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A Descrição das
Curvas Espectrais Arteriais Periféricas
Dr. José Olímpio Dias Junior
• Coordenador da Divisão de Ecografi a Vascular do CETRUS
• Pós-graduando em Ciências da Saúde: Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
• Médico da Divisão de Ecocardiografi a e Ecografi a Vascular das Clínicas CEU(Centro Especializado de Ultrassonografi a), IMRAD (Instituto Mineiro de Radiodiagnóstico) e CONRAD - Belo Horizonte - MG
• Médico Pesquisador do ELSA (Estudo Multicêntrico de Saúde do Adulto) - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
E-mail: jolimpio@cardiol.br
Ao longo dos últimos quinze anos tenho dirigido minha atuação profi ssio- nal priorizando o aprendizado, desenvolvimento e educação continuada em Ecografi a Vascular. Se há um tópico que considero desafi ador, este é a caracterização morfológica das curvas espectrais das artérias periféricas.
Há freqüentes interpretações discordantes sobre sua nomenclatura e sobre seu sig- nifi cado hemodinâmico. Por outro lado, trata-se de tópico que todos os profi ssionais que se iniciam no método desejam ter esclarecido logo na primeira aula que aborda os princípios físicos da Ecografi a Vascular com Doppler. Tem sido bastante cons- trangedor para mim, que trabalho com o método e que participo da formação inicial de muitos colegas no CETRUS, expressar minhas dúvidas e indefi nições acerca de assunto pretensamente básico.
Entre as fontes internacionais de referência em Ecografi a Vascular recomendo o periódico Vascular Ultrasound Today, que aborda sempre um tema específi co de relevância. Pode-se ter acesso a este periódico através do site www.chrestomathic.
com, através de assinatura anual ou da aquisição de publicações isoladas. Trata-se de um periódico de excelente qualidade, cuja editora-chefe, Ann Marie Kupinski é autoridade reconhecida no assunto e o corpo editorial composto por profi ssionais de referência no método.
Uma das publicações do segundo semestre de 2009 se intitula Peripheral Arterial Waveform Descriptors – Absent, Vague and Contradictory. O autor é Robert Scissons, Diretor Técnico do Jobst Vascular Center Laboratory de Toledo, Ohio, nos Estados Unidos.
Ano 2 - Edição 8 - Abril/2010
Confesso que li com muita atenção esta publicação e me senti reconfortado ao me incluir num grupo composto por profi ssionais respeitados que apresentam dúvidas semelhantes às que tenho experimentado ao longo do tempo. Em um grupo com- posto por RVT (Registered Vascular Technologists), RDMS (Registered Diagnostic Medical Sonographers), ARDMS (Registered Sonographers Multi-specialty) obser- varam-se discordâncias em alguns aspectos que reproduzem nossa experiência no CETRUS. Nesta publicação farei um resumo crítico do presente artigo, com alguns comentários que expressam minha opinião pessoal sobre o tema.
I - INTRODUÇÃO
O emprego das curvas espectrais Doppler para a avaliação não invasiva dos pacien- tes com doença arterial periférica representa método de avaliação hemodinâmica capaz de detectar características normais e achados patológicos. Os eventos primá- rios que infl uenciam a morfologia das curvas são a freqüência cardíaca, a pressão arterial e alterações vasomotoras. A presença do fl uxo reverso em diástole é de utili- dade na diferenciação entre vasos sanguíneos doentes e normais.
Deve ser enfatizado que precedendo a análise espectral Doppler os fl uxos per- fi féricos já eram classifi cados em mono- fásicos, bifásicos e trifásicos, baseado no som obtido por aparelhos de Doppler não direcional sem registro gráfi co.
As curvas espectrais normais nas arté- rias periféricas têm sido descritas como trifásicas (fi gura 1). Apresentam uma rápida ascenção sistólica, fase reversa no início da diástole, seguida de peque- na fase anterógrada.
Na doença arterial periférica, ocorre perda do componente anterógrado dias- tólico seguida de progressivo desapare- cimento do componente reverso proto- diastólico, tornando a onda de caracte- rística monofásica (fi gura 2).
Figura 1
Figura 2
II - PONTOS DE MAIOR CONTROVÉRSIA NA PESQUISA REALIZADA ENTRE PROFISSIONAIS DA ÁREA
Pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2007,entre profi ssionais da ultrassono- grafi a vascular (graduados e em formação), solicitados a classifi car a morfologia de curvas espectrais Doppler mostrou alguns aspectos relevantes:
- Maior percentual de concordância:
Curvas trifásicas e bifásicas com resistência elevada e componente reverso - Maior percentual de discordância:
Curvas multifásicas com resistência reduzida e ausência de componente reverso
III - DESCRIÇÃO DA MORFOLOGIA DAS CURVAS
Curvas trifásicas: constituídas por três fases (fl uxo anterógrado com ascenção sistólica brusca, fl uxo diastólico rever- so, e componente anterógrado no fi nal da diástole.
Curvas bifásicas: há controvérsias sobre as descrições dos livros texto de ultrassom e publicações científi cas acer- ca desta denominação. Na maioria das publicações são constituídas por duas fases (fl uxo anterógrado com ascenção sistólica brusca e fl uxo diastólico rever- so – fi gura 3).
No entanto, padrões de resistência re- duzida, sem componente reverso, como os encontrados após exercícios, em situações de aumento da temperatura corporal e infecções, têm sido referidos como bifásicos.Também os padrões de resistência reduzida registrados em ar- térias femorais comuns, distais a doen- ça aorto-ilíaca t6em sido descritos como bifásicos (fi gura 4).
Figura 3
Figura 4
Curvas monofásicas: na maioria das vezes representam ondas de baixa resistên- cia, sem componente reverso e componente diastólico anterógrado. O padrão clás- sico é representado por onda com tempo de aceleração prolongado, morfologia arre- dondada indicativa de obstrução proximal.
IV - POSICIONAMENTOS
Em decorrência das difi culdades apresentadas e da necessidade de padronização como critério de validação do método, alguns posicionamentos devem ser adotados.
Proponho em decorrência do estudo da publicação citada as seguintes:
1 - Não caracterizar curvas espectrais obtidas a partir de fl uxos de artérias abdomi- nais e com destino cerebral em termos de padrão monofásico, bifásico ou trifásico.
2 - Empregar em toda documentação de curvas espectrais a referência clara ao ponte de velocidade zero, para identifi cação do componente reverso.
3 - Classifi car as curvas espectrais em:
a) Curvas espectrais de alta resistência: presença de componente reverso (abaixo da linha zero), associam-se com vasos que não apresentam lesões he- modinamicamente signifi cativa proximal ao ponto de exame. São consideradas ondas normais ou próximas ao normal.
b) Curvas espectrais hiperêmicas de baixa resistência: apresentam ascen- ção sistólica rápida e com componente distólico anterógrado. Estas ondas indi- cam hiperemia associada a exercícios, temperatura elevada ou doença proximal ou distal ao ponto de exame.
c) Curvas espectrais pós-obstrutivas de baixa resistência: apresentam as- cenção sistólica lenta, sendo consideradas anormais e observadas em segmen- tos distais a lesões obstrutivas hemodinamicamente signifi cativas.
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