ordinário, contra “B”, residente em …, …, pedindo a condenação deste a pagar-lhe a quantia de € 66.987,91, acrescida de juros a contar da citação, alegando tratar-se da totalidade dos montantes pagos, por força de contrato de seguro relativo ao veículo de matrícula IX e em virtude de um acidente de viação ocorrido em 30.07.95, na EN …, ao Km …, concelho de … e que consistiu no embate entre o referido veículo, conduzido pelo réu e CJ, conduzido por “C”, embate que ocorreu por culpa exclusiva do mesmo réu e que se encontrava sob o efeito do álcool.

O Réu contestou excepcionando a prescrição do direito que a A. pretende fazer valer e,

impugnando, se bem que reconheça que o acidente se deu por sua exclusiva culpa, alega que o mesmo nada teve a ver com a ingestão de álcool, antes tendo resultado de uma manobra

consistente em ter cortado uma curva.

Impugna, por outro lado, as verbas reclamadas a título de despesas não especificadas e de reparação do veículo CJ.

A A. respondeu à matéria da excepção considerando não ter ocorrido a invocada prescrição.

Convocada uma audiência preliminar, frustrou-se a tentativa de conciliação das partes. Foi oportunamente proferido o despacho saneador que, conhecendo da excepção a julgou

improcedente, após o que se procedeu à selecção dos factos assentes e à organização da base instrutória.

Instruído o processo e convocada a audiência de julgamento, veio a ser decretada a suspensão da instância com vista a eventual acordo. Frustrado este, procedeu-se a julgamento, após o que o tribunal proferiu a decisão de fls. 284 sobre a matéria de facto.

Por fim, foi proferida a sentença que julgou a acção improcedente absolvendo o Réu do pedido.

Inconformada, interpôs a A. o presente recurso de apelação em cuja alegação formula as seguintes conclusões úteis:

1ª- O R. foi julgado e condenado, por decisão transitada, como autor de um crime de homicídio negligente e de um crime de condução sob influência do álcool,

2a - A taxa apresentada constitui crime ao abrigo do Código Penal e tem tão só como finalidade que os condutores não conduzam com taxas elevadas de álcool, uma vez que existe um risco aumentado de eclosão de acidentes.

3a - Por mui dúbia e complexa que possa parecer, a al c) do Dec. Lei n° 522/85 de 31/12, não pode ficar esvaziada de conteúdo útil.

4ª - Nem se poderá dizer que a prova do "famigerado" nexo causal é uma autêntica probatio diabólica.

(3)

5a - Na verdade, a lei contravencional e penal, na impossibilidade de prever toda a casuística, entendeu fixar um limite acima do qual é proibido conduzir.

6a A Jurisprudência encontrará uma medida probatória, designadamente, tendo em conta a análise do caso concreto, ou a lei, por impossibilidade material, não é aplicada.

7a - Analisando friamente a questão, verifica-se que no caso em que o condutor alcoolizado tenha prevaricado a correspondente norma penal ou contravencional, não venha certamente a ser condenado na indemnização civil (nesta sede) por impossibilidade face ao nexo causal.

8ª - A prova deverá ser analisada tendo em conta que o condutor está sob o efeito do álcool, nos termos previstos na lei e casuisticamente, os contornos de toda a dinâmica do acidente induziriam a que naquele caso concreto agiu sob a influência do álcool, isto é, esta (alcoolemia) deu causa ao acidente.

9a - É demonstrativo de que o percurso feito pelo réu (ao realizar a curva, cortou-a, transpondo o traço contínuo marcado no pavimento, sem se aperceber que em sentido contrário circulava outro veículo, entrou na hemifaixa de rodagem contrária, onde circulava o CJ e foi embater com a frente do IX na frente do CJ, mesmo estando bom o tempo e o R. poder avistar o CJ a mais de 80 metros) é caracterizado pela irregularidade reveladora de um completo alheamento ao que se passava na via.

10a - Da forma como ocorreu o acidente é possível extrair - com base nas regras da experiência - que o embate ficou a dever-se ao facto de o R. se encontrar incapacitado para conduzir, situação provocada pela excessiva taxa de álcool que apresentava.

11ª - É do conhecimento geral o facto de que um grau de alcoolemia diminui as capacidades de resposta do condutor, sendo certo que do modo como ocorreu o acidente resulta que as

capacidades de resposta do R. eram, no caso concreto, essenciais para evitar o acidente.

12a - Ora, a conduta do R., que embora pudesse avistar o CJ a mais de 80 metros, mas não se ter apercebido deste veículo, ter entrado na faixa de rodagem do CJ e embatido de frente com a frente, é notório que o Réu nada via, nem sequer o carro que circulava à sua frente, acrescendo o facto de ter causado enormes e gravíssimos danos, provados na douta sentença, teve como causa directa e necessária a taxa de alcoolemia de que era portador.

13a - Na mesma esteira se inseriu o douto acórdão penal e se insere a Jurisprudência.

14a - Do exposto, deverão considerar-se também provados os seguintes factos:

A) O estado etilizado em que se encontrava o R. foi a causa do acidente.

B) A manobra do R. que deu causa ao acidente teve a ver com a ingestão de álcool.

Considerando violados, por manifesto erro de interpretação, os art°s 349° e 351° do C. Civil e 659°, n° 3 e 668°, nº 1, al. c) e d) do C. P. Civil, impetra a revogação da sentença e a condenação do R. ao pagamento da indemnização no montante peticionado.

Não foi oferecida contra-alegação.

Colhidos os vistos e nada obstando ao conhecimento do recurso, cumpre apreciar e decidir Na douta sentença considerou-se provada a seguinte factualidade:

1 - No dia 30.7.1995, pelas 22.30 horas, na EN n° …, ao Km …, …, ocorreu um acidente de viação entre o veículo de matrícula IX (ligeiro de mercadorias, marca Mitsubishi) e o veículo de matrícula CJ (ligeiro de passageiros, marca Fiat Cinquecento).

2 - O veículo IX era conduzido pelo Réu e encontrava-se seguro na autora através de contrato

(4)

titulado pela apólice n° …

3 - O Réu circulava no sentido PM no plano descendente.

4 - Ao aproximar-se do Km … existia uma curva para a esquerda, atento o sentido de marcha do Réu.

5 - Como forma de realizar a curva, o réu cortou-a, transpondo o traço contínuo marcado no pavimento, sem se aperceber que em sentido contrário circulava outro veículo.

6 - O Réu entrou na hemi-faixa de rodagem contrária, onde circulava o CJ e foi embater com a frente do IX na frente do CJ.

7 - Estava bom tempo e o Réu podia avistar o CJ a mais de 80 metros.

8 - No momento do acidente o Réu apresentava uma taxa de acoolemia no sangue de 2,59;

9 - O condutor do CJ, “C”, faleceu em consequência do acidente, tendo a Autora pago às herdeiras, “D” (viúva) e “E”, as verbas, respectivamente, de 4.400.000$00 e 2.500.000$00.

10 – “F” era ocupante do CJ, tendo sofrido politraumatismo na cabeça, algias no ombro e cotovelo esquerdo com impotência funcional, equimose de ambas as pernas e fractura do colo do úmero esquerdo.

11 - A Autora pagou a “F” a verba de 1.250.000$00.

12 – “G” era ocupante do CJ, tendo sofrido traumatismo craniano e da grelha costal direita, feridas contusas da região frontal, perda de conhecimento, amnésia circunstancial com suspeita de fractura do externo e derrame perricarnico.

13 - A A. pagou a “G” a verba de 2.250.000$00.

14 - A A. pagou despesas hospitalares no valor de 643.560$00 com o tratamento de “G”.

15 - Por sentença deste tribunal, a A. foi condenada a pagar ao centro Nacional de Pensões a verba de 1.003.039$00.

16 - A A. pagou ao Centro Regional de Segurança Social a verba de 37.764$00 referente ao subsídio de funeral de “C”.

17 - A A. pagou com despesas de transporte com “F” a verba de 22.800$00.

18 - O orçamento de reparação do CJ foi de 1.754.877$00, tendo a A. pago à sua congénere “H”, dos danos deste veículo, a verba de 786.087$00.

19 - A A. reembolsou a sua congénere “H” dos danos dos sinistrados “F”, “G” e “D” (ocupantes do CJ) em sede de acidente de trabalho, tendo pago a verba de 436.379$00.

20 - O Réu foi julgado e condenado, por decisão transitada, como autor de um crime de homicídio negligente, p. e p. pelo art° 136°, nº 2, do CP/82 e de um crime de condução sob o efeito do álcool, p. e p. pelos art°s 2°, n° 1 e 4° nºs 1 e 2, al. a) do Dec. Lei n° 124/90 de 14/04, pelos factos

descritos a fls. 74.

Vejamos então.

A única questão suscitada no presente recurso prende-se, como resulta das conclusões da

alegação, com a verificação ou não do nexo de causalidade entre a taxa de alcoolemia com que o R. circulava e o acidente, sendo certo que o mesmo era objecto dos quesitos 3°, em que se

perguntava se o estado etilizado em que o R. se encontrava foi a causa do acidente e 7°, onde se perguntava se a manobra do Réu que deu causa ao acidente nada teve a ver com a ingestão de álcool, tendo ambos merecido resposta de "não provados".

Afastada assim a prova directa do referido pressuposto, poderá o mesmo ter-se como verificado como presunção extraída dos demais factos provados ou pelas regras da experiência, como pretende a apelante?

(5)

De notar que a questão já tem sido encarada também em sede de nexo de imputação do facto ao agente na ideia de que a condução sob o efeito do álcool afecta a especial diligência que se exige a um condutor, a pontos de dever ser considerada actividade perigosa, conducente, por sua vez, à presunção de culpa consagrada no art. 493° n° 2 do C. Civil., tese defendida, nomeadamente, no acórdão do STJ de 7-12-99, in CJ (STJ) Ano VII, Tomo III, pag.231, onde, perante o obstáculo que representaria a doutrina do assento do mesmo Tribunal de 21 de Novembro de 1979 que considera tal preceito inaplicável em matéria de acidentes de circulação terrestre, se pondera que uma coisa é a actividade rodoviária na sua generalidade e que tal assento contemplou, e outra,

substancialmente diferente e incontestavelmente mais perigosa que a circulação rodoviária em geral, é a condução em estado de embriaguez.

Porém, no caso de que nos ocupamos, a questão da culpa na produção do acidente ficou resolvida mediante a imputação ao réu da contra-ordenação consistente em ter cortado uma curva que se lhe desenhava à esquerda e assim invadido a semi - faixa de rodagem contrária, sem se aperceber que nesta circulava outro veículo, indo embater com a frente do XI na frente do CJ.

De modo que o que interessa é situar a questão da alcoolemia de que era portador em sede de nexo de causalidade, o que aliás constitui o thema decidendum no contexto das conclusões da alegação da apelante.

E sendo certo que, a este respeito se chegou a defender a existência de uma verdadeira presunção de causa/efeito, decorrente dos conhecimentos científicos sobre a influência do álcool na

capacidade de controle da condução, capacidade tanto mais afectada quanto mais elevado o grau de alcoolemia, designadamente ao nível da visão e dos reflexos do condutor, a verdade é que dificilmente tal entendimento quadraria às regras sobre o ónus da prova dos factos constitutivos de um direito por parte de quem o invoca (art° 341 n° 1 do C. Civil), entre os quais não pode deixar de se incluir, em sede de direito de regresso, o nexo de causalidade entre a ingestão de álcool e o acidente de que, por sua vez, resultou o dano que a seguradora teve ressarcir por força do contrato de seguro.

Ora, a questão veio a ficar resolvida pelo Acórdão Unificador de Jurisprudência de 28 de Maio de 2002, publicado no Diário da República, de 28 de Julho do mesmo ano, onde claramente se afirma que a alínea c) do art° 19° do Dec. Lei n° 522/85, de 31 de Dezembro exige, para a procedência do direito de regresso contra o condutor por ter agido sob o efeito do álcool o ónus da prova pela seguradora do nexo de causalidade adequada entre a condução sob o efeito do álcool e o acidente.

E isto depois de ponderar que traduzindo-se o direito de regresso num direito especial perante o alcance social do seguro obrigatório, tem o mesmo de ser demonstrado em termos gerais de direito, uma vez que nenhuma disposição do Dec.Lei n° 522/85 veio afastar o regime de

responsabilização, criando presunções, alterando o ónus da prova ou outro circunstancialismo que se desvie do regime geral.

E, como bem se salienta no acórdão desta Relação de 12 de Maio de 2005, in CJ, Ano XXX, Tomo 3, pag. 244-247, a al. c) do art° 19 daquele diploma não se contenta com a simples condução sob o efeito do álcool, posto que considera que a seguradora apenas tem direito de regresso se este

"tiver agido sob o efeito do álcool", o que não constitui expressão sinónima de condução sob o efeito do álcool, acrescentando que "o condutor pode encontrar-se sob o efeito do álcool e, todavia, o acidente ser provocado por causa distinta, designadamente por factores físicos (estado do piso, condições atmosféricas, condições do veículo, etc) ou factores humanos (excesso de velocidade, estado de saúde do condutor, distracção, etc.".

Aqui chegados, constata-se que, no caso em apreço, a existência ou não do aludido nexo de

(6)

causalidade foi objecto de dois quesitos, o que significa que constituiu um concreto tema da prova sobre o qual houve expressa discussão. E tendo-se, face às respostas negativas a tais quesitos, chegado a um non liquet, o mesmo só poderia ser ultrapassado através das chamadas presunções judiciais se a restante factualidade apurada claramente o permitisse, o que não acontece. E se chamadas à colação as regras da experiência, então sempre se diria que cortar uma curva,

invadindo a semifaixa de rodagem contrária, é, infelizmente, um comportamento típico e frequente num condutor apressado e temerário e não um daqueles que, em termos de causalidade

adequada, consagrada no nosso direito (art° 563° do C. Civil) se possa considerar típico de um condutor alcoolizado.

Resumindo, e sem deixar de reconhecer alguns laivos de probatio diabólica no ónus imposto à seguradora, se um facto concreto é submetido a discussão probatória e o julgador o dá como não provado, seria contraditório ou ilógico tê-lo como provado apenas com base em simples presunção, sobretudo, como no caso, quando a restante factualidade disponível a não sustenta minimamente.

Por todo o exposto e sem necessidade de mais considerandos, na improcedência da apelação, confirmam a sentença impugnada.

Custas pela apelante.

Évora, 15 de Novembro de 2007

Página 6 / 6

Referências

Documentos relacionados

Os candidatos terão até 2 (dois) dias úteis após a divulgação para apresentar eventuais recursos ao resultado e a Comissão de Seleção terá 01 (um) dia útil

Como comentamos anteriormente neste capítulo, outros insetos que se alimentam de san- gue e triatomíneos são atraídos por diferentes produtos químicos e sinais físicos associados com

Podem-se elencar os passos necessários para lidar com o fato de que a alma tem o poder de mover o corpo, a saber, sempre buscar estudar a interação alma-corpo pela noção primitiva

A tensa relação entre causalidade e semelhança traz em seu bojo, conforme denomina Cottingham, o princípio da “não-inferioridade da causa” (1995, p. 28): a causa não pode

Para isso, seriam fundamental a percepção ambiental e o conhecimento científico como vetores potenciais para promover a efetiva conservação ambiental (FREITAS et al., 2017). Assim,

Na sua atuação, a Olivieri tem o objetivo de fazer acontecer com excelência e leveza, contando com a experiência de mais de 30 anos em consultoria jurídica e negocial para as áreas

Quadro 13: Posição relativa da U.Porto entre as universidades de cada país do espaço iberoamericano, considerando a produção científica geral nos últimos 15 anos e

◆ Asegúrese de que haya agua en el depósito y de que el dial de control de temperatura (1) esté puesto en la posición de vapor deseada.. ◆ Levante el aparato y pulse el botón